PRÓLOGO
QUANDO OLHO PARA CIMA

Era como o palácio feito de luz do luar de seu conto de fadas favorito.
Uma cidade impecável, de um branco puro e deslumbrante. Diferente da grande metrópole onde ela morava antes, essa era uma nova cidade suburbana, planejada para ser habitada por trabalhadores que viajavam diariamente. Com suas estradas largas e retas e quarteirões claramente demarcados, ela carregava o traço único da República, repleta de edifícios estilosos e postes de iluminação elegantes.

A cidade fora projetada por jovens artesãos talentosos para abrigar novos cidadãos que criariam a próxima geração do país. Flores desabrochavam nas praças, parques e ao redor das casas uniformes. Era uma cidade encantadora, como algo saído de um sonho—ou de um conto de fadas.

Os Alba, que viviam nesse país há mais tempo, e os imigrantes de outras terras, que já residiam ali há gerações, consideravam a República sua pátria, com cidades que mantinham relações estabelecidas entre si. Assim, essa nova cidade tornou-se lar de imigrantes do Reino Unido de Roa Gracia e de famílias como a de Citri, recém-chegadas em comparação. As famílias que ali viviam pertenciam a diversas raças.

Havia apenas uma família de Alba pura, na casa ao lado da sua—uma família de imigrantes do Império Giadiano. Sim, seus vizinhos.

Onde vivia seu amigo de infância, da mesma idade que ela—Dustin Jaeger.

Os Jaeger eram nobres do Império, e Dustin havia sido criado com os modos de uma criança da nobreza. Apesar de ser um garoto, ele se comportava de maneira madura e adequada. Era confiante, mas calmo, gentil e educado. Jamais tratava crianças mais novas ou meninas de forma cruel, um contraste total com os meninos barulhentos da vizinhança que puxavam seu cabelo ou jogavam insetos nela.

Comparado a eles, Dustin era um príncipe de conto de fadas.
Ela gostava dele. Talvez até o admirasse.

Ela ia ao jardim e fazia uma coroa ou um anel de flores para agradecê-lo por ajudá-la, e ele sempre aceitava usá-los. Saber que Dustin a tratava como uma princesa também a deixava feliz.

Eles iam juntos para a escola todos os dias e brincavam juntos ao voltar para casa. Ele a acompanhava até a porta e acenava ao se despedir, prometendo vê-la no dia seguinte.

Até que aquela noite chegou.

Quando acordou sobressaltada, percebeu que estava na cabana pré-fabricada onde haviam decidido passar a noite no dia anterior. Era o escritório administrativo de alguma ponte cujo nome ela desconhecia, construída sobre um grande rio que também não sabia o nome. Localizado nos arredores da cidade, onde raramente passavam pessoas, o lugar estava abandonado, com os funcionários tendo ido embora há horas. Na noite anterior, haviam arrombado a fechadura e entrado às escondidas.

Era de manhã cedo e, apesar da leve neve caindo, a arquitetura robusta dos prédios da Federação e o calor de seus amigos afastavam o frio. Esses amigos eram seus companheiros e confidentes desde o tempo no laboratório do Setor Eighty-Six, e ela os reunira para essa jornada antes que seu tempo acabasse.

Mesmo assim, a maioria deles não estava ali. Ou não haviam conseguido chegar, ou não tinham intenção de se juntar ao grupo de Citri. O ponto de evacuação dos cidadãos da República não estava exatamente escondido, mas também não havia sido amplamente divulgado, então provavelmente estavam bem…

Ao se levantar, tirando o casaco que usava como cobertor, percebeu que as outras garotas também estavam acordando. Kiki e Karine. Ashiha e Imeno. Totori, Ran e Shiohi.
… Espera. Faltava alguém.

— Onde está Totori?

Karine, com seus longos cabelos ruivos e lisos, balançou a cabeça levemente. Ela era como uma irmã mais velha para todos, tanto no laboratório quanto naquele grupo em geral.

— Ela saiu no meio da noite.

