Capítulo 300
A Cidade dos Anjos (2)
A explicação de Alberto fez El estremecer, e Gi Gyu, Hamiel e os outros dois anjos pareceram confusos.
— O que você quer dizer com poder divino? Por favor, explique — pediu Gi Gyu.
Alberto parecia ainda mais sério agora. Ele deve ter pensado que Gi Gyu sabia de alguma coisa.
— Como eu disse, as auras deles pareciam muito sagradas. Muito diferente da aura de outros jogadores. Além disso, todos pareciam se especializar em cura. — Alberto balançou a cabeça e continuou: — O que eu não conseguia entender era… como eles estavam usando a mesma habilidade única.
Gi Gyu, El e os outros ficaram ainda mais tensos.
— Todos eles tinham a mesma habilidade única. E eles usaram isso para dominar a Itália.
— Como?
— Você sabe o que há de único na Associação Europeia de Jogadores? — Alberto respondeu à pergunta de Gi Gyu com outra pergunta. Gi Gyu balançou a cabeça. Antes de vir para cá, ele pesquisou a Itália, mas não conhecia todos os detalhes.
— Tal como todas as outras associações, a AEJ também gere jogadores. Mas a grande diferença é que… — Alberto engoliu em seco — …é afiliada ao governo.
— Não é o mesmo com todas as outras associações? — perguntou Gi Gyu. As associações tinham muito poder, em grande parte porque contavam com o apoio de seus respectivos governos. Alguns acreditavam que era por isso que as associações se tornaram ainda mais poderosas que o seu governo. Mas oficialmente, uma associação fazia parte do governo do seu país.
— Não, na Europa é muito diferente — respondeu Alberto com firmeza.
***
Eles chegaram a um hotel incrivelmente extravagante em Roma. Alberto havia reservado alguns quartos aqui para a estadia de Gi Gyu e seu grupo. Descansando em uma cama gigante, Gi Gyu pensou em sua conversa com Alberto.
Alberto explicou que algumas pessoas influentes controlavam toda a AEJ. É por isso que a AEJ era diferente das outras associações.
Por exemplo, a autoridade da ACJ era quase absoluta antes de ser destruída. Tinha jurisdição total sobre os jogadores. Embora o governo pudesse aconselhar e fazer pedidos, não poderia forçar a associação a fazer nada.
‘Kim Sung-Moo…’ Ele era o homem do governo coreano que Gi Gyu conheceu antes. Os mais ricos do país apoiavam esse homem. Mas de acordo com Sung-Hoon e Rohan, Kim Sung-Moo agora estava sendo incrivelmente cooperativo. Ele agia como se estivesse possuído; ele até traiu as pessoas que o colocaram naquela posição governamental.
Claro, isso fazia sentido para Gi Gyu, já que ele tinha a vida de Kim Sung-Moo em suas mãos.
‘O governo coreano não tem controle sobre os jogadores. É por isso que tentou tomar o poder da ACJ através de Kim Sung-Moo e do seu departamento.’
Isso provou quão fraco era o domínio que os ricos e poderosos tinham sobre os jogadores. Mas, aparentemente, as coisas eram diferentes na Europa.
Alberto explicou: — O maior problema aqui é que as pessoas mais poderosas aqui são, em sua maioria, não-jogadores.
Gi Gyu finalmente entendeu tudo.
O Vaticano e os seus jogadores tinham poder sagrado, que usavam para curar. Ao contrário dos outros jogadores, eles poderiam até curar os não-jogadores. Os ricos e poderosos da Europa cobiçavam este poder, por isso o Vaticano usou esta ganância em seu benefício.
Alberto listou então as principais condições apresentadas pelo Vaticano. — O Vaticano queria que eles não divulgassem o seu poder especial. Não queria ser controlado de forma alguma. E, por último, o Vaticano queria que a sua localização permanecesse em segredo.
Eles exigiram mais algumas coisas e as figuras poderosas concordaram. A relação entre o Vaticano e estas pessoas já durava há muito tempo. Foi assim que o Vaticano controlou secretamente a Itália e o resto da Europa.
— Só descobri a verdade sobre o Vaticano por acidente — explicou Alberto. As figuras influentes da Europa mantiveram o Vaticano escondido até há pouco tempo, quando o Vaticano decidiu se revelar.
