Hai to Gensou no Grimgar – Capítulo 6 – Volume 19 - Anime Center BR

Hai to Gensou no Grimgar – Capítulo 6 – Volume 19

Capítulo 6: Não tenha medo, seu covarde

Tradutor: João Mhx

“hhhyaaaahhh…!” O que começou como uma respiração se transformou em um suspiro e, depois, em um grito estranho que Kikkawa usou para se motivar.

Mas, honestamente, tudo tinha enlouquecido e sua cabeça estava 90% preocupada com uma sensação de perigo iminente.

“Kicker!” Tada, que ele gostava de chamar de Tadacchi, gritou para ele com raiva.

Quem é Kicker? Eu sou o Kikkawa, cara. Mas, sim, acho que você tem razão, não é hora de ficar olhando para o espaço, não é? As coisas estão totalmente malucas aqui. O que significa “louco” mesmo? Kikkawa pensou enquanto subia suavemente os degraus e batia com o escudo em uma daquelas estranhas criaturas negras com um grito de esforço.

Ele adoraria poder dizer que a coisa parou, mas não era assim que esses caras jogavam. No entanto, o golpe a fez recuar um pouco. Então ele gritou e chutou a coisa com um “Urr!”. As espadas não funcionavam – não era possível cortá-las -, então, ele golpeou com a parte plana de sua lâmina. Isso forçou o bicho a descer alguns degraus, mas outro veio deslizando pelas escadas atrás dele imediatamente, de modo que a luta nunca terminaria.

“Corte!”

A alta Mimori passou correndo por Kikkawa à direita, golpeando uma das criaturas negras com sua espada longa. Naturalmente, ela também estava golpeando com a parte plana de sua lâmina. Apesar de ser da classe mago, e ainda por cima uma maga, Mimori tinha uma força de braço considerável. Kikkawa ia começar a chorar por se sentir inapto. Mas, ao mesmo tempo, ele ficou impressionado. Mimori não era apenas uma potência. Se ela fosse só músculos e não tivesse cérebro, não teria sido capaz de usar duas espadas – não, dobrar as espadas – como fez. Dobrar espadas? Não era suficiente dizer “empunhadura dupla”? Bem, seja como for, Mimori brandiu corajosamente suas duas espadas, mandando um inimigo pelos ares e até mesmo levando aquele que vinha por trás no caminho.

“Eu amo vocês! Sim…!” Anna-san gritou lá de cima, fornecendo incentivo na hora certa. Não dava para negar que ela era um grande motivo pelo qual os Tokkis conseguiam continuar se esforçando tanto. Com toda certeza, ela era mesmo.

Anna-san estava mantendo a magia de suporte, como Protection e Assist, até pouco tempo atrás, mas ela precisava curá-los também, então estava ficando difícil para ela. A fonte de magia era o poder mágico de um mago, que era uma espécie de energia espiritual. Basicamente, a magia era uma espécie de teste de resistência. Se Anna-san ficasse exausta e caísse sobre eles, os Tokkis não seriam mais os Tokkis. Era por isso que eles queriam que ela descansasse o máximo que pudesse, e que todos aguentassem enquanto ela torcia por eles.

“Preciso me manter forte…”

Palavras estranhas saíram da boca de Kikkawa. Ele queria dizer “ficar forte”, mas saiu errado. Ah, e super silencioso também. Ele quase duvidou que fosse sua própria voz.

Mimori tentou dar outro golpe com suas duas espadas longas, mas tropeçou e caiu contra a parede da escada.

Ah, sim, é claro que isso aconteceria, pensou Kikkawa.

A Mimori-san está totalmente debilitada.

Como ela poderia não estar?

Depende de mim. Esta é a minha hora de brilhar, não é? Mimori-san está lá fora me protegendo. Ela foi para o fundo há um tempo porque estava muito cansada, mas voltou para a linha de frente novamente para me ajudar. Agora é a minha vez.

Seus pensamentos se aceleraram, mas seu corpo não fez nada para obedecê-los. Mesmo nas noites tristes, quando estava envolto em uma fria vergonha por ser tão patético, ele não conseguia derramar uma única lágrima.

Por quê?

Kikkawa queria chorar.

Vamos lá, homem, seja um herói. Agora é o seu momento. Tem de ser. O que você vai fazer se não se tornar um herói?

“Mexa-se, mexa-se, mexa-se!” Mesmo sem Tada gritando para que ele se afastasse, Kikkawa sabia.

Não é isso. Realmente não é.

Simplesmente não é.

Não é o quê?

Não é a minha vez. Sou a pessoa errada para isto.

Kikkawa não era um herói, e não poderia se tornar um. Tipos como o Kikkawa não conseguiam liberar o seu poder quando estavam no limite.

Não, eu quero, sabe?

Eu quero, está bem?

Eu quero. Quero me soltar.

Quero liberar tudo o que tenho, eu quero, mas não posso…

Mas não era só isso; era que ele havia se deparado com uma parede espessa. Quando chegava a hora de entrar em ação, ele não conseguia colocar tudo para fora e realmente mostrar o que tinha, porque, bem, ele não tinha nada para mostrar.

Não tinha poder.

Não tinha talento.

Sem potencial.

O tipo de pessoa que poderia se tornar um herói tinha algo fundamentalmente diferente. Na visão de Kikkawa, talvez não fosse o tipo de coisa que se pudesse mudar com trabalho duro. Porque Kikkawa havia se esforçado tanto quanto qualquer um, provavelmente mais, embora tivesse vergonha de admitir isso. Havia muros que não podiam ser transpostos ou quebrados apenas com trabalho árduo.

Basicamente, um herói nasce herói. Eles se tornaram um herói porque sempre foram feitos para isso. Eles foram abençoados com a capacidade de ser um herói. Por exemplo, quando uma pessoa comum dá tudo de si, não tem mais nada e está se esvaindo, então é o fim, mas um herói? Nem tanto.

Eles continuavam. Eles ainda tinham mais para dar.

Como se o lago tivesse secado, mas de alguma forma uma fonte brotou. Não apenas brotou, mas irrompeu.

“Eloim, Essaim, eu busco e suplico aeeeeeee…!”

