Seishun Buta Yarou – Capítulo 1 – Vol 07 - Anime Center BR

Seishun Buta Yarou – Capítulo 1 – Vol 07

Capítulo 1

Sakuta Azusagawa não conseguia compreender o que o médico estava dizendo. “Fizemos tudo o que podíamos. Minhas condolências.” Ele não estava tendo dificuldades para ouvir ou entender o que o médico havia dito. O homem de cerca de quarenta anos que emergiu da sala de cirurgia falava claramente e, no silêncio do hospital, até mesmo vozes baixas pareciam altas.

“O que… você…?” Sua voz falhou. A pergunta escapou sem que ele percebesse.

Mas o homem de avental cirúrgico verde não respondeu. Ele nem mesmo estava falando com Sakuta. Não, o foco do médico estava completamente em uma mulher de terno caro, com cabelos longos e aparentando estar na casa dos quarenta. Sakuta conseguia ver a semelhança dela com uma garota um ano acima dele na escola. Sua namorada. A pessoa que mais importava para ele: Mai Sakurajima.

Mais precisamente, Mai se parecia com a mulher de terno — a mãe de Mai. Sakuta a tinha encontrado uma vez antes. O fato de ele lembrar do rosto dela desde aquele único encontro mostrava o quanto elas se pareciam.

“Então minha fi… Mai… ela está realmente…” As palavras caíam dos lábios da mulher uma de cada vez, seus olhos fixos no rosto do médico.

“Quando ela chegou até nós, já era tarde demais.” Ele se curvou profundamente.

Sakuta simplesmente não conseguia processar nada disso. Ele sabia que o médico estava falando japonês, mas nada do que ele dizia fazia sentido. Seu coração e corpo se recusavam a entender, a aceitar a verdade.

Todos os sons gradualmente desapareceram. A única coisa que ele podia ouvir era o zumbido em seus ouvidos. O médico ainda estava falando, mas nada do que ele dizia chegava até Sakuta.

Seus ouvidos estavam rugindo. Isolado do mundo, Sakuta foi tomado por uma súbita sensação de vertigem. Ele havia perdido seu centro e não conseguia distinguir frente de trás, cima de baixo. Tentando se recompor, ele fixou os olhos em um único ponto à frente.

Então, uma dor quente e ardente atravessou sua bochecha. A sensação de ardor trouxe sua mente de volta ao presente. Ele pensou ter ouvido o eco de um estalo.

“Traga-a de volta!” Uma voz retorcida de raiva gritou para ele. Ele podia ver uma dor angustiante naqueles olhos. Ela não tinha derramado uma única lágrima, mas Sakuta ainda podia perceber.

Um segundo e terceiro estalo ecoaram pelo corredor. Só então ele percebeu que a dor vinha de alguém que o estava esbofeteando.

“…Devolva a Mai!” Mais um tapa.

Sakuta não tinha forças para desviar. Ele deixou que os golpes caíssem onde quisessem.

“Por favor, acalme-se.” Médicos e enfermeiros intervieram para afastar a mãe de Mai.

“Devolva-a! Devolva minha filha!”

Os lamentos de uma mãe enlutada perfuravam-no como facas.

Ele podia sentir o gosto do sangue. Não era imaginação — o tapa havia partido seu lábio.

Uma enfermeira notou o ferimento e colocou uma mão em seu ombro. “Vamos cuidar disso,” ela disse. Ela deu-lhe um leve empurrão, claramente sugerindo que ele não deveria estar ali.

Ele não tinha forças para lutar contra isso também. Ele foi obedientemente, movendo-se como um sonâmbulo.

“Traga a Mai de volta! Traga-a de volta!”

Os sons do luto de uma mãe ecoavam em seus ouvidos.

Sakuta estava sozinho em uma sala de espera ambulatorial, seu lábio já tratado.

“……”

Ele sentou-se no primeiro assento de um banco de cinco lugares.

As luzes estavam apagadas, e a única iluminação vinha do verde da placa de saída.

Essa sala geralmente só era usada se houvesse tantas pessoas esperando que faltassem cadeiras, mas era no meio da noite, bem fora do horário normal de visitas. O silêncio lembrava-o daquela vez em que ele havia entrado furtivamente na escola depois do anoitecer.

Então, o silêncio foi quebrado por passos. Alguém estava correndo pelo corredor. E respirando pesadamente.

Em instantes, essa pessoa chegaria até Sakuta.

Vendo o cabelo loiro balançando em um rabo de cavalo lateral familiar, Sakuta reconheceu Nodoka Toyohama imediatamente.

Ela trabalhava como cantora idol e tinha acabado de fazer um concerto de Natal. Ela devia ter vindo direto do local sem sequer trocar de roupa.

Removendo a maquiagem de palco. Ou o figurino — ele podia vê-lo brilhando sob o casaco. Quando Sakuta olhou para cima, seus olhos se fixaram nele.

“ Sakuta…?!”

Os passos pararam. Seu rosto estava tenso, assustado. Ela lançou-lhe um olhar suplicante, como se estivesse esperando contra toda a esperança. Sakuta percebeu instantaneamente o que ela queria e deliberadamente olhou para o outro lado. As esperanças de Nodoka não seriam atendidas. E ele não queria assistir.

“ …”

“ Sakuta…?”   Sua voz era rouca.

Ele não disse nada. Não havia nada que ele pudesse dizer.

“Por favor, Sakuta…”

A mão dela estava em seu ombro, sacudindo-o.

“ Fale comigo!”

Ela o sacudiu mais forte.

“Por que você não está dizendo nada?!”

“…”]

“ Diga-me por quê!”

Ele simplesmente não conseguia se forçar a falar. E isso era tudo o que Nodoka precisava como confirmação.

“ …Isso não pode ser real.” Sua voz tremia.

“ Não isso…”

“…”

“Diga-me que não é verdade!”

Seu coração palpitava no silêncio. Sakuta forçou sua garganta seca a funcionar.

“O médico disse… quando ela chegou ao hospital, já era tarde demais.”

Aquelas palavras não faziam sentido. Ainda não faziam. Ele estava apenas repetindo sons sem significado.

“ …Não.”

Sua voz afundou como se o ar estivesse saindo dela.

“ Isso é… o que o médico disse.”

“Não!”

“Eu realmente… não sei o que isso significa.”

“Minha irmã está mesmo…?!”

As mãos dela estavam em ambos os ombros dele, sacudindo-o novamente.

“ …”

“ Deve haver algum engano!”

“ …”

“ Sakuta!”

“ …”

“É um engano. Tem que ser. Diga que é!”

Quando ele finalmente levantou a cabeça, as lágrimas de Nodoka estavam escorrendo. Seu rosto estava todo distorcido de tanto chorar.

“Alguém chamou meu nome” , ele disse.

Nodoka fungou.

“Então eu estava no chão.”

“ …”

“E Mai estava deitada ao meu lado.”

Ele soava quase delirante. Sua mente não estava funcionando de jeito nenhum. Ele não conseguia pensar. As palavras saíam involuntariamente como um alto-falante quebrado, descrevendo o que ele havia visto sem compreender o que tinha acontecido com ele.

“A neve.”

“ …”

“Ela ficou vermelha.”

“…”

Naquela hora, nada naquele hospital o impediria de falar.

“Vermelha ao redor de Mai.”

Não importava o quão lentamente ele falasse, o quão fragmentado, ninguém o apressava. Nodoka apenas ouvia através de suas lágrimas.

“Só ao redor dela.”

“…”

“Eu falei, mas ela não respondeu.”

“ …”

“Mai não dizia nada. Mesmo quando eu chamava seu nome.”

O medo daquele momento voltou correndo, e Sakuta começou a tremer. O quarto não estava frio, mas seu corpo parecia congelado.

“A ambulância veio e nós fomos nela, mas Mai nunca falou. Nunca se moveu. Ela não estava… respirando.”

Sakuta havia rezado para que chegassem ao hospital logo. Era tudo o que ele podia fazer. Esperar que, se chegassem, os médicos poderiam salvá-la. Ele acreditava que sim. Tinha que acreditar. Sem nenhuma dúvida na mente.

“ Por quê…” Um sussurro escapou dos lábios de Nodoka.

 

“ … “

“Por quê…”

“…”

“Por que você não a protegeu?” Olhos cheios de lágrimas o encaravam.

“Por que você não protegeu a Mai?”

“ …”

“Por quê… por quê…”

“Eu…”

“Por que você não a fez feliz?”

“?!”

Ele engasgou com as palavras que tentavam sair. O desabafo dela deixou sua mente em branco. Ele nem tinha certeza do que estava prestes a dizer.

“Por quê… por quê?”

Nodoka desabou no chão, soluçando. Ela não tinha mais forças para fazer nada além de chorar. Ela começou a tombar completamente, mas se segurou, com a mão apoiada no joelho de Sakuta.

“Por quê…”

Ela bateu no joelho dele.

“Por quê…”

Então o socou.

“Por quê, por quê, por quê?!”

De novo e de novo. Ele não sentiu dor. Os golpes dela eram fracos demais e não tinham força real. Cada um era mais fraco que o anterior.

— Por quê… por quê…?”

A voz dela também começou a enfraquecer. Logo, ele mal conseguia ouvi-la.

“Desculpe. Eu…”

Mas as palavras que ele queria dizer desapareceram antes de serem ouvidas. O último vestígio de razão que ele mantinha o impediu.

Eu deveria ter morrido no lugar dela.

Seria fácil dizer isso. Mas Sakuta não podia. Seu corpo rejeitava fisicamente a própria ideia. Sakuta estava ali por causa de Mai. Ele continuava a existir por causa dela. Ele estava vivo por causa do que ela tinha feito. Como poderia dizer qualquer coisa que diminuísse isso?

