Capítulo 106
Tragédia de Kollon (5)
“Você não gostou do plano? Não há nenhum guarda ou mago lá dentro. Portanto distrair ele e dar uma espiada no porão seria moleza.”
“Tsc, não. Digamos que o distraia. Vamos checar o porão e ver que realmente há experimentos com golens vivos. Assim, podemos garantir algumas provas desses experimentos. Não podemos assegurar a sua segurança depois disso.”
“Não posso apenas lidar com ele enquanto bebe e depois sair de fininho? Depois de todos escaparem do porão, quero dizer.”
“Parece que você não sabe muito sobre magos. Quantos feitiços de segurança acha que deve ter lá? No momento em que nos aproximarmos do subsolo, Myuron vai descobrir com certeza. Aí você já era.”
“Eu não vim aqui sem saber a possibilidade de morte.”
“Às vezes há uma diferença entre coragem e tolice, meu amigo jornalista. Não adianta morrer antes mesmo de começar a revolução.”
Jin não queria usar Dino como uma carta descartável. Este corajoso jornalista tinha todos os direitos de uma vida prolongada.
E se Dino morresse, todo o seu precioso progresso seria perdido.
“Vamos fazer assim então. Assim que nos apresentar, também seremos companheiros de bebida de Myuron.”
“Perdão?”
“Vamos beber juntos. Fingiremos ser soldados perdidos e contadores de histórias. A nossa história é que acabamos de te conhecer por coincidência e nos trouxe até ele porque achou que éramos legais.”
“Você acha que Myuron vai acreditar nisso? Tenho certeza que ele vai desconfiar.”
Jin suspirou e sorriu.
“Pela sua experiência, que tipo de pessoa ele é?”
“Um lunático. Um sádico que se sente revigorado com o infortúnio e a dor dos outros… algo assim.”
“Isso mesmo. Mas é só isso? Apesar de viver cada dia desse jeito, ele é o sexto filho dos Zipfels. Tenho certeza que ele já sabe quem você é.”
Dino rapidamente acenou com as mãos na frente, negando esse fato.
“De jeito nenhum. Se soubesse, não me teria deixado vivo.”
“Tenho certeza de que ele não sabe exatamente a sua identidade. Mas leia o seu diário novamente. Todos os nativos que entrevistou foram levados para o porão. O que significaria isso?”
Dino tinha pensado que a ordem dos sujeitos dos experimentos de Myuron eram aleatórios e não estavam relacionados com as suas próprias ações, já que o Zipfel não tinha o machucado de nenhuma forma. No entanto, seguindo uma lógica básica, uma pessoa de poder não deixaria alguém minar seus planos.
O equívoco dificultou processo de pensamento de Dino, embora ele tivesse registrado que todos os nativos com quem conversou haviam sido arrastados para o porão no período de uma semana.
“E um parceiro de bebida… você acha que Myuron está realmente mantendo você por perto porque ele está sozinho? Não tem como. Ele estava observando um rato preso em uma gaiola.”
“O que você… um rato em uma gaiola… eu…”
“Sim. Talvez tenha ficado um pouco curioso. ‘Por que esse garoto é tão corajoso sem motivo nenhum? Por que este garoto não percebe que estou capturando nativos sempre que fala com eles?’ Deve estar pensando algo assim.”
“Não é… possível. O que ele ganharia com isso?”
“Você mesmo disse. É um lunático que gosta do sofrimento dos outros. Então, ele deve estar se sentindo ótimo te observando, não é?”
Instantaneamente, Dino começou a tropeçar para trás.
Ele pensou que a teoria de Jin era um exagero. No entanto, não havia como refutá-lo; a lógica era impecável. E se fosse verdade, ele não sabia como compensar os nativos que tinha matado indiretamente.
“Mesmo se formos todos juntos, ele não será cauteloso. Ele nos receberia como se você fosse um ratinho fofo trazendo novos amiguinhos ratos. Em sua perspectiva, ele está apenas ganhando mais brinquedos.”
Jin estava dizendo isso com tanta confiança por três razões.
Em primeiro lugar, excluindo a Tika, todos os nativos que entraram em contato com o Dino haviam sido arrastados para o subsolo.
Em segundo lugar, as histórias que ele tinha ouvido sobre Myuron Zipfel antes da sua regressão. Os incontroláveis Gêmeos Tona podiam ser considerados anjos em comparação com ele.
Em terceiro lugar, a última conversa que ele tinha tido com Beradin na Arena Cosmos. Eles trocaram muitas palavras naquela noite, mas em uma de suas conversas, Beradin mencionou que desprezava Myuron.
— O irmão mais velho Myuron é uma dor de cabeça. Não tem nem como compará-lo ao velhote insuportável, o cara de fóssil do Andrei. Só de pensar nele me dá vontade de vomitar enquanto durmo. Não faço ideia porque é que os anciãos o deixaram ser o Pilar da Sétima Torre dos Magos.
— Hã? você o despreza assim tanto? Que tipo de pessoa é este homem?
—Dante, um cara simpático como você nunca poderia conceber o nível daquele monstro sádico e psicopata.
Jin achou estranho confiar firmemente na avaliação de Beradin sobre Myuron. Ele também meio que sentiu falta de Dante e Beradin por um segundo.
“Tudo isso… e se estiver errado? Se ler o diário, então um nativo ainda está vivo, mesmo depois de ter feito contato comigo.”
“Latika Tika Mamutika.”
“Sim, ela está…”
Dino parou, depois cerrou os dentes.
“Eu sinceramente desejaria que sua teoria estivesse errada. Se é como você esperava, então acho que sei por que Myuron deixou Tika viver…”
“Vamos verificar mais tarde. Não sei se a minha imaginação é vívida ou se o Myuron é um monte de porcaria.”
