Capítulo 240
Lehain (11)
Exid era uma armadura mágica extravagante exclusiva do Reino de Shimuin, criada a partir de oricalco. Embora Eugene tivesse visto Dior e a princesa Scalia vestindo Exid no campo de neve, aquela que o comandante dos Cavaleiros da Maré Violenta adornava era realmente condizente com seu status. A Exid de Ortus era bem diferente da armadura que os dois usavam.
Uma grande gravura chamou a atenção de Eugene, situada no centro da placa peitoral de Ortus. O emblema simbolizava os Cavaleiros da Maré Violenta, caracterizados por ondas rodopiantes e um redemoinho. Ao contrário da armadura da princesa Scalia, o símbolo da família real não foi gravado na armadura de Ortus. No entanto, Eugene notou algo muito mais precioso no centro do vórtice, uma joia vermelha do tamanho de um polegar. Mas não era como se Eugene a tivesse reconhecido, porque estava interessado. Em vez disso, a fama da joia era inegável, assim como a armadura de Ortus.
A revelação de que a joia era, na verdade, um Coração de Dragão foi surpreendente. Apesar de não ser formado a partir de um Coração de Dragão inteiro como os renomados artefatos Vladmir ou Akasha, ele ainda continha a essência da criatura lendária, tornando-o um objeto de imenso poder e significado mítico. Naturalmente, Ortus apreciava sua Exid, reconhecendo-a como um tesouro inestimável.
No entanto, ele sabia que não era dele para reivindicar sozinho. Em vez disso, era um dos tesouros nacionais de Shimuin, uma fonte de orgulho e força para seu povo. Além da armadura premiada, havia inúmeras armas e Exids criadas usando partes do Coração de Dragão.
O Coração de Dragão era um artefato sagrado com um passado histórico. Suas origens estavam ligadas ao Dragão do Mar, o lendário protetor dos Mares do Sul e Shimuin. Por muitos anos, o Dragão do Mar vigiou a nação e o mar, defendendo-os contra todos os tipos de ameaças.
No entanto, na batalha épica contra os Reis Demônios que ocorreu três séculos antes, a criatura sofreu ferimentos mortais. Apesar de seu incrível poder, o Dragão do Mar acabou sendo incapaz de superar as forças avassaladoras dispostas contra ele. Seu último ato foi retornar ao mar que ele guardou por tanto tempo antes de falecer. Em seu rastro, ele deixou para trás seus restos mortais, incluindo o precioso Coração de Dragão, como um presente para a família real de Shimuin.
“Ossos de dragão, escamas e coração, embora apenas um fragmento, foram usados na fabricação desta armadura. Tinha a reputação de ser a melhor armadura em todo o continente, e sua aparência certamente faz jus à sua reputação”, concluiu Eugene.
Eugene ficou maravilhado ao contemplar a armadura de perto pela primeira vez. Ele não podia deixar de imaginar a imensa força que um cavaleiro habilidoso possuiria se usasse uma armadura tão magnífica.
Claro, isso não queria dizer que Ortus não merecia uma armadura tão magnífica. Embora Eugene não pudesse ter certeza até que eles se cruzaram, pela atmosfera que ele exalava, Ortus parecia forte o suficiente para ser chamado de um dos melhores cavaleiros do continente.
Ortus perguntou:
— Você está tentando avaliar minhas habilidades?
Apesar de sua estatura alta, Ortus tinha uma constituição esguia que exalava uma sensação de precisão e agudeza, como uma lâmina finamente trabalhada. Seu cabelo estava cuidadosamente repartido ao meio, sua tez era clara e havia olheiras perceptíveis sob seus olhos. Tirando suas habilidades, ele parecia bastante deprimido.
Eugene rapidamente se desculpou, dizendo:
— Desculpe se pareci desrespeitoso. Não era minha intenção. Suponho que foi uma reação instintiva por estar na presença do renomado Sir Ortus Hyman.
— De jeito nenhum. É natural que alguém seja julgado quando é bem conhecido. Então, qual é a sua opinião sobre mim? — Ortus perguntou.
