Hai to Gensou no Grimgar – Capítulo 16 – Vol 01 - Anime Center BR

Hai to Gensou no Grimgar – Capítulo 16 – Vol 01

Capítulo 16 – Almejando o Topo

Quando ele saiu do alojamento na manhã seguinte, Shihoru de repente se desculpou com ele.

— U-Um! Me… Me desculpe! Eu estava convencida de que vocês dois tinham esse tipo de relacionamento… Desculpe-me por ter tirado conclusões precipitadas! Yume me explicou o que havia acontecido, então…

O pedido de desculpas era bom, mas ele achava que teria ficado mais feliz se ela não tivesse falado sobre isso na frente de Ranta e Moguzo.

— Relacionamento? — As narinas de Ranta se dilataram quando ele se aproximou do rosto de Haruhiro. — Quê? Que história é essa de relacionamento? De que tipo e entre que pessoas? Hmmmm?

Haruhiro se inclinou um pouco para trás. — …Não é nada.

— Não é nada, é? Diga-me. Fale! Desembuche! — Ranta gritou.

— Ouça, a própria Shihoru disse que ela tirou conclusões precipitadas, não foi? — Haruhiro se defendeu.

— Sim, e eu estou perguntando o que aconteceu que a fez tirar conclusões precipitadas.

— Agora, ouça — interveio Yume.

É melhor que ela não esteja prestes a dizer algo que não deveria novamente! Ele gostaria que seus temores fossem em vão, mas as coisas continuaram como sempre.

— Então, ontem, Yume, ela estava abraçando o Haru-kun, sabe, e a Shihoru viu isso. Foi só isso.

Os olhos de Moguzo se arregalaram. — O que…?!

— Oh, oh, oh, oh! — Os globos oculares de Ranta quase voaram para fora de seu crânio. — Que, sério, como isso aconteceu? Está falando sério?! Quando foi que você e o Haruhiro chegaram à segunda fase?!

— Como assim segunda fase…? Não, seja qual for a segunda fase, Yume e eu não chegamos lá. Não é nada disso, nós estávamos…

—  Como não?! Você estava tentando fazer com ela, não estava?! Vocês dois estavam se pegando quando a Shihoru entrou e viu, vocês entraram em pânico e pararam, certo?

— Haru-kun estava chorando, sabe — explicou Yume.

— …Yume, você não precisa dizer isso a ele — disse Haruhiro.

— Hã?! Chorando — Ranta olhou de Haruhiro para Yume, depois coçou os cabelos. — …Ah, é só isso. Então, deixe-me adivinhar. O estúpido do Haruhiro foi rejeitado, e a Yume estava fazendo isso para consolá-lo por pena. Então, foi assim que aconteceu. Agora estou entendendo.

— Está totalmente equivocado, mas não quero perder mais tempo explicando isso para você…

— Bem, de qualquer forma —, Yume continuou, com sua atitude descontraída de sempre. Haruhiro a invejava por isso. — A Yume, decidiu que vai tentar ser amiga da Mary-chan. Então, a Shihoru também vai. Ela disse que tentaria cooperar.

Shihoru olhou para o chão, segurando seu cajado com força. — …Não tenho nenhuma confiança de que posso fazer isso. Mas tentarei fazer o que puder, eu acho.

— Sermos amigos? — Ranta franziu a testa o máximo que pôde. — Com a Mary? Isso não é possível. Digo, vamos lá, você sabe que ela não tem intenção de ser amigável, certo?

Moguzo baixou a cabeça. — …Mas é um pouco difícil do jeito que as coisas estão. Gostaria que ela pudesse pelo menos nos curar, sabe…?

Mary não estava apenas com falta de cooperação; havia problemas com seu desempenho como sacerdotisa também. Como Moguzo havia dito, ela não os curava normalmente. Mais especificamente, ela deixava ferimentos leves sem tratamento.

Mesmo que eles pedissem que ela os curasse, não adiantava. Eles seriam ignorados ou simplesmente rejeitados. Obviamente, se um ferimento afetasse a capacidade de locomoção ou colocasse a vida em risco, ela o curaria para eles, mas eles tinham problemas com sua disposição de deixar um companheiro com dor.

Manato não era assim. Sempre que alguém sofria um arranhão, ele o curava imediatamente. Isso fazia com que eles sentissem que, mesmo que se machucassem um pouco, tudo ficaria bem.

Eles não conseguiam se sentir seguros dessa forma com a Mary. Eles temiam que, quando realmente precisassem, Mary pudesse se recusar a curá-los. Que ela poderia abandoná-los. Só de pensar isso já os fazia suar frio.

