Surviving the Game as a Barbarian – Capítulos 1 ao 10 - Anime Center BR

Surviving the Game as a Barbarian – Capítulos 1 ao 10

Capítulo 1: Prelúdio.

Eu amava jogos desde que era pequeno. A razão era simples. Porque passei todos os meus dias em um hospital, naturalmente não tinha nada para fazer além de jogar. E conforme o tempo passava, os jogos se tornaram uma parte integral da minha vida. Mas quando você fazia algo por tempo suficiente, acabava se cansando disso.

— Porra… o que é isso, IA? Por que você está curando aquele bastardo?

Em algum momento, descobri que não importava qual jogo eu jogasse, não era tão divertido quanto costumava ser. Não era uma questão de gênero, fosse AOS, RPG, FPS, etc. O problema era que todos os jogos lançados a cada ano eram lixo. Os enredos e universos eram praticamente copiados e colados, e os sistemas careciam de profundidade.

Eu queria um jogo com algo mais único. Foi quando descobri Dungeon and Stone.

Click, click.

O gênero era RPG para um jogador. Era um jogo indie estrangeiro. Não havia suporte para o idioma coreano e apresentava gráficos de arte pixel 2D, o que era raro nos dias de hoje. Para ser honesto, o jogo estava longe do meu gosto. Ainda assim, era gratuito, então o instalei para experimentar. E não demorou muito para eu me apaixonar por ele.

— Nossa, quase morremos no final por causa daquele maldito sacerdote.

Era um jogo incomum em muitos aspectos. Quando um personagem morria, eles tinham que ser treinados novamente do zero. Os NPCs eram essenciais para o progresso do jogo, e o grau de liberdade também era extremamente alto para um jogo de rolagem vertical. O sistema de habilidades e construção do mundo eram encantadores, e a história era interessante até mesmo em inglês. Mais importante ainda, havia uma qualidade distinta e estranha neste jogo.

Tap-tap. Ta-ta-ta-tap.

Um agente de serviço social que acabava de ser designado para trabalhar no metrô como alternativa ao serviço militar obrigatório, mergulhei no mundo de Dungeon and Stone e comecei com tudo. Não foi fácil. O combate neste jogo não era simplesmente decidido por HP/MP. Mesmo com stats completos, um único erro poderia significar que o personagem que eu estava construindo cuidadosamente há três meses estava perdido.

— Vamos lá…

Dois anos jogando o jogo, e eu nem tinha alcançado a metade. Engolindo meu orgulho, vasculhei a internet em busca de um guia passo a passo. Como não encontrei nenhuma informação em sites coreanos, tive que traduzir do inglês para ler alguma coisa. Mesmo assim, os sites que encontrei não foram de muita ajuda. Também não havia muitos usuários no exterior, então havia poucos artigos relevantes e nenhuma dica útil. Ao contrário das pessoas que jogaram por apenas um ou dois meses antes de desistir e considerá-lo um jogo fracassado, eu, que estava explorando seriamente esse mundo por dois anos, tinha um entendimento muito melhor dele. Então, parei de procurar por um guia passo a passo.

— Três para cima, quatro para a esquerda, um para baixo, dois para a esquerda, depois seis para cima novamente e quatro para a direita. Por fim, evite a armadilha e… legal.

Esse jogo chegou até mim em um momento em que eu estava desesperadamente procurando por um novo jogo. Não importava quanto tempo levasse, decidi que queria progredir por conta própria. E…

— Ufa.

Simplesmente assim, cheguei onde estou agora.

【Portão do Abismo.】

Meu personagem atual estava em pé diante do portal conectado ao covil do último chefão. Mas é claro, eu não veria o fim até revisitar este lugar várias vezes mais. Este não era um jogo onde você pudesse derrotar o chefão em apenas uma tentativa. Mesmo assim, meus dedos rígidos eram um sinal claro de quão nervoso eu estava naquele momento.

— O último chefão…

Pode não significar nada para alguns, mas levei nove anos para chegar aqui. Não seria um exagero dizer que esse jogo esteve comigo durante toda a minha juventude. Quando fui dispensado do serviço social, quando retornei à escola após anos afastado e até mesmo no dia em que recebi uma carta de aceitação para o emprego que queria depois da formatura… estive jogando Dungeon and Stone o tempo todo.

【Você vai entrar?】

Conforme meu personagem se aproximava do portal, fui perguntado se estava disposto a entrar. Claro, cliquei em 【Sim】. No entanto, como era o quarto do último chefão, outra mensagem bastante sombria apareceu logo em seguida.

【Você pode acabar nunca mais voltando.】

【Você ainda está disposto a entrar?】

Do ponto de vista do jogador, este era um aviso desnecessário. Por que eu não entraria neste lugar?

【Sim/Não】

Assim que cliquei novamente em 【Sim】, a tela mudou para uma tela de carregamento. Encarando o monitor escurecido, concentrei toda a minha atenção no jogo.

“Quantos padrões de ataque esse cara terá? Quais são seus stats? Com certeza, ele tem um ataque de insta-kill. Mm, eu deveria esquecer a ideia de tentar ter sucesso na primeira vez e apenas reunir o máximo de informações possível, porque posso ter que reformular completamente meu método de level up ou combinação de classes.”

Meu cérebro, estimulado pela excitação e antecipação, estava preenchido apenas com pensamentos sobre o último chefão — o que fez com que eu percebesse o que estava acontecendo um momento tarde demais.

【Você chegou ao abismo.】

【Tutorial concluído.】

“Tutorial concluído? Não, espera. Por que de repente está escrito em coreano? Dungeon and Stone não estava disponível apenas em inglês?”

【A transmissão começará agora.】

Ao mesmo tempo, uma luz brilhante surgiu. A luz era tão intensa que era difícil acreditar que vinha de uma tela.

— Argh… Droga! Meus olhos!

Em um instante, tudo ficou branco. Havia um zumbido nos meus ouvidos e um estranho calor tocava minha pele. Minha mente rapidamente ficou turva, como se alguém tivesse acabado de injetar anestesia em minhas veias. Normalmente, eu tinha confiança em minha capacidade de lidar com crises, mas naquele momento específico, eu não fazia ideia do que estava acontecendo.

Flash… !

Perdi a consciência à medida que a luz se tornava mais forte. E quando abri os olhos novamente, eu era um bárbaro dentro do jogo.

Capítulo 2: Tutorial (1/3)

 


『 Tradutor: MrRody 』


 

Fechei os olhos e me perguntei: “Se este fosse o início de um jogo muito, muito difícil, o que eu deveria estar fazendo agora?”

Primeiro, eu precisava entender a situação e coletar algumas informações.

Ufa. Pude sentir meus pensamentos se clareando lentamente. Com esta primeira tarefa que estabeleci em minha mente, abri os olhos lentamente e examinei novamente ao meu redor. Infelizmente, era o mesmo que antes.

O fato de estar em uma clareira na floresta, que a luz iluminando meu ambiente escuro não era um poste de luz de LED, mas uma tocha tremeluzente, e que havia brutamontes musculosos por toda parte que eu olhasse… Droga, meus olhos definitivamente não estavam me enganando. Eu não sabia o que essas pessoas estavam fazendo ali no meio da noite, mas pareciam bastante dedicadas ao que quer que fosse.

— Parabéns! Jovens guerreiros! — gritou um dos selvagens no meio da tribo.

“Aquele homem no meio é o chefe da tribo?” Pensei.

Bem, isso não era importante.

O Chefe continuou. — A partir de hoje, vocês deixarão esta terra sagrada e renascerão como verdadeiros guerreiros!

Fechei os olhos, filtrando as palavras do chefe da tribo. Eu não era médico, mas se fosse me auto diagnosticar, provavelmente estava experimentando sintomas de dissociação no momento.

— Agora, avancem um por um e escolham a arma que melhor se adequa a você!

Então, vamos pensar novamente… O que eu estava fazendo antes disso?

Enquanto eu refletia sobre os eventos que haviam acabado de acontecer, uma realização veio à mente de repente. Eu estava jogando um jogo. O covil do último chefão estava diante de mim, e eu havia ativado o portal cheio de empolgação. Então, de repente, uma mensagem dizendo que o tutorial havia sido concluído e algo sobre uma transmissão apareceu, e uma luz brilhante inundou a tela. E então… Quando recuperei a consciência, estava aqui. De alguma forma, eu estava ainda mais confuso agora…

— Avance, Karak, terceiro filho de Fanun!

Primeiro, eu precisava verificar a condição do meu corpo. Não estava sentindo dor, mas nunca se sabe. Com esse pensamento em mente, olhei para baixo e imediatamente congelei.

…O que é isso?

— Um machado de duas mãos! Excelente!

As mãos que vi eram tão grandes que eram quase obscenas. E surpreendentemente, elas se moviam de acordo com minha vontade. Enquanto estava nisso, examinei as outras partes do meu corpo e descobri que eram todas verdadeiramente impressionantes. Além de não ter camisa, tatuagens de todas as formas estavam desenhadas em meus músculos poderosos, e eu estava na altura dos outros gigantes. Tentei dar sentido a todas essas informações. Não, na verdade, não havia nada para dar sentido. Por algum motivo, eu tinha me tornado um selvagem.

— Karak, terceiro filho de Fanun! Você agora é um guerreiro!

Sequestro, um programa de câmera escondida ou talvez um experimento psicológico… imediatamente apaguei essas possibilidades da minha mente. Seria tolice, nesta situação, criar falsas esperanças ao tentar criar teorias que não fizessem sentido. Seria mais produtivo aceitar a realidade e seguir em frente. O que estava acontecendo comigo agora era algo que a ciência moderna ou o conhecimento comum não poderiam explicar. Mesmo além deste corpo grande, havia muitas outras coisas que apoiavam essa afirmação.

— Próximo!

Em primeiro lugar, a língua que os brutos estavam falando não era coreano, inglês ou até mesmo espanhol. Era uma língua que nunca encontrei em nenhum meio de comunicação em toda a minha vida. No entanto, de alguma forma, eu conseguia entender essa língua tão naturalmente quanto minha língua materna. Era como se esse conhecimento tivesse sido inscrito em meu cérebro.

— Venha, Ainar, segunda filha de Fenelin!

Em segundo lugar, eu já havia estado nessa situação antes. Isso pode soar ridículo, mas era verdade. No começo, tudo parecia desconhecido, mas agora que eu tinha recuperado os sentidos, senti uma estranha sensação de déjà vu.

— Você escolheu uma espada! Uma boa escolha para um guerreiro inteligente como você!

A maneira como esses jovens bárbaros estavam escolhendo suas armas um após o outro… Isso me lembrou o início de Dungeon and Stone. Para ser preciso, quando ‘Bárbaro’ era selecionado entre as várias classes possíveis, o jogo sempre começava assim. Mas isso era apenas uma coincidência? O jogo que eu estava jogando quando a misteriosa luz me engoliu era Dungeon and Stone, e o personagem que eu estava jogando era um bárbaro.

— Ainar, segunda filha de Fenelin! Você se tornou uma guerreira. Que a bênção de Rafdonia esteja com você!

“O quê…”

Não me dei ao trabalho de percorrer as teorias restantes. Rafdonia, o nome que o Chefe acabara de mencionar, tornava todas elas sem sentido. Agora eu sabia onde estava. Eu estava dentro do jogo que eu tinha jogado por quase dez anos.

— D-Dungeon and Stone.

— Eh? O que é isso? Por que ele está falando por mim?

Quando lancei um olhar para o bárbaro ao meu lado, congelei. Mesmo com um olhar rápido, ele era diferente dos outros bárbaros.

— O que… o que é isso? Por que estou aqui?

Sua respiração estava pesada e seus olhos estavam cheios de confusão. E ele sabia sobre Dungeon and Stone. Será que ele estava na mesma situação que eu? Senti a necessidade de investigar, mas infelizmente não tive chance de tentar.

— Quem acabou de abrir a boca?!

A voz era tão alta que perfurou meus tímpanos, e minha mente ficou em branco por um momento. Mas isso não durou muito. Não sabia quando ele tinha chegado, mas a visão do Chefe olhando para baixo para mim me acordou completamente.

— Foi você?

Assim que a pergunta foi feita, eu sacudi a cabeça. E naturalmente, olhei para o bárbaro sentado ao meu lado. Foi um movimento rápido que até mesmo me surpreendeu. O Chefe também moveu seu olhar para o bárbaro em vez de me fazer mais perguntas.

“Desculpe, mas foi você quem falou.”

— Foi você? — o Chefe perguntou ao bárbaro ao meu lado.

— Como?

— Perguntei se foi você quem acabou de murmurar.

Só agora eu estava percebendo, mas a expressão do chefe estava estranha. Ele não podia estar reagindo assim apenas por causa do barulho…

— Oh, você quer dizer sobre Dungeon and Stone? O que tem?

Esse cara parecia não entender a situação em que estava.

— Então foi você…

Um breve lampejo de dó passou pelos olhos do chefe enquanto ele cerrou a mandíbula. Sentindo um pressentimento por alguma razão desconhecida, dei um passo inconsciente para o lado.

Então, o homem ao meu lado inclinou a cabeça e perguntou:

—  Isso é tipo um evento? Oh, eu percebi cedo demais…

Eu não pude ver o que aconteceu com os meus olhos. Algo piscou, seguido por um som horrível.

Fatia…

Isso foi tudo. O momento fugaz passou e uma cabeça caiu no chão com um surdo baque. A cabeça continuou rolando. Era uma visão horrível que parecia quase irreal.

O pescoço de um homem foi cortado bem diante dos meus olhos. Os ossos e os cortes dos músculos eram visíveis. Algo branco espirrou no meu rosto, junto com sangue e carne.

“O que é isso? É gordura?”

Mm, eu não podia ter certeza. Não foi tão chocante quanto pensei que seria. Não houve sensação de náusea ou colapso mental como sempre acontece nos filmes, e eu não perdi minha sanidade também.

Esguicha!

Enquanto eu observava o sangue jorrar da garganta do homem, apenas uma pergunta permaneceu em minha mente. Por que diabos o Chefe o matou?

— Um espírito maligno residia na alma de Oreum, filho de Kadua. Jovens guerreiros, apaguem de suas memórias as palavras que o espírito maligno acabou de pronunciar!

No momento em que ouvi as palavras do chefe, tudo se juntou em minha cabeça.

“Número um: Eu sou um espírito maligno.”

“Número dois: Se isso for revelado, eu morrerei.”

“Número três: Aquela cabeça no chão poderia ter sido a minha.”

Quando cheguei a essa conclusão, um arrepio percorreu minha espinha, algo que nem mesmo aconteceu enquanto eu assistia a cabeça de alguém ser cortada.

— Vulcan! Apresse-se e leve o corpo para o templo!

—  E quanto à cerimônia de passagem para a vida adulta?

— Eu continuarei!

Um rio de sangue foi derramado, mas a cerimônia de passagem para a vida adulta continuou. Isso deve ter sido uma ocorrência comum aqui, porque, ao olhar ao redor, percebi que ninguém sequer pestanejou. Isso também era verdade para os jovens guerreiros. Talvez porque eu tenha jogado tantos jogos hostis, mas mesmo que ninguém me dissesse o que fazer, eu estava certo do que era meu objetivo agora.

 


 

【Complete com segurança sua cerimônia de passagem para a vida adulta sem que ninguém descubra que você é um espírito maligno.】

 


 

Se isso fosse um jogo amigável, uma mensagem assim teria aparecido. Gravando essa nova tarefa na memória, forcei meu corpo a parar de tremer. Usando o comportamento das pessoas ao meu redor como um guia, copiei suas expressões faciais. Ninguém seria capaz de detectar nada fora do comum sobre mim, porque, para eles, eu seria nada mais do que um “espírito maligno” que possuía o corpo de alguém.

— Próximo!

Mas então percebi algo, e meu coração afundou.

— Serum, quarto filho de Kenick, avance!

“Eu não sei o meu nome.”

Isso era um assunto sério com minha vida em jogo. Se eu não avançasse mesmo depois de chamado, definitivamente pareceria suspeito.

— Próximo!

Bem, eu poderia dizer que ouvi errado. Obviamente, isso era muito mais provável do que eu ser um espírito maligno. Mas se me perguntassem se eu estava confiante sobre isso, isso era outra história. E se não funcionasse? E se o Chefe ficasse suspeito e me questionasse? Eu não seria capaz de suportar uma investigação.

— Próximo!

A ansiedade desencadeou a adrenalina em meu cérebro. Pensamentos ingênuos começaram a surgir. Pensamentos covardes como, “se eu for o último a ser chamado, não importará se eu não souber meu nome, certo?”

— Próximo!

Eu me senti patético. Dependendo da sorte? Quando eu nunca tive sorte na vida? O fato de ter sido convocado para este lugar enquanto jogava apenas reforçava isso. Para um cara como eu superar uma crise como essa, eu precisava de um plano mais definitivo. Então, continuei olhando ao redor.

— Próximo!

Com o queixo para frente, examinei as expressões faciais, movimentos e hábitos dos outros em meu campo de visão periférica. Enquanto fazia isso, uma estratégia veio à minha mente.

— Próximo!

Claro, essa estratégia também não era 100% infalível. No entanto, eu tinha pouco tempo e precisava tomar uma decisão final. Esta era a maneira mais provável de sobreviver.

— Próximo!

— Próximo!

— Próximo!

As convocações continuaram. Contei cerca de dois segundos entre cada chamada e o respectivo guerreiro avançando. E então, depois de repetir isso cerca de oito vezes…

— Avance, Bjorn, filho de Yandel!

Finalmente, o momento tão esperado havia chegado. Mesmo depois de dois segundos, ninguém havia avançado. Percebendo isso, eu dei um passo à frente. Orgulhosamente, com os ombros retos, caminhei em direção ao chefe.

Thud.

Não foi que eu não estava com medo. Mesmo enquanto eu avançava, eu não tinha certeza se o nome era meu.

Thud.

Se eu errasse, o Chefe louco ia ficar suspeito e imediatamente me parar. Ele ia perguntar, “Quem é sua mãe?” e eu não ia conseguir responder. No entanto…

Thud.

