Hai to Gensou no Grimgar – Capítulo 3 – Volume 21 - Anime Center BR

Hai to Gensou no Grimgar – Capítulo 3 – Volume 21

Capítulo 3

Estava voando.

Eles deixaram a Arca e seguiram para umas ruínas próximas.

Segundo Haru, originalmente era uma cidade chamada Altana, cercada por uma muralha, e que abrigava uma grande quantidade de pessoas. No entanto, isso foi há muito tempo.

Como ele imaginou ao ver de uma colina, dois terços da antiga Altana eram florestas, e o outro terço eram arbustos. Embora as muralhas de pedra ainda mantivessem sua forma original, a maioria dos edifícios havia desmoronado e estava quase completamente engolida pelas árvores.

Havia um caminho muito frequentado entre a floresta e os arbustos, por onde Haru caminhava. A julgar pelas pegadas que Manato podia ver, esse caminho devia ter sido criado por humanos que caminhavam por ele. Provavelmente as mesmas pessoas passavam por aqui repetidas vezes. Se fosse o caso, mais do que pessoas, devia ser Haru.

— Aqui é relativamente seguro. Há pebys vivendo na área, o único problema é que de vez em quando aparece um rato de fossa.

— Eles são comestíveis?

— Os ratos de fossa têm um gosto horrível. Os pebys são bons, mas são rápidos para fugir.

— E esses pebys têm qual tamanho?

— Mais ou menos assim.

Haru se virou e mostrou com as mãos, estendendo-as um pouco além da largura de seus ombros.

— Os animais grandes diminuíram bastante. Nas montanhas do sul, as montanhas Tenryu, ainda existem muitos, mas lá é o território dos dragões, então é melhor não se aproximar.

— Por que os animais grandes diminuíram tanto?

— Pela caça indiscriminada.

— Caçaram em excesso? Você?

— De jeito nenhum. Não fui eu. Foi obra dos seguidores dos deuses.

— Deuses? Ah, sim. Acho que já ouvi algo sobre isso. Os yakuza os adoram ou algo assim. Eles são pessoas importantes? Bem, não são pessoas, certo? Em Kariza havia um grande urso de três olhos. Bem, havia… pelo menos é o que dizem. Nunca o vi. Parece que era enorme, preto e branco, e entrou na cidade, matando trinta pessoas.

— Uma fera bastante perigosa.

— Em Kariza havia uma estátua dele. Uma estátua do urso de três olhos. Todos tinham medo dela, e os yakuza construíram um altar e o adoravam. Isso é o que são os deuses?

— Pode ser algo parecido.

— Mas, mesmo tendo caçado bastante nas montanhas perto de Kariza, no final, não encontrei um urso assim. Então, será que ele realmente existiu?

— Não sei se o urso de três olhos era real, mas os deuses existem. Lumiaris, a deusa da Luz, e Skullhell, o deus das Trevas.

— Lumiaris e Skullhell? São dois?

— Sim, como as faces de uma moeda.

Finalmente, Haru e Manato chegaram a uma área aberta. Claramente cortada. Não é nem mesmo um arbusto ou um prado. O solo foi nivelado e algumas plantas estavam alinhadas em filas regulares.

— Ah, aquilo é uma cabana?

Manato apontou para uma pequena construção na borda da clareira. Naquela direção, havia uma cabana que parecia uma grande tenda.

— Eu construí. Aqui cultivo plantas cujas raízes, frutos e folhas são comestíveis. É um jardim.

— As feras não se alimentam das plantações?

— Enquanto não comerem tudo, não é um problema. Eu estou sozinho, afinal.

— Você não está mais sozinho.

— … Certo.

Haru caminhou ao redor do jardim em direção à cabana, e Manato o seguiu com cuidado para não pisar nas plantas.

Ao lado da cabana havia uma cadeira e uma mesa de madeira. Havia vários barris e jarros ao redor, e uma pá e uma picareta, assim como outras ferramentas, estavam encostadas na parede da cabana.

Haru ofereceu uma cadeira a Manato e sentou-se na mesa. Manato se sentou na cadeira.

Embora os cantos dos pássaros e o murmúrio dos insetos fossem constantes, o lugar ainda era tranquilo. Talvez por causa das muralhas ao redor. Era muito diferente das florestas do Japão.

— Haru, você sempre esteve sozinho?

— Faz muito tempo que não vejo outras pessoas. A última vez que alguém veio do Japão para Grimgar foi… há cerca de 48 anos, talvez.

— Quer dizer que você nunca mais os viu?

— Eu tinha mantido contato com eles por alguns anos.

— Ah, quer dizer que eles não estavam sozinhos.

— Havia dois deles.

— Onde eles estão?

Quando Manato perguntou, Haru balançou a cabeça.

— Em Grimgar, os soldados divinos de Lumiaris e os vassalos de Skullhell estão em uma luta pelo poder. Não é que não haja outras facções, mas… eu não consegui contatar essas pessoas por muito tempo.

— Esses soldados divinos e vassalos são humanos?

— Alguns deles já foram humanos.

— E agora não são mais?

— Em Grimgar, existem raças diferentes dos humanos…

— Raças?