‘Acho que foi quando comecei a ganhar poder.’
Após cinco anos de desespero como um jogador fraco de nível 1, Gi Gyu ganhou uma habilidade incrível. E por volta desta época, o Vaticano começou a fazer aparições públicas.
Alberto acrescentou: — Eles se tornaram ainda mais ativos após o colapso da ACJ. E…
Parecia que Alberto ia dizer mais alguma coisa, mas ele parou. Gi Gyu não o instigou, embora soubesse que Alberto estava escondendo alguma coisa. Contanto que isso não o traísse de alguma forma, Gi Gyu não tinha pressa em descobrir.
— De qualquer forma, queremos saber sobre eles tanto quanto você — disse Alberto antes de partir.
– Então? Encontrou algo?
Agora sozinho, Gi Gyu contatou Go Hyung-Chul, que estava procurando sozinho por toda a Itália.
– Não, nada. Minhas habilidades melhoraram, mas o trabalho investigativo continua tão difícil como sempre. Ser impaciente não vai ajudar ninguém.
– Mas eu não estava sendo impaciente.
– Tudo bem. Vou para o hotel agora.
Alberto também preparou um quarto para Go Hyung-Chul, mas ele tinha que dividi-lo com Hamiel.
Gi Gyu sorriu. — Então a Europa já foi tomada, hein?
As descobertas de Go Hyung-Chul revelaram que o Vaticano estava trabalhando com a guilda Caravan. E os vários espiões e demônios que Gi Gyu sentiu enquanto explorava a Itália com Alberto apenas provaram isso. Andras já havia se infiltrado na filial italiana.
— Hmm… — Gi Gyu não conseguiria eliminá-los, pois ainda não queria se revelar totalmente. Por enquanto ele ficaria escondido e ajudaria um pouco Alberto sem se envolver diretamente.
— Não consigo dormir… — Gi Gyu murmurou. Ele se perguntou se El e Hamiel já haviam desfeito as malas. Eles estavam descansando agora? Ele estava prestes a ativar seus sentidos para verificá-los quando ouviu uma batida na porta.
— Mestre, posso entrar? — El perguntou do lado de fora da porta.
Assim que Gi Gyu deu permissão, El entrou e olhou para ele. Só de olhar um para o outro já os deixava desconfortáveis.
El quebrou o silêncio desconfortável. — Mestre, sobre o que aquele homem Alberto disse…
— Sobre o Vaticano?
El assentiu.
— El, eu sei o que você quer dizer. — Gi Gyu perguntou: — Eles são anjos, não são?
***
— Temos que ir a todos os lugares juntos? — Gi Gyu perguntou, seu tom sugerindo que ele estava desconfortável com esse plano.
— Infelizmente sim. Não há outro caminho. Se você andar sozinho, enfrentará algumas dificuldades. — Alberto deu um sorriso suave para Gi Gyu. — Bem… acho que não estará em perigo, Sr. Morningstar, já que é tão poderoso.
O sorriso de Alberto se tornou brincalhão quando ele acrescentou: — Mas com certeza vai te incomodar.
— Como assim?
— O nível de segurança pública da Itália não é ótimo. Preciso acompanhá-lo principalmente porque a sua presença na Itália deve permanecer secreta.
Uma expressão séria apareceu no rosto de Alberto enquanto ele continuava: — E também porque devo proteger a Itália de você se acontecer uma situação infeliz.
— …
— Espero que você entenda, Sr. Morningstar. Eu ouvi algumas coisas sobre você de Heo Sung-Hoon.
‘O que diabos ele disse a Alberto? Posso ver que eles são muito parecidos.’ Gi Gyu estava começando a ver uma semelhança entre Sung-Hoon e Alberto. Alberto era mais tranquilo e mais irritante, mas seu comportamento geral parecia com o de Sung-Hoon. Gi Gyu sabia por que eles eram amigos próximos.
— De qualquer forma, o que planeja fazer agora? — Alberto perguntou. Ele entendeu que Gi Gyu e seu grupo vieram para a Itália por causa do Vaticano.