Tada estava gritando alguma bobagem enquanto descia as escadas. Kikkawa rapidamente abriu caminho, Lançando-se contra a parede. Um momento depois, ele foi tomado por uma onda de desespero.

Mas que diabos? Mas que diabos?! Ele se move. Meu corpo pode fazer o que eu mandar. Ainda tenho forças. Não é nada legal!

Tada desceu as escadas, passou por Kikkawa e depois por Mimori, mergulhando em direção às estranhas criaturas negras. Talvez pudessem ser descritas como caras em collants pretos cobrindo o corpo inteiro, sem nenhum pingo de brilho. Mas estava claro que não eram humanos. Não eram rígidos, mas tampouco macios. Mais elásticos. Tinham uma sensação de peso, mas não eram duros como pedra. Impossível cortá-los ou quebrá-los. Embora ele dissesse que eram humanoides, só tinham dois braços e duas pernas saindo de um torso que se estreitava em direção à parte inferior. Não tinham cabeça, nem nada que lembrasse mãos ou pés.

Tsagahtoreah…!”

Tada bateu com o corpo nas criaturas negras enquanto elas tentavam subir uma escada estreita que não podia ter mais do que alguns metros de largura. Não, não era isso. Ele rolou escada abaixo, ficando de pé na frente do inimigo quando estava quase perto o suficiente para tocá-lo. Em seguida, soltou o martelo de guerra que estava abraçando junto ao corpo e os mandou pelos ares. Era um truque que somente Tada poderia ter feito. Ele era realmente único.

Se você tivesse perguntado a Kikkawa, ele teria dito: “Isso é desumano. Pessoas normais não conseguiriam fazer coisas assim.

Hmm? Normal?

Não, não, não, não, não.

Mesmo que fossem anormais, não havia como fazer isso.

“Nnahahh! Boitreh! Mackerehl! Vinegared mackerehhhl!”

Cada golpe do martelo de guerra de Tada derrubava um inimigo. Mas ele não estava apenas batendo neles. O martelo de guerra de Tada também colidiu com as paredes e escadas, mandando pedaços para o alto.

Uau! Cacete! Ér, não, cacete é outra coisa, não é? Incrível!

Tudo bem para Kikkawa ficar apenas olhando impressionado assim?

Não, claro que não.

Tada lutava com um martelo de guerra. Ele era um amante do martelo, um mestre do martelo, mas havia mudado de classe para se tornar um sacerdote. Por quê? Porque, em vez de causar problemas para Anna-san toda vez que se machucava, era mais fácil se ele pudesse se curar. Tada havia se tornado um sacerdote para que pudesse ficar totalmente louco, balançando um martelo de guerra a seu bel-prazer.

Dito isso, Tada não era um cara tão grande assim. Ele era incrível por debaixo das roupas, com certeza. Tipo, músculos por toda parte. Mas, na verdade, ele não era um lutador que dependia somente da força. Kikkawa já tinha visto Tada assim antes, pingando de suor, balançando seu martelo de guerra muito devagar. Mas, golpe após golpe, ele gradualmente ganhava velocidade.

Tada havia considerado todas as situações possíveis que poderiam acontecer no campo de batalha e havia criado técnicas para lidar com elas, as quais ele havia praticado e refinado com perfeição. A maneira como o martelo de guerra se movia, o recuo, seu corpo havia absorvido tudo isso. Pode-se dizer que o martelo de guerra era uma parte dele. Ou melhor, Tada era o martelo de guerra, e o martelo de guerra era Tada.

“Kwahadah…! Swohrdfeesh…! Cohnger eeeel…! Eeegg…!”

Agora Tada estava perdendo o controle. Quando ele começava a se balançar, não conseguia parar. Era por isso que ele batia nas paredes e nas escadas para se conter. Ele não tinha outra escolha. O martelo de guerra poderia ter escapado de suas mãos a qualquer momento. Tada era assim. Enquanto tivesse seu martelo de guerra, ele continuaria a golpear até o último suspiro. Mas se ele perdesse o martelo importantíssimo, o que aconteceria? Ele provavelmente tentaria continuar balançando-o de qualquer maneira.

Com as mãos nuas.

Kikkawa imaginou Tada praticando sem seu martelo de guerra, fazendo uma cara de demônio feroz.

“Tadacchi…! Tada-saaan…!”

Kikkawa tentou descer os degraus, mas escorregou.

Sério?, Pensou ele.

Não me importa se não posso virar um herói, desde que consiga aguentar só mais um pouco.

Isso não é possível? Sou tão perdedor que nem consigo fazer isso?

Uau, é quase como se eu fosse lixo. Não, esqueça o “quase”.

Eu sou só lixo.

A edição definitiva do lixo.

“Demônio…!”

Naquele momento, um vento sinistro passou, empurrando o lixo chamado Kikkawa para o lado.

O vento sinistro tinha um rabo de cavalo.

Espere, esse é o Inui.

Inui passou correndo, com um rabo de cavalo cada vez mais grisalho, que se agitava atrás dele.

“Espera aí, você sumiu há um tempo, Inui…”

Kikkawa ficou perplexo. Não que isso fosse novidade, no entanto. Era comum nos Tokkis que Inui aparecesse e desaparecesse sem dizer uma palavra a ninguém. Quem sabe que bobagem ele faria agora que estava de volta.

“Hyah!” Inui gritou enquanto agarrava Tada pelo colarinho.

“Gweh!” Tada engasgou, quase sufocando. Ele estava no meio de um golpe com seu martelo de guerra, que ricocheteou na parede, quase caindo de suas mãos. Mas Tada era assim. Ele nunca soltava seu martelo de guerra.

“Muito bem!”

De quem era essa voz?

Não, não era preciso dizer. O homem desceu as escadas dançando, passando por Inui, que estava arrastando Tada para longe.

“Uau! O quê? Não pode ser! Você já consegue se mexer?!” Kikkawa ficou chocado até o âmago.

Será que o homem não tinha limites? Seus esforços extenuantes foram a razão pela qual os Tokkis conseguiram resistir por tanto tempo. Ele foi o que mais suou entre todos os presentes. Até mesmo derramou sangue. Apesar de seus muitos ferimentos, ele permaneceu na linha de frente por mais tempo do que qualquer um deles, protegendo seus companheiros com a própria vida.