— Não sei. Acho que teria uma ideia melhor depois de cruzar espadas do que da primeira impressão de alguém. — Disse Eugene.
— Isso soa como uma provocação. Ah, não me interpretem mal. Eu não estou ofendido. Senti isso ontem também, mas parece ser a sua personalidade. — Respondeu Ortus com uma cara séria.
Ele realmente não estava ofendido? Eugene encarou Ortus diretamente no rosto.
— Ah. Você deve ter ficado surpreso desde que cheguei tão de repente. — Comentou Ortus.
— Sinceramente, sim. — Respondeu Eugene.
— Entendo que meu filho e a princesa Scalia ficaram em dívida com você.
Eugene lembrou o que havia aprendido com Cyan e Ciel. Foi inteiramente devido às ações travessas da Rainha dos Demônios da Noite que a Princesa Scalia estava em um estado confuso e furioso. Infelizmente, eles não puderam informar Scalia desse fato. Eugene sabia que poderia deixar o assunto passar, mas era um assunto diferente para Scalia. Como uma princesa de Shimuin, se ela rotulasse a pegadinha de Noir Giabella como uma emboscada, isso poderia se tornar um grande incômodo.
Cyan e Ciel passaram um tempo considerável pensando em como explicar a situação para a princesa Scalia. No entanto, para seu alívio, eles não tiveram que inventar uma desculpa. Ao acordar, a princesa Scalia e Dior se convenceram de que haviam sido envenenados durante a perseguição aos mercenários Cães Pretos. O veneno os fez experimentar um estado temporário de delírio e raiva, provavelmente de natureza mágica. Felizmente, suas Exids neutralizaram o veneno depois de um tempo, mas nesse meio tempo, eles perderam a cabeça brevemente e atacaram o grupo de Eugene. Por fim, foram dominados e perderam a consciência.
A verdade por trás do incidente com a princesa Scalia e Dior era bem diferente do que acreditavam. Na verdade, a ilusão deles era um truque de Noir Giabella, que havia usado sua hipnose para manipular suas memórias. Com seu Olho Demoníaco da Fantasia, ela poderia facilmente manipular a mente humana e fazê-los acreditar em qualquer coisa que ela quisesse. Graças às suas habilidades, a princesa Scalia e Dior nem se lembravam de ter conhecido Eugene. Apesar da estranha reviravolta nos acontecimentos, Eugene ficou aliviado por não ter que inventar uma desculpa para o comportamento deles.
— Ouvi da princesa e do meu filho que eles foram subjugados sem serem feridos enquanto deliravam graças aos seus talentos. — Disse Ortus.
Eugene rapidamente inventou uma desculpa.
— Bem… Pode ter sido devido à confusão deles, mas não acho que foram capazes de mostrar suas verdadeiras capacidades…
Ortus não parecia acreditar na tentativa de Eugene de minimizar suas habilidades em subjugar a princesa Scalia e Dior.
— Você não precisa tentar proteger o orgulho do meu filho. — Disse ele. — Eu vi a luta ontem. Mesmo que Dior estivesse em seu juízo perfeito e dando tudo de si, ele não seria capaz de vencê-lo, mesmo que fossem dez dele.
Ortus falou de maneira leve. Eugene notou uma ruga fugaz entre as sobrancelhas de Ortus quando mencionou o nome de seu filho. Eugene não era estranho a essa expressão.
“Acho que todos os pais radicais são parecidos.”
Theonis usava uma expressão semelhante quando falava sobre Eward. Eugene tinha uma ideia aproximada da situação com Dior, mas não podia deixar de sentir curiosidade. Mesmo que Ortus estivesse falando sobre seu próprio filho, ele parecia o subestimar extremamente. No entanto, Eugene sabia que Dior não era desleixado, ele conseguiu bloquear a espada da princesa Scalia e, embora não estivesse no mesmo nível de Eugene, ainda era um indivíduo talentoso por si só.
