O tempo foi passando até que a noite se transformou em amanhecer. Mesmo aqueles que estavam bêbados da felicidade de sua vitória adormeceram um por um, diferente de uma certa pessoa perdida em pensamentos.
Glen Zenard estava bem acordado quando colocou os dedos cruzados perto dos lábios e olhou para a vela na frente dele.
— Zich…
Ele teve uma dor de cabeça forte, e sentiu como se estivesse perdido em um labirinto.
“O que ele é?”
Se lembrar do seu rosto não era difícil. Apesar de que fosse o primeiro encontro deles em pessoa, sua aparência era bastante familiar, diferente do comportamento.
“Ele não é nem Steelwall e nem Moore.”
Os dois lados que conhecia não combinavam com o atual Zich. De repente, sentiu um arrepio subindo pelas costas ao, dentro de muitas camadas de memórias, se recordar de um nome de muito tempo atrás.
“Brave…” Ele balançou a cabeça, se sentindo sufocado pelo nome. “Ele não é o Brave.”
Não foi escapismo. O Brave e o atual Zich eram muito diferentes.
“Não tem como.”
Ele empurrou essas memórias para o canto mais profundo da mente. Significava que ele não era nenhum dos três, e sim…
“Uma variável inesperada.”
Era o que, de tudo, Glen mais odiava. Embora tivesse enfrentado isso mais vezes do que podia contar, ainda o enfurecia toda vez que acontecia.
“E uma das grandes.”
Não havia nada que correspondesse ao que conhecia: o comportamento, onde e quando esteve na ativa, personalidade… Pelo que ouviu, o de agora aparentava ser bem mais forte do que o que conhecia desse período.
“Sem vigilância.”
Ele cobriu o rosto com as mãos. Nem precisou verificar, já que foi ele quem ordenou que não enviassem espiões a Zich Steelwall. Ele achou desnecessário.
“Por que depois de todo esse tempo? Ele nunca mudou nem uma vez antes!”
Além de sua importância e força, Zich Steelwall era uma existência muito conveniente, ao contrário daqueles que várias vezes saíam de suas expectativas e interrompiam seu “plano perfeito”, o irritando. Zich sempre progrediu de acordo com seus planos, em especial durante esse tempo em que deveria ficar preso aos Steelwalls.
Assim, se livrou da vigilância nos seus arredores, já que sempre precisava de mais ajuda em outros assuntos. Acreditava que era melhor fazer com que seus subordinados fizessem outra coisa e enviá-los na época em que deixasse a sua família. Agora, estava pagando o preço.
“Porra!” Bateu no chão, aborrecido, e um buraco se formou. “Se ele se mover da maneira que quiser…”
Glen, que viveu “centenas ou milhares” de vezes mais do que outras pessoas e recebeu tantas oportunidades quanto possível, tremeu ao pensar na força esmagadora de Zich. Quando tudo ia de acordo com o planejado, ele sempre era um enorme obstáculo. Por causa disso, houve casos em que as coisas falharam mesmo com os cálculos perfeitos e fortes aliados. E se Zich mudasse por uma causa desconhecida…?
“É um pesadelo. De novo, ele, no mínimo, vai se tornar um dos mais fortes do mundo… Devo matá-lo?”
Glen sabia que o talento dele não deveria ter florescido por completo ainda. Se o matasse agora, havia uma baixa chance de que mais mudanças fossem feitas. Mas, no fim, apagou o pensamento da mente.
“O que vou fazer depois? É melhor se eu observar como ele mudará, por ora.”
Então, poderia planejar o futuro e fazer um plano ainda melhor.
“Também devo descobrir por que ele mudou. Ele disse que foi por uma pessoa. Quem foi o filho da puta?”
Por volta desta época, ele deveria estar fugindo da família com ressentimento e suportando intensa turbulência e sofrimento a ponto de trilhar um caminho que somente buscava força.
“Eu devo encontrar esse desgraçado não importa o que aconteça!”
Era irônico, porque “a pessoa” mencionada era Glen Zenard antes da regressão de Zich. Em outras palavras, estava enfurecido com seu eu passado. Entretanto, a raiva durou por um momento, e ele se perdeu em pensamentos de novo.
“Quem devo enviar para espioná-lo?”
Todos sob suas forças tinham sua própria missão para completar. Quando terminavam, havia outra, as quais não diminuiriam até que começasse a era vermelha.
“Acho que vou cancelar algumas… Mas quantos destinos mudariam apenas com essa decisão? Pensando nisso, eu também deveria descobrir sobre a mudança da santa.”
Ela não mudou tanto quanto Zich, e foi sutil. Contudo, ele não gostava do rumo da tal mudança. Parecia que Zich a havia influenciado. Tinha que se aprofundar mais.
“A Aine tem que ser pura. Não acredito que nem eles sabem disso! Aqueles velhos burros não ajudam!”
Chamando o primeiro nome de Lubella, cerrou os dentes ao pensar em Weig e Twen. Ele não se assemelhava mais a um cavaleiro honorário perfeito.
“Vou tomar algumas medidas em resposta à perda de força dos bellids.”
