Damn Reincarnation - Capítulo 223 - Anime Center BR

Damn Reincarnation – Capítulo 223

Capítulo 223

Ruhr (3)

Eugene sentia a necessidade de encontrar um guia.

A maior parte do território do Reino Ruhr era formada por campos de neve cobertos por nevascas, mas se alguém o considerasse simplesmente em termos de massa de terra, era grande o suficiente para ser comparável ao Império Kiehl.

Mas como a maior parte da população do reino vivia nas cidades, os vastos campos de neve eram o lar dos nativos que se recusavam a se misturar às cidades. Eles não eram tão selvagens quanto os nativos da floresta Samar, mas Eugene tinha ouvido falar que eram excêntricos o suficiente para rejeitar a civilização e insistir em sobreviver nos campos nevados.

Os campos de neve eram um local ainda mais difícil do que a Floresta Tropical. Em primeiro lugar, não era fácil procurar comida e, se você caísse em uma fenda enquanto caminhava descuidadamente, uma morte inútil era uma possibilidade real. Havia também as nevascas que surgiam de vez em quando, e era preciso ter cuidado com as avalanches nas áreas montanhosas. Na floresta Samar, tudo o que precisava se preocupar eram coisas como ataques de nativos selvagens ou monstros, mas nos campos de neve, era preciso ser mais cauteloso com a imensidão da natureza.

Havia campos de neve branca em todos os lugares que se olhava, então perder o senso de direção era fácil. Mesmo se usasse um mapa, uma bússola ou um livro guia encantado, ainda era fácil se perder nos campos de neve. Era por isso que as pessoas que queriam atravessar os campos de neve frequentemente contratavam os nativos que viviam naquelas terras como guias.

Mas, graças à consideração do rei de Ruhr, não havia mais necessidade de contratar um guia.

— Au au.

Tendo emergido do manto, Mer se aproximou de Abel com os olhos brilhando intensamente.

— Au au.

Mer tentou imitar o latido de um cachorro mais uma vez, mas Abel apenas olhou para Mer, piscando preguiçosamente seus olhos dourados. Incapaz de fazê-lo mostrar a reação que ela esperava, Mer fez beicinho e se aproximou de Abel.

— Dá a patinha. — Mer instruiu quando finalmente ficou na frente do grande lobo e estendeu sua própria mão.

E como esperado, Abel provou ser tão inteligente quanto Aman havia dito. Mer abriu um largo sorriso ao olhar para baixo e ver a grande pata dianteira de Abel pendurada levemente sobre sua mãozinha.

— Tudo bem se eu montar nas costas dele, certo? — Mer implorou.

Eugene apontou.

— Não seria mais confortável viajar dentro do manto do que nas costas de um lob—

— Enfim, é mais confortável do que andar sozinha. Além disso, não é divertido ficar presa dentro de seu manto, Sir Eugene, e cansei disso depois de ficar lá dentro por tanto tempo. — Reclamou Mer enquanto subia rapidamente nas costas de Abel.

Mer podia ser uma jovem, mas também era uma familiar, então não pesava muito. Além disso, talvez por causa do enorme tamanho e excelente força de Abel, ele não mostrou sinais de dificuldade em ter Mer montada em suas costas enquanto olhava para Eugene em busca de instruções.

Eugene considerou Mer silenciosamente.

Não é divertido, e ela estava entediada com isso, Mer pode ter dito essas palavras sem pensar muito nelas, mas Eugene se sentiu um pouco mal-humorado por causa disso. No entanto, se reconhecesse e expressasse esse sentimento, sentiria que admitiria que havia perdido para esse vira-lata, então Eugene manteve a boca fechada.

Anise de repente comentou:

— Como descendente de Moron, ele realmente se parece com Moron.

— Mas não parece o mesmo tipo de idiota que Moron era. Embora faça sentido, não há como um tolo se tornar um rei. — Eugene respondeu.

— Moron também era um tolo, mas na verdade era muito bom em lidar com assuntos de estado. — Revelou Anise.

Eugene zombou:

— Isso é só porque Moron era forte. Trezentos anos atrás, durante toda aquela confusão, ele não conseguiu construir um reino apenas com a força? Quando um homem forte como ele diz que seria o rei desta região polar onde sempre neva muito, quem ousaria dizer algo contra isso?

