Baccano! – Capítulo 03 (Parte 4) – Vol 01 - Anime Center BR

Baccano! – Capítulo 03 (Parte 4) – Vol 01

Capítulo 3 – Primeiro dia (Parte 4)

Tradutor: PH

 

Finalmente, finalmente meu maior desejo irá se tornar realidade…

Vida eterna. Quando eu escutava coisas similares em mitos e contos de fadas, eu sempre suspirei com desprezo, e as julguei como histórias tolas. Mas agora que penso sobre isso, isso era o que eu pensava sobre mim mesmo… Naquela época, eu me ridicularizava por pensar em coisas impossíveis.

Mas a visão dessa realidade me animava, por mais ridícula que parecesse.

Sobre a mesa havia um pequeno rato branco, e dentro de seu corpo estaria o sonho que eu desejo.

Essa especie de rato era uma ‘semente’ para experimentos, criado usando a alquimia do mestre Szilard. Ele possuía uma capacidade reprodutiva alarmante, mas tinha uma expectativa de vida de apenas sete dias.

Porém, o que estava diante de meus olhos já havia vivido por quinze dias, e parou de crescer no terceiro dia após ter tomado o ‘vinho’ criado. Se ele tivesse tomado o produto incompleto, então o rato não iria apenas crescer, mas também envelhecer até morrer. Então, seguindo essa lógica, o vinho que eu criei deve ser o produto completo.

O martelo foi movido para baixo selvagemente. Um barulho agudo soou, e ao mesmo tempo sangue respingou pela mesa.

Eu silenciosamente observei o que restou do rato. Não importa quantas vezes eu houvesse visto isso, a espera pelo instante em que o milagre ocorreria sempre parecia interminável. Se sabe que o milagre existe, então cada segundo a mais parece um desperdício.

Porém, na realidade, apenas algumas dezenas de segundos se passaram, mas para mim, pareciam horas… Não, na verdade eu havia esperado por esse dia há décadas.

Como se tivessem consciência, as gotas de sangue espalhadas pela mesa começaram a se mover uma por uma. Até mesmo o sangue que se infiltrou na madeira saiu de dentro dela, como insetos atraídos pela luz do sol. Se isso não era um milagre, então o que seria um?

O ‘exército de sangue’ começou a tomar rumo em direção ao seu destino… Para onde o martelo caiu, a massa coagulada que era o rato morto.

Essa cena daria o sentimento errado de que o tempo estaria retrocedendo. Não, o tempo estava retrocedendo a ‘morte’ do rato nessa mesa.

Conseguir alterar o rumo do tempo era realmente um milagre, um ato que podia ser realizado apenas por Deus ou demônios. Eu havia esperado por esse dia.

Está certo… Se um milagre como esse ocorreu ao mestre, então ele já fazia parte do milagre que aconteceu há 200 anos.

Vinte anos atrás, era ele, mestre Szilard, que me fez, um simples corretor de imóveis, me tornar um ‘membro’.

Na época, eu era um pouco famoso no mundo imobiliário, mas agora que eu penso sobre isso, percebo que era um trabalho chato. Um trabalho ordinário foi o pilar necessário para conquistar esse milagre.

Quando eu conheci o mestre Szilard por causa de um amigo, um congressista (obviamente um membro), eu não acreditei em nenhuma palavra que ele disse. Isso foi, até o mestre Szilard cortar os próprios dedos.

A cena da regeneração do mestre Szilard diante dos meus olhos reascendeu meu sonho de obter a imortalidade.

E naquele dia, eu obtive o ‘Vinho da Imortalidade’. Apesar de que ele era chamado de produto incompleto pelo mestre Szilard, ele também me garantiu um corpo indestrutível. Porém, havia uma exceção, e essa era a velhice. Quando comparado com o produto completo, que poderia ultrapassar essa fraqueza, o que eu bebi certamente era um produto incompleto.

No momento, eu, que havia bebido o produto incompleto, fui ordenado pelo mestre Szilard para recrutar um fermentador para fazer o vinho completo, e administrar assuntos relacionados. Eu questionei o fato de ter tornado alguém como eu, não familiarizado com alquimia, o administrador, e mestre Szilard respondeu que ‘não seria capaz de confiar em alguém com habilidade para tomar conta disso’. Apesar de que eu ainda não havia entendido as palavras dele, como foi o mestre Szilard quem as disse, elas não deveriam estar erradas.

 Nos próximos 30 anos, eu repeti a mesma rotina todos os dias, mandando ordens ao fermentador, testando o vinho em ratos… Todos os dias eram os mesmos. Porque havia veneno nos ingredientes da receita, não havia necessidade de se preocupar com o fermentador secretamente tentando experimentar o produto. A verdade era que os ratos de laboratório que não bebessem o vinho completo iriam morrer imediatamente… Assim como os ratos que bebessem o produto incompleto iriam esperar silenciosamente a velhice os alcançar. Não importa qual deles era, o fim sempre seria o mesmo.

Apesar de que o trabalho era árduo, era ao menos tolerável; O que tornou o trabalho mais complicado foi a porcaria da lei de proibição. Mesmo que fosse uma lei sem motivo criada por um bando de homens inúteis, ela causou um problema significante. Assim como a palavra ‘vinho’ no nome do produto experimental sugere, esse medicamente precisava ser disfarçado como álcool. Mas com a lei de proibição, nós não podíamos operar abertamente uma vinícola, ou comprar grandes quantidades de um dos ingredientes, álcool; Tudo se tornou extremamente difícil.

Mas agora, toda esse incômodo é apenas uma memória boa. Parecia que mudar o fermentador de vez em quando era um plano brilhante. Claro, uma vez que extraíamos tudo de importante de um fermentador, ele iria morrer por conta de um acidente.

O fermentador atual responsável por completar o produto – talvez por ele ter algum valor após produzir o produto, ou porque mestre Szilard ainda tinha planos para ele em sua mente – foi presentado, no momento, com sua vida como prêmio.

Eu nunca pensei que ele era alguém que se importava com dinheiro, mas eu ouvi que ele perdeu não só seu dinheiro, mas também sua vida, quando encontrou um ladrão.

Ah, bem, ele era esse tipo de pessoa.

Não importa mais, já que eu estaria segurando em minhas mãos o resultado de nosso trabalho. Tudo que restava era mostrá-lo ao mestre Szilard.

O rato, totalmente restaurado, se contorcia pela dor de ter grandes alfinetes prendendo as suas patas. Mas que rato sortudo. Receber o poder da ‘eternidade’ antes mesmo do que eu.

Com um pouco de inveja, eu elevei o martelo novamente.