“Não posso mais aguentar, deixem-me descansar um pouco”, ele havia dito. Até então, além do momento em que seus ferimentos estavam sendo curados, ele dizia que estava descansando enquanto lutava, como se estivesse dormindo em pé, então por mais impressionante que fosse, ele devia estar no limite.

Quando ele recuou, Kikkawa havia se preparado para o pior. Não havia como o homem se retirar da linha de frente para respirar e depois voltar à ação. Eles teriam que aguentar sem ele por um tempo.

Tadacchi não está com boa aparência, Mimori-san está bem debilitada e Inui não está em lugar nenhum, então tenho que dar um passo à frente, pensou ele.

No final, porém, ele não conseguiu.

Era um fardo muito grande para Kikkawa.

Bem, o que você pode fazer? Ele pensou docilmente.

Agora que o homem, Tokimune, havia reaparecido, esse lugar não era mais a escada da nona torre das quatorze da Fortaleza de Ferro Beira Rio. Era um palco preparado só para ele.

“Certo, você está pronto?!”

Tokimune era um paladino de Lumiaris, então ele tinha magia de luz. Ele provavelmente havia lançado Trance em si mesmo, cujo efeito o tornava mais corajoso e robusto. Ele também lançou Luminous para fazer seu escudo brilhar. Mas nem todo paladino poderia se tornar como Tokimune. Não, nem pensar.

Tokimune não era apenas rápido, ele era tão leve que parecia não ter peso. Ele se aproximou das criaturas negras, dizendo: “Ei…!” e não apenas batendo em uma delas com seu escudo, mas empurrando-a para o lado. Quando ele fez isso, a criatura foi levantada no ar e saiu voando. Naquele momento, Tokimune já estava no próximo, empurrando seu escudo contra ele com outro “Ei!” Parecia um leve toque, e o som que ele fez não foi de uma batida forte, mas de algo mais pesado. Que diabos ele estava fazendo? Kikkawa não sabia, mas provavelmente estava usando o escudo com o ângulo e a força perfeitos no momento exato. E não era só o escudo. Tokimune girou sua espada longa com um “Ei! Ei!”, empurrando o inimigo para trás como se os estivesse recolhendo.

É gravidade zero, pensou Kikkawa.

Ok, provavelmente não era, mas ele parecia estar ignorando a gravidade. Tokimune movia os pés rapidamente, ajustando sua posição.

É como se ele estivesse se teleportando

“Ei! Ei! He-he-hey! He-he-hey! He-he-he-heyyyyy…!”

“É o show de um homem só do Tokimune…”

Kikkawa não pôde deixar de rir. Ele riu tanto que chorou – sim, não. Não importava o que acontecesse, ele não iria rir tanto assim. Então, por que Kikkawa estava chorando?

Estou me sentindo comovido?

Esse foi o primeiro pensamento de Kikkawa. Entre os Tokkis, Tokimune era a atração principal. Ele era o líder deles, é claro, e carismático também. Era como se ele fosse o pai de todos. Ele era um super paladino, um verdadeiro herói. Kikkawa estava ficando impressionado mais uma vez com a estrela absoluta que o homem era.

É isso mesmo?

 “Mimori, Kikkawa! Estamos recuando por enquanto! Vocês podem se mexer?!” Tokimune gritou, suas mãos nunca pararam enquanto ele empurrava as criaturas negras para trás com sua espada longa e escudo. Na verdade, não eram apenas suas mãos, todo o seu corpo estava entrando em ação.

“Tá bom” Mimori se virou para ir imediatamente. Ela parecia muito lenta, mas ainda conseguia se mover de alguma forma. Quem sou eu para criticar? Kikkawa se castigou mentalmente enquanto começava a subir as escadas.

“Entendido! Sim senhor! ” Kikkawa tentou responder com o máximo de alegria que conseguiu reunir. Ser brilhante e otimista, ultra feliz e super positivo. Isso era o que Kikkawa tinha a seu favor. Porque, com toda a honestidade, ele não tinha mais nada. Ele não precisava de um coração cheio de paixão agora, ele precisava de nervos de aço. Era hora de avançar, avançar, avançar.

Mas por que, apesar disso, as lágrimas estavam se recusando a parar?

Kikkawa alcançou Mimori em pouco tempo. Quando ela olhou para o lado e o viu, seus olhos se arregalaram. Pareciam tão grandes que era surreal sob a luz da lanterna dentro da torre.

“Está tudo bem?”, ela perguntou.

“Saudável como nunca!” Kikkawa respondeu instantaneamente com um sorriso radiante.

Estou chorando, não estou? Chorar e sorrir ao mesmo tempo é muito nojento, não é? Sim, é. Muito nojento. Totalmente nojento.

Desapareça, Kikkawa se obrigou. Ele não queria pensar. Não queria sentir. O nada era bom. Ele queria se tornar nada.

Eles subiram as escadas, com Mimori à frente de Kikkawa. Ela poderia tê-lo deixado para trás. Mas não o fez. Provavelmente preocupada com ele. Ele não esperava por isso. Mimori era alta, por isso se sentia como uma irmã mais velha, mas sua personalidade era mais parecida com a de uma irmã mais nova.

Depois de algum tempo subindo, eles viram o que parecia ser um patamar. Havia uma porta que levava a um corredor. As quatorze torres da Riverside Iron Fortress eram conectadas por pontes. Bem, eles as chamavam de pontes, mas tinham telhados sobre elas, então eram mais parecidas com passarelas. Anna-san, Tada e Inui estavam em frente à passarela.

“Rápido…! Mimorin! Kikkawa de merda! Rápido, sim!” Anna-san estava acenando para eles vigorosamente. Isso fez com que Kikkawa finalmente começasse a se perguntar o que estava acontecendo atrás dele.

“E o Tokimune?!”

“Você está vivo, então suba rápido, sim!”

“Não diga isso dessa forma!”

Kikkawa ficou chocado com a forma como ele se irritou com ela. Era muito estranho para ele ficar bravo com algo que a Anna-san disse. Não importava o que saísse da boca dela, era para aceitar com gratidão. Essa era a regra não escrita dos Tokkis.