Então, ele engoliu o bile que subia, cerrando os dentes até a onda de emoção rancorosa passar por ele. Ele sabia muito bem que esses sentimentos nunca desapareceriam. Não havia salvação a ser encontrada, não importa para onde ele olhasse. Tudo o que ele podia fazer era esperar o tempo passar. Não havia mais nada. Essa era a única parte de tudo isso que ele entendia.

Ele não tinha lembranças de ter andado para qualquer lugar. Era impossível saber a que horas ele saiu do hospital. Mas antes do nascer do sol, ele estava do lado de fora do seu apartamento, tirando a chave do bolso e abrindo a porta.

“Estou em casa…” disse por hábito. Sua voz estava seca e rouca. Ela ecoou pelo interior silencioso.

Não houve resposta. Ele morava com sua irmã, Kaede, mas ela estava com os avós no momento.

“ …”

Mas enquanto Sakuta tirava os sapatos, ele esperava por uma resposta. Ele esperava que houvesse uma. No último mês, outra pessoa estava morando com eles… e ele tinha se acostumado a tê-la por perto.

“…”

Ele esperou, mas nenhuma resposta veio. Ele não ouviu chinelos deslizando pelo corredor. Ninguém veio recebê-lo na porta. Aquele sorriso aberto não estava mais ali.

“ …Ah. Certo, não estaria…”

Finalmente caiu a ficha. O acidente deveria ter tirado a vida de Sakuta. Uma vez declarado com morte cerebral, seu coração seria doado para a pequena Shouko. O transplante que ela precisava. O ingresso da Shouko do futuro para um futuro. Mas Sakuta estava ali, vivo. Não foi apenas o futuro de Mai que foi perdido. A pequena Shouko perdeu sua única chance de um transplante… então como a versão futura dela ainda poderia estar ali?

“ …”

O buraco em seu peito se abriu mais. O vazio crescente estava devorando-o.

“ …O quê…?”

Ele se ajoelhou na entrada, sentindo como se não pudesse respirar. Instintivamente, segurou o peito, e quando o fez, algo ali parecia errado.

“ …?”

 

Isso parecia errado. Diferente do dia anterior. Ele tocou o peito novamente, e definitivamente não era o mesmo.

“…”

Impulsionado pela dúvida, Sakuta deslizou um dedo dentro do colarinho e olhou para a frente da camisa.

“ …!”

A visão o fez ficar rígido. A mudança era clara e o abalou. Uma onda de alarme percorreu seu corpo da cabeça aos pés.

“Ah. Eu estava certo.”

De certo modo, fazia sentido. Claro que isso aconteceria.

As três marcas de garra que corriam do ombro direito até o lado esquerdo… estavam completamente desaparecidas. Não “curadas” ou “desbotadas”. Não havia um traço delas, como se nunca tivessem existido. Apenas pele intacta de cima a baixo. E a visão dessa mudança desfez a última esperança tênue que Sakuta ainda tinha.

A ausência das cicatrizes provava que a Shouko do futuro não estava mais presente. Agora era real para ele. Talvez ainda houvesse uma pequena chance de que a Shouko do presente conseguisse seu transplante de coração. Mas a Shouko do futuro só existia porque recebeu o coração de Sakuta — então ela não existia mais. Todas as vezes que ela o salvou… e agora ela se foi. Ela não existia mais neste mundo, nem no mundo por vir. As cicatrizes ausentes provavam isso. A continuação da existência de Sakuta provava isso.

“Eu não consegui…”

Ele não conseguiu proteger nada. Estava tudo perdido.

“ …Isso é um sonho, certo?”

Esse murmúrio escapou dele. As visões que seus olhos registravam, os sons que seus ouvidos ouviam, as sensações que sua pele sentia, os pensamentos que passavam por seu cérebro — nada parecia real. Nada parecia convincente. Ele não conseguia acreditar em nada disso.

Ele queria que isso fosse um sonho. Era a única maneira de fazer algum sentido. Uma realidade tão dura e inescapável tinha que ser um pesadelo. Quando ele acordasse de manhã, nada disso teria acontecido. Era a única maneira de as coisas fazerem sentido. Sakuta se apegou a essa ideia. Naquele momento, pelo menos, parecia muito mais crível.

No momento em que ele se deu conta, o céu a oeste estava vermelho. O frio da noite estava prestes a engolir o último sol. O vermelho do pôr do sol se misturava com o preto da noite, e quando Sakuta olhou para cima pela janela, parecia o fim do mundo.

“Isso talvez fosse preferível…”

Ele não falava há horas, e o som de sua própria voz o lembrou de que ele ainda estava ali. Ele não se lembrava do que estava fazendo. Estava dormindo? Apenas sentado? Tudo desde que chegou em casa era um branco.

Ele estava no chão, e havia algo em seu colo. Um gato tricolor. Nasuno. Ele podia sentir o calor dela e a suavidade do seu pelo. As partes dele que tocavam Nasuno eram as únicas partes que pareciam reais. Seus olhos se encontraram. Nasuno miou.

Provavelmente estava pedindo comida, já que não era alimentada desde ontem.

Sakuta tentou se levantar, mas se sentiu tonto. Ele agarrou-se ao kotatsu para se apoiar e conseguiu evitar cair por pouco. Devia estar sentado completamente imóvel por muito tempo. Todas as suas articulações doíam.

Ele parecia não ter muita força restante. Como Nasuno, Sakuta não comia há pelo menos um dia. Estava desidratado e seu corpo inteiro parecia lento, como se estivesse com uma leve febre. Sakuta soltou o kotatsu com cuidado e ficou de pé. Nasuno estava se esfregando contra seus pés, e ele foi para a cozinha atender à demanda dela.

Ele pegou o saco de ração no armário e colocou um pouco na tigela de Nasuno. A porção estava um pouco maior que o usual. Nasuno se afastou de seus pés e começou a comer.

Sakuta acariciou suas costas. O pelo era macio. Ele podia sentir o calor dela contra sua palma. Mas era só isso. Não havia conforto ali para ele. Ele não se sentia atraído pela sensação terna como normalmente se sentiria em qualquer outro dia de inverno. Não alcançava seu coração de forma alguma. Havia um vazio em seu peito, e ele estava entorpecido para o mundo. Nada além de vazio flutuando dentro dele. Sakuta nem tinha certeza de que essa sensação pertencia a ele.

Ele acariciou o gato por um tempo e, depois de algum tempo, ouviu um ruído do lado de fora. O interfone tocou.

Seu corpo não reagiu. Em vez disso, Nasuno parou de comer e olhou para cima.

“ …Não está trancado “ disse uma voz à distância. Não, provavelmente não estava tão longe assim. Ele não conseguia dizer exatamente. E, honestamente, ele não se importava.

 

“Kunimi, não podemos simplesmente entrar…”
“Sakuta! Você está aí? Estou entrando.”

Ele podia ouvir dois pares de passos. Um estava pisando forte no corredor, e o outro seguia a um trote leve. Eles desceram o curto corredor até a sala de estar.

“ Sakuta.”
“Azusagawa…”

Seus visitantes o encontraram ajoelhado ao lado de Nasuno, e ambos chamaram seu nome. Ele já tinha ouvido essas vozes antes. Pareciam familiares. Ele olhou para cima, com a visão turva. Duas pessoas estavam de pé sobre ele: um garoto alto, Yuuma Kunimi, e uma garota baixa com óculos, Rio Futaba. Eles eram seus amigos.

Yuuma olhou para ele e pareceu momentaneamente aliviado. Isso logo foi substituído por uma expressão de pesar, como se estivesse se segurando para não desmoronar.

“O que houve?” Sakuta perguntou, desfocado.

“Vimos as notícias. Sobre o acidente”  disse Rio.
“Estávamos preocupados. Tentamos ligar para você o dia todo.”   acrescentou Yuuma.

“Ah.”

Ele olhou para o telefone, e a luz da secretária eletrônica estava piscando. Havia mensagens esperando.

Nasuno decidiu que esses visitantes não eram muito interessantes e voltou para sua comida. Sakuta se levantou e foi até o telefone. Ele apertou o botão ao lado da luz piscante.

— Você tem quatro mensagens — anunciou o telefone em tom muito profissional.

A primeira havia sido deixada naquela manhã, às 7h03. Era de seu pai. (Naturalmente, eles ainda não moravam juntos.) Ele falou calmamente, apenas dizendo que tinha visto as notícias e estava preocupado. Sakuta podia ouvir Kaede falando ao fundo, exigindo uma chance de dizer algo. Seu pai deve ter passado o telefone para ela.

“Sakuta, não é verdade, né? Isso não pode acontecer… Não com a Mai!”

Kaede estava toda engasgada. Era óbvio que ela ainda não tinha aceitado a notícia. Ela continuou falando até que as emoções a dominaram. As palavras falharam e ela se desfez em lágrimas. Chorando e fungando, como uma criança fazendo birra.

Depois de um minuto, seu pai pegou o telefone de volta.

“Sakuta, se você receber esta mensagem, ligue de volta. Não importa o que você diga, apenas nos deixe ouvir sua voz. Estaremos esperando.”

Ele desligou. Seu pai nunca perguntou se ele estava bem. Ele sabia muito bem que Sakuta não estava. Seu pai não fazia perguntas inúteis.

A segunda mensagem foi deixada às 10h11. De Rio.

“ Azusagawa, onde você está?”  ela perguntou, claramente contendo as emoções.  “Kunimi e eu estamos preocupados. Vamos passar aí mais tarde.”

A terceira foi um minuto depois, de Yuuma.

“Sakuta? Sei que a Futaba acabou de ligar, mas estamos indo, então nos avise se precisar de alguma coisa. Se quiser conversar por qualquer motivo, não espere me ligue.”