O barulho agudo persistiu. Nesse momento, vindo do teto do porão… No caso, das tábuas do piso, veio um barulho de batida. Ah, esse era o código entre os membros. Eu rapidamente pressionei um interruptor, o que significava que a luz no andar acima deveria estar acendida.

Após um tempo, houve outro barulho de batida nas tábuas do piso acima.

Ah, o mestre Szilard finalmente chegou? Se ele visse essas três dúzias de garrafas cheias com o produto completo, não faço ideia do que ele iria dizer. Então, eu finalmente poderia me livrar do medo de morrer de velhice.

Com o coração batendo antecipadamente, eu subi as escadas e lentamente abri as tábuas do piso.

Imediatamente, eu senti uma onde de ar quente passando pela minha face de acordo com que eu emergia debaixo das tábuas do piso.

O que foi isso?

Ver a origem do barulho me chocou.

Na parede, uma seção de prateleiras que se colapsou fez o barulho, de acordo com que caíam uma por uma no chão.

E do outro lado do quarto, estaria pintado um vermelho brilhante, feito pelo fogo que estaria aqui.

Por quê? Por que agora? Por que, de todas as vezes, um incêndio começou agora?

Não havia nada no andar que fosse inflamável.

O vinho… Eu preciso tirar o vinho daqui… Eu rapidamente desci as escadas, e levantei a caixa com o produto completo… Eu não conseguia! Era muito pesado, era impossível para uma pessoa carregar tudo sozinho!

Apesar de eu ter obtido imortalidade, não houve mudança na minha força.

Só um pouco… Só mais um pouco e eu poderia completar minha própria e única evolução…. O eu evoluído era precisamente assim… Uma pequena e insignificante partícula que não poderia nem mesmo levantar 36 garrafas de vinho!

Aah… Alguém… Alguém venha…!

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“Ah… Você poderia vir aqui por um momento, Senhor Maiza?”

Escutando o chamado de Firo vindo do lado de fora, Maiza olhou para fora da quitanda.

“Qual o probl- Ah!”

Acima dos telhados das casas, do outro lado da rua onde ficava o estabelecimento, subia uma coluna de fumaça cinza. A distância entre a loja e aquele lugar não era longe. Parecia que estava à, apenas, duas ruas de distância.

“Eu vou dar uma olhada.”

“Ah, é melhor não arranjar problemas. Se por algum motivo a polícia aparecer…”

Nas mãos de Firo estava um vinho produzido ilegalmente, comprado no mercado negro. Apesar de que estaria misturado com outros produtos no saco, se a polícia… Especialmente Edward, descobrisse isso, iria resultar em algo impensável.

“Não se preocupe, não irei fazer nada idiota.”

Firo não parecia nem um pouco preocupado, rumando em direção ao lugar, enquanto acenava para Maiza.

“Ai ai… Esse seu aspecto deve ser mudado depois da cerimônia…”

Maiza deu um breve sorriso de desapontamento, enquanto Firo iria na direção do incidente.

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“Não pode ser…”

Ennis saiu do carro, e então ela viu uma fumaça densa no céu, ela quase achou que teria ido para uma direção errada. Mas agora ela desejava que realmente tivesse errado.

Infelizmente, a realidade trágica era que no letreiro do pequeno edifício que queimava em sua frente lia-se: “Companhia de Grãos Barnes”. A expressão fria de quando estava encarando aqueles homens velhos havia desaparecido. Ela nunca achou que algo tão sério como isso iria acontecer.

“O que aconteceu…? Como está o mestre Barnes…?”

A jovem motorista afastou os espectadores para se manter na frente da multidão. Apesar de que as pessoas se irritariam com as ações da motorista, a atenção delas era imediatamente voltada na direção do incêndio, então ninguém a parou ou reclamou.

O colapso da estrutura interior do edifício poderia ser claramente vista do lado de fora. Apesar da distância, era óbvio que alguns lugares no piso haviam afundado. Porém, se o produto completo estava mantido no porão, como normalmente, mesmo se ela entrasse no lugar agora mesmo… Não seria possível recuperar o produto.

Houve um desespero total. Como ela deveria contar aquilo ao mestre Szilard? Mesmo que ela não tenha sido minimamente responsável pelo que aconteceu, seu coração doía. Mestre Szilard definitivamente não ficaria com raiva, mas ele certamente iria demonstrar descontentamento. E ainda mais, aqueles velhos certamente iriam se desesperar muito mais do que ela, a fazendo ficar com dor de cabeça.

“…-ora, senhora!”

Quando ela sentiu uma mão em seu ombro, Ennis voltou à realidade.

Em sua frente estava um rapaz, por volta da mesma idade que ela, ou um pouco mais jovem.

“Você está bem? Sua face está pálida.”

Ennis entendeu que esse jovem, falando formalmente, estaria preocupado com ela.

Ela estaria tão abalada ao ponto de revelar seus sentimentos tão abertamente? Ennis apressadamente dispensou as suas emoções e respondeu como se nada de especial estivesse acontecendo:

“Ah… Não, nada que importe… Obrigado pela preocupação.”

Com isso, ela voltou a afastar a multidão e passou pelo meio dela.

Talvez Barnes tenha escapado. Quando ela pensou nisso, se sentiu obrigada a procurar pelas ruas próximas, então rapidamente entrou em um beco e desapareceu dentro dele.

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Quando Firo chegou na cena do incêndio, havia um grande carro preto estacionado ali perto.

Ele ficou surpreso ao ver que a pessoa saindo do banco de motorista era uma mulher. E essa mulher… Pela sua aparência ela parecia apenas um ou dois anos mais velha, ou até mesmo da mesma idade que ele. Não só seu comportamento era estranho, como suas roupas também eram. Apesar de ser uma mulher, ela vestia um terno preto completo e um par de botas de policial em seus pés. Baseando-se em suas roupas, alguém nunca poderia adivinhar que ela seria uma mulher, mas, talvez pelo material ser fino, mesmo que ela esteja vestindo um terno, não a fazia parecer ‘plana’. Com seu cabelo curto demais, poderia ser dito que ela era alguém incomum entre as mulheres… Mas combinando todas as peculiaridades de vestimenta e visual, lhe daria uma aparência encantadora.

Essa aparência contraditória era atrativa para o rapaz.

Ele achou que a reação dela em relação ao incêndio era um pouco extrema… Afastando a multidão, claramente desesperada, e não lhe dando uma chance de se aproximar.

Parada onde o real estrago do incêndio poderia ser visto claramente… Estava aquela mulher, parada diante à multidão, desesperada… Não, seria mais preciso dizer que ela possuía uma especie de olhar fúnebre enquanto se mantinha ali, aturdida.