— Então, de qualquer forma —, Haruhiro olhou em volta para cada um de seus companheiros, exceto para Ranta. Ele deixou Ranta de fora. — Precisamos de uma relação de confiança com a Mary. Se não começarmos a construir isso, não poderemos seguir em frente. Mary pode ter seu próprio raciocínio por trás de como ela faz as coisas. Como não entendemos o que é, pode ser por isso que as coisas não estão indo bem.

Ranta zombou. — É só porque ela tem uma personalidade horrível. Ela é doente, cara, doente. O que ela tem é a síndrome da malícia crônica. Não há como tratar isso.

— Mas precisamos de um sacerdote, não é?

— Aqui está uma ideia, Haruhiro. Você será o sacerdote. Boa! Adeus, Mary! Problema resolvido! Nossa! Cara, como sou inteligente. Que foda. Que ótima ideia!

Honestamente, Haruhiro considerou essa opção, mas apenas como último recurso. Ele achava que o trabalho de um ladrão era adequado para ele, que se escondia e explorava por conta própria para fazer reconhecimento e sempre procurava atacar o inimigo por trás. Ele queria continuar a crescer como ladrão. Além disso, depois de conversar com Yume ontem, ele havia percebido algo.

— Ranta.

— Sim?

— Fomos eu, você e Moguzo que decidimos adicionar a Mary ao grupo, não é?

— E essa decisão foi um grande erro, e é por isso que estou dizendo que deveríamos simplesmente expulsá-la.

— Nós a adicionamos ao grupo, então a Mary é uma de nós agora.

Ranta parecia estar procurando uma resposta para isso, mas fechou a boca e olhou para o chão sem jeito.

— Ouça, eu entendo. — Haruhiro segurou seu pulso direito com a mão esquerda. — Não é fácil tratar alguém de repente como um membro igual do grupo. E a Mary também não ajuda a si mesma com sua maneira de agir. Mesmo assim, se ficarmos em cima dela o tempo todo, cinco contra um, ela não vai conseguir se encaixar, mesmo que queira. A Mary não é apenas uma máquina que anda por aí e distribui magia de cura.

— …É isso mesmo, —, disse Yume, levando um dedo ao queixo. — A Mary é fria com a Yume e com todo mundo, mas talvez a Yume e todo mundo também estejam sendo frios com a Mary.

— Sim… — Moguzo assentiu lentamente com a cabeça. — Pode ser isso.

— Talvez —, disse Shihoru, murmurando sem confiança, — ela possa realmente ser uma boa pessoa… Talvez ela possa ser uma tsundere, ou algo assim?

— Claro que não! — Ranta olhou para o outro lado. — Sem chance. isso é quase impossível de acontecer. Ela é uma mulher desagradável e podre até os ossos. Não importa o que você diga, minha opinião não mudará. Deveríamos cortar relações com ela. O Haruhiro estúpido pode ser nosso sacerdote.

— Se eu fosse nosso sacerdote, não importa o que acontecesse, eu não o curaria, Ranta. Você é um cavaleiro das trevas. O deus das trevas Skullhell e o deus da luz Lumiarias são inimigos, não é? Eu não sou tão estúpido a ponto de curar meus inimigos.

— Tch. Você está desqualificado como sacerdote! Desqualificado! Moguzo pode… Não, estaríamos em apuros sem um guerreiro. Tudo bem, Yume! Faça você!

— Yume quer um cão lobo, então ela não vai desistir de ser uma caçadora.

— Ugh… Sua garota egocêntrica! Então Shihoru! E quanto a você?!

— …Eu não acho que seria uma boa curandeira. Tenho certeza de que se alguém se machucasse, eu começaria a entrar em pânico antes de poder curá-lo.

— Vocês são inúteis! Todos vocês! Completamente inúteis! Muito inúteis! Este é um grupo de pessoas que são naturais em serem inúteis! Se é assim que vai ser… — Ranta limpou a garganta. — …Se é assim que vai ser, só há uma opção. Até mesmo aquela mulher é melhor do que nada. Vamos apenas rezar para que ela seja realmente uma tsundere… Mas, se ela for, obviamente, vai ser comigo, sabe? Isso é meio que… não é tão ruim, eu acho?

— O-Obviamente, ela não seria tsundere pelo Ranta, eu acho…

— Ah, cala a boca, Moguzo! Moguzo?! O Moguzo acabou de me contrariar?! Sério?! Não posso acreditar nisso!

De qualquer forma, o que eles deveriam fazer havia sido estabelecido. Eles tratariam Mary como um deles, e ela se tornaria sua companheira.

Eles poderiam discutir mais depois. Se eles não superassem esse obstáculo primeiro, Haruhiro e seu grupo não conseguiriam seguir em frente.

Ainda assim, não parecia que eles teriam um caminho fácil pela frente.

Mary estava esperando por eles no portão norte, como de costume.