Como um gato que percebe que a morte está próxima, ela se afastou para encontrar um lugar onde pudesse morrer sozinha.
Não, não como. Foi exatamente isso que aconteceu.

— …Entendi.

Ainda assim, se ao menos…
…ela partiu daquela margem deserta nos arredores da cidade, deixando para trás a cabana vazia. Caminhou sozinha para a escuridão inabitada, desaparecendo silenciosamente na noite. O fato de que ninguém precisou se envolver em seu destino era, no mínimo, um pequeno consolo.

Essa era a razão pela qual haviam se reunido ali. Buscando aquele mesmo destino.

Percebendo que outra pessoa também estava ausente, Citri olhou ao redor, procurando quem deveria estar lá, alguém que os acompanhava ciente de seus destinos.

— Onde está o Yuuto?

Seus amigos seguraram uma risada ao vê-la parecendo um pintinho procurando por seus pais.

— Ele saiu para buscar comida. Disse que o mercado da manhã provavelmente já está aberto a essa hora — disse Kiki, com um sorriso, sentada encolhida e abraçando os joelhos. Ela tinha uma figura pequena e cabelos dourados, curtos e macios.

— Fiquei surpresa quando você o trouxe, Citri. E se ele se envolvesse nisso? Mas fico feliz que ele esteja aqui. Graças a ele, podemos comer comida quente e fresca.

Como Citri e seu grupo precisavam evitar ser vistos, Yuuto os guiava e saía para comprar comida ao longo do caminho. Sempre que possível, parava em uma barraca para conseguir algo quente para eles. Quando estavam longe da cidade, ele acendia fogueiras, preparava chá ou esquentava comida enlatada. Houve até uma vez em que ele matou e preparou um faisão sem usar a arma.

Como Citri não tinha nenhuma experiência em limpar peixes, muito menos em caçar, tudo o que ele fazia parecia magia. E a comida quente que ele servia ajudava a aquecer tanto seus corpos quanto seus corações no inverno rigoroso da Federação, situada próxima ao norte do continente.

Foi tão bom que fez Citri chorar na primeira noite em que comeram.
O calor da sopa que ele preparou, tão quente que ela quase queimou a língua, combinado com o brilho avermelhado da fogueira iluminando a escuridão, parecia ao mesmo tempo nostálgico e precioso para ela.

…Essas eram as habilidades que ele precisou aprender ao lutar em um campo de batalha muito mais frio que o inverno e a neve da Federação.
Foi porque ele continuou lutando — não apenas contra a Legion, mas contra a neve, a escuridão, as florestas, e a fria malícia da humanidade — que, mesmo agora, ele podia viver como um lobo solitário orgulhoso neste mundo gelado e coberto de neve.

Ele não era nada como eles, filhotes de cervos que não conseguiam sequer acender uma fogueira porque passaram seus dias confortavelmente abrigados na escuridão de um laboratório. Ele era um homem que lutou e sobreviveu.

Por algum motivo, essa percepção a deixou terrivelmente… solitária.

— Ainda não se moveram?

Mesmo um prédio usado apenas durante o dia nos arredores da Federação era bem construído, e por isso a porta abriu-se sem nenhum rangido. Yuuto espiou para dentro.

Apesar de já terem se passado dias desde que deixaram Sankt Jeder, suas feições delicadas não mostravam nenhum sinal de cansaço. Seu rosto parecia completamente sereno e alerta, o que Citri achou incrível, considerando o quão grogue ela estava.

Ele gesticulou na direção de onde veio.

— Ainda deve levar um tempo até que os administradores cheguem aqui, mas é melhor sairmos cedo para garantir. A cidade é maior do que eu imaginava ontem à noite, e há pessoas circulando por aqui durante o dia. Espera, o quê? — Ele olhou para Citri com curiosidade ao vê-la o encarando surpresa.

— Nada. — Citri balançou a cabeça.

Cabelos prateados e brilhantes. Olhos de um vermelho ligeiramente alaranjado, como o crepúsculo. Ele era como uma lua pura e radiante, a única fonte de luz queimando na escuridão da noite. Foi isso que ela pensou dele.

Deixe um comentário