— Não temos visto muitos jogadores do Vaticano ultimamente. Mesmo se tentarmos, não há como enfrentá-los. Tudo o que podemos fazer é esperar que eles apareçam, Sr. Morningstar.
Gi Gyu não tinha ideia de que Michael pertencia a um grupo tão secreto. Ele também nunca percebeu que figura influente era o papa. Ele quase se arrependeu de não ter feito nada quando conheceu o papa. Mas, na época, Gi Gyu não sentiu nenhuma energia suspeita vindo dele.
— Ele deve ser um ser verdadeiramente poderoso, já que não consegui sentir nada dele — murmurou Gi Gyu.
— Perdão?
— Ah, não é nada — respondeu Gi Gyu e se virou para El, que concordou com a cabeça.
— Planejamos apenas dar uma olhada por um tempo — disse Gi Gyu a Alberto.
— Às cegas? — Alberto perguntou; Gi Gyu levantou uma mão.
Fwoosh.
Uma pequena luz apareceu em sua mão e começou a se espalhar. Sentindo a magia que Gi Gyu estava espalhando, Alberto perguntou: — Espere, essa não é a magia de detecção de jogadores da categoria de suporte?
— Sim.
— Mas como…? Pensei que você fosse especialista em ataque. Mas dado o que fez ontem, acho que você é diferente. — Alberto assentiu em compreensão.
— Estou escondendo minha presença, o que significa que não posso usar meu poder. Se a população descobrir que estou aqui, você vai acabar em uma posição incômoda como gerente da filial. Não é mesmo? — Perguntou Gi Gyu.
Alberto sorriu. — Exatamente. Eu nem relatei sua chegada ao meu superior.
Gi Gyu gostou da rapidez com que Alberto entendeu. A magia de detecção poderia detectar os outros jogadores próximos. Gi Gyu usou apenas uma pequena quantidade de magia, então ele estava a salvo de ser descoberto.
— Agora que está ativado, podemos simplesmente percorrer a cidade. Meu sensor será acionado se alguém notável estiver por perto. Isso deve ser conveniente para nós dois, já que você não pode usar nenhum dos seus homens da associação, Sr. Alberto.
— Então… — Alberto sorriu. — Onde você gostaria de ir primeiro? Posso dizer que sou um guia incrível.
Para um gerente de filial, Alberto parecia gostar demais de se gabar. Gi Gyu não achava que isso fosse algo para se orgulhar, mas talvez fosse uma coisa boa nesta situação.
— Fico feliz em ouvir isso — respondeu Gi Gyu.
‘Ele não deveria estar ocupado já que é o gerente da filial italiana?’
***
— Hmm… — um homem vestindo uma capa gemeu. A noite estava ficando mais escura e, como se estivesse frustrado, ele jurou: — Droga!
Por fim, ele deu um passo e estava prestes a sair do beco quando de repente alguém o parou. — Ei!
O homem encapuzado se virou e viu um grupo de bandidos. O grupo era uma mistura de raças.
— Haa… — O homem encapuzado suspirou e deu um tapinha no peito. — Você me assustou por um momento.
— O quê? Hahaha! — Os bandidos pareceram surpresos a princípio, antes de cair na gargalhada. Já era tarde da noite, então as risadas deles ecoaram no beco quase vazio.
Um dos membros da gangue respondeu: — Bem, acho que o assustamos. Gostaria que nos desculpássemos?
O grupo começou a cercar o homem, que hesitou antes de observar os bandidos em silêncio.
— Bom menino — um dos bandidos, aparentemente o líder do grupo, caminhou até ele e tirou o capuz do homem.
O homem encapuzado não resistiu nem fez nenhum movimento.
— Um asiático?
— Mas por que os olhos dele são azuis?
— Kekeke.
— Esses olhos não combinam com você, idiota!
Os bandidos sorriram e conversaram entre si. O homem asiático com olhos da cor de um portal franziu a testa.
— Lamentamos tê-lo assustado, mas você terá que nos dar tudo o que tem! — o líder do grupo exigiu.
— Ei, asiático! Se quiser manter as pernas, deixe sua carteira aqui! — outro membro da gangue gritou. Parecia que eles estavam aqui para assaltá-lo.
