Zich caminhou por um corredor acarpetado.
Como esperado de uma família nobre, havia decorações luxuosas em ambos os lados da parede. No entanto, não correspondiam ao status de um conde. Parecia que o proprietário reduziu o número ao mínimo, e todas essas coisas sugeriam o caráter do mestre do castelo.
O filho mais velho não se importava com as decorações ao seu redor e estava perdido em pensamentos.
“É o meu pai?” Alguém que havia esquecido depois de deixar a família. “Ele provavelmente quer falar comigo sobre como eu bati naquele servo e cavaleiro.”
Considerando a ordem dos eventos, não teve culpa. Os machucou um pouco mais do que o necessário, mas se a sua família considerar a forma de tratamento recebida, estava no lado certo. Mereciam ser decapitados.
“Teria sido o normal de se fazer.”
Infelizmente, não mostrariam o mínimo do que era “normal” para ele. No passado, foi a razão pela qual os deixou.
Halt!
Parou diante de uma porta com uma gravura do rosto feroz de um lobo. Ao lado, soldados de espadas.
Inclinou a cabeça para eles.
Pei! Pei! Pei!
Um dos soldados bateu na porta.
— Meu senhor, Sir Zich chegou.
— Deixem entrar. — Uma voz baixa e grave saiu de dentro.
— Por favor, entre, senhor.
O soldado voltou ao seu local original e Zich olhou para a porta por um momento.
“Lembro-me de ter dificuldade em passar por esta porta.”
Não conseguia lembrar bem do passado. Era, basicamente, uma pessoa diferente agora e não tinha o menor medo quando abriu a porta.
A primeira figura vista foi um velho de barba prateada feito arame, sentado em uma grande cadeira. Os olhos grandes e os lábios rígidos do homem se destacaram, e sabia que este homem era seu pai e o mestre do castelo: Conde Steelwall.
Não eram os únicos ali. O cavaleiro Byner e o serviçal também estavam ao lado do conde, curados e bem, como se tivessem usado uma poção de cura cara ou o tratamento de um curandeiro profissional.
“E…”
Haviam outros quatro.
“Minha mãe e meu irmão mais novo.”
Mesmo com as linhas tênues ao redor dos olhos e da boca, sua mãe, Florel Steelwall, era uma beldade. E segurando os braços dela estava seu irmão mais novo, Greig Steelwall, com seu cabelo castanho-avermelhado e rosto liso. Era por causa deles que até um servo tratou-o daquela maneira.
“Mas não posso apenas culpá-los,”, focou seu olhar no conde de novo, “já que tudo isso não teria acontecido sem a aprovação dele.
O mestre ditava como sua família operava, o que significava que o mau tratamento era o que seu pai também queria.
Os olhos penetrantes do conde o olharam. Se fosse o Zich original, teria baixado o olhar e dado uma saudação educada. Mas era diferente agora. Se endireitou e continuou a encontrar os olhos do patriarca.
Twitch!
As sobrancelhas dele se moveram.
— Você esqueceu como dizer uma saudação básica?
Sua voz era calma, porém raivosa. Se fosse o “Lorde Demônio do Poder”, teria rido da raiva dele e esmagado a sua cabeça na mesa. Surpreendentemente, inclinou a sua — apenas uma ligeira inclinação, todavia.
O conde moveu ainda mais as sobrancelhas.
“Ele deve estar aborrecido.”
Zich parou de se mexer. Pensou em estragar tudo como teria feito como o Lorde Demônio, mas decidiu ir contra. Era impossível fazer isso com o corpo que tinha agora. Por centenas de anos, os Steelwalls foram uma família distinta que protegia o reino de ataques estrangeiros. Sua força era uma das maiores. Além disso, ainda precisava decidir como viver sua nova vida. Não queria estragar as coisas desde o início. Claro, os padrões dele para “estragar tudo” diferiam da norma, mas ainda assim.
— Olhe para ele, meu senhor. Esta criança não mudou seus modos. Eu não te disse? Ele nem vai mais mostrar a etiqueta básica. Esta criança sempre desrespeitou sua mãe e seu irmão, e agora está desrespeitando seu próprio pai! Até onde vai sua audácia?!
“Uau, olha ela.”
Observando sua mãe, não, sua madrasta, pingando lágrimas falsas, riu dentro da mente.
Greig acrescentou em seus comentários: — Pai e mãe, meu irmão deve estar um pouco cansado. Tenho certeza de que ele realmente não tem más intenções.
“Ai, ai.”
Teve vontade de cair na gargalhada com a resposta pretensiosa de seu irmão.
A família era complicada, mas podia ser explicada de algumas maneiras simples. A atual condessa entrou após a morte de sua mãe, e seu meio-irmão nasceu depois. Em suma, desejava que seu próprio filho se tornasse o próximo herdeiro em vez do mais velho.
“Mesmo em uma novel de terceira categoria, nada disso seria tão clichê.”
Mas era realidade para Zich.
— E o que você tem a dizer sobre isso? — A voz do conde ficou mais áspera, possivelmente como resultado das palavras de Greig. No entanto, Zich não tinha intenção de acalmar a raiva de seu pai.
— O que quer que eu diga? — Nem tentou esconder seu tom rebelde.