“Ou os padrões de seu pai são muito altos?” Eugene não pôde deixar de se perguntar se Ortus havia estabelecido um padrão muito alto para seu filho. Dior era apenas dois anos mais velho que Eugene e, embora a idade não significasse necessariamente força, era possível que Ortus tivesse colocado grandes expectativas em seu filho para se tornar um cavaleiro que pudesse representar seu país.
— Vamos parar de falar do meu filho fraco. — Disse Ortus, embora tenha sido ele quem tocou no assunto. — Sobre o… Acidente com a princesa Scalia e meu filho. Eu não relatei isso a Sua Majestade. A princesa Scalia também não queria.
Quando Noir Giabella possuiu a princesa Scalia, ela conversou com Eugene usando Scalia como meio. A princesa Scalia era a vice-comandante dos Cavaleiros da Maré Violenta, conhecida como Princesa Cavaleira, e era considerada um dos símbolos de Shimuin, o Reino dos Cavaleiros.
Scalia percebeu desde cedo que suas habilidades eram inadequadas para representar o Reino dos Cavaleiros. Apesar dessa constatação, ela se esforçou ao máximo, treinando incansavelmente e se esforçando para atender às expectativas das pessoas ao seu redor. No entanto, uma sensação de desespero gradualmente invadiu seu coração quando ela não conseguiu ver nenhuma melhora significativa. Foi essa fraqueza que Noir Giabella foi capaz de explorar, e ela facilmente ganhou o controle sobre Scalia.
É por isso que os Demônios da Noite eram tão horríveis. Se alguém tivesse escuridão em seu coração e não estivesse satisfeito com sua realidade, cairia naturalmente em um sonho. Os Demônios da Noite invadiram seus sonhos e os envolveram com malícia e ganância.
Agindo por conta própria, a princesa Scalia tomou a decisão de eliminar os Mercenários Cães Pretos, e Dior não teve escolha a não ser segui-la como sua subordinada. Suas táticas brutais de matá-los foram uma liberação para a raiva e o estresse que se acumularam dentro dela ao longo do tempo. A causa desse estresse era o medo da insônia, que a impedia de descansar à noite, levando a uma inclinação natural para a crueldade.
Tudo estava bem até então. No entanto, as coisas tomaram um rumo diferente quando a identidade de Scalia foi trazida à tona. Como vice-comandante dos Cavaleiros da Maré Violenta, uma organização renomada como uma das mais fortes do continente, como pode ser que a princesa Cavaleira tenha sido envenenada durante uma missão para matar mercenários, perdeu o controle de si mesma e acabou indiscriminadamente balançando sua espada?
Se esse incidente fosse exposto ao público, traria imensa vergonha para ela, para os cavaleiros e para o Reino de Shimuin. Portanto, era natural que a princesa Scalia quisesse encobrir e Ortus quisesse investigar o assunto depois de permitir suas ações inesperadas.
— Entendo o que está perguntando, senhor Ortus. No entanto, me separei da princesa Scalia no meio de nossa jornada. — Disse Eugene.
— Ouvi dos gêmeos Lionheart que a princesa já pediu a compreensão deles. E se eu perguntar mais uma vez, você não vai retransmitir a eles o que eu disse a você também? — Respondeu Ortus antes de olhar para fora das muralhas. Um pequeno exército de monstros persistia contra um grupo de cavaleiros. Ortus estalou a língua enquanto olhava para a cena com olhos reprovadores. — Mesmo se você juntar um monte de coelhos, eles ainda serão coelhos.
— O quê? — Disse Eugene.
— Você já deve saber. Os cavaleiros que lutam ali são os Cavaleiros Guardiões da Aliança Anti-Demônios. Eles são um grupo formado por cavaleiros que ganharam alguma reputação em seus respectivos pequenos países. Embora eles possam ser muitos, apenas um punhado é verdadeiramente habilidoso, disse Ortus antes de apontar o dedo para um dos cavaleiros. — Está vendo aquele homem parado ali? Regilas, o Comandante dos Cavaleiros Guardiões. O que você acha das habilidades dele? Eu garanto a você que ele não poderia estar confiante em dominar qualquer um dos cavaleiros pertencentes aos Cavaleiros Leão Branco.