Desapareça, Kikkawa se esforçou novamente. Sério, nada.

Ele não queria esvaziar sua cabeça, queria apagar sua própria existência. Era melhor não existir se fosse ficar assim. Kikkawa sentiu lágrimas frescas se derramando.

Sim, eu deveria desaparecer, voltar ao nada.

Ele se sentiu irremediavelmente patético, mas Kikkawa saiu correndo para a passarela, ainda soluçando. Então, quando chegou ao outro lado e estava entrando na torre seguinte, tropeçou.

“Uugh?!” Kikkawa caiu no chão de pedra. Seu escudo protegeu seu rosto, mas ele não ia se levantar.

“Está no meu caminho, idiota!” Tada o chutou para o lado, mas Kikkawa ficou deitado, imóvel. Inui ou outra pessoa arrastou Kikkawa atrás deles enquanto seguiam em frente.

“Muito bem, estamos prontos!”

Ao ouvir a voz de Tokimune, um pensamento vago entrou na cabeça de Kikkawa. Oh… Graças a Deus. Era isso mesmo.

Tokimune não tinha ficado para trás sozinho. Bem, sim, é claro que não. Seria um erro de Kikkawa pensar, mesmo por um instante, que Tokimune tinha feito uma tentativa de “Eu cuido das coisas aqui! O resto de vocês vai na frente!” Tipo, isso não era o estilo dos Tokkis, Eles não agiriam dessa maneira.

Os Tokkis eram diferentes. Não importava o quanto as coisas ficassem ruins, eles sairiam juntos. Esse era o estilo deles. Claro, o auto-sacrifício era legal e tudo mais, e talvez fosse digno de respeito, mas era difícil para as pessoas que você salvava, então, no final, era melhor todos sobreviverem juntos. É por isso que um dos princípios fundamentais do Tokkismo é sempre buscar a ausência de perdas.

Basicamente, o objetivo do show individual de Tokimune sempre foi ganhar tempo para que seus companheiros se retirassem. Ele empurrava o inimigo para trás e, depois que todos os outros recuavam, ele mesmo subia as escadas. Depois disso, ele atravessou correndo a passarela e agora estava gloriosamente reunido com seus companheiros. Cabia a Tada fazer o resto.

Kikkawa se levantou, enxugou as lágrimas de seus olhos com um suspiro e testemunhou o trabalho de demolição de Tada.

“Aahhhhhhh!”

Tada deu uma cambalhota voadora dentro da torre, batendo seu martelo de guerra na passarela. Somersault Bomb. Essa era uma das habilidades de luta da guilda dos guerreiros com equipamentos pesados. Kikkawa também a aprendera, mas raramente a usava. Era difícil colocar seu peso por trás da força do giro corretamente. Também era cansativo e fácil de errar. O senso de mira de Tada deve ter surgido naturalmente. É claro que, quando seu alvo era o chão, ele conseguia acertá-lo de olhos fechados, mas ainda assim era um truque que Kikkawa não poderia tentar imitar.

“Boom…!” No momento em que Somersault Bomb de Tada aterrissou, ele pulou novamente.

Com um estrondo, ele soltou outro Somersault Bomb.

Ele soltou seis Somersault Bomb seguidos. Isso era anormal. Essa não era mais Somersault Bomb. Não deveria ter sido considerada uma nova habilidade, em uma classe totalmente diferente? E ainda não havia terminado. Depois de soltar seis Somersault Bomb, ele respirou fundo e então balançou novamente.

O martelo de guerra de Tada rasgou o lado esquerdo da passarela.

Em seguida, ele o golpeou no lado direito. Com força.

Idiota como ele era, Kikkawa não percebeu isso, mas a passagem aérea já havia sofrido danos severos com seis golpes. Em resumo, estava prestes a quebrar. Um poderoso golpe à esquerda e à direita lhe deu um bom empurrão.

Um empurrão para onde?

“Siiiiiiiiiiiim…!” O grito de alegria de Anna-san foi engolido pelo estrondo do rápido colapso da passarela.

Tada caiu. Não, antes que ele pudesse bater a cabeça no chão, Tokimune o pegou e o deitou gentilmente. O herói dos Tokkis era um cavalheiro sofisticado.

E assim, a passarela caiu com as criaturas negras que os estavam perseguindo.

Tokimune havia elaborado esse plano enquanto estava longe da linha de frente para descansar. Em outras palavras, um herói nunca descansa.

Os Tokkis estavam na torre nove de quatorze. Para qual torre a passagem aérea que Tada destruiu os levou? Kikkawa nem sequer sabia. E quanto ao Inui? Sim, Inui. Inui teria verificado. Não havia dúvidas sobre isso.

Os Tokkis haviam abandonado a defesa da nona torre e se retirado para outra torre de número incerto. Se essa torre já tivesse sido tomada por aquelas estranhas criaturas negras, seria um desastre.

Inui não havia simplesmente se levantado e desaparecido sobre eles. Ele provavelmente recebeu instruções de Tokimune. Inui tinha ido à frente para fazer um reconhecimento e relatou que essa torre, qualquer que fosse o número, era segura. Em seguida, Tokimune colocou o plano de retirada em ação.

Kikkawa não estava pensando.

Não havia um único pensamento de valor em seu cérebro.

“Nós somos uma família! Tipo, Tokimune é o papai, Anna-san é a mamãe, Tadacchi é o irmão mais velho, Mimori-san é a irmã mais velha, eu sou o filho mais novo e Inui é nosso cachorro de estimação ou algo assim”.

Ele havia dito isso a Haruhiro uma vez.

Por alguma razão, Kikkawa conseguia se lembrar claramente do tom de voz e da expressão exatos que ele tinha naquela ocasião. Ele podia ouvir sua própria voz, o que era bom, mas não podia ver seu próprio rosto, então não havia como se lembrar disso.

Mas Kikkawa podia dizer com certeza: naquela época, ele estava com um sorriso bobo, com os músculos faciais relaxados de uma forma nada lisonjeira, fazendo com que ele parecesse um pouco desleixado.