A quarta chamada foi à tarde. O horário dizia 14h32. Ele reconheceu essa voz também. Era uma aluna do primeiro ano da escola que trabalhava no mesmo restaurante que ele: Tomoe Koga.

“É a Koga. Senpai… você pode falar comigo. Não sei se vou ser de muita ajuda, mas… eu posso ouvir.”

Quanto mais ela falava, menos firme sua voz ficava. Sua preocupação era evidente. Ele podia perceber que ela estava tentando não chorar.

“Eu vou ligar de novo. Vamos conversar quando você estiver se sentindo melhor.”

Seu nariz parecia entupido no final da mensagem.

— Mensagens concluídas — disse a secretária eletrônica.

Um silêncio mortal tomou conta da sala de estar.

Sakuta estava olhando fixamente para o botão o tempo todo. Ele o apertou novamente. Havia apenas quatro mensagens, mas o histórico da máquina registrou muitas mais chamadas. Dez no total. Metade do número do pai dele. O resto de Rio e Yuuma.

“Desculpa” ele disse.

“Estou fazendo vocês se preocuparem comigo.”

Ele não tinha decidido conscientemente dizer isso. Seu coração não estava nisso. Foi simplesmente uma resposta automática à situação.

Yuuma agarrou seu braço com um aperto firme.

“Pare de ser estúpido. Vamos.”

Ele puxou Sakuta em direção à porta.

“Para onde?”

“ Há muitas fotos e vídeos do acidente online” disse Rio.

”Você está em muitos deles.”

“Ah.”

Sakuta parecia convencido, mas sua mente não acompanhava. Não importa o que dissessem, seu coração não respondia, e ele não fazia esforço para pensar.

“Todos estão dizendo que Sakurajima estava em um encontro com o namorado quando aconteceu.”  rosnou Yuuma, olhando para o chão com raiva aberta.

“Eles estão culpando você por isso.”

 

“Por enquanto, você vai ficar comigo, Azusagawa. A mídia vai invadir esse lugar a qualquer momento.” Rio não estava aceitando um “não” como resposta.

“ …Okay.”

Mais uma vez, ele respondeu sem realmente entender. Ele simplesmente não tinha energia para argumentar. Sakuta tinha perdido completamente a capacidade de pensar por si mesmo ou discordar. Ele apenas seguia o que parecia mais fácil e deixava as coisas acontecerem.

“Mas eu deveria ligar para Kaede e Koga…”

O último fio de consciência dele trouxe essas palavras.

“Eu falo com a Koga”  disse Yuuma.

Ele colocou o telefone no ouvido. Ela deve ter atendido imediatamente.

“Koga, é o Kunimi. Sim, estou na casa dele. Não se preocupe, ele está conosco. Uhum.”

Ele se afastou, falando. Rio estava colocando Nasuno em uma caixa de transporte. Ela também guardou o saco de ração e a tigela de Nasuno.

Quando terminou, disse: “Vou estar no seu quarto” e desapareceu sem esperar uma resposta. Alguns minutos depois, ela voltou com uma bolsa cheia de roupas extras. Rio havia ficado aqui por um tempo durante o verão, então parecia saber bem onde estava tudo.

“Ligue para sua família no caminho “disse Yuuma, desligando. Ele guardou o telefone no bolso e pegou a caixa de Nasuno e a sacola com as coisas da gata.

“Vamos.”

Ele deu um empurrão em Sakuta na direção da porta. Sakuta o seguiu como se alguém estivesse puxando suas cordas.

Eles colocaram os sapatos enquanto Rio verificava se todas as janelas estavam fechadas e trancadas. Ela pegou a chave da porta de Sakuta, e ele e Yuuma saíram para o corredor antes dela.

O céu estava escuro. A noite já havia chegado.

Quando chegaram à casa de Rio, ela disse:

“ Não se preocupe, meus pais não estarão em casa até depois do Ano Novo.”

Como prometido, nos dias seguintes, não houve sinal de nenhum dos dois. Seu pai trabalhava no hospital universitário, então tinha um quarto alugado nas proximidades para descansar. Sua mãe dirigia uma loja de roupas que trabalhava com muitas marcas estrangeiras, e frequentemente viajava para a Europa para buscar estoque.

Isso significava que Sakuta poderia ficar na casa de Rio sem se preocupar com o que os outros pensariam. Ele passou o tempo em um torpor. A única coisa que conseguiu fazer foi ligar para seu pai e Kaede. Informou-lhes onde estava e avisou que as coisas poderiam ficar feias ao redor do apartamento, e que Kaede deveria ficar com os avós por enquanto. Rio ficou ao lado, lembrando-o do que precisava dizer. E eles acreditaram nele.

As preocupações de seus amigos se justificaram, pois no dia seguinte, havia várias vans de notícias estacionadas em frente ao seu apartamento. Yuuma foi verificar.

“Isso pode durar algumas semanas” disse ele quando voltou para ver Sakuta.

Sakuta estava em um canto da enorme sala de estar de Rio, ouvindo como se fosse um problema de outra pessoa. Ele estava no tapete perto das janelas, olhando distraidamente através do vidro. Ele passou a maior parte do tempo ali desde sua chegada. Parecia inútil sentar-se em outro lugar.

Ele não sabia quando estava dormindo ou acordado. Talvez não estivesse dormindo de todo. Ele estava apenas olhando para o espaço, ocasionalmente reagindo a estímulos externos. Nesses breves momentos, os fragmentos restantes de sua mente e consciência permitiam-lhe recuperar alguma noção de identidade, lembrar seu próprio nome. O restante do tempo passava como se estivesse em um sonho, preso em um mundo de ficção onde todos sabiam como desempenhar seus papéis. Sakuta sozinho estava à margem, sem fazer nada.

Nada disso parecia real. Não havia nenhuma parte desse mundo que pudesse ser real.

Rio não tentava animá-lo. Nunca oferecia platitudes falsas. Ela apenas dizia coisas comuns e cotidianas.

“Azusagawa, o que você quer para o almoço?”

“O banho está pronto. Você vai primeiro.

“Talvez você devesse deitar um pouco.

“Parece que o tempo vai estar bom amanhã.

Mesmo que ele não respondesse, a atitude dela nunca mudava. Ela nunca se irritava e simplesmente tentava estar presente para ele. E ela assumia a tarefa menos agradável.

 

Depois do jantar.

“A vigília dela foi hoje à noite, aparentemente. Só para a família,” disse Rio, com um olhar sombrio. “Haverá uma cerimônia em uma casa funerária na cidade amanhã.”

“……”

Ele não conseguiu responder. Seus ombros podem ter se contraído levemente.

“A escola vai nos levar de ônibus até lá.”

“……”

“Eu vou com Kunimi.”

“……”

Ela hesitou. “Você vai?” perguntou, achando importante que ele pensasse nisso, por mais difícil que fosse para ela dizer.

“Eu… Não.”

Fazia tanto tempo que ele não falava, que parecia que as palavras não vinham dele. A voz era robótica, sem traço de emoção.

“Ok. Parece que muitos colegas de trabalho estarão lá. O que significa muitas câmeras, então…”

Não foi por isso que ele disse não. Ele imaginou que Rio sabia disso. Mas ela ofereceu uma explicação diferente justamente porque entendia. Ela cuidadosamente evitou o verdadeiro motivo.

“Mas você—,” ela começou. Então parou. “Não, deixa pra lá.”

“……”

“……”

Por um tempo, ela ficou ao lado dele, sem dizer nada.

A manhã do serviço fúnebre de Mai. Estava frio e nublado. Camadas e mais camadas de nuvens finas bloqueavam o sol.

Yuuma veio buscar Rio logo após o meio-dia, de uniforme. Rio também estava usando o dela. Sakuta estava acostumado a vê-los com aquelas roupas, mas parecia errado. Provavelmente porque, apesar de tudo isso, Sakuta lembrava que estavam nas férias de inverno.

“Um, Azusagawa…,” Rio disse antes de sair.

“……”

No final, ela decidiu não terminar o pensamento. Igual à noite passada. A única diferença é que desta vez ela tentou hesitante novamente.

“Azusagawa…”

Sakuta falou, interrompendo-a.

“Se cuide.”

Ele escolheu uma frase que deixava claro que não iria. Ele cuspiu as palavras, como se estivesse tapando os ouvidos, determinado a não ouvir mais nada do que ela pudesse dizer.

“Ok,” Yuuma respondeu simplesmente. Ele e Rio se afastaram.

Sakuta os observou ir embora, sentindo-se um pouco aliviado.

Quando eles desapareceram de vista, ele fechou a porta. Então, voltou rapidamente para o seu lugar na sala de estar.

“……”

Sakuta sabia o que Rio estava tentando dizer. Seu coração estava lentamente começando a funcionar novamente. Quanto mais o tempo passava, mais o mundo real tentava chamá-lo de volta. Por isso ele conseguia entender o que Rio deixou subentendido.

Você deveria dizer adeus.

Algo assim, de qualquer maneira.

Mesmo pensar nessas palavras era como um grito estridente perfurando seu cérebro. Era fisicamente repulsivo. Seu sangue parecia estar fervendo. Ele não conseguia respirar. Sentia seu estômago revirar enquanto algo o corroía por dentro.

Sakuta levantou a voz em negação. “Eu não quero…!”

Ele gritou para se proteger.

“Por que diabos eu faria isso?!”

Rejeitar a própria ideia ajudou-o a afastar as emoções que ameaçavam dominá-lo. Ele se agachou defensivamente e se encolheu, retirando-se ainda mais para dentro de sua concha.