— Bem…
— Honestamente, não vejo por que você está hesitante. Os Cavaleiros Leão Branco são um grupo de prestígio reconhecido em todo o continente. Cavaleiros habilidosos de todos os cantos do mundo desejam se juntar a nós. Mas e os Cavaleiros Guardiões? Suas habilidades são escassas na melhor das hipóteses. Eles podem parecer impressionantes em suas pequenas nações, mas não passam de uma miscelânea de cavaleiros medíocres. — As palavras desdenhosas de Ortus pairaram no ar, e Eugene permaneceu em silêncio, absorvendo suas palavras. Depois de um momento, Ortus limpou a garganta e continuou, sua expressão se suavizando ligeiramente. — Mostrei-lhe uma aparência vergonhosa. Espero que entenda. Não é como se eu não gostasse deles como cavaleiros. No entanto, estou irritado com sua crueza.
— O que você quer dizer com crueza? — Perguntou Eugene.
Ortus fez uma pergunta em resposta.
— Qual é o motivo de realizar esta Marcha dos Cavaleiros? Por que eu vim para esta terra setentrional do sul quente com os Cavaleiros da Maré Violenta e Sua Majestade o Rei? Não é porque a Aliança Anti-Demônio tentou mostrar o pouco poder que tinha na fronteira de Helmuth?
De fato. Eugene assentiu. Ortus não estava nada errado, e o Rei Demônio do Encarceramento também havia alertado sobre isso. No entanto, a responsabilidade não poderia ser colocada inteiramente na Aliança Anti-Demônio.
A Aliança Anti-Demônios agiu com tanta ousadia, porque os Paladinos de Yuras sempre agiram com os Cavaleiros Guardiões. Por muito tempo, eles permaneceram posicionados perto da fronteira de Helmuth, pedindo a conquista de Helmuth e a morte dos Reis Demônios.
— O que me faz desgostar ainda mais deles é que, embora tenhamos nos dado ao trabalho de nos reunir aqui por causa deles… Eles não estão demonstrando nenhum remorso. Eles são fracos, mas sem vergonha também. Eu desprezo isso. E assim que a Marcha dos Cavaleiros terminar, eles vão morder as tropas posicionadas perto da fronteira como se nada tivesse acontecido, se escondendo atrás do Império Sagrado. Entendo o motivo, já que a Aliança Anti-Demônio é praticamente tributária do Império Sagrado, mas isso não muda meu desprezo por eles. — Explicou Ortus.
— É mesmo? — Eugene continuou. Ortus parecia incrivelmente orgulhoso, talvez por ser a figura representativa do Reino dos Cavaleiros.
“Eu não gosto desses tipos.” Eugene estalou a língua mentalmente.
Desde sua vida passada, Eugene nunca nutriu qualquer afeição por aqueles cavaleiros que agiam com condescendência. Então assumiu um tom tortuoso em sua próxima pergunta.
— Você veio até mim para falar sobre cavaleiros fortes e excelentes?
Ortus olhou para Eugene em silêncio por um momento, então balançou a cabeça.
— Vim aqui fazer uma proposta.
— Qual? — Perguntou Eugene.
— Tenho certeza de que você já sabe disso, mas os participantes da Marcha dos Cavaleiros estão escondendo vários objetivos derivados do interesse próprio além de seu propósito original. Claro, não pretendo menosprezar o objetivo original da Marcha dos Cavaleiros. O Rei Demônio do Encarceramento veio para uma visita, e Sir Moron Ruhr, o grande herói, está atualmente hospedado nesta fortaleza. — Disse Ortus enquanto voltava seu olhar para o castelo. — Sir Moron está conversando com os Cavaleiros da família Lionheart, mas durante a Marcha dos Cavaleiros, cavaleiros de outras nações também terão suas chances. Os líderes do continente também discutirão o futuro do mundo com Sir Moron. Acredito que o treinamento será infrutífero, mas vale a pena descobrir a vontade do Rei Demônio do Encarceramento e conversar com Sir Moron.
