Hai to Gensou no Grimgar – Capítulo 10 – Volume 21 - Anime Center BR

Hai to Gensou no Grimgar – Capítulo 10 – Volume 21

Capítulo 10

Sobre o fato de ser eu mesmo.

Haru se adiantou e atacou silenciosamente o soldado vassalo que caminhava junto à carroça. Manato observava a cena dos arbustos atrás da carroça, quando Haru atacou com sua adaga estendida e o soldado vassalo se abaixou para esquivá-la. Até pouco antes, ou melhor, até aquele exato momento, Manato não sabia onde Haru estava.

Haru era muito bom em desaparecer. Embora não desaparecesse de verdade, parecia fazê-lo. Como ele fazia isso? Gostaria que alguma vez lhe ensinasse.

Mas, embora Haru parecesse desaparecer e reaparecer de repente, o soldado vassalo reagiu rapidamente. Não só esquivou a adaga estendida, como também contra-atacou imediatamente.

Arremessou na direção de Haru o braço de um goblin que ainda não havia terminado de consumir.

— Tsk…! — Haru afastou o braço do goblin. Nesse instante, o soldado vassalo tentou se aproximar de Haru. Haru saltou para trás para manter a distância. O soldado vassalo o perseguiu.

A carroça freou. Os dois orcs que a puxavam perceberam a situação e pararam.

Yori e Riyo, que estavam ao lado de Manato até recentemente, correram em direção à carroça, mais especificamente, direcionaram-se para a parte frontal da carroça, visando os orcs que a puxavam.

Haru explicou rapidamente as diferenças entre os vassalos comuns e os soldados vassalos. Os soldados vassalos eram bastante problemáticos, enquanto os vassalos comuns não eram tanto. Mesmo sendo grandes orcs, Yori e Riyo podiam se livrar deles com facilidade. Após isso, Yori e Riyo iriam dar apoio a Haru.

Manato saiu dos arbustos. Embora se preocupasse com o resultado da luta de Haru, ele também tinha um trabalho a fazer.

Ele correu em direção à carroça, mas não para a parte da frente. Ele foi para trás, ao contrário de Yori e Riyo. Manato correu a toda velocidade rumo à parte traseira da carroça.

Os goblins que estavam em silêncio dentro da jaula finalmente perceberam o que estava acontecendo e começaram a olhar nervosamente ao redor, gemendo: “Aa, Uu”.

A parte traseira da jaula tinha uma porta que podia ser aberta e fechada, e não estava trancada. Tinha um trinco exterior. Só era necessário removê-lo para abrir.

Manato removeu o trinco e abriu a porta.

— Vamos, saiam! Fujam!

Os goblins olharam para Manato, mas não tentaram sair. Estavam surpresos? Talvez não entendessem o que estava acontecendo e estivessem confusos.

— Bem… vamos logo, saiam. Fora. Se ficarem aqui, serão levados e comidos. Entendem? Serão comidos!

Manato simulou morder seu próprio braço esquerdo.

— Vão comer! Entendem? Vão comer vocês, como fizeram com seu companheiro há pouco!

Os goblins o encararam intensamente. Alguns estavam visivelmente tremendo, enquanto outros demonstravam surpresa. É provável que não compreendessem o que Manato tentava comunicar.

— Bem… de qualquer forma…

Era inevitável que os goblins não compreendessem suas palavras. Mas estavam presos na carroça-jaula. Agora podiam sair. Isso eles deveriam entender apenas vendo.

Por que? Por que nenhum dos goblins tentava sair?

Claro, para os goblins, Manato era um humano desconhecido. Não podiam evitar suspeitar dele. Mas ainda assim, se fossem levados, seriam comidos. Não importava quem fosse Manato ou o que ele estava dizendo, deveriam tentar escapar. Se Manato fosse um goblin, isso é o que faria.

Embora desejasse convencê-los, não conseguia estabelecer comunicação. Manato segurou o braço do goblin mais próximo, mas ao tentar puxá-lo, foi mordido.

— Ai!

Quando soltou a mão, o goblin imediatamente parou de mordê-lo. Os dentes do goblin eram bastante afiados, mas não havia sangue. Só doía um pouco. Não era grande coisa.

— Mas… vocês precisam sair… deveriam querer escapar… Não vão escapar? Por quê? Vamos, saiam… O que eu faço, o que eu faço…?

Manato recuou e se afastou da carroça.

Não tinha considerado isso.

Embora tivesse a intenção de deixar os goblins escaparem, eles não fugiram.

— Ihaaa!

De repente, alguém gritou. Alguém. Quem era? Um goblin. Parecia que um dos goblins dentro da jaula tinha gritado.

Aquele goblin afastou os outros goblins e enfiou a cara para fora, olhando para Manato.

— Nihaaa!

Não, não para Manato. Atrás de Manato.

Manato se virou.

— Droga—!

Murmurando involuntariamente, desembainhou sua espada. Escuro. Não completamente escuro, mas talvez com um tom azulado. É um soldado vassalo com escamas azul-marinho. Um guarda do criadouro? Provavelmente sim. O criadouro estava a uma distância considerável. Atacaram o veículo deliberadamente longe do criadouro. Mesmo assim, pareciam ter sido detectados.

O soldado vassalo de escamas azul-marinho corria em direção a ele. De alguma forma, sentia que se recuasse, seria derrotado. Manato avançou. Ao dar um passo, quase podia alcançar o soldado com sua espada.

Perto.

Manato balançou sua espada com força.

Falhou.

Mais do que falhar, sabia que não acertaria o alvo. E assim foi.