Eu não hesitei. Mesmo com o coração acelerado, eu respirei fundo e continuei a avançar. A razão era simples. Eu já tinha decidido que esse era o momento mais plausível para avançar.

— Jovem guerreiro, escolha sua arma!

No final, minha hipótese se mostrou correta. Não havia suspeita nos olhos do chefe enquanto ele me olhava. Era o mesmo olhar caloroso que ele tinha ao lidar com os outros jovens guerreiros. Segurei a respiração, lutando contra uma estranha sensação de agitação.

Eu tinha sobrevivido.

 


 

Não haviam se passado nem dez minutos desde que abri os olhos, mas eu tinha aceitado a realidade que estava enfrentando pelo que era. Pode parecer estranho para alguns… mas recusar-se a aceitá-la seria inútil.

Isso não era um sonho.

“Bjorn Yandel.”

Dali em diante, eu tinha que viver por esse nome. Não, não apenas o nome… eu tinha que ser verdadeiramente esse bárbaro por um tempo indeterminado. Sem ter ideia de como poderia voltar para casa, ou se isso sequer era possível, me dei conta de que, naquele momento, eu não sabia de nada.

Bem, eu hipotetizei que se as condições de vitória do jogo fossem cumpridas, eu poderia retornar. Mas ainda era cedo demais para tirar conclusões. E sinceramente, eu esperava que não fosse o caso. Eu nem tinha chegado a completar a versão 2D… como eu ia conseguir completar esse jogo na vida real? Eu poderia ter que viver aqui para sempre…

Por causa disso, a seleção de arma era importante. Demorar muito poderia atrair suspeitas, mas eu ainda examinei cuidadosamente cada arma uma por uma. Havia uma espada de uma mão, uma espada grande de duas mãos, uma maça, um porrete de ferro, uma lança, um arpão, um machado de duas mãos, um mangual, um martelo grande e alguns outros. Não havia arcos ou varinhas. Esses bastardos selvagens não pareciam se importar com jogadores da retaguarda como curandeiros, magos ou arqueiros. Considerando seus corpos enormes, isso era compreensível.

— Bjorn, filho de Yandel! Rápido, escolha sua arma!

Enquanto o tempo de minha seleção se arrastava, o chefe da tribo começou a me pressionar para me apressar. Finalmente, reuni meus pensamentos. Os bárbaros não tinham talento natural para a magia, mas tinham fortes capacidades físicas. Por essa razão, ao jogar com bárbaros, sempre lhes dava armas de combate corpo a corpo e os colocava na vanguarda. Por curiosidade, uma vez tentei jogar como um bárbaro arqueiro, mas não deu certo. Seu verdadeiro valor sempre se destacava em combate próximo.

E entre essas…

Essa.

Depois de muita deliberação, escolhi uma arma.

— Hmm.

O Chefe, que havia elogiado os outros jovens guerreiros após cada seleção, reagiu de forma estranha desta vez. Seus sentimentos eram totalmente compreensíveis.

— Bjorn, filho de Yandel! Agora você é um guerreiro!

Eu tinha escolhido uma arma que ninguém queria.

 


 

Naquele mesmo momento, dentro de uma sala escura com luzes fracas…

 


 

【A sincronização está completa.】

【As informações do personagem e o diário foram registrados e enviados ao administrador.】

 


 

O ventilador no console principal, que estava desligado, começou a girar, e a luz do monitor iluminou a sala vazia. No entanto, o carregamento não progrediu conforme o esperado.

Bip, bip, bip, bip…

A digitação na tela preta do DOS parou. De acordo com os bipes, houve um erro.

 


 

【A cerimônia de passagem para a vida adulta foi concluída com sucesso.】

【Novos itens foram equipados.】

【O Nível Total de Equipamento aumentou em +12…】

 


 

Quase como se alguém estivesse escrevendo em tempo real, esses eram os únicos sons ecoando silenciosamente na sala desocupada. Infinitamente, continuamente.

 


 

【Bjorn Yandel】

【Nível: 1

Físico: 25

Espírito: 35

Habilidade Especial: 1

Nível do Equipamento: 24 (Novo +24)

Poder de Combate Geral: 67 (Novo +6)】

Capítulo 3: Tutorial (2/3)

 


『 Tradutor: MrRody 』


 

Bárbaro.

Na primeira vez que joguei eu usei um personagem desta classe, a arma que escolhi foi a Espada Larga. Por que? Porque é maneiro. Eu tinha imaginado como seria legal empunhar uma espada com as duas mãos e girá-la como um louco no meio de um acampamento inimigo.

“O problema é que eles morrem com muita facilidade.”

Fascinado pelos bárbaros, comecei a fazer minha própria pesquisa. Como eu poderia manter um bárbaro vivo? Apesar de muitas tentativas, meus personagens bárbaros ainda morreram com muita facilidade. Não importa o quão duráveis eles fossem, todos eles se transformaram em berserkers. Era como se eu estivesse andando em uma corda bamba durante cada batalha. Isso fez dos bárbaros um personagem instável.

Então, em algum momento, comecei a me sentir cético.

“Eu realmente tenho que usá-lo como damage-dealer?”

Os bárbaros eram os mais duráveis de todas as classes, e seu potencial de força máximo também era alto, o que significava que podiam usar adamantium. Embora suas estatísticas de habilidades especiais não fossem tão boas quanto as de um anão, os bárbaros tinham as habilidades básicas de um tank. Embora, para ser honesto, eu realmente não quisesse ser um tank bárbaro. Mas eu também não queria que todo aquele tempo gasto pesquisando bárbaros fosse desperdiçado, então experimentei. E depois de um pouco de tentativa e erro, criei minha própria build..

“O que é esse personagem roubado?”

Sem hesitar, abandonei o anão que originalmente havia usado como tanque. E daí se eu não pudesse lutar uma luta chamativa? Sempre valorizei a eficiência e era um jogador que poderia deixar de lado o gosto pessoal em busca de estratégia. Assim como estava decidindo agora.

Thud.

Quando retornei ao meu lugar depois de escolher uma arma, pude sentir os outros bárbaros me olhando.

“O quê, nunca viram um bárbaro segurando um escudo antes?”

Voltei ao meu lugar com uma expressão digna e firme no rosto, assim como um verdadeiro bárbaro. Não havia necessidade de fingir desta vez.

— Próximo!

Eu não tinha arrependimentos sobre minha decisão por três razões:

Um, das opções de armas iniciais, o escudo era o mais caro ao ser revendido.

Dois, havia uma alta possibilidade de que mesmo se estivesse segurando uma espada agora, não conseguiria manejá-la adequadamente.

Três, eu estava, no fim das contas, buscando uma build de bárbaro com escudo.

Eu tinha tomado a decisão mais racional que podia fazer hoje.

— Com isso, você se tornou um guerreiro!

Depois de escolher uma arma e voltar para o meu lugar, finalmente tive algum tempo para pensar. Enquanto os outros bárbaros passavam por suas cerimônias de passagem para a vida adulta, decidi especular sobre como havia chegado a essa situação. Eu realmente deveria ter pensado nisso antes, mas… bem, o que eu poderia fazer?

Eu estive ocupado demais salvando minha própria vida.

 


 

【Você alcançou o abismo.】

 


 

Vamos resumir os acontecimentos. Eu havia chegado ao covil do último chefão. Isso provavelmente tinha sido o gatilho.

“Espera um minuto. Então quem era o outro cara que morreu antes? Isso significa que ele também chegou ao covil do último chefão?”

…Talvez sim. Havia muitas pessoas no mundo, e algumas delas devem ser estranhas como eu. Vamos pular essa parte por enquanto.

 


 

【Tutorial completo.】

 


 

Interpretei essa mensagem em particular da seguinte maneira: “Eu te ensinei tudo o que preciso ensinar, então use esse conhecimento para sobreviver”. Eu não sabia quem era que tinha escrito isso, mas devia ser um bastardo cruel. Se realmente quisessem que eu sobrevivesse, deveriam ter incluído uma explicação da situação do ‘espírito maligno’.

Quase fui morto na chegada por isso. Idiota.

— Ha…

Talvez fosse porque eu estava dentro do corpo de um bárbaro, mas estava tendo dificuldade em controlar minhas emoções como de costume. Por esse motivo, abandonei esse pensamento. Ficar agitado poderia levar a problemas, e não era meu estilo ficar estressado tentando entender os motivos.

O que aconteceu já tinha acontecido e não havia como voltar atrás. Era mais produtivo focar minha energia em pensar em como passar por essa situação.

Então… Okay, vamos pensar nisso por agora.

“Como eu sobrevivo a isso?”

 


 

A cerimônia de passagem para a vida adulta havia terminado e eu estava atualmente caminhando pela floresta. O Chefe estava na frente e os jovens bárbaros estavam atrás dele. Todos pareciam estar se divertindo, quase como se estivessem indo para um piquenique. Mas eu não podia rir junto com eles… porque eu sabia qual era o destino final deles.

— Alto!

O lugar para onde chegamos após passar pela densa floresta era uma parede de castelo que facilmente tinha trinta metros de altura.

— Abram a porta!

O portão do castelo se abriu com o som de engrenagens rudimentares rangendo. A velocidade era tão lenta que dava sono. Mas os jovens bárbaros assistiam ao espetáculo como se tivessem esquecido de respirar. Foi nesse estranho silêncio que uma cidade cinzenta finalmente apareceu além dos portões.

— Rafdonia…

Naquele momento, pelo menos, o brilho nos meus olhos provavelmente não parecia muito diferente do dos outros. Estradas organizadas e prédios de pedra, juntamente com uma torre imponente que podia ser vista perfurando o céu. Eu nunca sonhei que veria na vida real essa imagem que só tinha visto na ilustração da tela de carregamento.

Maldição.

— Guerreiros!

Quando a porta se abriu, o chefe da tribo se virou e gritou para nós. Eu tinha esperança de que ele fornecesse algumas palavras de sabedoria antes de nos enviar, mas…

— Vão embora! Seu destino está lá fora!

Não havia necessidade de discursos chatos quando se tratava de bárbaros.

— Ahh!

Os bárbaros que acabavam de se tornar adultos correram para dentro da cidade gritando. Eu não queria, mas gritei e os segui. Provavelmente havia pessoas dormindo profundamente dentro daquelas construções fracamente iluminadas, mas de que isso importava?

Eu era um bárbaro.

Boom!

O som do portão se fechando podia ser ouvido atrás de nós. Claro, nenhum dos bárbaros se importava. O grupo excessivamente animado correu por um longo tempo antes de finalmente se acalmar e desacelerar. Só então consegui retomar meus pensamentos.

Atualmente, eu estava sentindo emoções conflitantes.

Eu senti medo da situação em que me encontrava, mas também uma espécie de antecipação ao me tornar parte do mundo do meu jogo favorito. Era um pouco ridículo. Foi só a alguns momentos que eu decidi focar apenas em sobreviver, mas essas emoções ainda floresciam. Definitivamente, eu não podia ser normal. Embora eu não fosse nada comparado a esses bastardos selvagens.

— Alto! — O bárbaro agindo como líder, liderando a corrida na frente do grupo parou, virou-se e gritou orgulhosamente, — Acho que me perdi!

Os bárbaros murmuraram entre si com a confissão chocante.

— O terceiro filho de Fanun, Karak, nos levou ao caminho errado!

— Ele não está qualificado para ser um líder!

— Você tem que assumir a responsabilidade!

“Besteira. Vocês todos o seguiram de livre vontade”. Será que isso era como a sociedade bárbara parecia? Sem coração.

— Eu entendo. Parem. Vou admitir que não sou digno e vou renunciar como líder.

Karak, o segundo ou terceiro filho de Fanun, curvou-se profundamente e retornou ao grupo. Uma bárbara foi nomeada como a próxima líder.

— Ainar, a segunda filha de Fenelin!

— A sábia Ainar nos guiará pelo caminho certo!

A bárbara assumiu a liderança e sorriu com as palavras encorajadoras. No entanto, não demorou muito para que ela seguisse os passos do líder anterior.

— …Acho que me perdi.

Suas palavras eram chocantemente idênticas.

— Inacreditável! Precisamos chegar ao labirinto dentro do tempo determinado!

— Ainar não está qualificada para ser líder!

— Isso mesmo!

Angustiados, os bárbaros começaram a discutir urgentemente quem deveriam nomear como terceiro líder.

— Acho que o segundo filho de Tetran seria uma boa escolha.

— Não. Eu não acho. Em vez disso…

Essas crianças não têm cérebro? Será que elas realmente não percebiam que não importava quem assumisse a liderança, eles não chegariam ao destino dessa forma?

Nesse ritmo, poderia até acabar sendo minha vez.

Silenciosamente, me afastei do grupo e me aproximei da segunda líder. Com cerca de um metro e oitenta de altura, ela ficava um pouco afastada do grupo com uma expressão desanimada no rosto.

— Bjorn, filho de Yandel? Você veio me culpar também?

De jeito nenhum. Para mim, todos eles eram iguais. Enquanto eu balançava a cabeça, a bárbara feminina inclinou a dela.

— Então por que? Eu não preciso de consolo.

— Não. Eu vim mostrar a você como encontrar o caminho.

— …Sério? Como?

Levantei minha mão e apontei em uma direção.

— Você só precisa segui-los.

— Só seguir eles?

Ela parecia não acreditar em mim. Exercendo minha paciência, expliquei logicamente, passo a passo. Esta era uma cidade no meio da noite. Todas as luzes nas ruas estavam apagadas. No entanto, apesar de ser tarde da noite, havia bastante gente nas ruas. As pessoas estavam todas vestidas com armaduras em vez de roupas normais. Para onde elas poderiam estar indo?

— Certamente… Isso faz sentido. Vou tentar.

A bárbara voltou para o grupo e gritou: — Encontrei um caminho! — e os bárbaros interromperam o processo de votação para o terceiro líder e aplaudiram.

— Sim, Ainar!

— Sábia guerreira!

De qualquer forma, o grupo começou a se mover novamente. Parecia que estávamos indo na direção certa, já que mais e mais pessoas armadas apareciam na área à medida que o tempo passava. Em algum momento, comecei a ver uma série de luzes ao longe, brilhando em todas as direções. Se chegamos até aqui, pelo menos não vamos mais nos perder.

— É o labirinto! Eu vejo o labirinto!

— A Dimensão da Batalha Divina!

Uma das minhas maiores preocupações agora era se entrar no labirinto era a decisão certa.

— Eu sinto! O labirinto está chamando minha alma!

Os bárbaros, que estavam no auge da empolgação, não notariam se eu escapasse do grupo. Dessa forma, eu não teria que entrar no labirinto ou lutar contra monstros até a morte. No entanto, mesmo sabendo disso melhor do que ninguém, eu sabia que fazer isso não resolveria meu dilema.

“Porque sei que fugir não é a solução.”

Dungeon and Stone tinha um sistema de impostos. A partir dos vinte anos, todos os habitantes da cidade eram obrigados a pagar impostos, e a falta de pagamento era punida com a morte. Ouvir isso provavelmente faria você pensar que era um jogo estúpido, mas quando você aprendia sobre o universo do jogo, percebia que o sistema era bastante justificado.

“Não acho que seja algo para se preocupar agora, mas…”

— Ainar! Vamos acelerar!

— Ohh!!

De qualquer forma, eu precisava ganhar dinheiro. Claro, meu método para fazer isso não necessariamente precisava ser entrando no labirinto e lutando contra monstros. Se eu encontrasse trabalho em uma taverna, não teria problemas em encontrar um lugar para comer e dormir… a menos, é claro, que eu fosse um bárbaro.

Os bárbaros eram os únicos personagens que recebiam uma arma desde o início do jogo. Isso era por um motivo muito simples…

【— Bárbaro? Desculpe. Já encontrei alguém.】

【— Vá embora! Não há nada para um bárbaro aqui! O que você vai quebrar desta vez?】

Bárbaros não podiam ter empregos comuns. Devido à forma como o jogo estava configurado, não havia maneira para os bárbaros ganharem a vida além de lutar contra monstros nos labirintos. Bem, eu não tinha certeza de como as coisas se desenrolariam na vida real, embora. Eu poderia possivelmente encontrar um emprego mais facilmente do que eu pensava. Mas se afastar do grupo apenas por essa intuição não estava me deixando à vontade.

— Dez minutos até o fechamento. Apressem-se, para dentro!

O labirinto no jogo só abria uma vez por mês. Em outras palavras, se eu não entrasse dessa vez, teria que sobreviver nesta cidade por um mês. Mas e se eu não conseguisse encontrar um emprego até então? E se ninguém estivesse disposto a contratar um bárbaro?

O futuro era sombrio. Mesmo se eu sobrevivesse uma semana com a comida fornecida pelo chefe da tribo, teria que sobreviver o restante do tempo com sobras de comida e lixo. Eu poderia até morrer de fome antes disso.

Uma coisa era certa. Mesmo se eu sobrevivesse, isso mudaria completamente meu corpo do estado atual.

— Eu serei o primeiro a entrar!

— Não! Eu primeiro!

Fome, frio e dormir em condições insalubres… Eu sabia melhor do que ninguém o quão devastadoras essas coisas eram para o corpo humano. Então, se eu tivesse que entrar de qualquer maneira, a coisa mais lógica a fazer era entrar agora enquanto eu estava em ótimas condições.

“O problema é que isso poderia apenas encurtar ainda mais minha vida.”

Estava perdido em pensamentos quando alguém segurou meu ombro.

— Bjorn, filho de Yandell.

Quando olhei, era aquela bárbara. Seu nome era…

— Ainar, terceira filha de Fenelin.

— Segunda filha.

De qualquer forma, o que ela queria de mim?

— Todos os outros guerreiros já entraram no labirinto. Os únicos que ainda não entraram são você e eu.

— Ah.

Não é de se admirar que de repente ficasse silencioso. Olhando ao redor, não havia muitas pessoas na praça, muito menos outros bárbaros. Ainar, como segunda líder do grupo, parecia ter vindo verificar comigo porque eu estava parado ali.

— A gente deve se apressar. Já que chegamos tarde, não há muito tempo.

Com isso, levantei a cabeça e olhei diretamente para frente. O portal, que anteriormente emitia uma luz intensa mesmo de longe, tinha diminuído perceptivelmente de tamanho. Foi então que o guia nos informou sobre o tempo restante mais uma vez.