Ortus parou por um momento, então continuou.
— Deixe-me ir direto ao ponto. Meu objetivo aqui era propor que você viesse a Shimuin.
— Você não parece ter nenhuma intenção de fazê-lo agora. — Respondeu Eugene.
— Se você não tivesse sido escolhido pela Espada Sagrada, eu teria lhe prometido muitas coisas como enviado de Sua Majestade, o Rei. Não, mesmo sem eu ter que fazer isso, Sua Majestade teria intensificado pessoalmente. — Disse Ortus.
Isso não era novidade para Eugene. Durante seu tempo em Aroth, Eugene recebeu uma proposta semelhante de Honein Abram, o príncipe herdeiro de Aroth, e Trempel Vizardo, comandante dos magos da corte de Aroth.
Como filho adotivo do patriarca da família Lionheart, era impossível para Eugene ser o próximo, especialmente em uma família que dava grande ênfase à legitimidade. No entanto, Eugene tinha todas as qualidades e habilidades necessárias para liderar a família com distinção. Por causa disso, alguns que não estavam familiarizados com ele assumiram que ele estava insatisfeito com sua posição atual e ofereceram-lhe atrativos incentivos para renunciar a sua afiliação com a família Lionheart.
— Já que você foi escolhido pela Espada Sagrada, não acho que as riquezas que podemos lhe oferecer interessariam muito. Então quero fazer outra proposta. Não, ao contrário, acho que seria mais apropriado chamar isso de pedido. — Perguntou Ortus.
— E o que seria? — Disse Eugene.
— A Princesa Abissal, Iris. — Respondeu Ortus com uma carranca. — Acho que esse nome deve ser familiar.
— Você não está sugerindo que Iris se voltou para a pirataria porque a Senhora Carmen e eu não conseguimos eliminá-la naquela época, está? — Retorquiu Eugene, sua expressão se transformando em uma carranca. Eugene tinha respeitado Ortus até agora, mas se continuasse a falar tais bobagens, ele perderia rapidamente qualquer resquício de respeito que ainda lhe restava.
— E eu diria uma coisa tão descarada? — Disse Ortus. Felizmente, ele não era um maldito sem vergonha. Balançou a cabeça violentamente, genuinamente perturbado pela acusação de Eugene. — Não é responsabilidade de ninguém que a Princesa Abissal tenha escapado de Kiehl. Embora ela não se compare com a Lâmina do Encarceramento, a Rainha dos Demônios da Noite ou o Dragão Negro, ela ainda é um dos monstros que sobreviveram à guerra de trezentos anos atrás.
— Bem, sim, embora agora ela tenha recorrido à pirataria mesquinha. — Disse Eugene.
— Não é… Mesquinha. — A carranca de Ortus se aprofundou um pouco. — Ela é um monstro poderoso. O mar é amplo e há muitos piratas, mas ela conseguiu controlar a maioria dos piratas do Mar do Sul em apenas um ano. No começo, ela tinha apenas um navio pirata surrado, mas agora tem dezenas de organizações piratas sob sua proteção. Eles se autodenominam os Piratas da Fúria.
Era realmente nessa medida? Eugene ficou em estado de perplexidade enquanto olhava para Ortus.
Ortus continuou explicando:
— À medida que ganhava mais poder, a Princesa Abissal se tornava mais ousada em sua pirataria. Ela começou a visar grupos mercantes maiores e conquistou vários navios comerciais. Tornou-se um problema significativo. Tentamos enviar várias expedições para detê-la, mas foi inútil. Seu Olho Demoníaco permite que ela escape facilmente.
— Como alguém que já a enfrentou antes, posso dizer que ela está fugindo quando não precisa. Se a princesa Rakshasa decidisse enfrentar a expedição, toda a frota teria sido enterrada no fundo do oceano. — Disse Eugene.
— Eu também acho. Não acho que a Princesa Abissal queira se tornar hostil abertamente com o Reino Shimuin.