Ele encolheu os ombros, as costas, o pescoço e os joelhos. Até seus dedos estavam cerrados. Eles estavam tão apertados que seus punhos doíam. Suas unhas cravaram nas palmas, deixando marcas vermelhas.

Essa era a única maneira de suportar a angústia que o esmagava. Ele ficou assim, aguentando, até o momento passar. Segundos, minutos, talvez horas.

Um gemido ininteligível escapou de sua garganta.

“Eu deveria ter…”

…morrido naquele acidente.

Ele estava no meio do pensamento quando uma voz feminina o interrompeu.

“Aqui é onde o funeral dela está sendo realizado.”

Não era uma voz alta. Suave, como uma conversa em uma biblioteca.

A pessoa que falava estava na TV na sala de estar. Nasuno estava brincando com o controle remoto na mesa.

“Pare…” Sakuta arrancou o controle dela. Tentou desligar a TV, mas não conseguiu. A garota que ele mais queria ver estava na tela.

“Nesta tarde chuvosa, multidões estão se reunindo para o serviço fúnebre de Mai Sakurajima.” A câmera mostrou a mãe de Mai segurando a foto memorial. Sakuta fixou os olhos no rosto de Mai. Havia inúmeras flores brancas, cujo nome ele não sabia. A câmera se afastou, mostrando o local cheio de enlutados.

Um famoso diretor de cinema começou a ler um discurso memorial: “Mai Sakurajima. Mai—eu posso chamar seu nome, mas você nunca mais se virará para mim com um sorriso. Nos despedimos, ansiosos para a próxima vez que trabalharíamos juntos, e é doloroso mais do que posso expressar que este é o modo como nos encontramos novamente. Você tinha apenas seis anos quando nos conhecemos. Mesmo então, você já era uma atriz. Eu nunca vou esquecer.”

O diretor, com a voz sufocada pelas lágrimas, lutava para continuar. A sala estava tomada pelo luto por essa perda inesperada. Não havia consolo a ser encontrado, nem mesmo através da tela da TV.

 

O próximo discurso foi de uma atriz veterana que havia interpretado a mãe de Mai em uma novela matinal. Quando chegou ao microfone, já estava chorando. Seus colegas de elenco correram para apoiá-la, todos dizendo adeus a Mai.

Sakuta assistia como se fosse um filme, tentando se convencer de que era apenas algo do outro lado da tela, sem relação com ele.

Após transmitir o serviço ao vivo, a TV voltou ao estúdio. O âncora, um homem na casa dos quarenta, observava a transmissão em um monitor. Ao lado dele estava uma mulher coâncora e uma fila de comentaristas, todos assistindo em silêncio.

O âncora suspirou suavemente, com lágrimas nos olhos. Ele respirou fundo e começou a falar: “Tenho certeza de que a maioria de vocês já sabe, mas há quatro dias, em 24 de dezembro, Mai Sakurajima faleceu em um trágico acidente. Ela atuava desde a infância e ainda tinha apenas dezoito anos.”

A coâncora assumiu: “Mai Sakurajima ficou famosa na novela matinal Kokonoe. Ela ganhou elogios por seu talento e apareceu em muitos filmes e programas de TV. Tenho certeza de que todos nossos telespectadores a conheciam.”

“Ela era um nome familiar”, concordou um homem no painel.

“Certamente era”, disse a coâncora. Sakuta a reconheceu como Fumika Nanjou, uma repórter que ele havia encontrado várias vezes antes. Ela usava um terno azul-escuro para a ocasião. “Como nossa cobertura do serviço confirmou, ela era adorada por seus colegas e fãs.”

“Muito verdade”, disse o âncora. “Eu realmente encontrei com Mai para um programa diferente durante as filmagens de seu último filme, dias antes do acidente. As filmagens ocorreram em Kanazawa, na província de Ishikawa…”

Ele fez uma pausa, tentando conter as lágrimas. Recuperando-se, continuou: “Minhas desculpas. Ela era realmente uma garota tão doce. Embora aquelas imagens fossem para um programa diferente, decidimos mostrar para vocês agora, junto com destaques da carreira de Mai Sakurajima. Se puderem?”

A tela ficou preta e, então, mostrou uma cena da novela matinal que apresentou Mai Sakurajima ao mundo. Ela tinha apenas seis anos, sorrindo. Interpretava uma criança precoce que eclipsava os adultos ao seu redor. Nas entrevistas da época, Mai respondia com uma maturidade impressionante. Numa pesquisa, ela foi escolhida como a criança que as mães mais queriam ter. Quando perguntada sobre isso, Mai brincou: “Agora eu realmente não posso fazer nada de errado.” Os adultos riam.

O próximo clipe deu um salto no tempo. Vários anos depois, Mai estava no ensino fundamental, seu rosto amadurecido, sem traços da atriz mirim.

 

A cena era de um filme de terror que Sakuta já havia assistido antes. Mai interpretava uma garota misteriosa e frágil. Nas filmagens dos bastidores, o diretor dizia: “Ela pode sorrir apenas com os olhos.” Era verdade—em cena após cena, Mai conseguia cativar o público apenas com seu olhar. Este filme havia lançado a segunda fase da carreira de Mai.

Esses eram fragmentos da vida de Mai de um tempo antes de Sakuta conhecê-la. Quando ele só a conhecia como a famosa atriz Mai Sakurajima. Outros clipes mostravam como ela havia começado a trabalhar como modelo de moda, e seu primeiro fotolivro havia vendido como água. E então ela havia chocado o mundo ao anunciar um hiato. Retornando ao trabalho apenas este ano.

Ela tinha se dedicado a programas de TV, filmes, comerciais, trabalho de modelo—e todos pensavam que isso era apenas um vislumbre do que estava por vir.

Conforme a narração terminava, começaram a exibir imagens de Mai filmadas apenas alguns dias antes. A cena mostrava Mai expressando sua alegria ao se reunir com alguns cidadãos de Kanazawa que ela havia conhecido durante as filmagens.

“Oh, Mai! Não pensei que nos veríamos novamente tão cedo!” disse a mulher corpulenta que administrava a casa de chá. Ela tinha um sorriso caloroso e amigável.

“Eu sei!” disse Mai. Ela então ofereceu uma explicação que jogou uma pequena sombra no homem que estava com ela. “Normalmente, filmamos essas coisas mais perto do lançamento do filme, tornando-o uma pequena viagem pela memória—mas aqui estamos, nem um mês depois.”

“Desculpe,” disse o homem. Ele era o âncora do noticiário. “Fomos informados de que este era o único intervalo na sua agenda—e claro, nossa equipe aproveitou a oportunidade.”

Sem perder o ritmo, ele disse que a equipe de produção era responsável pelo timing um pouco desajeitado. Mai e o âncora se prepararam para a filmagem na casa de chá. Cenas como essa normalmente não sobreviveriam à edição final, mas hoje, eles estavam usando tudo. Havia até imagens deles discutindo quem deveria sentar onde. Isso mostrava Mai em seu estado natural, com um sorriso genuíno.

Quando finalmente se sentaram, ficaram frente a frente.

“Você vinha aqui regularmente durante as filmagens?”

“Pelo menos três vezes por semana.”

“Tão frequentemente?”

“O diretor tem uma grande queda por doces. Ele realmente gostava do anmitsu de chá verde aqui, mas era muito autoconfiante para vir sozinho, então ele sempre me convidava. Fingindo que estava apenas me acompanhando.” Ela riu feliz. “Então eu o convencia a pagar a conta.”

“Falando em doces, parece que temos vários para nós hoje.”

A mulher corpulenta serviu o famoso anmitsu de chá verde. O de Mai era de tamanho regular, mas o âncora recebeu uma tigela geralmente reservada para ramen.

Quando ele olhou surpreso, Mai disse: “Esse é o tamanho grande. O favorito do diretor.”

Eles começaram a comer, conversando enquanto faziam isso.

“Faz vários meses desde que você voltou ao trabalho—alguma coisa parece diferente desta vez?”

“Acho que estou mais disposta e capaz de aproveitar cada trabalho pelos seus próprios méritos.”

“Você não estava gostando antes?”

“Eu não quis dizer—Você sabe que eu gostava! Eu só não conseguia relaxar e me divertir como agora. Eu estava colocando muita pressão em mim mesma.”

Mai pensou por um minuto. “Acho que já passou tempo suficiente. A verdadeira razão pela qual eu estava tão estressada era porque estava constantemente brigando com minha mãe, que também era minha empresária. Agora, sou grata a ela. Foi seu trabalho árduo que me deu todas essas oportunidades e me permitiu conhecer tantas pessoas incríveis.”

“E sua mãe?”

“Não vou admitir isso na cara dela, então… isso terá que servir,” disse ela, deliberadamente se voltando para a câmera.

“Vamos ver o que nosso diretor acha,” disse o âncora com uma risada. “Falando em sua nova relaxada…”

“Sim?”

“Você acha que está aproveitando mais o trabalho por causa de algo novo em sua vida?”

“……”

Essa era uma pergunta tendenciosa, e Mai olhou para ele com irritação. Mas ele convenientemente olhava para outro lugar enquanto abordava o assunto.

“Quero dizer, o que mais poderia ser? Você sabe do que estou falando, certo?” ele perguntou, quase piscando. “Claro que é aquela pessoa muito especial!”

Mai abaixou a cabeça, de repente muito formal. “Certamente causei muitos problemas para todos,” disse ela. A notícia sobre seu namorado havia causado um frenesi na mídia. O programa do âncora havia coberto isso em grande detalhe.

“Não pode nos culpar por fazer nosso trabalho,” disse o âncora.

“Não, claro que não,” Mai assegurou. Seu sorriso era educado e nada mais.

