Quem Matou o Herói? – Volume 1 – Capítulo 4 - Anime Center BR

Quem Matou o Herói? – Volume 1 – Capítulo 4

Capítulo 4

Capítulo de Ares

A vila não era nem grande nem pequena, apenas uma das muitas aldeias escondidas nas montanhas.

Ficava bastante longe da capital real, levando dez dias a cavalo para chegar até lá. As pessoas viviam da agricultura e levavam uma vida pastoral.

Vila Talis. Ela se tornou famosa por produzir um herói.

— Conheço o Ares? Claro! Eu era amigo dele!

Procurei por alguém da idade de Ares que ainda morasse na vila e perguntei sobre ele.

— Ares conseguia fazer de tudo desde pequeno. Ele era forte, rápido e também inteligente. Além disso, era muito bonito, então todas as meninas da idade dele tinham uma queda por ele — disse o homem, como se já estivesse acostumado a ser questionado, começando a falar sobre Ares com facilidade.

— Ele era simplesmente incrível. Dava uma espada para ele, e em pouco tempo ele já era melhor que qualquer adulto. Ele aprendeu magia de cura com o sacerdote da igreja e conseguia lançar feitiços depois de ler os livros de magia velhos e rasgados da casa do chefe da vila. Ah, devo mencionar que nem o chefe da vila, muito menos eu, conseguíamos entender o que estava escrito naqueles livros. Eles estavam escritos em algum tipo de texto especial estranho, não é? Mas Ares estudou e aprendeu a ler essa escrita estranha. Claro que ele se tornou o herói!

— Então Ares já sabia usar a espada, magia e milagres divinos, mesmo quando ainda estava nesta vila?

— Claro. Você também sabe, não é? O famoso herói Ares conseguia usar a espada, magia e cura. Foi por isso que ele foi escolhido como herói, não é? Porque ele era tão especial.

— Por que alguém tão especial se daria ao trabalho de se inscrever na Academia Pharme?

— Por quê?… Acho que ele precisava entrar lá para ser reconhecido oficialmente como herói? Ou talvez para encontrar companheiros? Eu realmente não sei. Provavelmente o vidente disse a ele para ir para a capital?

— Vidente? Você quer dizer o profeta?

— Sim, esse mesmo. Um dia ele apareceu de repente na vila e disse: “O herói que salvará o mundo surgirá desta vila.” Ficamos todos maravilhados. Ah, deve ser o Ares, pensamos. Ele realmente era uma pessoa especial, afinal.

O profeta é conhecido por aparecer em momentos críticos no mundo e fazer pronunciamentos. Embora tenha um período de atividade de mais de mil anos, há dúvidas sobre se é uma pessoa. Alguns sugerem que não é o mesmo indivíduo a cada vez.

— Ares e o profeta se encontraram diretamente?

— Não tenho certeza. Esse vidente desapareceu logo depois de vir. Ele era estranho, sabe, tinha uma presença imponente, uma dignidade. De qualquer forma, uma figura misteriosa.

— Então, depois de receber essa profecia, Ares partiu para a capital?

— Isso mesmo. Foi assim que aconteceu. Ares é realmente incrível, não é?

— Incrível?

— Bem, agora é tudo pacífico, mas naquela época, os monstros estavam por toda parte. A jornada para a capital era perigosa por causa disso. As rotas comerciais eram frequentemente interrompidas, então a vila sofria, ou pelo menos foi o que meus pais disseram.

— Então um garoto de catorze anos fez essa jornada perigosa sozinho?

— Sim. Acho que ele pensou que os adultos só atrapalhariam. Mas para ele conseguir chegar lá sozinho… ele realmente é incrível.

Me despedi do morador sincero e fui à casa da família de Ares. Ela pertencia ao atual chefe da vila. Ares era filho do chefe atual e neto do chefe quando ele partiu em sua jornada.

— Obrigada por vir até nossa pequena vila. Ouvi dizer que você quer perguntar sobre meu filho, sobre Ares?

Tendo organizado nosso encontro por carta com antecedência, Shera, a mãe de Ares, me recebeu calorosamente. Ela parecia estar no início dos seus cinquenta anos, mas se portava com graça, me fazendo pensar que deve ter sido uma grande beleza em sua juventude.

— Que tipo de criança era Ares?

— Ele era um bom menino. Brilhante desde pequeno e nunca me causou problemas. Ele estava sempre disposto a ajudar em casa. Realmente… um filho maravilhoso.

Shera falou lentamente, como se estivesse relembrando.

— Ouvi dizer que ele conseguia fazer de tudo?

— Em vez de tudo, ele era habilidoso. Embora seja verdade que ele se saía bem com a espada, conseguia realizar pequenos milagres e usar magia, não era nada extraordinário. Ele se destacava porque esta é apenas uma pequena vila, mas se ele fosse para um lugar com mais pessoas, acho que seria avaliado como uma criança excepcionalmente talentosa, no máximo.

— Pode ser que você não seja originalmente desta vila?

— Você é perspicaz. Eu sou da capital, na verdade, não desta vila. Conheci meu marido quando estávamos estudando na capital. Nos casamos e vim com ele para morar nesta vila. Na verdade, meu marido e eu éramos os melhores alunos da capital, excelentes tanto nos estudos quanto nos esportes. Por isso, eu não achava que nosso filho fosse algo tão especial.

Shera sorriu, como se estivesse se gabando um pouco.

— No entanto, Ares foi escolhido como o herói.

— Foi intrigante. Ele era nosso orgulho e alegria, mas não a esse ponto, eu sentia. Os aldeões estavam comemorando, pensando que a profecia certamente se referia a Ares, mas nem eu nem meu marido acreditávamos nisso.

— Vocês não acreditavam na profecia?

— Bem… eu não diria que não acreditávamos, mas não queríamos acreditar que era sobre Ares. Que pai quer que seu filho lute contra o rei demônio, afinal? Mais do que não acreditar, acho que não queríamos acreditar.

— No entanto, vocês o enviaram como herói?

— Meu sogro, que era o chefe da vila na época, estava empolgado com isso. Os aldeões também. Eles ficaram encantados ao pensar que um dos seus seria o herói. O aparecimento do rei demônio havia envolvido o mundo em escuridão naquela época. Esta vila não foi exceção. Em meio a isso, as pessoas ficaram cheias de alegria com o surgimento do herói lendário. Não podíamos simplesmente negar. Então, para que Ares ganhasse mais força e encontrasse companheiros para viajar com ele, o enviamos para a Academia Pharme.

— Enviar Ares para a Academia Pharme foi uma decisão de vocês?

— Minha e do meu marido. Sabíamos que a Academia Pharme treinava heróis. No entanto, era também uma academia exclusivamente para nobres. Eu disse que não havia necessidade de forçar a entrada. Ganhar força e encontrar companheiros eram os objetivos, então qualquer lugar que pudesse cumprir esses propósitos estaria bom, pensei. Ares era flexível, então acreditei que ele lidaria bem com isso se explicássemos dessa forma, mas no final, ele entrou na Academia Pharme, ao que parece.

