Capítulo 58 – Li Zhi

Ring, ring, ring!

Um som extremamente perfurante interrompeu o grito do velho, fazendo todos cobrirem os ouvidos com expressões agoniadas. No momento que o som do sino parou, a lâmina de Li Huowang já estava colocada no pescoço do homem.

— Keke, Taoísta, o que está fazendo? — perguntou o velho, sua expressão ainda calma, apesar da lâmina afiada pressionada contra seu pescoço.

— Por que está perguntando o que estou fazendo? Eu que deveria perguntar o que você está fazendo! Quais deuses você está invocando?! — questionou Li Huowang. Ao mesmo tempo, aplicou um pouco de pressão na lâmina chamuscada, tirando um pouco de sangue. Nada de bom aconteceria, independente de quais deidades ou deuses o Xamã estivesse invocando; ele não encontrou nada de bom desde que veio a este lugar miserável.

O homem riu, percebendo que ele foi mal compreendido: — Taoísta, você não é do Reino de Si Qi, certo? Não invoquei nenhum deus. Nem bati no meu tambor, então não posso invocá-los. Só queria provar a você que sou realmente um Xamã.

Xiaoman sussurrou: — Hmm, ele está certo. Um Xamã precisa bater no seu tambor.

Li Huowang olhou para o tambor colorido preso na cintura do home antes de retirar a espada lentamente.

— Amigo, não faça estas piadas tarde da noite. É fácil ser mal compreendido. Você pode ir embora — disse Li Huowang.

O velho averiguou o Taoísta de cima a abaixo e assentiu relutantemente antes de se virar para sair: — Tudo bem. Me chamo Li Zhi. Até nosso próximo encontro! Querida, vamos lá.

Ele não falou outra palavra, ao invés disso, levou a mulher de volta ao caminho escuro dentro da floresta.

Enquanto Li Huowang observava os dois saírem da sua linha de visão, se virou e falou aos outros: — Não durma mais esta noite. Fiquem alerta, só no caso daquele sujeito não ter saído.

Não machucava ser cauteloso demais. Este sujeito poderia saltar no meio da noite de repente; ninguém sabia quais eram seus objetivos.

Apesar de suas respostas hesitantes, os ingredientes abraçaram suas armas e se reuniram ao redor da fogueira. Ao mesmo tempo, Li Huowang agarrou um galho seco e jogou no fogo, deixando-o mais brilhante e iluminando o rosto ansioso de todos.

Apesar da espera aparentemente infinita, a longa noite passou. Nada mais aconteceu além deles parecerem ansiosos.

— Vamos descansar de manhã e depois partiremos. Filhote, você fica de vigia primeiro — Li Huowang pronunciou antes de fechar os olhos.

Após algum tempo, ele foi acordado gentilmente do seu cochilo por alguém: — Sênior Li, aquela pessoa está de volta.

— Eh? O quê? — Esta notícia imediatamente o fez despertar. Ele se virou para ver Li Zhi e sua esposa, que estava usando um véu, sorrindo para ele de perto.

— Após pensar a noite toda, percebi que assustei vocês noite passada, certo? Estou aqui para oferecer minhas desculpas. — disse Li Zhi.

A luz do sol atravessou os galhos e iluminou um pouco o rosto sombrio de Li Zhi, fazendo a verruga em seu rosto se destacar. Se o tambor na sua cintura fosse tirado, ele pareceria apenas com um fazendeiro qualquer que trabalhava nos campos o ano todo.

Sob o brilho do sol, agora parecia muito mais abordável que noite passada.

Alguns pensamentos passaram pela mente de Li Huowang quando juntou as mãos e retornou o cumprimento: — Irmão Li Zhi é muito cortês. Eu também fui imprudente ontem.

Independente do objetivo, como um Xamã estava na sua frente, Li Huowang não podia perder a chance de conseguir algumas informações.

— Esta garota me falou que seu sobrenome também é Li? Isso é uma grande coincidência; o meu também é. Talvez fossemos parentes há quinhentos anos — Li Zhi comentou alegremente quando avançou alguns passos e se aproximou de Li Huowang.

— Irmão Li Zhi, para onde está indo? — perguntou Li Huowang.

— Oh, a avó da minha família vai celebrar seu aniversário logo, então estou correndo para parabenizar — explicou Li Zhi.

Celebração de aniversário? Os Xamãs parecem ser diferentes dos monges e dos Taoistas; eles ainda precisam comparecer às funções e realizar suas obrigações mundanas.