Anise argumentou:

— Embora seja verdade que a força de Moron foi útil na fundação do Reino Ruhr, o reino não foi estabelecido e governado apenas pela força. Hamel, você também deveria saber disso, certo? Moron pode ter sido um tolo, mas também era gentil e, apesar de ser um tolo, tinha um lado sábio. Agora que trezentos anos se passaram, ele ainda é chamado e elogiado com o prestigioso título de Rei Ousado, porque Moron era mais um rei adequado do que aquele que governou sua cidade natal.

— Tudo bem, eu admito. Moron é ótimo. E eu sou inútil. Eu morri primeiro sem motivo, e por causa disso, continuo sendo chamado de mais fraco que o Moron…

Enquanto Eugene resmungava e suspirava repetidamente, Anise, que ainda estava pegando emprestado o corpo de Kristina, riu zombeteiramente.

— Não é fato que você era mais fraco que Moron? Você também tinha um corpo mais fraco do que ele. Hamel, ninguém mais pode dizer, mas se gabando como se você fosse mais forte e mais duro do que Moron na minha frente… Hehe. Parece um pouco fofo da sua parte. — Disse Anise com um sorriso malicioso.

— O que você acabou de dizer? — Eugene rosnou.

— Não foi como eu disse que foi? Sempre que uma batalha terminava, você sempre tinha mais ferimentos do que Moron. E quem foi que teve que curar aquelas feridas? — Anise perguntou retoricamente.

— Sienna. — Eugene respondeu sarcasticamente.

— Não, fui eu. — Insistiu Anise. — Por favor, não tente bancar o fofo com esse seu orgulho inútil. Sem mim, Hamel, todos os seus membros teriam sido cortados pela raiz e você teria ficado apenas com o tronco, forçado a rolar como uma bola.

Eugene tossiu culpado.

— Ahem… Mas não é como se eu fosse o único cujos membros foram cortados. Moron também perdeu as pernas…

— É porque Moron sempre fugia estupidamente como um potro com o rabo pegando fogo. — Anise bufou e continuou: — Embora, de fato, você fosse o mesmo a esse respeito.

Eugene não suportava refutar aquela besteira de Anise. Se não fosse pelos milagres dela, mesmo que todos os seus membros não tivessem sido amputados, ele achava que teria perdido pelo menos um braço ou uma perna.

Uma voz de repente se intrometeu:

— Sobre o que vocês dois estão conversando tão secretamente?

A conversa contínua entre Eugene e Anise não podia ser ouvida por mais ninguém. Isso porque Eugene havia escondido cada uma de suas vozes usando magia para falar sobre Moron.

A visão disso foi muito, muito, muito irritante para Ciel.

Quando Ciel se aproximou deles com os olhos penetrantes, Eugene respondeu com uma expressão calma:

— Estamos falando sobre a assinatura que criei em Aroth.

— Por que falar disso em segredo? — Ciel argumentou. — Também estou curiosa sobre sua assinatura.

— Hum… Algo assim precisa ser visto como uma surpresa para parecer mais legal e chocante. — Eugene disse como desculpa.

— Então você está guardando segredo, porque quer me mostrar? — Ciel perguntou alegremente.

— Bem, algo assim. — Eugene concordou vagamente.

Embora Ciel não gostasse dessa situação, a resposta de Eugene a deixou muito feliz. Ela se retirou mais uma vez com um olhar que dizia que não tinha como evitar.

Eugene virou-se para Anise.

— Então, Lehainjar, o que você acha disso?

— O descendente de Moron não explicou nada direito, mas não foi bem explícito ao sugerir que você fosse lá? De jeito nenhum, Hamel. Você realmente acha que ele pode ter armado uma armadilha para você? — Anise perguntou em descrença.

— Isso ainda não é uma possibilidade?

— Como um descendente de Moron poderia usar truques tão mesquinhos como armar uma armadilha—

— Mesmo entre os descendentes do Vermouth, há idiotas. — Observou Eugene.

Anise admitiu o ponto.