Incapaz de esperar, o rapaz não pôde fazer mais nada além de se enfiar no meio da multidão para cumprimentar a mulher, mas ele nunca achou que receberia aquele tipo de resposta. O homem observou a mulher saindo, um pouco arrependido…

Uh…? Ela não está indo na direção do carro…?

O carro que a mulher estava dirigindo já havia sido engolido em meio a uma nova onda de espectadores. Mas ela nem mesmo se importou em checar o estado dele, caminhando diretamente até um beco em outra direção.

Então algo estava errado, afinal. Firo estava um pouco interessado na situação, e ele também queria falar com aquela mulher. Na verdade, era como ‘amor a primeira vista’ para Firo.

Na mente de Firo, o interesse dele entre o incêndio e a mulher claramente pendia para ela. Então ele começou a ‘nadar’ pela maré de pessoas.

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“Isso é estranho… Ela acabou de virar para a direita nesse cruzamento…”

As ruas de Nova York eram tão complexas quanto uma teia. Apesar de que as ruas estariam dispostas de uma maneira organizada, a vasta quantidade delas deixava fácil se perder, mesmo com uma estrutura tão simples.

Firo originalmente queria seguir a mulher, mas em certo ponto ele já estaria perdido no labirinto da cidade. Para Firo, um morador dessa cidade, teria gravado em sua mente coisas como: O caminho para casa, as vastas ruas e os becos estreitos, o mercado negro de álcool, entre outros. Mas Firo simplesmente não tinha como saber o movimento das pessoas dentro da cidade.

Ainda mais, essa área deve ser o território da ‘Família Gandor’.

A Família Gandor era uma das incontáveis Máfia dentro de Nova York, operando em uma escala similar e controlando a mesma quantia de território que a Família Martillo. Mas os três irmãos Gandor governando esse grupo eram conhecidos por sua crueldade e habilidades de luta, enquanto seus subordinados facilmente escolhiam a violência com a menor das discordâncias.

“Ah, cara… É melhor que essa garota não tenha sido sequestrada por esses caras.”

A frustração e preocupação no coração de Firo não era sem razão. Não seria incomum se um desses caras fizesse algo assim.

Se são os Gandor reais então está tudo bem. Mas se são os delinquentes que não estão sob controle direto dos irmãos, não irão se segurar.

Enquanto Firo observava seus arredores, o grito de um homem veio de não tão longe. Já que ele não tinha rumo, a curiosidade de Firo o levou à caminhar na direção de onde o som veio.

Próximo à esquina do beco, ele viu algumas pessoas se movimentando. Quatro jovens pessoas estavam em volta de um velho homem, gritando algo.

Firo lentamente se aproximou deles, escutando a conversa. Parecia que nenhum deles havia percebido a aproximação de Firo ainda.

“Você ainda não vai se desculpar, seu velho de merda?!”

“Pare com essa idiotice…! Foram vocês que esbarraram em mim!”

Com o grito de fúria do velho, um dos homens desferiu um selvagem chute na parte dianteira de sua perna.

Dando um grito de dor, o seu corpo se encolheu como se fosse uma bola.

“Mentira, velhote! Quando nós te perguntamos gentilmente, ‘Sua caixa parece pesada, quer alguma ajuda?’, você se lembra do que disse, desgraçado?”

Outro homem, não o que anteriormente chutou o velho, chutou o rosto agonizado dele.

“Você disse algo como, ‘Saiam daqui, seus merdas’, né? Não acha que isso é demais?”

Outro chute, agora no outro lado de sua face. Não deve haver mais sensação de dor alguma, esse ataque teve um caráter mais psicológico.

“Por conta da sua grosseria, eu acidentalmente estendi minha perna… E porque você tropeçou, meus sapatos ficaram sujos. Nem falando sobre os carraptos no seu corpo que saltaram em mim. Eu vou me coçar até a morte, então o que acha que devemos fazer?”

Mas que droga você está falando…?”

“Não pedimos a tua opinião!”

A perna do velho foi chutada novamente, pelo homem que parecia ser o líder.

A dor intensa faria o idoso perceber que seria melhor se desculpar de maneira honesta e rapidamente dar a eles um pouco de dinheiro.

No momento, as suas capacidades de luta não eram o suficiente para lidar com esse lixo. Ainda mais, ele tinha uma missão que precisava ser completada.

“Ah, eu entendo. Eu estava errado. Se é dinheiro que vocês querem…”

O líder curvou o seu dedo indicador e polegar, como se formasse o contorno incompleto de uma bola de golfe, agarrando o velho pela garganta. Mesmo se ele quisesse implorar, não conseguia falar, até mesmo respirar se tornava difícil.

“Nós não pedimos por sua opinião, quantas vezes nós temos que repetir isso até você entender?”

Porque o velho estava sofrendo muito, a caixa que ele segurava estava quase caindo. Ele desesperadamente tentou respirar, concentrando tudo que tinha em segurar a caixa.

“… O que é isso… Velhote, você se importa tanto com essa caixa?”

Um dos homens se aproximou para tocar na caixa. De alguma maneira, o velho encontrou energia o suficiente para se livrar da agarrada mortífera do homem, proteger a caixa, e tentar escapar do lugar.

Mas infelizmente, o fizeram tropeçar novamente.

O velho caído foi chutado e pisado impiedosamente por todos os lados. Então, ele foi virado pelo pé de um dos homens.

“Essa caixa vai ser nossa. Então apenas concorde com isso, okay?”

Descansando seu pé na barriga do velho, o líder se abaixou e sacudiu a caixa.

Nesse momento, o velho pareceu querer protestar. Ele elevou sua cabeça para dizer algo, mas ela foi violentamente empurrada na direção do chão pelos pés de um homem ao seu lado.

O velho sentiu seu cérebro cérebro agitar rapidamente, e então ficou inconsciente instantaneamente.

“Agora… O que é isso? Vinho?”

O líder abriu a caixa e achou duas garrafas verde-escuras. Esse tipo de garrafa era raro, e o líquido chacoalhando dentro delas definitivamente não era aquoso. A razão pela qual ele tinha certeza de que isso não era água, seria pelo movimento viscoso do líquido.

Se o que estava ali dentro realmente fosse vinho, então por que o idoso forçou tanto? Talvez porque fosse vinho de alta qualidade? Enquanto o líder se perguntava sobre isso, ele finalmente notou Firo, quem estava observando de longe o tempo inteiro.

“O quê, moleque? O que tá olhando?”

Por um momento, Firo não tinha certeza do que fazer ao ser percebido.

Firo pessoalmente achou que a situação inteira foi como esses delinquentes disseram: ‘O homem mereceu isso’. Apesar desses caras terem sido um pouco exagerados, quando ele pensou no que fez com o ladrão nessa manhã, parecia mais ou menos a mesma coisa. Porém, havia uma grande diferença entre querer machucar e querer matar, e Firo não queria ser comparado com essas pessoas.