Por um momento, perdeu de vista o soldado. No momento seguinte, Manato estava rolando pelo chão.

Fui chutado?

Algo o golpeou no lado direito. Isso o fez cair, e quando seu corpo ficou de barriga para cima, pisaram em seu estômago.

— Ungh…!

Não foi uma vez. O soldado o chutou mais duas ou três vezes seguidas no abdômen. Sentia que seu estômago estava prestes a explodir. Não seria surpresa se seus órgãos internos já estivessem despedaçados. Ou talvez estivessem sendo esmagados dentro de seu corpo.

Algo subiu por sua garganta e transbordou pela boca.

Vômito.

Não sabia o que era, só que era amargo e cheirava a peixe.

— Gah!

Balançou sua espada freneticamente, e o soldado recuou com agilidade. Manato se levantou rapidamente, mas não sentia força na parte inferior do corpo e acabou cambaleando. Em seguida, o soldado voltou a atacá-lo com chutes e golpes.

— Aah!

Ele caiu de costas no chão e ficou sem fôlego. Embora estivesse sem ar, se não se movimentasse, seria morto. A luta estava difícil. Teve o pescoço segurado, mas conseguiu soltar a mão. Em seguida, recebeu vários socos no rosto, deixando seu olho esquerdo comprometido. O soldado se atirou sobre ele e o agarrou com força em algum lugar.

Onde ele estava segurando?

Visto de perto, o soldado vassalo, embora Manato só pudesse ver com seu olho direito, não se parecia em nada com um humano. Não só sua pele estava coberta de escamas azul-marinho, mas seus traços faciais eram, como descrever? Manato nunca tinha visto uma criatura similar, talvez uma mistura entre peixe e inseto.

Um peixe?

Um inseto?

Algo intermediário?

O que era?

— Aaaaaaahhhhhh!

Vai esmagar.

Vai esmagar. Vai esmagar. Vai esmagar.

Vai esmagar

Minha cabeça vai ser esmagada.

Vai esmagar. Minha cabeça.

Minha cabeça.

O soldado vassalo estava agarrando a cabeça de Manato com ambas as mãos. Tentava esmagá-la?

— Shishishishishishishishishi…!

Ouviu um som, uma voz. Provavelmente era a voz do soldado vassalo.

Está rindo? Que inferno?

Sério? Minha cabeça—droga.

— Ugiigii!

Essa era outra voz.

Não era a voz do soldado vassalo.

Nem de Manato.

Um goblin?

Algo estava se agarrando ao soldado por trás. Era um goblin?

Sim. Era um goblin.

Um goblin estava preso às costas do soldado, mordendo seu pescoço. A pele do soldado era resistente. Não tão dura quanto uma rocha, mas possuía certa elasticidade, tornando-se muito firme. Manato se perguntava se os dentes do goblin conseguiriam perfurar aquela pele. No momento, porém, o goblin continuava tentando morder.

O soldado que estava prestes a esmagar a cabeça de Manato com ambas as mãos apenas liberou a mão esquerda.

Mão que estendeu em direção à cabeça do goblin.

Oh, não. Isso é ruim.

Vai esmagar a cabeça do goblin.

Manato era resistente, mas aquele goblin estava no criadouro e provavelmente não estava em boas condições. Ele não parecia ter um corpo forte e era muito menor que Manato.

Manato não estava com sua espada. Ela havia ido parar em algum lugar.

Mas ele tinha uma adaga.

Quando o soldado o agarrou pela cabeça com ambas as mãos, Manato não teve tempo para se preocupar com isso, mas ao ser segurado com uma mão, teve um pouco mais de folga.

Dessa forma, Manato conseguiu segurar o cabo da adaga com uma empunhadura invertida e desembainhá-la.

Com um único movimento, cravou-a sob o queixo do soldado vassalo, atingindo sua garganta.

— Koff…

Esse som escapou da boca do soldado. Não tinha certeza se o soldado havia vacilado, mas a pressão sobre Manato diminuiu. Manato gritou enquanto tentava afastar o soldado.

— Fuja…!

Sentiu que fez contato visual com o goblin. Embora não entendessem as palavras, sentiu que o goblin compreendia sua intenção.

O goblin gritou algo e recuou diante do soldado. Ótimo. Manato segurou sua adaga com ambas as mãos. E quando tentou exercer mais força, o punho do soldado desceu.

Ah, isso é péssimo. Mas, o que posso fazer?

Manato instintivamente bloqueou o punho do soldado com sua testa. Provavelmente, o soldado estava tentando atingir seu olho direito. Pensando que se seu olho direito fosse atingido, ele estaria acabado, Manato moveu ligeiramente a cabeça para evitar o golpe. Com isso, conseguiu evitar perder a visão nesse olho, mas tudo ao seu redor estava girando.

Isso era ruim. Realmente ruim.

Se alguém não tivesse afastado o soldado, provavelmente teria sido o fim.

Podia ver com seu olho direito, embora de forma borrada, e reconheceu Riyo. Riyo tinha vindo ajudar.

Manato tentou se levantar. Queria ficar em pé, mas só conseguiu rolar e ficar de bruços. A dor era intensa. Ele não conseguia compreender por que doía tanto. Manato estava confuso. De qualquer modo, a dor era insuportável.

Riyo parecia estar lutando.

Sentiu que Yori chamava seu nome.

Depois, também Haru.

Perguntaram se estava bem.

Manato tentou responder que sim, que estava bem, mas não tinha certeza se conseguiu. Talvez só tenha tentado responder.