— Algumas são tão inteligentes quanto os humanos e se parecem bastante com eles, como os elfos ou anões. Também existem pessoas com chifres, como os pilarts; há centauros, goblins, kobolds… é como se houvesse humanos com diversas formas. Há muitas raças. As pessoas como você, Manato, são apenas uma dessas raças.

— Então, basicamente, todos são parecidos com humanos.

— Bom, de certa forma.

— Então, as pessoas que… adoram Lumiaris ou Skullhell, se tornam não-humanas?

— Sim. Pelo que eu sei, tanto os soldados quanto os vassalos já não podem ser chamados de humanos. Eles são algo diferente.

— Eles mudam, por exemplo, na aparência?

— … Sim. — Haru se inclinou e suspirou. — Não só na aparência, mas também no interior. Tudo muda. Tudo se transforma. Grimgar mudou. Tudo mudou…

Parecia estar bastante deprimido. 

As coisas haviam mudado muito. 

— Hã?

Manato inclinou um pouco a cabeça. Talvez fosse sua imaginação, mas parecia como se Haru estivesse dizendo que ele havia mudado. Nesse momento…

Um som de asas e folhas se agitando foi ouvido.

Eram pássaros.

Um grande número de pássaros se levantou de repente.

Um após o outro, a princípio na direção oposta às montanhas Tenryu, e depois, como em resposta, outros pássaros começaram a se levantar de diferentes direções. Os pássaros que haviam detectado alguma anomalia se levantaram das árvores em que estavam, e outros pássaros os seguiram. Era algo comum nas florestas.

— Haru.

Manato se levantou da cadeira.

— Ah. — Haru também se afastou da mesa. — … Me descuidei. Achei que não se aproximariam daqui.

— Quem?

— A aproximadamente quatro quilômetros a noroeste de Altana, há um assentamento de vassalos de Skullhell. É provável que sejam do grupo deles. Precisamos fugir.

— E o jardim? Vai abandoná-lo?

— Não se preocupe. Se necessário, eu vou…

Haru interrompeu-se e colocou a mão em sua capa, tirando uma adaga que segurou ao contrário. Manato pegou seu arco e tentou tirar uma flecha da aljava, mas Haru o deteve.

— As flechas não os machucam… —Eu sou um idiota. Não percebi nada.

O que Haru não havia percebido? Manato já entendia.

Na frente deles, na direção em que os pássaros voaram primeiro. Não era para lá, mas sim para a esquerda da floresta. Alguém havia invadido o jardim.

— Não. — Murmurou Haru. — Não é um vassalo… Um soldado divino…?

Era uma pessoa. Mas já não podia ser chamado de humano. Haru havia dito que tanto a aparência quanto o interior eram diferentes. De fato, era algo muito estranho.

Tinha uma cabeça, e do torso se estendiam dois braços e duas pernas. A forma era humana. Mas seu corpo estava coberto por algo com uma superfície lisa e brilhante. Parecia que uma placa metálica polida havia sido aderida ao corpo, mas era muito suave para ser metal. E os olhos. Tinha dois olhos. Esses dois olhos, surpreendentemente, brilhavam.

Segurava algo comprido com ambas as mãos. Provavelmente uma lança. Havia uma bandeira acoplada à lança. O desenho na bandeira não era um quadrado, um triângulo, nem um círculo. Manato não sabia como chamá-lo, mas tinha seis protuberâncias.

— Então, é um sacerdote… Vamos, Manato.

Haru começou a correr. Era melhor fazer o que ele dizia. Antes que pudesse pensar, o corpo de Manato se moveu sozinho, seguindo Haru.

Haru entrou na floresta na direção das montanhas Tenryu. Lá também havia algo. Olhos. Olhos brilhantes se voltavam para eles. Mas era apenas uma cabeça. A cabeça estava coberta com algo brilhante como metal. Não era igual ao que segurava a lança com a bandeira. Vestia roupas. Algo como um tecido branco enrolado ao redor do corpo, uma vestimenta folgada. Segurava algo parecido com um bastão. Não, não era apenas um bastão. Na ponta do bastão havia um objeto esférico. Seria bastante doloroso se te acertasse com aquilo.

— Haru!

— É um comandante divino.

Logo depois de dizer isso, Haru, que estava à frente, desapareceu repentinamente da vista de Manato. Manato ficou surpreso, mas pôde ver que Haru tinha abaixado sua postura e contornado uma árvore na direção diagonal direita. Ele se movia como um gato montês. Manato nunca havia encontrado um grande gato montês, mas se tivesse encontrado, provavelmente teria sido devorado. Manato só tinha visto gatos monteses médios, mas eles eram incrivelmente ágeis. Você pensava que eles estavam correndo entre as árvores e no momento seguinte estavam nos galhos, olhando para você de cima. Mesmo a pessoa mais rápida não poderia imitar esses movimentos. Foi o que ele pensou na época, mas parecia que não era impossível. Haru era como um gato montês.

A cabeça dele estava adornada por um brilho reluzente e seus olhos emanavam uma luz intensa — Um comandante dos soldados divinos, não é? — Contudo, Haru não estava na frente do comandante dos soldados divinos, nem ao seu lado, encontrava-se atrás dele.

Haru estava se movendo atrás do comandante divino.

