Capítulo 221
Ruhr (1)
Embora ele esperasse que fosse esse o caso, a criação da Assinatura de Eugene levou muito tempo.
Eugene completou vinte e um anos enquanto morava em Aroth. Ele passava seus dias em um padrão familiar e monótono. Praticamente vivia nos laboratórios de pesquisa dentro da Torre Mágica Vermelha, com visitas ocasionais a Acryon.
Ele recebeu muita ajuda com sua assinatura.
Seu mestre, Lovellian, havia deixado de lado todos os assuntos pessoais para ficar perto de Eugene, e Melkith, que ia visitá-lo ocasionalmente, frequentemente examinava ativamente a assinatura de Eugene e aconselhava sobre a composição do feitiço.
Eugene ainda não havia ido tão longe a ponto de pedir conselhos sobre a estrutura de sua fórmula de feitiço para Hiridus e Trempel. Não importava o quão amigáveis os dois fossem, as fórmulas de feitiço que compunham sua assinatura ainda tinham que ser mantidas em segredo.
As notas de pesquisa de Balzac também foram muito úteis. Mas antes mesmo de se aprofundar na pesquisa, Eugene primeiro a mostrou a seu mestre, Lovellian, para verificar sua segurança. As notas provavelmente eram da própria pesquisa de Balzac antes de se tornar um Arquimago, e como a personalidade dele era assustadoramente meticulosa quando se tratava de magia, Eugene foi capaz de tirar muitas inspirações de sua leitura.
Quanto a Mer Merdein, ela ainda não havia tido muitas oportunidades de contribuir ativamente, mas era originalmente a responsável pelo Salão de Sienna em Acryon. Ela poderia usar vários feitiços, mas sua ajuda mais útil, neste caso, era na interpretação e análise de múltiplas fórmulas.
Mesmo sem precisar conjurar os diferentes feitiços, Mer era capaz de calcular que tipo de magia combinada resultaria da ligação de diferentes feitiços e como as diferentes variáveis introduzidas na fórmula do feitiço como resultado da combinação dos diferentes feitiços afetariam o feitiço principal.
— Você pensou que fui criada para ser uma administradora de Acryon desde o início? Como uma familiar, fui criada para ajudar a Senhorita Sienna em seus cálculos mágicos. — Mer declarou com orgulho, tanto encantada quanto lisonjeada por poder cumprir suas funções designadas pela primeira vez em muito tempo.
Eugene ainda tinha Akasha em sua posse. Esse equipamento era capaz de ajudar na compreensão da magia. Quando segurou Akasha pela primeira vez, todas as várias habilidades que Eugene já havia aprendido e conhecido foram naturalmente reconstruídas em sua forma mais ideal por meio dele.
O poder de Akasha também era útil quando se tratava de criar sua própria Assinatura. Mesmo os feitiços que se recusaram a ser vinculados no início puderam ser vinculados depois de modificá-los desta ou daquela maneira algumas vezes com Akasha. Uma vez que mesmo a magia que não combinava muito bem poderia ser conectada facilmente usando Akasha, o leque de escolhas para Eugene foi bastante expandido. A fórmula assim montada seria então revisada por Mer.
No verão do vigésimo primeiro ano de Eugene, ainda podia ser imperfeita, mas ele criou com sucesso sua própria assinatura.
Havia problemas quando se tratava de extrair a fórmula do feitiço e lançar o fenômeno pretendido. Isso significava que não havia possibilidade de falha devido a variáveis remanescentes. No entanto, a Assinatura ainda não estava completa, então o escopo do feitiço era muito menor do que a ideia inicial de Eugene.
Mesmo assim, não havia problemas em usá-lo. Eugene fechou os olhos enquanto sentia o orgulho crescer dentro dele.
— Uau… — Veio um suspiro silencioso.
Mer, que observava à distância, tinha uma expressão insatisfeita. Mas a expressão de Kristina, que estava ao lado de Mer, era o oposto completo.