— Pode ser o caso, mas se realmente cairmos em uma armadilha armada por um descendente de Moron… Eu ficaria tão envergonhada que nunca seria capaz de subir aos céus e, em vez disso, me tornaria um Espírito maligno.

Eugene também concordou prontamente:

— Eu também ficaria envergonhado, o suficiente para me matar enterrando meu nariz em um pires de água.

Por enquanto, eles apenas manteriam a guarda alta, mas que razão o Rei Besta teria para preparar tal armadilha? Tanto quanto Eugene sabia, os Lionhearts e a Família Real de Ruhr tinham um relacionamento bastante amigável.

Desde que a guerra terminou, trezentos anos atrás, Vermouth estranhamente se distanciou de seus antigos companheiros. Moron não foi exceção a isso. Mas depois que Moron abdicou do trono e um funeral foi oficialmente realizado para Vermouth, os reis que sucederam o trono de Ruhr procuraram estabelecer um bom relacionamento com o clã Lionheart, mesmo que ainda não fossem tão próximos.

Todos os anos, no aniversário do Patriarca, cartas e presentes eram enviados de Ruhr e, atualmente, até se fala em casar o próximo Patriarca, Cyan, com a Princesa de Ruhr.

— Talvez Moron tenha se isolado naquele lugar chamado Grande Cânion do Martelo? — Anise propôs.

Ela também estava ciente do motivo pelo qual foi decidido que a Marcha dos Cavaleiros seria realizada no Reino de Ruhr. Era tudo por causa do Corajoso Moron, que se isolou cem anos atrás. Fazendo-a ali, eles esperavam despertá-lo de sua solidão.

— Hamel, você… Hehe. Embora pareça que realmente não gosta de ser chamado assim, pelo menos por enquanto, você não é chamado de Segunda Vinda do Vermouth? Além disso, Kristina parece exatamente como eu. — Anise apontou com uma risadinha.

Eugene não conseguiu responder a isso.

— Não se sabe se Moron ainda está secretamente em contato com a família real de Ruhr, mesmo depois de entrar em reclusão. E se ele realmente foi para o Grande Cânion do Martelo para sua reclusão… Ele deve ser capaz de nos notar assim que chegarmos lá, mesmo que esteja longe. — Especulou Anise.

Eugene bufou.

— Aquele tolo provavelmente ficará surpreso e virá correndo como um louco.

Se fosse Moron, definitivamente parecia o que ele faria; enquanto Eugene sorria imaginando tal visão, Anise também acenou com a cabeça levemente de lado.

No entanto, seu sorriso não era tão alegre quanto o de Eugene.

— Isso se Moron não mudou de como nos lembramos que ele era. — Anise falou cautelosamente.

Eugene não respondeu a essas palavras imediatamente. Em vez disso, olhou para Anise com um olhar calmo e avaliador. Aquele rosto ainda podia ser o de Kristina, mas mesmo assim Eugene podia sentir a triste melancolia de Anise.

Houve uma pequena pausa antes de Eugene responder.

Ele não tinha certeza do que estava dizendo, mas Eugene ainda tentou projetar confiança quando garantiu a ela:

— Aquele idiota não mudou nem um pouquinho.

Eles mais uma vez usaram o portal de dobra em Hamelon, a capital de Ruhr, e chegaram à cidade de Rosrok, que ficava no norte de Ruhr. Infelizmente, a partir deste ponto, eles não seriam capazes de usar um portal de dobra para viajar mais longe e, em vez disso, teriam que atravessar os campos de neve sem fim por conta própria.

— Você vai até Lehainjar a pé? Você é louco.

Todos os comerciantes que encontraram enquanto compravam suprimentos para a viagem disseram a mesma coisa enquanto balançavam a cabeça e estalavam a língua em solidariedade. No entanto, apesar de chamarem isso de imprudente e tolo, eles não tentaram impedir Eugene e os outros.

Isso foi por causa do brasão Lionheart bordado nos peitos do trio Lionheart — Eugene, Ciel e Cyan.

— Ouvi algo sobre isso. Aparentemente, um festival chamado Marcha dos Cavaleiros está sendo realizado no distante campo de treinamento de Lehain, certo? — Um comerciante perguntou.