Achando que tudo começava com uma saudação adequada, Haruhiro tentou um enérgico “Bom dia!”.

Tudo o que Haruhiro havia feito era cumprimentá-la. Isso foi tudo o que ele fez, então por que ela tinha que dar esse olhar gélido para ele?

Neste momento, Haruhiro sentiu que ela estava zombando dele. Ele tinha certeza de que ela estava pensando: “Vá morrer queimado” ou “Desapareça, idiota”.

Depois de atormentar Haruhiro com seu olhar absolutamente nulo, ela retornou com um cortês “Bom dia” e acrescentou:

— Apresse-se e vá embora. Eu vou atrás de você.

As coisas continuaram nesse ritmo.

Mesmo assim, na estrada para a Cidade Velha de Damuro, Yume e Shihoru fizeram um grande esforço, tentando falar com a Mary várias vezes. Sobre onde ela morava, o que comia no café da manhã e no jantar, quanto tempo fazia desde que se tornara um soldado voluntário.

De qualquer forma, eram perguntas inofensivas, mas Mary nunca dava uma resposta direta. Respostas como “Quem sabe?” e “Comida” estavam no lado não tão ruim, mas uma vez ela disse: “O que isso importa?” Yume e Shihoru não conseguiram continuar conversando.

Ela é uma adversária difícil. Não, ela não é uma adversária. Ela é nossa aliada. Ela é uma de nós.

Mesmo que não conseguissem manter uma conversa, pelo menos queriam melhorar o trabalho em equipe. Pela manhã, eles tiveram sorte e encontraram um grupo de três goblins, então se prepararam para uma batalha difícil. Se eles conseguissem se unir para superar uma luta um tanto difícil, talvez conseguissem ver algum caminho a seguir.

— Moguzo, Ranta, cada um de vocês fica com um! Yume e eu ficaremos com o outro! Shihoru e Mary, apoiem o Ranta e o Moguzo!

Ele tentou sutilmente pedir apoio a Mary, mas mesmo quando Shadow Beat e o Magic Missile de Shihoru atingiram o inimigo, Mary ficou parada. Quando Ranta sofreu um corte leve no braço esquerdo, ela o ignorou mesmo quando ele gritou de dor exagerado, e quando Moguzo se assustou depois que um corte superficial abriu sua têmpora, ela gritou:

— Não recue depois de algo tão trivial! Você é um guerreiro, não é? — e foi isso.

— Droga, não seja tão arrogante e prepotente! Você não está fazendo nada! — Ranta chutou à força o goblin para longe de si mesmo e, em seguida, entrou no espaço que se abriu, fechando a distância e brandindo sua espada longa. —  Anger…!

O goblin guinchou quando a espada atravessou seu pescoço. Ele se debateu por um tempo e, por fim, ficou em silêncio. As habilidades de espada usadas pelos cavaleiros das trevas, as Artes Negras da Batalha, evitavam o combate corpo a corpo, preferindo atacar fora do alcance do inimigo com táticas de ataque e fuga.

O que ele fez ali não parecia ser exatamente isso, mas tudo bem quando acaba bem. Agora só temos dois inimigos.

Com um rugido, Moguzo deixou de travar as lâminas com o inimigo para fazê-lo cambalear para trás com Wind e, em seguida, rapidamente bateu sua lâmina nele. — ungh…!

O crânio do goblin se partiu, deixando apenas um.

Marc em parc…! — Shihoru desenhou sigilos elementais com seu cajado, entoando um feitiço, e uma gota de luz do tamanho de um punho atingiu o peito do goblin.

— Gyah…! — ele gritou.

A gota de luz de um feitiço Magic Missile tinha a mesma força de um soco dado por um adulto. O goblin foi desequilibrado por apenas um momento, mas isso criou uma abertura. Yume se aproximou do goblin, tentando cortá-lo com seu facão.

Brush Clearer…!

O goblin foi pego de surpresa, mas agilmente conseguiu pular para trás e para o lado para evitá-la. Suas costas agora estavam voltadas para Haruhiro.

Agora, pensou Haruhiro, e seu corpo entrou em ação por conta própria.

Sem perder tempo, ele executou um Backstab. A adaga perfurou as costas do goblin, como se estivesse se fixando em um lugar ao qual sempre pertenceu.

Definitivamente, é assim que me sinto quando consigo fazer isso!

O goblin tremia violentamente à medida que a força se esvaía de seu corpo. Quando Haruhiro empurrou a adaga mais profundamente para dentro do goblin e rapidamente a puxou de volta, o goblin caiu de cara no chão, imóvel.