— Incrível! — exclamou Manato com os olhos arregalados. Ele parou sem querer.

Haru estendeu a mão esquerda por trás e cobriu os olhos do comandante divino, agarrando o lado direito da cabeça. Ao mesmo tempo, com a mão direita, usou a adaga que segurava ao contrário para cortar a garganta do comandante divino. Era tão fácil assim separar a cabeça do corpo de um ser vivo? Devia haver uma técnica, algo sobre como aplicar a força, o ângulo, o momento. Provavelmente o ponto crucial foi como Haru segurou a cabeça do comandante divino com a mão esquerda, puxando-a para si ou torcendo-a. Não foi apenas um corte simples com a adaga. Haru girou o pulso em um movimento circular, movendo-o de cima para baixo em forma de oito.

Sem hesitar, Haru desferiu um chute contra o corpo do comandante divino. Manato inicialmente pensou que ele descartaria a cabeça, jogando-a para longe, mas isso não aconteceu. Haru lançou a cabeça do comandante divino para o ar e a pegou novamente com a mão esquerda. O topo da cabeça repousou na palma da mão de Haru.

Os dois olhos do comandante divino ainda brilhavam. Naquele momento, Manato notou que o comandante divino tinha algo que parecia uma boca. Onde deveria estar a boca de um humano, havia uma fenda horizontal. Essa fenda se abriu.

— Luz! Lumiaris! Que haja luz…! — Ele falou. Era uma voz, embora difícil de entender.

Embora fosse apenas uma cabeça.

— Aqueles que servem aos deuses não morrem com isso. — Haru mudou o ângulo da cabeça do comandante divino, girando-a para ele e inserindo adaga no pescoço.

— Ahh! Ahh! Luz! Lumiaris, eu posso ver a luz, a luz…! — O que Haru fez? Ele usou a adaga para mexer dentro da cabeça do comandante divino. Provavelmente havia algo mais. Com certeza havia algo dentro da cabeça. Ao danificar e destruir isso com a adaga, o comandante divino, que não morreu ao ser decapitado, pereceu. Algo essencial para a vida, como o cérebro ou o coração nos animais normais. O comandante divino ficou em silêncio. Seus olhos se apagaram.

Haru descartou a cabeça do comandante divino e rapidamente se moveu para a esquerda, afundando novamente como um gato selvagem. Havia outro ali, diferente do sacerdote ou do comandante divino, parecia humano. Mas sua pele era marrom acinzentada. Era magro e tinha orelhas pontudas. A roupa que usava era semelhante à do comandante divino. Na mão direita segurava uma espada, e na mão esquerda, algo parecido com um escudo. Seus olhos também brilhavam, mas ele não tinha a cabeça coberta com algo brilhante como o sacerdote ou o comandante divino. Era mais como os olhos de uma fera que brilham no escuro. Não exatamente igual, mas algo parecido. Haru derrubou o de orelhas pontudas de uma maneira ligeiramente diferente do que fez com o comandante divino. Ele se aproximou por trás de forma similar, mas após isso, cravou a adaga em uma direção diagonal, partindo da base do pescoço. Haru segurou a cabeça do de orelhas pontudas e moveu a adaga. Os olhos do de orelhas pontudas perderam o brilho e o corpo desabou.

— Manato, o que você está fazendo? Venha comigo! — Haru fez um gesto com a mão esquerda para que o seguisse. Manato retomou a corrida, mas se perguntava se estariam bem. Enquanto seguia Haru, Manato ficava de olho não apenas nas laterais, mas também atrás. Estavam sendo perseguidos. Não de uma única direção. Os inimigos estavam por toda parte. A área estava densamente povoada de árvores e havia restos de construções, então não se via muito bem. Mesmo assim, de vez em quando, ele via figuras que pareciam humanas. Também se ouviam passos e vozes.

— Luz!

— Luz!

— Luz!

— Que haja luz!

— Lumiaris!

— Luz! Lumiaris!

— Dê-me sua proteção!

Manato entendia algumas das palavras, mas outras não.

— Dieedenda!

— Aarfinke!

— Rorlbarol!

Mas certamente estavam gritando algo similar. O tom era parecido.

Eram muitos.

Não apenas cinco ou seis pessoas. Os perseguidores eram mais de dez. Talvez, dezenas.

Antes, Manato tinha sido perseguido por matilhas de lobos e grandes grupos de yakuza. Ser perseguido não o incomodava muito, mas sempre tinha a preocupação se conseguiria escapar ou se seria capturado. Normalmente, ele pensava que seria pego.

Ainda assim, era estranho. Desde que se livraram do comandante e do de orelhas pontudas, não tinham sido alcançados. Será que tinham muita sorte? Era apenas uma questão de sorte? Manato simplesmente seguia Haru. Foi Haru quem escolheu a rota de fuga, então ele devia ser muito bom nisso.

— Você está mantendo o ritmo sem problemas — disse Haru, olhando para trás. — Impressionante, Manato.

— Sim. Você também, Haru. Nem está sem fôlego.

— Você também não.

— Bom, está começando a ficar difícil, mas não tanto. Ainda consigo continuar.

Mais adiante, era possível observar uma muralha. Uma seção descia como um vale, e Haru provavelmente tinha a intenção de sair por esse caminho.