Profundamente comovida com a visão, Kristina juntou as mãos na frente do peito e suspirou:
— Que aparência bela e nobre…!
[Kristina, não consigo deixar de ter esses pensamentos às vezes. Você não recebeu muito amor durante sua infância. Então sua infância infeliz e inocência reprimida parecem ter deixado você com alguns preconceitos falhos.] Anise disse enquanto estalava a língua.
Kristina não disse nada em resposta. Aos olhos dela, o atual Eugene realmente parecia bonito e nobre.
Lovellian, que observava do outro lado, também tinha uma expressão feliz.
Quando ouviu pela primeira vez o conceito de Eugene para sua assinatura, Lovellian honestamente não achou que funcionaria. A assinatura de Eugene era diferente das assinaturas dos outros arquimagos. Embora ainda fosse um tipo de magia, não era magia pela magia. Em vez disso, o feitiço era apenas para se concentrar em ajudar as habilidades inatas de Eugene.
Dito isto, a Assinatura de Eugene não era um tipo de feitiço de baixo nível. Ao criar camadas sobre camadas de magia, Eugene foi capaz de criar um tipo de fenômeno completamente diferente. Mesmo para Lovellian, era impossível imitar uma técnica tão intrincada.
— Mas isso parece diferente de magia, não é? — Melkith murmurou enquanto olhava para Eugene com as sobrancelhas franzidas.
— Foi você quem ensinou a ele que a magia serve para torná-lo capaz de fazer o que não podia antes. — Lovellian a lembrou com um sorriso malicioso ao se virar para olhar para Melkith.
Ela também estava ciente da fórmula do feitiço para a Assinatura de Eugene. No entanto, não havia sido informada sobre o conceito original que estava no cerne da ideia. Não, mesmo que soubesse, Melkith ainda não seria capaz de encontrar uma resposta de como a fórmula do feitiço que ela viu poderia criar tal fenômeno.
— Além disso, uma Assinatura deve ser misturada com as habilidades únicas de um Arquimago. — Continuou Lovellian. — O Panteão é capaz de servir de Assinatura por causa de todas as minhas Invocações que criei ou coletei, e sua Força da Trindade requer contratos com o Rei Espírito da Terra e o Rei Espírito do Relâmpago. Eles estabeleceram um precedente por serem impossíveis de imitar e por exigirem nossas próprias habilidades únicas.
— Bem, isso é verdade. — Melkith concedeu relutantemente.
— O mesmo vale para a Assinatura dele. É isso que a torna tão difícil lidar. — Avaliou Lovellian.
A coisa particularmente problemática sobre a Assinatura de Eugene era que ela não podia ser totalmente tratada como um feitiço mágico. Como era para ajudar Eugene, seu poder continuaria a crescer de acordo com os próprios limites de Eugene. Isso significava que não havia garantia de que o que se conseguia descobrir sobre o feitiço agora seria o mesmo na próxima vez que o visse.
— Sinto que a Senhora Carmen vai achar ainda mais interessante do que eu esperava. — Comentou Mer para Eugene com um olhar complicado.
Faíscas roxas se espalharam, então, como se fossem realmente feitas de chamas, elas morreram e desapareceram.
— Fique quieta. — Ordenou Eugene. — Acha mesmo que fiz assim porque quis? Esta é a forma ideal para o feitiço, então o que devo fazer sobre isso?
— É realmente a forma mais ideal? — Mer perguntou com ceticismo. — Se você realmente quisesse, acho que seria possível encontrar outras formas para isso…
— Você… Está tentando me acusar de algo estranho, não é? Não é como se esta forma fosse realmente algo especial, não? Quando você considera isso em termos de magia, quantos feitiços existem que têm uma forma semelhante a esta? — Eugene teimosamente insistiu.
Mer encolheu os ombros.
— Pode ser o caso, mas você já estabeleceu um precedente no passado.
