Capítulo 44 – Todos Devem Se Render A Daphne

Era bem sabido que Daphne sempre fora a pequena tirana da casa Kracht, sem medo do céu nem do inferno. Ainda assim, ninguém esperava que, ao retornar, ela causasse um escândalo tão chocante.

O pobre Wulf vacilou, lutando para não cair de bunda enquanto procurava ajuda aos olhos de seu irmão mais velho.

Não havia ajuda para encontrar.

— Wolfgang, diga alguma coisa! Que feitiçaria seu genro usou para enfeitiçar minha filha?!

Para a ira de Wulf, Wolfgang realmente não sabia o que dizer. Assim, optou pelo silêncio e começou a procurar uma oportunidade de desaparecer.

Foi então que uma voz furiosa trovejou dentro do corredor!

— Vagabunda, solta o meu homem!

Iliana rugiu e puxou Daphne para longe do peito de Konrad com um puxão nos cabelos.

— Aaaargh! Me solta. O que há de errado com você?

As palavras ofendidas de Daphne apenas aumentaram a ira crescente dentro do peito de Iliana. Seus olhos esmeralda cortados queimaram com a raiva de dez mil fúrias enquanto ela segurava sua prima pelos cabelos.

— Qual é o meu problema? Você nem está aqui há quinze minutos e já está se aconchegando descaradamente contra meu noivo? O que há de errado com você?

— Noivo? O quê? Desde quando?

Indignada, Daphne procurou respostas aos olhos dos parentes reunidos, e só agora ela registrou o pai chamando o Konrad de genro de Wolfgang.

Parecia que, desde a noite no palácio, Iliana estava trabalhando para manter Konrad para si mesma, mas como isso poderia impedi-la?

— Então, e se você primeiro obtivesse um status legal? Eu transei com ele primeiro!

— Você pode comparar?

— Eu dei a ele uma orgia com seis lindas senhoras maduras!

— Você pode comparar?

Instantaneamente, os Kracht estavam em alvoroço. Até mesmo Wolfgang, que já estava ciente dos eventos, olhou de queixo caído para a ousadia de Daphne. Quanto a Wulf, sua mandíbula tremia e suor frio escorria em sua testa.

— O que você disse?

Para consternação de seu pai, Daphne se libertou das garras de Iliana e correu de volta para o lado de Konrad, envolvendo os braços em volta do direito e apoiando no ombro dele.

— Sim! Além disso, devo acrescentar que fizemos isso mais de uma vez. Konrad tem tanto a oferecer que a festa nunca termina…

Suas palavras e a visão dela esfregando a cabeça contra o ombro de Konrad como um gato dócil fizeram com que o já trêmulo Wulf perdesse o equilíbrio e caísse no chão. Parecia que ele estava tendo um derrame!

Quanto a Konrad, os eventos evoluíram rápido demais para ele reagir. Ele conhecia a garota descarada, mas descarada a esse ponto que ele não conseguia imaginar.

Isso já estava além do reino da falta de vergonha. Daphne estava louca!

No entanto, com uma reputação a manter, ele não conseguiu exibir seu choque para o mundo exterior e simplesmente adotou uma postura indiferente.

As palavras autoritárias de Daphne quebraram a tentativa de Iliana de retomar a iniciativa e, por um instante, ela não sabia o que dizer como muitos outros, ela se virou para Konrad, esperando ouvi-lo fazer uma declaração, mas ficou furiosa ao vê-lo voltando o olhar para o teto como se nada disso o preocupasse!

— Konrad! Você…

— Você o quê? Você mesma! Pare de dificultar as coisas para meu papai. Ele está pensando em que tipo de cenário vamos aproveitar esta noite.

A testa de Konrad enrugou, mas ele não se atreveu a baixar o olhar. Enquanto isso, Faidra e Aliki, que ficaram em silêncio atrás das atendentes de Daphne, ficaram surpresas com o que estavam ouvindo. O mestre delas realmente ousou mexer com aquela mulher lunática?

Realmente corajoso! Elas queriam ajudá-lo, mas com seu baixo status e inexistente direito de falar, sabiam que só podiam segurar a língua.

— Iliana, de qualquer forma, eu já disse que, como irmãs, devemos compartilhar tudo. Não sou uma mulher gananciosa. Contanto que você me siga obedientemente, você terá sua parte do paizão.

— Seguir você? Você deveria me seguir! Eu sou mais velha e mais bonita do que você!

Ainda assim, Daphne permaneceu destemida.

— E daí se você for um pouco mais bonita? Meus seios são maiores e minha bunda é mais curva. À noite, quando as luzes estiverem apagadas, com o que ele vai se importar? O rosto que ele não pode ver, ou os grandes montes dentro de sua boca? Para não falar das nádegas macias que o pressionavam!

Você perdeu!