— O que Ares pensava sobre ser escolhido como herói?

— Ele era um garoto esperto, então acho que ele fingia estar confiante para agradar os aldeões. Mas, no fundo, devia estar ansioso. Mais do que ninguém, ele sabia que não era tão excepcional. Às vezes, quando eu acordava de madrugada, via ele lá fora balançando a espada, distraído. Acho que ele estava tão ansioso que nem conseguia dormir.

— E mesmo assim ele derrotou o Rei demônio.

— E então morreu também. Devíamos estar felizes que o mundo foi salvo, mas nem eu nem meu marido conseguimos ficar realmente contentes. Por que nosso filho teve que morrer? Ainda penso nisso. Havia tantas outras pessoas qualificadas, por que teve que ser ele…

Shera enxugou as lágrimas que desciam por sua bochecha.

Desviei o olhar dela e observei a sala ao redor. Meus olhos caíram sobre uma espada exposta decorativamente. Estava bem conservada, mas mostrava sinais de uso intenso.

— Aquela é…?

— É a espada dele. Apenas a espada voltou. Essa espada foi passada de geração em geração na nossa família. Embora não saibamos sua origem, deve ter sido uma lâmina excepcional para acompanhá-lo até o fim. Seu retorno é nosso único consolo. Ele não deixou mais nada para trás.

— Os companheiros de Ares trouxeram a espada de volta?

— Nunca conheci nenhuma das pessoas que viajaram com Ares. Zack foi quem a trouxe.

— Zack?

— O primo de Ares, da mesma idade. Filho da irmã do meu marido, mas os pais dele eram aventureiros. Seu pai veio do Reino de Malica e, quando o reino foi invadido pelo rei demônio, seus pais foram ajudar, mas perderam a vida naquela batalha. Zack foi deixado aos nossos cuidados antes de seus pais partirem.

— Como Zack trouxe a espada de volta?

— Porque Ares foi com Zack para a capital. Depois que Ares morreu, Zack nos disse que recebeu a espada de alguém lá. Então, ele a trouxe de volta para nossa vila.

— Dizem que Ares viajou sozinho?

— Bem, havia bagagem e outras coisas, então não podíamos enviá-lo completamente sozinho. Além disso, os dois foram criados juntos, então se davam muito bem. Tenho certeza de que ter Zack por perto deixou Ares um pouco mais tranquilo ao partir. Os aldeões exageram nas façanhas de Ares, então não mencionam Zack. Ou talvez tenham realmente se esquecido dele. Ele não era uma criança muito notável.

— Onde Zack está agora?

— Depois de vir para cá, ele disse que partiria “imediatamente em uma jornada”, e essa foi a última vez que ouvi falar dele. Eu sugeri que ele se estabelecesse nesta vila, mas ele recusou firmemente. Ele disse: “Desculpa, deixei o Ares morrer, sinto muito.” Mesmo que ele não tenha nada pelo que se desculpar…

— Zack se aventurou com Ares?

— Ele só o acompanhou até a capital. Ares era apenas uma criança comum, então ele não conseguiria embarcar em uma jornada para lutar contra o Rei Demônio e tudo mais. Ele era um garoto esforçado e se dedicava ao que fazia, mas era meio desajeitado. Mas era um ótimo garoto. Acho que Ares conseguiu aprender muitas coisas porque Zack estava com ele. Quando Ares começava algo, Zack sempre ficava até o final. Você sabe como é difícil aprender sozinho? Ter um amigo para fazer isso junto torna tudo mais fácil.

— O que você acha das imagens de heróis que se espalharam pelo mundo?

— Elas realmente se parecem com aquele menino. Até compramos um grande quadro de um herói e o penduramos em nossa casa.

De fato, havia um grande quadro de um herói com uma presença marcante exposto de forma proeminente nesta casa.

— Ares e Zack se pareciam?

— Eles se pareciam bastante, como costuma acontecer entre primos. Mas os olhos de Ares eram um pouco maiores e seu nariz, mais alto. Diferenças sutis, mas que realmente mudavam a impressão. A aparência de Ares era frequentemente elogiada, mas diziam que Zack era comum. É estranho como pequenas diferenças podem ter tanto impacto.

 

 

Fragmento 1

 

— O fato de você ter vindo junto, Zack, é uma grande ajuda.

Ares murmurou depois de termos caminhado uma boa distância da vila.

— Mas será que realmente deveria ser eu? Não seria melhor um adulto de verdade?

Eu dei voz ao que vinha pensando o tempo todo. Enviar dois garotos de quatorze anos para a capital parecia um pouco imprudente.

Quando decidiram que alguém acompanharia Ares até a capital, sugeriram inicialmente alguns jovens solteiros da vila. Mas quem Ares escolheu fui eu.

Curiosamente, ninguém se opôs à sua decisão.

— Algum adulto com quem eu não tivesse intimidade só tornaria as coisas estranhas. Além disso, eles estariam ansiosos para me empurrar para lutar contra monstros como o herói, mas sem querer correr riscos.

Ares criticou os aldeões de uma forma que eu nunca o tinha ouvido fazer antes. Fiquei surpreso com suas palavras. Era verdade que alguns dos homens que haviam sido considerados para a jornada ficaram visivelmente aliviados por não serem escolhidos. Eles perceberam que seria uma viagem perigosa.

Ares raramente falava mal dos outros, mas parecia nutrir algum descontentamento com a atitude dos aldeões.

— Bem, os monstros são fortes. Meus pais também foram mortos. Ninguém quer lutar.

Pensei nos meus próprios pais, ambos aventureiros, que perderam suas vidas lutando contra monstros e ganhando a vida assim.

— Mas como herói, terei que lutar contra esses monstros. E até derrotar o rei demônio. O que é ser um herói, afinal? Eu nunca quis ser um. Mas dizem que o mundo será destruído se eu não fizer isso. É terrível.

Ares soltou uma risada vazia.

— Já vi minha mãe chorando à noite, às vezes. Ela não quer que eu me torne o herói.

Eu sabia disso também. Os pais de Ares, meus pais adotivos, duvidavam da credibilidade da revelação do profeta. Provavelmente, eles esperavam que Ares não precisasse se tornar o herói se pudessem evitar.

Mas o avô de Ares, que era o chefe da aldeia, ficou eufórico e liderou os aldeões em uma celebração por Ares ser o Herói. — Vai ficar tudo bem! Ares consegue! Ele sabe usar espada, magia, até milagres! Já derrotou muitos monstros. Não há ninguém assim na capital!