— Cinco minutos até o fechamento!

Cinco minutos… era mais apertado do que eu pensava. Eu teria que tomar uma decisão em breve.

— Entre primeiro. Eu seguirei atrás de você.

— Ok.

Ainar assentiu e se dirigiu para o portal, o que só complicou ainda mais meus problemas.

“Então, o que devo fazer agora?”

Como alguém que valorizava muito a eficiência, preferia fazer as coisas rapidamente, mas não era fácil tomar uma decisão neste caso específico. Ao contrário de um jogo, minha vida real dependia disso.

— Bjorn, filho de Yandell.

Estava prestes a dar um passo involuntário para trás, quando Ainar, que estava caminhando para frente, de repente se virou.

— Obrigado pelo que fez antes.

— …Não há nada pelo que me agradecer.

— E há uma coisa que eu quero te perguntar.

“Qualquer coisa que não seja o nome da minha mãe”, claro. Eu assenti, e Ainar perguntou com uma voz completamente sincera: — Como posso ser sábia como você? Nunca vi um bárbaro tão inteligente quanto você na minha vida. Quero ser como você.

Como ser inteligente? Essa era uma pergunta realmente difícil de responder. Para ser honesto, eu me perguntava se o método mais rápido para eles seria renascer… Não, espere, por que eu estava pensando nisso? “Apenas dê a ela uma resposta vaga e mande-a seguir em frente.”

— Você sempre tem que pensar antes de agir.

— Hmm, entendi!

Eu disse isso sem muita reflexão, mas Ainar absorveu minhas palavras com uma expressão séria no rosto. E então ela disse algo um pouco inesperado.

— Obrigado pelo seu conselho. Se eu retornar do labirinto, vou retribuir.

“O que você quer dizer com ‘se?’” me perguntei.

Isso parecia estranho demais saindo da boca de um bárbaro. Então, apesar da minha personalidade geralmente eficiente, fiz a ela uma pergunta desnecessária.

— …Você não tem medo de morrer?

— Não é óbvio? Claro que tenho medo de morrer. Os outros guerreiros provavelmente também têm, mesmo que não mostrem.

E não é mesmo? Para ser honesto, as palavras dela não faziam muito sentido para mim. Os bárbaros no jogo não podiam sentir medo, e eles não pareciam muito diferentes na realidade também. Quando fiquei em silêncio, Ainar acrescentou: — Nós nascemos guerreiros. Lutamos ou morremos.

Seu tom era desajeitado e rígido, mas de alguma forma eu conseguia entender completamente o que ela estava tentando dizer.

— Entendi.

Porque eles nasceram bárbaros, eles não tinham escolha. Assim como eu.

Se eles não matassem os monstros no labirinto, não conseguiriam sobreviver nesta cidade, era por isso que eles aprenderam a superar seus medos desde cedo. Sim, era isso. Era por isso que eles tomavam a forma de selvagens.

— Espero vê-lo vivo, Bjorn, filho de Yandel.

Logo depois, Ainar entrou no portal.

— Um minuto até o fechamento! — disse o guia.

Agora não havia nada me segurando. Apenas minha decisão. Assim como a linha que apareceu na tela quando eu estava prestes a entrar no covil do último chefão, eu tinha duas opções.

 


 

【Sim / Não】

 


 

Meus pensamentos confusos se clarearam.

“Sim, eu preferiria pensar nisso como se estivesse jogando um jogo.”

Sempre que eu jogava, sempre enfatizava a eficiência em prol de um objetivo. Antes de agir, sempre avaliava as chances primeiro e então sempre avançava com o próximo passo em mente. Se eu julgasse que minhas ações eventualmente resultariam em uma perda, mesmo que houvesse um benefício imediato, eu escolheria 【Não】. Caso contrário, escolheria 【Sim】. Então, nunca houve realmente uma dúvida sobre o que eu faria.

— O portão será fechado em breve! Recuem!

Corri em frente. Lá no fundo, o medo estava fervendo dentro de mim, assim como quando o Chefe da Tribo havia chamado meu nome. Não é necessário dizer que, depois de ter sido doente durante toda a minha vida, eu não tinha nem um pouco de experiência em luta. E enfrentar monstros? Meus joelhos já estavam tremendo.

— Espera, é perigoso!

No entanto, agora eu tinha uma chance. Neste momento, eu tinha o corpo de um bárbaro absurdamente forte e o conhecimento adquirido ao criar milhares de personagens. Acima de tudo, eu tinha o objetivo final de sobreviver a isso. Então, eu não tinha escolha.

Mesmo sabendo melhor do que ninguém que essa era uma decisão que poderia levar a terríveis consequências e uma que nenhuma pessoa sensata escolheria, eu tinha decidido…

 


 

【Você entrou no primeiro andar da caverna de cristal.】

 


 

… que isso era a coisa mais lógica a se fazer.

Capítulo 4: Tutorial (3/3)

 


『 Tradutor: MrRody 』


 

Contando que o assunto fosse Dungeon and Stone, eu era um especialista. Que tipos de monstros iriam aparecer e de onde, seus comportamentos e quais eram suas fraquezas – eu podia recitar todas essas informações sem problemas. Com base nisso, tomei minha decisão final. Com o corpo de um bárbaro combinado com meu conhecimento do jogo, eu poderia sobreviver neste labirinto muito bem. Ou pelo menos eu achava que poderia.

— Merda…

Assim que entrei no labirinto, minha visão escureceu. Não como um presságio para o futuro, mas literalmente – eu não conseguia ver nada. Provavelmente nem perceberia se alguém colocasse uma venda nos meus olhos agora. Realmente não faria muita diferença.

— Caralho.

Senti como se tivesse levado um tapa forte na parte de trás da cabeça. Os outros bárbaros estavam carregando apenas sua arma, então eu também não estava preocupado. Não deveria haver necessidade de uma tocha no primeiro andar, porque os cristais na parede agiam como fonte de luz. Claro, o primeiro andar também tinha uma zona escura. Mas exceto pela parte mais externa do labirinto que levava ao segundo andar, a zona escura era estritamente confinada a uma seção—

“Oh, eu caí nessa seção?”

Pensei rapidamente sobre isso. Ao entrar em um labirinto, o lugar onde você aparecia era aleatório. Quer dizer, deveria ser aleatório, mas geralmente você nunca era jogado em uma área como essa. Mesmo que você começasse nas extremidades, sempre havia um cristal brilhante por perto. No entanto, este não era o mundo de um jogo sendo experimentado através de uma tela. E se todas essas coisas fossem uma espécie de cortesia que os criadores do jogo ofereciam ao jogador?

E se, na realidade, uma posição de partida de merda como a zona escura fosse a norma? Se for o caso, isso poderia explicar minha situação atual. Sim, isso tinha que ser verdade. Se todo o primeiro andar fosse assim, eu não teria confiança de que sobreviveria a um único dia.

— Ha…

Consegui me acalmar depois de organizar meus pensamentos. Felizmente, meus olhos agora tinham se adaptado à escuridão, então minha visão estava muito melhor do que antes. No entanto, eu ainda só podia distinguir contornos. Pelo menos a situação não era tão terrível a ponto de eu precisar morder a língua e me eliminar. Decidi seguir em frente e fazer todos os testes necessários. Afinal, finalmente eu estava sozinho.

— Janela de status, janela de equipamento, informações do personagem, estatísticas, inventário. Verificação do diário, e que se dane minha vida.

É claro que nada funcionou. Bem, eu não esperava que funcionasse mesmo.

— Vamos lá.

Com o escudo em uma mão e agarrando a parede com a outra, avancei. Minha velocidade era ligeiramente mais rápida do que rastejar. Bem, talvez não? Talvez rastejar fosse mais rápido, mas eu não conseguia ir mais rápido do que isso. Era perigoso—

— Aaaaaah!

De repente, uma dor aguda irrompeu no meu tornozelo. Era uma dor diferente de tudo o que eu já senti antes na vida, e meus nervos enlouqueceram. Mas mesmo em uma situação como essa, tentei descobrir o que acabara de acontecer. O que deu errado? Mesmo sem um registro de batalha, a resposta veio rapidamente para mim.

 


 

【Você pisou em uma armadilha de goblin.】

 


 

“Merda, acabei de cair em uma armadilha.”

 


 

Onde eu errei? A resposta era simples.

O escudo me proporciona uma sensação de estabilidade, mas também obscureceu grande parte da minha linha de visão. Se eu tivesse colocado meu escudo no meu cinto e me concentrado em observar meus passos, talvez tivesse visto a armadilha em meu caminho. De que adianta um escudo se você não pode ver, afinal? Eu deveria ter focado na praticidade em vez de na tranquilidade.

Maldição.

— Ugh…

Minha mente ficou em branco. Eu queria gritar, mas desesperadamente o suprimi. Não podia ter certeza se gritar me faria sentir melhor, mas sabia com certeza que só pioraria a situação.

Tum-tum-tum.

Meu coração batia loucamente.

— Hoo, hoo, hoo….

Pressionei os lábios juntos e forcei-me a controlar minha respiração. Eu não podia pensar na dor que estava sentindo.

Havia apenas um tipo de monstro no primeiro andar que usava armadilhas. Goblins. E eles tinham que estar por perto.

Instintivamente, levantei meu escudo para cobrir minha cabeça. Em seguida, parei de respirar e concentrei toda a minha atenção no que podia ouvir. Não conseguia ouvir nada. Estava tão silencioso que era como se o tempo tivesse parado.

“Talvez eles não estejam aqui…?”

Eu não sabia. Esse poderia ser o caso. Talvez eu tivesse tido sorte e eles tivessem deixado seus postos exatamente neste momento. Até os goblins precisavam cagar.

“Tá bom. Quem você está tentando enganar.”

Pisei na esperança que começava a se infiltrar dentro de mim e a joguei fora da minha cabeça. Havia duas razões para isso.

Um, havia uma diferença entre ser positivo e ser irrealista.

Dois, o que eu precisava agora era de uma mentalidade pessimista.

“Se você não pode ter certeza, assuma o pior.”

O goblin ouviu meu grito. Estava se escondendo em algum lugar na escuridão, esperando silenciosamente eu perder todas as minhas forças. Foi por isso que não ouvi nenhum som. Era assim também no jogo. Se houvesse uma armadilha, sempre havia um goblin por perto.

— Hoo…

Eu lentamente retomei a respiração. Como meus arredores estavam silenciosos, desde que eu permanecesse alerta, seria capaz de detectar qualquer movimento.

Primeiro, eu tinha que cuidar dos assuntos mais urgentes.

— …Hmp!

Abaixando minha postura, abri a armadilha com ambas as mãos e puxei meu pé para fora. Em seguida, depois de arrancar a bainha da minha calça, tirei o sapato e apliquei pressão no ferimento. Decidi me livrar do sapato ensanguentado. Na verdade, nem podia ser chamado de sapato. Eram sandálias mais próximas de chinelos. Malditos bárbaros idiotas. Se ao menos tivessem nos enviado com botas de couro, eu não teria sido praticamente incapacitado por uma única armadilha…

“Caramba, no que estou pensando agora?”

Me peguei sendo ilógico e minha mente congelou. Melhor parar de ser ainda mais patético. Não importa o quanto eu amaldiçoe os bárbaros, a situação não mudará. No fim das contas, isso foi culpa minha por não prestar atenção ao meu redor.

“Então pare de reclamar e verifique seu ferimento… Droga, isso está muito feio.”

Eu não conseguia sentir mais nada no meu pé direito. Só conseguia sentir calor, mas até essa sensação estava começando a ficar mais fraca.

— Sei que você está se escondendo, então saia — murmurei baixinho.

Ainda assim, além da escuridão, não havia sinal de movimento. Então, eu avancei lentamente. Meus passos ecoavam suavemente pelas paredes do labirinto.

Passo. Passo.

Minha perna estava machucada, mas a dor não era tão severa quanto eu esperava. Provavelmente era por causa de um veneno paralisante na armadilha… Eu não sabia se isso era algo bom.

— Saia daí, seu idiota.

Não hesitei em provocar os goblins desta vez enquanto continuava avançando. O tempo não estava do meu lado. Se eu tivesse que lutar, quanto mais cedo começar, melhor. Havia meu ferimento para pensar, mas também a possibilidade de que esse bastardo estivesse esperando por seus camaradas não podia ser ignorada.

— Você não vem?

É claro, havia a possibilidade de que eu estivesse delirando e não houvesse goblins aqui. Isso me faria parecer um cabeça-dura que tinha pisado numa armadilha e agora estava agindo como um lunático. Mas qual era o problema com isso? Se eu fosse um lunático, preferiria ser um lunático que sobreviveu.

— Então fique aí. Estou indo embora.

Acelerei. Ainda estava apenas um pouco mais rápido que um rastejar, mas parecia que estava correndo uma maratona.

Pé esquerdo. Pé direito. Pé esquerdo…

Enquanto caminhava, meu pé direito começou a latejar. Ofeguei alto. Era uma das duas coisas. Ou o efeito do veneno paralisante tinha acabado, ou a dor tinha se tornado tão intensa que o veneno não era suficiente para amortecê-la. Pensando bem, nenhuma das duas coisas era ruim. Se os efeitos do veneno tinham acabado, isso era bom, e o fato de eu poder sentir dor significava que meus nervos ainda estavam intactos.

“Por que só consigo pensar positivamente quando se trata de coisas assim?”

Bem, eu não queria pensar sobre isso agora. Nem tinha capacidade para pensar nisso agora.

___ …A sua mãe é uma goblin.

Palavras saíram da minha boca sem filtro. Talvez eu tenha perdido muito sangue. Senti como se meu cérebro estivesse encharcado de álcool.

— Seu pai também é um goblin.

É claro, enquanto cuspia esses insultos, meus pés não paravam de se mover.

— Então você é um filho de goblins.

Naquele momento, a criatura fez um som pela primeira vez. Foi um ruído pequeno, mas foi muito alto aos meus ouvidos, que estavam prestando atenção nele.

Splat…

Finalmente, o desgraçado estava se mostrando.

— O que? Não aguenta que seus pais sejam xingados?

É claro, eu sabia que não era o caso. Nem mesmo tinha sido um insulto no começo… O som veio de trás de mim. Era muito mais provável que o goblin tivesse sido forçado a se mover à medida que eu me afastava cada vez mais dele. Acelerei ainda mais. O som dos passos do monstro também acelerou.

Splat… Splat… Splat…

O som de seus passos, que estava se tornando mais claro, era incomum. Cada vez que ele andava, parecia que algo pegajoso havia grudado em uma superfície lisa e depois caído. Mesmo sabendo que os goblins não eram mais altos do que um metro, parecia que um monstro enorme estava me perseguindo. Para me livrar do medo, continuei conversando com ele.

Eu era um bárbaro. Se eu me envolvesse em combate corpo a corpo, nunca perderia para um goblin.

— Não fique só me seguindo, vem para cima de mim. Seu desgraçado.

Por esse motivo, continuei provocando o goblin, mas ele apenas continuava seguindo atrás de mim à mesma distância. Nem parecia querer mais se esconder.

— Grk, Grk…!

O barulho que ele fazia soava quase como um uivo, mas eu conseguia perceber de alguma forma.

— Grgh! Grk!

O desgraçado estava rindo. Estava genuinamente encantado em ver sua presa sangrando e morrendo. Provavelmente esperava que eu ouvisse e ficasse aterrorizado.

“…Maldito esperto. Ok. Mudança de planos.”

Parei onde estava. Então, tropecei e caí no chão.

Thump!

A minha testa bateu numa pedra e parecia que ia se abrir ao meio, mas não fiz nenhum som. A partir de agora, essa seria uma batalha de paciência. Se ele achasse que eu desmaiei e se aproximasse primeiro, eu venceria. Se eu realmente desmaiasse antes disso, eu perderia.

— Grk?

Decidi confiar na resistência desse corpo que havia caminhado cerca de trezentos metros com o pé machucado.

Splat…

O som dos passos estava cada vez mais perto. Seu progresso era tão lento que dava sono. Apesar de sua presa ter desmaiado exatamente como ele queria, ainda estava desconfiado.

“Droga, por que esse goblin é tão cauteloso?”

Naquele momento, os xingamentos vieram facilmente. Goblins eram os lixos mais fracos no jogo. Eles usavam venenos e armavam armadilhas, mas além disso, seu poder de combate era baixo. Mas o goblin que eu acabara de encontrar?

Splat…

Realmente não era algo para subestimar. Agora eu percebia por que os NPCs da vila sempre falavam da astúcia dos goblins. Pelo que pude perceber, esses goblins eram várias vezes mais inteligentes do que aqueles palhaços bárbaros.

Splat…

Ele parou em algum lugar entre cinco a dez metros atrás de mim. Por quê? Assim que questionei isso, um choque surdo percorreu meu ombro.

Toc. Rola…

“O quê? Esse desgraçado jogou uma pedra em mim? … Ele não vai continuar jogando, vai?”

— Grk…! Grk!

Apesar dos meus medos, o monstro soltou um uivo de alegria. Como não reagi à pedrada, ele parecia verdadeiramente convencido de que eu estava morto.

Splat, splat, splat, splat…

O goblin se aproximou rapidamente de mim. Eu podia sentir o quão animado ele estava ao saltitar em minha direção. Acalmei meus nervos e usei o som para estimar sua distância. E quando percebi que estava perto o suficiente…

— Seu desgraçado!

Eu pulei e lancei um soco em sua direção. Achei que socar seria mais rápido do que pegar o escudo e derrubar o monstro com ele. No entanto, logo tive um pressentimento de que meu plano tinha dado errado. Novamente, havia duas razões para isso.

Primeiro, a distância entre nós era cerca de um passo longe demais.

E segundo, o bastardo era muito mais ágil do que eu esperava.

— Grk!

O goblin curvou as costas e deu um passo para trás. Eu não podia vê-lo, mas senti como se fosse isso que ele tinha feito. Instintivamente, percebi que havia errado.

“Droga, e agora?”

Com as engrenagens girando em minha cabeça, eu preparei meu próximo plano de ação. Mas naquele momento, meu corpo se moveu por conta própria.