 

Normalmente, isso teria encerrado o assunto. Poucas pessoas ousariam prosseguir quando confrontadas com a possibilidade de enfrentar a ira de Mai. Mas aquele âncora não se deixava intimidar tão facilmente.

“Você acha que ter alguém assim mudou você?” ele perguntou.

Em vez de evadir a pergunta, Mai admitiu: “Sinto que isso na verdade causou mais problemas.”

“Oh? Como assim?”

“Eu disse isso na conferência de imprensa. Tudo isso é território novo para mim, então… nunca tenho certeza de nada.”

“Mesmo? Mai, eu sei que você o tem na palma da sua mão.”

“Você tem algumas ideias bem estranhas sobre mim.”

“Você é uma atriz incrível, é ainda mais bonita pessoalmente—acho que não sou o único a assumir que você tem esse garoto exatamente onde quer.”

“Bem, eu tenho.”

“Eu pensei!”

“Mas acho que sou eu que estou perdidamente apaixonada aqui.” Ela disse isso como se fosse nada… e corou um momento depois.

“O quê—?”

O âncora quase engasgou, mas transformou em uma tosse no último momento.

Mai recuperou a compostura e se recostou na cadeira. Como se lembrasse das câmeras, ela se voltou para elas.

“Você definitivamente tem que usar isso,” ela disse. Provavelmente para o diretor fora de cena.

Esse sorriso dela era genuíno. Um sorriso cheio de vida.

E com isso, a tela desvaneceu para branco. Nada além de branco. As palavras “In memoriam” apareceram, e então a tela ficou preta. Tão preta como se Sakuta tivesse desligado a TV.

Então, um rosto chorando apareceu na tela. Não era um ator. Não era um corte para comercial. A TV permaneceu escura.

Ele conhecia o rosto que o encarava. Como não poderia? Era o reflexo de Sakuta. Lágrimas escorrendo de ambos os olhos, descendo pelas bochechas… Gotejando silenciosamente em seu colo.

Ele não havia derramado uma lágrima após o acidente, no hospital, ou quando ouviu os resultados da cirurgia dela. Nem uma única lágrima depois que a mãe de Mai o atacou, ou quando ouviu os soluços de Nodoka. Mesmo quando estava sozinho, Sakuta não havia chorado. Ele não tinha conseguido.

Quatro dias haviam se passado, e só agora estava caindo a ficha. Só agora isso o alcançava. Ver Mai agindo de forma tão normal o forçou a enfrentar a verdade. Ele não tinha escolha a não ser admitir o quanto esses momentos eram preciosos—e como ele nunca mais os teria novamente.

Ele finalmente teve que reconhecer o que estava se recusando a aceitar.

“Nós fizemos tudo o que podíamos. Minhas condolências.”

Ele soube desde o momento em que o médico disse essas palavras. Aquela consciência estava dentro dele o tempo todo. Ele estava bem ciente do que estava tentando sair.

Ele sabia como se chamava.

Sakuta sabia. Todos sabiam. Cada pessoa viva sabia. Isso era luto.

Estava lentamente se elevando, confrontando-o. Ele tentara não ver isso, mas estava se estendendo e ameaçando engolfá-lo.

Então Sakuta gritou alto. “Vá embora!”

Ele se levantou de um salto e se virou. Cobriu os ouvidos para bloquear. Isso não foi suficiente. Ele correu para fora da sala de estar e entrou no corredor, quase tropeçando no hall de entrada, mas então calçou os sapatos e saiu pela porta.

Ele não ousava enfrentar esse luto. Ele nem conseguia admitir que existia. Lidar com isso de frente estava fora de questão. Reconhecer isso significaria admitir que Mai estava morta. Ao negar a existência do seu luto, Sakuta estava tentando refutar o fato da morte de Mai. Queria anular a morte dela da existência.

Ele precisava correr. O mais longe que pudesse, para longe da casa de Rio, fora do bairro dela. Ainda havia neve nos cantos da estrada. A neve que havia caído naquele dia.

Isso trouxe de volta memórias do acidente e fez uma tempestade desabar em seu peito. Um som rouco e sem palavras escapou dele. Ele afastou as lágrimas e continuou correndo, tentando deixar a dor para trás. Sua respiração estava ofegante, seus pulmões queimando, suas pernas quase cedendo. Mas Sakuta continuava correndo o mais rápido que podia. Se a dor o alcançasse, tudo estaria acabado.

Se ela o dominasse, então Mai estaria perdida para sempre. Essa única crença o impulsionava para frente. Enquanto ele não aceitasse a morte dela, Mai ainda viveria. Era nisso que ele queria acreditar. Mais do que qualquer coisa, ele desejava que isso fosse verdade. Agarrar-se a essa ilusão era tudo o que lhe restava. Não havia outra opção. Ele precisava fazer o que fosse necessário para protegê-la.

Mas ele sabia que nada disso era real. Porque ele sabia a verdade, tinha que negar. Porque ele sabia a verdade, tinha que correr. A areia agarrou seus pés e o derrubou. A praia o acolheu gentilmente. Ele não lembrava de nada sobre a corrida. Mas conhecia aquelas ondas, o cheiro salgado e a brisa do mar. Quando abriu os olhos, estava na praia de Shichirigahama.

Ele já havia caminhado por essa praia com Mai. Visto-a pela janela todos os dias. Tantas memórias nessas areias. As lágrimas que ele tinha lutado para conter estavam fluindo novamente. Ele precisava ir embora, mas estava muito cansado para se levantar. Estava exausto, ofegante. Não parecia melhorar. Ele estava pateticamente, horrivelmente triste.

“…Ajuda“  sussurrou. Sua voz estava cheia de emoção crua.

“Alguém, qualquer um…“

Ele tremia de frio. Era o fim de dezembro, e a brisa do mar o gelava até os ossos. Ele usava apenas seu uniforme de ginástica, muito fino para protegê-lo do frio.

“Alguém, salve a Mai!“

Alheio ao frio, Sakuta gritava para o oceano.

“Por favor!“ Suplicava. “Salvem-na!“   Derramando tudo o que sentia.  “Eu farei qualquer coisa! Apenas salvem a Mai! Salvem-na! Por favor… por favor!“

Mas ninguém respondeu. Ninguém veio.

“Salvem-na… Ajudem-na… Eu imploro…“

Ele sabia que ninguém podia realizar esse desejo. Mas era tudo o que ele podia fazer.

“Eu… Eu farei qualquer coisa! Apenas tragam a Mai de volta para mim!“

A dor o alcançou, e agora o sufocava. Ele estava sendo puxado cada vez mais fundo em um redemoinho de escuridão, esmagando seu coração. Ele tinha perdido tudo. Sakuta podia sentir-se despedaçando. Espremido. Apenas uma casca restava. Nenhuma luz de esperança. Desespero era tudo o que ele via. Não demorou muito para que ele não pudesse ver mais nada.

Mas ele pôde ouvir um som. Passos na areia. Eles se aproximaram e pararam à sua frente.

“Levante-se, Sakuta“ — chamou uma voz gentil.

“ ……“ No início, ele não acreditou em seus ouvidos.

“Salvar a Mai é sua tarefa.“

Isso não podia ser real.

“Você sabe que estou certa.“

Isso não podia estar acontecendo. Mas seu inconsciente sabia a verdade, e apesar do cansaço, ele levantou a cabeça. O vestido dela flutuava na brisa. Seu sorriso caloroso.

“ …Como?“O vento levou seu sussurro embora.

“Como você está aqui, Shouko?“  Ele não entendia. Não fazia sentido, mas todo o seu corpo tremia. Não era de frio ou de tristeza. Mas porque a Shouko adulta estava ali. Esse simples fato o fazia tremer de alegria. As lágrimas começaram a fluir novamente.

Oh! Você ainda não ouviu.“

“Ouviu o quê…?“

Para a pequena Shouko sobreviver à sua condição, ela precisava de um transplante. Mas Sakuta deveria ser o doador — e ele não tinha morrido. Ele havia assumido que isso condenaria o futuro de Shouko também… mas ali estava ela na sua frente. Ela ainda existia.

“Aqui… — ela disse, colocando as mãos no peito como se estivesse segurando algo precioso,  …é o coração da Mai.”

“ ?!”

“Não foi anunciado oficialmente, mas… no dia do acidente da Mai, por pura coincidência… ela se tornou minha doadora.”

“ …Mai é sua…”

“Sim.”

“ Ela tinha um cartão também?”

“Tinha.”  Shouko assentiu.

“M-mas então… o futuro mudou?”

Originalmente, seria o coração de Sakuta.

“……”

Shouko não respondeu. Ele não achava que ela pudesse. Se essa Shouko existia por causa do coração da Mai, então ela era uma Shouko diferente da que tinha recebido o coração de Sakuta e vivido uma vida diferente. Ele poderia chamá-las de mesma pessoa? Mas antes que pudesse perguntar, Shouko soltou uma bomba.

“Venha. Temos que salvar a Mai.”

“ …Venha… onde?”

“Obviamente — ao passado!”

“ ……Nós” Antes que ele pudesse dizer “não podemos”, ela disse:

“Podemos.” Ela o olhou diretamente nos olhos.

“Com quem você acha que está falando, Sakuta?”

Claro que ela achava isso engraçado. Ela estava totalmente certa, claro. O simples fato de Shouko estar ali provava que a viagem no tempo era possível de alguma forma. Sua presença provava que o que ela dizia era real.

“Não se preocupe. Deixe isso comigo.”

Ela estendeu a mão, parecendo ter acabado de pensar na melhor brincadeira de todas. Sakuta balançou a cabeça. Então, levantou-se por conta própria.

“Esse é o meu Sakuta!” Ele enxugou as lágrimas.

“Agora venha comigo” disse Shouko. Seu sorriso parecia completamente satisfeito.

