— Espera! Você não tem nem uma espada!
— Tenho mais uma.
Jaehwan puxou uma espada de sua mochila dimensional. Era a Espada do Dragão que ele conseguiu no 88º andar da Torre dos Pesadelos.
Minora gritou:
— Isso não vai ser o bastante…!
A luta começou antes que ela pudesse terminar. Os Adaptados rapidamente se lançaram todos de uma vez só. Havia golpes de diferentes armas em um ataque contínuo. Alguns tinham até habilidades especiais que Minora reconhecia.
“14ª Formação do Rei das Chamas…!”
Era a principal habilidade de ataque do Clã Rei das Chamas dos dez Clãs do Caos. Se treinada ao extremo, permitia que a arma empunhasse fogo e queimasse a área.
“Então o Clã Rei das Chamas estava vendendo habilidades para clãs inferiores mesmo…!”
A floresta estava queimando. As chamas do Rei das Chamas queimavam tudo em seu caminho e a raposa louca ficou furiosa. Jaehwan se preparou.
Minora sabia o que ele estava tentando fazer. Ela precisava impedir Jaehwan.
Uma mera [Estocada] não era suficiente para derrotar a 14ª Formação do Rei das Chamas.
Mas Minora não conseguia acreditar no que via. Ela não podia acreditar em seus cinco sentidos. A lei do tempo estava sendo distorcida diante dos olhos dela.
[Vazio]
Minora, que estava ao lado de Jaehwan, conseguiu ver apenas por um breve instante. As espadas avançando em direção a Jaehwan estavam ficando lentas, e Jaehwan passou por elas sem esforço.
“Estou sonhando?”
Nenhum dos ataques conseguia acertar o corpo aparentemente frágil de Jaehwan. Era como se ele não existisse.
[Suspeita]
Entre as armas, havia um caminho que só era mostrado para Jaehwan. A única linha que só era visível para quem desconfia do mundo. A espada de Jaehwan se moveu.
Era uma estocada, uma simples estocada.
Não era nada demais, mas com movimentos precisos e rítmicos, a lâmina cortava os corpos dos inimigos. Um relâmpago brilhou e iluminou a escuridão. Seis dos membros da Raposa Vermelha viraram poeira.
— DROGA! MATEM-NO!
O resto deles ficou inquieto e começou a se juntar para atacar. A 14ª Formação do Rei das Chamas veio de todos os quatro lados, uma cela feita de fogo. Era um ataque que ninguém conseguiria suportar.
No entanto, Jaehwan saiu ileso.
— Como?
Havia muito mais do que ele saindo ileso das chamas.
[Entendimento]
O fogo agora estava se acumulando na ponta de sua lâmina, como se tivesse se originado dela. Algo ruim estava para acontecer. Klant, a Raposa Negra, gritou ao sentir um ataque vindo.
— Pessoal! Fiquem na defensiva!
Então Jaehwan avançou. Mas não era uma simples estocada.
O ar foi extraído e ficou em silêncio. Nesse curto silêncio, Klant e os outros Adaptados sentiram a respiração parar e seus pulmões serem atingidos. Klant havia sentido esse sentimento algumas vezes durante sua vida.
Foi quando ele se deparou com um dos líderes dos Dez Clãs, os mais fortes do Caos.
Enquanto o ar explodia, a chama disparava. A floresta e os humanos foram queimados da mesma maneira ao serem varridos pela tempestade de fogo. Os gritos foram cobertos pelas explosões e árvores quebradas se espalharam por toda parte.
O que sobrou depois das chamas foram cinzas queimadas.
Minora havia observado tudo do início ao fim.
Foi quando ela soube. Jaehwan não tinha dado o corpo da besta de dois chifres porque era um idiota. Ele não tinha emprestado sua Arma Espiritual porque era um idiota. O motivo dele não ter corrido mesmo quando estava cercado por todos esses Adaptados não foi porque ele era um idiota.