— Será mesmo? Não há guerreiros ou magos profissionais na Vila Talis. Somos todos amadores, no fim das contas. Então, quem sabe quão forte eu realmente sou…

— Ares…

Fiquei surpreso com as palavras de Ares. Não fazia ideia de que ele pensava assim, apesar de estar sempre ao lado dele.

— Ah, desculpa. Fiquei um pouco levado pelas reclamações depois de sair da vila. Já decidi fazer isso como herói, mas aqui estou, ficando com medo…

Depois disso, Ares nunca mais expressou fraqueza. Mas aquela conversa ficou gravada em minha mente.

Nossa jornada seguiu sem problemas. Nas vilas em que parávamos pelo caminho, Ares negociava habilmente como um adulto, conseguindo água e comida com o pouco dinheiro que tínhamos.

Quando encontrávamos monstros, ele evitava lutar, se possível, batalhando apenas quando não havia outra escolha.

Mesmo assim, ele lutava com calma e de forma constante, sempre garantindo minha segurança primeiro. Ele usava bem magia de ataque e de cura, terminando as batalhas com sua espada. Sua conduta era verdadeiramente digna de um herói.

Atualmente, estamos andando por uma estrada densamente florestada.

O céu deveria estar azul e claro, mas as árvores se estendiam dos dois lados, tão altas e densas que bloqueavam o céu, me deixando com uma sensação vaga de inquietação.

Essa estrada costumava ser movimentada, com pessoas indo e vindo da capital, mas após o aparecimento do Rei Demônio, os monstros tomaram conta da floresta, e agora ninguém mais a usava. De fato, não vimos mais ninguém em metade de um dia de caminhada.

Por outro lado, o número de monstros era realmente grande, e já havíamos encontrado alguns, mas Ares os derrotou a todos.

— Você é realmente incrível, Ares. Teria lidado com tudo sozinho, não teria?

Eu também tinha uma espada para autodefesa, mas nunca a tinha usado. Durante nossa jornada, ela serviu principalmente como parceira de treino para Ares.

— Zack, você me valoriza demais. É complicado fazer as coisas sozinho. Eu consigo seguir em frente porque você está ao meu lado. Quando comecei a aprender esgrima e magia, começamos todos juntos, mas quando as coisas não deram certo, as pessoas foram saindo uma a uma. No final, só sobramos nós dois.

— Bem, eu não consegui aprender magia ou milagres divinos… — Respondi com um sorriso.

— É uma pena, mas você ficou comigo até o fim. Isso é incrível. Continuar fazendo algo que não está dando certo é difícil. Fui sortudo por ser bom em muitas coisas, mas se as coisas não tivessem dado certo, quem sabe o que teria acontecido. Eu poderia ter desistido, como todos os outros.

— Não consigo imaginar você não sendo bom em algo. Mas eu queria, pelo menos, dominar uma coisa também.

Essa era a verdade. Eu tentava desesperadamente alcançar meu primo, que tinha a mesma idade, mas as coisas nunca pareciam dar certo.

Ares parou. Eu também parei, sentindo que algo estava errado.

Estava quieto demais. Eu não ouvia nem os sons dos animais da floresta.

— Ah, você percebeu? Realmente faz jus ao nome de herói.

Com um sorriso irônico, alguém surgiu de trás de uma grande árvore à frente. Parecia humano, mas sua pele era roxa, seu corpo robusto, com orelhas duas vezes maiores que as de um humano e olhos vermelhos brilhantes.

— Corre! É um demônio!

Ares gritou. Ao ouvir isso, corri imediatamente.

Demônios. Eles eram os servos do Rei Demônio e, embora tivessem aparência humana, eram significativamente mais fortes, tanto em poder quanto em magia, do que os humanos.

O motivo pelo qual eu corri imediatamente não era apenas por medo dos demônios, mas também porque não queria atrapalhar Ares.

Logo, ouvi o som de espadas se chocando. Ares havia começado a lutar contra o demônio.

Corri para dentro da floresta e mantive uma distância segura, observando a batalha de trás de uma árvore.

O demônio balançava uma espada massiva que eu nunca tinha visto antes. Ele se movia com a força de um vendaval.

— Heh, ouvi dizer que um herói foi escolhido por um profeta, mas você ainda é só uma criança. Se eu te matar antes de crescer, não vai ser nada especial.

Ares estava puramente na defensiva contra os ataques do demônio, que não só poderiam feri-lo, mas também ser letais.

Ares desviava calmamente dos ataques que podia e aparava com sua espada aqueles que não conseguia evitar.

Ares resistia, e o tempo parecia passar lentamente.

Inicialmente, o demônio exibia confiança diante da estratégia defensiva de Ares. No entanto, com o tempo, começou a se frustrar.

— Sua defesa é admirável. Mas e quanto à magia?

O demônio, incapaz de acertar golpes facilmente, parou de usar sua espada e estendeu a mão esquerda à frente, tentando lançar um feitiço.

Ares não perdeu essa oportunidade.

— Há!

Ele avançou com a força de um sopro liberado e desferiu um golpe rápido na mão estendida do demônio, que tentava invocar a magia.

Alguns dedos do demônio dançaram no ar.

— Giaah! Maldito pirralho!

O demônio ferido rapidamente recuperou o controle de sua espada massiva e tentou contra-atacar Ares.

No entanto, o golpe não tinha a mesma precisão de antes.

Os dedos dele estão feridos, ele não consegue segurar a espada direito!

Será que Ares tinha mirado nisso? Se sim, isso era impressionante!

A partir desse ponto, Ares passou para a ofensiva, e o demônio foi forçado a adotar uma postura defensiva.

Ares não buscava um golpe poderoso, mas sim atacava com precisão as vulnerabilidades do inimigo.

— Ugh, tome isso!

O demônio, coberto por inúmeros pequenos ferimentos, começava a enfraquecer visivelmente, até mesmo para um olho inexperiente.

A vitória estava ao alcance, mas Ares continuava a luta metodicamente.

Então, o demônio, após errar um golpe de Ares, finalmente deixou sua espada cair.

Com um estrondo, a espada do demônio caiu no chão.

Aproveitando a oportunidade, Ares balançou sua espada em direção ao pescoço do demônio.

No entanto, o demônio desviou o golpe com sua mão esquerda desarmada. Embora a lâmina tivesse perfurado o braço, ela não o cortou ao meio. Em vez disso, parecia que o braço do demônio havia engolido a lâmina, enquanto ele flexionava os músculos para segurá-la.

— Não consigo puxar!

Pela primeira vez na batalha, Ares gritou.

— Pode ficar com minha mão esquerda.

O demônio sorriu e, com sua mão direita, fez brotar garras enormes, avançando em direção a Ares.

Ares soltou sua espada, tentando desviar do ataque, mas seu abdômen foi cortado.

Apesar da pressão contínua do demônio, Ares começou a entoar um feitiço.

— Vento!

Ele lançou uma magia de vento em direção aos olhos do demônio.

— Tch!