Eugene retrucou:
— Fique quieta, Mer-Mer.
— Meu nome não é Mer-Mer. — Mer bufou. — É Mer Merdein. Tirando sarro do meu nome assim, Sir Eugene, você só quer chamar a atenção para o seu senso bizarro de nomeação, certo?
— Se continuar assim, eu realmente vou te matar, Mer-Mer-Mer-Merdein.
— Sério, que infantil.
Estalando a língua, Mer se jogou nos braços de Eugene como se não tivessem acabado de discutir. Depois de apertar levemente a cabeça de Mer como punição, Eugene abriu seu manto para que ela pudesse entrar.
As verificações finais terminaram. Mesmo que a Assinatura de Eugene ainda estivesse incompleta, não era a ponto de deixar qualquer coisa por fazer, e as partes que faltavam ainda poderiam ser complementadas mesmo depois que deixasse Aroth.
Honestamente falando, Eugene não tinha mais tempo a perder.
A Marcha dos Cavaleiros seria realizada no território do Reino Ruhr no próximo mês. O local da Marcha dos Cavaleiros ficava bem nos arredores da fronteira de Ruhr, onde não havia portais de dobra, portanto, considerando o tempo de viagem, Eugene precisaria deixar Aroth imediatamente se quisesse chegar a tempo; agora, na verdade.
Como tal, Eugene decidiu partir naquele mesmo dia.
— Embora não deva haver problemas, você ainda deve ter cuidado. — Lovellian o advertiu.
O resto das pessoas que ajudaram Eugene a criar sua Assinatura já haviam enviado suas saudações no dia anterior, então apenas Lovellian e Melkith se aventuraram a vê-los no portal de dobra.
O chefe da Divisão de Magos da Corte de Aroth, Trempel Vizardo, participaria da Marcha dos Cavaleiros junto com o príncipe herdeiro Honein, mas os Mestres de Torre não eram membros do Exército de Magos de Aroth, então não tinham motivos para participar da Marcha dos Cavaleiros.
— Existe realmente alguma coisa que ele precisa ter cuidado? — Melkith zombou. — Ouvi dizer que o lugar onde está acontecendo a Marcha dos Cavaleiros é em Lehain. Mesmo Ruhr, esse lugar é famoso por suas fontes termais. Não importa o preço que você ofereça, é difícil fazer uma reserva lá.
— Claro, seria difícil comprar uma passagem para lá. Sua reputação pode ser famosa, mas esse lugar está localizado logo abaixo das Montanhas Nevadas Leheinjar, infestadas de monstros. — Lovellian os lembrou.
Melkith ainda argumentou:
— Mas é verdade que as instalações termais são excelentes!
— Bem, isso é… As instalações lá são destinadas aos Patrulheiros das Montanhas Nevadas que vigiam os Leheinjar, bem como aos cavaleiros que regularmente vão lá para treinar. Se você realmente quer se divertir em Lehain, também deve se inscrever para ingressar nos Presas Brancas de Ruhr, Mestre da Torr Branca. Eles provavelmente vão recebê-la de braços abertos. — Lovellian brincou.
Melkith bufou.
— Você acha que sou louca? Como se eu fosse me juntar aos Presas Brancas… Hmmm, se eu perguntar àquele velho, Trempel, talvez ele me leve junto…
Lovellian bufou:
— Se você concordar em se transferir para o Exército dos Magos, ele o levará com prazer.
— Tudo bem então, eu não vou. Se for uma fonte termal, posso fazer uma aqui para me divertir. Contanto que aqueça a água subterrânea, é uma fonte termal, certo? — Melkith perguntou brincando enquanto se aproximava de Eugene com os braços abertos. — De qualquer forma, parabéns, garoto. Não esqueça que a ajuda de Melkith El-Hayah entrou em sua assinatura. Mais tarde, quando escrever sua autobiografia, certifique-se de anotar como sou uma pessoa boa e gentil.