— Não sei se pode mesmo ser chamado de festival, mas sim. — Confirmou Eugene.

— Um monte de gente de todo o mundo está se reunindo para curtir uma diversão barulhenta e animada, então o que mais pode ser chamado além de um festival? — O comerciante apontou. — De qualquer forma, graças a vocês, nós comerciantes também estamos nos divertindo com este evento.

Eugene aguçou as orelhas.

— Parece que já passaram muitas pessoas por aqui?

— Não é óbvio? Três ordens de cavaleiros e quatro empresas mercenárias já passaram por aqui, e isso é apenas Rosrok sozinha.

O caminho por Rosrok não era o único caminho para chegar a Lehain. Se incluísse as tropas partindo de outras cidades, o número de tropas que logo chegariam a Lehain seria impressionante.

O comerciante ofereceu generosamente:

— Como comprou muitos produtos, vou lhe contar isso de graça. Duas das ordens de cavaleiros eram apenas de pequenos países pertencentes à Aliança Anti-Demônio, mas a última era uma ordem de cavaleiros muito famosa, os Cavaleiros da Maré Violenta de Shimuin. Como o jovem mestre do clã Lionheart, você deveria conhecê-los naturalmente, certo?

Claro, Eugene conhecia. O nome deles sempre era mencionado quando o tópico das melhores ordens de cavaleiros do continente era discutido. Como Shimuin era um país que afirmava ser a Terra dos Cavaleiros, havia várias ordens de cavaleiros que eram juramentadas à família real.

Entre essas ordens de cavaleiros, os Cavaleiros da Maré Violenta eram formados pelas elites que foram cuidadosamente selecionadas apenas entre os cavaleiros mais excepcionais. O Comandante de sua ordem de cavaleiros era o Primeiro Cavaleiro dos Doze Melhores de Shimuin. Assim como os Cavaleiros da Maré Violenta, seu nome sempre foi mencionado sempre que alguém discutia a escolha dos melhores cavaleiros de todo o continente.

— Como devo descrever o Primeiro Cavaleiro…? Ele é um homem tão perspicaz que quase dá para sentir uma aura fantasmagórica saindo dele. Como tal, ele parecia ainda mais contrastante quando estava ao lado da Princesa Cavaleira. Quanto a ela, parecia tão limpa e pura quanto uma flor solitária… — O mercador parou de relembrar.

Cyan tossiu baixinho enquanto o comerciante continuava resmungando.

Sua atenção foi atraída para a menção da princesa cavaleira de Shimuin. Entre todos os filhos do rei de Shimuin, a princesa Scalia era considerada a única dotada com a espada.

— Maldito sorrateiro. — Eugene zombou do interesse óbvio de Cyan em sua fofoca.

Cyan gaguejou em protesto.

— O-O quê?!

Junto com a princesa Ayla de Ruhr, a princesa Scalia também foi criada como uma das noivas em potencial de Cyan.

O mercador continuou:

— Quanto às companhias mercenárias, bem… Todas eram companhias razoavelmente grandes, mas… Hah. Embora eu espere que nada de perigoso aconteça, você nunca sabe o que as pessoas podem fazer, então permita-me dar-lhe um aviso.

— Um aviso? — Eugene repetiu.

— Entre as companhias de mercenários que passaram por Rosrok há alguns dias, havia um grupo chamado Mercenários Cães Pretos. Embora se autodenominem uma companhia mercenária, estão arrastando caravanas mercantes de outros campos de neve e extorquindo-os sob o pretexto de escoltá-los. São apenas ladrões usando a máscara de uma empresa mercenária. — O comerciante fungou.

Esta notícia não foi uma surpresa para Eugene, que costumava trabalhar como mercenário trezentos anos atrás. As caravanas mercantes eram um cliente comum dos mercenários. Contanto que uma companhia mercenária tivesse falta de consciência e habilidade suficiente, depois de matar ou aleijar os guerreiros de escolta originais contratados pelas caravanas mercantes, eles poderiam forçar os mercadores a assinar um contrato injusto enquanto alegavam ser os que os escoltariam daquele momento em diante. Naturalmente, os contratos assinados assim não eram nada como contratos apropriados, e a maioria deles fazia as caravanas mercantes pagarem uma taxa adicional pelo tempo que eram arrastados pela empresa mercenária.