O demônio desviou do feitiço, mas Ares deu um passo para trás para aumentar a distância entre eles.

O demônio puxou a espada que estava cravada em sua mão esquerda e a jogou na floresta atrás de si. Sua mão esquerda pendia inutilmente, provavelmente não conseguindo mais movê-la.

Ares murmurou algo. Provavelmente era uma encantação para lançar magia. No entanto, a magia que ele conhecia era básica e parecia pouco eficaz contra o demônio.

Oh, não!

Com esse pensamento, corri em direção a Ares, segurando minha própria espada.

O demônio começou a se mover. Ares conseguiu atrair a atenção do inimigo e lançou um feitiço de fogo.

As chamas envolveram a cabeça do demônio, mas ele avançou sem hesitar.

Ares conseguiu desviar, mas seus movimentos estavam lentos. Seria por causa do ferimento em seu abdômen?

— Ares, pega!

Joguei minha espada em direção a Ares.

O demônio ergueu suas garras da mão direita.

Ares pegou habilmente a espada giratória e, sem hesitação, mergulhou no peito do demônio, cravando a espada profundamente em seu ventre.

— Conseguimos!

Não consegui evitar de gritar.

No entanto,

— …Eu te dou… minha vida… mas você… vai cair junto comigo…

Com a espada atravessando seu corpo, o demônio cravou seus dentes enormes no pescoço de Ares.

O sangue jorrou violentamente do pescoço de Ares.

— Ares!

Meu grito ecoou pela floresta.

 

 

Fragmento 2

 

Quando eu tinha seis anos, Zack veio morar na nossa casa. Sua mãe era irmã mais nova do meu pai, então ele era meu primo. Tínhamos a mesma idade e uma estatura parecida, por isso fiquei feliz de ganhar um novo companheiro de brincadeiras.

Os pais de Zack eram aventureiros, então eles pareciam muito legais.

O pai de Zack era um guerreiro. Diferente dos outros aldeões, ele tinha uma expressão digna e seu corpo era todo musculoso, sem um pingo de gordura. Ele me mostrou suas habilidades com a espada algumas vezes, e eu fiquei impressionado com a graciosidade com que ele se movia. Eu pensava que talvez ele fosse o guerreiro mais forte do mundo.

A mãe de Zack era uma maga. Ela era muito inteligente e havia aprendido magia sozinha, estudando por conta própria. Os livros e tomos de magia que ela deixou em nossa casa estavam surrados de tanto serem folheados. Uma vez, ela me mostrou sua magia, e foi lindo vê-la subir aos céus.

Mas Zack era tão comum em comparação a eles que me perguntava: “Será que ele é mesmo filho deles?” De certa forma, ele era meio sem graça. No entanto, embora fosse desajeitado, ele tinha essa tendência estranha de continuar praticando alguma coisa de maneira persistente até se tornar bom, fosse brincadeira ou qualquer outra coisa.

Quando perguntei a Zack sobre isso, ele disse: — O lema da minha família é continuar até conseguir.

Mas eu não queria que ele fizesse isso e deixasse a hora de brincar chata, então eu o interrompia no momento apropriado.

Depois de cerca de uma semana morando na nossa casa, os pais de Zack partiram em uma jornada para lutar contra o exército do Rei Demônio.

Ouvi dizer que o país de Malica estava sendo invadido pelas forças do Rei Demônio e uma grande batalha estava acontecendo lá. Se eles conseguissem vencer essa batalha, haveria paz por algum tempo.

— Por algum tempo? Derrotar o Rei Demônio não traria paz duradoura?

Perguntei à minha mãe.

— É difícil ter uma paz duradoura se o Rei Demônio não for derrotado. Mas mesmo um curto período de paz conquistado através da luta é precioso, não acha?

Minha mãe respondeu com uma expressão triste.

— Então eu vou derrotar o Rei Demônio!

Declarei, querendo animar minha mãe.

— Entendo…

Ela respondeu com uma expressão complicada.

— Ares, por favor, cuide do Zack,

Pediram os pais de Zack antes de partirem em sua jornada.

— Claro! Podem contar comigo!

Aceitei sem hesitar, já que os respeitava muito.

Mas eles abraçaram Zack com ternura por um longo tempo.

Ao ver aquilo, pensei que talvez nunca mais os víssemos.

No dia seguinte, reuni as crianças da aldeia e começamos a praticar com espadas de madeira, dizendo: — Vamos derrotar o Rei Demônio!

Eu estava falando sério, e meus amigos se juntaram a mim com entusiasmo. Claro, Zack também.

Estávamos apenas balançando espadas de madeira, mas parecia que havíamos nos tornado um grupo de aventureiros.

Nosso objetivo era alcançar a habilidade com a espada de um guerreiro como o pai de Zack. Todos nós pretendíamos nos esforçar para dominar as técnicas de espada que ele havia nos mostrado. No entanto…

— Ares, estou entediado com isso. Vamos fazer outra coisa,

Disse um dos meus amigos após cerca de um mês.

— É, Ares, não tem graça já que você é muito mais forte que a gente,

Concordaram os outros amigos.

Parecia que eles haviam perdido o interesse quando uma diferença de nível de habilidade surgiu a partir das práticas.

Certamente, eu era o mais habilidoso e muito melhor que meus amigos.

Ou talvez eles não tivessem levado a prática com a espada a sério desde o começo, apenas prolongando o tempo de brincadeira. Somente Zack ainda parecia motivado.

— Entendi… então vamos parar com a prática de espada.

Decidi continuar praticando apenas com Zack, enquanto interrompia as aulas em grupo.

Sendo a família do chefe da aldeia, meu pai e minha mãe eram instruídos, então eles ensinaram a mim e a Zack a ler e escrever. Eu rapidamente aprendi a ler os caracteres e comecei a ler os vários livros da nossa casa. Acho que foi muito mais tarde que Zack conseguiu ler livros.

Um dos livros que li continha a história de um herói, e, segundo ele, o herói sabia usar magia de ataque como um mago e magia de cura como um sacerdote, não apenas a espada.

— Beleza! Então eu também devo aprender magia!

Pensei simplesmente. Aquele que derrotaria o Rei Demônio seria o herói. Então, eu precisaria ser capaz de usar magia também.

Tínhamos os tomos de magia que a mãe de Zack usou para estudar, mas achei que aqueles seriam difíceis demais. Em vez disso, fui pedir ao sacerdote da aldeia, na igreja, se ele poderia me ensinar magia de cura.

— Você quer aprender magia de cura?

O sacerdote da nossa aldeia ainda era jovem e passava uma impressão de ser gentil e tímido.

— Sim! Quero me tornar um herói!

— Um herói? Entendo, um herói…

O sacerdote ponderou por um momento.

— Primeiro, peça permissão ao seu pai. Depois disso, posso lhe dar algumas orientações simples. Na verdade, não devo ensinar a ninguém, exceto àqueles que estão treinando para se tornarem sacerdotes, mas estes são tempos difíceis…

Ele disse com um sorriso gentil.