— Provavelmente não escreverei uma autobiografia, mas com certeza. — Eugene concordou facilmente.
Melkith acrescentou outro pedido:
— Além disso, traga-me algumas lembrancinhas de Lehain. Não sei se realmente vendem essas coisas lá, mas ouvi dizer que você pode extrair uma pedra chamada cristal de fogo em torno das fontes termais. Como às vezes também são encontradas no fundo de fontes termais, basta trazer uma delas com você quando voltar.
— São apenas pedras que podem soltar faíscas, não é? Onde você vai usá-las, Senhorita Melkith? — Eugene perguntou curiosamente.
— Onde mais eu as usaria? Claro, vou usá-las como suborno para seduzir o Rei Espírito do Fogo. — Melkith revelou com orgulho.
Mesmo que ela já tivesse assinado um contrato com dois Reis Espíritos, parecia que Melkith ainda não estava satisfeita. Voltando as costas para Melkith, que cacarejava perversamente, Eugene se despediu de Lovellian.
— Mas não precisamos ir todos juntos, não é? — Kristina se esgueirou furtivamente na tentativa de sabotar uma certa reunião.
Eugene, é claro, não conseguiu reconhecer a tentativa de sabotagem pelo que era e respondeu calmamente:
— Disseram-me que todos já chegaram e estão esperando por nós lá.
— Posso entender se for Sir Cyan, mas a Senhorita Ciel não é membra da Terceira Divisão dos Cavaleiros Leão Negro? Por que não foi com a Senhora Carmen e seus companheiros cavaleiros em vez de esperar para ir com você, Sir Eugene? — Kristina reclamou.
— Porque somos irmãos.
— Irmãos! Por que isso deveria importar?
— Não tem como evitar que o clã Lionheart esteja atraindo muita atenção durante esta Marcha dos Cavaleiros. Afinal, passamos por tantas coisas ultimamente. E toda essa atenção será focada nos sucessores do clã Lionheart, Cyan, Ciel e eu mesmo. — Eugene explicou com uma expressão sem emoção enquanto pagava a taxa pelo portal de dobra.
— Nossa jornada da capital de Ruhr para Lehain não será fácil. Na melhor das hipóteses, levará um mês, e os campos de neve na fronteira estão infestados de monstros. Eles podem ter recebido treinamento constante para serem cavaleiros, mas não é uma rara oportunidade de construir o vínculo entre irmãos superando juntos um terreno tão difícil? Especialmente porque, além de ser irmão deles, também alcancei um alto nível na Fórmula da Chama Branca, então, ao me pedir para acompanhá-los juntos pelos campos de neve, eles devem estar esperando ser positivamente estimulados e influenciados por mim.
Agora que Eugene havia dito tudo isso, Kristina não podia responder nada a ele. Em vez disso, sentiu que o que Eugene disse estava correto e sentiu vergonha de si mesma por ter pensamentos tão inúteis.
Como tal, enquanto sentia necessidade de autorreflexão, ela reservou um momento para recitar uma oração de arrependimento.
Apenas para Anise bufar, [Que estímulo positivo? Eu não sei sobre aquele jovem mestre Cyan, mas aquela cadela astuta, a insistência de Ciel em viajar junto com Hamel, definitivamente deve estar cheia de seus próprios desejos gananciosos.]
Kristina estava muito aturdida para responder.
[Kristina, se você está tendo problemas para lidar com aquela garota, então deixe comigo, sua irmã…] Anise ofereceu. [Vou consertar aqueles maus hábitos dela para que não pense em fazer algo tão astuto novamente.]
“Tudo bem, você não precisa fazer isso…” Kristina recusou hesitantemente.
Embora Kristina não pudesse deixar de se sentir tentada, ela ainda não queria fazer tal pedido a Anise.