— Gahahahah! — Ranta gargalhou alto enquanto cortava uma garra do cadáver. — Nosso trabalho em equipe foi uma porcaria, mas com o meu ataque liderando o caminho, vencemos em grande estilo! Isso mostra como eu sou incrível! Isso se tornou tão previsível que chega a ser chato! Mas, vamos lá, minha mão está doendo! Mary! Cure-a!

Mary ignorou completamente o Ranta, caminhando rapidamente até Moguzo.

— Sente-se.

— …Ok. — Ordenado a se sentar como se fosse um cachorro, Moguzo abaixou os quadris até o chão.

Mary tocou sua testa, a parte de trás da cabeça e, finalmente, a têmpora. Quando Moguzo fez uma careta, ela disse algo em voz baixa, mas Haruhiro não conseguiu entender o que era. Mary fez o sinal do hexagrama e entoou uma oração. — Ó Luz, que a proteção divina de Lumiaris esteja sobre você… Cure.

— …Se esperarmos até que a batalha termine, ela estará relativamente disposta a nos curar, hein — murmurou Haruhiro para si mesmo enquanto recolhia as bolsas dos goblins. Dentro delas havia duas moedas de prata e duas pedras bonitas, além de um punhado de presas, engrenagens e outras coisas pequenas. Dependendo do preço das pedras, eles estavam em torno de quatro pratas.

— Ei, Mary! Você já curou o Moguzo! Cure-me agora!

— O seu é apenas um arranhão.

— Não, não é! Veja, está sangrando! Mesmo que esteja parando agora.

— Tente colocar um pouco de cuspe. Além disso, não se dirija a mim sem um honorífico. Tá começando a fazer minha raiva ferver.

— Eek!

Foi mais ou menos assim que aconteceu, pois ela não estava disposta a curar o Ranta com muita frequência. No entanto, Ranta tinha a tendência de dar muita importância a qualquer coisa, por isso fazia um grande estardalhaço mesmo com ferimentos leves.

Manato podia parecer generoso, mas na verdade ficava bastante ansioso. Ele não conseguia se sentir à vontade a menos que todos estivessem em perfeitas condições, por isso tratou todos os ferimentos imediatamente. Talvez isso tenha sido desnecessário. Quando Haruhiro refletiu sobre isso, percebeu que Manato talvez tivesse ido longe demais. Quando se tratava de Ranta, ele achava que Manato tinha sido muito brando com ele.

Depois de limpar os cadáveres dos goblins, Haruhiro foi direto e perguntou.

— Mary, você tem algum tipo de método que estabeleceu para trabalhar como curandeira, ou algo assim?

— Hã? — ela respondeu.

Esse foi um “hã?” bem assustador. Realmente gostaria que parasse de fazer isso. De alguma forma, Haruhiro conseguiu evitar que ele  e se animou para continuar. — …Bem, eu estava pensando que talvez existam tipos diferentes de sacerdotes… ou algo assim. Porque, bem, eu não sei sobre tudo isso. Não tenho muita experiência.

Mary estava prestes a dizer algo, mas então, talvez decidindo que seria muito esforço, ela suspirou. Em seguida, cruzou os braços e desviou o olhar para o lado.

— Quem sabe.

Lá estava. Seu “quem sabe”. Haruhiro ficou chateado.

— P-Poderia me explicar? Eu sou um ladrão, então não sei muito sobre os sacerdotes, mas se eu ficar pensando: “Eu não entendo, eu não eentendo”, eu nunca vou entender, e eu não acho que isso seja bom, então…

— Essa é apenas sua opinião. Acho que está está bom como está.

— Não está bom assim…! — Haruhiro respirou fundo apressadamente.

Não está bom. Eu quase surtei ali. Foi por pouco. Preciso me acalmar. Mas ela me deixa tão irritado. O que está acontecendo com ela? Por que ela tem que ser tão cabeça dura?

— … Respeitarei sua privacidade e não tentarei cruzar a linha. Mas nossas funções em combate, o fluxo, há essas coisas a serem consideradas. Quero falar mais sobre essas coisas como um grupo.

— Se não gosta do meu trabalho, por que não diz logo? Eu vou embora agora mesmo.

— Não é isso. Eu só quero…

— Então não temos nenhum problema aqui.

— …Certo.

Alguém, por favor, me diga. Existe alguma maneira de me comunicar adequadamente com a Mary? Talvez não haja. Com certeza parece que não há.

Depois disso, Yume e Shihoru continuaram a tentar falar com a Mary, mas foram esmagadas todas as vezes. Haruhiro tentou iniciar uma discussão com ela várias vezes, mas ela nem sequer respondia.

Ao anoitecer, eles haviam derrubado sete goblins. Seus ganhos eram de duas pratas e cinco cobres por pessoa, o que era bom, se quisessem pensar dessa forma. No entanto, Haruhiro não pôde deixar de se comparar com Renji, que havia jogado uma moeda de ouro na direção deles como se não fosse nada, e rangeu os dentes ao sentir uma pontada de frustração.