“O filho mais novo, não é?”

Ele nunca tinha usado a desculpa: “Bem, sou o filho mais novo, então você não pode esperar mais do que isso de mim”. Ele nunca havia pensado dessa forma antes.

Não, talvez ele estivesse agindo como o filho mais novo da família durante todo esse tempo sem perceber. Se não estivesse, a ideia não teria surgido tão prontamente em sua conversa com Haruhiro.

Em algum momento, Kikkawa se viu sentado, abraçando os joelhos.

“O que há de errado?” perguntou Tokimune, batendo em seu ombro. Se ele não tivesse feito isso, Kikkawa poderia ter ficado assim para sempre. Kikkawa olhou para cima.

“Nada…”

“Você está com uma cara de quem acha que o mundo acabou”, disse Tokimune, mostrando seus dentes brancos. Mesmo que estivesse exausto – e isso estava começando a aparecer -, o rosto do herói exibia um bom ânimo sem fim.

Seu sorriso sempre encorajou Kikkawa. Não importava em que eles se metessem, isso o fazia pensar: “Bem, acho que temos de fazer o que precisa ser feito, sempre.”

Ele é tão incrível. Tokimune é totalmente o cara. Eu quero ser como ele. O cara é um herói até a alma. Como eu poderia não admirar isso? Mas, nesse momento em particular, o sorriso de Tokimune parecia tão brilhante para ele que era doloroso vê-lo. Doeu em seu coração. Cara, é difícil. Muito difícil. Está doendo muito.

Kikkawa estava dolorosamente ciente agora de que não havia compreendido completamente o tamanho da diferença entre os dois. Cara, pensar que eu queria ser como ele? Isso é simplesmente constrangedor. Quero dizer, isso é impossível para mim, sabe? A diferença entre Kikkawa e Tokimune era tão grande quanto a diferença entre uma águia voadora e uma tartaruga humilde. Não, era mais como a merda de uma tartaruga humilde.

Eu nunca poderia ser como ele. Nunca poderia nem chegar perto. Porque eu sou uma merda de tartaruga… Mas eu sabia disso.

É isso mesmo.

Ele já havia percebido isso há muito tempo.

Os Tokkis eram um bando de personalidades barulhentas com habilidades incomuns.

E quem era Kikkawa nesse grupo?

O Sr. Ordinário.

Kikkawa era tão sem graça em comparação com o resto deles.

Em um primeiro momento, pode-se dizer que ele era um completo cabeça de vento, mas será que sua personalidade superficial e descontraída estava tão longe do que era normal? No entanto, apesar de sua superficialidade, também não tinha vergonha, por isso conseguiu conviver como se fosse um deles.

Dito isso, ele não podia negar que lutava com sentimentos de inferioridade. Sinceramente, às vezes ficava deprimido com isso. Normalmente, um bom sono cuidava disso. Mesmo que não conseguisse parar de se preocupar com isso, ele teria que fazer o que fosse possível. Eles eram todos bons rapazes. Ele não tinha nenhuma preocupação com o fato de eles o abandonarem.

Ninguém iria dizer: “Por que não consegue fazer nada, seu perdedor? Estamos fartos de você. Saia daqui”, ou algo do gênero. Era mais: “Cara, você não consegue se conter, não é? Bem, tanto faz. Você é assim mesmo. É parte do motivo pelo qual você é um de nós. A melhor coisa a fazer é se divertir com isso”.

Era assim que os Tokkis eram.

Eu amo vocês. Eu amo todos vocês.

Então, por que ele estava assim agora? Por que Kikkawa estava com uma expressão que fazia Tokimune dizer que parecia que o mundo tinha acabado?

“Oh…”

Já entendi.

É assim mesmo, não é?

Kikkawa finalmente descobriu seus sentimentos. O que o estava corroendo não era sua fraqueza, inferioridade, raiva de sua própria inépcia, desespero ou vergonha. Ele tinha todos esses sentimentos, sim, mas a causa principal era outra.

Era exatamente como Tokimune disse.

O mundo havia acabado.

“Ok, vamos lá…” disse Kikkawa, baixando a cabeça. “O mundo acabou de verdade, não foi? Com essas coisas pretas bizarras. Que diabos são elas? Ouvi dizer que eles também acabaram com Altana. Dizem que Shinoharacchi não sobreviveu ou algo assim, e Jin Mogis fugiu por conta própria, sabe? Basicamente, ele os trouxe para a Fortaleza de Ferro Beira Rio com ele. Esse lugar também está ferrado agora. Não podemos defendê-lo. Quero dizer, mal conseguimos resistir por tanto tempo. Estamos todos bem no momento, mas muitos dos outros soldados voluntários foram mortos, certo? Isso é ruim. É muito ruim…”

“Droga, Kikkawa! O que você está murmurando…” Anna-san começou a falar com raiva, mas sua voz se arrastou para o nada.

“Urgh…” Mimori gemeu.

As respirações ofegantes que ela ouviu eram provavelmente as de Tada.

“Heh…” Inui limpou a garganta. “Vejo que o tempo do lorde demônio está próximo. Heh…”

“Estou impressionado como você sempre inventa essas besteiras!” Kikkawa tentou se levantar, mas caiu no meio do caminho. “Ok, vamos falar a sério… O mundo está acabando, certo? Nossa situação continua piorando. Vamos passar por isso, e depois? Não há esperança. Mas não me importo com isso. Não sei por que… Como devo dizer isso? Não me arrependo de muita coisa, sabe? Eu me diverti muito. Todo dia era uma explosão. Tenho todas essas ótimas lembranças. Porque vocês estavam lá comigo. Estávamos juntos. Cara, fui muito abençoado. Muito obrigado a todos. Por causa de vocês, não me arrependo de nada, mas… ainda assim… eu só… Não quero que isso acabe. Tipo, eu não me importo com o mundo. Mas se o mundo está acabando, todos nós vamos morrer, não é? Eu não quero isso”.

Kikkawa viveu sua vida como um soldado voluntário, mesmo que não fosse muito bom. Ele teve seus encontros com a morte. Ele pensou muito sobre a morte, como o que aconteceria quando ele morresse ou como seria estar morto. Bem, talvez fosse como dormir, mas você não sonhava. Foi isso que Kikkawa pensou. Normalmente, quando você dorme, você acorda mais tarde. Mas não se acorda da morte. Ainda assim, se era só isso, não era tão assustador.

