Capítulo 103
Tragédia de Kollon (2)
A expressão de Pan era peculiar.
Com as sobrancelhas franzidas, ele estremeceu de medo, mas seus olhos continuaram a traçar cada caractere.
“Você consegue ler os símbolos?”
“Como… ochê shabia que eu erra das Ruínas de Kollon? Quem sãou ochês?”
Com um olhar cauteloso, Pan olhou para Jin.
Ele se lembrou de quando escapou da sua terra natal, que se transformou em ruínas há três anos. No dia em que ele foi para a Cidade Livre de Tikan para escapar dos olhos do Clã Zipfel.
“Hmm, qual é a melhor maneira de explicar isso… eu sou o convidado da Chefe Alisa, esse cara de cabelos pretos é um dragão, o cara de cabelos verdes também é um dragão e a criança é claramente uma criança de 6 anos.”
Jin revelou suas identidades e Pan não foi o único que se assustou.
“Ei, ei, garoto! Por que disse tudo isso?”
“Como assim ‘por que’? O Sr. Pan parece saber algumas informações valiosas sobre o mapa. Hmm, Sr. Pan. Foi assim que escolhemos te chamar.”
Seria melhor dizer a verdade. Sem falar do fato da Euria ter sido contratada pelo Az Mil.
“Lathry, o de cabelo verde, é o dragão de Az Mil. Ele tocou neste mapa e teve uma visão devido ao ressentimento armazenado dentro do objeto. Em sua visão, ele viu pessoas como você que estavam sendo atormentadas. Foi basicamente uma coincidência.”
“Humm.”
Pan permaneceu em silêncio por um tempo, depois falou.
“Poxo ir fumarr?”
“Vai lá.”
Pan caminhou para o jardim da frente do restaurante. Se apoiou na parede e acendeu um charuto.
‘Tenho quase certeza de que ele disse que não tinha charutos, mas tinha sim.’
Jin sorriu e Lathry abriu a boca preocupado.
“Aquele homem… e se ele escapar?”
“Como diabos ele faria isso? Esta é a terra do pirralho.”
“Ah… certo. Peço desculpa, Lorde Murakan.”
“Pedir desculpas pelo que?”
“Oh, uh… não é nada.”
Depois de queimar todo o charuto, Pan parecia mais sereno e organizado, mais calmo do que antes.
“Poxo perrguntar* algumas coissas?”
“Claro.”
“Ochês são os Zifels?”
“Não estamos exatamente em um bom momento com eles.”
“Ochê sabe o que eze mapa zignifica?”
“Isso não leva a um tesouro?”
“Não é um tessouro.”
“Entendo.”
Jin respondeu e deu de ombros levemente. Os olhos de Pan se estreitaram.
“Ochês vão me machucarr se eu não axudar?”
“Nós juramos que não. Mesmo depois levar um pouco do ensopado de marisco, não vamos te machucar nem te ameaçar. Não podemos fazer nada quanto à sua captura por mau comportamento. Em vez disso, a nossa reunião será inexistente.”
Jin não tinha intenção de mentir.
‘Já que ele admitiu que é nativo de Kollon, tenho certeza de que ele passou por muitas coisas fugindo dos olhos dos Zipfels. Não há necessidade de importuná-lo.’
O silêncio reinou na sala e Pan se afundou em pensamentos.
Foi realmente uma coincidência que ele conheceu Jin ou eles estavam o caçando? Ele chegou a uma conclusão.
Não era algo que ele pudesse decidir.
“Mia irmã…”
“Sim?”
“Pexoal, eu aicho que temos que ir verr mia irmã.”
Jin assentiu.
“Então vamos esperar um pouco para que eles embalem a comida.”
* * *
O Pan era um mentiroso talentoso.
Ele disse que não tinha charuto, mas tinha um maço. Ele disse que deviam ir ver a irmã dele, mas não era a irmã dele.
Depois de pegar seu ensopado de marisco embalado, eles foram para a casa de Pan, que ficava em um beco profundo. Que quase não tinha espaço livre.
“Esta é a primeira vez que o Pan traz convidados para casa. Bem-vindos, nobres de Tikan.”
A pessoa que os recebeu era uma mulher disfarçada de “irmã” do Pan.
Embora ela fosse muito mais jovem que Pan, seu “irmão” se curvou em sua presença.
“Lady Laosa, eu truxe convidadoz* sem a shua permixão.”
“Bom trabalho, Pan.”
Um clima estranho.
A aura de Laosa parecia misteriosa. Jin não podia dizer que era forte, mas não era algo que podia ser abordada sem cautela.
Ela transbordava energia sagrada. Normalmente, Murakan diria algo como “por que a casa é tão podre?” mas ele estava tomando cuidado com o que falava.
Assim que Jin a viu, ele soube.
‘Os nativos de Kollon têm o sangue mais nobre. Eles eram a raça escolhida por Deus. Parece que ela é a última descendente.’
Laosa parecia ter profunda sabedoria.
“Aquele nascido do local de nascimento da esgrima e escolhido pela sombra, um Dragão Negro e o Dragão da Verdade, bem como o Filho Amado de Az Mil. E a Chefe da Força de Defesa de Tikan, que sempre se preocupa com o Pan.”
Todos ficaram surpresos e olharam para Laosa.
“Como você…?”
“É apenas um pequeno talento. Peço desculpas se os assustei. Pan, por favor pegue um pouco de chá.”
“Sim.”
Enquanto Pan colocava água em uma chaleira torta, as costas de Jin começaram a suar.
‘Um pequeno talento…?’
E uma atitude calma, como se ela já soubesse que eles estavam vindo.
Jin nunca tinha encontrado um humano como Laosa. Não, ele nem sabia se ela era humana.