— Não precisamos trocar de roupa antes de irmos? — Mer colocou a cabeça para fora do manto de Eugene e perguntou. — O Reino Ruhr é um lugar onde é inverno o ano todo. Eu não perguntei, mas a Senhora Ancilla me enviou algumas roupas novas de inverno. Quer vê-las, Sir Eugene? Eu já me troquei.
— O que há para se olhar? — Eugene zombou. — Você me mostrou assim que as recebeu e também uma vez ontem.
— Sinceramente falando, até eu tenho que admitir que fico linda com meu casaco forrado de pele. Você não acha que é fofo, não importa quantas vezes o tenha visto? — Mer argumentou.
Kristina não podia negar essas palavras, mas a maneira como o rosto de Mer olhou para ela com um sorriso presunçoso e desafiador era realmente irritante. Eugene balançou a cabeça enquanto puxava as bochechas de Mer.
— Não belisque minhas bochechas. — Reclamou Mer. — Então, sir Eugene, vai trocar de roupa?
Eugene rejeitou sua persuasão.
— Estou bem. Afinal, este manto é para ser usado no inverno.
Mer virou-se para Kristina.
— E você, Senhorita Kristina?
Kristina também acenou para ela.
— Minhas vestes também têm a função de proteger do frio.
— Sinceramente! — Mer bufou. — Como vocês podem ser assim? Realmente só usam roupas para evitar o frio? Também é muito divertido usar roupas novas que nunca usou antes!
— Contanto que sejam quentes quando está frio e frescas e fáceis de se movimentar quando está calor, qualquer roupa está bem. — Eugene resmungou.
Anise também concordou, [Esta pequena familiar é tão mimada, porque nunca teve que vagar por Helmuth.]
No entanto, Kristina poderia concordar um pouco com Mer e sentiu um leve impulso de tentar a ideia de Mer. Pensando bem, até agora ainda não tinha vestido nada além de um hábito de freira ou uma túnica de sacerdotisa.
— Ahem… Essa túnica vai me proteger do frio, mas não vai me proteger da neve que voa. Então, acho que não há problema em comprar pelo menos um conjunto de casacos. — Quando Kristina terminou de se convencer disso, atravessou o portal de dobra.
Enquanto seguia Kristina, Eugene relembrou suas memórias de Moron.
Esta não era a primeira vez de Eugene nos campos de neve do norte. Para entrar em Helmuth, era preciso atravessá-los. Naquela época, como a maior parte das terras do norte havia sido ocupada por demônios e bestas demoníacas, embora não tanto quanto Helmuth, essas terras congeladas foram preenchidas com uma quantidade infernal de bestas demoníacas e demônios.
Moron ficou furioso com o estado daqueles campos de neve. Embora ele e a tribo Bayar em que nasceu e foi criado nunca tivessem estado nesses campos de neve mais ao norte, onde os ancestrais de sua tribo viviam, a tribo Bayar sempre se chamou de Filhos do Norte, Filhos dos Campos de Neve. Mesmo que os campos de neve que Hamel e os outros atravessaram trezentos anos atrás não fossem território da tribo Bayar, aquela terra ainda era o campo de neve das nevascas constantes.
Moron usava um grande martelo e um machado como suas armas.
Sempre que golpeava com seu martelo, uma avalanche era levantada e, quando brandia seu machado, até mesmo uma nevasca podia ser dividida em duas.
Sempre que esses ataques ferozmente bárbaros eram direcionados ao povo demônio e às bestas demoníacas, nenhum dos inimigos de Moron ficava como cadáver intacto, sendo esmagados ou explodidos, manchando os campos de neve com suas várias cores de sangue.
As nevascas nunca paravam. A neve caía em uma chuva perpétua. Portanto, mesmo que esses cadáveres mutilados estivessem espalhados e todo o campo de neve estivesse manchado de sangue, depois de um tempo, todos os cadáveres e a terra manchada de sangue voltavam a um estado branco puro mais uma vez.
Moron adorava esses campos de neve.