Foi verdadeiramente uma sensação estranha. Meus arredores ainda estavam escuros, mas intuitivamente sabia onde o goblin tinha pulado. Uma vez que percebi isso, minha mão já estava voando em direção ao goblin.

— Grk?!

Senti algo com as pontas dos dedos. Não importava se era um pulso, tornozelo ou pescoço.

— Ahh!

Gritei e joguei o goblin no chão. Crack! Ouvi o som de algo se quebrando. Mas não pude relaxar ainda, então imediatamente subi em cima do corpo do goblin.

— G-Grk!

O jogo mudou.

— Estou acima de você, e você está abaixo de mim. Seu desgraçado!

Dei um soco na cara do goblin como um louco. Houve momentos em que eu socava o chão durante o frenesi, mas o corpo deste bárbaro era muito mais resistente do que eu havia assumido. Em vez de machucar meu punho, o chão de pedra se quebrou sob ele.

Logo, os movimentos do goblin cessaram. E…

Fssss…!

Poeira se espalhou. Era uma poeira incomumente brilhante. Parei meus punhos. Em algum momento, o corpo abaixo de mim se desintegrou em pequenos pedaços.

Quer dizer, sério?

— Ha! Droga, até isso é igual?

Por favor, um ou outro. Isso é um jogo, ou é apenas um mundo semelhante ao jogo? Como eu deveria saber qual é?

 


 

【Você derrotou o goblin. EXP +1】

 


 

Logo depois, o corpo do goblin desapareceu sem deixar rastro. Sentindo-me desanimado por uma razão desconhecida, peguei uma pequena pedra que havia sido deixada no local que ele ocupava.

 


 

【Você adquiriu uma Pedra de Mana de nível nove.】

 


 

Não era forte, mas brilhava fracamente. Este era um tipo de pedra mágica que atuava como moeda em Dungeon and Stone. Quanto valia isso? Uma memória logo veio à mente.

— Uma fatia de pão.

Esse tinha sido o valor médio das pedras de mana cuspidas pelos goblins no jogo. Eu zombei.

— Hahaha… É só isso que eu consigo depois de tudo isso?

Minha mente embaralhada ficou um pouco mais clara. Parecia aquele momento de riso que sempre vinha depois de um bom choro.

— Heh heh…

Eu estava dentro de um labirinto, e havia monstros. Monstros mortos desapareciam, deixando um ‘drop’ item. E na cidade lá fora, existiam raças de outro mundo que viviam lado a lado. Isso era genuinamente como esse mundo operava. Mas…

Não havia como eu tratar essa nova realidade como se fosse apenas um jogo. Eu não ia deixar mais isso me atrapalhar.

Capítulo 5: Dar e Receber (1/3)

 


『 Tradutor: MrRody 』


 

Olhando para trás, eu sempre fui uma pessoa estranha. Mesmo sempre achando que a vida era entediante, nunca considerei me matar. O tédio era, afinal, apenas uma emoção. E para mim, a vida era mais preciosa do que qualquer outra coisa. De muitas maneiras, a morte não valia a pena para mim. Essa ideia ainda permanecia comigo.

Por isso…

 


 

Eu estava rastejando na escuridão com três membros. Você pode estar se perguntando o que isso significava, mas era exatamente o que soava. Eu estava rastejando pelo chão com os braços e a perna esquerda, arrastando meu pé direito completamente dilacerado atrás de mim. Se alguém me visse naquele momento, tenho certeza de que seria lembrado de um cachorro vira-lata com a perna quebrada. Como eu sabia disso? Porque era isso que eu estava pensando naquele momento.

A recompensa por abrir mão da dignidade humana era doce. Primeiro, eu não sentia mais dor porque não precisava mais usar meu pé machucado, e também estava me movendo mais rápido do que antes. Mais importante ainda, eu não precisava mais me preocupar em pisar em uma armadilha. O reverso era que meus cotovelos e joelhos estavam doloridos, mas isso… era suportável. Eu poderia aguentar. O que você não faria para sobreviver? Eu até comeria cocô de cachorro com um sorriso. Ou, bem… Se eu tivesse tempo suficiente para me preparar para isso, era uma possibilidade definitiva.

“Mas o que aconteceu com aquele cara? O outro jogador na cerimônia?”

‘Cara’ era apenas como eu os chamava. Eu não sabia seu gênero, idade ou até mesmo nome. Eu estava apenas adivinhando com base na forma como falavam. Eu tinha a sensação de que ele deveria ser um homem branco com seus 30 anos, usando óculos. Ou não.

 


 

【Você ainda está sangrando.】

 


 

De qualquer forma, o que aconteceu com aquela pessoa que acordou no corpo do filho de Kadua, Oreum? Ele morreu? Ou ele acordou de volta em seu corpo original?

Essa foi uma pergunta que eu tive desde que abri os olhos neste lugar. Mesmo que eu tentasse intencionalmente não pensar nisso, quanto pior as coisas ficavam, mais eu pensava naquele cara.

 


 

【Você ainda está sangrando.】

 


 

Agora eu pude entender por que as pessoas recorriam à religião. A vida era muito difícil de lidar sozinho. Quando o desastre te atingir, você precisa de um lugar para se apoiar. Especialmente em situações como a que eu estava agora.

 


 

【Você ainda está sangrando.】

【Você ainda está sangrando.】

【ATENÇÃO! Sua saúde caiu para menos de 5%. Você pode morrer se seu ferimento não for tratado em breve.】

 


 

Caramba, eu consegui ir muito longe enquanto estava ocupado pensando. Era uma diferença sutil, mas eu pude perceber que meus arredores estavam ficando mais brilhantes. Isso era positivo de muitas maneiras.

Pelo menos eu tinha seguido na direção certa, e minha hipótese de que todo o primeiro andar não poderia estar completamente escuro estava correta. Eu tinha que chegar a algum lugar iluminado, porque haveriam pessoas lá. Eu poderia dar a elas esta pedra de mana em troca de ajuda. Então de alguma forma…

“Não se iluda.”

Eu estava sussurrando palavras positivas para mim mesmo quando meu outro lado emergiu.

“Ei idiota, eles já vão estar ocupados. Você acha que vão te ajudar por um pedaço de pão? Provavelmente vão roubar sua pedra de mana e escudo, e depois te matar.”

Talvez fosse porque a voz era minha, mas o desgraçado era inteligente.

“E o que você vai fazer se encontrar um goblin antes de um humano? Você é retardado? Hein?”

Recusei-me a tolerar mais insultos.

“Bem, então o que diabos eu devo fazer? Ainda tenho que continuar. Pelo menos poderei ver melhor naquela direção. Não seria melhor do que lutar contra um goblin aqui?”

“…Isso é verdade.”

Meu outro eu concordou, e minha mente ficou quieta novamente. Continuei rastejando.

— Heh heh…

Eu estava enlouquecendo. Não, talvez já estivesse louco. Afinal, eu tinha perdido muito sangue, não tinha? Apenas um segundo atrás, minha personalidade se dividiu em duas, depois se fundiu novamente e depois desligou completamente antes de voltar ao normal. Era um tipo de ciclo virtuoso. Se minha mente desligasse mais uma vez, não tinha certeza se conseguiria abrir os olhos novamente depois.

— Heh heh heh…

Eu ri alto. Eu não tinha energia para isso, mas ainda assim ri. Em algum momento, meus arredores se tornaram mais claros. Ao longe, no final do corredor, pude ver um cristal brilhando intensamente. Mais importante ainda, pude ver a forma de um homem iluminado à frente do cristal. Não era um goblin. Aquilo era definitivamente uma pessoa.

— Soc…socorro…

Eu queria gritar, mas não conseguia produzir um som. Rastejei desesperadamente para frente, meus olhos fechando e abrindo. Então… oh? A forma humana parecia mais próxima agora, quase como se tivesse teleportado. Surpreso com isso, fechei os olhos e os abri novamente.

 


 

【Você ainda está sangrando.】

 


 

Desta vez estava ainda mais perto. Cerca de cinco ou seis pessoas estavam agora em pé na minha frente. Isso era

real? Fechei os olhos novamente e os abri.

 


 

【Conquista Desbloqueada.】

【Condição: HP caiu abaixo de 2% a qualquer momento.】

【Recompensa: seu atributo Espírito é permanentemente aumentado em +1.】

 


 

Então, vi um homem loiro se ajoelhar. Ele estava bem na minha frente, mas apenas me estudava e aos meus arredores sem me fazer perguntas. Em vez de ouvir as opiniões dos outros, ele estava fazendo seus julgamentos com base em suas próprias experiências e intuição. E como um veterano, ele rapidamente chegou a uma conclusão.

— Você é um novato.

“Maldição, me ajude, seu idiota. Como você pode ver, sou um bárbaro amador com apenas um escudo, e tudo o que tenho para oferecer em troca de uma perna é uma pedra de mana de goblin. Darei tudo isso se você quiser. Então…”

— Isto é estranho. Como um novato chegou aqui mais rápido do que nós?

Abri rapidamente a boca. Mas o que saiu foi um som semelhante a um gorgolejo.

— Grr…

Para ser honesto, soou mais como aquele goblin do que como fala humana, mas… foi o suficiente para deixá-lo saber que eu não estava em condições de responder. Depois de um momento, o loiro perguntou ao seu colega, — Sacerdotisa Ersina, você poderia curar este homem?

“Sacerdotisa? Você está dizendo que há um curandeiro na equipe deles?”

Olhei para a pessoa ao lado dele com os olhos arregalados, como se estivesse testemunhando um milagre. Havia de fato uma sacerdotisa em vestes brancas ali. A sacerdotisa, que agora fez contato visual comigo, usou seus lábios bonitos para responder sem rodeios:

— Eu recuso.

“Hein? O que você disse?”

— Entendi. Tudo bem.

“Por que você está apenas aceitando isso?”

Eu queria chorar.

Droga, eu não sabia por que tinha sido trazido para este mundo se fosse apenas para ser tratado assim.

Então, bem quando minha raiva começou a se inflamar em meu peito…

— Patzran, você poderia me passar uma poção?

— Eu estava mantendo-a à mão para quando não puder usar magia divina.

— Você tem muitas de qualquer maneira. Eu pagarei por ela quando sairmos.

— Tsc.

Nesse exato momento, um homem com uma espada na cintura estalou a língua e jogou uma poção de sua bolsa para frente. Meu coração afundou quando percebi que minha vida dependia disso.

Felizmente, o loiro habilmente pegou a poção.

— Não é magia divina, então isso vai doer um pouco.

O loiro abriu a tampa e despejou metade dela na área ferida antes de despejar a outra metade diretamente em minha boca. Em pouco tempo, senti uma dor insuportável. Era como se toda a dor que eu tinha acumulado agora estivesse surgindo de uma vez.

 


 

【Sua saúde está se regenerando rapidamente devido ao efeito de Recuperação (Média).】

 


 

Sentia como se meu corpo todo estivesse derretendo. Deve ser por isso que poções não podiam ser usadas durante a batalha no jogo. Eu pensava que era apenas bloqueado pelo sistema por algum motivo aleatório, mas acabou que o jogo estava apenas refletindo a realidade de forma extremamente precisa. Eu ofeguei.

“Droga. Quantos minutos se passaram?”

A dor gradualmente diminuiu e voltei a me sentir lúcido.

— Agora, me diga, bárbaro. Como um novato como você chegou aqui antes de nós? Se você conhece um novo caminho, quero comprar essa informação de você.

Então esse tinha sido o ângulo dele o tempo todo? Não que me importasse. Pelo contrário, me senti tranquilizado pelo pensamento de que ele me ajudou por uma razão. Não havia nada mais sinistro do que boas intenções sem um motivo claro. Ainda assim, era lamentável. Eu não sabia de nenhum caminho secreto.

— …Eu fui transportado para cá assim que entrei no labirinto, — eu disse a ele honestamente.

O loiro inclinou a cabeça e depois assentiu, demonstrando compreensão.

— Definitivamente li sobre isso em um livro uma vez. Ocasionalmente, a instabilidade dimensional pode causar esse tipo de coisa. Mas é a primeira vez que vejo isso pessoalmente.

Meu coração estava batendo forte. Pedi esclarecimentos, pois tinha entendido errado.

— A primeira vez… que você vê isso?

Eu não conseguia acreditar. Quero dizer, essa equipe tinha uma sacerdotisa e um mago. Isso significava que eles eram aventureiros legítimos que estavam ativos e pelo menos de nível intermediário. Mas, a primeira vez?

— Sim, o livro descreveu isso como um fenômeno único em um século. Aparecer tão longe na seção mais externa do labirinto.

“Ah, entendi.” Era algo que acontecia uma vez a cada cem anos mais ou menos. E isso aconteceu comigo logo na minha primeira vez em um labirinto. Agora eu entendia por que os outros bárbaros não se preocupavam em carregar tochas. Ninguém se preocupava em ser atingido por um raio só porque estava chovendo.

— Parece que é sua primeira vez aqui. Deve ter sido um inferno passar por algo tão raro. — O loiro me lançou um olhar piedoso. — Essa não era a informação que eu queria, mas foi uma informação interessante, de qualquer forma. Não se preocupe com o custo da poção e siga seu caminho.

Embora seu tom fosse um pouco arrogante, ele parecia ser uma boa pessoa.

— Oh, e não se esqueça de pegar seu escudo lá atrás.

Olhei para onde o loiro estava apontando e vi um escudo no chão. A distância era de cerca de vinte metros. Pensei que o tivesse amarrado com segurança à minha cintura, mas parecia ter caído.

— Então nós vamos indo.

Eles passaram por mim antes mesmo que eu pudesse agradecer. No labirinto, tempo era dinheiro, então eu entendia. O fato de eles terem perdido tanto tempo comigo em primeiro lugar já era um milagre. Fiquei olhando para o lugar onde eles estavam por um momento, depois corri rapidamente e peguei o escudo que havia caído no chão. Definitivamente era bom ter sobrevivido.

Mas algo parecia estranho.

 


 

 


 

【Bjorn Yandel】

【Nível: 1

Físico: 25

Espírito: 36 (Novo +1)

Habilidade Especial: 1

Nível do Equipamento: 24

Poder de Combate Geral: 68 (Novo +1)】

 


 

 


 

— Aquele bárbaro, ele é muito sortudo.

— Bem, eu não chamaria isso de sorte. Passar por algo assim em sua primeira aventura… — o loiro respondeu com um sorriso tranquilo.

O espadachim resmungou. — Um idiota que pisa em uma armadilha de goblin teria encontrado algum outro destino horrível em outro lugar. Ele teve sorte de nos encontrar.

— Sorte de encontrar Drous, para ser exato. Não nós. Você nem queria usar sua poção, não é?

Quando a arqueira, que estava ouvindo quietamente, interrompeu, o espadachim deu de ombros.

— Porque há toneladas de caras assim aqui fora. Eles não viverão muito tempo de qualquer maneira. Certamente nossa sacerdotisa deve ter tido o mesmo pensamento, não é?

A sacerdotisa sorriu amargamente, mas não respondeu e, em vez disso, a arqueira respondeu.

— A sacerdotisa Ersina teria tratado dele se não fossem as leis do templo. Não, se não fosse pela poção, ela mesma teria quebrado as leis. Você acha que todos são como você?

— Bem, quem sabe? Já vi muitas pessoas de duas caras na minha vida.

— …Patzran, você precisa ter melhores maneiras como Drous.

— Como ele foi considerado o suficiente para perguntar ao bárbaro se ele sabia de um caminho secreto?

— Sim. Ouvi dizer que os bárbaros não aceitam ajuda dos outros. Provavelmente por isso ele estava sendo tão considerado.

— Hey, acho que você está me elogiando demais.

Ao se tornar o tópico da conversa, o loiro sorriu de forma constrangida e coçou a cabeça. Mas ele também não negou ser empático.

— Ah, se você quiser pegar o atalho, precisa virar aqui.

—  É muito bom ter um guia, — disse a sacerdotisa.

— Sacerdotisa Ersina! Os guias normalmente só conhecem a direção de um portal. Drous não é como os outros. Ele memorizou todas as referências no primeiro andar, — disse a arqueira.

O espadachim olhou para a arqueira e balançou a cabeça.

— Até onde vai essa mancha de sangue? Já não andamos bastante? — ele perguntou.

— Não tenho certeza. Mas, considerando a resiliência que esse homem deve ter tido para rastejar por uma distância tão longa, acho que você está errado em dizer que ele foi apenas sortudo.

— Humpf, como se isso fosse grande coisa… Tenho certeza de que termina em algum lugar por aqui.

O grupo seguiu as manchas de sangue e depois virou para um atalho no meio do caminho. E então, após cerca de quinze minutos, eles chegaram ao destino.

— Parece que somos os primeiros a usar esta rota. Que bom que chegamos aqui rápido. Vamos trabalhar.

Quando o loiro colocou a mão na lápide que podia ser encontrada em um beco sem saída, um feixe intenso de luz explodiu e assumiu a forma de uma esfera. Era um portal levando ao segundo andar.

— Espera.

Justo quando todos estavam prestes a se lançar no portal, a arqueira interrompeu o grupo.

— Não é isso que o bárbaro estava usando no pé antes?

— O quê?

O grupo olhou na direção para onde a arqueira estava apontando e ficou em silêncio por um momento. Na escuridão, tornada visível pela luz emitida pelo portal, uma armadilha manchada de sangue e uma sandália desconhecida tinham sido jogadas de lado.

— …Parece que sim.

O mago, curioso, criou uma nova esfera de luz e a moveu pelo corredor.

Whooom…!

As manchas de sangue que começaram na armadilha continuaram ao longo do corredor curvo. Não importava o quanto movessem a esfera de luz, não conseguiam ver o fim do corredor. Houve um momento de silêncio.

— …Ei, Drous, quanto tempo leva para chegar daqui até onde estávamos antes? — perguntou o mago.

— …Supondo que não usemos atalhos, cerca de quinze quilômetros.

— Hahaha, que fera! Rastejar essa distância sozinho nesta escuridão.

O mago riu surpreso. O espadachim ao lado dele, no entanto, não pôde concordar.