Mary foi embora assim que recebeu sua parte, então os cinco comeram e depois foram para a Taberna Sherry.

— Tem muita gente aqui, não é? A Yume não quer beber álcool, então vai tomar suco.

— …Eu também, não quero álcool. Está muito animado aqui…

Essa era a primeira vez que Yume e Shihoru estavam em uma taberna, então eles estavam muito ocupados olhando e ficando nervosos com as coisas.

Ranta agiu como uma pessoa comum, dizendo:

— Ei, meninas. Acalmem-se. Tudo bem? É apenas uma taberna, nada fora do comum. Vamos lá, sério —, mas as duas provavelmente não estavam ouvindo nada do que ele dizia.

Logo a garçonete chegou, cada um pediu uma bebida e pagou. Haruhiro optou por uma limonada em vez de cerveja hoje. Era uma bebida feita com limão e mel adicionados à água naturalmente gaseificada das montanhas Tenryu, e ele gostava muito dela.

— O problema é com a Mary, na verdade — começou Haruhiro.

Yume respondeu:

— Sim —, com um aceno de cabeça. — A Yume e a Shihoru tentaram conversar muito com ela, mas ela não nos deu bora.

Shihoru a corrigiu rapidamente:

— Yume, você quis dizer “Bola”.

Mas Yume apenas piscou em confusão.

— É mesmo? Yume, ela tinha certeza de que era bora. Então é isso. Era bola, hein.

— Esta é a nossa única opção —, disse Ranta, passando um dedo em seu pescoço. — Isso. Temos que nos apressar e fazer isso com aquela mulher. Isso, entendeu? Isso.

Parecia que Ranta realmente gostava de fazer aquele gesto de decapitação. Talvez ele achasse que era legal. Se fosse isso, ele estava ainda mais enganado do que a Yume.

— Ah… — Moguzo disse, olhando na direção da porta.

Falando no diabo, como dizem, pensou Haruhiro.

Era ela. Mary tinha vindo para a taberna.

Foi breve, mas Mary olhou na direção deles. Eles tinham quase certeza de que ela os havia visto. Mas ela fingiu não ter visto. Mary entrou, sentou-se em um lugar aberto no balcão e ficou lá.

— O que… — Ranta bateu na mesa. — Que droga! Qual é a dela?! Estamos no mesmo grupo, pelo amor de Deus! Normalmente, se daria pelo menos um aceno em nossa direção!

— O problema da Mary-chan é que —, Yume arqueou as sobrancelhas e fez beicinho com raiva, — o normal não é algo que se aplique a ela, sabe. Aliás, o que ela fez agora mesmo tocou um pouco o coração da Yume.

Shihoru continuou esfregando os lábios. — …Mas nós também não acenamos para ela nem nada. Acho que os dois lados são culpados… talvez.

— Ahh —, Haruhiro coçou o pescoço. — Sim, mais ou menos. Tipo, esperávamos que ela nos ignorasse e nos preparamos para isso. Então, eis que? Isso aconteceu. Talvez não seja bom para nós fazermos isso também.

— Não me venha com essa besteira. Por que precisamos nos esforçar para nos preocupar com os sentimentos dela?

— Ranta, olha como você está agindo. É por isso que todas as meninas odeiam você — disse Yume.

— Cala a boca! Não quero ouvir uma tábua agindo como se pudesse falar por todas!

— Não me chame assim!

— TÁBUA! TÁBUA! TÁBUA! TÁBUA! TÁBUA! TÁBUA!

— Grrh — gemeu Yume.

— Ranta, parece que não importa a ocasião, você nunca deixa de ser terrível — disse Haruhiro.

— Não é da sua conta, Haruhiro! Como se eu me importasse com a expressão no rosto de uma garota! As únicas partes que eu olho são os seios, a bunda, as pernas e os braços!

Shihoru olhou para Ranta como se ela estivesse olhando para um lixo. — …Você me dá nojo.

— I-Isso foi cruel! — Até mesmo Ranta deve ter percebido que isso era ruim. — Eu não olho apenas para os seios, bunda, pernas e braços. Não me importo com sua expressão, mas seu rosto também é importante! Porque, mesmo que você tenha um corpo gostoso, se o seu rosto for nojento. Estranho, sinto que estou sendo olhado com mais intensidade agora. Por quê?

— Alguém começou… — Moguzo apontou para Mary. — … a conversar com a Mary.

— Oh. — Haruhiro piscou os olhos. — … Verdade.

Não era nada para se surpreender, mas era inesperado. Além disso, o homem que estava conversando com Mary com um sorriso era alguém que Haruhiro conhecia.