“Ei, garoto. Isso tudo é muito legal e tal, mas o que vai fazer quando encontrar o Myuron?”
“O que vou fazer? Vou entrar no jogo dele e atacá-lo quando for a hora certa. Pelo que o Dino disse, se o matarmos, essa história acaba.”
Entendendo a intenção de Jin, Kashimir assentiu e confirmou:
“Fazer o jogo dele enquanto bebe deve distraí-lo. Certamente, ele não sabe o quão fortes somos. Também podemos verificar se há armadilhas ou algo assim.”
“Isso mesmo. Enquanto bebemos e falamos com ele, não haveria alguma chance de atacar quando a guarda dele baixasse? Quero dizer, embora o meu plano possa ser falho, uma batalha é iminente.”
Os quatro se reuniram e planejaram as suas partes.
Cada um deles escolheu um nome e uma profissão falsos. Eles planejaram roteiros e coordenaram conversas apenas por precaução.
“Se de alguma forma conseguirmos entrar, temos que encontrar os nativos. Uma vez iniciada uma batalha, a nossa prioridade é proteger o Dino e os nativos.”
“E se algum de nós sentir que Myuron baixou a guarda, execute-o imediatamente.”
Dino então resumiu tudo o que sabia sobre as Ruínas de Kollon em cinco minutos.
“O porão central é para onde todos vão. Mas direi mais uma vez: não há guardas nem magos. Como não posso entrar em batalha, só posso lhes desejar boa sorte.”
Depois de organizarem seu ataque, eles começaram a andar o caminho até Myuron. Dino foi na frente, e os outros três seguiram. Jin tirou a Runa de Myulta e Kashimir e Murakan tiraram suas máscaras.
Myuron, que estava falando sozinho, sentiu seus passos e acenou para Dino.
“Oh! Estava te esperando, Dino. Hehe, não consigo falar com esse pessoal incivilizado aqui… e você trouxe amigos hoje?”
Assim que viu o sorriso de Myuron, Dino só sentiu arrepios rastejando pelas costas.
‘Como o garoto disse, ele está nos recebendo bem.’
Dino mal conseguiu manter a compostura. Ele baixou a cabeça.
“Peço desculpas por trazer pessoas sem permissão, Sir Myuron. Conheci eles por coincidência e pensei que já estava cansado de falar comigo… se eu passei do limite, peço desculpa.”
“Está tudo bem, não se preocupe. Onde os conheceu?”
Myuron olhou para a fogueira e falou.
Parecia que ele queria esconder o sorriso.
“Eu os conheci enquanto lavrava ervas no Reino de Peylon. Eles eram soldados na região norte do reino, mas parece que estavam voltando para casa para férias.”
“Sinto-me honrado em conhecê-lo, Sir Myuron Zipfel.”
“Estou honrado—”
“Chega, chega. Não preciso de apresentações. Parem com essas saudações inúteis. Ei! Traga mais taças!”
Um nativo de Kollon correu com mais taças e as distribuiu.
Myuron encheu as suas taças de qualquer jeito. Elas transbordaram de vinho, um roxo escuro respingando em todos.
“Dino… Dino Zeglun.”
Jogando a garrafa de vidro fora, Myuron mostrou um sorriso estranho. Então semicerrou os olhos, olhando para o fogo.
“Sim, Sir Myuron?”
“Duas semanas atrás, eu queria muito saber quem você era. Um plebeu que entrou na zona restrita dos Zipfels sem remorsos. Pessoas assim não existem.”
“Peço desculpa.”
“Ah, hehe. Não estou tentando culpar você, nem nada. De qualquer forma, a partir de então, você começou a me irritar… especialmente quando conversava com os nativos sem que eu soubesse! Pensei que fosse um supervisor ruim que o meu pai tinha grudado em mim. Ele tem as manias dele. Hehe, hehe, hehehehe.”
Myuron riu. Dino não sabia o que fazer, então ele apenas esperou pelas próximas palavras de Myuron.
Os visitantes ficaram hipersensíveis. Eles sentiram que a situação estava se desenrolando mais rápido do que o esperado.
‘E agora você traz amigos para a área restrita sem minha permissão…? Aaah! Oh, Céus. Meu Dino, o que tem de errado contigo? Como pode ser tão destemido? Não consigo te entender. Estou prestes a ficar com calafrios!”
Myuron explodiu em gargalhadas histéricas e maníacas. Seu corpo estremecia com isso. Ele balançou tanto que corria o perigo de enfiar a cabeça no fogo se não tivesse cuidado.
“Sir… Myuron?”
Ele parou.
Myuron imediatamente parou de rir e bebeu um pouco de vinho.
“Mas agora eu sei. Por qual razão o teu fígado está tão grande e inchado.”
“Eu não sei o que isso significa…”
“O Jardim das Espadas. Os que estão atrás de ti são de lá.”
Jin balançou a espada primeiro. Simultaneamente, Kashimir esfaqueou as costas de Myuron e Murakan conjurou um campo de força em torno de Dino.
Algo desviou as duas espadas.
Era um campo de força de mana condensado que estava escondido pelo fogo.
‘Não consegui detectar esse tanto de mana? Ele tava com o rosto perto do fogo por causa disto?’
Murakan ficou chocado.
Mesmo que Myuron não fosse um usuário de energia espiritual, ele conseguia esconder completamente seu uso de mana.
“Jin Runcandel! Parece que a profeta fugitiva implorou aos seus pés!”
“Parece que conhece o meu rosto. Pensei que tínhamos planejado muito bem, mas agora as nossas identidades falsas nem sequer foram usadas.”
Jin recuou, estalou a língua e ajeitou a postura.