‘Essa aura transcendente… eu já senti isso antes.’
A mesma aura que ele sentiu no momento em que firmou contrato com Solderet em sua vida passada.
Era mais fraca, mas semelhante.
“Lady Laosa, você é um deus?”
Embora possa parecer algo muito repetino, excluindo Euria, todos os outros também tinham essa pergunta devido ao ar sufocante.
Ainda assim, sua aura era poderosa. Levantava a pergunta ‘Ela é um deus?’
“Não, sou uma hospedeira. Se eu fosse um Deus, não teria perdido a minha pátria e vivido a minha vida escondida.”
Murakan assentiu como se soubesse.
“Ela era uma hospedeira de um deus. Ainda há muita sabedoria, mas em breve tudo desaparecerá.”
“Isso é verdade. No entanto, dizer isso faz meu coração doer, Ó Grande Dragão Negro.”
“Ouvindo todas as conversas até agora, acho que está apontando para as ruínas de Kollon. Vocês são nativos de Kollon. É a primeira vez que ouço falar de um deus que desceu lá. Quem é?”
“Mesmo que eu lhe dissesse, você não saberia. Além disso, pode por favor me mostrar o mapa?”
Laosa estendeu o braço e abriu a mão. Jin lhe emprestou o mapa.
“Meu falecido avô criou este mapa. Ele tinha supostamente dois destinos. E, felizmente, em vez dos Zipfels, chegou até você. Parece que as minhas débeis devoções funcionaram.”
“Posso perguntar o que está escrito nesse mapa?”
(Aquele que lê isto através do coração de um Kollon,
Por favor, não nos abandoneis.
Por favor, venham e gritem; somos meras pessoas caladas.
Pessoas caladas.
O deus nos deu uma ordem pesada, mas não força suficiente para executá-la.
Estou ressentido.)
Laosa lentamente leu e interpretou as frases escritas em sua língua nativa.
“Algo assim.”
Apesar de sua voz calma, Laosa derramou uma lágrima. Ela se lembrou dos séculos de opressão e do seu avô morto.
“A ordem escrita aqui é para proteger o item localizado no ‘X’. Conhecem a situação em Kollon?”
“Está em ruínas por causa dos Zipfels. Enquanto estava em casa, executei uma missão lá.”
“Haha… sob o disfarce de escavação de artefatos, o clã Zipfel está tentando encontrar nosso item sagrado. Mesmo com sua magia avançada, eles estão tendo dificuldade. No entanto, é apenas uma questão de tempo até que eles tenham sucesso. Uma vez que não podemos detê-los.”
A chaleira soprou vapor. Pan, que estava lentamente servindo o chá, parecia estar segurando as lágrimas. Suas costas tremiam de vez em quando.
Recuperando a compostura, Pan distribuiu as xícaras cheias. Laosa sorriu.
“Meu avô era uma pessoa realista. Sem qualquer promessa de reciprocidade, ele implorou para não ser abandonado… no entanto, eu não sou assim. Gostariam de negociar comigo?”
“Você está literalmente à beira de perder sua sabedoria e quer negociar? Apenas nos peça ajuda. Seja como for, vamos para as ruínas de Kollon.”
Embora ele tenha falado palavras duras, Murakan realmente queria ajudar o desamparo de Laosa.
Jin também achava que um acordo não era necessário. Como Murakan disse, eles iriam de qualquer maneira e seu plano original era impedir que os Zipfels colocassem as mãos no artefato de espelho.
“Não acredito em favores feitos por compaixão. Pan e eu tivemos que sofrer muitas batalhas apenas para conseguir esta pequena casa.”
“Oh, Lay Laosa. Por favor, esqueça ezas memóias. Pexo dixculpa.”
“Se você está arrependido, por favor, pare de beber e ser preso, Pan. De qualquer forma, se estão dispostos a salvar o meu povo, só posso oferecer uma coisa.”
“O que é?”
“Usarei o resto do meu poder divino para chamar o seu deus. Tenho certeza que já faz algum tempo que não ouvem a voz de Solderet.”
Murakan e Jin olharam um para o outro.
“Hoho… você parece saber muito. Como é que esta cidade tem uma velha hospedeira de um deus e um contratante de Az Mil? Muitas crianças com clarividência e sabedoria. O que vai fazer, Jin?”
“O que você acha? Não há razão para recusar. Compreendo, Lady Laosa. Partirei para as Ruínas de Kollon em breve. No entanto, não posso garantir que posso salvar o seu povo.”
Ele iria ajudá-los se fosse tão simples como lutar contra os magos Zipfel, obter o espelho e acompanhar os nativos para algum lugar seguro.
Mas salvação não era a praia dele.
“Ir para lá já é suficiente. Vou falar mais sobre os problemas internos, por isso, por favor, fiquem um pouco mais.”
* * *
20 de fevereiro de 1796.
Apenas três estavam indo para as Ruínas de Kollon: Jin, Murakan e Kashimir.
Após a morte de Andrei e Vyuretta, Quikantel não podia dar as caras aos Zipfels a qualquer instante. Os poderes de Gilly ainda estavam sendo suprimidos e Enya era muito inexperiente para se aventurar em tal missão.
Quanto a Alisa, ela precisava ficar em Tikan para manter a segurança.
Então, por processo de eliminação, os três homens tinham que ir. Se disfarçaram de turistas normais e se prepararam para partir.
No entanto, eles já tinham um problema.
‘O que é isto…? As ruínas não são mais abertas para turistas?’
As coisas mudaram desde os dias de cadete de Jin.
As Ruínas de Kollon viraram uma área restrita que barrava pessoas até durante o dia.