— Haru! À direita!

Quando Manato avisou, Haru respondeu brevemente com um “Ah”. Parecia que Haru também havia notado. Ainda estava longe, mas à direita, no alto da muralha, havia uma figura. Uma figura humana. Não era uma pessoa. Estava segurando uma lança com uma bandeira. Era um sacerdote. Parecia ter avançado.

Haru atravessou correndo o pelo vale da Muralha e saiu de Altana. Manato o seguiu.

Ao olhar para a direita, o sacerdote estava saltando da Muralha. Ele não estava sozinho. Havia um comandante com cabeça brilhante e vários com olhos brilhantes, todos na Muralha, seguindo o sacerdote.

Por alguma razão, Haru diminuiu a velocidade. Manato conseguiu alcançá-lo por causa disso.

— Ouça bem, Manato.

— Sim, estou ouvindo.

— Vá para a Arca. Você não conseguirá entrar sozinho. Esconda-se como puder e espere por mim perto da Arca.

— O quê? E você, Haru?

— Eu vou lidar com eles.

— Sozinho?

— Eu vou ficar bem.

— Mas…

— Eu vivi aqui por mais de cem anos. Mas não tenho confiança em proteger você e lutar ao mesmo tempo.

— Mais de cem anos…?! Sério?!

— Vá.

Haru indicou a direção da Arca com um gesto do queixo e então se virou.

Manato também girou sobre os calcanhares e desembainhou sua espada.

— … Manato?!

Haru parecia surpreso.

— Eu vou ajudar você!

Haru não pôde deixar de rir.

— Se ficar perigoso, eu vou fugir. Eu vou ficar bem.

— Você ficará bem?  Tem muita gente vindo. Veja, também do buraco na muralha por onde passamos antes.

O sacerdote que tinha saltado da muralha, um comandante e quatro ou cinco daqueles com olhos brilhantes, além de outros que emergiram do lugar por onde Haru e Manato escaparam.

— Haru, essas pessoas com olhos brilhantes, quem são mesmo?

— São soldados divinos.

Haru mudou a adaga para a mão esquerda e tirou outra arma de sua capa. Embora fosse ligeiramente diferente na forma, também era uma adaga. Haru segurava uma adaga em cada mão. Sem esperar, correu na direção do sacerdote. O sacerdote, o comandante dos soldados e cinco soldados divinos tentaram cercar Haru. Eram sete contra um. Era uma desvantagem esmagadora. Ele queria ajudar, mas se não cuidasse dos que saíam do vale na muralha, Haru estaria em uma situação ainda mais difícil.

Manato se lançou contra o comandante que tinha saído do vale. O comandante, de cabeça brilhante, tinha dois chifres. Haru tinha mencionado que havia muitas raças em Grimgar. Parecia que também havia pessoas com chifres. O comandante com dois chifres segurava um mace na mão direita. O comprimento do mace era mais ou menos o de um braço. O objeto circular que segurava na mão esquerda provavelmente era para defesa. Um escudo redondo, talvez. Parecia que também poderia usá-lo para golpear.

— Lorubadoru…!

O comandante com dois chifres avançou com o escudo redondo à frente.

Se Manato atacasse com sua espada, o comandante com dois chifres provavelmente bloquearia ou desviaria o golpe com seu escudo redondo, e então tentaria golpear Manato com seu mace.

Não fazia sentido enfrentá-lo dessa maneira. Manato desviou do escudo redondo que o comandante segurava na mão esquerda e se lançou para a frente, na diagonal direita. Ao se levantar depois de rolar, o comandante parou e se virou para olhar para Manato. Em vez de atacar Haru, estava atacando Manato. Isso era o que Manato queria.

Manato correu em direção ao vale na muralha. Dois, não, três soldados divinos, gritando algo relacionado à luz, avançavam em grupo.

Esse tipo de situação era assustador, mas quando as coisas se tornavam tão assustadoras, de alguma forma, deixavam de dar medo.

Era semelhante a pular de um lugar alto. Você pensaria: “Uau, que alto!” e “Isso é perigoso”.

Seu peito se contrai, a pele se arrepiava. Você sente que não deveria pular, mas ainda assim quer pular.

Seus pais sempre se preocuparam com esse lado de Manato. Os caçadores devem ser cautelosos. Um caçador que não conhece o medo tentará caçar presas que não consegue lidar e sofrerá as consequências. Um caçador deve ser quase covarde. Provavelmente, seus pais pensavam que Manato não tinha perfil para ser caçador.

Mas se sentia medo, mas não se importava, não havia nada a fazer. Quando Manato falava sobre isso, Junza, Amu e Neika também ficavam perplexos, então talvez Manato fosse um pouco estranho. Manato não desgosta tanto do medo. Na verdade, pode até gostar bastante. Quando sentia medo, era como se quisesse rir. Embora sem dúvida sentisse medo, também se divertia.

Sim. 

Era divertido. 

Quanto mais medo sentia, mais divertido era. 

Embora parecesse que Manato não pensava em nada devido ao quanto estava se divertindo, na verdade, estava avaliando a situação. Diante de três soldados divinos, observava seus movimentos e antecipava suas ações, decidindo o que fazer em cada caso. Sua decisão era instantânea, já que sua estratégia era clara: esquivar. Não fugir, porque se desse as costas, seria alcançado e derrotado. Simplesmente esquivar e esquivar continuamente.