— Ele está fora de si…

Ele sentiu que isso era uma questão de força de vontade, não do corpo. Ele tentou pensar.

“Quantas horas eu teria conseguido rastejar se estivesse nessa situação? Quando nem mesmo podia ter certeza se encontraria outro ser humano?”

Ele não tinha como saber. Mas estava certo de que o bárbaro ainda estava rastejando mesmo quando o encontraram pela primeira vez. Mesmo quando estava praticamente inconsciente, ele continuava a mover os braços e as pernas. O que aconteceu depois disso? Incapaz de falar corretamente, ele segurou uma pequena pedra de mana em sua mão. Na hora, ele não havia pensado muito nisso, mas estava começando a entender o que aquele gesto significava agora.

“Provavelmente estava pedindo ajuda em troca da pedra.”

Além disso, o bárbaro não tinha nada a oferecer em troca. Então, durante todo o tempo em que estava rastejando essa longa distância, ele segurava firmemente aquela pedra de mana na mão apenas no caso de encontrar alguém. Dessa forma, ele poderia mostrá-la imediatamente a eles.

Ele logo tomou uma decisão.

— …Esqueçam o que eu disse antes.

Apenas sorte?

Impossível. Ele sabia disso por experiência própria.

— Drous, qual era o nome daquele bárbaro?

Um lunático como aquele não era do tipo que morria facilmente. Não importava o quão difícil e sem esperança fosse a situação. A morte nunca era a saída de pessoas assim.

Capítulo 6: Dar e Receber (2/3)

 


『 Tradutor: MrRody 』


 

Dungeon and Stone era um jogo incomum.

Embora os NPCs companheiros fossem essenciais para o progresso do jogo, você nunca podia confiar neles.

Principalmente se fosse um bastardo que você acabara de conhecer.

 


 

Eu estava caminhando pela caverna.

Balança, balança.

Faltando um sapato, meu passo estava desequilibrado.

Mesmo assim, eu estava feliz. O desconforto que sentia agora era algo que não conseguia sentir quando estava rastejando com três pernas.

Eu havia recuperado minha dignidade humana.

Mesmo que eu não soubesse quanto tempo isso duraria.

— Ufa…

Continuei, fixando meu escudo adequadamente. Eu não precisava mais manter meus olhos grudados no chão como antes porque finalmente havia luz. A luz emitida pelos cristais embutidos nas paredes e no teto iluminava ao redor.

As memórias de rastejar e sangrar por esses corredores pareciam agora um sonho distante. Eu podia afirmar que ser capaz de ver era uma bênção de Deus. Isso me permitiria massacrar aqueles bastardos goblins, não havia dúvida sobre isso.

— Ahh!

— Grk?!

Surpreso pelo meu grito, um goblin saltou de trás de uma rocha. Já havia previsto aproximadamente seu esconderijo, ativei uma habilidade no momento certo.

— Esmagar, seu cuzão!

【Esmagar】 era uma habilidade com um bom poder de ataque que não consumia MP. Para referência, eu acabei de inventá-la.

Paf!

O goblin saltou e foi atingido pelo meu escudo, caindo no chão. Aproximei-me ágilmente e pisei no tronco do goblin com o pé.

— G-Grk!

Não adianta fazer olhinhos pidões para mim. Eu sabia o quão astutos e malignos esses desgraçados eram.

— G-Grk!

“O quê, você é diferente?”

Então vá reclamar com seu amigo que morreu mais cedo, porque aquele bastardo foi quem me deixou assim.

Croc!

Eu bati com força no rosto do goblin com a borda do escudo. Era diferente de 【Esmagar】, que apenas golpeava ou empurrava o inimigo à minha frente. O nome disso era… 【Ataque Final do Escudo】.

Da mesma forma, eu também só inventei isso.

Shhhhhh!

Logo, o goblin, que morreu rapidamente, desapareceu na forma de luz. Era prova de que o mal tinha diminuído um pouquinho e que o mundo tinha se tornado um pouco mais bonito. Peguei as pedras de mana deixadas para trás como recompensa e as enfiei no bolso. Aquela era minha décima pedra de mana desde que entrei no labirinto.

— Ufa, fracotes.

Continuei encontrando goblins desde minha primeira experiência de quase morte. No começo, estava nervoso, mas logo percebi que os goblins não eram uma ameaça na luz.

Eles não eram tão inteligentes quanto eu pensava. Isso ficou evidente pela armadilha descuidadamente colocada à frente.

“Pelo menos cubra-a com um pouco de terra. Você é burro ou o quê? Se deixar assim à mostra, quem diabos vai pisar nisso?”

As armadilhas dos goblins eram tão mal feitas que podiam ser detectadas mesmo à distância. E se você tentasse passar pela armadilha sem pisar nela, os goblins saltariam para fora e atacariam primeiro. Aparentemente, eles só te seguiam como um louco se você realmente pisasse em uma armadilha…

Gradualmente, após descobrir os padrões de luta dos goblins, enfrentá-los se tornou mais fácil. Em primeiro lugar, a arma principal deles era uma adaga curta, e sua força física era a de um estudante do ensino fundamental. Por outro lado, eu agora era um bárbaro musculoso com um corpo de dois metros de altura. Em uma batalha direta, eu poderia subjugar um goblin em três segundos.

Isso significava que eu só tinha que estar atento a ataques surpresa, mas era possível descobrir a localização de uma emboscada antecipadamente usando as armadilhas.

“Hmm, por que não me tornar um goblin slayer enquanto estou nisso?”

Imediatamente, movi minha mão para me dar um tapa no rosto.

Paf!

Agora eu estava completamente acordado por causa da dor.

“O que eu estava pensando…? Estou claramente ficando louco.”

Se eu não estivesse, não haveria como entreter um pensamento tão patético. Eu não podia ficar convencido só porque tinha matado alguns goblins. Eu tinha recebido uma segunda chance na vida menos de duas horas atrás. Além disso, ainda não tinha resolvido nenhum dos meus problemas mais recentes.

— Ah, estou com fome…

Primeiro, havia o problema da comida.

O escudo não foi a única coisa que eu larguei enquanto rastejava na escuridão. Cerca de cinco dias de comida foram perdidos devido a um buraco no saco de alimentos fornecido pelo chefe da tribo. Claro, eu também não podia vagar pela escuridão apenas para encontrá-lo. Eu não ia bancar João e Maria.

Enquanto pensava nisso, abri minha bolsa, peguei um pedaço de pão e o comi.

Morde, morde.

O pão estava duro e sem umidade, provavelmente para fins de conservação, mas ao amolecê-lo com minha saliva, pude sentir a doçura dos carboidratos na minha língua.

“Por que isso está tão delicioso?”

Meus gostos devem ter mudado com esse corpo de bárbaro. Após algumas mordidas, o pão que tinha o tamanho da minha palma desapareceu. Suspirei, sentindo o estranho gosto de arrependimento e amargura na minha língua.

Eu estava com sede.

Este era o segundo problema.

“Maldição, onde eu encontro água?”

 


 

 


 

【Você matou um goblin.】

【Você matou um goblin.】

【Você matou um goblin.】

【Você matou um goblin.】

【ATENÇÃO! Seus níveis de hidratação estão baixos. Obtenha água potável rapidamente…】

 


 

Dungeon and Stone tinha um mecanismo de sede. Claro, ele só era ativado dentro de um labirinto, e não havia necessidade de carregar água potável porque o medidor podia ser reabastecido apenas com uma refeição.

Mas isso não era um jogo. Para ser mais exato, este lugar era mais como um universo diferente que era apenas muito semelhante ao jogo que eu conhecia.

“Já era um jogo hardcore, mas agora que estou vivendo isso, a dificuldade é insana.”

Apesar disso, eu não estava muito preocupado. Era verdade que água era um recurso mais importante do que comida, mas o chefe da tribo não nos havia fornecido água. Isso obviamente significava que era possível ser auto-suficiente no labirinto.

E não demorou muito para encontrar, também.

— Esmaga!

Passei a próxima hora matando goblins e vagando por um labirinto tão complicado quanto um formigueiro. Então, enquanto seguia o som da água pingando, encontrei um pequeno lago.

Já havia um explorador agachado no lago e bebendo dele. Excluindo o grupo do loiro, esta era na verdade a primeira vez que eu encontrava outra pessoa…

Mas nenhuma palavra foi trocada. A outra pessoa olhou para mim do outro lado da sala e saiu sem dizer uma palavra, e eu também não me dei ao trabalho de falar com ela.

Os outros aventureiros que encontrei depois disso foram todos iguais. Assim que as pessoas me viam, me evitavam. Parecia haver uma regra não escrita entre os aventureiros de que eles não interagiam uns com os outros, assim como no jogo.

Bem, talvez eles simplesmente não quisessem se envolver com um bárbaro ensanguentado.

De qualquer forma, depois de caçar mais goblins, eu comia pão quando estava com fome e bebia água quando estava com sede antes de reiniciar o ciclo de novo. O tempo passava assim.

— Um, dois, três, quatro, cinco, seis…

Contando o número de pedras de mana que eu havia ganhado até agora, descobri que tinha um total de quarenta e quatro. Convertido em pão, isso equivale a quarenta e quatro pães.

Se eu pensasse nos dias em que estive à beira da morte, isso era verdadeiramente um feito triunfante, mas nada era de graça neste mundo. Em troca, eu estava profundamente exausto.

Este era o terceiro problema que eu tinha.

“Estou ficando cansado…”

Como eu era uma criatura viva, eu tinha que dormir. Nem mesmo um bárbaro reforçado era especial nesse aspecto.

Então, como você dormia em um labirinto onde existiam monstros?

Havia duas maneiras. Eu poderia confiar minha vida ao universo e simplesmente tirar uma soneca, ou poderia encontrar um aliado para que pudéssemos cuidar um do outro.

Eu já tinha decidido qual opção seguir.

Confiar minha vida ao universo? Na minha experiência, o universo não podia ser confiável. No meu caso, pelo menos, realmente não podia.

“Vamos encontrar um aliado.”

É claro que eu não estava planejando criar um grupo formal. Todos deviam estar tão exaustos agora, então eu planejava encontrar uma pessoa adequada e formar uma aliança temporária.

Na verdade, mesmo quando estava jogando o jogo, usei essa estratégia na maioria das noites quando minha barra de exaustão estava cheia.

Passo, passo.

Após tomar essa decisão, concentrei-me em me mover em vez de lutar e comecei a vagar pelo labirinto. Enquanto caminhava, comecei a ver grupos de pessoas por toda parte, ao contrário de antes.

Passo, passo.

Um grupo de dois ou três aventureiros estava descansando, revezando-se na vigia. Depois de avaliar suas aparências e comportamentos, reuni coragem para me aproximar de alguns grupos, mas todos foram uma decepção.

— Desculpe, mas já temos todas as pessoas de que precisamos.

Embora tenham dito isso, notei que, quando me aproximava deles, franziam  o cenho e cobriam os narizes. O motivo era muito claro.

“Idiotas. Quão limpos vocês acham que são?”

Eu estava resmungando para mim mesmo interiormente quando alguém me chamou.

— Olá.

Ele era um homem humano que parecia estar na casa dos trinta. Tinha cerca de um metro e oitenta e cinco de altura. Embora tivesse uma aparência calorosa que parecia bastante gentil, em sua mão havia um martelo coberto de sangue de goblin.

O homem sorriu e me perguntou: — Você está procurando um acompanhante noturno?

“Que diabos.”

Ao dar instintivamente um passo para trás, o homem inclinou a cabeça.

— Não era isso que você estava procurando? Pensei que poderia descansar tranquilo porque você é um bárbaro, mas isso é lamentável.

“Por que você não disse isso desde o início, senhor…”

Aparentemente “acompanhante noturno” era gíria para uma relação cooperativa temporária. Essa era a frase usada no jogo também. Eu sempre traduzia como “companheiro de noite” ou “amigo de noite”, mas ouvir isso em voz alta na vida real parecia muito pervertido.

— …Na verdade, estou procurando um acompanhante noturno.

— É mesmo? Fico feliz. Então você vem comigo?

— Vou.

Então me tornei companheiro de noite desse homem.

— Me chamo Hans.

— Bjorn, filho de Yandel.

— Então posso te chamar de Bjorn?

O homem parecia ter muita experiência com isso. Ele se apresentou suavemente e conduziu a conversa.

— Um grupo de três acompanhantes noturnos é o ideal, mas parece um desperdício de energia neste momento. Bjorn, o que acha?

Simplesmente, ele estava dizendo que nós dois deveríamos dormir juntos.

Talvez esse homem realmente fosse pervertido? Eu não sabia se era por causa de seu tom de voz astuto, mas eu continuava sentindo que estava sendo levado para algo estranho.

— Tudo bem.

— Ótimo. Se alguém pedir para se juntar a nós, podemos discutir entre nós e decidir se aceitamos ou não a oferta.

Após uma breve discussão, decidimos vigiar um ao outro naquela noite.

No entanto, o problema era…

— Então, vamos decidir a ordem de vigília com pedra, papel, tesoura.

Pedra, papel, tesoura parecia ser a lei dessa terra também.

“Merda, eu não sou bom nesse jogo…”

Mais uma vez, tive uma sorte terrível.

— Hmm, parece que ganhei.

“Maldição.”

— Vou confiar em você. Quando um goblin ou outro aventureiro se aproximar, me acorde. Entendeu?

— …Certo.

— Aqui, pegue isso.

O homem me emprestou um relógio com os números de zero a vinte e três no mostrador e teve a gentileza de me ensinar como usá-lo.

— Quando o ponteiro menor chegar aqui, você pode me acordar.

Talvez fosse isso que a maioria das pessoas pensava sobre os bárbaros.

— Não quebre. É caro.

— …Certo.

Que frescura.

Logo, o homem tirou um cobertor, se cobriu com ele e deitou usando a mochila como travesseiro. E logo depois disso, ele adormeceu. Supus que isso era o que a experiência parecia. Ele parecia muito confortável.

“Se eu pedisse para me emprestar isso quando fosse a minha vez, ele provavelmente diria não, certo?”

— Ufa…

Aliás, essa coisa de vigília noturna era super entediante. Os malditos goblins não apareciam em lugar algum, e não havia outros aventureiros tentando passar por este corredor. Talvez todos já tivessem encontrado um acompanhante noturno e estivessem descansando?

Enquanto o silêncio continuava, eu continuava a ficar sonolento. Ainda assim, o tempo passou rapidamente. Encostei-me na parede e pensei no futuro.

Então, — Hans, levante-se.

— …Aconteceu alguma coisa?

— Não.

— Entendi. Bom trabalho. Então me passe o relógio e descanse um pouco. Vou te acordar daqui a duas horas.

Antes que eu pudesse perguntar sobre emprestá-lo, o homem guardou seu cobertor de volta na mochila e se levantou.

“Ah, bem.”

Rapidamente superei isso, sentei-me com as costas na parede e fingi cochilar.

Isso era óbvio. Não importa quão gentil ou inteligente esse homem parecesse, e mesmo que ele não tivesse a intenção de me prejudicar —

Como eu poderia confiar em um bastardo que acabara de conhecer?

Capítulo 7: Dar e Receber (3/3)

 


『 Tradutor: MrRody 』


 

Comecei a roncar. Imaginei como devia soar ser um bárbaro roncando que tinha caído no sono após um dia cansativo.

Honk! Honk!

“… Hum, será que estou exagerando um pouco?”

Estava um pouco preocupado que fosse o caso, mas ouvi uma risada.

— …Realmente um povo curioso.

Acho que funcionou.

Aparentemente, minha aparência era melhor do que minhas habilidades de atuação nesse caso. A percepção comum era de que os bárbaros eram simplórios e ignorantes. Foi por isso que agi como um bárbaro o tempo todo, mesmo em situações que não tinham nada a ver com espíritos malignos. Essencialmente, eu estava escondendo uma adaga atrás de um sorriso.

Usar a noção preconcebida de que os bárbaros eram ingênuos como uma arma para desmascarar as verdadeiras intenções das pessoas…

… soava um pouco juvenil.

Resumindo, era mais fácil atrair alguém dessa maneira. Assim.

Honk! Honk!

Coçando minha barriga para uma performance realista, me enrolei de lado. Mesmo assim, continuei a ouvir e focar toda a minha atenção nos movimentos do homem. Como estava expondo tantos dos meus pontos fracos, ele agiria em breve se tivesse um motivo oculto. Se não, eu poderia simplesmente dormir.

Para ser honesto, no entanto, não sabia se conseguiria dormir nessa situação.

— Bjorn, está na hora de trocarmos.

Ah, mm… Realmente não esperava que não conseguisse dormir nada no fim das contas.

— Não abaixe sua guarda só porque até agora não apareceram goblins. Eles são criaturas astutas.

O homem aparentemente não confiava em mim, pois contornava o assunto, essencialmente me dizendo para não relaxar. E em menos de cinco minutos, ele dormiu novamente.

A decepção se instalou.

“Deveria ter dormido também. O que diabos estive fazendo por duas horas? Droga.”

Será que foi porque uma pessoa que eu acabara de conhecer estava ao meu lado? Mesmo que tivesse decidido no meio do caminho que ele era confiável, ainda assim não consegui dormir.

Se soubesse que isso aconteceria, teria apenas afastado os goblins sozinho e teria conseguido dormir um pouco sozinho. Dessa forma, poderia ter dormido mesmo que apenas um pouco.

— Ufa…

Estava tão cansado que poderia morrer. E me sentia ainda mais sonolento porque o cara ao meu lado estava dormindo.

Como ainda era minha vez de vigiar, mantive minha mente em outros pensamentos na tentativa de combater o sono quando alguém me chamou de repente.

— Bjorn, levante.

— Eu não estava dormindo.

— Que tal limpar a saliva da sua boca antes de dizer isso?

Quando limpei minha boca com o dorso da mão, estava realmente molhada.

— Como você dormiu em pé, nem mesmo roncou.

Parecia que eu realmente havia adormecido, mesmo que fosse apenas por um curto período nos últimos dez minutos do meu turno…

Meu coração afundou. No entanto, havia algo que eu precisava fazer antes de me repreender por baixar minha guarda.

— Me desculpe, — eu disse sinceramente.