— Aqueles Cães Pretos provavelmente não se atreverão a pregar peças nos jovens mestres do clã Lionheart, mas… Os campos de neve são amplos e você nunca sabe o que pode acontecer. — O mercador os advertiu seriamente. — A melhor solução seria evitar se envolver com eles em primeiro lugar. Se vir a bandeira dos Cães Pretos à distância, não tente enfrentá-los desnecessariamente e siga seu próprio caminho.

Eugene aceitou o aviso.

— Obrigado pelo aviso.

— A propósito, você já pensou em pegar emprestado mais alguns lobos? — O comerciante recomendou. — Parece que não são muitos, e se for um grupo de cerca de cinco pessoas, seria melhor usar um trenó de lobo…

— Está tudo bem. — Eugene o assegurou.

Na verdade, ele havia pensado em alugar um trenó para andar, mas depois de pensar várias vezes, percebeu que realmente não precisavam disso.

— Afinal, não seria mais conveniente apenas usar magia? — Eugene disse principalmente para si mesmo.

— Bem, deve ser mais fácil para você. — Concordou o mercador.

O feitiço que era usado para evitar que os pés deslizassem na neve não era um feitiço muito avançado e, embora durasse muito tempo, nem consumia muita mana. No entanto, Eugene não tinha intenção de permitir o uso de um feitiço tão conveniente.

Eugene virou-se para Ciel e Cyan.

— Vocês dois, suas Fórmulas de Chama Branca ainda estão na Quarta Estrela, certo?

— Na nossa idade, a Quarta Estrela ainda está muito alta. — Cyan insistiu mal-humorado.

Eugene argumentou:

— Mas mesmo tendo a mesma idade que você, já estou na Sexta Estrela, não?

— Isso é porque você é um monstro, seu desgraçado. — Cyan rosnou, franzindo a testa enquanto tentava conter o orgulho ferido.

Eugene foi direto ao ponto:

— Você não estava esperando que eu fosse com você, só porque achou que isso tornaria a viagem mais fácil e sem dor, certo?

Cyan sabia que não era tão talentoso quanto Eugene. Como resultado, provavelmente não seria capaz de superar Eugene pelo resto de sua vida. Cyan ficou dolorosamente ciente desse fato desde o início, e estava bem ciente de que não importava o quão ciumento ele ficasse, não seria capaz de mudar a realidade dessa situação.

Ancilla foi quem ensinou Cyan como usar seu irmão, Eugene, desde cedo.

Cyan podia estar com ciúmes, mas não deveria estar com inveja. Mesmo que Cyan soubesse que não seria capaz de superar Eugene, ele ainda deveria se esforçar para fazê-lo. Mesmo que não fossem irmãos de verdade, Cyan deveria tratá-lo como um irmão de verdade e aprender a depender um do outro. Ele precisava construir tal amizade entre eles para que Cyan nunca precisasse traí-lo ou ser traído.

— Isso realmente vai ajudar? — Cyan relutantemente perguntou.

— Já fiz você fazer algo que não seria útil para você? — Eugene disse com um sorriso enquanto dava um tapinha no ombro de Cyan.

Esta era a verdade. A Fórmula da Chama Branca de Cyan foi capaz de subir para a Quarta Estrela em primeiro lugar, porque recebeu vários conselhos de Eugene sobre como treiná-la. Esse conselho também foi aplicado igualmente a Ciel.

— Tudo bem. — Cyan bufou enquanto se decidia e imediatamente tirou os sapatos.

Como isso o deixou descalço na neve, o frio gelado enviou choques para cima e para baixo em sua espinha. Enquanto operava com precisão a Fórmula da Chama Branca, Cyan se aqueceu com uma quantidade mínima de mana. Com isso, lentamente começou a andar, dando passos cuidadosos para frente.

Para o propósito deste treinamento, Cyan não tinha permissão para afundar na neve. Não deveria haver sequer pegadas deixadas. Parecia simples à primeira vista, mas na verdade exigia uma manipulação meticulosa e contínua de sua mana.