Tudo havia mudado: Porti deveria ter sido sacrificado para criarem um exército de mortos-vivos; a base norte dos bellids deveria existir, assim como a Pirâmide dos Penados, que deveria sido feita lá. Foi um dano maciço aos seus planos. Ele não conseguia nem imaginar o futuro, já que tanta coisa mudou, e seus olhos ficaram cansados. Apesar das altas proezas físicas, ficou mentalmente exausto com eventos complicados que ele nunca imaginara acontecendo um após o outro.
“Eu deveria dormir por enquanto. Depois que essa festa ridícula terminar, vou planejar umas coisas.”
Já que não era um problema fácil de resolver, decidiu adiar. Ele se deitou na cama e puxou o cobertor. Então, pensou na pergunta do livro que Zich fez do nada.
“Foi algo como: ‘se renascer, tente ser melhor’?”
Depois de repetir essa fala algumas vezes, se mexeu repetidamente até uma posição mais confortável.
“Eu não a conheço de jeito nenhum. Ele só falou por falar?”
Então começou a dormir após se mexer por minutos graças ao estresse.
Os karuwimans espalharam a notícia de que exterminaram todo o ramo norte bellid, o que não apenas aumentou a sua reputação e fez com que as pessoas soubessem que os bellids estavam enfraquecidos, mas também enviou um aviso a eles. Os karuwimans ficaram muito felizes e orgulhosos.
Contudo, Zich, que desempenhou o papel mais crítico na batalha, não se demorou nesses sentimentos e se preparou para sair com os dois servos. A esplêndida comemoração da vitória terminara. Ele não participou, todavia, recebeu uma belíssima compensação monetária.
— Senhor Zich, você realmente vem e vai como o vento — disse Weig.
— Por que não vai depois de descansar um pouco aqui? — perguntou Lubella.
Hans e Snoc olharam de lado. Seria ótimo ficar no templo deles um pouco mais, no entanto, não esperavam que ele aceitasse a oferta.
— Descansamos o suficiente.
Os dois servos voltaram os olhos para a frente. Nem estavam mais desapontados. Lubella e Weig também esperavam aquilo, então assentiram.
— Já que ganhou o título de cavaleiro sagrado honorário, pare nos nossos templos enquanto viaja. Farão o possível para apoiá-lo.
— Além disso, algumas ordens serão dadas a você por eles às vezes.
— Não são ooordens, mas pedidos de ajuda. Você sabia disso, mas ainda aceitou o título, certo?
— Hehehe, sim.
— Mas não solicitaremos sua ajuda de imediato. Como já fez muita coisa por nós, não será certo pedirmos seu apoio tão cedo.
— Não se preocupe. Mesmo que peçam, não aceitarei com facilidade.
— Claro, claro. Te conheço muito bem. Tirando Snoc e Hans, tenho certeza de que sou a que mais sabe da sua cara de pau.
Hans e Snoc estavam prestes a concordar, mas pararam rapidamente, suando frio. Não podiam acreditar que a santa armaria uma armadilha para eles. Ela, após vê-los sérios e perturbados, deu um sorriso estranho. Também não tinha nenhum desejo de fazê-los cair e insultar Zich por acidente.
— Foi… uma piada.
Porém, a risada brilhante dele indicou que as palavras não tiveram impacto.
— Tudo bem, vamos apenas dizer que é verdade. Mas, independentemente disso, não muda o fato de que estes dois vão passar pelo inferno por um tempo.
Vendo-os desesperados e em silêncio, ela teve pena. Weig sorriu e voltou sua atenção para Zich.
— Posso perguntar aonde está indo?
— Bem, sei lá. Se eu for andando, uma hora acabo em algum canto, não?
— Às vezes tenho ciúmes da sua liberdade.
— Se quiser vir junto, me chame a qualquer momento. Vou te dar todas as gorjetas que eu conseguir, sem restrições.
— Se eu deixar os karuwimans, entrarei em contato na hora.
Os dois apertaram as mãos. Depois de se despedir de Lubella, se virou. Hans e Snoc se despediram e o seguiram. Como da última vez, ele não olhou para trás.
À medida que o céu ficasse mais escuro, a sombra do templo branco se movia como se fizesse um caminho. E, ao contrário do que disse, tinha um destino em mente.
“Eu tenho que encontrá-la.”
Na batalha, sentiu falta do seu poder. Se mais tempo passasse, o problema seria resolvido, entretanto, mesmo que fosse um momento pacífico antes da era vermelha, vários eventos estavam acontecendo ao redor do mundo, e o seu jeito e natureza áspera tornaram mais fácil se envolver em conflitos. Por essa razão, sentiu que não podia mais esperar.
Enfim, pensou em uma certa espada. Ao contrário das prateadas comuns, a espada demoníaca Torniumera toda negra. Antes de regredir, com seus quatro subordinados, ela era a parceira mais íntima de Zich Moore, o Lorde Demônio da Força.
“Se eu a achar, vou poder cobrir a lacuna de poder de alguma forma.”
Pensando na força dela, pôs mais força nas pernas e avançou.