Dito isso, eles só haviam se falado uma vez. Aquele rosto gentil. A armadura e a capa. Aquela espada. Seu traje geralmente esbranquiçado.

— Huh, esse é o Shinohara da Orion.

— Orion? — Ranta inclinou a cabeça para o lado. — Nossa, está falando sério. Eles são um clã bastante famoso. E, espere, Shinohara… Se bem me lembro, ele é o lider da Orion. Não que isso importe. Quem se importa com o que aquela mulher faz. Oh! As bebidas estão aqui. Vamos fazer um brinde. Um brinde. Saúde!

— Saúde — respondeu Moguzo. Ele foi o único que falou isso.

Haruhiro bateu sua caneca de madeira junto com as de Moguzo, Yume e Shihoru e tomou um gole de limonada. Era doce, azeda e deliciosa.

— Ei, ei, Haru-kun. — Yume puxou sua manga. — O que é um clã?

— Ah, clãs são… — Haruhiro não sabia muito sobre os clãs, mas eram grupos ou equipes que soldados voluntários reuniam em busca de algum objetivo.

A maioria dos grupos tinha cinco ou seis pessoas, e ele tinha ouvido dizer que isso se devia ao fato de que o importantíssimo Protection de um sacerdote, que era um feitiço de fortalecimento, tinha como alvo máximo seis pessoas.

Entretanto, havia inimigos poderosos que seis pessoas sozinhas não conseguiriam derrotar, bem como territórios inimigos perigosos nos quais não poderiam entrar com apenas seis pessoas. Havia cenários que exigiam que várias partes se coordenassem entre si, e a estrutura do clã aparentemente foi criada para facilitar isso.

— Há vários clãs famosos também. Como o Berserkers e o Iron Knuckle. Ou o clã Wild Angels, só de mulheres, por exemplo. Ah, claro. Orion também é famoso.

— Veja —, Ranta fez um gesto para Shinohara com o polegar. — Há sete brasões em forma de X em sua capa, certo? Esse é o símbolo da Órion. Provavelmente há alguns deles por aí.

É verdade que havia clientes com a mesma capa que a de Shinohara espalhados por aí. Shinohara havia dito que eles vinham à Taberna Sherry com bastante frequência. Haruhiro sempre teve a intenção de dizer oi se os encontrasse por aqui. Talvez agora fosse a hora…

Não, deixa. Não quero interrompê-lo enquanto ele estiver conversando com a Mary. Isso pode esperar.

Mas, ainda assim, qual era a ligação de Shinohara com Mary? Shinohara parecia estar bem solto, com a Mary apenas fazendo comentários curtos ocasionais e acenando com a cabeça, mas ela não parecia estar incomodada com isso. Na verdade, ela parecia estar se desculpando.

Por fim, Shinohara se afastou e deixou Mary. Ela o observou por um tempo enquanto ele saía, depois olhou para baixo e tomou um gole de sua bebida.

Ranta deu uma risada maliciosa. — Aqueles dois estão fazendo.

— Não me parece isso… —  disse Haruhiro, incerto.

— Haaaaruhiroooo. Amigo, você está seriamente cego. Não importa como olhe para isso, essa era totalmente a vibração que eles tinham. Eles estão totalmente fazendo isso. 100%, eu garanto.

— Vou dar uma palavrinha com o Shinohara.

— Ei, seu desgraçado! Não me ignore! Você está me deixando triste!

Enquanto pensava que Ranta poderia ficar triste o quanto quisesse, Haruhiro começou a se levantar de seu assento e, de repente, a taberna ficou barulhenta. O motivo ficou imediatamente evidente.

— Soma.

— Ora, se não é o Soma.

— É o Soma!

— Soma!

— Soma…!

Todos os soldados voluntários estavam chamando por um único nome.

Quem era o Soma? Deve ser aquele cara. Um grupo de seis pessoas tinha acabado de entrar na Taberna Sherry. Ele é o que está na frente.

Parecia ser um jovem ainda, mas era diferente dos demais. Muito diferente. Para começar, seu equipamento era único.

O que é aquela armadura preta que cobre todo o seu corpo, mas que se ajusta bem a ele, parece incrivelmente leve e não tem nenhum ponto irregular?

Ela provavelmente foi feita de inúmeras placas de metal encaixadas umas nas outras, mas havia uma luz laranja que vazava de dentro dela aqui e ali. Ela piscava e apagava, como se estivesse respirando.

Ele usava uma saia longa e assimétrica, que parecia fazer parte da armadura e cobria a parte inferior do corpo. Mas isso só faz com que pareça mais legal.

A espada longa que ele usava nas costas tinha uma lâmina curva. Se houver alguém que não esteja completamente encantado com esse trabalho sinistro, porém belo, claramente não sabe de nada.