Ele tinha muitas perguntas para Shouko. Ou achava que deveria ter. Mas quando tentou colocá-las em palavras, nada saiu.

Incapaz de quebrar o silêncio, ele manteve os olhos fixos nas costas de Shouko. Eles caminharam pelas areias de Shichirigahama por vários minutos. Então Shouko se afastou da praia e subiu uma escada. Ele a seguiu até a estrada costeira, a Rota 134. Ela apertou o botão de travessia e esperaram o sinal mudar. Carros passavam em ambas as direções, de Fujisawa e Kamakura, em igual número. O tráfego zumbia ao lado dos dois.

Finalmente, o sinal ficou verde. Shouko começou a andar, então Sakuta a seguiu, três passos atrás.

“Você Se  Importa se eu parar na loja?”  Shouko perguntou, já se virando para a entrada. Sakuta esperou do lado de fora, e ela voltou um minuto depois, com uma sacola plástica na mão.

Dali, seguiram uma leve inclinação para cima e atravessaram uma única via férrea.

“Aqui estamos” disse Shouko, olhando para um grande edifício.

“……”

Sakuta parou com ela, o mesmo cenário refletido em seus olhos. Um que ele via quase todos os dias. Eles estavam em frente à escola de Sakuta, nos portões da Minegahara High.

“Pronto!” disse Shouko. Sakuta apenas ficou parado enquanto ela se esforçava para abrir o portão. Ela o abriu o suficiente para uma pessoa passar e então disse:

“Vamos” e entrou no terreno da escola, como se não estivesse fazendo nada de errado. Incapaz de se obrigar a detê-la, ele a seguiu.

 

“Não se preocupe, vai ficar tudo bem.”

“…”

“O funeral da Mai é hoje, então a escola está vazia.” Ele não tinha perguntado, mas ela respondeu mesmo assim.

“E se alguém nos vir, bem, você é um aluno aqui! E eu sou uma ex-aluna. Estarmos aqui não é um problema.” Ela parecia bastante confiante.

Shouko dava a entender que faria o exame de admissão de Minegahara, estudaria aqui no ensino médio e eventualmente se formaria. Mas isso tudo era para o futuro. Nada disso havia acontecido ainda.

Se alguém os pegasse, e ela mencionasse qualquer uma dessas coisas, só a faria parecer ainda mais suspeita.

Ele tinha certeza de que Shouko estava bem ciente disso, mas ela não parecia nem um pouco hesitante. Ela olhava diretamente para frente, seguindo em linha reta em direção ao seu objetivo. Ele ainda não tinha ideia de para onde estavam indo. Mas depois de um minuto, ficou claro que o destino deles era dentro do prédio da escola.

Eles contornaram o prédio para chegar ao pátio; então Shouko abriu a janela do laboratório de ciências pelo lado de fora e entrou. Rio já havia contado a ele sobre a janela com a fechadura quebrada.

Carregando seus sapatos, caminharam pelos corredores vazios.

As luzes estavam apagadas.

Alguma luz se infiltrava do exterior, mas o brilho da lâmpada vermelha acima do alarme de incêndio parecia estranhamente brilhante.

Era perturbador. Sobrenatural. Os corredores que ele percorria todos os dias agora pareciam profundamente desconhecidos. E ter Shouko ali com ele, três passos à frente, só reforçava essa impressão. Metade dele estava convencido de que estava sonhando.

Ele achava difícil acreditar que Shouko era real. Mas a outra metade sabia que isso estava realmente acontecendo.

Seus sentimentos não estavam acompanhando. Suas emoções estavam atrasadas em relação à sua consciência. Três passos atrás. O mesmo que a distância entre os dois.

Ele poderia alcançá-la se tentasse. Shouko não estava andando rápido. Fechar a distância seria fácil.

Mas Sakuta não fez isso. Ele não podia.

“…”

Ele tinha medo de que, se tirasse os olhos dela, ela desapareceria.

E assim, ele simplesmente manteve o ritmo dela, com os olhos fixos em suas costas.

Seus passos ecoavam. Sakuta não sabia para onde estavam indo. Ele apenas a seguia, como uma criança seguindo o flautista na história de contos de fadas.

Isso não durou muito. Sakuta parou de andar. Conscientemente, mas não por escolha própria. Shouko tinha parado, então ele também parou.

“Sakuta”, ela disse, virando-se para ele. Ela parecia descontente.

“O que?”

“Por que você está tão longe?”

“Você me disse para segui-la.”

Ela soltou um longo suspiro.

“Normalmente, eu levaria isso como uma das suas piadas, mas você realmente está falando sério?”

Os olhos dela tinham uma suave reprovação. Um olhar que dizia: “Se controle, Sakuta.”

“Ainda parece que estou sonhando”, ele murmurou. Uma desculpa fraca.

“…”

“Você está realmente aqui, Shouko?”

Não era que ele duvidasse de seus olhos. E não era que ele não acreditasse no que ela havia dito. Isso simplesmente não era suficiente para afastar seus medos. Ele não conseguia tirar a impressão de que ela desapareceria num piscar de olhos. E isso o deixava profundamente ansioso. Ele sabia muito bem como as coisas que realmente importavam podiam escapar de suas mãos… e isso o deixava apavorado com a perspectiva de novas perdas.

“Eu não pareço real?”

“…Não tenho certeza se parece.”

“Entendi.” O que ela entendeu, ele não sabia.

“Vá em frente”, Shouko disse, abrindo os braços. “Certifique-se de que eu estou aqui.”

“…”

Sem dizer uma palavra, ele deu um passo em direção a ela, depois outro. E colocou os braços ao redor dela, como se fosse a coisa mais natural do mundo.

“!”

Shouko expressou surpresa sem palavras. Sakuta não estava em condições de responder. Ele podia senti-la pressionando-se contra ele. Seus braços estavam ao redor de sua figura esbelta. Ela parecia tão frágil. Mas ela não era uma miragem e não desapareceria ao seu toque. Ele podia sentir o peso dela. Ela era sólida e tangível. Agora que ele tinha os braços ao redor dela, não queria nunca mais soltá-la.

“Você não deveria levar piadas a sério”, ela disse com a voz rouca.

“Hoje estou sem senso de humor.”

 

Ele começou a perceber o calor dela. A suavidade de sua pele. O pulsar regular de seu coração… da vida que Mai havia dado a ela.

“Isso não é nada parecido com você, Sakuta.”

“Mas ainda sou eu.”

“Isso é preocupante.”

“…”

“Sakuta, o que vamos fazer agora?” ela perguntou com uma voz firme.

“Salvar a Mai…?”

“Errado,” ela disse, antes que ele pudesse terminar.

“Errado como?” ele perguntou, apertando os braços reflexivamente.

“Ok, Sakuta, se você apertar mais forte, isso oficialmente contará como traição!”

Ela usou exatamente o tom que se usa para repreender uma criança pequena, e Sakuta finalmente a soltou. Ele deu um passo para trás.

“Errado como?” ele perguntou novamente.

Ele estava vagamente ciente de que soava petulante. Novamente, como uma criança pequena. Ele disse a única coisa que importava. Eles estavam salvando Mai. Sakuta havia seguido Shouko até ali com esse propósito, para realizar essa única coisa.

“Está tudo errado. Cada detalhe.”

“Então, o que estamos fazendo?”

Ele estava começando a se exaltar. Talvez suas emoções amortecidas estivessem voltando à vida. Sakuta ficou levemente surpreso ao descobrir que ainda tinha tanto dentro de si. Mas ele não podia se concentrar nisso agora.

“Sakuta…”

“…”

“Você vai encontrar a pessoa que ama.”

“…!”

“Você vai fazer a pessoa que ama feliz.”

“…”

Ele não conseguia falar. A surpresa logo se dissipou. Tudo o que restava era compreensão, infiltrando-se nele como água em uma esponja.

“E se você não tem senso de humor, pode fazer Mai feliz?”

“…”

As palavras de Shouko foram direto ao ponto, e foi por isso que ele não conseguiu responder.

Isso era o que realmente significava salvar Mai. O que ele realmente queria fazer. Não terminava com salvar a vida dela. Seus objetivos estavam muito, muito mais longe. E Shouko havia colocado isso em palavras que até uma criança poderia entender.

Então, ele não podia perder tempo entrando em pânico. Ou com medo. Ele precisava estar calmo e sereno. Estar pronto para qualquer coisa.

Isso era mais fácil de falar do que fazer. Na verdade, era o oposto de fácil. Mas ele não podia dizer que era impossível. Dizer “eu não posso” não era uma opção. Isso porque ele conhecia uma garota que havia conseguido e feito isso com um sorriso. E ela estava bem na sua frente.

Shouko era a prova viva de que, não importa quão difícil fosse o caminho à frente, você poderia superá-lo. O calor do sorriso dela o havia salvado várias vezes. Estava fazendo isso agora mesmo.

E esse conhecimento significava que ele não podia alegar que não era possível. Não iria.

“Você é incrível, Shouko,” ele disse, tentando forçar um sorriso para combinar. Ele ainda estava tendo dificuldade com isso. Os últimos dias haviam deixado suas bochechas rígidas como concreto.

Shouko parecia divertida. “Você passou,” ela disse. “Por pouco.”

“Avaliando com generosidade.”

“Eu sempre fui branda com você. Isso é novidade?”

“Não, eu estava bem ciente. Desde o momento em que nos conhecemos.”

O sorriso de Shouko estava um pouco trêmulo. A Shouko de quem ele falava era uma Shouko diferente, de um futuro diferente. A reação dela reforçou o fato de que o futuro realmente havia mudado. Um lembrete doloroso de que o futuro à frente deles era um no qual Mai não existia. Mas essa dor era altamente motivadora.