— Taoísta, para onde está indo? E com este grande grupo de ajudantes, ainda por cima. — O olhar de Li Zhi tremeluziu quando olhou para o manto encharcado de sangue de Li Huowang.

— Reino de Liang — Li Huowang respondeu conciso.

— Tão longe? Deve ser bem desafiador ir para tão longe — comentou Li Zhi.

Após trocar alguns gracejos, a tensão entre eles diminuiu até certo ponto; pelo menos não estavam mais apontando as espadas para o outro.

As rodas da carroça começaram a girar e continuaram a jornada com a nova dupla.

— Perto daqui fica o Desfiladeiro da Meia-lua e depois tem uma aldeia em que pode descansar por alguns dias. Após isso, levará pelo menos outros quinze dias de viagem até encontrar outro local para ficar. Você também deve saber que as regiões fronteiriças normalmente são pouco povoadas. — Li Zhi parecia estar falando com um velho amigo enquanto dava dicas a Li Huowang.

— Muito obrigado. Irmão Li Zhi, como você é um Xamã, a qual família Imortal você adora? — perguntou Li Huowang.

A pergunta incisiva vez a mulher de véu vermelho inclinar a cabeça com surpresa.

— Keke, sou um discípulo da Família Bei. Como você me perguntou, também gostaria de saber de qual montanha ou seita você pertence — expressou Li Zhi.

— Seita Xishan Donghua, Templo de Zéfiro. Meu nome de Taoísta é Xuan Yang — Li Huowang respondeu instintivamente com as velhas proclamações de Dan Yangzi. Ele não sabia o que era a Seita Xishan Donghua, mas, em todo caso, com isto, os outros acreditariam que ele tinha uma linhagem genuína e não era apenas um Taoísta falso.

Li Zhi balançou a cabeça: — Keke~ Nunca ouvi falar. Porém, é compreensível. O mundo é tão vasto que ninguém saberia de tudo.

Li Zhi era muito comunicativo e seu rosto sempre tinha um sorriso. O humor da pessoa seria elevado só de ficar em sua companhia.

Enquanto continuavam a viagem, logo chegou a hora do almoço; eles ainda estavam usando o buraco artesanal para cozinhar macarrão. O rio ao longo da estrada estava ampliando lentamente, tornando mais conveniente para eles.

Enquanto isso, Li Zhi não tirou nada da sua pequena mochila e apenas agachou ao lado da estrada, observando-os com um sorriso. Isto fez o grupo de Li Huowang começar a se sentir inquieto.

— Irmão Li Zhi, quer um pouco? — perguntou Li Huowang.

— Ah! Isso é muito gentil; não como nada desde ontem. — Li Zhi correu ansiosamente para pegar uma tigela antes de encher com macarrão.

Logo, uma tigela atrás da outra foi limpa por ele, fazendo Bai Lingmiao franzir as sobrancelhas.

— Sênior Li, isso é quase um quilo e meio… como ele consegue comer tanto? Este homem está nos segundo só por esta refeição? — indagou Bai Lingmiao.

Todos encararam atordoados quando Li Zhi comeu o último fio de macarrão. Ele não ficou nenhum pouco envergonhado e continuou bebendo o caldo alegremente enquanto agachava sob uma árvore?

Li Huowang caminhou ao lado e o imitou ao se agachar: — A comida foi o bastante? Você quer um pouco mais?

— Ah, isso é constrangedor, mas realmente não tive o bastante — Li Zhi responde enquanto bebia um grande gole de sopa.

— Cozinhe mais um quilo de macarrão! — Li Huowang gritou na direção daqueles ao redor da panela de metal.

— Por que você é o único comendo, sua esposa não come? Ela não está com fome? — Li Huowang olhou na direção da mulher com véu vermelho. Ele descobriu que as unhas dela estavam um pouco enegrecidas e eram extremamente longas.

— Sou a Deidade Principal enquanto ela é a Segunda Deidade. Eu comer é o bastante — Li Zhi retorquiu porque achava ser a ordem natural das coisas.

— Oh? Por que isso? — indagou Li Huowang, esperando aprender algo novo.

Os sons de chupar pararam quando Li Zhi levantou a mão direita que estava segurando os pauzinhos antes de limpar a boca com o cotovelo. Ele então se virou e sorriu: — Keke, você tem tantas perguntas. Você está tentando se tornar um Xamã também?