Ele estava bem com isso. Ele não se importava quando morresse.

Mas ele não queria que seus companheiros morressem.

Isso não estava certo.

Eles eram os Tokkis, então ele tinha certeza de que tudo ficaria bem. Como o filho mais novo, ele seria o primeiro a morrer. Ele faria alguma besteira de forma ridícula e, quando pensasse: “Ah, droga, acho que vou morrer”, já estaria inconsciente. Já estava morto.

Ele queria pelo menos morrer de uma forma que seus companheiros pudessem rir. Algo que os fizesse pensar: “Nossa, aquele cara era um idiota. Um idiota até o fim. Eu sei que não deveria rir e tudo mais, mas, cara, desculpe, eu vou rir”. As coisas não ficariam tão sombrias assim.

Kikkawa acreditava nos Tokkis. Acreditava neles completamente, até o fim.

Então, sim, com certeza vai dar tudo certo.

Vocês nunca me abandonariam.

Tenho certeza de que provavelmente serei morto antes de vocês, mas, me dêem uma folga, ok?

“O que faremos daqui para frente? Quero que vocês sobrevivam. É só isso que eu quero. Mas estou tendo a sensação de que não há muita esperança de que isso aconteça. Este é o fim do mundo…”

“Sim.” Tokimune de repente se agachou e jogou o braço em volta dos ombros de Kikkawa. “Sinto a mesma coisa. Este mundo está caminhando para o seu fim. Não sei como será esse fim, mas ele é o que manda.”

“É? Ele governa…?”

“É o fim do mundo, cara. Isso é muito importante. Não acontece com frequência. Isso não faz você tremer de emoção?”

“Uh, eu tenho calafrios… mas não é realmente de excitação.”

“Bem próximo. Há alguma coincidência aí. Você pode transformar o medo em entusiasmo.”

“Isso parece um pouco exagerado…”

“Está com medo, Kikkawa?” Tokimune perguntou, sorrindo amplamente e puxando Kikkawa para perto dele. “Hmm? Você está?”

“Bem, sim… estou. Estou… assustado, sim. Eu sou apenas… um cara normal, diferente do resto de vocês…”

“Eu também estou com medo.”

“Hã?”

“As coisas aqui ficaram muito ruins”, disse Tokimune sem rodeios. “Já era ruim o suficiente com os orcs e os mortos-vivos que vinham guerrear contra nós, mas agora temos isso em nosso prato também. Parece que está acontecendo algo que vai mudar a face de Grimgar. Mas não tenho a menor ideia do que possa ser. Nenhuma mesmo. Isso também é ruim. O mundo está acabando, não é? Sim, parece certo. O mundo como o conhecemos, pelo menos. Isso é assustador. Você seria louco se não ficasse assustado.”

“Mas…” Kikkawa começou a tremer, embora não tivesse certeza de quando.

Medo. Tokimune tinha acabado de dizer que estava com medo. Ele havia colocado isso claramente em palavras. Até mesmo Tokimune estava com medo?

“Mas…”

Kikkawa não queria aceitar. Ele não podia acreditar nisso.

“Você disse que estava animado.”

“Isso é o que eu continuo dizendo a mim mesmo. Mas, bem, estou apenas tentando me fazer de durão.”

“Tentando ser durão? Você, Tokimune?”

“Não consigo ver onde tudo isso vai dar. Mas quero passar cada segundo que puder com vocês. Não, segundos não são suficientes. Eu quero mais. Provavelmente sou um cara egoísta. É por isso que ninguém se sente mais forte do que eu em relação ao grande desperdício que é não estar aproveitando cada momento. Muitas vezes me ocorre, antes de adormecer, que mesmo que eu não saiba quando isso vai acontecer, haverá um momento em que terei de abrir mão de tudo. Posso perder tudo. Quando penso nisso, me sinto entorpecido. É pesado e insuportável”.

Tokimune nasceu para ser um herói.

Kikkawa queria ser como ele, se pudesse.

Mas para um cara comum como Kikkawa, isso parecia um objetivo muito distante. Não importava o quanto ele idolatrava Tokimune, ele não poderia se tornar como ele. A distância entre eles era muito grande.

Até Tokimune estava com medo?

De vez em quando, ele pensava na morte?

Ele estava com medo de sua própria morte, quando teria que deixar tudo de lado, e da morte de seus preciosos companheiros?

“Eu tomei uma decisão. Quando começo a me sentir assim, há algo que digo a mim mesmo.”

“O que é isso?”

“’Não tenha medo, seu covarde’.”

“Covarde… Espere, você quer dizer você, Tokimune?”

“Bem, é. Estamos vivos, mas há muito mais pessoas mortas. Todas elas viviam como nós, até que não viviam mais. Algumas delas devem ter tido medo da morte, como eu tenho. Algumas devem ter tremido e dito coisas como: “Nossa, isso é assustador”. Alguns provavelmente faleceram em paz consigo mesmos, plenamente satisfeitos, e outros foram embora como verdadeiros durões. Ainda assim, todos eles, mesmo os covardes como eu, estão bem e mortos. Sei que também poderei ter uma boa morte. Foi isso que decidi dizer a mim mesmo. Claro, ainda fico assustado de vez em quando, como era de se esperar. Se puder, prefiro evitar que vocês morram ou que me percam. Quero adiar isso o máximo que pudermos. Sou um cara ganancioso e teimoso assim”.

“Não… diga isso…” Kikkawa começou a dizer, mas não conseguiu continuar.

Ele queria que Tokimune continuasse sendo seu herói, sempre fora de alcance. Mas, por outro lado, essa era a primeira vez que Tokimune não parecia maior do que a vida, e isso era reconfortante.

Ah, cara. Eu achava que ele era algum tipo de herói natural bagunçado ou algo assim, mas ele é apenas um ser humano normal, como eu.