“Então, para onde estou te seguindo?”

“Nós já chegamos.”

Shouko olhou para cima, para a placa acima deles. Estava escrito ENFERMARIA. Naturalmente, a sala estava vazia.

As luzes fluorescentes estavam apagadas. Eles tinham que contar com as luzes dos carros na Rota 134, postes de luz, luzes das casas e o brilho tênue da lua acima.

“Por que aqui?” ele perguntou.

Shouko estava fazendo uma ronda pela sala, explorando. Em um ponto, ela espiou dentro de um armário de vidro cheio de suprimentos médicos.

“O que estamos fazendo requer uma cama.”

“…”

“Ah! Sua mente foi direto para o lado pervertido?” Sorrindo travessamente, ela se aproximou da cama.

“Não estou exatamente no clima…,” disse Sakuta.

“Isso não tem graça!” disse Shouko, claramente sem realmente querer dizer isso. Ela se sentou na cama e colocou as bebidas que comprara na loja na mesa de cabeceira. Então, pegou alguns copos de papel e serviu duas bebidas.

Sakuta ainda estava parado no meio da sala, então ela o chamou com um gesto, batendo na cama ao seu lado. Era um convite óbvio para ele se sentar.

“A cama não é a máquina do tempo, é?” ele perguntou, sentando-se ao lado dela.

“Agora sim parece mais o verdadeiro você,” disse ela com uma risada. “Não. Infelizmente, não há máquina do tempo.”

Ela lhe entregou um copo de papel. Ele tinha corrido muito e chorado bastante, então estava bem sedento. Aceitou a bebida e a tomou de uma vez só. Ele sentiu o gosto de ameixa—acompanhado por uma sensação de queimação.

“?! Shouko, isso é…”

“Um refrigerante de ameixa para adultos,” disse Shouko com um sorriso.

Ela escondeu a lata vazia no saco plástico. Ele não viu necessidade de insistir no assunto. Já havia terminado a bebida e—dadas as circunstâncias—não era nada mais do que uma pegadinha inofensiva. Sakuta tinha coisas muito maiores com que se preocupar. Havia tanto que ele precisava perguntar. Finalmente estava se acalmando. Provavelmente deveriam ir direto ao ponto.

“Então, como faço para voltar ao passado?”

Se ele fosse realizar alguma coisa, primeiro teriam que resolver esse problema. Ele não poderia salvar Mai ou fazê-la feliz sem antes voltar no tempo.

“O passado está sempre ao nosso lado.”

“…”

“Ali e ali,” disse Shouko, apontando. Não para nada em particular. Mas Rio já havia dito algo muito semelhante antes, então ele não questionou.

“Mas normalmente você não pode ver ou alcançar o passado,” ela acrescentou.

“Eu posso ver e tocar você, Shouko.”

Ela deixou isso passar sem comentar. “Normalmente, tudo o que podemos fazer é perceber o presente. Não percebemos que o passado e o futuro estão ao nosso redor.”

“…”

“E é difícil ver o que você não sabe que está lá.”

Mas Shouko estava fazendo exatamente isso. Já tinha feito isso muitas vezes antes.

“Mas você já sabe, Sakuta. Você sabe que o passado e o presente nunca estão longe, e que eu vim do futuro.”

Ele sabia. Sabia de tudo isso. Mas simplesmente saber isso não permitiria a viagem no tempo. Caso contrário, qualquer um que soubesse a verdade poderia fazê-lo.

“Tudo isso é específico a você, certo?” ele disse. “O Síndrome da Adolescência torna isso possível.”

Essa era a base de tudo isso.

Shouko havia rejeitado o futuro, e sua Síndrome da Adolescência havia, ironicamente, permitido que ela alcançasse esse futuro. Seu desejo de nunca crescer havia desacelerado o mundo que ela percebia. Mas em termos de relatividade, o tempo passa mais devagar quanto mais rápido você vai—e, como resultado, a Shouko que não queria crescer havia crescido mais rápido do que a Shouko que queria.

“Verdade. Acho que isso está correto. Mas mesmo assim—isso não explica por que estou aqui.”

“Não explica?”

“A pequena eu desenvolveu a Síndrome da Adolescência por causa dos seus medos sobre o futuro. Ela era fisicamente incapaz de crescer sem um transplante de coração, afinal.”

Os olhos dela estavam fixos nele, dizendo-lhe algo.

“Então… a Shouko do presente—A Makinohara já fez a cirurgia?” ele perguntou.

Se isso fosse verdade, então ela estava certa. Não fazia sentido para a Shouko do futuro estar aqui neste momento.

“Sim, ela fez.”

Os olhos dela confirmaram isso. Ela falou devagar, como se tentando fazer ele entender.

“Depois da cirurgia, eu acordei… na manhã do dia vinte e sete de dezembro.”

“…”

Ele não precisava olhar para o relógio. Já era o dia seguinte. 28 de dezembro. E já era depois do pôr do sol. Os medos da pequena Shouko sobre o futuro deveriam ter sido resolvidos com o sucesso do seu transplante. A causa subjacente da sua Síndrome da Adolescência deveria ter sido eliminada.

“Então, por que você está aqui?”

Se a pequena Shouko não tivesse mais a Síndrome da Adolescência, a lógica ditava que a Shouko grande não deveria mais estar por aqui. No entanto, ela claramente estava.

“Acredito que o que você e eu percebemos como ‘o presente’ é na verdade ‘o futuro.’”

“…” Levou um tempo para ele entender o que ela queria dizer.

“Agora mesmo, você e eu estamos no futuro,” disse Shouko. “Podemos estar aqui conversando, mas isso na verdade não é o presente.”

“Isso não pode ser…”

“E quem está fazendo isso… é você, Sakuta.”

Incapaz de processar isso, ele apenas ficou boquiaberto.

“…Shouko, o que…?”

Isso tinha que ser algum tipo de piada de mau gosto. Mas Shouko parecia totalmente séria. Sem sinais de sua habitual provocação. Ela estava segurando seu olhar, falando pacientemente.

“Não lembra de nada?”

“…Como poderia…?”

Ele interrompeu. Negar isso deveria ser fácil. Mas não era. Talvez parte dele já soubesse.

“Assim como a pequena eu fez, parte de você está rejeitando o futuro.”

Havia apenas uma coisa que poderia fazê-lo fazer isso. E Shouko estava gentilmente guiando-o até lá. A luz da resposta brilhou adiante.

Bem adiante. Nas profundezas de seu coração. Ele apertou os olhos para ver melhor, e ela começou a tomar forma.Ela estava certa.

Ele havia rejeitado o futuro. Com toda a sua força. Ele sabia exatamente quando. No instante em que soube que era o seu coração no corpo da Shouko adulta. E quando Mai descobriu…

“Escolha um futuro comigo.”

Quando ela disse isso…

“Fique comigo.”

Quando ela desabou chorando na estação.

“Eu quero viver.”

Quando ele estava conversando com a Shouko adulta e deixou a onda de emoções tomar conta dele.

Sakuta havia desejado que o dia 24 de dezembro, o dia do destino, nunca chegasse. Ele sabia que tinha que encontrar uma resposta, mas o tempo todo ele estava lutando contra sua própria relutância em fazê-lo. Ele tentou enfrentar a parte dele que não queria fazer uma escolha, e achou que tinha conseguido… mas claramente não havia conseguido.

E se isso o levou a manifestar os mesmos sintomas da Síndrome da Adolescência que Shouko…

“…”

“Entendeu?”

“…”

Ele não disse nada. Seu último fragmento de razão rejeitou a ideia de se expor dessa maneira.

“Eu entendo que você não queira admitir, mas vamos precisar que você o faça. Você precisa enfrentar a fraqueza dentro de você, a parte que rejeitou o que o futuro reservava.”

“Shouko.”

“Acreditar nessa fraqueza é o primeiro passo para admitir que você está no futuro. E se este é o futuro, então você pode voltar ao presente. Voltar e salvar Mai.”

“…”

Ele respirou fundo. Olhou para o copo vazio. Admitir sua própria fraqueza.

Passar essas palavras pela mente o fez rir—bem, foi mais um suspiro.

“Sakuta?”

“Essa parte é fácil.”

Ele não estava fingindo coragem, mentindo ou brincando. Ele realmente queria dizer isso. Ele havia encontrado isso dentro de si mesmo. Imaginou-se agarrado ao fundo do copo.

“Não há como eu ficar bem com nada disso. Faz muito mais sentido assumir que isso me deixou maluco.”

Essa ideia era muito mais convincente. Ele pensou que estava lidando com as coisas melhor do que esperava, então ser informado de que realmente não estava foi um alívio.

“Esse seu lado é realmente algo, Sakuta.”

“Você também não é de falar, Shouko,” ele disse com um sorriso. “Mas como exatamente eu chego ao presente?”

“O senso comum dita que o que você vê deve ser o presente. Enquanto você estiver preso a essa ideia, não pode viajar para outros tempos, por mais próximos que estejam.”

“Então… abandonar toda a lógica?”

“Você precisa descartar qualquer lógica ou razão que tente limitar sua percepção do ‘aqui e agora’.”

“Agora você soa como a Futaba.”

“Bem, sim, eu tirei tudo isso dela.”

 

Shouko estufou o peito de orgulho. “A Futaba do futuro elaborou essa hipótese.”

“Então, mesmo no futuro, ela está oferecendo consultas sobre a Síndrome da Adolescência?” Isso era hilário. Ele adorava essa ideia.

“Ok, e como eu descarto a lógica?” Ele imaginou que o senso comum se apegaria a você, quer você pensasse nisso conscientemente ou não. Não era como se pudesse virar um interruptor na mente para se livrar disso. Acreditar que o passado e o futuro estavam constantemente ao alcance ia contra todo o senso comum e parecia inerentemente impossível.