A saída excessiva de sua mana seria sem sentido. Então, o que Eugene pediu a Ciel e Cyan foi andar na neve enquanto usava a quantidade mínima de mana para que sua Fórmula da Chama Branca não liberasse nenhuma faísca.

— Ugh… — Ciel estava enojada com a necessidade de ficar descalça, mas ainda ouvia as instruções de Eugene.

Cuidadosamente embalando suas botas, ela caminhou sobre a neve cautelosamente. Quando Eugene casualmente se aproximou dela para tentar segurar suas botas, Ciel saltou para longe de Eugene com medo.

— O-O que está fazendo? — Ciel gritou.

— Não… É que parecia que seria inconveniente para você carregar os sapatos com você… Então eu só ia colocá-los no meu manto. — Eugene disse hesitante.

Ciel rejeitou firmemente esta oferta.

— De jeito nenhum, de jeito nenhum eu vou deixar você fazer isso. Vou cuidar das minhas botas sozinha, então nem pense nisso.

Eugene ergueu uma sobrancelha.

— Você está preocupada que elas possam cheirar mal?

O rosto de Ciel empalideceu com a pergunta de Eugene.

Eugene suspirou.

— Você é assim desde jovem. Eu nunca pensei que houvesse um cheiro estranho vindo do seu corpo, mas alguns anos atrás, você se recusou a treinar ao ar livre, porque não queria exalar o cheiro de suor.

— Por que está trazendo algo do passado distante?! — Ciel gritou.

Eugene apenas resmungou.

— Não faz tanto tempo assim… Talvez quatro anos mais ou menos…? Enfim, você não vai exalar odores estranhos, então não se agarre inutilmente a esses sapatos e os dê para mim.

— Seu… Seu filho da puta. Eu sabia que você estava faltando em consideração, mas isso está indo longe demais. Realmente acha que eu realmente acreditei que algum tipo de cheiro estranho estava saindo do meu corpo? É que eu era muito tímida e envergonhada! Sai daqui! — Ciel gritou como uma banshee enquanto balançava suas botas ameaçadoramente.

Devido à sua forte resistência, Eugene não conseguiu persuadi-la e teve que recuar.

— Sir Eugene, você é quem está errado. — Kristina murmurou do fundo do grosso casaco de pele que usava.

Com essas palavras, Eugene voltou seu olhar para ela com um olhar que falava de seus sentimentos de injustiça.

— O que eu fiz de errado?

— Você não tem consideração pelo coração de uma garota. — Disse Kristina enquanto estalava a língua e balançava a cabeça.

Mer também olhou para Eugene com os olhos apertados enquanto acompanhava Kristina estalando a língua. Mer parecia estar muito feliz sentada nas costas de Abel, então eles até compraram uma sela em que ela poderia sentar enquanto montava nele.

Uma jovem usando um chapéu fofo estava sentada nas costas de um lobo do tamanho de um boi. Aquele lobo também era responsável por determinar a direção de seu grupo e liderá-los. Os irmãos gêmeos seguiam atrás do lobo de pés descalços, e um homem vestindo um manto enorme observava os irmãos com um olhar severo. Uma mulher vestindo um casaco também estava grudada ao lado daquele homem.

Vários grupos estavam deixando os portões de Rosrok ao mesmo tempo, mas nenhum era tão único quanto o de Eugene. O rosto de Ciel ficou vermelho quando sentiu os olhares olhando para ela como se estivessem gostando da cena.

— Se você continuar andando assim, quando acha que chegaremos lá? Corram! — Eugene rugiu.

— Ihaaa! — Mer também gritou enquanto dava um tapinha na nuca de Abel.

Abel começou a correr pelo campo de neve. Como resultado, Cyan e Ciel não tiveram escolha a não ser começar a correr diligentemente descalços.

— Não… Não há necessidade de corrermos assim! — Ciel engasgou.

— Você precisa correr se planejamos chegar rapidamente. — Argumentou Eugene.

— Mas aposto que você não correu assim em Samar! — Ciel gritou com uma voz triste.