Os três soldados divinos tinham armas e alcances diferentes: uma mulher de cabelo comprido com uma vara de ponta arredondada, um cara corpulento de pele verde com uma espada e um escudo, e um soldado de orelhas pontudas com um bastão longo. Além disso, um quarto soldado, o comandante de dois chifres, se juntou à batalha. Quatro contra um. Era ridículo. Uma desvantagem completa.

— Aarfinke…!

O soldado de orelhas pontudas balançou seu bastão na direção de Manato. O bastão vinha da direita. Se continuasse assim, ia acertá-lo. Manato não recuou nem diminuiu a velocidade. Não se moveu nem para a direita nem para a esquerda. Ia acertá-lo.

No último instante, Manato inclinou a cabeça, mantendo o olhar voltado para a frente. Ele se agachou a tal ponto que seus joelhos quase tocaram o peito, e o bastão passou rente ao seu corpo, apenas roçando seus cabelos. Em seguida, Manato avançou em direção ao soldado de orelhas pontudas, não por meio de uma investida, mas utilizando sua espada. A lâmina penetrou de forma surpreendentemente profunda no abdômen do soldado, quase alcançando o punho. Ele se questionou se conseguiria retirar a espada de volta.

— …!

Manato puxou com força o cabo com a mão direita enquanto empurrava o peito do soldado com a esquerda, conseguindo extrair a espada. Em nenhum momento o soldado soltou seu bastão. Manato cortou o pulso direito do soldado com sua espada, como se fosse manteiga. A espada tinha uma facilidade surpreendente para cortar coisas.

— Aarfinke, Lumiarishel…!

Apesar de estar ferido no abdômen e ter perdido uma mão, o soldado tentou se levantar. Manato pensou que teria que decapitá-lo, mas o corpulento soldado de pele verde o atacou. Manato mal conseguiu desviar a espada do soldado verde, mas isso fez com que sua postura vacilasse.

— Que força…!

— Igranasha…!

O soldado verde continuou atacando rapidamente. Manato, segurando sua espada com ambas as mãos, quase perdeu para a força do soldado verde que usava apenas uma mão. O soldado verde era enorme e sua espada, embora curta, era grossa e pesada. Era impressionante como ele conseguia manejá-la com uma só mão.

— Luz…!

Então, a mulher avançou em Manato. Manato se lançou ao chão para evitar o golpe, rolando para depois se levantar, mas o soldado de orelhas pontudas investiu contra ele.

— Aarfinke…!

— E-Ei…!

Manato chutou o soldado de orelhas pontudas, que colidiu com a mulher.

— Diedenda…!

Mas o soldado verde saltou em direção a Manato, como se quisesse pisoteá-lo.

— Não—espera…!

Manato se levantou rapidamente, apenas para se deparar com o comandante de dois chifres.

— Rolbarol! Lumiaris…!

— Droga…!

Isso é ruim. Muito ruim. Manato não conseguia distinguir o que estava esquivando. Embora sem entender o que estava acontecendo, continuou desviando de tudo o que vinha em sua direção, tudo o que tentava destruí-lo, cortá-lo ou capturá-lo.

— Guh…?!

A espada quase escapou de suas mãos quando um golpe a desviou para a esquerda. Não conseguiu bloquear completamente a espada do soldado verde. Um momento depois, sentiu um forte impacto. Talvez tenha sido chutado. Não conseguia respirar direito, mas seu corpo continuou se movendo.

Manato tentou se afastar do comandante e dos soldados. Havia uma parede próxima. Sorriu ou pelo menos tentou. A parede tinha rachaduras suficientes para escalá-la facilmente. Embora se perguntasse se era correto dar as costas aos soldados, decidiu que era melhor subir rápido.

Manato se agachou na parte superior da parede e olhou para baixo. Os soldados o observavam com olhos brilhantes. Não o seguiram. Foi então que se deu conta de que não tinha sua espada, nem seu arco nem sua aljava. A dor em seu peito intensificou-se, mas ainda conseguia respirar.

Ali estava, sua espada.

Estava atrás do comandante. Droga, tenho pegá-la. Meu peito dói. Será que quebrei algum osso? Alguma costela, talvez? Ah, sim, provavelmente foi o escudo. O soldado de pele verde me atingiu com o escudo. Foi naquele momento. 

O soldado divino de orelhas pontudas estava fazendo algo. Com sua mão direita. Estava tentando reencaixar a mão direita que Manato cortou. Será que podia colar? Não sabia. Manato nunca tentou colar algo assim.

— Ah…

Manato sacudiu a cabeça. Estava um pouco atordoado. Seu peito doía. Mas ficaria bem. Podia suportar. A dor eventualmente passaria. E se fosse um osso quebrado, bem, antes já havia quebrado ossos. Várias vezes. Muitas vezes, na verdade.

Papai e mamãe sempre se admiravam. 

“Ué, Manato, já colou o osso de novo? É incrível, Manato! Não é impressionante?

“Sim, é bastante impressionante.”

Os três riram juntos.