“Ah, nada… Ouvir ‘Saiam daqui, seus merdas’ vindo de um velho, obviamente faria qualquer um ficar com raiva, mas como vocês são ladrões, deveriam ao menos estarem preparados para serem percebidos pela polícia… Ou talvez vocês sejam confiantes que, depois de terminar de lidar com o velhote, conseguiriam limpar a cena do crime?… Talvez eu esteja pensando demais.”

Confrontado pelo rapaz que inesperadamente falava como um adulto, os homens trocaram olhares de descrença.

“… Ei, pirralho, fale com mais respeito com aqueles mais velhos que você, sua mamãe não ensinou isso? Ou sua mamãe estava ocupada demais a noite inteira conseguindo clientes nas ruas, que não conseguiu te amamentar?

Apesar de que ele estaria contando uma piada vulgar, não havia sinal de humor nos olhos do líder.

Essa era a segunda vez que tinha sido repreendido por falar formalmente. Firo pensou nisso e soltou um suspiro, com uma expressão entediada. Sem contar a polícia, até mesmo esse cara estava o repreendendo.

“… Eu posso ser um pirralho que não tem nem vinte anos, mas e vocês? Pelo que vocês dizem e fazem, não parecem muito mais velhos que eu.”

O grupo se aquietou. Parecia como se ele tivesse os irritado, mas ao mesmo tempo, esse não parecia o caso.

“… Você não é dessas bandas, né?”

“Eu sou um nova-iorquino, assim como vocês. Eu sou um picciotto da família Martillo, Firo.”

Firo se apresentou da maneira mais modesta que podia; Esse era o nível mínimo de educação necessária.

“Martillo, é? Nunca ouvi falar… E vocês, caras?”

Os outros homens sorriam ironicamente, balançando as cabeças.

“… Ha! Deve ser um grupo pequeno então… Ou talvez uns garotos do colégio brincando de faz de conta?”

“… Eu acho que nossa organização deve ter quase o mesmo tamanho que a de seus superiores, a Família Gandor.”

Firo achou que esses homens iriam replicar, mas eles não pareciam nem mesmo estarem com raiva.

“Huh? Do que você disse que somos subordinados…?”

Poderia ser que esses caras não tenham nada com a Família Gandor? Nesse caso, estou dando respeito demais para eles…

Firo pensou isso, enquanto esperava por uma outra resposta.

“Você realmente nos misturou com essa ralé? Ninguém manda na gente. Precisar formar essas tais de “famílias” é só uma prova de sua fraqueza, não acha? Quero dizer, nós sempre atuamos nessa área, mas os Gandor nem ousaram reclamar.”

Ah, então era isso. Firo finalmente entendeu.

O que eles estavam dizendo era que eles eram só um bando de delinquentes. Não era como se eles não desejassem entrar na organização, mas provavelmente eles não eram nem qualificados para entrar.

“Sinceramente… Bem, chega disso. Apenas desapareçam.”

Escutando as palavras de Firo, as expressões dos homens não mudaram.

“… O que você disse?”

“Eu disse, já chega. Apesar de ter algumas coisas que eu gostaria de perguntar, é óbvio que vocês não iriam me contar, de qualquer maneira. Se esse é o caso, então eu deveria ter perguntado mais casualmente. Perder meu tempo com gente como vocês realmente me irrita, mas bem, eu não iria bater em vocês… Só sumam, rápido. Fui claro?”

Isso tudo foi dito de uma vez só.

Tendo dito isso, Firo caminhou para frente. Nesse momento, um dos homens rapidamente andou em sua direção.

“Pirralho, quem você pensa que é?!”

O homem agarrou Firo pelo colarinho e o puxou próximo a sua face.

O rapaz deu um leve suspiro, então usou essa oportunidade para iniciar seu contra-ataque.

A sua mão esquerda disparou contra a garganta do oponente. Por conta da mão direita dele estar agarrando o colarinho de Firo, ele não poderia parar o ataque imediatamente.

A mão de Firo agora estaria diante do rosto do homem, em sua garganta… E logo abaixo do pomo de adão do homem, ele usou seu polegar e indicador para apertar a garganta do homem firmemente.

“…!”

Nem mesmo um barulho de dor poderia sair da gargante do homem. Ele soltou o colarinho de Firo assim que ele soltava seu pescoço, colocando ambas as suas mãos sobre sua própria garganta, tremendo.

“Vocês fizeram isso com o aquele senhor agora pouco, certo?”

“Merda!”

Do lado dele veio outro homem.

Firo apenas rapidamente inclinou seu torso para trás, aproveitando essa oportunidade para agarrar a mão esquerda o oponente. O homem apressadamente levantou sua mão direita e a movimentou na direção de Firo. Porém, a postura incomum fez com que seu soco não tivesse nenhuma velocidade ou força. No fim, o seu punho direito também foi entregue diretamente à mão de Firo.

Ambas as mãos haviam sido pegas por Firo. Se ele não se livrasse daquela situação, seria perigoso para o homem. Então ele levantou sua perna e fortemente pisou em direção ao chão. Apesar de ser uma boa tática, já era tarde demais.

Nesse instante, Firo usou as mãos do homem para o empurrar, na direção de suas costas. Os braços do homem se cruzaram na região do cotovelo, e então se dobraram ao serem pressionados contra o ombro esquerdo de Firo.

Então, mantendo a pose, Firo ajustou o seu centro de gravidade levemente e se inclinou fortemente, de maneira súbita. Os pulsos que se sobrepunham em seu ombro causaram um barulho de ‘crack crack’, se quebrando. Incapaz de suportar a dor, todos os pensamentos de continuar a luta foram esquecidos.

Justo assim, as pernas do homem saíram do chão, e no meio de tudo que estava acontecendo, o mundo girou para ele.

Meio segundo depois, a parte inferior das costas do homem… Não, provavelmente o seu corpo inteiro, foi consumido pela dor.

“Ooooh… Como isso aconteceu?… Estou ficando um pouco impressionado comigo mesmo.”

Comparado com o homem em agonia, era Firo, responsável por jogar o cara para longe, quem estava surpreso. Essa técnica era algo que pessoas japonesas dentro da organização haviam o ensinado há muito tempo, mas realizar um arremesso de mão tão lindo como havia feito era uma novidade para ele.

“Ugh… Aaah…”

Vendo seus companheiros gemendo de dor no chão, os dois delinquentes que sobraram não podiam deixar de respirar profundamente. Se todos os quatro tivessem atacado juntos, então tomar conta do rapaz seria fácil. Eles nunca imaginariam que agora, não só eram incapazes de acertar o rapaz, mas que ele estaria em pé próximo ao velho, ileso.