Com a cabeça baixa, não conseguia ver nada, embora, de qualquer forma, tivesse com dificuldades em enxergar bem. Tentava erguer a cabeça.

Embora devesse ter sido diferente, de repente, o solo estava muito próximo do seu rosto.

A grama não crescia muito por onde a carroça passava, e havia sulcos no chão. Se chovesse, aquilo se tornaria um lamaçal.

Pressionando seu rosto contra o chão, sentiu uma dor considerável, então Manato colocou os braços cruzados sob sua testa. Onde seus braços tocavam, doía muito.

É tão intenso que me faz rir.

Rir faz meu corpo todo doer. E isso também é engraçado.

Não podia continuar rindo, então Manato levantou a cabeça novamente. Não podia ver com seu olho esquerdo, mas parecia que seu olho direito estava bem. De alguma forma conseguia mover seu corpo. Manato tentou se levantar. Conseguiu ficar de quatro.

— Ah…

Os goblins. Do lado de fora da entrada da carroça-jaula, havia goblins. Alguns tinham saído, mas a maioria ainda estava dentro da jaula. Uma grande maioria.

Um goblin estava chamando os outros da porta. Provavelmente lhes dizia para sair, para fugir, para se apressar.

Talvez fosse aquele goblin. O que tinha se agarrado e mordido o soldado vassalo. Podia ser. Manato não conseguia distingui-los, mas tinha essa sensação.

— Manato!

Ao ouvir seu nome, levantou a cabeça e viu Yori.

— Nossa, que horrível! — gritou Yori com uma expressão de dor, e Manato começou a rir.

— Eu é que estou sentindo dor, sabe?

— Como pode rir nesta situação…?

— Bem, dói em todo lugar… mas… está curando…

Riyo se inclinou e entrou parcialmente na jaula, agarrando os goblins e jogando-os para fora. Os goblins se empurravam e puxavam entre si, tentando chegar à porta.

Restavam poucos goblins dentro da jaula. O que teria acontecido com os dois soldados e os dois orcs? Não se viam em lugar algum. Teriam lidado com eles?

— Precisamos sair daqui! — Haru se aproximava correndo.

— Você só pode estar brincando! — respondeu Yori instantaneamente. — Ainda devem haver goblins nos criadouros! Pelo menos devemos libertá-los!

— Então, o que faremos com Manato?

— Estou bem!

Manato levantou-se rapidamente. Ficou surpreso ao perceber que conseguia ficar em pé.

— Oh… buf…

Algo saiu de sua boca.

— Sangue? — disse Yori e tentou ajudá-lo. Mas Manato se afastou.

— Não, estou bem, estou bem… buf…

— Você não pode estar bem!

— Não, não vou morrer por causa disso… acho…

— Qualquer um na sua situação já estaria morto! — Haru o repreendeu. Manato não era uma pessoa normal? Na verdade, ele era diferente de Junza. Diferente ou não, se podiam ser considerados amigos, eram amigos. Isso não importava. Mas era estranho que Haru dissesse algo assim.

— Guh… buf… cof…

— Este cara está rindo e cuspindo sangue…

— Não dói tanto, estou bem…

— Não, devemos evacuar para um lugar seguro com Manato. — Haru o levantou nos braços. — Yori, Riyo, por favor, façam o que digo.

— Certo. Haruhiro, leve Manato. Riyo! — Yori chamou Riyo e correu. — Vamos para o criadouro!

Riyo seguiu Yori, e Haru, carregando Manato, as acompanhou.

Por que isso tem que acontecer…?

Manato desejava ser colocado no chão para poder correr por conta própria, mas ainda não conseguia correr tão rápido. Além disso, se tentasse correr, com certeza acabaria cuspindo sangue. Nunca imaginou que chegaria a um ponto em que correr o faria cuspir sangue. Era engraçado.

—Não, precisa se controlar.

Ainda há pouco, ao tentar rir, ele acabou cuspindo sangue. Independentemente do que tentasse fazer, cuspiria sangue. Que tipo de pessoa cospe sangue com tanta frequência? É realmente engraçado.

—Não, não posso rir. Rir é proibido.

Deve tentar evitar pensar em coisas que o façam rir, tanto quanto possível.

— Ah, a espada… e também a adaga…

— Não importam!

Haru se irritou. Ele também está enfrentando problemas. Manato pensou nisso como se fosse um assunto alheio. Mas não era. Quem estava causando todos esses problemas? Manato. Talvez não fosse só Manato, mas pelo menos metade, senão mais, fosse culpa dele. Como podia rir? Quanto mais tentava se repreender, mais vontade de rir sentia.

Junza e os outros lhe disseram inúmeras vezes para não rir e ser sério. Embora não tivesse a intenção de brincar, ao rir dava a impressão de não levar as coisas a sério. Ele precisava ter cuidado. Apesar de estar ciente disso, simplesmente não conseguia evitar o desejo de rir.

Só restava rir.

Embora não fosse fazer isso.

Não podia se permitir.

Yori e Riyo tentavam abrir o portão do criadouro.

— Yori…! — gritou Haru.

Do alto do muro que cercava o criadouro, o outro soldado vassalo que estava de guarda avançou em direção a eles, saltou do muro e lançou-se sobre Yori e Riyo.

Riyo foi quem o confrontou. Girou o corpo em diagonal e chutou o soldado com suas longas pernas. O soldado foi derrubado, mas rapidamente se levantou e tentou atacar Riyo novamente. No entanto, ele não teve a menor chance; Riyo nem precisou esperar o soldado se aproximar, pois já estava avançando em sua direção.

