Capítulo 106
Vida (1)
O teste o recompensou com duas caixas de diamantes; Gi-Gyu não podia recusá-las porque parecia uma herança de El. Parecendo atordoado, ele saiu da Torre com elas.
— Para onde vou agora? — Gi-Gyu murmurou. Ao deixar a Torre e chegar às ruas, não encontrou ninguém que conhecesse. Ele sabia que os agentes da associação na Torre já deveriam ter relatado sua aparição a Tae-Shik ou Sung-Hoon, mas não importava. No momento, ele queria desesperadamente ficar sozinho, pois acreditava que desmoronaria se visse um rosto familiar.
Caminha, caminha…
Gi-Gyu vagou por aí, mas infelizmente não conseguiu encontrar um lugar para ficar sozinho, pois estava andando pelas ruas de Gangnam, a área mais popular da Coreia. Estava cheio de transeuntes e bêbados. Neste lugar, bêbados brigando com estranhos aleatórios era comum, mas ninguém se aproximava de Gi-Gyu.
— O-olha aquele cara…! — um transeunte murmurou em choque.
— Deve ser um jogador — seu companheiro murmurou.
— Por que ele está andando assim…? — a primeira mulher perguntou confusa.
Gi-Gyu parecia surrado porque não havia tomado banho nem trocado de roupa. Ele estava coberto de sangue e tinha uma espada muito amassada na cintura. Com seus acessórios extravagantes e seu cabelo preto ensopado de sangue, Gi-Gyu parecia perigoso.
— Alguém deveria denunciá-lo à associação — sussurrou um jovem próximo.
— Oppa, do que está falando? Tenta aí denunciar ele! E se ele vier atrás de você? — sua companheira o avisou.
— Ele não pode ser um jogador vermelho, pode…? — alguém mais distante murmurou.
— Não importa! Qualquer jogador que machucar um não jogador será punido imediatamente, não é? Então ele não vai nem ousar! — outro transeunte disse confiante.
Ao contrário dos pedestres que falavam sobre ele em voz alta, Gi-Gyu caminhava em silêncio. Era uma noite fria, mas não afetava muito seu corpo aprimorado.
Uma mulher que passava sussurrou: — Ele parece tão assustador…
Quando Gi-Gyu se virou para ela, a mulher fugiu rapidamente. Normalmente, os não jogadores reagem de uma de três maneiras quando avistam um jogador.
Admiração.
Desprezo.
Medo.
A indiferença era uma raridade, pois mesmo o jogador mais fraco tinha habilidades muito além das dos não jogadores. O público apreciava os jogadores porque evitavam quebras de portal; às vezes, os jogadores pareciam não humanos por causa de seus poderes incríveis. E continuava: nada era simples, nem mesmo as emoções que os não jogadores sentiam.
Click.
Mas a curiosidade era uma emoção comum entre muitos não jogadores. Foi o que os fizeram tirar fotos de Gi-Gyu, um jogador. Os jogadores não costumavam vagar pela cidade com a aparência de Gi-Gyu, mas também não era raro
Às vezes, os jogadores enlouqueciam com sede de sangue ou medo da morte. Muitos motivos podem levar um jogador a andar atordoado: eles podem ter enfrentado algo saído de seus pesadelos mais loucos, podem ter perdido seus amigos e assim por diante. Normalmente, esses jogadores estavam cobertos de sangue, tinham uma expressão triste em seus rostos ou carregavam equipamentos danificados.
— O que estão fazendo?!
— Parem de tirar fotos dele! — Algumas pessoas tentaram impedir que alguns curiosos tirassem fotos de Gi-Gyu. Ele achou a escolha deles para ajudar bem desnecessária, mas ainda se sentia agradecido.
Pessoas diferentes reagiram de maneiras diferentes à aparência chocante de Gi-Gyu, mas ninguém se aproximou dele.
De repente…
— Por favor, pegue isso. — Gi-Gyu se virou para encontrar um casal do ensino médio cobrindo suas costas com um cobertor. Quando ele não respondeu, saíram rapidamente depois de murmurar: — Por favor, tome cuidado. — Após esse breve episódio, Gi-Gyu continuou a andar e as pessoas continuaram a olhar.
— Aqui. — uma criança apareceu do nada e ofereceu a Gi-Gyu uma caixa de suco.
— Hae-Min! — Uma mulher, provavelmente a mãe do menino, correu para a criança. O menino ainda fez Gi-Gyu pegar a caixa de suco antes que sua mãe o levasse embora.
— Ha. — Gi-Gyu deu uma risada curta.
Pinga, pinga…
De repente, começou a chover e as pessoas que olhavam para Gi-Gyu rapidamente se movimentaram para evitar se molhar.
— Hm…? — Gi-Gyu, que ainda vagava, murmurou surpreso: Estava chovendo, mas ele não estava se molhando. Ele viu um bêbado segurando um guarda-chuva acima dele quando olhou para cima.