Dessa vez, não estava fingindo ser um bárbaro… estava sendo sério. Acompanhantes noturnos eram uma espécie de relação de quid pro quo. Mesmo que o homem tivesse proporcionado um ambiente seguro para mim durante a vigília dele, eu não tinha feito o mesmo. Eu tinha que pedir desculpas se não quisesse me tornar o tipo de pessoa que eu desprezava.

— Felizmente, não tivemos nenhum problema enquanto você estava dormindo, então vou esquecer isso.

— Obrigado. Você pode dormir mais se quiser. Eu posso ficar de vigia novamente.

— Não. Isso não vai funcionar. É sua vez, então vá dormir. E me passe o relógio.

Ele poderia ter me culpado, mas em vez disso, me perdoou com um sorriso amigável.

Então, sem mais delongas, fui até meu lugar e me encolhi. Novamente, o sono não veio. Todos os aventureiros, inclusive aquele cara, eram realmente incríveis. Confiar sua vida a alguém que você acabara de conhecer pela primeira vez todos os dias?

Isso exigia uma coragem incrível. Não importava o quanto eu pensasse sobre isso, algo assim estava além da minha capacidade. Por isso, comecei a roncar como antes.

Honk! Honk!

Não pude evitar.

“Desculpe, senhor, mas por algum motivo, você parece ainda mais suspeito agora.”

Honk! Honk!

O fato de ele ter o rosto amável de um vigarista.

O fato de ter sido ele quem sugeriu não procurarmos por um terceiro companheiro.

O fato de ele não ter me chamado a atenção por estar cheirando mal.

Tudo isso estava bem.

Mas agora, ele não me culpou por ter adormecido. Ele até recusou a oferta de poder dormir novamente.

Claro, talvez eu fosse apenas um louco, e esse cara fosse de fato uma pessoa gentil. Mas na minha mente, caras legais como esse eram os mais suspeitos de todos.

“São sempre caras como esses que me apunhalam pelas costas.”

Se eu fosse o antigo eu, agora teria sido o momento em que baixaria minha guarda. Mas não cometeria o mesmo erro. Isso era uma questão de senso comum.

Honk! Honk!

Se ele realmente parecia tão suspeito, não teria sido melhor desistir disso e dizer adeus?

Mesmo enquanto pensava nisso, continuei a roncar.

“Quanto tempo passou?”

Clique.

Ouvi um som fraco, mas estranho. Uma fivela de mochila? Um cinto? Ou talvez o salto de um sapato?

Não consegui perceber o que causou o som.

No entanto, ao mesmo tempo em que percebi, meu corpo bárbaro chegou à sua própria conclusão.

“Perigo.”

Seria essa a sensação física de intenção assassina que eles falam nos livros de artes marciais?

Arrepios percorreram minha pele. Imediatamente, abri os olhos e olhei ao redor.

— Você está acordado.

O velho estava sorrindo tão amavelmente quanto sempre… enquanto segurava um martelo de duas mãos coberto de sangue e carne de goblin sobre a cabeça.

“Mas quê diab…”

Corra! O tempo de reação deste corpo treinado como guerreiro era mais rápido do que o meu. Meu corpo já estava rolando para o lado antes que meu cérebro pudesse dar o comando.

Booom!

Ouvindo o som de algo se esmagando bem na frente do meu nariz, usei o impulso para me levantar rapidamente e ficar de pé.

“Ugh!”

O homem, cujo ataque surpresa tinha falhado, tinha uma expressão perplexa no rosto. Em vez de perguntar por quê, eu avancei.

— E-Espera!

Ele estava tentando dar uma desculpa ou algo assim? Dizer que não quis fazer isso? Que estava apenas se aquecendo? Se fosse o caso, isso era meio… não, extremamente engraçado.

“Maldição, quão burros eles acham que os bárbaros são por aqui?”

Crack!

O escudo se chocou contra o queixo do homem. No entanto, um humano forte era diferente de um goblin. O homem vacilou, mas não caiu.

Então, eu o golpeei novamente.

Crack!

 


 

【Esmaga】

 


 

— Ahhh!

O martelo na mão do homem caiu no chão com um baque. Seu nariz já estava vermelho e pingando sangue.

Oh, Isso vai doer.

Mas eu não ia baixar minha guarda, porque eu queria ser o cara que não sabia como essa dor se sentia.

Então, mais uma vez…

— P-Pare! Eu posso explicar…!

— Esmaga.

Eu esmaguei o homem no rosto com o escudo repetidas vezes até ele cair de joelhos. Se isso fosse um jogo, ele estaria incapaz de lutar. Em outras palavras, agora era possível ter uma conversa.

— Senhor.

— Eu-Eu estava errado! Por favor!

Ele havia decidido pedir perdão? Foi uma decisão rápida, mas não muito sábia. Aquela não era a conversa que eu queria ter.

— Por que você fez isso?

— Eu-Eu queria suas pedras de mana… Eu só ia te deixar inconsciente e roubá-las. Por favor, confie em mim!

“Confiança? Confiança, meu rabo. Se eu tivesse esse tipo de amor pela humanidade, teria pelo menos mais alguns amigos.”

Enquanto eu levantava lentamente o escudo, o cara rapidamente adicionava à sua desculpa.

— O escudo! Eu ia levar esse escudo também!

Essa era, sem dúvida, a razão pela qual eu não confiava em outras pessoas. Todos mentiam com muita facilidade, mesmo quando não eram bons nisso.

— Por que o escudo?

— …Porque as armas bárbaras têm boa qualidade. Eu ia vendê-lo assim que voltasse para a cidade.”

Certamente, as armas que os bárbaros recebiam durante o tutorial geralmente eram valiosas. Isso porque a quantidade de ferro nelas era significativamente maior do que a encontrada em armas genéricas. Meu escudo atual era feito inteiramente de ferro.

“Mas mesmo assim, matar alguém só para conseguir isso? Bem, quando eu penso nisso, não é tão difícil de entender. Mas…”

— Mentira.

Este homem ainda estava escondendo algo.

— Seja honesto. Por que você fez isso?

Assim como ao lidar com um goblin caído, eu pisei no tronco do homem e o esmaguei sob meu pé.

— Ahh!

O medo estava profundamente gravado nos olhos do homem. Surpreendentemente, isso não provocou nenhuma emoção em mim. Será que era porque esse desgraçado tinha tentado me matar?

Agora eu conseguia entender por que diziam para não olhar nos olhos ao esquartejar uma vaca, porém… No entanto, descobri que conseguia ignorar o sentimento.

Assim que eu estava considerando encerrar a conversa, o homem gritou: — Coração!

— Coração?

“Essa é uma palavra inesperada.”

Quando eu lhe lancei um olhar interrogativo, o homem continuou com uma expressão resignada no rosto.

— …Corações bárbaros estão sendo vendidos por um preço alto.

— Por quê?

— E-Eu não sei ao certo, mas dizem que são usados como ingrediente em uma magia recém-desenvolvida!

— Entendi.

Agora eu entendi o motivo. Eu era um goblin para esse homem: uma criatura difícil de capturar, mas que, uma vez capturada, vinha com uma grande recompensa.

— Por que você agiu agora em vez de quando eu adormeci pela primeira vez?

— …Eu também tinha que dormir.

Ah, entendi. Ele queria ganhar dinheiro e também dormir enquanto estava nisso. Eu pensei que era porque o homem era muito cauteloso, mas ele era apenas obcecado pela eficiência.

— Eu te contei tudo, então por favor me perdoe…

— Perdoar?

Para ser honesto, não pude deixar de rir.

“Perdão? Isso é algo que um cara que tentou arrancar o coração de alguém e roubar seu equipamento deveria pedir?”

Se minha própria reação tivesse sido um pouco tardia, eu nem teria tido a chance de implorar pela minha vida.

— Por favor…

“Tenho certeza de que ele quer viver. Como ele poderia saber que isso aconteceria? Essa atitude é louvável. No entanto…”

— Senhor, é justo pagar o preço.

Eu odiava bastardos que faziam o que queriam e evitavam enfrentar as consequências. O que significava…

— Eu- Eu vou te dar tudo o que tenho! Mesmo que não seja muito agora, se eu apenas voltar para a cidade…

Ele não podia ser confiado.

Nesse aspecto, eu nem sabia como esse cara era diferente de um goblin. Embora você não pudesse ser amigo de um goblin mesmo que quisesse, esse cara tinha uma escolha. Essa era a única diferença, e isso o tornava muito pior do que um goblin.

É claro, essa era apenas uma opinião emocional, e eu não tomava decisões baseadas em emoções. Nem sempre podia dar certo dessa forma, é claro, mas pelo menos eu tentava não fazer.

— Eu provavelmente encontrarei inúmeras pessoas como você no futuro. E elas vão dizer a mesma coisa. Devo perdoá-las todas as vezes?

Perdão era uma palavra muito assustadora. Uma decisão tomada com boas intenções muitas vezes voltava como uma adaga e te apunhalava pelas costas. Eu sabia disso melhor do que ninguém.

Então, desta vez eu não tinha escolha. Um erro neste mundo primitivo não machucaria apenas meu coração, mas até ameaçaria minha vida.

— Desculpe, senhor. Já fui apunhalado pelas costas muitas vezes para isso.

— N-Não! Eu não faria isso! Eu sou diferente!

“A propósito, um goblin uma vez disse algo parecido com isso para mim. Ou pelo menos, foi isso que interpretei pelo olhar em seus olhos. E o que eu fiz em seguida?”

Aperta.

Levantei o escudo alto com ambas as mãos. No entanto, ao contrário do que aconteceu naquele momento, eu hesitei.

É claro, o momento de hesitação não durou muito. Senti uma força desconhecida puxando meu braço e…

— Oh não…

Golpeei com o escudo usando toda a minha força.

Trac.

Um silêncio pesado caiu após o som de ossos quebrando.

 


 

【Conquista.】

【Condição: Cometa seu primeiro assassinato.】

【Recompensa: seu atributo Espírito é permanentemente aumentado em +1.】

 


 

Não desviei o olhar do que tinha feito e aceitei como era.

Cerca de um dia havia passado desde que entrei no mundo do jogo. E eu tinha matado um ser humano.

Do homem morto, recuperei um martelo grande, ombreiras, botas de couro, uma bússola, uma faca, um relógio de bolso, uma garrafa de água, uma mochila, um cobertor, ervas e bandagens, uma poção, comida e aperitivos para seis dias, e trinta e duas pedras de mana de nível nove.

Capítulo 8: Acompanhante Noturno (1/3)

 


『 Tradutor: MrRody 』


 

Eu estava caminhando pela caverna. Mas desta vez, sem mancar.

 


 

【Você adquiriu Botas de Couro Desgastadas.】

【O Nível Total de Equipamento aumentou em +5.】

 


 

As botas estavam um pouco folgadas. Graças a isso, aprendi mais uma coisa: os pés do homem eram bastante grandes para a altura dele. De qualquer forma, os sapatos eram bastante resistentes, então pisar em uma armadilha não causaria um ferimento tão sério quanto da última vez.

 


 

【Você equipou um Martelo de Duas Mãos.】

【O Nível Total de Equipamento  aumentou em +30.】

 


 

Este Martelo Pesado era feito de um pedaço de ferro e tinha cerca de um metro de comprimento. Quando o homem o usava, era uma arma de contundência de duas mãos, mas eu era forte o suficiente para empunhá-la com uma mão.

 


 

【Você equipou Protetores de Ombros Desgastados.】

【O Nível Total de Equipamento aumentou em +13.】

 


 

As ombreiras eram feitas de ferro. Amarrei os laços um pouco frouxos e eles se encaixaram perfeitamente. Usando elas sem nada por baixo, me fazia parecer um gladiador.

 


 

【Você equipou uma Mochila.】

【Tamanho do inventário aumentou.】

 


 

Agora, as pedras de mana manchadas de sangue não precisavam ser armazenadas junto com o pão, e eram muito menos volumosas para transportar por aí.

Mastiga.

Tirei um pedaço de carne seca e mastiguei. Havia apenas alguns pedaços e eles eram pouco mais do que um petisco, mas tinham um gosto melhor do que o pão. Cortei o restante com uma faca de bolso e os armazenei cuidadosamente para evitar que tocassem em líquidos.

No segundo dia, eu havia me graduado do meu estilo de vida incivilizado.

Quando estava com sede, bebia água da bolsa de água. Se queria saber a direção em que estava indo, pegava a bússola, e se queria saber a hora, olhava para o relógio de bolso. A poção de saúde de emergência que eu tinha também ajudaria a lidar com possíveis ferimentos.

“Que irônico. Agora que matei outro ser humano, consigo viver mais como um.”

 


 

 


 

【Bjorn Yandel】

【Nível: 1

Físico: 25

Espírito: 37 (Novo +1)

Habilidade Especial: 1

Nível do Equipamento: 72 (Novo +48)

Poder de Combate Geral: 81 (Novo +13)】

 


 

【Esmagar】 era uma boa técnica para usar com um escudo, mas com a arma certa, era diferente.

Croc…!

Um goblin desapareceu em um clarão com um único golpe de martelo. Se soubesse que seria assim, teria escolhido uma arma desde o início. Afinal, poderia ter comprado um escudo mais tarde com as economias.

Bem, na época não sabia que poderia lutar tão bem. Talvez fosse porque estava dentro do corpo de um bárbaro, mas quando lutava, sentia como se meu corpo não fosse meu. Deveria estar me acostumando com isso agora, mas ver este corpo continuar a superar minhas expectativas ainda me surpreendia.

“Estou cansado pra caralho.”

Bocejando, peguei as duas pedras mágicas que haviam caído no chão próximo e as coloquei na bolsa. Essa foi uma mudança que ocorreu no início do segundo dia. Os goblins haviam começado a aparecer em grupos de dois. Amanhã, provavelmente aumentaria para três, e continuaria a aumentar assim até o sétimo dia, quando o labirinto se fecharia. Era assim que era no jogo.

Nesse sentido, as coisas ainda não estavam tão ruins. Meu poder de combate havia aumentado com o novo equipamento, e graças a todos os suprimentos, a jornada havia se tornado um pouco mais segura. Tudo estava progredindo bastante bem.

Exceto pelo fato de que meus olhos continuam se fechando.

Desde ontem, estive em movimento, lutando contra os goblins. Mas só consegui dormir por menos de dez minutos enquanto estava com aquele cara, e mesmo assim, acabei adormecendo em pé.

Eu queria dormir. Nem desejava cobertores e travesseiros. Neste ponto, poderia me encolher num canto no chão nu.

“Eu vou mesmo bater as botas se isso…”

Quase caí no sono enquanto caminhava e tropecei numa pedra.

— Ah, merda!

Tive sorte apesar da queda. Se fosse uma armadilha, estaria em apuros de verdade.

— É melhor eu conseguir um pouco de sono de verdade…

Assim que tomei essa decisão, encostei-me na parede com o escudo em uma mão e o martelo na outra. Mesmo não tendo nenhum acompanhante noturno ao meu lado, me senti mais seguro dessa forma. Se eu fosse emboscado de qualquer maneira, era melhor que fosse por um goblin do que pelo meu companheiro. Se isso acontecesse, eu teria uma chance melhor de sobreviver a uma facada de uma faca de entalhe. Comparado a ser espancado com um martelo enquanto dormia, pelo menos.

Passo…

“Caramba.”

Acordei com o som de passos incrivelmente familiares. Eles não estavam em lugar nenhum durante minha vigília noturna de quatro horas, mas tinham que aparecer assim que eu estava cochilando sozinho. Entendi porque aquele cara me disse para ficar de guarda.

“…Teimosos desgraçados.”

Corri imediatamente para frente e enfiei o martelo na cabeça do goblin.

Paf!

— G-Grk…

Havia um total de dois goblins se aproximando sorrateiramente de mim, mas um deles virou e saiu correndo assim que seu amigo virou purê.

“Isso, fuja. Nem tenho energia para te seguir.”

— Ha, esses babacas…

Quando verifiquei o tempo, menos de dez minutos haviam passado. No final, não tive escolha senão voltar para a caverna e caçar mais goblins. Quando estava cansado e não aguentava mais, encostei na parede e cochilei por um tempo.

Houve alguns sustos enquanto eu descansava, mas apenas dois momentos em que realmente pensei que estava prestes a encontrar meu criador. O primeiro foi quando senti uma presença e abri os olhos. Um aventureiro suspeito estava se aproximando silenciosamente de mim.

Quando nossos olhos se encontraram, ele deu um sorriso amarelo, depois recuou e desapareceu. Só de lembrar, me deu calafrios… Em termos de sustos, duas vezes foi mais do que suficiente.

Principalmente porque outro susto estava acontecendo agora mesmo.

 


 

【Você foi atacado por um goblin enquanto dormia.】

 


 

Pela primeira vez, abri os olhos para a dor em vez de uma presença.

Um goblin estava bem na minha frente. Assim que bati o martelo nele e o matei, outro desgraçado pulou.

— G-Grk!

Identifiquei imediatamente a causa da dor.

“Meu Deus, tem uma faca de entalhe presa entre minhas clavículas.”

…Merda, então foi por isso que meu braço esquerdo não estava se movendo bem.

Ufa, pelo menos saí dessa só com dor. Se eu fosse um pouco mais baixo, ou se o goblin fosse um saltador melhor, esta faca de entalhe estaria cravada no meu pescoço.

Apertei os dentes e puxei a faca para fora.

Shhunk!

Então, tirando a poção da bolsa, coloquei algumas gotas na área ferida. Assim que fechei o frasco e o coloquei de volta na bolsa, meu sangue começou a ferver e regenerar rapidamente.

Chhh.

O sacana que fez essa poção, ele era um psicopata? De alguma forma, isso doeu mais do que ser esfaqueado no começo.

— Argh, ugh.

Depois de cerca de cinco minutos, a dor desapareceu. Uma dor dessas deveria ter afastado todos os pensamentos de sono, mas minhas pálpebras estavam muito mais pesadas do que antes. Se eu parasse de me concentrar por um momento sequer, minha visão ficava embaçada. Era hora de tomar a decisão que eu estava adiando.