Yori estava esforçando-se para remover o ferrolho e abrir o portão. Até mesmo dois orcs enfrentavam dificuldades para abri-lo e fechá-lo. Não se abriria facilmente.

e’lumiaris, oss’lumi, edemm’lumi, e’lumiaris…

Ouviu-se algo.

— Haru… — Antes que Manato pudesse chamar Haru, ele já estava olhando ao redor.

— Isso é ruim. É um hino sagrado de Lumiaris…

 lumiaris na oss’desiz, lumiaris na oss’redez, lumiaris eua shen qu’aix…

Uma canção.

Manato também a ouvira nas ruínas da fortaleza de Observação Deadhead.

Aquela canção.

Mas desta vez era diferente. Nas ruínas, muitos cantavam em murmúrios, sussurrando. Agora, as vozes se elevavam em harmonia.

lumiaris na qu’aix, e’lumiaris, enshen lumi, miras lumi…

Cantavam em voz alta.

Embora o volume não fosse tão alto devido à distância.

lumiaris na parri, e’lumiaris, me’lumi, e’lumiaris…

Ainda estava longe.

Mas estava se aproximando.

— Me solte…! — Manato se libertou do braço de Haru. Haru o soltou sem resistência. Ao ficar de pé, se sentiu muito melhor do que antes. Seus braços e pernas estavam firmes e ele não sentia a necessidade de tossir sangue.

Haru lançou um rápido olhar para Manato e se dirigiu em direção a Riyo, que estava lutando ferozmente contra o soldado.

— Impeça a Yori! Eu cuidarei do soldado…

e’lumiaris, oss’lumi, edemm’lumi, e’lumiaris, lumi na oss’desiz…

A canção se aproximava.

lumiaris na qu’aix, e’lumiaris, enshen  lumi, miras lumi…

Manato correu em direção ao portão.

lumiaris na parri, e’lumiaris, me’lumi, e’lumiaris…

Suas pernas estavam cambaleantes, fazendo com que sua corrida ficasse estranha. Embora estivesse sentindo dores em vários lugares, era suportável.

— Yori, Yori, devemos fugir agora, Yori…?

— Me ajude a abrir!

— Eu estou ferido, sabia?

— Mas veio correndo até aqui, não foi?! Por favor, me ajude! Estou fazendo isso por um motivo, não estou agindo de forma imprudente!

— Okay, okay, tudo bem…

Manato começou a abrir o portão junto com Yori. A parte inferior do portão estava um pouco enterrada no solo. Ele havia se aberto antes, então não deveria ser impossível.

— Ughhhhhhh…!

— Não se esforce tanto!

— Foi você quem… pediu ajuda, Yori…!

— Sim, mas…

— Está se abrindo! Tem algo preso, mas se conseguirmos passar por isso, conseguiremos abrir…

— Então, ao mesmo tempo…! Hnghh…!

Ajudando um ao outro, conseguiram abrir o portão. Era um portão de duas folhas. Embora a carroça precisasse das duas folhas abertas, uma só já era suficiente para que as pessoas passassem.

— E agora, o que fazemos?

— Riyo, Haruhiro…!

Yori chamou os dois sem entrar no criadouro. O soldado estavam caído e não se sabia se estava morto. Os soldados, cujos corpos estavam completamente infectados pela corrupção maligna, talvez não pudessem morrer. Mais especificamente, a infecção em si não podia morrer. Haru explicou isso, e Manato achou que tinha entendido, mas sua mente estava confusa. De qualquer forma, o soldado não estavam apenas caídos, mas também tinham a cabeça e os braços separados do corpo ou desmembrados, portanto, não se levantaria.

E, claro, Riyo e Haru estavam a salvo. Assim que Yori chamou Riyo, ela começou a correr sem dizer uma palavra.

— Precisamos sair rápido… — murmurou Haru enquanto corria.

e’lumiaris, oss’lumi, edemm’lumi, e’lumiaris…

As vozes das canções já estavam bastante próximas.

lumi na oss’desiz, lumi na oss’redez, lumi eua shen qu’aix…

Embora ainda não fosse possível ver os devotos, eles pareciam estar se aproximando bastante.

 lumi na qu’aix, e’lumiaris, enshen lumi, miras lumi…

— Todos para dentro! — disse Yori, correndo em direção ao portão.

Riyo a seguiu sem hesitar, e logo Manato fez o mesmo. Pouco depois, Haru também entrou no criadouro.

O interior do criadouro não estava completamente escavado. A uns seis ou sete passos do portão, o chão estava no mesmo nível, mas mais adiante se afundava como um precipício. Como desceriam? A uma curta distância do portão, havia uma estrutura de madeira ou algo semelhante que servia como uma plataforma. Parecia possível descer por ali.

Embora fora do muro o cheiro não fosse tão perceptível, lá dentro um odor bastante forte pairava no ar. A fonte do mau cheiro, sem dúvida, era o enorme buraco escavado dentro do criadouro.

O buraco não era tão profundo. Talvez o dobro da altura de Manato. Se tentassem, poderiam escalá-lo facilmente, mas por que os goblins não escapavam? No fundo do buraco havia lugares um pouco elevados e áreas com água lamacenta que pareciam bastante sujas. Os goblins nus e magros estavam sentados ou deitados nas partes elevadas. Alguns estavam agachados, aparentemente comendo algo. Aqueles goblins que pareciam estar lutando, poderiam estar acasalando em vez de brigando? Os goblins sentados não estavam completamente imóveis; moviam a boca, como se estivessem mastigando algo.