Esse trabalhador de meia-idade disse: — Não sei para onde está indo, mas vou acompanhá-lo.
Gi-Gyu não tinha certeza se o nariz do homem estava vermelho por causa do frio ou do álcool. O homem cheirava a álcool, mas Gi-Gyu respondeu: — Obrigado.
Eles caminharam juntos em silêncio. O homem, como prometido, caminhava um pouco atrás de Gi-Gyu, segurando o guarda-chuva para proteger os dois.
De repente, Gi-Gyu riu: — Hahaha…
Com um sorriso, o homem perguntou: — Por que está rindo?
Sem responder, Gi-Gyu balançou a cabeça. Este homem de meia-idade o lembrou do cara rude que conheceu no metrô antes. Na época, o homem gritou com Gi-Gyu, tentando assustá-lo. Mas esse homem era muito diferente do bêbado do metrô, pois oferecia a Gi-Gyu uma proteção da chuva.
Gi-Gyu sentiu emoções confusas. Tudo, desde a Torre até os humanos, o confundia.
— Está nevando agora — murmurou o homem. O tempo provavelmente estava mais frio do que Gi-Gyu pensava porque a chuva realmente havia se transformado em neve. Os flocos refletiam as luzes da rua e os luminosos letreiros de néon para iluminar o céu. As luzes nubladas e a escuridão instável formavam uma atmosfera sombria ao redor deles.
Quando chegaram a um beco sem saída, o homem de meia-idade entregou seu guarda-chuva a Gi-Gyu e disse adeus: — Preciso ir agora.
O homem saiu porque ficou com medo? Ou ele sentiu que Gi-Gyu ficaria bem sozinho agora?
— Estive procurando por você em todos os lugares. — Uma voz familiar fez Gi-Gyu se virar.
Gi-Gyu respondeu a Sung-Hoon com um sorriso: — Eu sei que você está me seguindo há algum tempo.
***
Era a primeira vez que Gi-Gyu entrava na casa de Sung-Hoon, e, ao olhar em volta, a achou inesperadamente limpa e bem-organizada. Agora que estava dentro de casa, percebeu como o tempo estava frio. Gi-Gyu estremeceu um pouco por estar molhado de neve e chuva.
— Gostaria de um pouco de chá? — Sung-Hoon ofereceu. Quando Gi-Gyu não respondeu, Sung-Hoon preparou sem perguntar novamente.
Duas xícaras de chá fumegante estavam entre os dois homens. Sung-Hoon não perguntou a Gi-Gyu o que aconteceu e apenas tomou um gole de chá em silêncio. Depois de um longo silêncio, Sung-Hoon tentou puxar conversa. — Desenvolvi o hábito de beber chá por causa do presidente Oh Tae-Gu.
Gi-Gyu se curvou em agradecimento e murmurou: — Obrigado. — Ele era grato a Sung-Hoon por ser tão compreensivo, mesmo quando agia infantilmente. Quando Gi-Gyu estava andando pelas ruas de Gangnam mais cedo, ele desejou que alguém brigasse com ele. Ele queria perder o controle e machucar alguém, esperando que algum jogador poderoso o matasse para detê-lo.
E como era de se esperar, alguém chamou a polícia ou a associação. A única razão pela qual o jogador encharcado de sangue andando no meio da cidade não foi detido foi que Sung-Hoon e a associação estavam sendo atenciosos. Ele sabia que Sung-Hoon o estava seguindo desde o início para mantê-lo seguro, então agradeceu a Sung-Hoon por sua consideração.
Ao mesmo tempo, Gi-Gyu riu amargamente.
‘A Guilda Cain… A guilda Morningstar-Child…’ Tantos jogadores dessas guildas perderam seus amigos por causa dele. Só depois de perder El, percebeu o quão arrasados devem ter se sentido. Mas ele tentou fugir disso porque se sentia muito culpado. E quando finalmente reuniu coragem suficiente para visitar essas guildas, os mestres da guilda tiveram que consolá-lo.
‘E os jogadores que matei?’ Aqueles jogadores mortos eram amigos e familiares de alguém. Durante a batalha, não eram nada além de inimigos que ele matou sem pensar. Mas deve haver pessoas em casa que lamentaram a morte desses jogadores.
— Haa… — Gi-Gyu suspirou frustrado. Suas emoções estavam complicando tudo. Mesmo que o entristecesse ter matado tantos jogadores, ele sabia que não tinha outra escolha no momento.
— Por que está com essa cara? — Quando Sung-Hoon perguntou, Gi-Gyu respondeu: — Acabei de perceber o quão imaturo eu era e o quão imaturo eu sou.
Ele não estava falando sobre sua idade biológica. Ele estava se referindo à sua maturidade emocional. Com um sorriso, Sung-Hoon respondeu: — Isso significa que você está crescendo.