Não era hora de lembrar disso.

O comandante chutou a parede. Então, a mulher e o soldado de pele verde largaram suas armas e escudos. Pareciam estar planejando subir.

— Manato…!

Era a voz de Haru. Ao olhar, viu que Haru estava cercado por um sacerdote com uma lança com bandeira e dois soldados divinos. Vários estavam no chão, então Haru deve ter se encarregado dos demais.

— Ganhe tempo, vou te ajudar logo…

— Tudo bem!

Manato riu de suas próprias palavras. ‘Tudo bem’? O que estava bem? 

Olhou em direção a Altana e viu algumas sombras se movendo na floresta, embora não pudesse distinguir se eram o comandante ou os soldados divinos. Da brecha na muralha, o comandante, com a cabeça coberta por algo brilhante, começou a correr. Os soldados divinos o seguiram. Embora Haru tivesse reduzido seu número, agora eram mais.

— Haha…!

Foi realmente engraçado. Junza me advertiu muitas vezes. Eu rio demais em momentos estranhos. Mas o que posso fazer? Quando algo é engraçado, simplesmente rio. 

— Vamos!

Manato pulou da parede. Pulou o mais longe possível para evitar ser pego pelo soldado divino de pele verde e pela mulher que estavam escalando. Será que poderia pular sobre o comandante? Se não pudesse, seria um problema.

— Brobrar! Lumiaris…!

O comandante ergueu um escudo redondo. Tentaria derrubar Manato com mace. Manato riu. Isso é ruim. Estou no ar, não há como desviar. Ou será que há? Talvez. 

Manato abraçou os joelhos com ambos os braços. Se se encolhesse um pouco, seria mais difícil o mace do comandante acertá-lo.

Talvez. 

Quem sabe? 

— Guh…!

Não funcionou.

Foi atingido com força no lado esquerdo do corpo e caiu no chão. Por um momento, ficou atordoado, mas a espada, precisava pegar a espada. Ali estava. A espada. 

— Kaah…!

Manato agarrou a espada com ambas as mãos e levantou-se rapidamente, balançando-a com força. Ele conseguiu acertar. A espada desviou o mace do comandante. Foi pura sorte. Era algo para se rir.

— Nugh! Guh! Tsa…!

Parece que todo o corpo dói, mas não posso me preocupar com isso agora. Manato continuou balançando a espada, uma vez após a outra. Recuar pareceria uma derrota. Com a espada, simplesmente continuou indo em frente, em frente, em frente.

Manato não recuou. Provavelmente o comandante estava fazendo isso.

Bem quando pensou que estava ganhando, algo o atingiu de lado. Não havia como desviar.

— Oh…!

Caiu de lado e, sem demora, provavelmente foi chutado. Que força incrível! Uma força de pernas incomparável. Deve ter sido o soldado divino de pele verde. 

Foi chutado e rolou pelo chão, que era uma espécie de prado ou matagal não muito denso, então, deitado assim, sua visão estava obstruída pela grama e já não podia distinguir nada. Embora não estivesse deitado de propósito.

— Nng…?!

Recebeu um golpe forte do ombro esquerdo até as costas.

Não sentiu tanta dor quanto calor.

O que seria isso? 

Será que foi cortado? 

— Manatooo…! — gritou Haru de algum lugar.

Talvez devesse ter fugido. Pensou isso brevemente. Deveria ter feito o que me disseram? 

— Aaarrgh…!

Manato se virou de costas e, segurando a espada apenas com a mão direita, a balançou. Seu braço esquerdo, não sabia se por causa da dor ou o quê, não se movia como deveria. Não só seu braço esquerdo, nada parecia funcionar como deveria.

Pôde ver que havia muitos soldados divinos e comandantes ao redor. Não pôde contar quantos, mas soube que eram muitos. Não sentiu medo. Nem um pouco.

Tampouco era divertido, então não pôde rir.

O que é isso? O que estou fazendo? Isso não está certo. 

Talvez devesse ter fugido. Haru me disse para ir para a Arca. Foi um erro não fazer isso? 

— Aahh…

De repente, a espada saiu da mão direita de Manato e voou para algum lugar.

O comandante estava de pé sobre o peito de Manato. Levantou seu mace e olhou para Manato com olhos brilhantes.

Algo estava voando no céu. Seriam pássaros? Pareciam muito grandes. Talvez estivessem perto ou voando baixo. Dois, dois pássaros? Não. Eram duas criaturas, o que quer que fossem, cruzaram por cima do comandante, desaparecendo de vista. Pássaros. O que os pássaros tinham a ver com isso? 

— Albelaro Lumiaris Lerr…!

O comandante dos soldados divinos disse algo.

O que ele estava dizendo? Manato não fazia ideia. A mulher se inclinou e aproximou seu rosto de Manato.

— Renda-se a Lumiaris. Assim você será salvo para sempre.

Manato olhou involuntariamente para a mulher. Ao contrário dos sacerdotes e dos comandantes, cuja cabeça estava coberta com um material brilhante e cujas órbitas resplandeciam, os olhos humanos que emitiam luz eram mais inquietantes. No fundo daquela luz, viu uma figura com seis protuberâncias, a mesma que estava desenhada na bandeira do sacerdote.