Ao observar de perto, era possível ver que os goblins sentados estavam comendo outros goblins. Mordiam seus companheiros mortos, retirando carne dos ossos e órgãos.

— Vamos fechar o portão. Depressa!

Apesar de ter testemunhado a cena no fundo do buraco, Yori não parecia perturbada. Junto com Riyo, ela tentava fechar uma das portas que haviam aberto.

— Hein? Por quê?

Embora estivesse se perguntando, Manato as ajudou. Com a ajuda de Haru, conseguiram fechar o portão rapidamente.

— Planejam esperar aqui…?

— Por enquanto, sim.

Uma vez fechado, Yori se afastou rapidamente do portão.

— Dependendo da situação, poderíamos convocar Carambit e Ushaska. Embora ainda não estejam totalmente desenvolvidos, eles conseguiriam voar uma curta distância com duas pessoas. Algo que venho desejando ver há algum tempo…

Yori caminhava ao longo da borda do buraco, observando os goblins do criadouro.

Riyo, seguindo sua irmã, olhava tanto para o fundo do buraco quanto para a frente. Talvez estivesse tendo dificuldade em manter os olhos fixos em um só lugar.

Manato também estava impactado.

Ele teve uma ideia ao ver os goblins na jaula, mas era pior do que imaginava. Isso era uma questão de ser pior ou melhor? Era terrível. Era estranho. Como os goblins podiam viver em um lugar assim?

Ele se pegou pensando nos humanos.

Se fossem humanos, não poderiam sobreviver ali. Morreriam sem dúvida. Os goblins que vivem aqui são realmente seres humanos como nós? Podem ser considerados humanos? Por exemplo, eu conseguiria me tornar amigo de um desses goblins? Yori pode ficar irritada comigo, mas não acredito que isso seja possível.

Os goblins no fundo do buraco não estavam muito atentos a Yori, Riyo, Manato ou Haru.

Embora alguns olhassem para cima, eram poucos. Havia quantos goblins no fundo do buraco? Mais do que alguns, provavelmente centenas, talvez até mais. Às vezes, alguns goblins lançavam um olhar para Manato e os outros, mas logo desviavam a atenção.

Será que eles realmente não se importavam?

Isso não podia ser. Se fossem humanos, se importariam.

Os soldados vassalos que os consumiam, e humanos desconhecidos adentrando seu criadouro. Eles deveriam se questionar quem eram e o que estava acontecendo. Pelo menos, seus companheiros haviam sido levados recentemente. Por que agiam como se nada tivesse ocorrido, devorando os corpos de seus companheiros, deitados e acasalando?

e’lumiaris, oss’lumi, edemm’lumi, e’lumiaris…

lumi na oss’desiz, lumi na oss’redez, lumi eua shen qu’aix…

lumi na qu’aix, e’lumiaris, enshen lumi, miras lumi…

lumi na parri, e’lumiaris, me’lumi, e’lumiaris…

A voz dos devotos ecoava, como se estivesse caindo sobre eles. Isso também deveria ser incomum para os goblins. Era impossível que não ouvissem. Eles deviam estar assustados, agitados, reagindo de alguma maneira. Não reagir era simplesmente estranho.

— Os goblins… — murmurou Haru. — Eles nasceram aqui e morrerão aqui, ou serão enviados e comidos. Em um ambiente onde a maioria das criaturas nem sequer poderia sobreviver, eles… simplesmente se adaptaram. São uma raça incrivelmente resistente que pode deixar descendentes em qualquer lugar. Essa característica foi aproveitada pelo deus das trevas Skullhell…

— Eu estive pensando… — Yori parou. Estavam perto da esquina do muro. Riyo, Manato e Haru também pararam. Yori não se virou. — Se Yori tivesse nascido e crescido aqui, ela também sobreviveria comendo os corpos dos outros. Se quisesse fugir, seria pega pelos soldados e devorada. Por isso, ela não tentaria sair e nem pensaria nisso. Às vezes, os soldados levam os companheiros, e resistir só faria com que fosse comida. Então, todos ficam em silêncio.  Poderia ser eu a ser levada. Por mais que lutasse, não adiantaria. Quando chegasse a hora, não teria escolha. Se ficasse aqui, só comeria os cadáveres dos meus companheiros, faria minhas necessidades, dormiria e repetiria tudo isso. Eu viveria até morrer ou ser devorada. Só isso. Se Yori tivesse nascido aqui, seria igual. Não poderia ser como sou agora. Sou assim porque sou bisneta da minha bisavó… Tenho a Riyo e outros familiares que me apoiaram. É assim que sou. Mas se eu tivesse nascido aqui, tudo seria diferente. Yori seria igual a esses goblins.

E Manato?

Poderia dizer que seria diferente?

Não acreditava nisso.

Se Manato tivesse nascido aqui, seria igual. Sempre pôde sorrir porque foi criado e protegido por pais que sempre sorriam. Graças a eles, a Junza e a outros, Manato era quem era.

E’LUMIARIS, OSS’LUMI, EDEMM’LUMI, E’LUMIARIS…

LUMI NA OSS’DESIZ, LUMI NA OSS’REDEZ, LUMI EUA SHEN QU’AIX…

LUMI NA QU’AIX, E’LUMIARIS, ENSHEN LUMI, MIRAS LUMI…

LUMI NA PARRI, E’LUMIARIS, ME’LUMI, E’LUMIARIS…

A voz dos devotos ressoava forte.

Eles estavam perto.

Podiam estar logo do outro lado do muro.