Estava um pouco decepcionado? Ele não podia negar isso. Agora que sabia que Tokimune estava apenas agindo de forma dura, ele não podia mais confiar no paladino da mesma forma que sempre confiara antes. No final das contas, o que deixou Kikkawa incapaz de falar pode ter sido o fato de ele ter exposto sua própria natureza como o filho mais novo e mimado da família Tokkis.

“Você já terminou de divagar?” Tada se levantou, respirou fundo e estalou o pescoço para a esquerda e para a direita. Em seguida, girou seu martelo de guerra.

“Ah, sim!” Anna-san gritou com uma voz aguda, socando o ar. “Acabou o intervalo, sim! Velocidade máxima à frente! Ok?! Próximo! Porque agora é hora do Plano A, sim!”

“Mm.” Mimori, que estava sentada todo esse tempo, ajustou a posição de seu chapéu de mago.

Inui estava verificando seu rabo de cavalo. Para um homem, ele era muito exigente com seu cabelo.

Tokimune deu um tapinha no ombro de Kikkawa. “Está na hora de ir embora, Kikkawa. Vamos ver o fim do mundo juntos.”

“Parece um plano…” No fundo de seu coração, Kikkawa sussurrou: “Não tenha medo, seu covarde”.

Quando se levantasse com Tokimune, ele estaria de volta ao seu estado normal. Teria que estar.

Ele tinha um lugar entre os Tokkis, mesmo que não o merecesse, portanto, não era do feitio de Kikkawa ficar sentado com pena de si mesmo. Com sua idiotice veio uma personalidade descontraída. Ele era tão cabeça de vento que você pensaria que ele poderia flutuar. Esse era Kikkawa, o filho mais novo da família Tokkis.

Era esse o papel que ele tinha de continuar desempenhando para ficar com eles? Com certeza. Ser um bobão não era algo que Kikkawa pudesse fazer sem atuar. Mas mesmo Tokimune nem sempre era completamente ele mesmo. Todo mundo tinha uma pessoa que queria ser e outra que não queria. Eles fingiam isso ou aquilo, enganando as pessoas ao seu redor, ou talvez a si mesmos, para que os vissem como maiores, ou às vezes menores, do que realmente eram.

Todos eram adoráveis. E Kikkawa amava seus companheiros mais do que qualquer outra pessoa.

“Vamos para a quinta torre.”

Tokimune liderou o caminho enquanto desciam as escadas.

A torre em que eles estavam antes era a nona, e a que eles haviam atravessado pela ponte era aparentemente a décima terceira. A nona e a décima terceira torres tinham um papel um tanto especial entre as quatorze torres da Fortaleza de Ferro Beira Rio. Cada uma delas estava conectada a várias outras torres por pontes, mas não tinham entradas no nível do solo. Elas também tinham depósitos para suprimentos no último andar e no subsolo.

Além disso, a sétima e a décima quarta torres tinham passagens subterrâneas secretas que levavam para fora da fortaleza. No entanto, a décima quarta torre havia sido destruída em grande parte nas muitas batalhas que a fortaleza enfrentou, e sua passagem secreta não podia mais ser usada.

A sétima torre era o trunfo deles para sair dali. As escadas para o subsolo ficavam atrás de uma fina parede de pedra. Se fosse preciso, eles poderiam reunir as forças restantes, ir até lá e escapar.

Aliás, destruir as pontes era algo que eles eram proibidos de fazer. O complexo sistema de pontes que conectava as torres permitia que eles se deslocassem facilmente de uma para outra. Os defensores se utilizaram desse sistema para se retirarem quando em desvantagem, apoiar seus aliados e ganhar tempo. Enquanto isso, para o lado atacante, se derrubassem as pontes, não poderiam perseguir seus inimigos e correriam o risco de se isolarem.

Os Tokkis foram forçados a agir. Se não tivessem feito esse movimento, com certeza alguém teria morrido. Possivelmente todos eles.

Finalmente, chegaram a uma espécie de plataforma, com uma ponte para a quinta torre. Parecia haver uma luta acontecendo lá.

Finalmente, eles chegaram a algo parecido com uma aterrissagem, com uma ponte para a quinta torre. Parecia que havia uma luta acontecendo ali.

“Inui?!” Tokimune perguntou, e Inui arregalou o olho direito – o que não estava coberto pelo tapa-olho – e olhou para o outro lado da ponte.

“Heh!”

“Ah, cara, ele está prestes a liberar seu olho demoníaco?! Ele está, não está?!” gritou Kikkawa. Ele conseguiu fazer isso com seu tom habitual. Isso o tranquilizou um pouco, mas também lhe rendeu uma cotovelada de Tada.

“Ai?!”

“Inui não tem nada disso.”

“Tadacchi, na nuca não, por favor! Você vai me deixar ainda mais estúpido do que já sou!”

“Não há cura para estupidez. Não há como consertar a estupidez de Kikkawa, sim!” Anna-san piscou e fez um sinal de positivo para ele.

Mimori acenou com a cabeça. “Então não há problema em bater nele”.

“Ah, entendo. Não há como consertar minha idiotice, então não há problema em me bater…” Kikkawa brincou com a piada. Então, como sempre, “Não, não é!”, ele fez a réplica cômica.

“Lá na quinta torre…”

Inui estava agachado, movendo os braços em todas as direções. Ele fazia esse tipo de coisa o tempo todo. Era assustador e desagradável, mas você se acostumava.

“Estou vendo o Iron Knuckle e os Berserkers…! Ou deve ser quem é…! Heh!”

“Você não está parecendo muito confiante, sabe?” disse Kikkawa.

“Certo, vamos apoiá-los!” Tokimune declarou, saindo em disparada.

Tada, Kikkawa, Mimori, Anna-san e Inui os seguiram. Eles estavam começando a ter uma vaga ideia de como era do outro lado da ponte, na quinta torre. Havia uma pessoa com um pé na ponte. Ele tinha cabelos ruivos e estava envolto em uma capa preta.

“É ele!” Kikkawa gritou em uma voz terrivelmente alta, fazendo com que o homem ruivo se virasse e olhasse para eles. Não havia muitos soldados voluntários na ativa que tivessem o tipo de presença que esse homem tinha. Ele era mais velho do que eles, provavelmente na casa dos quarenta anos.

