O sol estava se pondo quando saíram do restaurante. Havia lâmpadas de rua na beira da estrada para iluminar as calçadas, mas seu brilho não era nada comparado à luz do sol.
— Devemos terminar o nosso encontro com um drinque?
Os olhos de Lyla se estreitaram.
— O que está planejando fazer depois de me embebedar? Além disso, já tomamos uma taça de vinho.
— Como isso é uma bebida? É tipo suco, só um condimento para comer mais. Ou você é fraca contra o álcool?
— Nunca testei meus limites.
— Então, vamos descobri-los.
— Qual é a diferença disso e confiar em um ladrão?
— É uma boa analogia. Tudo bem se não bebermos. Por que não conversamos?
Ela parecia estar pensando no que fazer. Fiel às suas palavras, Zich usou seu dinheiro do início ao fim. Além disso, embora continuasse fazendo piadas, nunca saiu da linha.
— Podemos comer algo com as bebidas.
— Vamos. — Ela rapidamente deu um passo à frente, fazendo ele rir.
Lyla escolheu o próximo destino. Mesmo que a lua estivesse no céu, ainda havia muitas lojas abertas para quem não se cansava da atmosfera livre da cidade e queria ficar do lado de fora até tarde.
— Ali.
O lugar que ela apontou era um bar normal. Quando entraram, estava lotado. Procurando lugares vazios, perceberam que a atmosfera lá era estranha; todos olhavam para um local específico.
— Ah, é? Tenta a sorte!
“É uma briga.” Os olhos dele brilharam. “O momento é perfeito.”
Alguém havia dito que o melhor entretenimento do mundo era brigas, e Zich concordava. Embora tivesse assistido a inúmeras, nunca se cansou; o que ele gostava mais do que assistir a uma era se intrometer em uma.
Zich ouviu um suspiro no seu lado. Como se ela soubesse o que ele estava pensando, Lyla olhou para ele com desdém. Ele fez uma tosse falsa e murmurou alto o suficiente para que ela ouvisse.
— Eu me pergunto de quem é a culpa. Eu deveria ser gentil e intervir…
— Bem assim.
Ele a ignorou e caminhou em direção aonde a multidão estava.
“É melhor analisar a situação primeiro e atacar… não, persuadir o lado na desvantagem.”
— Não temos nada a dizer para vocês!
“Hmm?”
Era uma voz diferente em comparação com a áspera que havia escutado e também familiar. Ele alargou os sentidos. Com Lyla, se concentrou nela e não pôde cobrir uma área ampla.
“Aqueles dois estão aqui?”
Lyla o seguiu por trás e perguntou:
— O que foi?
— Conheço aqueles caras.
— São como você?
— Não olhe para mim assim. Eles estão num nível diferente do grande eu. E mais: eles não têm coragem de começar uma briga.
— Não acha que é um problema comparar isso com falta de coragem? Bom senso, talvez?
Zich bufou e, depois de empurrar um grupo de pessoas para fora do caminho, viu a cena. Dois grupos estavam de frente um para o outro. Um era composto por quatro homens rígidos que poderiam facilmente um palhaço tatuado nas costas junto a um “vida bandida”, enquanto o outro tinha dois jovens familiares.
— Tão fazendo o quê aqui?
Os olhos da multidão dispararam para ele de uma vez.
— Senhor Zich!
Um membro do grupo jovem, Hans, o cumprimentou. Snoc, que estava ao seu lado, se alegrou. Logo quando Lyla se aproximou dele, todos os olhos se moveram em sua direção. Nem Zich e nem Lyla ficaram surpresos, pois, desde que trocou de roupa, recebia olhares do tipo sempre.
— Você é realmente popular. Como seu par, isso me deixa orgulhoso.
Pei!
Ela bateu na barriga dele com o cotovelo. Ele agarrou o peito e gemeu, mas todos viram que ele não estava ferido.
— Vai resolver isso logo. — O empurrou.
— Senhor Zich, ela é…! — Surpreso, Hans reconheceu o rosto de Lyla.
— Encontrei ela por coincidência e tentei dar em cima dela. Sabe, já que ela é tão bonita.
— Para de falar merda e acaba logo com isso.
— Até o jeito dela faz meu tipo.
Então, ele se aproximou da briga. De braço cruzados, ela o observou, ignorando os olhares para ela, séria, como se tivesse algo a confirmar.
— O que aconteceu?
Hans continuou olhando para Lyla, porém, não fez mais perguntas. Ele pensou que Zich tinha um motivo para sair com ela. Não querendo tornar a situação pior, respondeu:
— Algumas pessoas vieram arrumar briga conosco.
Entretanto, os seus oponentes tinham um plano diferente em mente.
Um deles, que aparentava ser o líder, encarou Zich.
— Quem é você?
Ele parecia estar bêbado, mas a mente ainda estava intacta. O álcool despertou a sua personalidade grossa e volátil.
— O mestre desses dois aí.
Em vez de se surpreender de verdade, o homem arregalou os olhos de maneira exagerada.