— Para os goblins, pode ser difícil até imaginar a liberdade e mudar suas vidas. Eu não sei como salvá-los. Mas, se um goblin conseguisse sair e tivesse filhotes, talvez esses filhos pudessem ter uma vida melhor do que a dos pais. No mínimo, teriam mais oportunidades do que se nascessem e morressem aqui. Eu quero ajudar o máximo de goblins a saírem daqui.

— Então os libertaria no mundo exterior e os deixaria à própria sorte? — disse Haru, olhando para baixo. Não parecia estar refutando Yori; seu tom parecia mais uma pergunta para si mesmo.

— E você, Haru, o que quer fazer? — perguntou Manato.

— Eu? Eu não quero fazer nada…

— Nada mesmo?

— Não é isso… Bem… na verdade, passei muito tempo sem fazer nada. Não fiz nada.

— Por quê?

— Provavelmente porque sentia que não havia nada que alguém como eu pudesse fazer.

— Entendo. Haru, todo esse tempo você esteve sozinho, não é?

— Sozinho…

— Sim. Certo? Para mim, não foi tanto tempo. A vez que estive sozinho foi depois que papai e mamãe morreram. Foi uma sensação estranha. Mas então conheci Junza e os outros, e quando tive companheiros, essa sensação desapareceu completamente. Estar sozinho é entediante e você não pode conversar com ninguém, é terrível, não é?

— Bem, sim.

— Mas agora, Haru, você não está mais sozinho. Até que você me diga para ir embora, estarei com você.

— Não há razão para que eu te diga isso…

De repente, Haru ficou em silêncio.

Fez-se um silêncio. O canto.

O canto, que havia ressoado tão ruidosamente, parou de repente.

Apesar do sol ainda não ter se posto, o lugar sem teto parecia estranhamente escuro apenas por causa das paredes.

O silêncio parecia pesar no ambiente.

O canto não havia se extinguido, mas parecia ter alcançado seu auge. Ou seja, os devotos estavam se aproximando do criadouro. Embora não fosse possível enxergar a partir desse ponto, poderia ser que tentassem passar perto do portão.

Será que os devotos apenas tinham parado de cantar? Continuavam sua marcha em silêncio?

Mesmo prestando atenção, não conseguia ouvir nenhum som de passos. Com as paredes do muro que os separavam, não era surpreendente que não se pudesse ouvir nada. No entanto, a fila de devotos parecia estar parada. De alguma forma, Manato sentia isso.

… Vou pegar emprestado…

Ouviu-se uma voz.

Provavelmente era a voz de um homem.

Haru levantou o dedo indicador da mão esquerda e o direcionou para os rostos de Manato, Yori e Riyo antes de apontar para o chão. Era um sinal silencioso para que não se movessem.

Embora não houvesse necessidade de instruções, Manato já não podia se mover. Não sabia por quê, mas seu corpo estava rígido. Não conseguia respirar adequadamente.

Isso é medo? Não é que eu não goste de sentir medo.

Não é a mesma coisa que terror. Então, o que é essa sensação?

— HI, KA, RI

NT: Hikari = luz.

A voz do homem parecia repetir a palavra luz. Não apenas dizia luz, mas parecia cantá-la com ritmo.

— HI, KA, RI

— HI, KA, RI

Também soava como se estivesse zombando ou brincando. Era muito diferente do canto dos devotos.

— … He… He… He…

O homem parou de cantar e começou a rir.

— Hahahaha… Hihihihihi…hehehe…

A risada do homem estava se infiltrando no corpo de Manato, tentando esmagar seus pulmões, coração e estômago. Embora não fosse possível, essa era a sensação que ele tinha.

— Ó LUUUUUUUUUUZ…

Agora o homem gritava.

— LUUUUUUUUUUUUUUUUUUZ

Não era apenas uma ou duas pessoas. Eram os devotos.

As vozes não eram a única coisa que se ouvia. Os devotos estavam pisando no chão. Estavam batendo no chão enquanto repetiam “Luz”

O homem também elevou sua voz. Sua voz se diferenciava claramente da dos outros devotos.

— HI, KA, RI

— HI, KA, RI

O chão tremia. Não só o chão. Ou seria a parede?

Sim, a parede.

A parede do criadouro estava vibrando.

— HI, KA, RI

— HI, KA, RI

Havia também um barulho bem forte. Algo estava batendo na parede. Do lado de fora, é claro, pois Manato e os outros que estavam dentro do criadouro não estavam batendo na parede.

— HI, KA, RI

— HI, KA, RI

Cada golpe fazia a parede tremer. O pó se desprendia entre as pedras, que estavam empilhadas umas sobre as outras.

— HI, KA, RI

— HI, KA, RI

As pedras pareciam prestes a se deslocar. Na verdade, já estavam começando a se mover.

— Afastem-se! — Haru apontou para um canto longe e empurrou Manato para lá. — Eles vão derrubar a parede! Ela não vai suportar! A qualquer momento! Rápido, saiam!

Yori e Riyo começaram a correr. Manato também correu. Ainda bem que não tropeçou. Haru ficou no fim do grupo.

— HI, KA, RI

— HI, KA, RI

A parede desabou. Claro, não toda a parede, apenas uma pequena parte perto do portão. No entanto, a quantidade de pedras espalhadas pelo criadouro era imensa. Como se podia destruir uma parede dessa maneira?

Manato e os outros se voltaram para o canto mais próximo e se dirigiram para o próximo setor. Os goblins no fundo do buraco, surpreendidos, gritavam e se moviam em pânico.