Corri imediatamente para casa e conversei com meu pai sobre isso.

— Magia de cura? Acho que só pessoas escolhidas conseguem usar isso… Mas se o sacerdote disse que vai te ensinar, vá em frente e tente.

Meu pai não parecia acreditar que eu seria capaz de aprender magia de cura.

De qualquer forma, consegui a permissão, então Zack e eu fomos à igreja receber as instruções do sacerdote.

Na verdade, ele apenas nos ensinou as palavras de uma oração simples e a mentalidade adequada ao rezar.

— Primeiro, você precisa estar ciente da presença de Deus. Se conseguir se concentrar nisso, suas orações naturalmente ganharão poder.

O sacerdote explicou. Aparentemente, aqueles que treinam para serem sacerdotes conseguem sentir a presença de Deus. Em outras palavras, é porque eles sentem essa presença que se tornam sacerdotes.

Como eu nunca havia sentido nada parecido, apenas murmurei repetidamente as palavras da oração. Zack murmurava junto comigo. Enquanto orávamos seriamente, nossos amigos se aproximaram.

— O que vocês estão fazendo?

— Praticando orações de cura.

— Orações de cura? Ares vai virar sacerdote?

— Eu vou ser um herói, não um sacerdote.

— Se você disser essas orações, vai conseguir usar magia de cura?

— Se eu conseguir sentir a presença de Deus e rezar corretamente.

— Hmm, me ensina também.

— Por quê?

— O trabalho na fazenda da minha família é muito pesado. Quero ser alguém como o sacerdote, que só reza o dia inteiro.

Achei que a motivação do meu amigo era meio impura, mas ensinei a oração de qualquer forma. Depois disso, mais e mais amigos se juntaram, e começamos a rezar juntos. As razões eram sempre as mesmas; achavam que ser sacerdote era um “trabalho respeitável e fácil”.

Após alguns dias, meus amigos começaram a desistir um por um.

Claro, ficar repetindo orações simples era chato e parecia sem sentido. No fim, só Zack e eu continuamos. Para ser sincero, eu também queria parar, mas Zack seguia firme. Me perguntei se Zack queria aprender a magia de cura para poder encontrar seus pais. Se fosse isso, eu não poderia fazer com que ele parasse.

Vários meses depois, chegaram à nossa vila rumores da guerra entre Malica e as forças do Rei Demônio.

O exército liderado pelo General Muller, deste país, conseguiu repelir as forças do Rei Demônio, mas, como sua chegada foi tardia, o país de Malica foi destruído. Parece que nenhum dos aventureiros voluntários que lutavam na linha de frente sobreviveu.

Na noite em que soubemos dessa notícia, meus pais disseram a mim e a Zack: — A partir de hoje, Zack é parte da nossa família.

Zack acenou com a cabeça em silêncio.

Naquela noite, Zack chorou baixinho em sua cama. Do quarto ao lado, eu conseguia ouvir seus soluços enquanto oferecia orações pelos pais de Zack.

Acho que até aquele momento eu não entendia o significado das palavras da oração. Eu as recitava sem pensar.

Quando orei de verdade por alguém pela primeira vez, uma luz fraca apareceu entre as minhas mãos entrelaçadas.

Na manhã seguinte, após realizar esse pequeno, mas divino milagre, fui até a igreja para mostrar ao sacerdote.

— Incrível. Para ser honesto, eu não achava que isso fosse possível, mas isso certamente é um milagre de Deus.

O sacerdote colocou a mão sobre minha cabeça e me elogiou.

— No entanto… infelizmente, não sinto um poder tão forte em você. No máximo, mesmo que você domine a técnica, provavelmente será apenas uma magia de cura básica. Ainda quer continuar?

Eu assenti firmemente, sem hesitar.

Após mais alguns meses de instrução, consegui usar magia de cura básica.

Infelizmente, embora Zack tivesse recebido as aulas comigo, ele não foi capaz de realizar nenhum milagre divino.

A notícia de que eu podia usar magia de cura logo se espalhou pela vila. Ou melhor, meu avô, o chefe da vila, se encarregou de espalhá-la alegremente.

Segundo meu pai, quando meu avô descobriu que a mãe de Zack, sua filha, conseguia usar magia, ele também se gabou disso por toda a vila.

Por causa disso, os aldeões começaram a vir até mim para curar pequenos ferimentos. Era uma boa prática para a magia de cura, então também fiquei agradecido por isso.

No entanto, como o sacerdote havia dito, logo alcancei meu limite. Só conseguia usar magia de cura básica e não conseguia invocar milagres maiores de Deus.

Para ser honesto, aquilo parecia completamente inútil, então decidi estudar magia de ataque.

Havia outro motivo para eu querer aprender magia de ataque; achei que seria inútil para Zack continuar tentando aprender mais sobre a magia de cura. Como a mãe dele era uma maga, achei que seria melhor ensiná-lo magia de ataque.

Quando falei com Zack sobre isso, ele respondeu: — Tudo bem, se o Ares diz, faremos juntos.

Ele parecia um pouco relutante em desistir da magia de cura, mas começamos a estudar juntos para aprender magia de ataque. Tivemos que começar aprendendo a língua antiga para poder ler os livros de magia.

Líamos e estudávamos arduamente juntos, usando os livros que a mãe de Zack havia deixado.

A notícia de que estávamos estudando magia de ataque logo se espalhou pela vila. Então, nossos amigos vieram querendo estudar conosco também.

Eles simplesmente pensavam: “Pessoas que sabem usar magia se tornam importantes.” Mas, como eles nem sabiam ler ou escrever, tiveram que começar por aí.

Ter que aprender a ler e escrever, depois a língua antiga, e então os livros de magia; o longo caminho pela frente fez com que nossos amigos logo desistissem e desaparecessem.

Estudar magia levou muito tempo. Era difícil de entender, e só podíamos fazer isso entre as tarefas domésticas e o treinamento com espadas, então o progresso foi lento.

No final, consegui lançar meu primeiro feitiço aos doze anos. Levei mais de cinco anos. Sem Zack estudando comigo, eu nunca teria conseguido continuar. No entanto, Zack não conseguiu dominar a magia de ataque.

Por volta dessa época, o exército do Rei Demônio começou a invadir novamente. O número de demônios aumentou, e suas atividades ficaram mais intensas. Na vila, formou-se um grupo de autodefesa, e os aldeões começaram a treinar com armas.

Nós também participamos, mas, como já treinávamos com espadas há algum tempo, eu era muito mais forte que os adultos. Às vezes, até comecei a derrotar demônios que apareciam perto da vila.

Com o passar do tempo, sendo capaz de usar tanto a espada quanto magia de cura e ataque, comecei a ser tratado como um gênio. Meu avô proclamava em voz alta: — Esta criança pode ser o herói!

