Capítulo 306
A Cidade da Morte (3)
No final, Gi Gyu deixou apenas Go Hyung-Chul para trás na Itália e voltou para o Éden. Ele havia deixado um portal em Roma para poder retornar a qualquer momento.
Muitas das criaturas de Gi Gyu queriam cumprimentá-lo, mas Gi Gyu escolheu ver apenas o Velho Hwang.
— Bom trabalho — sussurrou o Velho Hwang.
Parecia estar faltando alguma coisa agora para Gi Gyu. Ele respondeu: — Vou descansar agora.
Gi Gyu, parecendo tão cansado como sempre, entrou na Árvore Sefirot.
— … — O velho Hwang o observou sem dizer uma palavra.
— Ele está… — Quando Gi Gyu estava fora de vista, o Velho Hwang sussurrou: — Carregando tanta coisa nos ombros. Ele é apenas um jovem…
O velho Hwang estava preocupado com Gi Gyu. Sua força o permitiu assumir muitas responsabilidades, mas isso não significava que Gi Gyu não sentisse o peso de tudo isso. O Velho Hwang ficou ali por um longo tempo antes de sair.
Ele murmurou: — É melhor eu preparar um funeral.
Seria necessário um funeral extravagante.
***
— Eu poderia tê-los salvado — sussurrou Gi Gyu. Ele poderia ter salvado os dois anjos se não tivesse agido de forma arrogante e chegado um pouco mais cedo.
— Eu poderia tê-los salvado. — Tudo o que ele precisava fazer era priorizar a segurança de Hamiel e dos outros anjos. Mas não foi isso que Gi Gyu fez. Sendo um tolo arrogante, ele relaxou.
El disse a Gi Gyu naquele dia que não era culpa dele. Gi Gyu discordou dela, mas sabia que ela não estava errada. Embora se culpasse, ele sabia que a culpa não era apenas dele. A morte dos dois anjos foi um acidente. O inimigo deles era mais forte do que imaginavam, e ele erroneamente acreditou que Hamiel e os anjos poderiam vencer. Então, ele se concentrou em lidar com o monstro no Coliseu.
Foi apenas um acidente; ainda assim, Gi Gyu sentiu uma raiva enorme por dentro. A morte dos anjos quebrou a sincronia que eles compartilhavam com força. Ele nunca havia experimentado algo assim antes; isso o afetou muito.
Ajoelhando-se diante dos anjos, Gi Gyu murmurou: — Vida… preciso usar minha Vida…
Ele tentou injetar o máximo de Vida possível em seus cadáveres frios. Ele tentou fazer tudo o que podia para ressuscitá-los. No entanto, El o parou no final com uma tristeza semelhante nos olhos. Não havia nada que ele pudesse ter feito.
— Mestre… As Raízes deles estão destruídas. — El explicou que os dois anjos foram purificados. A existência deles foi erradicada e eles voltaram a ser nada.
A sincronia podia ser parecida com uma fonte de poder ilimitado, algo que fazia dele uma existência como Deus, mas isso não era verdade. A sincronização poderia criar algo a partir de um pouquinho de vida, mas Gi Gyu não poderia criar algo do nada. Ele não poderia trazer de volta seres que não existiam mais.
Isso foi diferente do que aconteceu com El.
— Haa… — Gi Gyu suspirou, um pouco calmo agora. Quando ele percebeu que havia perdido dois de seus anjos, a devastação não se pareceu com nada que Gi Gyu já havia experimentado antes. Quando a sincronia entre eles foi interrompida, parecia que ele havia perdido o mundo inteiro.
— Brun — Gi Gyu ficou mole, olhou para o teto e gritou.
— Sim, mestre. — Uma fada apareceu de repente no ar. Brunheart havia se tornado um com Éden, o que significava que ninguém poderia escapar de seus olhos lá dentro. Gi Gyu sabia que Brunheart estava cuidando dele quando ele entrou no Éden. Estava claro que ela estava preocupada com ele.
— O que todo mundo está fazendo? — perguntou Gi Gyu.
— Eles estão preparando o funeral.
Esta era a primeira vez que alguém próximo a ele morreu. Não foi nada parecido com quando seus esqueletos e outros monstros morreram repetidamente.
Os dois anjos enfrentaram uma morte verdadeira e completa.
Brunheart explicou: — Eles prometeram preparar um grande funeral condizente com a importância deles.
— Tudo bem — respondeu Gi Gyu, pensando em como Brunheart parecia madura hoje.