Ele era simplesmente muito forte.
Klant, que mal conseguiu se esconder atrás das árvores, murmurou:
— De onde esse cara apareceu?
Ele recebeu um relato de que um idiota veio com uma “Arma Espiritual” enquanto estava a caminho da [Caça às Bruxas]. Mas não era um idiota; era um monstro. Depois de bloquear o 14º Golpe do Rei das Chamas, ele desfez a habilidade e a devolveu com um ataque mais poderoso. Um simples ataque erradicou metade da equipe dele.
Defender a habilidade de nível médio era possível para Adaptados de 3º estágio, mas desfazê-la e mandá-la de volta era inédito. Klant não conseguia nem imaginar o quão forte era o homem.
Kanghun gaguejou ao ver Klant olhando para ele.
— I-isso não pode ser verdade!
— Recuem!
Kanghun cerrou os dentes.
— Eu tenho a Arma Espiritual! Provavelmente consigo derrotá-lo com essa arma!
Klant olhou para a espada negra que Kanghun afirmou ser uma Arma Espiritual e balançou a cabeça.
— Não. Ele é muito poderoso.
— Isso não é verdade!
Kanghun então avançou em direção a Jaehwan. Jaehwan estava se aproximando pelo fogo e Kanghun usou sua melhor habilidade para atacar. A arma era poderosa o suficiente para matar uma besta de dois chifres com uma estocada. Com essa arma, ele com certeza—
O ataque dele foi desviado com facilidade. Havia somente o som de sua espada zunindo pelo espaço vazio. Kanghun sentiu sua energia se esvaindo até que Jaehwan agarrou a lâmina sem nem suar.
— Como?!
Kanghun não conseguia entender. Afinal, ele tinha feito no passado, depois de se formar na Torre, andou pelas <Grandes Terras> e chegou ao <Caos>, treinou suas habilidades e ganhou atributos… Ele resistiu tanto.
Kanghun se lembrou do poder espiritual de Jaehwan.
「 Poder Espiritual: 154 」
A maioria dos Adaptados de 1º estágio tinham uma média de 100, então aquilo era nada.
— Como conseguiu com esses atributos…?
Os olhos de Jaehwan se estreitaram.
Fazia um tempo desde que ele ouviu isso. Houve uma época em que ele se esforçou para aumentar seus atributos e subir de nível. Isso foi nos dias de Torre dele. Ele se esforçou tanto para ganhar atributos e coletar itens melhores. Jaehwan entendia Kanghun, e é por isso que podia falar com ele.
— É por isso que você é fraco.
— O quê?
Jaehwan se aproximou dele. Enquanto se aproximava, Kanghun recuava com medo. Ele não conseguia entender o Abismo nos olhos de Jaehwan. Não era algo para ser entendido por números ou atributos. Quando Kanghun recobrou a consciência, ele estava ajoelhando. Jaehwan estendeu a mão, tomou a espada de Kanghun e a apontou para os membros da Raposa Vermelha que estavam fugindo.
Estocada. Mas era muito mais sério. Foi como se ele estivesse demonstrando como era usar a habilidade.
Kanghun tremeu ao saber o que ia acontecer.
— O q… O que é você?
Quando seus olhos se encheram de desespero, uma luz foi disparada da lâmina, uma energia poderosa e cruel que parecia estar voltada para o próprio mundo. Klant, que estava fugindo à distância, olhou para trás em choque, mas era tarde demais.
— Não posso acreditar…
Klant caiu no chão com um buraco no peito. Sons parecidos vinham de toda a floresta.
Essa foi a última coisa que Kanghun conseguiu ver.
Durante a noite escura, uma fogueira foi iniciada. Minora olhou para o céu escuro e relembrou os velhos tempos.
“Minora, você não serve para ser uma assassina.”