Embora o corpo de um bárbaro estivesse sintonizado para detectar intenções assassinas, havia claramente um limite ao tentar cochilar assim. E agora mesmo, só acordei depois de já ter sido esfaqueado.

“Preciso descansar.”

Quando verifiquei o horário, descobri que cerca de quatorze horas haviam se passado desde que deixei o cara. Talvez os aventureiros ativos no primeiro andar estivessem vagando lentamente em busca de companheiros para esta noite.

E na verdade, enquanto eu vagava pela área, alguns aventureiros se aproximaram de mim primeiro.

— Ei, bárbaro, está procurando por um companheiro para esta noite?

E com muita paixão também.

— Hmm, você parece bem cansado. Vai se juntar a mim?

— Os bárbaros são confiáveis. Se você se juntar a nós, seremos três. Que tal formarmos uma equipe?

Eu me senti como uma prostituta popular. Talvez fosse porque todos nós estávamos na mesma situação há cerca de dois dias agora, mas hoje, ninguém mencionou como eu cheirava. Ou talvez o cheiro não tenha sido o problema desde o início?

Para ser justo, minha aparência ontem, coberta de sangue e mancando por causa da minha sandália faltando, tinha sido um pouco intensa.

— Mesmo? Que pena.

Inúmeras ofertas surgiram, mas recusei todas e continuei me movendo pela caverna.

“Ha… não há outros bárbaros fortes por aqui em lugar nenhum?”

Minha melhor aposta era encontrar um outro bárbaro e nos tornarmos acompanhantes noturnos. O problema era que, mesmo agora no segundo dia, não havia sinal de nenhum bárbaro em lugar algum.

— Você está procurando por sua própria gente? Hmm, isso vai ser difícil.

— Difícil? Por quê?

— Até mesmo um bárbaro que acabou de completar sua cerimônia de passagem estará no segundo andar do labirinto em dois ou três meses. Não tenho certeza, mas provavelmente há menos de cem de vocês no primeiro andar até agora.

Quando investiguei, descobri que os bárbaros como um todo eram raros no primeiro andar. De fato, era estranho alguém com um corpo como este ainda estar vagando pelo primeiro andar. Noventa e nove por cento dos aventureiros que encontrei no primeiro andar eram apenas humanos comuns.

— Por que você não se junta a nós?

— Desculpe, mas não posso.

— Entendi. Bem, que Rafdonia esteja com você em sua jornada.

— Obrigado.

Este homem parecia bastante confiável, mas continuei em frente assim que a conversa terminou. Agora que eu havia descoberto que os corações dos bárbaros eram valiosos, todos os aventureiros começaram a parecer suspeitos para mim.

Clique.

Tirei a bússola. Eu estava me movendo para o sul desde que a peguei, mas ainda não tinha saído da zona dos goblins. Estava percebendo novamente o quão grande era o primeiro andar.

“…Devo desistir de procurar minha própria gente?”

Não precisei pensar muito sobre isso. Decidi parar de procurar uma agulha no palheiro e, em vez disso, fiz um plano mais realista.

“Não precisa ser um bárbaro. Agora só vou encontrar um acompanhante noturno… excluindo qualquer pessoa humana.”

Decidi procurar por uma raça fantástica, que compunha menos de 1 por cento da população. Minha melhor aposta seria um elfo que valorizasse muito juramentos ou um anão com uma personalidade tão valorosa quanto a de um bárbaro. Não importava muito se fossem de uma raça diferente. Ao contrário da maioria dos humanos, eles tinham paciência. Com o tempo, tinham o talento para chegar ao topo, então não seriam cegados pelo dinheiro e machucariam outro aventureiro.

Tendo tomado essa decisão, vaguei pela caverna por cerca de uma hora.

E…

 


 

【Você encontrou um elfo desconhecido, elfo ferido.】

 


 

Finalmente encontrei alguém de uma raça fantástica.

 


 

No momento em que nossos olhos se encontraram, uma estranha sensação de sufocamento encheu o ar.

A elfa de orelhas pontudas estava sentada com as costas apoiadas na parede e me encarando sem dizer uma palavra. Estava ela dormindo ali sozinha, sem nenhum companheiro?

Seus olhos âmbar, que brilhavam como os de um gato, denunciavam alarme e hostilidade profunda. Estava claro que ela esperava que eu apenas passasse por ela, mas…

Enquanto nossa troca de olhares continuava, a elfa se levantou com uma expressão nervosa no rosto. Parecia se contorcer e gemer.

Ack… hemmm…

A forma como estava segurando o corpo era desajeitada. Ao examinar mais de perto, avistei um ferimento em seu estômago.

— Você está ferida.

Não era profundo, mas ainda era um corte longo… um corte que não poderia ter sido feito por uma faca de entalhe de goblin. Rapidamente cheguei a uma conclusão.

— Foi um humano?

A elfa não respondeu. Ela devia estar com medo de mim. Eu podia entender isso. Eu também ficaria muito assustado se alguém da minha estatura se aproximasse de mim enquanto eu estava ferido.

Além disso, esta elfa também era uma mulher e muito pequena. Talvez nem mesmo um metro e meio?

De qualquer forma, essa não era uma situação ruim…

— Me poupe.

“Hein?”

— Por favor. Apenas desta vez, Sr. Bárbaro. Eu tenho uma irmã mais nova na cidade que preciso cuidar.

Eu estava lutando para entender que tipo de desenvolvimento de enredo era esse quando a elfa se ajoelhou sem hesitar. Em algum momento, lágrimas se formaram em seus olhos.

— Eu te imploro.

“Hein? Que tipo de elfo é esse tão covarde?”

Para ser honesto, eu tinha pensado que ela seria do tipo mulher elegante e sofisticada por causa de sua aparência. A maioria dos elfos no jogo falava e tinha personalidades assim.

“Ops, se eu soubesse que ela era esse tipo de personagem, teria abordado isso completamente diferente. Eu deveria esclarecer o mal-entendido antes que as coisas piorem.”

— Eu não tenho intenção de te matar — eu disse, cuidando para enunciar corretamente enquanto fazia contato visual com ela.

“Os olhos são as janelas da alma, então se eu der tempo para ela se acalmar, ela verá que o que estou dizendo é sincero…”

— …Você tem que fazer isso, Sr. Bárbaro?

“Sobre o que ela está falando?”

Em seguida veio a crise de identidade.

— Apenas uma vez, por favor, deixe-me ir apenas desta vez.

Enquanto meu silêncio continuava, a elfa recuou com uma expressão ainda mais assustada no rosto e abriu o colarinho de sua camisa. Fiquei atônito. Senti-me como um pervertido assediando uma estudante do ensino médio na frente de sua escola. Esse mal-entendido me fez sentir terrível.

Que tipo de vida levam esses outros bastardos bárbaros? Que reputação poderíamos ter para fazer essa criança ir tão longe?

— Ha…

Soltei um suspiro involuntário.

O que faço? Será que o mal-entendido seria esclarecido se eu mostrasse que não sou esse tipo de escória com ações em vez de palavras?

Isso não parecia uma má ideia. Dei um passo para trás, tirei as ervas e bandagens da minha bolsa e as lancei na direção dela.

— Cure seu ferimento primeiro. Conversaremos depois.

— Isto é… uma erva de licho…?
Então era uma erva de licho. Agora eu poderia usá-la com tranquilidade. Eu estava preocupado que pudesse ser venenosa esse tempo todo.

Capítulo 9: Acompanhante Noturno (2/3)

 


『 Tradutor: MrRody 』


 

— …Por que você está me dando isso?

— Eu preciso de uma razão para ajudar alguém?

As palavras falsas e insinceras se desfizeram como lascas de madeira na minha língua, mas não pude evitar. Esse tipo de coisa funcionava com esse tipo de personagem.

Eu queria ser acompanhante dessa elfa. Parecia sinistro quando eu dizia assim, mas não seria um mau negócio para essa mulher também.

Desde seu ferimento e exaustão até sua beleza, sua situação era várias vezes pior que a minha. Provavelmente ela também sabia disso, o que explicava por que ela agiu daquele jeito antes. Para ser honesto, até mesmo eu fiquei surpreso com o quanto ela estava comprometida em sobreviver até agora.

— Como eu disse antes, cuide do seu ferimento primeiro. Podemos conversar depois.

— Mas…

— Eu vou ficar de guarda.

Depois que me virei displicentemente, logo ouvi um som atrás de mim. Parecia que ela estava mastigando a erva para facilitar a aplicação.

— Terminei…

“Já? Surpreendente. Ela deve ter uma boa técnica.”

Me virei e vi que entre suas roupas rasgadas, havia uma bandagem bem enrolada. E parecia que sua guarda em relação a mim havia diminuído um pouco, pela maneira como ela me olhava agora.

Primeiro, algumas apresentações para diminuir a distância.

— Eu sou Bjorn, filho de Yandel.

— …Erwen.

— Eu não sei o que você entendeu mal antes. Mas nada do que você pensou vai acontecer.

— Desculpa? Oh. Ok…

Ela fingiu que não era nada, mas o medo em seus olhos ainda estava lá. Eu pensei que depois de fazer tudo isso, o mal-entendido seria resolvido. O que deu errado?

No final, eu perguntei diretamente: — Por que você tem tanto medo de mim?

— …Bárbaros e elfos são inimigos, não é?

— Inimigos?

— D-Desculpe. Não foi isso que eu quis dizer… Eu não quero lutar com você.

Diante da minha pergunta, ela de repente percebeu o que havia dito e começou a agir tão submissa quanto antes.

Eu estava apenas curioso agora…

“Elfos e bárbaros, inimigos? Esta é a primeira vez que ouço falar disso. As duas raças definitivamente se davam muito bem no jogo. Como isso aconteceu?”

Eu apenas a encarava, de olhos arregalados, mas ela imediatamente começou a revelar as informações que eu queria ouvir.

— A-A guerra terminou há dez anos. Eu… não guardo rancor! Sério.

Dez anos atrás…

Eu não sabia o que tinha acontecido, mas aquelas palavras soavam mais como uma rixa do que uma relação adversária.

Hmm, então, depois de ouvir coisas ruins sobre nós desde jovem, talvez ela tenha crescido com medo dos bárbaros?

A situação estava pior agora.

“O que devo fazer? Devo procurar outra pessoa antes que seja tarde demais?”

“Mas então as ervas e bandagens que eu já havia dado seriam desperdiçadas…”

Ok, vamos tentar primeiro.

— Eu também não guardo rancor.

— S-Sério?

— Isso mesmo. Por isso, Erwen, gostaria de ser minha acompanhante noturna esta noite?

— …Companheira noturna?

— Estou cansado. Você também deve estar. Então, que tal trabalharmos juntos hoje, com ou sem rancor?

— Mmm…

De repente, seus olhos se iluminaram e ela quase parecia uma pessoa diferente da anterior. Dei a ela tempo para pensar sem pressa, e ela considerou a oferta com uma expressão franzida antes de propor uma condição em vez de um acordo.

— Eu ouvi dizer que os bárbaros valorizam sua honra como guerreiros. Você pode jurar por isso? Que não me fará mal?

— Jurar?

— C-Claro, eu juro o mesmo a você em nome do meu clã. Eu nunca farei mal a você também, senhor.

Na cultura coreana, isso era equivalente a nós cada um trazer nossos polegares para nossas línguas e os dedos mínimos para nossas testas. Claro, eu poderia fazer isso o dia todo. No entanto, havia um problema que precisava ser resolvido antes disso.

— Bjorn, filho de Yandel. Não ‘senhor’.

Apesar da minha idade real, Bjorn tinha apenas vinte anos.

 


 

O contrato foi estabelecido. Não houve assinatura de impressões digitais envolvidas, mas fizemos algo semelhante a isso em termos culturais.

Graças a isso, descobri o verdadeiro nome da elfa: Erwen Fornacci di Tersia. Ela tinha vinte anos, a mesma idade que eu.

Ufa, ainda bem que eu não era realmente Bjorn. Tenho certeza de que o verdadeiro Bjorn também teria pensado assim. Não importava para mim, mas essa mulher… Porém, eu não ia contar para ela.

— Então, como devemos decidir os turnos?

— Eu vou dormir primeiro. Isso vai te deixar mais segura.

— Eu não diria isso, mas se você insistir, eu não exatamente recusaria…

Em outras palavras, ela gostaria muito disso.

— Vou considerar isso como um sim.

— Sim.

Ufa, estou feliz que isso funcionou. Se ela tivesse sugerido jogar pedra, papel, tesoura, as coisas teriam parecido sombrias.

Meus olhos estavam se fechando há um tempo.

“Por favor, eu só quero dormir. É tão difícil ter uma boa noite de sono?”

— Oh! Como vou saber as horas?

“Tsk, é por isso que os novatos são um incômodo.”

Tirei o relógio da minha mochila e dei para Erwen.

— É um item caro, então não quebre.

— Okay…

Vê-la não apenas dizer isso, mas também tratar o relógio como um recém-nascido me tranquilizou.

— Vou cuidar bem dele — ela disse. — Boa noite.

Deitei-me com minha mochila como travesseiro e me cobri com um cobertor, assim como aquele homem havia feito.

E…

Honk!

– Senhor!

“Eu te disse que é Bjorn.”

— Senhor, acorde. Já é hora.

Forcei meus olhos a se abrir e me levantei. Eu não podia acreditar. Já haviam se passado duas horas?

— Aqui está, seu relógio.

Olhei para as horas e de fato já haviam se passado duas horas. Pensando bem, nem sequer tive a chance de fingir roncar por um tempo. Eu estava planejando fingir por cerca de dez minutos só por precaução…

“Nossa, será que esse é o efeito de combinar uma mochila e um cobertor? É quase assustador.”

Se o homem tivesse me emprestado isso naquele momento, eu não teria sido capaz de evitar o ataque surpresa dele. Eu teria dormido tão confortavelmente que nem mesmo teria percebido se o mundo estivesse acabando ao meu redor.

“Será que isso é karma…? Nesse caso, eu deveria emprestar isso para essa mulher também.”

— Use o cobertor. Se quiser usar o travesseiro, também pode usar.

— Desculpe? Mas…

Embora ela estivesse recusando, eu podia ver que os cantos de sua boca estavam erguidos. Decidi fingir não ver isso.

— Bom, então, obrigada…

Sem precisar de mais convencimento, Erwen conseguiu se enfiar no cobertor e se enrolar como um gato. E logo depois, ela começou a respirar ritmicamente.

Ela estava dormindo bem mesmo com um homem estranho bem ao lado dela. Ela devia estar realmente cansada. Enquanto eu tinha tido um dia cansativo, o dia dela também deve ter sido extenuante.

— Ufa…

Encostei-me na parede e abri o relógio por hábito.

 


 

【22:50】

 


 

Parecia que haviam se passado pelo menos cinco dias, mas na realidade, ainda havia mais de uma hora até o final do segundo dia. Eu queria voltar para a cidade o mais rápido possível. Para ser honesto, era ridículo falar em “voltar”, mas… Eu planejava dormir por alguns dias assim que chegasse lá.

“…Vendo que posso pensar assim, parece que meu corpo realmente se recuperou.”

Guardei o relógio e mergulhei em pensamentos profundos. Já fazia um tempo desde que tive um momento tranquilo para pensar, então minha mente ficava vagando de um lado para o outro.

“O que aconteceu comigo no mundo real? Eu me tornei uma pessoa desaparecida? Ainda não, obviamente. Ninguém teria passado na minha casa. Nem mesmo meu trabalho levaria a sério alguns dias de ausência.”

— Ha.

Havia uma razão pela qual não tinha pensado nesse problema até agora. Isso só me deixaria triste. Se eu começasse a pensar que não havia nada para voltar, eu destruiria totalmente minha vontade de continuar.

Era melhor não pensar nessas coisas por várias razões, não importa o quanto isso fosse auto ilusório.

Como eu era bastante disciplinado mentalmente, redirecionei deliberadamente meu fluxo de pensamentos.

“Certo, vamos revisar o que aconteceu nos últimos dois dias: a cerimônia de passagem para a vida adulta, entrar no labirinto, batalhar contra os goblins, enfrentar o ladrão de corações…”

Eu poderia até me dar uma salva de palmas por lidar bem com tudo até agora, não é mesmo? Como não havia ninguém por perto para me elogiar, por que não me elogiar a mim mesmo?

Clique…

Decidi guardar os parabéns para quando voltasse para a cidade. Ao verificar o relógio, já estava na hora.

— Erwen, acorde.

— Só mais cinco minutinhos…

“O quê? Cinco minutos? Levante-se.”

Sacudi o ombro dela vigorosamente com minha mão meio bárbara, e Erwen esfregou os olhos e se levantou.

— Ah…

“Isso parece perigoso. Entendo por que aquele ladrão de corações não pôde confiar em mim.”

— Nem pense em dormir só porque até agora não apareceram monstros por perto.

— Tá bom…

Sentindo um pouco de ansiedade, mas ainda assim me deitei. E como havia emprestado o cobertor e a mochila para Erwen, o calor dela permaneceu mesmo quando chegou a minha vez de dormir.

Era meio irônico. Quanto tempo fazia desde que senti o calor de alguém? Era uma sensação muito estranha. Talvez até mais do que qualquer outra coisa que eu tenha passado nos últimos dois dias.

Honk!

Desta vez, eu estava com bastante energia, então comecei a fingir que estava roncando. Para ser honesto, era mais para garantir que Erwen não fosse dormir.

“…Parece que ela não está.”

Abri os olhos de leve e olhei na direção dela, depois decidi deixar de lado minhas preocupações e fechei os olhos novamente.

“E, quanto tempo fazia desde que…”

Senti uma presença e imediatamente me sentei.

— Ahh!

Por algum motivo, eu estava segurando o pulso pálido de Erwen. Parecia que estava esticado na minha direção.

— O que você está fazendo?

— V-Você estava tendo um pesadelo e estava suando…

Ao observar o lenço na mão dela, não parecia que ela estava mentindo. Se fosse uma arma, eu teria golpeado meu escudo contra ela sem pedir uma explicação.

— D-Desculpe.