***
O funeral foi organizado rapidamente. A cerimônia aconteceu não muito depois da chegada de Gi Gyu. El havia organizado o procedimento; o funeral seguiria o caminho tradicional dos anjos.
— E Deus… — El orou em voz alta. Depois, os dois anjos viraram pó e desapareceram no ar. Eles viveriam em memórias de agora em diante, já que suas formas físicas haviam deixado este mundo. Com a bênção de El, os dois anjos desapareceram para sempre.
— O que vai acontecer com eles? — Gi Gyu perguntou enquanto observava. Ele agora sabia muito sobre o inferno e o lugar lá em cima. Então, ele estava curioso sobre a vida após a morte.
— … — Para sua decepção, ele não obteve resposta.
— Nossa, nunca pensei que chegaria o dia em que compareceria ao funeral de um anjo — Lou, ao lado de Gi Gyu, resmungou. Mas apesar de suas palavras, havia um traço de tristeza em seu rosto.
Depois de reclamar por mais algum tempo, Lou perguntou a Gi Gyu: — Você está bem?
Tudo o que Gi Gyu pôde fazer foi dar um sorriso amargo para Lou. Cada um dos Egos de Gi Gyu foi afetado quando a sincronização foi interrompida naquela época. Todas as criaturas de Gi Gyu sentiram uma perda devastadora.
— Só me chamar se precisar de alguma coisa. — Lou saiu.
Um por um, todos começaram a sair do funeral. Perder um colega soldado não era algo novo para nenhum deles. Todas as criaturas de Gi Gyu eram soldados, então estavam acostumados a perder seus aliados.
Mesmo assim, todos ficaram tristes com a morte dos dois anjos.
Uma mudança ocorreu no Éden. Todos começaram a treinar muito mais agora.
— Você gostaria de ir treinar comigo? — Botis perguntou a Hal, que assentiu. Os dois saíram em silêncio.
As criaturas de Gi Gyu sempre quiseram ficar mais fortes; agora, havia algo mais em seu treinamento. Eles queriam mais experiência na vida real porque perceberam que sincronizar com Gi Gyu não significava que estavam acima da morte.
Depois que Gi Gyu se tornou mais forte, muitas de suas criaturas sincronizaram-se com ele sem experimentar a morte primeiro. No entanto, aqueles que sincronizaram com ele no início morreram primeiro. Isso aparentemente fez com que as novas criaturas acreditassem subconscientemente que eram invencíveis.
Eles pensaram que a morte não era suficiente para matá-los; Gi Gyu simplesmente os traria de volta à vida. Consequentemente, eles pararam de temer a morte. Antes desse incidente, eles treinavam muito, mas sempre havia um clima descontraído entre eles.
Mas este não era mais o caso.
‘Aqueles dois anjos morreram e não vão voltar.’ A constatação trouxe choque e inúmeras outras emoções às criaturas de Gi Gyu.
Gi Gyu estava parado em silêncio quando ouviu alguém fungando por perto. Quando ele se virou, viu Hart chorando. Ele limpou o crânio com um lenço e murmurou: — Como vocês dois puderam morrer assim?
Gi Gyu não pôde deixar de sorrir um pouco. Talvez essa tristeza que ele sentia pudesse desaparecer eventualmente.
***
Após o funeral dos anjos e o período de luto terminarem, todos começaram a treinar com novo zelo. Isto não foi simplesmente porque eles se sentiram ameaçados e queriam sobreviver a esta guerra.
Todos no Éden estavam pensando a mesma coisa. Eles queriam despedaçar seus inimigos com as próprias mãos. Claro, Hamiel era o mais irritado. Seu inimigo matou seus familiares diante de seus olhos. Ele era fraco e não conseguiu protegê-los.
— Grande mestre… — Hamiel sussurrou.
— Hamiel, como você está se sentindo? — perguntou Gi Gyu.
Em vez de responder sua pergunta, Hamiel implorou: — Grande Mestre… Por favor, deixe-me…
Hamiel mal conseguia se mover enquanto descansava na cama. Ele continuou: — Não serei um fardo. Não estarei no seu caminho, Grande Mestre, então…
Com as mãos tremendo, o anjo implorou: — Por favor… por favor… leve-me com você.
— Não. — Gi Gyu foi firme em sua decisão. — Na sua condição atual, você não consegue nem se mover, muito menos lutar.
Hamiel cerrou os dentes. — Mas…! Tenho que matá-los com minhas mãos!