Esse rapaz não era alguém com quem se meter. O líder começou a ver o rapaz diante de si com outros olhos.

Nesse momento, o outro homem já havia sacado uma faca, a apontando para Firo.

“… Ah, você até mesmo pegou uma faca…”

Apesar de Firo parecer assustado por fora, ele na verdade estaria se sentindo muito relaxado.

Firo rumou na direção da gangue de delinquentes com facilidade, levantando ambas as mãos enquanto dizia:

“Ei ei… Não há necessidade de apontar uma faca para um pirralho, certo?”

“Calado! Não estava implorando por perdão até agora…”

Enquanto dizia isso, o homem empunhando a faca avançou com ela na direção de Firo. O rapaz pulava e desveria um chute preciso no pulso da mão que estaria segurando a faca. Como esperado, a faca caiu no chão causando um barulho. Ela quicou no chão e foi chutada para longe por Firo.

“Ah…”

O homem não podia fazer mais nada além de olhar a faca.

Então, no canto inferior do seu campo de vista, parecia ter algo indo em sua direção.

No momento que ele percebeu que seria o punho de Firo, já era tarde. Seu nariz recebeu um golpe pesado, e logo após seu abdômen era selvagemente chutado por Firo, o fazendo cair no chão.

“E? O que planeja fazer agora?”

Firo virou a cabeça na direção do líder, este que impacientemente procurava algo em seu bolso.

“A partir de agora, eu devo ser qualificado para brincar de faz de conta no colégio, certo?”

Firo retrucou o insulto que havia recebido mais cedo. O líder ignorou o que Firo disse, e caminhou diretamente para o primeiro homem, que havia segurado Firo pelo colarinho. Apesar do homem já ter levantado, ele ainda massageava a própria garganta. Após dizer algumas palavras para cada um que Firo havia derrubado, o líder os deu seu ombro como apoio e os levantou, um por um.

Esses homens deram à Firo um último olhar de ódio, e então saíram dali, derrotados. Deixados para trás estavam Firo e o velho inconsciente.

 

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“Ei, velhote!… Está tudo bem com você?”

Sentindo os tapas em seu rosto, Barnes finalmente acordou.

Ele rapidamente se sentou. Sem dor. O sangramento interno e ossos quebrados haviam sido completamente restaurados.

Diante dele estava um homem que pareceu mais jovem que as pessoas do grupo de antes. Ele estava ajoelhado no chão, o encarando curiosamente. A caixa ainda estava em suas mãos.

Quando Barnes confirmou que ela estaria ali, ele suspirou com alívio… Então, olhou para Firo, surpreso.

Esse rapaz o salvou? Ele não poderia acreditar que alguém tão jovem seria capaz de expulsar aqueles caras, mas desde que a caixa ainda estivesse intacta, tudo estaria bem. Barnes estava um pouco preocupado com o conteúdo da caixa, e, olhando dentro dela, encontrou as garrafas de vinho ainda intactas. O vinho dentro delas também estava bem seguro.

“A coisa dentro da caixa é mais importante que você?”

Firo perguntou, interessado. Então Barnes rapidamente cobriu a caixa, e a abraçou mais fortemente.

“Ca-calado! Isso não tem nada a ver com vocês! Você também quer meu vinho? Se é dinheiro o que você quer, eu te dou o quanto quiser! Então apenas vá embora!”

“Ei, ei, por que essa atitude perante seu salvador…? Agora eu finalmente entendi como aqueles cara se sentiram.”

Apesar de Firo ter franzido suas sobrancelhas enquanto falava, ele não parecia muito irritado.

“Ah, sim, velhote. Você viu uma garota vestindo um terno preto?”

Com a súbita pergunta desconcertante, os pensamentos de Barnes se tornaram um pouco caóticos. Uma garota vestindo um terno, não deveria ser alguém do teatro…? Mas quando pensou com um pouco mais de cuidado, Barnes de repente lembrou de uma pessoa.

A motorista do mestre Szilard…

Porque ele precisava se comunicar com o mestre Szilard, ele entrou em contato com Ennis algumas vezes. Ela era a única pessoa, além do mestre Szilard, capaz de matar ele.

“Não… Não sei de nada.”

“Entendo… Bem, desculpa por te incomodar.”

Após Firo dizer isso, ele saiu imediatamente, sem nenhum pensamento sobre o velho.

Observando as costas do rapaz, Barnes se questionou:

Por que esse rapaz quer encontrar a motorista do mestre Szilard?

Barnes estava tão preocupado com isso, que acabou negligenciando outro assunto importante. Que era: Por que Firo não ficou irritado com suas palavras extremamente rudes?

Se ele tivesse percebido isso, não teria passado por nada… Até mesmo os destinos de Firo e de outros mudaria drasticamente.

Mas infelizmente, Barnes nunca notou isso.

O destino começou a pacificamente percorrer seu próprio caminho em espiral.

Agora, Barnes estava caminhar por um silencioso beco, sozinho.

As coisas seriam menos problemáticas se ele tivesse caminhando de volta à rua principal, mas ele não tinha tempo para isso. Ele precisava chegar o mais rápido que podia ao prédio em que mestre Szilard estava esperando… Após obter a imortalidade, ele poderia lidar com aqueles delinquentes, os envolvendo em um acidente de carro, ou algo parecido.

Mas ele realmente seria capaz de obter a imortalidade? Apesar do incêndio ter sido inesperado, ele foi capaz de preservar apenas duas garrafas do produto completo, então talvez ele fosse morto pelo mestre Szilard. Não. Talvez ele realmente fosse morto. Mas não havia nada que poderia fazer. Afinal, ele não havia sido capaz de completar a missão dada pelo mestre Szilard.

Mas, se ele não matar—

Essa esperança quase extinguida motivou os pés de Barnes a darem passos mais longos.

Não pense mais, apenas chegue ao destino.

Mas o destino frio sempre brincou com a humanidade. Barnes não sabia que um destino impiedoso estava se aproximando de si.

A parte traseira do colarinho de Barnes foi agarrada, e ele foi puxado para trás por alguém.

Quando Barnes foi forçado a virar sua cabeça, uma voz cheia de fúria veio de sua frente.

“Então apenas restou você, seu velhote de merda.”

Em frente a Barnes estavam os quatro delinquentes que ele imaginou morrendo em um acidente de carro.

“É melhor você nos deixar beber esse vinho.”

Barnes, quem havia ficado inconsciente pela dor de ter todos os seus braços e pernas quebrados, foi jogada em uma área de lixo pelo grupo de delinquentes.