Foi o que ela ouviu do líder depois de seu primeiro fracasso. Não, era o que ela sempre ouvia cada vez que fracassava. O líder sempre falava com ela que a piedade dela seria sua ruína.
Ela queria negar isso.
Portanto, ela aceitou o pedido particular mesmo sendo proibido. Ela pegou os trabalhos difíceis como acabar com bandidos e criminosos de propósito, com esperanças de aprender a ter um coração frio com eles. Depois de meio ano caçando diversos criminosos, ela até adquiriu o título de “Bruxa do Massacre”. Entretanto, hoje ela queria perguntar:
“Ei, líder, sabia que estou viva porque não estou agindo como uma assassina?”
Ela então virou para Jaehwan, que estava alimentando sua arma com os equipamentos que pegou. Ele era misterioso.
“Quem é ele?”
A luta ainda estava fresca nos olhos dela. Ela nunca tinha visto uma luta assim antes.
— Ei…
Minora hesitou, mas logo decidiu chamar Jaehwan.
— O que você é de verdade?
Jaehwan olhou para ela e então olhou de volta para a espada dele.
— Pode me falar? Por favor?
— Sobre mim? Hmph.
Jaehwan olhou para Minora e sorriu. Ele então começou a falar.
— Você já me conhece.
— O quê?
— Já se esqueceu?
Ele olhou como se estivesse desapontado e Minora ficou confusa. Ela não conseguia se lembrar dele falando de si mesmo ou algo do tipo. Enquanto ela pensava, Jaehwan balançou a cabeça.
— Infelizmente, parece que também perdeu suas memórias.
— Hein?
— Pelo menos não sou o único.
Minora então percebeu algo e respondeu com uma voz confusa.
— Nossa… Você… Você realmente…
Ela não imaginou que ele devolveria o que ela fez hoje nesse momento. Minora riu.
— Deveria ter vergonha!
Jaehwan não respondeu.
— Devolve minha pedra.
— Não estou com ela.
— Hein? Por quê?
— Porque a perdi.
— O quê? É cara! Como a perdeu?
Jaehwan não respondeu quando Minora começou a falar com ele. Os sons de sua espada devorando os equipamentos e Minora falando do seu lado eram de alguma maneira muito tranquilos. Parecia que Jaehwan havia viajado de volta para a época que ele havia perdido. Uma brisa fresca balançou seu cabelo e Jaehwan olhou para o céu.
Foi interessante. Havia céus e estrelas. Jaehwan pensou que o que ele estava buscando talvez fosse como o céu noturno. Algo que pudesse provar que ele era humano nesse mundo irreal.
— Quer mesmo saber sobre mim?
Minora parou de falar de repente.
— Então ouça com atenção.
Minora concordou ansiosamente e Jaehwan falou:
— Eu sou humano.
— Tá de brincadeira?
Minora tentou gritar, mas Jaehwan perguntou:
— VOCÊ é humana?
— Claro, sou humana! Digo-
Jaehwan sorriu.
— Então isso é o bastante.
— O quê?
— É o bastante.
— O que quer dizer…
Minora tentou perguntar mais, mas esqueceu o que ia perguntar enquanto olhava para Jaehwan. Ela nunca havia visto um homem que parecia tão solitário. Quando ela olhou para ele por um tempo, entendeu. Talvez ele estivesse certo. Talvez fosse o suficiente.
Jaehwan enfiou a mão no bolso. Havia uma pequena pedra na ponta de seus dedos. Era pequena, mas bem trabalhada. Um realismo frio, mas denso. A pedra que te leva somente para o presente, a pedra que te diz que o lugar para onde deve voltar é só o presente.
Jaehwan então sonhou com os velhos tempos, antes da Torre dos Pesadelos aparecer. Antes de ninguém tentar voltar para o passado. Era tenso e às vezes cheio de desespero, mas ninguém voltava para o passado.
Um mês depois de escapar da Torre.
Jaehwan havia encontrado um humano pela primeira vez.