Por que Ciel decidiu se separar da força principal do clã Lionheart para esperar por Eugene? Porque ela não queria que Kristina e Eugene viajassem sozinhos juntos, todos íntimos como fizeram em Samar! Foi tudo porque Ciel não suportava a ideia de permitir que eles fizessem o seu caminho para Lehain por conta própria. Como houve um aumento em seu treinamento antes da Marcha dos Cavaleiros, Ciel não conseguiu seguir Eugene até Aroth, mas desta vez ela finalmente poderia viajar junto com ele.

Mas o que estava acontecendo agora? Eles deveriam estar andando em um grande trenó alugado enquanto usavam magia para circular o ar quente ao seu redor… Ciel esperava uma chance de conversar um com o outro enquanto construíam uma fogueira à noite e criavam memórias enquanto olhavam para as estrelas! Então, por que ela estava descalça, perseguindo aquele enorme traseiro de lobo?

— Eu não corri muito em Samar? — Eugene perguntou enquanto inclinava a cabeça, incapaz de entender o que Ciel quis dizer com seu choro miserável.

— Sir Eugene corria enquanto eu voava atrás dele. — Kristina afirmou antes de abrir suas próprias asas em uma demonstração.

Claro, ela não abriu todas as oito asas. Era o feitiço divino que ela usara enquanto viajavam por Samar, as Asas de Luz. Mas com a força atual de Kristina, mesmo que voasse por vários dias usando as Asas de Luz, ela não ficaria sem poder divino.

— Senhorita Ciel, parece que não entendeu alguma coisa. Sir Eugene e eu cumprimos fielmente nossa missão enquanto estávamos em Samar. Todos os dias, estávamos ocupados viajando enquanto também estávamos em guarda para ataques surpresa. Na verdade, estou mais relaxada agora do que naquela época. — Kristina sussurrou suavemente enquanto voava para Ciel em uma altura baixa.

No entanto, Ciel não podia se dar ao luxo de responder a ela. Embora não tivesse nenhum problema enquanto caminhava devagar, estava atualmente limitando a produção da Fórmula da Chama Branca, protegendo seus pés de queimaduras de frio e manipulando sua mana para que não afundasse na neve, enquanto corria. Então, enquanto Ciel tinha que manter o foco apenas em manter a respiração, tudo o que podia fazer era encarar Kristina.

Claro, Kristina não estava tão sobrecarregada ou ocupada quanto Ciel. Ela bateu as asas com orgulho enquanto se deitava no ar. O vento e as rajadas de neve que vinham voando em sua direção eram irritantes, mas ela podia cobrir os olhos com um aceno vagaroso de suas mãos.

— Embora, Senhorita Ciel, parece que você não está tendo tanta facilidade quanto eu. — Kristina observou calmamente.

Enquanto engolia os palavrões que ameaçavam explodir, Ciel voltou a olhar à sua frente.

A visão de Mer, que estava rindo sentada nas costas do lobo, era a coisa mais irritante de todas.

 

* * *

 

Acima de Rosrok, um homem que parecia tão bonito que era difícil acreditar que ele era um homem estava segurando seu casaco fechado. Enquanto olhava na direção das costas de Eugene, que em algum momento havia se afastado, o homem lambeu os lábios.

— Vossa Majestade. — Murmurou o homem.

Este sussurro não foi dirigido a ninguém ali, mas sim ao território de sua Rainha longe de lá.

— Eugene Lionheart partiu daqui. — Relatou ele.

No Domínio Demoníaco de Helmuth, a Floresta das Sombras Negras, que até um ano atrás, tinha sido o território da Princesa Rakshasa e lar dos elfos negros que a seguiam. Era uma floresta gigantesca que manteve sua aparência primordial.

No entanto, quase nada restou da aparência que a Floresta das Sombras Negras tinha naquela época. Árvores foram cortadas em faixas e estradas limpas foram abertas no topo do solo. Edifícios que podiam ser vistos na capital do Pandemonium estavam sendo erguidos em um ou dois pelos trabalhadores mortos-vivos, humanos e demônios que haviam sido contratados pela Companhia de Construção Sonhar.

No meio de tudo isso, uma estátua de Noir Giabella que reproduzia sua figura sedutora foi concluída.

— Ahahaha.

Noir Giabella, que estava sentada em cima da cabeça de sua própria estátua gigante, mostrou os dentes de tanto rir.

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