“Há também o rio aquecido”, lembrou Eugene.
Um rio aquecido corria perto do território da tribo Bayar. Quando Anise lhes contou pela primeira vez sobre a Fonte de Luz, trezentos anos atrás, Moron também falou sobre aquele rio aquecido.
Com isso, Hamel e Sienna não acreditaram nas afirmações de Moron e apenas riram delas. Como poderia haver um rio inteiro fervendo de calor? Especialmente porque a tribo Bayar vivia na parte mais ao norte do continente, onde nevava muito. Eles pensaram que era ridículo haver um rio aquecido em uma terra onde era tão frio que mesmo um rio normal teria congelado e parado de fluir.
Mas Eugene agora sabia: “Na verdade, era uma fonte termal.”
Moron não estava mentindo. Para um reino fundado no meio desses campos de neve, as fontes termais se tornaram uma famosa atração turística do Reino Ruhr.
—Assim que essa guerra acabar, podemos ir todos juntos. Nesse momento, serei o chefe da tribo Bayar. Se eu pedir a eles que mantenham o rio vazio para meus amigos, os membros de nossa tribo desistirão de bom grado da oportunidade por nós.
Naquela época, Moron disse isso com um largo sorriso.
No entanto, essa promessa não se tornou realidade. A guerra chegou a uma conclusão insatisfatória e Hamel morreu. Portanto, era impossível que todos fossem juntos ao rio aquecido.
Mas Moron ainda se tornou o chefe da tribo Bayar e fundou um reino que agora levava seu nome.
— Então Moron acabou sendo o mais bem-sucedido de todos nós. — Eugene maravilhou-se com um sorriso irônico ao passar pelo portal de dobra.
Sienna pode ter recebido muitos elogios enquanto servia como Mestra de Torre em Aroth, mas ainda foi mortalmente ferida quando Vermouth a atacou por razões desconhecidas. Depois disso, foi esmagada pelo ataque de Raizakia e teve que ser selada dentro da Árvore do Mundo.
Anise tentou se aposentar em peregrinação, mas em seus momentos finais, foi surpreendida por um capricho e tirou a própria vida. Seu corpo foi incapaz de receber seu descanso eterno e, em vez disso, foi usado como sacrifício para que Yuras pudesse criar o próximo candidato à santidade.
Vermouth serviu como arquiduque de Kiehl e fundou o clã Lionheart, uma das linhagens de maior prestígio no continente. No entanto, também não conseguiu encontrar um lugar para descansar em seus últimos anos e, em vez disso, desapareceu após fingir sua morte.
No entanto, Moron viveu feliz por muito, muito tempo. Este era um fato amplamente conhecido.
Ele fundou o Reino Ruhr nos campos de neve que uma vez foram pisoteados por Helmuth. Ele reuniu incontáveis refugiados que haviam perdido seus próprios países e os acolheu como súditos de seu reino. Nos trezentos anos desde a sua fundação, o Reino Ruhr tornou-se o país mais poderoso do norte. Ele sozinho exercia mais influência do que toda a Aliança Anti-Demônio, uma coalizão de países pequenos e médios perto de Helmuth.
O Reino Ruhr foi capaz de mostrar um crescimento tão drástico, porque o Corajoso Moron que ficava por trás de Ruhr foi visto pela última vez há cem anos. Depois de fundar o reino e servir como rei pelos próximos cinquenta anos, ele passou o trono para seu filho, mas Moron não escolheu viver em reclusão e manteve uma vigilância sobre o Reino Ruhr como seu antigo rei.
No entanto, até Moron desapareceu repentinamente há cerca de cem anos.
Eugene xingou: “Esses malditos são realmente todos iguais. Moron foi para a reclusão, Sienna também foi para a reclusão e Anise foi em peregrinação. Todos simplesmente desapareceram de repente, sem revelar adequadamente para onde estavam indo. Depois, há aquele Vermouth desgraçado, que está fingindo estar morto.