“Chegaram reforços!”, o ruivo chamou na quinta torre com uma voz rouca. Ele tinha a espada desembainhada, mas não estava claro se estava lutando. Kikkawa tinha uma opinião ruim sobre pessoas que agiam de forma tão arrogante como esse cara.

“Jin Mogis! Foi você quem trouxe aquelas criaturas esquisitas para cá!”

Os Tokkis estavam quase atravessando a ponte. Jin Mogis, enquanto isso, estava tentando sair da quinta torre. Eles iam passar um pelo outro.

Tokimune saltou para a quinta torre. Mesmo que cortar Mogis tenha sido um pouco exagerado, Kikkawa desejou ter pelo menos tropeçado no bastardo quando ele passou. Ele tinha certeza de que tinha visto um leve sorriso no rosto do homem.

“Cara, ele me irrita!”

Mas, bem, não havia tempo para isso, então ele correu para a quinta torre atrás de Tokimune. Lá embaixo, um grupo de soldados voluntários havia se formado em um grupo. Parecia que os homens do Iron Knuckle e dos Berserkers tinham feito uma parede de escudos, armaduras e sua própria carne para impedir que as criaturas negras subissem as escadas e para tentar empurrá-las de volta. Os Tokkis tinham apenas seis membros, mas o Iron Knuckle e os Berserkers eram maiores, então podiam usar táticas como essa, não?

Eles não eram próximos de nenhum dos outros clãs, mas pelo menos conheciam o chefe do Iron Knuckle, “One-on-One” Max, e seu braço direito, Aidan, bem como o “Demônio vermelho” Ducky dos Berserkers e seu segundo em comando, Saga. Max parecia um jovem líder de gangue, e Ducky era um cara grande com cabelos ruivos – não naturais, mas tingidos dessa cor. Ambos estavam no meio do grupo. Mais acima na escada de sua posição estava Saga dos Berserkers, usando um chapéu de mago que cobria seus olhos.

“Anna-san, Mimori, fiquem atrás!” Tokimune assumiu uma posição na retaguarda do grupo e começou a empurrar os homens à sua frente. “Kikkawa, Tada, Inui, vamos empurrar!”

“Sim, senhor!”

“Chato!”

“Heh!”

Tada parecia não se divertir com a ideia, Mas os quatro homens dos Tokkis ainda se juntaram ao empurra-empurra, empurrando e empurrando sem parar. Kikkawa achava que estava na retaguarda, mas de alguma forma acabou no meio do aperto. Parecia que mantinham o empurra-empurra intacto fazendo com que os homens da frente recuassem e os de trás avançassem em turnos. Como exatamente eles faziam isso? Era um mistério para Kikkawa. Ou melhor, ele estava pressionado demais para pensar nisso. O fedor de suor o estava sufocando. Em algum momento,

Kikkawa foi empurrado para a frente.

As criaturas negras estavam lá, do outro lado dos escudos.

Estou morto. Muito morto. Vou de arrasta. Kikkawa resmungou, gemeu e chorou. Eu vou morrer. Vou morrer aqui. Que porcaria. Que desgraça. Isso está além da loucura. Eles estão me pressionando muito por trás. Nossos aliados vão me matar antes que o inimigo consiga. Se empurrarem com tanta força, vão quebrar minhas costas, pessoal! Não, pior do que isso. Vocês vão esmagar todos os ossos do meu corpo e me moer. Serei carne moída quando isso acabar!

Não aguento mais, ugh-uh, de jeito nenhum, de jeito nenhum, não, nem a pau, nem…

Quando estava prestes a desmaiar, Kikkawa foi puxado da linha de frente para a segunda fila, depois para a terceira e quarta, recuando uma fila de cada vez. À medida que a pressão sobre seu corpo diminuía e ele se via capaz de respirar corretamente, sua consciência retornava. Quando se deu conta, estava acontecendo de novo. Sim, de novo. Ele foi sugado para frente, para a linha de frente, contra sua vontade.

Não. Eu não gosto disso. Eu odeio isso. Não quero ir para a frente. Gosto mais da parte de trás.

Mas eles não o deixariam ficar lá. Ninguém se importava com o que Kikkawa sentia. Quando ele chegasse à frente, teria de suportar.

Depois de atravessar o empurra-empurra algumas vezes – ele nem sabia quantas ao certo –, Kikkawa se viu lá atrás de novo.”

“Isso não vai a lugar nenhum!”

“Não podemos segurá-los para sempre!”

Duas pessoas estavam gritando uma com a outra. Quem? Ele não sabia, mas provavelmente Max e Ducky. Será que eles tinham saído do grupo?

“Parece que Britney e Kajiko se retiraram da sétima!”

“O que vamos fazer?! Se a sétima torre cair, não poderemos escapar!”

“Concentremos nossas forças! Nossa única opção é atravessar!”

Essa última voz rouca pertencia a Jin Mogis.

“Precisamos fazer contato com nossos aliados e nos reunir em uma torre! Quando fizermos isso, sairemos pelo portão já quebrado!”

“Vá se danar! Quem disse que você podia falar?!”

“Você perdeu o seu exército e agora está agindo como se estivesse no comando aqui?”

Max e Ducky atacaram Jin Mogis. Kikkawa tinha algumas palavras para o próprio homem, mas foi puxado de volta para a briga contra sua vontade.

Isso de novo?! Sério?! Vou ser empurrado ainda mais para a frente? Poderia me dar um tempo?

Kikkawa queria reclamar, mas se lembrou de alguém dizendo que o jogo acabava no momento em que você desistia. Espere, isso não era um jogo. Era mais sério e importante do que isso. O que era mais um motivo para ele não desistir. Ele não podia morrer no meio desse absurdo.

Não tenha medo, seu covarde.

Nós vamos ver o fim do mundo juntos. Ele ainda não acabou. Não posso morrer até que acabe. Seria uma pena morrer aqui.

In this post:

Deixe um comentário

Ads Blocker Image Powered by Code Help Pro

Adblock detectado! Desative para nos apoiar.

Apoie o site e veja todo o conteúdo sem anúncios!

Entre no Discord e saiba mais.

Você não pode copiar o conteúdo desta página

|