Mas eu não pensava assim. Eu conhecia os pais de Zack. Eu era inferior com a espada em comparação ao pai de Zack, minha magia de ataque não chegava perto da da mãe de Zack, e minha magia de cura não era nada comparada à do sacerdote da vila.

Em outras palavras, tudo em mim era medíocre. Eu não tinha a menor ideia de como poderia derrotar o Rei Demônio desse jeito.

Foi então que um evento desesperador aconteceu.

Um profeta apareceu na vila.

— O herói que salvará o mundo surgirá desta vila.

Diante de muitos aldeões, o profeta fez essa declaração.

Os aldeões se voltaram para mim, como um só.

Parem com isso! Não me olhem assim!

Eu queria gritar. Não há como eu derrotar o Rei Demônio. Meu corpo tremia, minhas pernas pareciam fracas.

Olhei para Zack ao meu lado, buscando ajuda. Mas ele estava olhando fixamente para o profeta.

Ao contrário de todos os outros que esperavam algo de alguém, Zack parecia estar tentando encontrar a possibilidade de ser o herói dentro de si. Pensando bem, mesmo sendo pior com a espada e a magia do que eu, ele nunca desistiu de si mesmo, nem uma vez.

Vendo-o daquele jeito, consegui recuperar minha compostura.

No fim, fui celebrado como o herói, mas aceitei isso em silêncio.

Após consultar meus pais, decidi ir para a capital e me inscrever na Academia Pharme. Felizmente, apenas meus pais estavam pensando com clareza e entendiam que eu ainda não era um herói capaz de derrotar o Rei Demônio de imediato. Na verdade, eles duvidavam que eu fosse mesmo o herói, mas o clima na vila era tal que não podiam dizer isso aos aldeões. Meu avô, o chefe da vila, já havia começado a celebrar, dizendo: — Ares realmente era o herói!

A partir daquele dia, parei de ajudar nas tarefas domésticas e me dediquei completamente ao treinamento especial com a espada e a magia. Eu liderava os combates contra os demônios também. Estava desesperado.

Eu estava muito inseguro, mas Zack sempre estava ao meu lado.

Não importa quantas vezes eu falhasse, ele continuava se esforçando junto comigo.

Acho que fui encorajado esse tempo todo ao vê-lo agir assim.

Eu não sei se sou realmente o herói ou não.

Mas parece que o que é necessário para ser um herói não é habilidade com a espada ou com magia.

De alguma forma, senti que Zack era mais adequado para ser o herói.

 

 

Fragmento 3

 

No fim, Ares foi salvo de alguma forma.

Graças à morte do demônio, o ferimento em seu pescoço não era tão grave quanto eu pensava, e se fechou com um feitiço de cura.

No entanto, a ferida apenas se fechou, não cicatrizou completamente. A área ao redor do lado esquerdo do pescoço de Ares estava roxa e tinha uma aparência horrível. Além disso, ele tinha usado toda sua mana para curar o ferimento no pescoço, e não conseguia nem se levantar sozinho devido à dor e à exaustão de mana.

O ferimento no abdômen era raso, mas não mostrava sinais de fechamento. Apliquei primeiros socorros emergenciais envolvendo-o com um pano, mas o sangue estava encharcando o tecido. Era um ferimento que deveria ser facilmente curado com magia de cura básica, mas Ares não tinha nem força para isso agora.

Ares está em perigo desse jeito

Não apenas o ferimento no pescoço, mas a lesão abdominal também poderia ser fatal. Minimizei nossa bagagem e ofereci meu ombro para Ares se apoiar enquanto caminhávamos.

Encontrei e peguei a espada que Ares havia jogado fora; ele implorou desesperadamente para que eu a levasse junto.

— Desculpa…

Ares, com o rosto pálido, pediu desculpas.

— Não se preocupe com isso. Agora estou tentando salvar o herói que vai salvar o mundo. Isso me faz um herói e tanto, não acha?

Tentei brincar e suavizar a situação, mas o peso de nossos passos era inevitável. Nosso ritmo era menos da metade da velocidade normal de caminhada. A esse ritmo, era impossível saber quando chegaríamos a alguma habitação humana, quanto mais sair dessa floresta.

A condição de Ares piorou com o passar do tempo.

Ou o ferimento no abdômen piorou, ou ele desenvolveu uma febre alta—em todo caso, ele não conseguia mais andar.

Joguei fora a maior parte da bagagem e carreguei Ares nas costas.

Carregar outra pessoa do meu tamanho nas costas era difícil. Minha força se esgotava rapidamente.

Caminhei enquanto o carregava, mas logo precisei fazer uma pausa. A esse ritmo, nem em um mês conseguiríamos chegar a algum lugar habitado, muito menos sair da floresta.

Enquanto descansava, recitei a magia de cura que aprendi com o sacerdote da vila para Ares. Como nunca havia conseguido realizá-la antes, como esperado, nenhum milagre divino ocorreu.

Por favor, só desta vez! Cure os ferimentos de Ares!

Rezei desesperadamente a Deus, implorando, mas minhas orações não chegaram a Ele.

Pensando que Ares poderia morrer por causa daqueles ferimentos, me arrependi de não ter me esforçado mais para aprender magia de cura. Fiquei em lágrimas por causa da minha própria impotência.

Como Ares mal conseguia manter os olhos abertos, ele não me viu chorar.

Carrego Ares nas costas. Mas não fazemos nenhum progresso. Estamos piores do que ontem. Não é só o meu corpo que está mal. Além da fadiga e da fome, o pior de tudo é que não temos mais água. Não há água para beber, nem para lavar o ferimento abdominal de Ares.

Não havia sinais de um rio ou nascente por perto, e a floresta era acidentada demais para eu me aventurar mais a fundo. Eu devia ter sabido o quão preciosa é a água. Mas a água que tínhamos foi quase toda usada ontem para lavar os ferimentos de Ares, e agora não havia mais nada.

— Água!

Tentei entoar o encantamento de magia de água que Ares e eu praticamos juntos no passado, mas como eu nunca consegui fazer isso funcionar, nada aconteceu. Ares teria conseguido produzir água facilmente com magia.

Por que não fui eu quem se machucou?

Por que não consigo lançar nem mesmo uma magia simples?

“É mais rápido tirar água de um poço.”

Foi o que meus amigos, que estudaram magia conosco, disseram quando viram Ares conjurar o feitiço de água pela primeira vez.

Talvez fosse verdade. No entanto, não há garantia de que sempre haverá um poço ou rio por perto. Muito menos durante uma jornada enfrentando demônios; é difícil imaginar que teremos condições tão favoráveis. E agora, eu estava percebendo isso profundamente com meu próprio corpo.

A noite caiu, e eu não conseguia enxergar nada ao meu redor. Rugidos de bestas ou demônios ecoavam de vários lugares. Estava com medo. Eu queria fogo.