A pequena espada pendurada em seu quadril também era incrível. Sinceramente, só essa já seria suficiente para mim. Eu a quero.

O homem que carregava todas aquelas armas e armadura que estavam claramente em outro nível e também tinha um rosto extraordinário.

Ele tem características bem definidas. Não são especialmente másculas, ou bonitas de uma forma mais neutra, não é assim, mas se ele olhasse para alguém com aqueles olhos amendoados que são tão cheios de compostura, intensidade e tristeza, acho que ninguém conseguiria ficar calmo.

Os homens e mulheres que estavam seguindo o Soma claramente não eram pessoas comuns.

Um deles era um homem moreno usando dreads, que tinha olhos sanpaku e usava uma armadura de prata tão radiante que chegava a cegar.

Ele é enorme, pensou Haruhiro. Deve ser mais alto que Moguzo.

Parecia bem constituído, mas, por causa de sua cabeça pequena, parecia magro.

O homem que caminhava logo atrás dele, por outro lado, era bem pequeno. Ele tinha um rosto infantil, mas olhos grossos com muito muco. Sinto que serei amaldiçoado se encontrar seu olhar. Será que o homem com braços longos, muito longos, que estava ao lado do homem pequeno era humano? Ele usava uma máscara aterrorizante, então era difícil ter certeza, mas Haruhiro sentiu que ele era algum outro tipo de criatura. A armadura que ele usava, que parecia ter sido enrolada em metal e couro em todo o corpo, era anormal, e a espada gigante com lâmina de serra presa em suas costas parecia perigosa.

Ainda assim, quando Haruhiro olhava para as duas mulheres que vinham atrás deles, era um bom refresco para seus olhos, e seu cérebro parecia que poderia simplesmente derreter. O grupo de Soma incluía quatro homens e duas mulheres, e ambas eram lindas.

Uma delas era uma garota mais velha e sexy, com uma beleza descolada. Ela usava algo parecido com um vestido com um design arrojado, que era possível dar uma olhada em seus seios e pernas. Ela estava enfeitada com colares, anéis, pulseiras, um cajado da melhor qualidade, uma espada curta e muito mais, mas nada disso parecia excessivo. Isso se devia ao fato de que ela mesma era linda o suficiente para que nenhuma dessas coisas a ofuscasse.

A outra se parecia, de certa forma, um pouco com a Mary. Não que seus rostos fossem semelhantes, mas ela tinha a mesma beleza inumana. Ela era uma garota jovem e bonita ou uma mulher bonita?

Ela parecia ter a mesma idade de Haruhiro e, ao mesmo tempo, parecia mais velha. Ela usava um peitoral com desenhos delicados esculpidos, mas, fora isso, estava pouco equipada. Mas tinha uma espada.

Ela era uma guerreira? Mulheres guerreiras eram incomuns. Mas, deixando isso de lado

Que cabelo prateado deslumbrante.

Não era nada parecido com o cabelo do Renji. Seu cabelo parecia ter sido feito derretendo prata verdadeira e transformando-a em fios. Seus olhos pareciam ter sido incrustados com safiras, e sua pele era anormalmente branca.

Era como neve. Isso não era apenas uma expressão: realmente parecia neve. Obviamente, tinha que haver sangue fluindo por ela, então havia um leve tom vermelho, mas sua pele era radiante.

Mary não é nada perto dela. Essa mulher não é humana. Digo, ela tem orelhas pontudas.

— …Não é uma elfa, ali? — sussurrou Ranta.

— Uma elfa… — Enquanto Haruhiro olhava tão fixamente que se esqueceu de piscar os olhos, ele repetiu as palavras.

Uma elfa. O que é isso? Eu não sei, ao mesmo tempo que sei. Uma elfa. Certo. Ela provavelmente é uma elfa.

Com um “Yo! Yo!”, alguém correu até ele. Alguém tão barulhento só podia ser Kikkawa.

— Ei, se não é o Harucchi, o Rantan, o Moguchin, o Yumepi e a Shihorun! Tudo bem? Eu estou ótimo! Ei, vocês viram, estão vendo? O Soma é incrível, não é?! Cara, eu não achei que teria a chance de vê-lo. Isso que é sorte! Somos todos sortudos, sortudos, sortudos!

Ele parecia ainda mais insuportável do que da última vez. Seria por causa do Soma?

— …Kikkawa, quem é o Soma?

— Queeeee. Harucchi, você não conhece o Soma?! Sério?! está brincando comigo. Isso é tipo, impossível. O Soma é, tipo, o soldado voluntário top um. O soldado voluntário dos soldados voluntários. Bem, em termos de habilidade, há algumas pessoas que argumentam o contrário, mas em termos de feitos, ele é o melhor, sem dúvida. Mas também é a primeira vez que o vejo. Ele é diferente! Tão diferente! Muito legal! Se eu fosse uma mulher, gostaria que ele me levasse agora! Soma, eu te amo!. Brincaderinha. Não me sinto tão apaixonado por ele. Mesmo assim, ele é incrível. Eu aspiro a isso, sabe. Se eu tiver que ser como alguém, quero que seja ele.