Quando Ennis chegou, seus braços e pernas quebrados ainda não haviam se recuperado.

 

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Não muito longe daquela área de lixo, havia um Jalão de Jazz. No porão do salão de Jazz ficava o quartel general da família Gandor.

Juntamente da música de fundo, uma dúzia de homem estavam bebendo vinho, rindo, gritando… Todos esses sons misturados dariam um sentimento indescritível ao lugar.

Uma simples observação já seria o suficiente para dizer que essa pessoas não eram do tipo amigáveis. Esses homens estavam sentados espalhados pela loja apertada, fazendo o que bem queriam.

Porém, em um lugar tão barulhento, havia uma área silenciosa.

Sentados em volta da redonda mesa central estavam quatro homens, os quais estavam rodeados por uma dúzia de homens em pé, observando a cena da mesa. Eles pareciam estar jogando poker.

Dos quatro homens ao redor da mesa, três pareciam muito tranquilos, quase como se gostassem desse ambiente. Mas a pessoa restante parecia um pouco estranha, como se estivesse muito nervoso.

Esse homem separava seu lábios trêmulos, para dizer:

“Is… Iss- Isso-… Isso é realmente r-raro… Os três chefes têm coringas em suas mãos…”

Jogi, encarregado de administrar as financias do grupo, disse isso, enquanto secretamente examinava a expressão dos três irmãos.

“…”

Sentado à sua esquerda estava o chefe da Família Gandor e mais velho dos três irmãos, Keith Gandor, que era um homem de poucas palavras. Nos cinco anos desde que Keith entrou na organização, ele ainda não viu Keith abrir a boca para dizer algo.

“Cala a boca, Jogi! Quando jogando poker, você deveria ficar em silêncio!”

Sentado do lado oposto a si e falando bobagens, estava o segundo em comando da organização, Berga Gandor. Apesar de apenas o segundo em comando, ele era facilmente o mais forte dos irmãos, duas vezes maior que o chefe. Sua personalidade era volátil, e ficava facilmente irritado.

“Ah, ah, irmão Berga, acalme-se… Pessoas dizem que se você ficar brabo, a Senhorita Sorte vai fugir… Desculpa por isso, Jogi…”

Sentado à sua direita e falando em um ritmo lento, estava o terceiro a mando da organização e mais novo dos três, Luck Gandor. Apesar dele estar por volta de seus vinte anos, suas capacidades intelectuais e sociais eram incomuns, e por isso era regularmente confiado com tarefas importantes.

Luck sempre tinha um leve sorriso e falava educadamente, não importando se ele estivesse falando com subordinados ou anciãos. Esse tipo de pessoa nesse país poderia ser chamado de raridade. Mas Jogi sabia em seu coração que o sorriso de Luck era apenas um movimento de seus lábios, e que na realidade seus olhos sempre entregavam um brilho frio.

“Ah… Não… Obrigado…”

Incapaz de formular mais do que simples sílabas, Jogi poderia apenas abaixar sua cabeça e silenciosamente arrumar as cartas em sua mão.

Se ele tivesse uma discussão com eles sobre honra, ele acredita que um monte de coisas terríveis aconteceriam no resto de seu dia. Então, após decidir entre as duas opções, Jogi apenas pode fingir estar ocupado reorganizando as cartas de poker.

“Ah, sim! Eu acabei de me lembrar de algo interessante!”

Quando todo mundo havia terminado de arrumar as próprias cartas, Berga, quem havia calado Jogi, exclamou de maneira alta.

“É sobre aquele cara, Dobby. Ele disse que não se deveria apostar com dinheiro o tempo inteiro, então jogar isso de vez em quando é até que legal.”

Tendo dito isso, ele grosseiramente pegou um estojo preto e o largou em cima da mesa.

Era um revólver.

Os outros dois irmãos silenciosamente encaravam as suas cartas, sem resposta alguma.

“Uh… Hm… Senhor Berga?”

“Esse é aquela tal de Roleta Russa.”

Escutando isso, Jogi sentiu como se o mundo tivesse se escurecido diante de seus olhos.

“Eh… Sobre isso… Você está brincando, né?… Alguém poderia morrer…”

“Sem problemas! Apenas escolha corretamente e ninguém morre.”

“Como você pode brincar tanto assim…”

Jogi olhou para Luck, como se pedisse ajuda, mas ele não respondeu.

“Então… Vamos embaralhar as cartas juntos.”

A tremedeira de Jogi se tornou mais intensa. Se as cartas fossem embaralhadas dessa maneira, tinha certeza de que seria ele quem teria a arma apontada em sua têmpora.

Parecia que a única maneira de se safar era sorrateiramente trocar as cartas. Ao menos, Jogi tinha uma confiança nisso. Como precaução, ele havia guardado um punhado de cartas em sua manga. Se ele usasse, então quem sabe poderia ao menos juntar cartas do mesmo naipe.

Apesar de estar um pouco nervoso por trapacear na frente de seus chefes, Jogi conclui que era muito melhor do que deixar a arma ser apontada para sua própria cabeça.

Jogi levantou sua cabeça para observar os movimentos de seus oponentes… E nesse momento, seu corpo congelou, ficando tão rígido quanto gelo.

Os olhares.

Dúzias de olhares frios estavam fixados nas mãos de Jogi.

Keith, Berga, Luck, os espectadores em volta deles; Até mesmo os caras que nunca se aproximaram da mesa haviam parado o que estavam fazendo para encarar as mãos de Jogi.

O único som que quebrou o silêncio absoluto do porão foi a música de Jazz que vinha do teto esporadicamente. Mas o silêncio intermitente apenas aumentou o pavor de Jogi.

Talvez porque o pavor era tanto, Jogi até mesmo esqueceu de tremer. Até mesmo o fluxo do tempo nos arredores se tornou estranho. Jogi sentiu como se ele fosse ficar insano, e para manter sua mente limpa, forçou sua garganta à articular palavras.

“………. Ah…… Ah……… Qu-… Qua-qu-qual o problema…?…… Por que todo mundo…? Tem a-a-algo er-er-errado c-com minha m-m-mão?”

Tentando não tremer, parecia que suas palavras finalmente saiam. Todo mundo encarava o ridículo Jogi, então, inesperadamente, Berga respondeu calmamente:

“… Hm? Ah, não… Você não iria trapacear? Todo mundo está assistindo de olhos bem abertos. Não se importe conosco.”

O coração de Jogi acelerou.

Não pode ser, não pode ser, me descobriram? Não, isso não é possível. Não deve ser possível.

Jogi desesperadamente formou uma expressão suave. Se ele não estivesse em tanto pânico, talvez poderia ter visto o que não percebeu no momento.