— Fogo!

Entoei o encantamento de magia de fogo, cujas palavras eu apenas conhecia, mas, claro, nada aconteceu.

Um cheiro ruim começou a emanar do corpo de Ares. Provavelmente, os ferimentos estavam começando a infeccionar. Eu estava com medo de remover o pano que cobria as feridas e confirmar isso. Se eu soubesse usar magia de fogo, poderia ter cauterizado o ferimento abdominal de Ares e fechado a ferida.

Para começar, eu não coloquei um acendedor de fogo na nossa bagagem. Achei que não precisaríamos de um, já que Ares podia usar feitiços de fogo. Mas estar nessa situação realmente me fez perceber a importância do fogo. A escuridão da floresta, onde nem mesmo a luz das estrelas chega, parece um abismo, despertando um medo primitivo.

E o pior de tudo, estava frio. Ares tinha uma febre alta, mas apenas em partes do corpo, como a cabeça e ao redor dos ferimentos; seus dedos estavam gelados e sem vida. Nos aconchegarmos juntos não adiantava nada para nos aquecer.

Eu queria poder usar magia para criar ao menos uma pequena chama.

Se eu tiver outra chance, com certeza vou aprender magia

Tremendo de medo na escuridão, fiz esse juramento em meu coração.

A manhã chegou. Não consegui dormir nada. Ares estava delirando a noite inteira. Seu rosto estava completamente sem cor, praticamente sem vida. Eu mesmo não descansei nada e não tinha mais forças ou força de vontade para carregar Ares e continuar andando.

— O que eu devo fazer…? O que eu faço…?

Em desespero, acabei deixando escapar essas palavras.

— Me mate…

Ares gemeu.

— Eu estou acabado. Se continuar assim, Zack, você também vai se ferrar. E eu estou sofrendo demais. É aterrorizante sentir meu corpo apodrecendo. Por favor, Zack, me mate com a minha espada.

Com a voz quase apagada, Ares falou.

— Não há como eu fazer isso! Você é meu irmão, meu melhor amigo, sempre estivemos juntos! Não há como eu fazer algo assim!

Ares e eu crescemos como irmãos. Matá-lo era inimaginável, algo que eu não conseguia nem considerar.

— É por isso… você deveria entender como me sinto agora. Zack, você não tem outra escolha a não ser seguir em frente sem mim. Mas se você me deixar aqui, vou ser devorado vivo por insetos e feras. Então, por favor, me deixe morrer. E siga em frente sozinho.

Os olhos de Ares estavam fechados. Ele apenas distorcia o rosto, como se estivesse suportando a dor.

— O que eu vou fazer sozinho na capital? Você é o herói, não é? Se o herói morrer, o mundo está perdido!

— Mas a verdade é… eu nunca fui o herói. O profeta apenas disse que “aquele que salvará o mundo virá desta vila”. Ele nunca disse nada sobre mim. E quando ouvi as palavras do profeta, por alguma razão, imaginei não a mim, mas você, Zack.

— Isso não pode ser verdade! Eu nem consigo usar magia! Se eu soubesse usar magia, eu teria curado seus ferimentos! E nem sou tão bom com a espada…

Eu desabei em lágrimas.

— Eu também não entendo bem por quê, mas foi assim que me senti.

O rosto de Ares se contorceu de tanta dor.

— Ahhh… meu corpo inteiro dói, como se estivesse sendo apunhalado. Estou sofrendo. Por favor, Zack, acabe logo com isso.

Eu podia ver que Ares estava realmente em agonia.

Percebi que precisava fazer o que era necessário.

Chorando, eu saquei minha espada.

Coloquei a ponta no peito de Ares, que estava deitado no chão.

Com os olhos fechados, Ares fez uma expressão sorridente. Ele estava em dor, mas forçando um sorriso.

Ele estava fazendo isso por minha causa.

Minhas mãos tremiam. Após um breve momento, quando o rosto de Ares se distorceu de novo em agonia, eu empurrei a espada em seu peito.

Após um impacto, a espada foi sugada para dentro do peito de Ares.

A boca de Ares se moveu levemente. Uma palavra final suave demais para ser ouvida.

 —  Mãe.

 

***

Oito anos se passaram desde então.

Essa floresta não mudou nada. As árvores gigantescas que cobrem o céu, a sensação vaga de inquietação que essa atmosfera evoca—nada mudou.

Apesar de termos derrotado o Rei Demônio, ainda há muitos demônios, não há viajantes, e as estradas pela floresta estão cobertas de vegetação.

Confiando em minhas vagas memórias, procurei o lugar onde deixei o corpo de Ares, mas não consegui encontrar.

Eu não tinha força nem vontade para cavar a terra e enterrá-lo. Apenas cobri o corpo dele de forma desleixada com um manto para escondê-lo, então, mesmo que eu me lembrasse do local exato, provavelmente não restaria nada agora.

— O que você está fazendo, Ares? Não é hora de ficar vagando por aí. Vamos voltar logo para a capital e fazer o relatório sobre a derrota do Rei Demônio. Ouvi dizer que ainda restam muitos servos, e precisamos de sua força.

Leon me chamou enquanto eu vagava para fora da estrada e entrava na floresta.

Ele estava com pressa para voltar. Como o próximo chefe de uma família nobre, ele alcançou grandes feitos. Ele deve estar ansioso para relatar orgulhosamente no palácio real. Isso é natural.

Se Maria e Solon voltarem, eles também garantirão status.

— Leon, Maria, Solon. Esta é uma despedida. Digam a todos que o herói Ares morreu.

Minhas palavras fizeram os três arregalarem os olhos.

— Que bobagem é essa que você está dizendo, Ares? Nós finalmente derrotamos o Rei Demônio, não foi? Vamos voltar juntos! Depois você pode se casar com a princesa e se tornar rei! Se você se tornar rei, ficarei feliz em servi-lo!

Leon fez uma pausa por um momento, depois continuou, ponderando.

— Está, por acaso, inseguro em se tornar rei? É verdade que, mesmo sendo um herói, pode haver nobres que se oponham à ideia de um plebeu ascendendo ao trono. Mas, se for o caso, estou aqui para apoiá-lo! A família do conde o respaldará com todas as forças. Não deixaremos ninguém levantar objeções.

Quando nos conhecemos, Leon só tinha insultos para mim, um plebeu de nascimento humilde, vangloriando-se de que “Eu serei o herói e o próximo rei!”

Comparado àquela época, ele mudou bastante. Não, seu núcleo não mudou.

Leon sempre foi altruísta, considerando sinceramente o bem do país—ele era um nobre e cavaleiro de alta integridade moral.

— Isso mesmo, Ares. Tornar-se rei é mais uma provação para o herói. Desistir agora não combina nada com você.

Maria sorriu gentilmente.