“Eu já te disse isso.” Claramente, ela queria que ele pensasse por si mesmo. Ela devia estar se referindo ao que disse quando chegaram à enfermaria. Eles realmente não tinham conversado muito antes de chegar lá. O que foi que ela disse? Ele tentou se lembrar.

“……” Seu cérebro ainda estava lento, mas a primeira coisa que veio à mente parecia uma piada. “Você quer dizer… dormir?”

“Exatamente! A melhor maneira de abandonar o senso comum é em um sonho.”

“Daí a enfermaria.” Ele olhou para a cama embaixo dele. Definitivamente, esse era o único lugar na escola com uma cama dessas.

“Mas… Shouko…”

“Sem mas!” Ela balançou o dedo indicador para ele. Sakuta balançou a cabeça, insistindo. “Mesmo se eu puder voltar no tempo…”

Se ele salvasse Mai, isso provavelmente significaria que Shouko não teria um futuro. O fato de Mai ter conseguido substituir Sakuta como doadora já era astronomicamente improvável. Um futuro em que ele salvasse Mai do acidente e sobrevivesse… como Shouko ficaria nesse cenário?

Ele queria dizer tudo isso em voz alta, mas não conseguiu. Shouko não deixou. Ela estendeu a mão e beliscou sua bochecha. “Sem mas.”

“……”

“Você não pode fraquejar agora!” Ela estava brigando com ele de novo. Lábios franzidos. Mas seus olhos estavam em outra coisa: sua mão esquerda, beliscando sua bochecha. O brilho em seu dedo. Um anel simples de prata. Toda a sua atenção se fixou nele.

“Oh…,” Shouko disse, notando seu olhar. Ela rapidamente retirou a mão e colocou a outra mão sobre ela, quase escondendo o anel. Seus dedos tocaram o anel. Ela o girou no lugar, como se lembrando de como ele se sentia.

Shouko adulta havia aparecido muitas vezes antes, mas nunca com um anel. Mas a Shouko do futuro em que ele sobreviveu? Ela tinha um. O significado disso não lhe escapou. E claro, se ele mudasse as coisas agora, esse futuro também mudaria. Assim como esta Shouko tinha o coração de Mai em vez do seu.

“Seu anel…”

“Sempre quis me casar na faculdade.”

Ela sorriu, como se estivesse tentando encobrir um momento constrangedor. E esse sorriso traía a felicidade de sua vida, como o calor do sol da primavera. Mas por trás disso, ele encontrou uma nota de tristeza.

“O que eu quero, Sakuta,” ela disse, olhando pela janela para o oceano, “é que a pessoa que eu amo seja feliz. Eu quero que ele sorria. Mesmo que não seja por mim.”

“…Shouko.”

Ao ouvir seu nome, ela se virou e sorriu para ele novamente. “Eu sou muito persistente.”

“……”

“Até você ser feliz, continuarei voltando de qualquer futuro para te ajudar. Não importa quantas vezes seja necessário.”

Havia uma determinação oculta por trás daquele sorriso travesso. Não era opressivo, mas havia uma força inegável. Uma que brilhava através de suas palavras e postura.

“Então pare de resistir e seja feliz.” Que frase impiedosa. Mas ao mesmo tempo—era muito a cara da Shouko.

“……”

“……”

Houve um breve silêncio, pontuado pelo som dos carros passando na Rota 134. Ele nunca notava aquele som quando a escola estava em funcionamento, mas sem outros ruídos, aquilo realmente capturava sua atenção.

“Shouko,” ele disse, tomando uma decisão.

“O que foi, Sakuta?”

Ela lhe deu o espaço que ele precisava. Então ele não hesitou em dizer o resto.

“Eu vou fazer Mai feliz.

 

Saiu facilmente. “Sim, tenho certeza que você vai.”
“…Só você pode.”
“Então, há algo que preciso dizer a você.”
“…”

Aqui, Shouko balançou a cabeça. Seus olhos diziam que não havia necessidade. Mas Sakuta não seria dissuadido. Shouko o fez perceber algo. E ele tomou sua decisão à luz disso. Ele devia a Shouko uma explicação sobre sua decisão.

Voltar no tempo só lhe daria isso – tempo. Talvez ele encontrasse uma maneira de evitar que Mai fosse atropelada pela van, mas se fizesse isso, Shouko perderia seu doador. E se ele quisesse fazer Mai feliz, Sakuta não poderia ser atropelado por uma van, também. Perder Mai o fez perceber o quanto sua própria morte a faria sofrer. E ele não podia fazer isso com ela. Então, ele precisava dizer.

“Eu quero que você viva, Shouko.” Sua voz calma encheu a enfermaria.

“Do fundo do meu coração, espero que Makinohara consiga o transplante que precisa.”
“Ok.”
“Estou rezando por você.” Pouco a pouco.
“Estou fazendo um pedido a cada estrela.” Ele disse a ela como se sentia realmente.

“Eu sei”, ela disse.
“Mas eu não sou um médico.”

“…”
“E não tenho habilidades ou poderes especiais.”
“…”
“Sou apenas um colegial.”
“Você tem muito mais coragem do que a maioria deles.”

Uma pequena risada escapou dele. Isso tornou as coisas um pouco mais fáceis para ambos, pensou ele. Mas quando terminou, continuou. Colocando todos os seus sentimentos em palavras.

“É tudo o que posso fazer para deixar Mai feliz.”
“…”
“E nem mesmo isso eu consegui fazer direito.”

Ele interrompeu, as emoções sufocando sua voz. Ele sentiu as lágrimas surgirem, mas não parecia certo chorar na frente de Shouko. Então, ele as conteve. Ele olhou para cima, esperando que o calor atrás de seu nariz desaparecesse. Ficou assim por bons dez segundos.

“Então,” ele disse. “Isso significa uma coisa, Shouko.”
“Sim.”
“Não posso fazer nada por você.”

Ele a olhou diretamente nos olhos ao dizer isso. Esse era o caminho que ele havia escolhido. Talvez alguns dissessem que foi uma escolha egoísta. Talvez alguns o acusassem de cometer um erro. Talvez alguns amaldiçoassem sua falta de moral.

Mas Sakuta estava bem com tudo isso. Egoísta, errado ou imoral – tudo bem. Se ele pudesse fazer Mai feliz, valeria a pena.

“Sakuta, é assim que deve ser.”

Ela estava com seu sorriso habitual. Havia apenas uma diferença – aquele sorriso impecável estava molhado de lágrimas.

“…Shouko?”
“Mm…?”

Ela só percebeu então.

“Por que… estou…?”

Ela limpou as lágrimas com os dedos.

“Eu jurei que não…”
“…”
“Acho que ouvir em voz alta… ainda me afetou bastante.”

Shouko ofereceu uma desculpa, aparente consternação sobre suas lágrimas. Ela continuava insistindo que estava bem, como se estivesse preocupada com a reação dele. Ela nunca pareceu triste. Apenas um pouco envergonhada por estar chorando.

Ela estava tentando ser forte por ele, e ele queria dizer algo, para lhe contar como isso o fazia sentir.
“…”

Ele abriu a boca para fazer exatamente isso, mas, no fim, não disse mais nada. Não havia mais nada que ele pudesse fazer por ela. Ele já tinha dito tudo o que precisava. Então, engoliu as desculpas e a gratidão e apenas observou, esperando que Shouko se recuperasse. As lágrimas em seus dedos brilhavam ao luar. O anel de prata cintilava no dedo anelar esquerdo dela.

“Uma última coisa,” Sakuta disse, apesar de si mesmo.

“Sim?”

“Quando você voltar para o futuro, entregue uma mensagem para o meu eu do futuro.”

“…”

“Diga a ele: ‘Faça sua adorável noiva a pessoa mais feliz do mundo.'”

“!”

Por um momento, Shouko foi pega de surpresa. Isso lhe disse tudo. Ele já suspeitava, mas agora tinha certeza. Ele não estava falando com Shouko Makinohara. Ele estava falando com Shouko Azusagawa.

“…Vou garantir que ele ouça isso,” Shouko disse, sorrindo suavemente através das lágrimas. Elas escorriam por suas bochechas, e ela não tentava mais enxugá-las. Desta vez, eram lágrimas de alegria. Shouko se levantou.
“Hora de se deitar, Sakuta.”

Para voltar no tempo, ele tinha que abandonar o bom senso. E isso só podia ser feito em sonhos. Ela acabara de explicar isso para ele.

“Desde que aconteceu… eu nunca tive certeza se estava acordado ou não.”

Ele não tinha certeza se realmente adormeceria.

“Estou preocupado que…” Mas um bocejo o interrompeu. Suas pálpebras estavam pesadas.

“Você ficará bem,” Shouko disse. Ele olhou para ela.

“Como você pode…?” Shouko estava ficando embaçada. Sakuta sentiu que suas palavras estavam saindo arrastadas. Isso não era normal.

“Não há com o que se preocupar.” A voz dela parecia distante. Ela estava bem ao lado dele, mas não parecia.

“Shouko…?”

“Eu fiz questão de colocar uma dose no seu drink.” Havia uma embalagem de pílulas para dormir na mão dela.

“Oh… ok… isso explica…” Seus olhos se fecharam e o mundo ficou escuro.

“Boa noite, Sakuta.”

Sentindo que isso já tinha acontecido antes, Sakuta percebeu sua mente se desviando para o mundo dos sonhos.

“Primeiro, procure alguém que possa encontrá-lo.” Ponderando o significado das últimas palavras de Shouko, Sakuta embarcou em uma jornada através do tempo.

 

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