— Abandone a fraqueza, renda-se à luz. — disse a mulher, seu tom era estranhamente gentil.

Render-se. O que significava isso? Não sabia bem, mas devia ser algo como obedecer ou se unir a eles.

Manato riu. Ao fazer isso, seu corpo doeu tanto que não pôde evitar rir mais.

— Absolutamente não.

— Então, morra.

A mulher sussurrou e olhou para o comandante, balançando a cabeça.

O comandante assentiu. Planejava golpeá-lo com o mace que estava levantando? Onde iria acertar com aquilo? No rosto? Se isso acontecesse, seu rosto se destroçaria e provavelmente não se curaria facilmente. Talvez até morresse. Iria morrer? Assim, sem mais nem menos? 

Manato tentou escapar, mas parecia que não conseguiria a tempo.

——!

Se Haru não tivesse decapitado o comandante com suas duas adagas por trás, o rosto de Manato teria sido despedaçado. Desde quando ele estava lá? Haru. Até um momento antes, não estava lá.

— Manato…!

Haru chutou o comandante decapitado e, em seguida, decapitou a mulher. Como isso foi possível? Aos olhos de Manato, parecia que a adaga na mão direita de Haru havia se alongado repentinamente. A lâmina se estendeu em um instante e cortou de forma precisa a cabeça da mulher. Seria isso realmente possível? Considerando que a mulher estava de quatro, Haru deveria ter se agachado para atingir seu pescoço com a adaga. Contudo, ele não fez isso; realizou o ato em pé. A adaga de Haru se alongou?

— Manato, você consegue se levantar…? — perguntou Haru enquanto estendia sua adaga em direção ao soldado de pele verde.

Não havia dúvidas. Quando Haru brandia sua adaga direita, a lâmina se estendia. O soldado de pele verde mal conseguiu contê-la com seu escudo, mas não conseguiu avançar. Haru continuava a estender a adaga repetidamente, mantendo o soldado na defensiva. A arma parecia mais uma corda do que uma adaga. Mas as cordas não se esticam. O que era aquilo? 

— Manato!

— Oh! Sim…

Ainda não havia respondido se conseguia me levantar. Manato saltou com um impulso. Embora todo o seu corpo doesse, conseguia se mover.

Haru fez o soldado de pele verde recuar com sua adaga estendida e habilmente desviou o bastão que o soldado de orelhas pontudas havia lançado. Nesse momento, a adaga estendida de Haru já havia decapitado o soldado de orelhas pontudas.

Manato procurou sua espada. Aonde ela tinha ido parar? Não conseguia encontrá-la. Mas, no momento, a espada não era tão importante. Não tinha certeza, mas parecia que inimigos estavam saindo dos vales da muralha. Quantos eram? Saíam em fila. E não era só isso. Também havia soldados na muralha. Na verdade, era apenas um comandante. Mas havia vários soldados.

— Malditos orcs! Sempre são difíceis de vencer…!

Haru estendeu sua adaga em direção ao soldado de pele verde, forçando-o a usar seu escudo, e se aproximou no momento oportuno. Haru era rápido desde o primeiro passo. O segundo passo foi ainda mais rápido e não era um movimento reto, então quase o perdeu de vista.

E aquilo de que era difícil de vencer?

Haru rapidamente se posicionou atrás do soldado de pele verde e, com ambas as adagas, a estendida na direita e a normal na esquerda, cortou o pescoço do soldado. Foi uma execução impecável.

Fazer algo assim devia ser incrível.

Haru olhou para Manato.

— Corr—

Certamente ia dizer algo mais. Mas não o fez porque o comandante de dois chifres havia se levantado.

— Lumiaris…! Brobrol…!

Manato, em choque, soltou uma risada. Foi mais um “eh” do que um “há”.

O comandante segurava sua cabeça com ambas as mãos, pressionando-a contra o pescoço.

Não podia ser. Não se grudaria, não importava o quanto tentasse. 

Mas, agora que pensava, o soldado de orelhas pontudas havia segurado a lança com ambas as mãos, apesar de Manato ter cortado sua mão direita. Havia se colado de novo em tão pouco tempo? Ele conseguiu?

Então, a cabeça também se colaria? Como seria isso? Mãos e cabeças são coisas diferentes. Completamente diferentes. 

Ou não? 

O comandante soltou a cabeça. Sem dúvida, ele a soltou e a cabeça não caiu.

Havia se colado.

— Não consegui quebrar completamente o núcleo de luz…

Haru disse algo que Manato não entendeu muito bem, e estendeu sua adaga direita. O comandante tentou bloquear a adaga estendida com seu braço esquerdo, mas seu braço foi cortado pela adaga. Sem se preocupar, o comandante avançou contra Haru.

— Sério…!

Haru chutou o peito do comandante com o pé direito, fez ele recuar e, sem hesitar, o chutou novamente com o pé esquerdo, derrubando-o.

Precisamos fugir. 

Manato tentou correr. Dessa vez, seguiria as palavras de Haru.

— Luz!

— Iglansha! Diedadnda!

— Lumiaris! Rolbarol!

— Arfinque! Lumiaris!

— Aceite a proteção de Lumiaris…!

Estavam chegando.

O comandante.