— Uma vez que eu controlar a igreja, governaremos juntos.

…as palavras dela foram mais gentis do que o conteúdo.

— Ares, por quê? Nos diga sua razão.

Solon me questionou calmamente.

— Desculpem, eu não sou Ares. Na verdade, nunca fui o herói.

Eu finalmente consegui dizer o que sempre quis.

— O que você está dizendo? Se você não é Ares, então quem é você?

Leon parecia confuso.

— Sou Zack. Zack é meu verdadeiro nome. Sinto muito por ter enganado vocês até agora.

Eu abaixei a cabeça para os três.

— Zack? Por que você usou um nome falso?

Solon continuou questionando.

— Porque Ares era o nome do verdadeiro herói.

Então, comecei a contar sobre o passado. Como o profeta apareceu em nossa vila natal e eu parti na jornada como companheiro de Ares. Como fomos atacados por um demônio no caminho, Ares foi ferido, e eu dei o golpe final. E como fui sozinho para a capital, entrei na academia…

— Derrotou um demônio aos catorze anos? Não acredito que alguém assim existiu… — Leon estava impressionado com o valor de Ares.

De fato, Ares era extraordinário. Realizar tanto aos catorze anos era incrível. Se ele tivesse continuado vivo, talvez pudesse ter derrotado o Rei Demônio muito antes.

— Entendi a história de Ares, mas por que você precisou assumir esse nome? — Solon se encostou em uma árvore próxima, como se soubesse que a conversa seria longa.

— Porque eu matei o herói. Então, tive que assumir a responsabilidade de me tornar o herói. Foi por isso.

Para assumir a responsabilidade de matar o herói, eu fui tão longe.

— Ares morreu por causa do demônio. Não foi sua culpa. — Maria disse.

— Não, Ares morreu por minha causa. Eu ainda sinto a sensação de cravar a espada em Ares com minhas próprias mãos. Além disso, eu não derrotei o Rei Demônio como Zack. Eu o derrotei como Ares. Se eu tivesse permanecido como Zack, de jeito nenhum teria conseguido.

— Mas Ares já está morto, não está? — Solon cruzou os braços e começou a tamborilar os dedos, frustrado.

— A mãe de Ares… a mulher que me criou, Shera, é uma pessoa muito bondosa. Eu não posso contar a ela que ‘Ares morreu sem se tornar um herói’. A verdade é que ela nem queria que Ares se tornasse um herói. É por isso que atribuí todas as conquistas a Ares, e agora estou indo embora.

— Você vai simplesmente deixar todo o crédito que deveria ter sido de Ares e partir?

Eu podia sentir a raiva nas palavras de Solon.

— Esse crédito sempre pertenceu a Ares desde o início.

— Você é idiota, é? — Solon finalmente começou a elevar a voz. Ele sempre foi um cara de pavio curto e boca suja.

— Você é o herói! Ares caiu no meio da jornada! Isso é a verdade! Além disso, eu também conheço as palavras do profeta. “O herói que salvará o mundo desta vila aparecerá.” Isso não se referia necessariamente a Ares. Desde o começo, você era o herói!

Sendo um sábio, a observação de Solon estava correta. Eu sabia disso também.

— Eu sou só uma pessoa comum, que não sabia usar uma espada ou magia. Eu não sou adequado para ser um herói. Além disso, para mim, Ares é o verdadeiro herói.

Sim, eu não era digno de ser um herói. Eu estava apenas perseguindo a sombra de Ares esse tempo todo.

— Sim, você é só uma pessoa comum! Provavelmente o menos talentoso da academia! E foi você quem derrotou o Rei Demônio! Nós sabemos o quanto você se esforçou, os sacrifícios que fez, as noites sem dormir, a busca incansável por progresso, mesmo quando não era suficiente. Certamente, você pode não ter tido as qualidades de um herói. Mas você salvou o mundo! Eu não reconhecerei ninguém além de você como o herói.

Solon, com o rosto coberto pelo capuz, disse. Apesar do tom forte, suas palavras foram gentis.

— Obrigado, Solon. Só de ouvir você dizer isso, já me sinto mais que satisfeito.

Meus esforços, que eu achava que nunca seriam recompensados, finalmente deram frutos, e eu tinha três amigos que os reconheciam. Isso já era o suficiente para mim.

— Você realmente vai partir, Ares… digo, Zack?

Maria, sem a habitual fachada de santa, mas demonstrando seus verdadeiros sentimentos, parecia genuinamente preocupada comigo.

— Não vá, Zack. Estou pedindo que fique. Recusar meu desejo seria uma blasfêmia contra Deus.

— Obrigado, Maria.

O verdadeiro rosto de Maria, que raramente ela mostrava, era indiscutivelmente o mais belo do mundo.

— Se você continuar dizendo isso, minha resolução pode enfraquecer. Mas eu preciso ir. Se eu continuar nesse caminho, mais cedo ou mais tarde, alguém vai descobrir que estou vivo. Quero evitar isso a todo custo. Eu tinha planejado me despedir um pouco antes, mas quis continuar viajando com todos vocês pelo máximo de tempo possível.

Tinha sido uma jornada difícil e desafiadora, mas os dias com meus companheiros eram memórias preciosas.

— Para onde você pretende ir? — Leon perguntou.

— Primeiro, vou voltar para a vila, relatar que Ares derrotou o Rei Demônio, e devolver esta espada aos pais de Ares. Depois disso, eu vou deixar este país e embarcar em uma nova jornada.

Eu planejava encontrar Shera pela última vez e deixar este país. Se eu ficasse, meu segredo poderia ser revelado algum dia.

— Sua Majestade, o Rei, ainda não está em uma idade em que precisemos correr para escolher o próximo rei. Volte quando quiser. Ficarei feliz em recebê-lo.

— Obrigado, Leon. Acredito que você poderia ser um grande rei.

— Com certeza.

Leon deu uma risada.

— Sou um homem digno de ser rei. Mas não caí tanto a ponto de aceitar o crédito que deveria ter sido seu.

Ele era, de fato, um homem honrado. Era uma pena que ele não tivesse intenção de se tornar rei.

— Então, estou indo.

Virei as costas para meus amigos.

— Espere. — Solon falou.

— O que sou para você? Ou melhor, o que eu…?

Ele hesitou por um momento.

— Você é meu melhor amigo, é claro.

Tínhamos sido amigos por muito tempo, desde os dias na academia, compartilhando alegrias e tristezas. Não havia outra palavra que se encaixasse melhor.

— Entendo. Você continua atrevido como sempre, chamando um gênio como eu de seu melhor amigo.

Solon esboçou um leve sorriso.

— Isso é bom, Solon. Você nunca teve amigos desde que era criança, né?

Maria o provocou. Solon respondeu com um olhar de reprovação.

— Eu vou te encontrar, onde quer que você vá, e vou te trazer de volta. Você é meu amigo. — Ele disse.

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