— HI, KA, RI

— HI, KA, RI

Outra parte da parede foi destruída, espalhando pedras tão numerosas quanto da primeira vez. As pedras também caíam no buraco, e alguns goblins foram esmagados ao serem atingidos.

— HI, KA, RI

— HI, KA, RI

A parede seguia sendo destruída. A destruição progredia em direção por onde Manato e os outros tinham passado. A nuvem de poeira impedia que vissem o que havia além da parede destroçada.

— HI, KA, RI

— HI, KA, RI

Seria possível que apenas um único devoto estivesse fazendo tudo isso sozinho?

Os goblins no fundo do buraco tentavam se afastar do portão. Alguns estavam tentando escalar para sair do buraco, pareciam estar em pânico, não apenas tentando escapar.

— Yori, Riyo! Chamem os dragões…! — disse Haru. — Essa pessoa… não é algo normal. Não é algo que possa ser derrotado em uma luta…!

— HI, KA, RI

— HI, KA, RI

Apesar da distância, a voz do homem ainda era ouvida. Cada vez que o homem gritava “luz!”, a parede do criadouro era mais destruída.

Yori e Riyo tiraram suas flautas de dragão. Sem parar, colocaram as flautas nas bocas e começaram a tocar. Por mais que não ouvissem nada, estavam tocando as flautas.

— HI, KA, RI

— HI, KA, RI

Só se ouviam os gritos do homem e o som da parede sendo destruída.

Estava cada vez mais perto.

— Quanto tempo vai levar…?! — gritou Haru.

Provavelmente, ele se referia a quanto tempo levaria para Carambit e Ushaska chegarem. Yori balançou a cabeça, indicando que ainda levaria tempo.

— Como estavam na montanha, vai levar um tempinho…

— Entendido. Vamos aguardar os dragões perto das paredes do último setor.

— HI, KA, RI

— HI, KA, RI

O homem continuava gritando e a parede seguia sendo demolida.

Enquanto isso, Manato e seu grupo chegaram ao final do último setor.

— Yori. — Riyo chamou Yori e apontou para cima. Manato também olhou naquela direção. Lá estavam eles.

Eles estavam voando.

Certamente eram os dragões, Carambit e Ushaska.

Yori olhou ao redor. Parecia que estava pensando em algo. Rapidamente chegou a uma conclusão.

— Não dá para pousar aqui, temos que pular a parede.

— Vamos subir!

Haru fez um sinal com a mão para que continuassem. Yori e Riyo começaram a escalar a parede, seguidas por Manato. Apesar de Haru ter começado a escalar após Manato, eles chegaram ao topo quase ao mesmo tempo. Yori e Riyo desceram um pouco do lado oposto da parede antes de saltar. Manato, embora ansioso para saltar logo, decidiu imitar Yori e Riyo. Haru aterrissou com um pequeno atraso em relação a Manato.

Yori e Riyo se afastaram da parede e estavam tentando chamar os dragões em um lugar um pouco mais aberto. Embora, na verdade, estivessem apenas olhando para o céu, que já estava escurecendo, e levantando uma mão. Não deveriam fazer algo mais?

Parecia que aquilo era o suficiente. Carambit e Ushaska haviam virado e vinham do sul em direção ao oeste. Reduziram a velocidade e desceram suavemente, ambos aterrissando de forma fluida. Não houve tropeços nem escorregões. Os dragões, como se entendessem a situação, não recolheram as asas e se colocaram em uma posição baixa, como quem diz “vão, subam”. Yori montou em Carambit, e Riyo em Ushaska.

— Manato, sobe em Ushaska! Haruhiro, monta com Yori em Carambit!

Yori deu a ordem. Haru, sem tempo a perder, subiu atrás de Yori. Como parecia que os dragões não eram feitos para carregar mais de uma pessoa, era melhor ficar o mais próximo possível. Haru estava um pouco relutante, mas Yori o segurou pelo braço e o posicionou de modo que ele envolvesse firmemente sua cintura. Manato tentou fazer o mesmo, mas Riyo o segurou pelos ombros.

— Na frente.

— Ahn. Não atrás de você?

Quando Manato perguntou, Riyo assentiu e repetiu:

— Na frente.

— Okay, na frente!

Manato tentou montar em Ushaska, enquanto Riyo se afastou para dar espaço. Eles não se sentavam diretamente sobre o dragão; havia uma sela feita de couro ou algo similar que estava fixada. Era feita para que as pessoas se sentassem. Embora parecesse que a sela havia sido projetada para uma única pessoa, mesmo quando Manato se apertou ao máximo para a frente, o quadril de Riyo ainda ficava para fora da sela. Talvez essa não fosse a intenção, mas como seria?

Riyo se inclinou para a frente a partir de sua posição atrás de Manato, de modo que as costas de Manato e a frente de Riyo estavam em total contato. Riyo era mais alta que Manato e seu queixo repousava na têmpora direita dele. Nessa posição, o torso de Riyo estava ligeiramente inclinado para o lado direito. Como isso não parecia muito confortável, Manato virou o pescoço para a esquerda, permitindo que Riyo mantivesse o rosto voltado para a frente.

— Obrigada. — murmurou Riyo em voz baixa. A proximidade fez Manato sentir cócegas. — Voa, Ushaska.

A voz de Riyo ao dar a ordem ao dragão era suave e, de alguma forma, fez o coração de Manato bater mais rápido, não como uma cócega, mas de um jeito inquietante.

Quando Ushaska começou a correr, o corpo de Riyo se afastou um pouco de Manato.

— Manato, segure-se firme.

— Sim.