— Ela já não fez isso atacando os mercadores e os navios mercantes? — Perguntou Eugene.
Ortus respondeu com uma expressão contemplativa.
— Não necessariamente. A Princesa Abissal mostrou… Flexibilidade em suas ações. Embora ataque e ocupe navios, ela não saqueia tudo. Ela cobra um preço alto e muitas vezes deixa os navios partirem. Somente no caso de elfos serem transportados como escravos ela os rouba. Esse tipo de comportamento não é incomum entre piratas poderosos no Mar do Sul. É considerado habitual.
— Sei um pouco sobre isso. Eles cobram pedágio e oferecem parte como suborno. Não é mesmo? Para ser honesto, a família real também deve estar recebendo subornos da princesa Rakshasa. — Disse Eugene.
Ortus ficou sem palavras. Depois de olhar para Eugene por um momento, ele assentiu com um longo suspiro.
— Você está certo. Mesmo antes de se tornar tão poderosa quanto agora, ela subornou os superiores da Marinha. Claro, riquezas ainda maiores acabaram nas mãos da família real.
Além de impor impostos e tarifas sobre as mercadorias transportadas pelos navios mercantes, eles também aceitavam propinas. Era uma realidade cruel e dolorosa para as vítimas desses ataques, mas aqueles que aceitavam os subornos fechavam os olhos para o sofrimento.
— Mas a Princesa Abissal não foi deixada em paz apenas por causa dos subornos. Ela é forte e não há nada que possamos fazer sobre ela com as forças de Shimuin. Além disso, o mar é largo e há muitos piratas. Achamos que ela poderia manter o controle dos piratas se conseguisse uni-los. — Explicou Ortus.
Essa era realmente toda a história? Eugene não acreditava. Ele não era ingênuo e podia ver a possibilidade de Shimuin querer aproveitar o poder da Princesa Abissal para seu próprio ganho. Era possível que eles tivessem permitido sua pirataria e suborno como meio de poder indireto e estabelecer uma relação comercial com ela.
Iris, a Princesa Rakshasa, também conhecida como a Princesa Abissal, certamente era um poder pelo qual se cobiçava. Ela já havia virado as costas para Helmuth depois de perder seu território para Noir Giabella. Então Shimuin queria persuadir a Princesa Abissal a promover um relacionamento com eles para que a família real pudesse fazer com que ela agisse de acordo com seus pedidos.
“Não deve ter dado certo. Bem, claro. Aquela louca espera pelo renascimento dos elfos negros e pela ressurreição do Rei Demônio da Fúria.”
Pensando assim, Eugene perguntou:
— Então, o que aconteceu que arruinou o relacionamento amigável entre Shimuin e a princesa Rakshasa?
— Aquele monstro cresceu demais. — Respondeu Ortus.
— Ela deve ter começado a reduzir as propinas. — Disse Eugene.
— Vamos parar de falar de propina. Não vai adiantar nada para ninguém ouvir sobre isso. — Disse Ortus.
— Então por que você está me contando tudo isso? — Perguntou Eugene.
— Já não te disse? Eu quero te pedir um favor. — Ortus começou a ficar um pouco irritado, com Eugene continuando a provocá-lo. — Você é o Herói escolhido pela Espada Sagrada. Além disso, a Princesa Abissal não é sua inimiga? Então, gostaria de pedir sua ajuda para derrubarmos a Princesa Abissal.
— O Herói não é um voluntário. — Afirmou Eugene.
— O que quer dizer? — Perguntou Ortus.
— É inteiramente seu direito me pedir ajuda. No entanto, estou dizendo que não há razão para eu concordar com seu pedido incondicionalmente, exceto por uma questão de justiça ardente. — Respondeu Eugene.
— Mesmo neste momento, a Princesa Abissal está realizando ações malignas enquanto joga o mar no caos. — Disse Ortus.
— Não foi Shimuin que permitiu que a louca vagasse livremente sem tentar pegá-la antes? — Perguntou Eugene.