O asiático suspirou profundamente novamente. — Vocês sabem o quanto fiquei assustado quando pensei que a guilda Caravan tinha me pego?
O homem, Go Hyung-Chul, estava no meio de uma busca em Roma por jogadores do Vaticano. Sua nova classe, Senhor das Sombra, dava a ele um poder incrível. Infelizmente, não era suficiente para encontrar o Vaticano. Go Hyung-Chul estava irritado e estava voltando para o hotel quando esses bandidos apareceram.
Como ele não os sentiu se aproximando dele, Go Hyung-Chul, a princípio, pensou que eles deveriam ser incrivelmente poderosos.
— Mas eu não consegui sentir vocês porque vocês são muito fracos — Go Hyung-Chul murmurou. Eles não eram jogadores, e esses homens frágeis aparentemente decidiram assaltar um Senhor das Sombras.
— É assim que os bandidos ganham a vida na Itália agora? E se começarem uma briga com um jogador? — perguntou Go Hyung-Chul confuso.
— Quem se importa?! Porra!
— Só precisamos de dinheiro!
Os bandidos riram e gritaram, e Go Hyung-Chul percebeu que não conseguiria manter uma conversa inteligente com eles. Vários edifícios os cercavam e ele ouviu as janelas sendo fechadas. Com sua audição aprimorada, ele também podia ouvir as pessoas lá dentro.
— Apenas feche a janela e fique quieto.
— Vamos voltar para a cama.
— Eles estão de volta.
Ninguém chamava a polícia, o que não era uma reação habitual. Esta era a capital de um país adorado pelos turistas, então Go Hyung-Chul não conseguia acreditar no que estava acontecendo.
— Vocês estão chapados? Acho que não há necessidade de conversar então. — Go Hyung-Chul sorriu. Ele teve um dia frustrante e precisava desabafar. Parecia que ele havia encontrado seu alvo.
— O que diabos ele está dizendo?!
— Se você não vai nos dar, teremos que tirar de você!
Os homens gritaram e correram em direção a Go Hyung-Chul. Esses bandidos poderiam ter percebido que algo estava errado se não estivessem embriagados, mas não estavam em seu juízo perfeito.
Os bandidos correram em direção a Go Hyung-Chul.
— Porra! Por que ele é tão rápido?! — o líder do grupo gritou. Nenhum deles conseguiu acertar Go Hyung-Chul.
— Haa… Isso está ficando ainda mais irritante. — Cansado de perder tempo, Go Hyung-Chul se moveu.
— E-Ele é um fantasma! — um bandido gritou. Um bandido que estava balançando o punho engasgou quando Go Hyung-Chul apareceu de repente diante dele. Go Hyung-Chul deu um tapinha na testa do homem com força. Ele não usou toda a sua força, então sabia que o homem não morreria.
No entanto, os olhos de Go Hyung-Chul se arregalaram em choque quando o homem se levantou e gritou: — Droga! Isso dói!
O movimento do dedo deveria ter nocauteado o homem, mas ele parecia perfeitamente bem. E ele até parecia ter energia suficiente para tentar dar um soco em Go Hyung-Chul novamente.
— …! — Go Hyung-Chul não conseguia acreditar o quão rápido esse homem era. — Você é…
O bandido não poderia ser um não-jogador, mas Go Hyung-Chul não conseguia sentir nenhuma magia dele. Go Hyung-Chul continuou a evitar os ataques dos bandidos enquanto os estudava.
— Haa… Haa… Peguem ele… Peguem ele…
— P-Precisamos de dinheiro para comprar mais drogas…
— Peguem ele!
Os bandidos resmungaram e tentaram bater em Go Hyung-Chul. Com um sorriso feio, Go Hyung-Chul olhou para eles.
— Mmph! — Todos os bandidos pararam como se tivessem sido amarrados. Suas sombras aparentemente os impediam de se mover. O poste de luz iluminava intensamente o beco, então cada um deles tinha uma sombra. Mas mesmo sem essa nova habilidade, Go Hyung-Chul poderia enfrentar mil delas a qualquer momento.
Go Hyung-Chul sorriu e sussurrou: — Eu adoraria experimentar esta droga também.
Ele finalmente encontrou a pista que procurava.