Depois de avaliar a situação, relaxei meus dedos. Então, com uma expressão de dor no rosto, Erwen segurou o pulso que eu havia agarrado. Já estavam aparecendo marcas vermelhas em sua pele. Eu não me desculpei. Seria um pedido de desculpas vazio de qualquer maneira.

— Quanto tempo passou?

— …Faltam dez minutos até trocarmos.

— Entendi. Então vamos trocar agora.

— Mas…”

— Se eu dormir agora, vou acabar me sentindo mais cansado.

Diante das minhas palavras, Erwen se deitou com um olhar apologético. Então ela se virou um pouco antes de falar.

— Um.

— Há algum problema?

— Não. Só tenho uma pergunta.

— Diga.

Erwen hesitou por um momento antes de abrir a boca.

— …Quem é o “senhor”?

“O quê? Isso é um trocadilho?”

— Você ficou pedindo desculpas em seu sono… Oh, desculpe. Eu não deveria ter perguntado. Você não precisa responder. Vou só dormir agora.”

Antes que eu pudesse responder, Erwen encerrou a conversa e puxou o cobertor sobre a cabeça. Parecia que essa jovem estava percebendo que eu não era tão assustador e começava a ficar curiosa.

— Ugh.

Esticando meu corpo, pensei um pouco sobre isso.

Eu não conseguia me lembrar de nada, mas parecia que eu realmente tinha tido um pesadelo. De repente, fiquei um pouco curioso também.

“Quem diabos era o senhor pelo qual eu estava pedindo perdão?”

Dois candidatos me vieram à mente: o homem sem nome que havia sido decapitado na cerimônia de passagem para a idade adulta, e Hans, o ladrão de corações que me permitiu voltar a ser humano.

… Mas quando pensei sobre isso, ambas as opções eram estranhas. Eu não tinha feito nada a nenhum deles que precisasse de um pedido de desculpas.

Logo cheguei a uma conclusão.

“Qualquer que fosse o sonho que eu tive, devia ter sido um sonho bobo.”

 


 

 


 

【04:30】

 


 

O terceiro dia tinha começado, e faltavam cerca de dez minutos antes de eu ter que acordar Erwen. Observando-a enquanto ela se encolhia e dormia com o cobertor entre as pernas, eu ponderava se deveria pedir a ela para se juntar a mim novamente. Quero dizer, se deveria pedir a ela para se tornar minha companheira de equipe.

É claro, havia o lado negativo de ter que compartilhar o saque. Mesmo que os goblins aparecessem em grupos de três ou quatro a partir do terceiro dia, uma parceria definitivamente reduziria minha renda.

Isso não tinha nada a ver com a força dela. Bem, como ela era uma elfa, ela se sairia bem o suficiente…

Será que eu poderia dizer que eu já era poderoso o bastante sozinho?

Mesmo sem a Erwen, eu poderia facilmente matar três ou quatro goblins sozinho. Isso não era presunção minha, era apenas uma observação após ter passado por várias batalhas com esse corpo. Era isso que eu realmente acreditava. Ficar sozinho me deixaria em posição de coletar o máximo possível de pedras de mana para me preparar para minhas despesas na cidade e impostos subsequentes.

— Ufa…

Uma cama livre de riscos, ou mais pedras de mana. Continuei ponderando sobre isso para tomar a decisão mais racional quando…

Toc…

Do corredor à esquerda, pude ouvir os passos de outro aventureiro. Isso havia acontecido várias vezes durante a noite, então eu não estava particularmente preocupado. Na maioria das vezes, eles nos lançavam um olhar e seguiam adiante.

No entanto…

Toc…

Essa dupla de aventureiros, Barrigudo e Ossudo, olharam na nossa direção. Eles imediatamente pararam de andar e sussurraram um para o outro.

— Aquela não é a elfa? — Perguntou Barrigudo.

— Parece ser. A forma do arco confere, — respondeu Ossudo com um sorriso irônico.

Os dois homens sussurraram entre si e, quando tomaram uma decisão, Barrigudo se tornou o porta-voz e fez uma pergunta.

— Bárbaro, qual é a sua relação com aquela elfa?

— Como você pode ver, somos acompanhantes noturnos.

— Um bárbaro e uma elfa como acompanhantes noturnos… Que visão estranha. Então, quanto tempo vocês ainda têm?

— Não tenho motivo para te responder.

Barrigudo não fez mais perguntas depois disso. Ele apenas sorriu e levou Ossudo, que estava ao lado dele, embora.

— Entendi. Vamos embora.

— O quê? S-Sim…

Logo, a dupla desapareceu do nosso corredor. No entanto, eu não conseguia relaxar.

“Quem diabos eram esses caras esquisitos? Isso parecia tão ameaçador quanto quando o Chefe da tribo gritou na minha cara.”

Eu me movi lentamente para o lado e cutuquei o ombro de Erwen, que estava dormindo.

– Ugh…

“Como você consegue dormir em uma situação dessas?”

— Rápido, acorde. Acho que estamos em apuros.

Capítulo 10: Acompanhante Noturno (3/3)

 


『 Tradutor: MrRody 』


 

Estritamente falando, “nós” não era o termo correto aqui, porque era Erwen, não eu, que interessava à dupla Barrigudo e Ossudo. Cutuquei Erwen com o pé novamente.

— Mmm…

“Não é “mmm”. Acorde agora mesmo. Eu sei que você não está dormindo.”

No momento em que ouvi as vozes deles antes, olhei para ela e a peguei cobrindo o rosto com o cobertor.

— Ah!

Era uma perda de tempo discutir com ela, então apenas a segurei pelos ombros e a forcei a se levantar.

— Por que está fingindo estar dormindo?

— Porque…

Erwen parou no meio da frase e evitou meu olhar. Isso era bastante frustrante para mim, porque eu precisava obter informações dela o mais rápido possível para tomar uma decisão.

Quando segurei seu queixo para olhá-la nos olhos, Erwen relutantemente falou.

— Porque você ia embora assim que eu acordasse…

“Isso é verdade?”

Eu havia feito uma promessa: se houvesse uma briga com um aventureiro enquanto um de nós estivesse em vigília noturna, lutaríamos juntos. Mas infelizmente, essa situação aconteceu na minha última vigília prometida.

Bem, eu não me importava com a honra de um guerreiro ou algo assim, mas… essa mulher não sabia disso. Então, ela tentou fazer nossa aliança durar o máximo possível. Ela sabia que no momento em que abrisse os olhos, nosso contrato de companheiros de noite acabaria.

— Ufff.

Primeiro, dei um suspiro profundo. Se um homem adulto como o Sr. Hans tivesse feito algo assim, eu teria ficado com raiva… No entanto, como ela tinha apenas vinte anos, um sentimento de pena surgiu em mim primeiro.

Claro, as situações eram completamente diferentes.

— O que aconteceu com aqueles dois?

— Nada.

— Então por que você estava se escondendo?

— …O símbolo costurado em suas roupas era o mesmo. O mesmo do homem humano que tentou me machucar. Eles devem pertencer à mesma guilda.

Uma guilda… Droga, as coisas estavam ficando mais sérias. Eu estava começando a me perguntar se seria melhor apenas dizer adeus a essa garota elfa e seguir caminhos separados aqui.

— Vamos conversar enquanto nos movemos.

— Você vai me ajudar?

— Vou decidir depois de ouvir o resto.

Primeiro, tirei Erwen de lá. Enquanto praticamente corria, tentei entender o resto da situação.

— Me conte tudo o que aconteceu.

Aparentemente lendo o clima, Erwen me deu um resumo breve apenas das informações importantes sem nenhum detalhe desnecessário.

— No primeiro dia, conheci um acompanhante noturno que me atacou enquanto eu estava dormindo. Descobri depois que ele era membro de uma guilda cuja base principal era o primeiro andar.

Para referência, o nome da guilda era “União de Cristal”.

— Consegui escapar, mas desde então, pessoas do mesmo grupo têm me atacado sempre que me veem. Foi assim que fiquei ferida.

A interrompi ali.

— Espera, como eles souberam o que aconteceu?

— Uma pedra de mensagem.

O que era isso? Não havia nada assim no jogo que eu tinha jogado.

— Com mais detalhes, — eu disse.

— É uma ferramenta mágica que permite se comunicar com outras pedras de mensagem que foram vinculadas entre si. Ouvi dizer que o alcance é de cerca de trezentos metros.

— Entendi.

Era uma espécie de rádio, então. Se você estabelecesse uma frequência com antecedência, a comunicação era possível em um raio de trezentos metros.

Gradualmente, comecei a entender a situação. Se essas pessoas tinham ferramentas mágicas como essa e mão de obra suficiente, transmitir informações seria fácil, mesmo em um ambiente isolado.

No entanto, o problema era…

— Por que eles estão indo tão longe para te pegar?

Erwen não tinha feito nada de errado. Então, por que eles estavam se esforçando tanto para perseguir essa vítima?

— É para te manter calada?

— …Acho que não é só isso.

— Há mais alguma coisa?

— Bem, é porque…

Erwen, que vinha respondendo minhas perguntas de forma direta, hesitou em falar desta vez. Se ela fosse agir assim, não tinha como eu poder ajudar. Pelo menos era isso que eu pensava quando ela finalmente respondeu.

— Quando consegui escapar, eu balancei minha faca. Mas aconteceu de acertar um lugar não tão legal…

— …Não tão legal?

Calafrios percorreram todo o meu corpo. Um arrepio passou pela minha virilha.

— Você sabe, aquele… aquele lugar…?

Eu estava certo.

— Ahem, de qualquer forma, pelo que as pessoas que me perseguem disseram, foi completamente cortado, então nem mesmo pode ser recolocado com uma poção… Acho que é por isso…

Agora eu entendia por que os olhos deles ardiam de vingança.

— D-D-Desculpa…

Mas não havia nada pelo que se desculpar. Não era ele o culpado disso tudo desde o começo? Era karma. O problema era que havia muitas pessoas no mundo que não entendiam essa lógica simples.

— Senhor, acho que tem alguém nos seguindo.

— O que?

— Não olhe para trás.

Concentrei-me em tentar ouvi-los, mas não conseguia ouvir nada.

— A distância… eles estão a cerca de 150 metros de distância — ela disse.

Aquela era uma distância estranha para poder sentir a presença de alguém, mas não parecia uma mentira. Não havia motivo para ela mentir.

Então, isso era o trabalho dos sentidos aguçados de um elfo?

De repente, sua estimativa subiu nos meus olhos.

— Precisamos acelerar, está bem?

— Sim. Ainda dou conta.

Mesmo que sua atadura branca estivesse manchada de vermelho por causa de seu ferimento, Erwen não emitiu um único som de dor. Ela mostrou grande determinação. Desafiou minha visão dela.

— Quão longe está o perseguidor?

— …Eles ainda estão a cerca de 150 metros de distância.

Mesmo que tivéssemos aumentado nossa velocidade, a distância entre nós não mudou. Isso não era bom. Neste momento, nosso perseguidor estava sem dúvida anunciando nossa localização para seus aliados com a pedra de mensagem ou algo do tipo.

“Livre-se deles.”

Se eu fosse o alvo deles, certamente teria decidido fazer isso. Mas eu ainda estava apenas correndo. Uma vez que matasse um deles, não poderia mais sair dessa. Então, eu precisava confirmar algumas coisas antes de tomar uma decisão.

— S-Senhor…?

Quanto risco eu assumiria e o que poderia obter em troca? Eu precisava de informações mais detalhadas.

— Erwen.

— S-Sim?

— Em que você é boa?

— Tenho confiança nas minhas habilidades de lavanderia e limpeza. E-eu não sei cozinhar muito bem, mas…

“Do que ela está falando?”

— Quando você está em batalha!

— A-Arquearia! Oh, e magia elemental também!

Uma arqueira elfa padrão.

— Tipo?

— …Fogo.

Hmm, esse era o tipo mais raro de magia. Graças a isso, agora eu pude visualizar suas habilidades na minha cabeça.

— Você já matou alguém?

— N-Não… Mas eu poderia.

Isso era algo que você só poderia achar que sabia sobre si mesmo.

— Entendo. — Finalmente perguntei a ela. — Erwen, você gostaria de ser minha companheira? Nosso grupo durará até sairmos do labirinto, e a distribuição do saque será de nove para um, nove para mim e um para você.

— S-Sim!

E isso me deu toda a razão que eu precisava.

 


 

— Prometo em nome do meu clã.

— Também juro pela honra de um guerreiro.

Carimbamos algo como um símbolo de confiança, assim como antes, e elevamos nosso relacionamento de acompanhantes noturnos para membros temporários de equipe.

Tudo isso, é claro, enquanto corremos como loucos.

— Distância?

— Cerca de cem metros!

Mesmo na minha velocidade máxima, a distância entre nós e eles estava diminuindo. Tomei uma decisão.

— Vamos escapar para a área externa.

— Ok!

Nos guiei virando e entramos nos corredores escuros. Os cristais que brilhavam nas paredes e tetos ficavam cada vez mais escassos e, logo, uma escuridão total nos envolveu.

Estava sentindo emoções misturadas. Afinal, não tinha imaginado que voltaria aqui voluntariamente.

— Erwen, invoque um espírito.

Uma chama do tamanho de uma melancia flutuava na palma da mão dela, iluminando nossos arredores. Mantendo um olho no chão, avançamos rapidamente pela escuridão.

E então…

— Desfaça.

Nos escondemos na escuridão.

— Presença?

— Em breve você também poderá ouvir.

— Entendi.

Mantive-me o mais silencioso possível e concentrei minha atenção em ouvir. O melhor cenário seria o nosso perseguidor nos perder de vista e nos passar despercebidos. Então, não haveria necessidade de matá-lo, e eu poderia até mesmo desfazer o acordo.

Tac-tac-tac-tac-tac.

Em breve, pude ouvir os passos apressados do rastreador mesmo com os meus próprios ouvidos. No entanto, apesar do que eu estava esperando, eles não nos passaram despercebidos. O som dos seus passos parou logo à frente do cruzamento onde tínhamos acabado de virar.

Merda!

Parecia que o rastreador tinha um método para nos localizar. Cheiro, som, ou talvez até mesmo algo mágico.

Tac. Tac. Tac.

Ele virou e caminhou lentamente na nossa direção, parando a uma distância de cerca de trinta metros, bem na fronteira onde a escuridão parecia um abismo.

Ele colocou a cabeça dentro e olhou ao redor. Seguramos a respiração dentro da escuridão e observamos.

— Lá estão vocês. — murmurou o homem para si mesmo após farejar algumas vezes na quietude. Em seguida, ele puxou algo do bolso. Era um objeto que eu nunca tinha visto antes em minha vida, mas intuitivamente reconheci sua função.

Uma pedra de mensagem.

No momento em que avistei o objeto, enviei um sinal fazendo um gesto silencioso para Erwen, que estava mirando sua flecha, a corda do arco esticada, durante todo esse tempo.

— Atire.

Swooo… Shawnnk…

Antes mesmo de terminar minha mensagem, a flecha estava cravada na testa do homem.

Thunk.

Mesmo com o homem morto no chão, não me movi imediatamente. Ao meu lado, pude sentir um tremor incontrolável vindo de Erwen.

— Bom trabalho. Se você tivesse hesitado, as coisas teriam sido perigosas.

Isso não era um elogio vazio, mas a verdade. Eu também não tinha hesitado quando golpeei o escudo? Erwen nem mesmo teve tempo para isso. Mesmo que eu não tivesse dito isso a ela, ela sabia por si mesma. Ela não poderia ter hesitado.

— Sim…

— Descanse um pouco.

As palavras de conforto terminaram ali. Saí da escuridão e revistei o corpo. Talvez ele tivesse deixado a mochila para trás para se mover rapidamente, pois, nosso perseguidor estava apenas modestamente equipado.

“O fato de eu estar sentindo desapontamento agora deve significar que me integrei completamente a este mundo.”

Primeiro, após remover todos os equipamentos do rastreador da cabeça aos pés, organizei os itens adquiridos um por um.

Um cinto, uma camisa e calças de couro, duas adagas, uma bolsa bastante pesada de pedras de mana, uma garrafa de poção que estava presa a um frasco amarrado ao seu cinto, e até mesmo uma pedra de mensagem.

Após o inventário estar completo, chamei Erwen.

— Ótimo. Venha aqui.

Então, removi suas bandagens e tratei sua ferida usando a poção. A ferida começou a se curar com um som sibilante.

— Ugh…

Neste ponto, estava tudo bem fazer barulho, mas Erwen apertou os dentes e suportou em silêncio.

“Então, essa mulher também tem um lado resistente. Ou talvez ela só tenha perdido o juízo?”

Esperava que fosse o primeiro. Eu não estava confiante em minhas habilidades como terapeuta.

— Você está se sentindo melhor?

— Sim. Muito melhor.

— Então, vista isso.

Depois de alguns minutos tratando a ferida, estendi a camisa e calças de couro que acabara de obter. Julguei que eram muito mais práticos do que roupas folgadas.

— Deixe-me ir colocar isso.

Talvez ela tenha decidido que seguir minhas instruções era a melhor maneira de manter-se viva. Eles podiam estar desconfortáveis, mas Erwen imediatamente pegou as roupas e entrou na escuridão para trocar.

— Está um pouco grande. Venha aqui.

Cortei o excesso de tecido nos braços e pernas para ela.

— Use isso também. Vai ficar um pouco melhor.

No geral, parecia um pouco folgado, mas parecia bastante confortável com o cinto. No entanto, por causa da mudança de roupas, ela transmitia uma vibe completamente diferente. Antes, parecia uma garota élfica em um passeio, mas agora parecia uma guerreira feminina de verdade. Até mesmo o seu rosto.

— … É muito estranho.

— Você vai se acostumar.

— Será…?

— Sim, vai.

Empurrei todos os outros itens para dentro da minha mochila e arrastei o cadáver nu para dentro da escuridão. Em seguida, segurei a pedra de mensagem na minha mão.

— Como se usa isso?

— Só um momento. Vou tentar.

Erwen olhou para a pedra de mensagem e então clicou em algo.

— … Serdin estava perseguindo a elfa vadia e o bárbaro, mas perdemos o contato. Qualquer um que receber esta mensagem, reúna-se na zona dos goblins.

Até agora, tudo estava indo como eu esperava.

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