— Sei que temos uma responsabilidade. Então, estarei me juntando à conquista da Princesa Abissal. Sua Majestade também expressou sua intenção de trazer a elite dos Cavaleiros da Maré Violenta e a orgulhosa Marinha de Shimuin ir–
— Não precisaremos de uma frota inteira para esta operação. Se necessário, eu poderia cruzar o oceano com um único barco pequeno. Se eu tivesse o poder, poderia matar a Princesa Abissal sozinho, sem ser acompanhado pelos Cavaleiros da Maré Violenta. — Interrompeu Eugene.
Os lábios de Ortus se contraíram ao ouvir a resposta de Eugene.
— Você está dizendo que possui tal poder? Mesmo eu não estou confiante de que poderia enfrentar a Princesa Abissal.
— Não é exatamente isso que quero dizer, mas, de qualquer forma, entendo o que você queria dizer. — Disse Eugene.
— Então….
— Eu entendo, mas isso não significa que vou fazer algo. Eu te disse, não disse? O Herói não se voluntaria. — Disse Eugene, pontuando suas palavras levantando o dedo na frente do peito. Ele formou um círculo unindo o dedo indicador e o polegar, fazendo com que Ortus sentisse um arrepio na espinha. O que era aquele gesto vulgar e materialista? Então se deu conta de que Eugene era a mesma pessoa que havia desmentido o Rei Demônio do Encarceramento ontem.
— Então… Bem…. Hum… Exatamente quanto você gostaria? — Perguntou Ortus.
— Eu sei que fiz uma moeda com os dedos, mas já tenho muito dinheiro, então não preciso de mais. Que tal uma Exid? — Disse Eugene.
— Isso nós podem—
— Uma com Coração de Dragão. Tanto quanto eu sei, há mais duas Exids embutidas com o Coração de Dragão no tesouro de Shimuin. — Eugene interrompeu.
— Mas isso é…! — Exclamou Ortus. Então deu uma olhada ao redor antes de se recompor. — É o tesouro nacional de Shimuim. Não podemos entregá-la a um estrangeiro.
— Então vou pegá-la emprestada por cerca de cinquenta anos e devolvê-la depois. Se você recusar, não há como evitar. Se a princesa Rakshasa trouxer sua frota e acabar atacando Shimuin… Talvez, apenas talvez, ela derrube a capital e o castelo, abra o tesouro e reivindique os preciosos tesouros como seus. Estou mesmo muito preocupado. — Brincou Eugene com um olhar de sincero pesar. Ortus cerrou os dentes sem perceber.
Até uma criança poderia saber que Eugene estava zombando dele. O vale entre as sobrancelhas de Ortus se aprofundou e seus punhos cerrados começaram a tremer. Ele tinha muitas coisas que queria dizer, mas não podia permitir que escapassem por seus lábios.
Ortus não podia negar que precisava da ajuda de Eugene. A Princesa Abissal, Iris, era uma oponente formidável, uma híbrida com linhagem direta com o Rei Demônio da Fúria e uma elfa negra de sangue puro. Ele sabia que precisaria da Espada Sagrada para ter uma chance contra tal monstro. Além disso, se conseguisse convencer Eugene a se juntar a ele, Kristina Rogeris faria o mesmo. Era uma aposta, mas Ortus não tinha outra escolha. Ele respirou fundo e tentou se recompor.
— Entendo… Seu pedido… Muito bem. Vou discutir isso com Sua Majestade. — Disse Ortus.
— Se cinquenta anos é muito tempo, estou disposto a aceitar a metade. Digamos vinte e cinco anos.
— Deixe-me…! F-Falar com Sua Majestade. Podemos negociar depois. — Cuspiu Ortus.
— Não pretendo ir por menos de vinte e cinco anos, então não haverá necessidade de negociação. — Disse Eugene.
Ortus não aguentava mais. Ele se virou e pulou da muralha sem dizer nada.
— Ah, isso é tão bom. — Eugene sorriu satisfeito.
Ele acenou para Ortus enquanto se afastava cada vez mais, emitindo um impulso feroz.