“Ha… Haha… Não seja bobo, Senhor Berga… Como eu poderia trapacear… né, Senhor Luck?”

Os lábios de Luck se curvaram para cima enquanto falava, seus olhos ainda estavam cheios de divertimento.

“Se fosse você, quem você diria que encheu seus bolsos com dinheiro da organização nos últimos dois anos…?”

Nesse momento, Jogi estava verdadeiramente assustado, ao ponto de não conseguir se mover nem um pouco.

Me descobriram! Me descobriram! Me descobriram, me descobriram, me descobriram! Eu vou ser morto, eu vou ser morto!

Jogi queria dizer algo, mas a sua boca apenas conseguia continuar tremendo, ele não podia nem mesmo expirar. O suor frio que se formava em suas costas parecia ser a manifestação do seu próprio pavor.

“Você acha que nossos olhos são apenas enfeites? Bem… Só descobrimos após dois anos, então talvez eles sejam mesmo, afinal…”

As lábios de Jogi tremiam violentamente enquanto Luck o encarava friamente, continuando sua fala:

“… Eu ouvi que recentemente haviam alguns drogados vagando por nossa área… Eu suspeitei que pudesse estar relacionado com uma de nossas pessoas, então investiguei.”

Se grupos pequenos como Gandor ou Martillo estivessem envolvidos com narcóticos, outros grupos poderiam vê-los como incompetentes e os considerar inimigos. Ainda mais, provar que a sua própria organização não estava relacionada com essas coisas, limpava a suspeita dos comerciantes que pagavam por proteção.

“… Mas no meio da investigação eu percebi algo sem relação alguma com drogas… Jogi… Essas contas que você cuida… Algumas das perdas foram um pouco excessivas… Impensável, sério… Eu também ouvi sobre outros assuntos… O que vem depois disso, você entende, não é, Jogi? Com sua inteligência…”

Jogi havia parado de processar tudo o que era dito já havia um tempo. Seus olhos vazios se focavam em um ponto aleatório.

“… No fim, o drogado foi pego pela polícia nessa manhã, e eles entendem que isso não tem nada a ver conosco… Você está escutando, Senhor Jogi?”

Os ouvidos de Jogi não registravam nenhum som. Suor, escorrendo como chuva, refletia o estado do coração de Jogi.

Percebendo que isso foi apenas uma perda de tempo, Luck expôs suas cartas na mesa.

“Às, cinco cartas.”

Então Berga usou suas mãos para golpear as próprias cartas.

“Ah! Eu perdi! Rei, cinco cartas!”

Por último, Keith silenciosamente mostrou a sua própria mão.

“…”

Cinco coringas estavam discretamente expostos sobre a mesa.

“Irmaozão ganhou tudo!”

“Nós nunca podemos ganhar contra o Irmão Keith.”

Em frente a um truque tão óbvio, as três pessoas na mesa explodiram em gargalhada – hahahahaha. Jogi não riu.

No total, haviam sete coringas na mesa. Os Ceifadores ilustrados nessas cartas estavam sorrindo para Jogi.

Quando as risadas dos homens diminuíram, Luck disse calmamente:

“Senhor Jogi, se apresse e nos mostre suas cartas…”

Como se estivessem hipnotizadas por Luck, as cartas caíram das mãos rígidas de Jogi. Duas delas estavam do lado errado, então Luck as virou… Todos poderiam concluir que as cinco cartas juntas davam uma mão ruim.

“Então… Todo mundo ainda lembra das regras que dissemos, não é, Jogi?”

Berga jogou a arma que estava no centro da mesa para Jogi. Cartuchos… Seis deles. O tambor estava cheio.

“Agora, Roleta Russa. Um jogo de roleta com 100% de chance de ganhar? Você vai te que receber ao menos um tiro.”

Encarando a sua morte iminente, Jogi se acalmou por um instante.

Por que ele teria que morrer? Tudo que ele fez, foi apenas usar o dinheiro dessas pessoas inúteis para si. Ele fez isso por sobrevivência, e ainda assim… Ele simplesmente não podia entender porque teria que ser morto por idiotas que não sabiam nem como ganhar dinheiro. Ele devia ao menos receber uma chance de viver.

Não havia arrependimento ou reflexão no coração de Jogi, apenas desgosto pelo destino que ele teve.

Então, Jogi encarou o revolver na mesa, sem dizer uma palavra. Então, ele olhou novamente para as pessoas à sua volta. Ninguém havia sacado nenhuma arma ou faca ainda.

Vocês estão rindo de mim? Por isso disse, esses caras são todos idiotas.

Jogi lentamente alcançou a arma, e então a levou até sua própria têmpora.

“…!”

Jogi subitamente apontou o cano para frente e puxou o gatilho. Na sua mira estava o irmão mais velho entre os três.

Click

O gatilho soou uma…. Duas, três, quatro, cinco, seis vezes…

Nenhum tiro saiu do cano.

No silêncio do porão, estava apenas o som metálico do gatilho sendo pressionado. Esse som se mesclou com a música vindo do teto, formando uma combinação maravilhosa que ressoava nos ouvidos de Jogi.

“… É uma pena, Jogi.”

Luck disse, com muita tristeza. Era raro ver as emoções dele fraquejarem, seus olhos estavam cheios de dor.

“Olhe mais de perto… O tambor estava completamente vazio…”

A face de Berga não tinha emoção enquanto ele ditava aquele fato surpreendente.

Olhando para Jogi, que se mantinha aturdido e sem compreender sua posição atual, Luck deu seu veredito.

“… Você sabe, Jogi, nós… Nós somos muito gratos pelo trabalho que você fez até agora. Então, nós chegamos a uma decisão após uma pequena discussão. Se você chegasse a um entendimento e puxasse o gatilho com a arma mirada em si próprio, então não diríamos nada e apenas te expulsaríamos da organização. Se você chorasse e implorasse por perdão, iríamos te espancar até quase morrer, e então te expulsaríamos da organização. Se você fingisse não saber de nada, iríamos cortar sua língua fora e então te expulsaríamos da organização. Parece que… Você escolheu a pior das opções. É realmente deplorável.”

Luck terminou de falar, sacudiu a cabeça e não disse mais nada.

Jogi realmente se desesperou nesse momento, se arrependendo do fundo de seu coração pelo que havia feito. Ele devia ao menos ter chorado e implorado por perdão.

Mas claro, não era tarde para o fazer agora. Mas bem quando Jogi abriu a boca para falar algo…

Um grande sapato foi de encontro com a sua boca aberta.

Em um piscar de olhos, Berga pulou em cima da mesa, e como uma criança chutando uma bola, balançou selvagemente seu pé na direção da face de Jogi.

“… Não decepcione os meus manos mais uma vez.”