Todos, inclusive o patriarca, ficaram surpresos. Sempre pensaram que Zich Steelwall era uma pessoa tímida especialmente obediente ao pai, mas essa tinha sido a maneira de Zich clamar por atenção e ajuda dele em seu estado de abandono.
“Mas não importa mais para mim.”
Bang!
Bateu na mesa com o punho. Todos na sala se encolheram com a raiva do Steelwall, mas Zich permaneceu calmo.
— Suas maneiras eram a única coisa satisfatória em você, mas agora está jogando fora sua única graça salvadora?! Como vai herdar o nome da família com esse tipo de mentalidade podre?!
— Você está mesmo planejando me tornar o herdeiro?
— O quê? — Ficou sem palavras depois de ouvir a resposta inesperada do filho.
Todos na sala trocaram olhares de choque.
— Claro! Afinal, você é o mais velho! É natural para mim nomeá-lo como herdeiro, desde que você não tenha falhas!
O descontentamento na voz do conde podia ser sentido, embora parecesse estar do lado do filho. Até acrescentou a parte sobre nenhuma falha.
“E ele vai escolher que tipo de falha é essa.”
Com movimentos exagerados, dobrou as costas.
— Pensar que nosso respeitoso pai era tão justo em seus pensamentos. Ao ouvir isso, seu filho carente sente como se voasse nos céus.
Elogio extremo equivalia a sarcasmo, e o rosto do conde ficou vermelho. Mas não foi ele quem reagiu primeiro.
— Como pode mostrar tal descaramento em relação ao seu pai?! Peça desculpas agora mesmo! — gritou a madrasta.
— Como agi com grosseria com meu pai, a quem admiro de todo o coração? Deve ter um mal-entendido — para completar, acrescentou outra palavra —, mãe.
Ela, que ia continuar, se calou. Com os olhos arregalados, moveu os olhos de um lado para o outro.
— Mãe? Foi isso que você disse?
— Sim, pai. Eu sempre usei o termo “condessa”, mas isso não soa muito distante? Você também não acha, mãe?
Toda a base de expressão dela quebrou. Parecia que havia um inseto nojento à frente, mas ele continuou: — Mãe, você está pálida. Mãe, você está dolorida em algum lugar? Mãe, devo chamar o médico?
Ela estremecia cada vez que era chamada de “mãe” por ele. Como se estivesse comendo uma fruta amarga, suas bochechas continuavam se contorcendo, mas ele achou graça nisso e continuou a incluir o “mãe” em cada sentença. Ela sabia que era de propósito, entretanto não podia dizer nada. Afinal, também deveria ser seu filho, e não havia como impedi-lo de chamá-la assim.
— E-eu estou bem. Não estou com nenhuma dor.
— Minha queridíssima mãe, estou aliviado que você esteja bem. Mas, mãe, por precaução, faça um exame médico. Acho que não ficarei em paz até a senhora fazer, mãe.
Cof!
Como se algo estivesse preso em sua garganta, começou a ficar pálida. Então, o conde fez uma falsa tosse e acabou com as suas provocações .
— Você sabe por que eu te chamei aqui hoje? — Examinou a expressão do filho, pois parecia diferente do habitual.
— Talvez tenha algo a ver com aqueles dois, certo? — Apontou para o servo e o cavaleiro.
— Sim. Sobre o que você fez com…
— Peço perdão por minhas ações, pai. — Inclinou a cabeça. Seu pedido de desculpas educado contrastava completamente com sua atitude rebelde de um momento atrás.
Ficou sem palavras com a súbita mudança de atitude do filho — e depois ainda mais.
— Desculpe por incomodá-lo por não ter limpado minha bagunça do jeito certo. De agora em diante, cuidarei de assuntos como este com mais propriedade. — Começou a se mover, e todos olharam para ele.
Estava indo em direção ao canto da sala onde uma espada decorativa estava pendurada com um “X” marcado em cima.
Swing!
O esperado de uma família militar: até a ponta de uma espada decorativa era afiada.
Se virou enquanto segurava a espada.
Clang! Clang!
Byner e Greig se posicionaram na frente do conde e da condessa com suas lâminas levantadas.
— O que vocês estão fazendo?! — Enquanto gritava, o rosto do pai estava vermelho feito um tomate. — Eu não disse? Vou limpar minha bagunça.
— O que você quer dizer com bagunça?!
Após inclinar sua espada em direção ao chão, apontou para o servo com a mão livre.
— Não é óbvio? Eu tenho que cortar o pescoço de um criado que se atreve a insultar um nobre.
— O quê? — Os olhos de seu pai estavam vermelhos, mas Zich ergueu a cabeça, confiante.
— Hã? Não foi por isso que você me chamou? Achei que você tinha me chamado para acabar com os caras que se atreveram a insultar o grande legítimo herdeiro de sangue Steelwall. — Incluiu Byner, que agora olhava para ele, incrédulo. — Já lidei com eles pessoalmente, então não queria tornar essa situação ainda maior, mas acho que não pode ser ajudado se você não estiver satisfeito. Agora que penso nisso, minha punição foi muito leve. Quero dizer, não são eles que se atreveram a insultar o legítimo herdeiro de sangue? Pai, por favor, não se preocupe. Vou cortar suas cabeças e pendurá-las na frente das muralhas do castelo.