— O quê!? Nossos dois grandes heróis aqui têm um mestre? Hahahahahaha!
Os outros três ao lado dele também riram. Zich achou que a forma como desprezavam seus oponentes e zombavam das pessoas era irritante, contudo, deu um sorriso brilhante. Hans e Snoc, que sabiam o que significava, se encolheram e deram um passo para trás.
— Ei, olha! Só olha para aqueles dois! Nossos grandes heróis aqui estão tremendo de medo só porque rimos um pouco!
— Espere, isso faz de nós Lordes Demônios que fazem o mundo tremer e tremer de medo?
— Um Lorde Demônio é o suficiente? Não deveríamos ser tipo um Deus Demônio ou coisa do tipo?
— Como fizemos esses nobres heróis tremerem, devemos pelo menos estar nesse nível!
Suas palavras eram tão infantis e frívolas que Zich se perguntou como se achavam engraçados. Agora, pôde fazer uma avaliação clara da situação.
— Enquanto bebam, vocês dois disseram que iam “ser heróis” ou parecido?
— Sim, senhor.
Mesmo que parecessem um pouco envergonhados, sua resposta a Zich era calma. Ele não era do tipo que zombava dos seus sonhos. O riso dos homens ficou ainda mais alto.
— Foi só isso?
— Sim. Mas essas pessoas de repente intervieram na nossa conversa, dizendo que éramos infantis e disseram que nos achávamos o máximo — contou Snoc, zangado.
— E como responderam?
— Nós os ignoramos, mas já que não respondemos, vieram até a nossa mesa para nos incomodar.
— Não, nós só queríamos ver as habilidades desses dois grandes heróis, mas eles simplesmente nos ignoraram. Mesmo que sejam incríveis, como podem ser tão rudes?
Eles continuaram acrescentando o “grande” para tirar onda com os dois. Zich já havia terminado de avaliar a situação: uns vagabundos sem o que fazer humilhando os outros sem motivo algum.
— Vocês dois foram os únicos que responderam errado aqui.
— Uau, nossos grandes heróis estão sendo repreendidos pelo mestre deles! Acho que é a primeira vez testemunhando uma visão tão maravilhosa!
— Olhem para mim. Vou mostrar o que deveriam ter feito.
Ele caminhou em direção aos quatro e os alcançou com apenas alguns passos.
— O quê? Veio pedir desculpas? Bem, isso é ótimo. A mulher que trouxe é uma gostosa. — O líder examinou Lyla da cabeça aos pés com olhos lascivos, fazendo ela franzir o cenho de desgosto — Se entregá-la, perdoaremos…
— Ei! — Zich deu um sorriso brilhante — As suas mães estão bem?
— O quê…?
— Estou perguntando se as suas mães estão bem. — Apagou o sorriso do rosto e olhou para eles da cabeça aos pés. Era óbvio para qualquer um que tinha más intenções — Eu quero saber se elas estão bem, ué. É que na última vez que as visitei, ficaram sem poder andar, então fiquei preocupado.
Os rostos dos quatro ficaram vermelhos de imediato.
— É o quê, maluco…!?
Mesmo que tivessem começado a xingá-lo, não ficou preocupado.
— Devem ser assim porque seus papais foram comprar cigarro e nunca mais voltaram. Olha o que a ausência paterna faz!
Ele não levantou a voz nem um pouco. Se não fosse suas falas, soara gentil e carinhoso. Entretanto, ficou claro que ninguém foi tocado pelo seu tom.
— Ou será que eles morreram? Ah, sim, nem precisa perguntar. Deve ter sido de desgosto, mesmo. Se fosse eu, teria… Hein? Por que eles deixaram vocês, em primeiro lugar? Talvez porque imaginavam a decepção que os filhos seriam? Que horror.
— Filho da puta! — Enfim, o líder não se aguentou e partiu para cima. Contudo, um meliante qualquer de uma rua aleatória nunca seria capaz de ferir Zich.
Pou!
Ele facilmente bloqueou o punho do homem com a palma da mão.
Pei!
E então, devolveu o soco no queixo do homem.
— Ugh!
Ele cuspiu sangue ao ter o pescoço virado e cair. Os outros utilizaram seus números correndo para Zich de uma só vez. Para ele, eram como tartarugas putas tentando mordê-lo.
Tut! Tut!
Sem mana, socou a barriga de dois.
— Hugh!
— Oop!
Eles vomitaram todo o álcool e comida que ingeriram, sem poder respirar.
— Eeck!
O último restante, ao ver seus parceiros caírem de uma vez, mudou de trajetória e correu em direção a Lyla para usá-la de refém. A multidão ao redor gritou quando o viram agitado. Para eles, ela aparentava estar em perigo. Mas Zich espanou as mãos como se a luta tivesse acabado.
“Vagabundo imbecil.”
Psssh!
— Arghhhh, caralhooo!
Um barulho penetrante e um grito doloroso. Devagar, Zich estalou a língua ao se virar e ver o homem na frente de Lyla expelindo fumaça de todo o corpo.