Zamira ficou impressionada, Iliana cambaleou, os joelhos de Wolfgang cederam e Wulf desmaiou de vergonha.

— Aaaargh! Pai, anule! Você deve anular o noivado!

Para a indignação de Iliana, Wolfgang rugiu de raiva.

— Anular o quê? Depois do que aconteceu ontem à noite?

Nós nem sequer cimentamos o compromisso de que você já desistiu do forte e permitiu que o invasor entrasse!

Agora, ao lado dele, com quem você pode se casar?!

— Ouiiiiin!

Iliana explodiu em uma mistura de vergonha e lágrimas e correu de volta para seu quarto!

Vitoriosa, Daphne se aconchegou mais contra Konrad, que cantarolou todas as músicas aleatórias que brilhavam em sua mente enquanto olhava para o teto como se sua vida dependesse disso.

…

A comoção terminou com Wolfgang saindo e se trancando em sua morada de cultivo. Wulf foi levado para seus aposentos enquanto Daphne seguia Konrad como um bom cachorrinho com suas atendentes e as irmãs silenciosas nas costas.

Assim que chegaram ao seu quarto, Konrad pediu as atendentes que providenciassem os “presentes” e a acomodação de sua senhora e trouxe Daphne, Faidra e Aliki para o quarto.

— O que significa isso? Por que a Consorte Sagrada te mandou de volta? Além disso, o que esses duas estão fazendo com você?

Ao ouvir suas palavras, as irmãs acreditaram que ele duvidava do propósito de sua presença e imediatamente caíram de joelhos.

— Mestre, por favor, não entenda mal. Obedecemos escrupulosamente às suas palavras e nunca revelamos nada! Mas, de repente, um dos atendentes da Consorte Sagrada nos ordenou que seguíssemos Lady Daphne de volta à casa de Kracht. Não sabemos o que aconteceu!

A clara apreensão fez com que Konrad percebesse que sua escolha de palavras fez com que as duas o entendessem mal.

— Pare com isso, levante-se e venha sentar no meu colo.

Ele ordenou gentilmente, fazendo com que o nervosismo delas caísse. As irmãs se levantaram, deram um passo em direção a ele e, respectivamente, sentaram-se nas coxas esquerda e direita.

— Então, você não está duvidando de nós?

— Claro que não. Estou apenas intrigado com o motivo pelo qual a Consorte Sagrada ordenaria tal coisa. No entanto, suponho que não importa neste momento.

Vendo-o acariciar ternamente seus cabelos, embora Daphne não fosse ciumenta, ela sentiu que estava perdendo terreno para aquelas recém-chegadas.

— Eu também não tenho ideia do porquê. As senhoras acabaram de chegar aos meus aposentos e anunciaram o decreto do imperador. Eu não perdi tempo para ponderar o motivo, arrumei minhas coisas e fui embora.

Daphne não era de se envolver na trama usual que infestava os círculos da nobreza. Para ela, essas eram coisas desinteressantes que não traziam nada além de problemas. Não havia prazer em assuntos tão chatos.

— Tudo bem, não faz sentido investigar mais. Se aquela mulher quiser me alcançar, ela vai. — Você pode ir embora.

O “você pode ir embora” fez Daphne acreditar que Konrad estava mandando as irmãs embora para passar algum tempo de qualidade com ela. Ela já estava estufando o peito e adotando uma postura vitoriosa quando o viu esfregando a cabeça contra os animais de estimação favoritos de Konrad.

Ele não as estava rejeitando.

— Está falando comigo?

— Claro que estou. Eu tenho um pouco a ver com minhas meninas. Talvez eu te visite quando terminar.

— O quê?

O olhar perplexo com que Daphne olhou para ele o fez ir mais longe naquela estrada.

— Insatisfeita? Eu já estava tendo problemas com aquele maldito sogro, mas em menos de quinze minutos, você se certificou de que eu me tornaria o inimigo público de todos os homens dentro da casa Kracht! Seria um milagre se eu pudesse viver até amanhã!

Para não falar do Semi-Santo Wolfgang. Wulf sozinho era um Cavaleiro Transcendente de quinto nível e não o que o atual Konrad poderia lidar. Se ele viesse bater em sua porta em busca de contas, como ele poderia respirar?

Era possível que ele tivesse que se esconder atrás de Zamira durante toda a sua estadia nesta mansão?

Machucado, ela realmente o machucou!

— Mas…, mas…eu senti tanto a sua falta…

*Sniff* *Sniff*

Ela reclamou com gotículas de lágrimas nos olhos, como uma criança no corpo de uma mulher.

No entanto, Konrad não se submeteria à peça chorosa!

— Tudo bem, tudo bem, esta noite vou puni-la por seus erros. Feliz?

Instantaneamente, os olhos de Daphne se iluminaram de alegria.

— Feliz! Feliz! Papai, por favor, me castigue bem!