— E você acha que pode fazer isso? Você acha que pode vencer se encontrá-lo novamente? — perguntou Gi Gyu.
— …
— Você e três outros anjos lutaram com ele da última vez, mas não conseguiram sequer arranhá-lo.
Gi Gyu já tinha ouvido falar dos detalhes da batalha entre os anjos e o Cardeal Castro. Hamiel e os outros alcançaram o cardeal, mas a batalha que se seguiu foi um fracasso total.
Hamiel explicou: — Nunca tivemos chance.
— Você disse que ele é um anjo de posição muito mais elevada do que você, certo?
Tal como suspeitavam, o jogador do Vaticano, o Cardeal Castro, era um anjo. E descobriu-se que ele não era qualquer tipo de anjo. Ele estava na categoria Querubins, o grupo de anjos de mais alto nível.
Gi Gyu continuou: — Você disse que tem certeza de que ele é um querubim, mas não pode nem me dizer sua identidade.
— …
Supostamente não havia muitos querubins no mundo, mas Hamiel não sabia o verdadeiro nome do Cardeal Castro. Mesmo El, que leu as memórias de Hamiel mais tarde, não sabia dizer.
— Não, nunca o vi antes — respondeu Hamiel fracamente.
— Você não pode ir. Se fizer isso, apenas ficará no nosso caminho.
Levar um membro ferido só pioraria a situação. Além disso, provavelmente teriam de enfrentar outros inimigos além do Cardeal Castro. Hamiel estava zangado com todo o Vaticano e Gi Gyu suspeitava que muitos ali eram ainda mais poderosos que o Cardeal Castro.
— É por isso que estou deixando você aqui — Gi Gyu disse sua decisão. Hamiel mordeu os lábios.
Depois de alguns minutos, Hamiel abriu a boca novamente. — Então… eu me tornarei sua espada, Grande Mestre.
— …! — Os olhos de Gi Gyu se arregalaram. Se tornar uma espada não significava que Hamiel simplesmente lutaria de uma forma diferente.
— Se eu me tornar uma espada sagrada, não serei um fardo — continuou Hamiel.
Hamiel nasceu de uma espada sagrada. Se ele se transformasse novamente em uma espada, ele se tornaria apenas uma arma, algo sem mente e memória.
— Não. — Quando Gi Gyu recusou, o rosto de Hamiel caiu.
— Mas! Dependendo de quão duro você trabalhar, posso mudar de ideia. — Gi Gyu colocou a mão em Hamiel. Ele podia sentir os olhos de Hamiel ardendo de paixão agora.
Hamiel ficou gravemente ferido durante a batalha contra o cardeal Castro. Ele perdeu muito de sua Raiz. Sua Raiz não desapareceu completamente, mas seria necessário muito esforço e muita dor para restaurá-la.
O ferimento de Hamiel era tão terrível que ele deveria ter morrido também. Mas os outros dois anjos se sacrificaram para proteger Hamiel. Se não fosse pela força de vontade deles, ele não teria sobrevivido.
— Vingue-se com suas próprias mãos — ordenou Gi Gyu.
Aceitando a mão de Gi Gyu, Hamiel fechou os olhos.
[As condições para a evolução de Hamiel foram satisfeitas.]
[Você gostaria que a evolução continuasse?]
[Isso pode abrir uma rota diferente, que seria seguida em vez da já aberta.]
[Gostaria de continuar?]
As condições para a evolução de Hamiel já haviam sido reveladas. Mas as condições eram únicas. Todas as rotas disponíveis tinham condições difíceis de satisfazer. Depois de discutir com Hamiel, eles decidiram não prosseguir naquele momento. Eles também tomaram a mesma decisão para os outros anjos.
Mas as coisas eram diferentes agora.
— Obrigado — Hamiel sussurrou. Gi Gyu percebeu que Hamiel estava realmente grato e sorriu amargamente. Havia uma boa chance de que a decisão que estavam prestes a tomar estivesse errada.
‘Mas não posso mais perder ninguém.’ Gi Gyu sabia que todos ao seu redor precisavam ficar mais fortes. Se Hamiel se tornasse mais poderoso, ele também se tornaria mais forte.
Gi Gyu fechou os olhos e murmurou: — Evoluir.
[Rota de Evolução de Hamiel]
A voz de Gaia anunciou.
[Você escolheu a corrupção.]
Morte e energia mágica começaram a entrar em Hamiel.