Franzindo as sobrancelhas, Berga encarou com desgosto o traidor que havia caído no chão. Próxima à cabeça de Berga, a grande lâmpada pendurada balançava violentamente.

Alguns dentes voaram para longe da boca de Jogi; Os olhos de Jogi se reviraram, mostrando apenas uma branco total. Era claro que Jogi havia perdido completamente sua consciência.

Vendo isso, alguns dos espectadores assistindo o jogo de poker começaram a se mover. Eles pegaram o corpo de Jogi, colocaram ele em um saco de tecido, e, assim, Jogi foi levantando por duas pessoas… Que subiram as escadas, rumo à superfície.

Então, o saco foi colocado em um carro e saiu da cidade, sacudindo de um lado para o outro enquanto o carro viajava rumo ao mar.

Apesar de ele ter perdido sua consciência temporariamente, Jogi provavelmente nunca mais iria abrir seus olhos novamente.

O homem que sabia o destino de Jogi falou silenciosamente com sua voz, até o momento, não utilizada:

“… Ele é um verdadeiro tolo…”

As únicas pessoas que ouviram o resmungo de Keith foram os seus dois irmãos mais novos ao seu lado.

 

Alguns minutos depois do saco ter sido mandado embora, um dos membros da organização desceu do Salão de Jazz.

“Senhor Luck… Dallas e sua gangue querem te ver.”

Dallas… Quem é esse? Alguns nomes e faces conhecidos emergiram na mente de Luck.

Ele finalmente lembrou daqueles delinquentes incompetentes que frequentavam seu território.

“Tudo bem. Tome suas armas antes.”

Um tempo depois, a desgastada gangue de quatro membros entrou.

Apenas por ver eles naquele estado, Luck já sabia que ‘Ah, eles perderam uma briga’. E com isso, Luck poderia mais ou menos adivinhar o porquê deles estarem aqui.

“… Então, aquele pirralho chamado Firo, apenas—”

“Eu irei recusar.”

Luck interrompeu o discurso do outro homem, recusando seu pedido. Apesar do homem ter a mesma idade que ele, Luck ainda assim escolheu responder educadamente.

“Por qual motivo vocês pensam que nós somos obrigados a ajudar vocês?”

“Isso… Não… Isso é…. Porque ele é um cara de fora causando problemas no seu território!”

“Vocês não são nossos membros, então você não tem porque se preocupar com nossos assuntos. Claro, se você tivesse feito algumas doações para nós no passado, então você poderia se sentir livre para falar conosco, e nós definitivamente teríamos feito de tudo para ajudar vocês.”

Essa era a verdade. Esse tipo de organização pequena existia unicamente com a confiança (e algumas vezes com medo também) dos cidadãos que pagavam pela sua proteção.

“… Se você coloca assim, nós gastamos dinheiro em seu vinho no mercado negro.”

“E em troca você recebeu o vinho, não recebeu? Não é uma troca justa?”

“Nesse caso, que tal isso, Senhor Luck… Se você nos ajudar, nós entraremos em sua organização… Não é uma piada.”

Essas palavras esgotaram toda a energia de Luck. Por que essa pessoas se elevam tanto? Esse é um grupo que foi surrado por uma só pessoa!

Sentindo que dialogar mais seria perda de tempo, Luck decidiu clarear as coisas:

“Você sabe, Senhor Dallas… Você já levou em consideração o porquê de nós permitimos o seu comportamento ultrajante em nosso território? Você realmente acham que ignoramos seus atos porque temos medo de vocês? Sinceramente falando, nós nunca convidamos vocês simplesmente porque vocês não têm utilidade alguma. No máximo podem servir de escudo humano em um tiroteio com a polícia. Nós certamente não podemos dar o trabalho de escudo humano para alguém. Além disso, nós permitimos o seu comportamento porque-”

Luck descansou para respirar.

“- Porque vocês chamam a atenção da polícia. Enquanto a polícia está ocupada investigando as suas atividades, a vigilância deles sobre nós diminui consideravelmente.”

Apesar disso não ser o que ele pensou, ele pensou que seria melhor dizer dessa maneira. Deixar esses caras na organização iria apenas chamar atenção da polícia e se tornar um obstáculo no desenvolvimento da organização; Isso era verdade.

Após ouvirem as palavras de Luck, os rostos dos quatro ficaram vermelhos. Conseguir ganhar influência entre os ranques da máfia não era algo que deveria ser menosprezado. Parecia que eles realmente não poderiam lidar calmamente com aquilo.

“… Ei… Isso aí foi demais. Você sabe do que somos capazes?”

“Ao menos eu sei que vocês foram espancados por um rapaz mais novo que vocês. Isso foi o que vocês me contaram há alguns minutos, a não ser que eu esteja muito enganado?”

“Seu–!”

O líder, Dallas, não pensou em parar seus companheiros irritados. Talvez ele apenas quis que os outros entendessem seu poder e influência, então manter um nível mínimo de modos ainda era efetivo.

“Ughaaaaa!”

Seu companheiro, que havia acabado de se levantar, soltava um grito de dor e caía no chão. Olhando ao redor, ele via Berga, que havia acabado de chegar, em pé ao lado de seu companheiro caído, com os punhos cerrados.

“Irmão Berga.”

“Luck… O que há com esses caras rudes?”

Após pensar por um tempo, o irmão mais novo disse:

“Não sei.”

“Entendo… Pessoas que não conhecemos. Então isso é uma invasão.”

“Quase fui morto por eles.”

“Sério? Então minhas ação de agora é considerada defesa própria.”

Ouvindo as juntas de Berga estralando em um som de ‘crack crack’, os três restantes dispararam em sua direção instantaneamente.

“É isso, se vocês foram capazes de derrubar o Irmão Berga, então irei reconhecer sua força, Senhor Dallas.”

Diferente de Firo, Berga, que estava com um mau ânimo, não deixava de atacar o inimigo mesmo que este caísse. O cara que havia caído agora mesmo teve sua cara pisada algumas vezes por Berga.

Três minutos depois… Ele saíram em um estado pior que antes… Assim dizendo eles o desgastado grupo fugiu do local, em pânico.

No porão onde os quatro estavam, Luck notou que eles haviam deixado algo para trás,

“O que é essa caixa…? Vinho?”

Dentro da caixa de madeira haviam duas garrafas de vinho. Ela pertencia aos caras de antes? Se esse era o caso, não importaria se fossem jogadas fora ou bebidas, mas caso contrário, isso traria um grande problema.

Quando todos estivessem juntos amanhã, ele iria perguntar a quem pertencia.

Luck deixou a caixa no cofre, e os irmãos se prepararam para sair.

A espiral do destino girava tranquilamente.

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