Mudando de assunto, Gi-Gyu perguntou: — Você não falou de sua mãe antes? — Sung-Hoon disse a Gi-Gyu antes que ele tinha uma mãe doente.
— Ela está no hospital.
— Entendo. — Gi-Gyu olhou em volta para ver que o apartamento estava decorado com móveis gastos. Eles provavelmente pertenciam à mãe de Sung-Hoon.
Gi-Gyu decidiu passar a noite na casa de Sung-Hoon. Eles tiveram uma longa conversa, mas ele não contou a Sung-Hoon sobre como perdeu El na Torre. Eles falavam principalmente sobre suas infâncias.
Gi-Gyu murmurou: — Posso ver as semelhanças entre a forma como crescemos.
— Concordo — respondeu Sung-Hoon. Sobre a mesa havia várias latas de cerveja. Sung-Hoon sentou no sofá, e Gi-Gyu estava no chão enquanto eles continuavam a conversar.
Sung-Hoon perdeu o pai quando era muito jovem. Ele morava com a mãe, mas ela adoeceu pouco tempo depois. Ele levou uma vida difícil até receber o convite da Torre. Financeiramente, sua vida começou a melhorar, mas a condição de sua mãe havia piorado nessa época. Ele gastava uma quantia astronômica de dinheiro em contas hospitalares todos os anos apenas para mantê-la respirando.
— O elixir… — Gi-Gyu murmurou. Sung-Hoon o seguiu até o Labirinto de Heryond, mas partiu depois de alguns dias. Se fosse Gi-Gyu no lugar dele, ele teria ficado e feito o possível para obter o precioso elixir. Espera, ele fez isso. Além disso, Gi-Gyu aceitou que ele até tentaria roubá-lo de alguém, se necessário.
Percebendo o que Gi-Gyu estava pensando, Sung-Hoon explicou: — Ouvi dizer que o elixir é muito exigente quanto à escolha de seu dono. Tenho certeza de que nunca o teria obtido. Honestamente, pensei que você morreria por dentro.
Quando Sung-Hoon ofereceu seus pensamentos honestos, Gi-Gyu riu. — Houve momentos em que pensei que era a pessoa mais infeliz do mundo. Mas acontece que muitas pessoas têm a mesma má sorte que eu.
Sung-Hoon riu antes de olhar nos olhos de Gi-Gyu. — Então, qual é o seu plano agora?
Sung-Hoon não era novato, ele era muito mais experiente do que Gi-Gyu esperava. Então, ele poderia adivinhar o que poderia ter acontecido com Gi-Gyu na Torre.
Muitos jogadores desistiram da profissão após passarem por algo traumático. Eles temiam perder mais pessoas preciosas para eles.
Erguendo a mão em direção ao teto, Gi-Gyu respondeu: — Nada mudou. — Cerrando o maxilar, ele continuou: — Tenho que continuar escalando a Torre. E preciso me tornar mais poderoso.
Com um sorriso amargo, Gi-Gyu acrescentou: — Tenho que fazer isso, pois não quero perder ninguém de novo.
Ele cobriu a luz do teto com a mão para formar uma pequena sombra em seu rosto.
***
As emoções complicadas de Gi-Gyu ainda o perseguiam, mas não havia tempo a perder. Na verdade, havia outra razão pela qual ele disse a Sung-Hoon que nada havia mudado: se ele parasse agora, morreria. Ele simplesmente sabia demais. Então, ele não podia desistir dessa vida como os outros jogadores.
Parar agora significava essencialmente uma sentença de morte para ele e para todos que amava. Gi-Gyu tinha que continuar escalando a Torre em parte por causa das últimas palavras de El, mas também porque ele precisava se tornar mais forte. Também era hora de ele retomar a caça ao portal.
Gi-Gyu cumprimentou sua família brevemente. Olhando para elas, ele percebeu o quanto significavam para ele. Ele desceu para o porão, pois precisava cuidar de algo antes de relaxar com seus entes queridos.
Na oficina, ele viu o Velho Hwang, mas não Min-Su.
O idoso perguntou com cara de preocupado: — Você está bem?
— Obrigado por sua preocupação. Eu estou bem, mas e você? Você está bem, senhor?
— Bem, graças a você, digamos que passei por uma experiência divertida. — O velho Hwang respondeu com um beicinho, fazendo Gi-Gyu sorrir.
Mas seu sorriso desapareceu rapidamente quando Gi-Gyu chamou Lou.
— Lou.
“O quê?”
A voz de Lou era fria. Gi-Gyu suspeitava que era porque ele quase desistiu de sua vida após a morte de El.
Silenciosamente, Gi-Gyu continuou: — Há uma maneira… — ele fez uma pausa — de salvar El, não há?
Imediatamente, Lou gritou de volta.
“Por que demorou tanto para me fazer essa pergunta, seu idiota?!”
Gi-Gyu sorriu com a resposta de Lou.