O movimento para cima e para baixo era surpreendentemente intenso. Mas, se ele só precisasse se segurar com toda a força, parecia que conseguiria lidar com isso.

Diferentemente de Manato, Riyo ajustava sua postura de acordo com o movimento do dragão, mantendo a cabeça em uma posição bastante estável. O queixo de Riyo estava levemente pressionado à direita do topo da cabeça de Manato. A sela não possuía apenas um lugar para sentar, mas também estribos e uma espécie de alça na parte do pescoço do dragão. Riyo estava utilizando os estribos com os dois pés e segurando a alça, movimentando sua cintura para cima e para baixo, em sincronia com os movimentos do dragão. Parecia que ela tentava aliviar a carga sobre o dragão que os transportava. Manato, além de suportar seu próprio peso, apenas conseguia se segurar, o que provavelmente o tornava um peso extra para Ushaska.

— Desculpa, Ushaska…

Manato se desculpava, embora não houvesse muito que pudesse fazer naquele momento. Se tentasse imitar Riyo, provavelmente só atrapalharia mais Ushaska.

— Tudo bem. — sussurrou Riyo. — Não farei Ushaska fazer algo que não consiga.

Isso fez Manato sentir um calafrio.

Ushaska deu um forte impulso com as patas traseiras.

Agora, eles estavam voando.

Embora fosse a primeira vez que Manato montava um dragão e nunca tivesse voado antes, ele entendeu claramente que era algo diferente de pular.

Então era isso que era voar.

Ele sentia como se estivesse sendo levantado, como se alguém o empurrasse ou puxasse para cima. Podia ser de um jeito ou de outro.

— Uau…! — exclamou Manato sem querer. — É incrível…!

Achou que ouviu uma risada de Riyo. Não era que tivesse ouvido uma risada, nem podia ver o rosto de Riyo. Mas teve essa impressão.

Como não queria causar transtorno a Riyo e Ushaska, Manato se agarrava desesperadamente a Ushaska. Se pudesse, desejaria se fundir com ele. Como não conseguia mover a cabeça, seu campo de visão era bastante limitado. Embora estivesse evidente que Ushaska havia começado a voar, ele não tinha certeza da altura nem da maneira como se deslocava. Não conseguia ver Carambit e estava preocupado com várias outras questões. Talvez fosse melhor fechar os olhos.

— HI, KA, RI

— HI, KA, RI

Ouviu uma voz masculina.

— LUUUUUUUUUZ

— LUUUUUUUUUZ

E também as vozes dos devotos.

Aquele estrondo retumbante, seria o som da parede se destruindo?

— Ahh…!

Parecia que Ushaska estava descendo. Embora estivesse voando, não estava subindo constantemente. Subia e descia bastante. Parecia que também estavam girando. Na parte frontal, não conseguia medir a distância com precisão, mas à frente estava Carambit. Provavelmente, Ushaska estava seguindo Carambit. Da perspectiva do chão, não parecia estar tão alto.

Na verdade, estava baixo. Estava tão baixo que parecia que poderiam cair a qualquer momento, e Manato riu sem querer.

— Ei, Poderia ser que…?

Aquilo era o criadouro visto de cima? Ushaska estava tentando se lançar contra o criadouro de cima? Embora não estivesse descendo em um ângulo tão acentuado. As paredes do criadouro provavelmente estavam destruídas em mais de um terço. Era possível ver os devotos. Haru havia dito que havia centenas de devotos nas ruínas da fortaleza. Sem dúvida, havia muitos. Eles estavam do lado de fora da parede destruída. Não se ouvia voz masculina. O devoto tinha parado de destruir a parede? Seria isso?

À frente, perto de uma pequena parte da parede que ainda não havia colapsado, algo estava de pé.

Uma pessoa?

Poderia ser o santo?

Sua figura, ou melhor, sua forma, era extremamente peculiar. A parte superior do corpo tinha um tronco em formato de V, com ombros largos e uma cintura estreita, cujas bordas superiores pendiam algo que se assemelhava a braços. Mais do que braços, pareciam grandes martelos. Da base do tronco, surgiam duas pernas muito finas em comparação aos braços, e a cabeça parecia estar ali, mas ao mesmo tempo não.

O santo torceu o corpo, como se estivesse olhando para cima. Não podia dizer exatamente onde estava o rosto, nem onde poderiam estar os olhos, se é que os tinha, mas teve a sensação de que estava sendo observado.

— Há! Há! Há…!

Aquela voz. A mesma voz do homem que gritava “Hikari”.

— Haruhiro?! É você, Haruhiro…! Anseia pela luz, Haruhiro…?!

Carambit com Yori e Haru, e Ushaska com Riyo e Manato, passaram por cima da cabeça do santo sem demora. De acordo com a percepção de Manato, os dragões voaram muito perto. Perguntava-se se o santo tentaria saltar e derrubar os dragões.

Mas, na verdade, talvez não tenham descido tanto. O santo não fez nada, e tanto Carambit quanto Ushaska aumentaram rapidamente sua altitude e velocidade, e Manato se assustou porque estava muito alto. Alto e rápido. Muito rápido.

— O que te diverte tanto? — sussurrou Riyo perto do seu ouvido.

— Whaa! — Manato soltou um grito involuntário. — Eh, Riyo, pare com isso!

— Parar com o quê?

— É que você me faz cócegas… Hahaha!

— Desculpe.

— Não, não precisa se desculpar. Hahaha! Uff, isso está me dando uma sensação estranha…. Está tudo bem, eu vou aguentar. Hahaha…

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