Eugene levantou a mão para olhar a cena à sua frente. Ele já havia passado pelo portal de dobra, mas a temperatura não havia mudado drasticamente. Em vez disso, o ar parecia bastante quente.
A capital do Reino Ruhr era chamada…
— Hamelon! — Mer gritou alegremente enquanto olhava para Eugene de dentro de seu manto. — Você sabia disso também, certo, Sir Eugene? A razão pela qual esta cidade é chamada de Hamelon é que ela foi feita para comemorar o falecido companheiro de Moron Ruhr, o primeiro rei de Ruhr.
— Eu sabia disso. — Eugene reconheceu com relutância.
— Na praça em frente ao palácio há estátuas representando Sir Moron e Sir Hamel juntos. Nós definitivamente vamos vê-las, certo? — Mer cantou animadamente.
Eugene recusou.
— Não quero.
— Por que você não quer? — Mer reclamou. — Dizem que são tão bem feitas que parecem magníficas.
— Acho que seria estranho vê-las. — Admitiu Eugene.
Kristina falou hesitante.
— Eu realmente quero vê-las, mas…
Dentro de sua cabeça, Anise riu e disse: [Eu as vi uma vez, mas recomendo não olhar muito de perto.]
“Por quê, irmã?” Kristina perguntou silenciosamente.
Anise explicou: [Moron estava um pouco magoado demais com seu falecido companheiro. Como devo descrever a estátua de Hamel que está lá…? Pode ser uma estátua de Hamel, mas não se parece realmente com Hamel. Eles o tornaram muito mais… Nobre. Assim como minhas estátuas em Yuras.]
“Aparência mais nobre, você diz… Não tenho certeza se entendi o que quer dizer com isso.”
[Moron encomendou e ergueu uma estátua do momento em que Hamel morreu. Ele pretendia que o povo de Ruhr lamentasse o nobre sacrifício de Hamel… Portanto, a estátua mostra Hamel desmaiado com um buraco no peito, e Moron está segurando seu cadáver. Posso me lembrar claramente. Depois de recuperar o cadáver de Hamel do Rei Demônio do Encarceramento, a aparência de Moron enquanto carregava o corpo de Hamel em seus braços…]
Ao relembrar o passado distante, Anise soltou uma risada triste.
Eugene podia não ser capaz de ouvir a conversa entre Kristina e Anise, mas estava realmente sendo sincero quando disse que não queria ir ver as estátuas naquela praça.
A razão para isso era simples. Se ele visse, poderia acabar se sentindo deprimido e incapaz de conter as lágrimas, e Eugene não queria mostrar tal aparência para Anise.
— Ainda assim, Sir Eugene, não seria melhor dar uma olhada pelo menos uma vez? — Kristina sugeriu cautelosamente a Eugene.
Mas no momento em que Eugene estava prestes a abrir a boca e responder—
— Eugene!
Alguém chamou Eugene em voz alta.
Quando virou a cabeça, viu Ciel correndo para ele de algum lugar próximo e se jogando em um abraço sem perder o ímpeto.
— Faz tanto tempo! — Ciel gritou.
Já que fazia quase meio ano desde a última vez que se viram, dizer que fazia tanto tempo não era impreciso. Ciel jogou para trás o capuz de seu casaco, que estava eriçado de pelo, e sorriu para Eugene.
— Não sentiu minha falta? — Ciel perguntou.
Eugene perguntou em troca.
— Você estava esperando por nós aqui?
— Foi você quem disse que chegaria hoje. É por isso que meu irmão e eu saímos cedo para encontrá-lo. — Ciel explicou com um sorriso brilhante enquanto também trocava um olhar de soslaio com Kristina.
[Kristina, não seria melhor você trocar de lugar comigo?] Anise sussurrou para ela como um demônio em seu ombro.
Os lábios de Kristina apenas se contraíram silenciosamente.