— Com certeza! — Os olhos de Ranta estavam brilhando. — Se for um homem! Se for um soldado voluntário! É isso que você tem de buscar! Droga! Onde posso conseguir uma armadura dessas? Eu quero usá-la!

— …E-Eu — Moguzo olhou para baixo e murmurou:

— Eu gostaria de um capacete. Uma armadura nova também, se possível. Assim, eu poderia fazer um pouco mais…

Shihoru fez cara de dor, mordendo o lábio inferior. — …Eu quero aprender mais magias. Magia que possa ajudar a todos. O que eu tenho agora não é suficiente…

— Para a Yume, a Yume também quer uma armadura. Talvez a Yume deva fazer algo a respeito disso, não é mesmo? Yume não é uma arqueira muito boa, então ela tem que ir para a linha de frente muitas vezes, sabe.

— Eu…

O que devo dizer? Haruhiro ainda não conseguia tirar os olhos do grupo do Soma. Mas, para ser sincero, ele não queria se tornar como o Soma, igual Ranta e Kikkawa. Ele nem mesmo estava convencido de que poderia diminuir a distância entre o grupo deles e o de Renji.

É inútil aspirar a ser como alguém. Quando não há nenhuma maneira de alcançá-lo, é simplesmente estúpido.

Ainda assim, isso não significava que ele achava que as coisas estavam bem como estavam. Ele não achava. Haruhiro queria seguir em frente.

Mesmo que não pudesse ser como Renji, subindo as escadas correndo, pulando um ou dois degraus a cada passo, ele tinha certeza de que poderia subir as escadas devagar e com cuidado, um degrau de cada vez. Certamente, era isso que Manato estava tentando fazer. Eles poderiam se mover em seu próprio ritmo, tornando o dia de hoje melhor do que o de ontem, e o de amanhã melhor do que o de hoje. Obviamente, apenas desejar que isso acontecesse não era suficiente. Ele tinha que fazer alguma coisa.

O que eu deveria estar fazendo e como?

Ele deve economizar dinheiro e aprender habilidades? Comprar bons equipamentos?

Essas coisas eram importantes, mas havia mais do que isso.

Manato disse que estava contando comigo. Será que isso significava o que eu estava pensando? Que ele queria que eu fizesse o que ele estava fazendo? Basicamente, que eu me tornasse o líder do grupo?

Posso fazer isso? Alguém provavelmente tem que fazer, eu sei. Mas será que tenho de ser eu? Eu não quero fazer isso. Não quero carregar esse fardo. É muito incômodo. E quanto ao Manato? Ele escolheu fazer isso porque queria fazer e estava feliz fazendo isso? Talvez não necessariamente. Talvez tenha sido difícil e ele quisesse desistir, mas cerrou os dentes e nos ajudou. Como posso ter certeza de que não foi esse o caso?

— Ah, mas, mas, mas, mas! — Kikkawa colocou o braço em volta do ombro de Ranta e começou a rir em algum momento.

Ser capaz de fazer isso com Ranta é impressionante.

— Eu não esperava conhecer o Soma! Ouvi dizer que seu principal local de trabalho é onde antigamente era Ishmael e que ele raramente voltava para Altana! Sou tão sortudo que é até assustador! Tenho até medo de mim mesmo.

— Ei, Kikkawa! Vamos fazer amizade com Soma e sua gangue! Do jeito que estamos agora, podemos fazer isso!

— Você quer ir?! Você vai?! Ranta, nós vamos?!

Kikkawa e Ranta se levantaram ao mesmo tempo.

Eles não podiam ter a intenção séria de falar com o Soma, podiam? Haruhiro se levantou de sua cadeira e deu uma olhada na taberna.

Soma e seu grupo estavam sentados em uma mesa próxima ao balcão, e uma multidão estava começando a se reunir ali. Mary estava sozinha, bebendo alguma coisa, com ou sem álcool. Ele não conseguia ver Shinohara em lugar algum. Será que ele tinha ido para outro lugar?

Sentando-se novamente em seu lugar, Haruhiro bebeu sua limonada. Quando levantou o rosto, seus olhos encontraram os de Yume.

Yume inclinou a cabeça para o lado, como se dissesse:

— Há algo de errado?

Haruhiro balançou a cabeça como se dissesse “Nada” e tomou outro gole de sua limonada.

Bem, não, não é nada.

Um líder, hein. Isso é algo que eu posso ser?

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