Os soldados.

E também um sacerdote coberto de material brilhante dos pés à cabeça.

O sacerdote brandia a bandeira em sua lança, instigando os comandantes e soldados. Haru não conseguiu eliminar o sacerdote. Na verdade, o comandante havia ressuscitado mesmo após ser decapitado. Seria possível que ele pudesse morrer? Normalmente, a decapitação resultaria na morte de uma pessoa. Mesmo que a situação não fosse comum, a morte ainda seria um resultado esperado. Entretanto, o comandante havia retornado à vida. Ou talvez nunca tivesse estado realmente morto? A decapitação não o exterminou. Em síntese, essa era a situação. O sacerdote parecia ser igualmente resistente, ou até mais do que o comandante. Nem mesmo Haru conseguia derrotá-lo. Isso era um indicativo preocupante. Apesar do medo que o consumia, Manato não conseguia sentir alívio ou diversão; a situação não era, de forma alguma, engraçada. Ele precisava encontrar uma maneira de escapar. Embora sua mente reconhecesse essa necessidade, seu corpo não respondia com a agilidade desejada.

— Em momentos como esse, é bom rir.

Apareceu o rosto enrugado do papai, com os dentes faltando. 

— Rir faz a tensão dissipar.

Também o rosto da mamãe, ambos muito enrugados, e isso era porque tanto o papai quanto a mamãe riam com os rostos completamente enrugados. 

— Não importa o momento, se você rir, será capaz de aguentar e superar.

Manato aprendeu isso com seus pais. Quando era pequeno, nas vezes em que chorava, seus pais sempre tentavam fazê-lo rir de alguma forma. Principalmente, os dois sempre riam. Manato também ria ao vê-los.

Ele entendia.

Houve momentos em que não tinha a mínima intenção de rir. Na verdade, era quase certo que nem o papai nem a mamãe tiveram um único dia sem dor ou sofrimento. Nos momentos de grande dor, forçavam um sorriso. Às vezes, suas risadas pareciam desesperadas.

Mas rir sempre era melhor do que não rir.

É muito melhor poder rir do que não poder fazer isso.

Todos, em algum momento, vão morrer. Manato também vai morrer.

Até o último momento antes de morrer, como seus pais, ele queria continuar rindo enquanto pudesse.

— Hahaha…

Então Manato forçou um sorriso. Dessa forma, começou a se sentir um pouco melhor. Sentindo-se melhor, seu corpo começou a se mover.

Haru tinha a intenção de deixá-lo passar primeiro. Provavelmente, Haru seguiria logo atrás dele. Então, Manato tinha que correr o mais rápido que pudesse. Era melhor não olhar para trás. Pensava assim, mas não podia evitar. Estava perto. O comandante. Os soldados divinos. Estavam se aproximando bastante.

— … O quê?!

Algo veio voando da direção oposta à de Altana.

Não na horizontal.

Era diagonal.

Estava descendo, ou seja, estava vindo diagonalmente do céu.

Era um ser vivo.

Tinha asas.

Era grande.

Um pássaro.

Não, não era um pássaro. Era muito maior que um humano. 

Há pouco, algo estava voando. 

Naquele momento, acima do comandante com chifres, algo que se assemelhava a um pássaro cruzou sobre sua cabeça.

Mas era algo muito grande para ser um pássaro. 

Poderia ser aquilo? 

— Um dragão?! — gritou Haru.

Um dragão. 

Era um dragão? 

Tinha asas e duas patas. 

O dragão atingiu o comandante e os soldados divinos, lançando-os ao ar. Ele não aterrissou, permanecendo nas alturas. Movendo suas asas com vigor, o dragão continuava a ascender, mantendo-se em pleno voo.

Manato viu. Alguém ou algo saltou das costas do dragão. Uma pessoa? Seria um humano? Embora não estivesse usando uma capa, estava vestido de forma semelhante a Haru. Não conseguia ver bem seu rosto. Embora não fosse uma máscara como a de Haru, usava algo parecido com óculos robustos e algo cobria a parte inferior do rosto. 

O dragão parecia prestes a colidir com a muralha, mas conseguiu ganhar altura sem colidir.

— Carambit! Espere por mim na montanha…!

Essa era a voz do humano que havia saltado do dragão? Sim. Os humanos podiam ser homens ou mulheres. Bem, seus pais haviam lhe dito que não era tão simples, mas seu pai era um homem, sua mãe uma mulher, Haru provavelmente era um homem, e Manato também era um homem, assim como Amu e Neika eram mulheres. Aquela pessoa, a que saltou, provavelmente era uma mulher. Entre homens e mulheres, o físico e o tom de voz eram um pouco diferentes. Em geral, os homens eram maiores. Aquela mulher parecia ser um pouco mais baixa que Manato ou Haru.

A mulher sacou a espada que carregava nas costas na diagonal e se aproximou dos soldados divinos que não foram chutados pelo dragão. Caminhou de maneira desleixada e, com apenas sua mão direita, moveu a espada rapidamente. Com esse simples movimento, cortou de uma vez os braços direito e esquerdo dos soldados divinos.

— Sou Yori, filha de Rinka e Ruden Arabakia! Vejo que são muitos contra poucos, então vou ajudar!

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