“O que sabe sobre as <Grandes Terras> sendo que nem entrou no <Caos>? Hein? Eu? Também nunca estive lá.”
-Gainach, Monarca da Preguiça.
Na manhã seguinte, Minora ficou confusa quando ouviu Jaehwan no caminho para a fortaleza mais próxima.
— Sobre o que queria que eu falasse?
— Você.
— O que de mim?
— Quero saber como foi quando concluiu a Torre dos Pesadelos.
Era uma viagem chata, então conversar era normal. Minora teria pensado dessa forma, o problema era o assunto.
— Não acha que é um pouco rude perguntar isso do nada?
Perguntar o que aconteceu na torre era um tabu entre Adaptados. É por isso que as pessoas nem utilizavam o nome “Torre dos Pesadelos”, e sim “Raízes”.
Ninguém queria lembrar da época em que eram um [Produto].
Fazia oito anos desde que Minora concluiu a torre, mas ela ainda tinha pesadelos de quando conseguiu sobreviver através das Raízes.
— Quero ouvir a sua história em troca de ter salvado sua vida.
Minora mordeu os lábios e falou:
— Tudo bem.
Ela pensou por um instante e começou a história.
— Meu mundo natal se chamava “Arkal”.
Dez anos atrás, uma Torre dos Pesadelos apareceu no Mundo 7651 de Minora. Ela não se lembrava de como estava agora, mas o que ela lembrava era que assim como o mundo dela não era nada especial, a torre também não era. Era uma das torres produzidas em massa criadas para [Cultivar]. Mas as vidas e mortes das pessoas que aconteceram dentro da torre não foram produzidas em massa.
Depois de vencer o tutorial e o verdadeiro jogo, ela alcançou o 100º andar. Ali, ela e seus amigos, encontraram o Demônio, ou o [Cultivador]. Ela ainda não conseguia esquecer o que o demônio disse depois de olhar para eles sem interesse.
— Bah, isso é um fracasso. São todos Não Adaptados.
A floresta ainda estava densa. Jaehwan pressionou:
— O que aconteceu depois?
Minora pareceu não querer continuar.
— É uma história comum de uma garota saindo das Raízes e sobrevivendo pelas Grandes Terras.
— Se importa de entrar em detalhes?
Minora soltou um suspiro profundo.
— Se você insiste.
Ela ainda lembrava da animação de quando pisou nas <Grandes Terras>. Demônios disseram a ela:
— Nem dinheiro, nem educação importam dentro das <Grandes Terras>. A única coisa que tem valor eram os números.
Era a terra prometida após um longo pesadelo. Minora achou que tudo ficaria bem. Pensou que com os itens e habilidades dela, ela aproveitaria a vida nas <Grandes Terras>.
Mas ela estava enganada.
As <Grandes Terras> não eram a utopia que os demônios diziam ser. Minora teve que coletar habilidades, ao invés de dinheiro e aumentar o poder espiritual ao invés da educação.
Mais, melhor e mais alto.
E Minora era uma Não Adaptada, para não ser associada a tais palavras. Ela estava no fundo do poço da cadeia alimentar. Então só havia uma coisa que ela poderia fazer. Ela sempre tinha que correr, correr e correr.
— Depois disso é como você sabe. A maioria das pessoas vem para o Caos por razões parecidas.
Minora franziu a testa enquanto falava, aparentemente magoada por ter que relembrar seu passado.
— Você é cruel por me fazer lembrar disso tudo.
— Foi mal. Mas eu queria escutar.
Jaehwan não precisava da “história da Minora”. O que ele queria era a história comum de Adaptados que concluíram a Torre dos Pesadelos.
— Tá tudo bem. Vou considerar isso como tendo pago minha dívida por ter me salvado ontem. E também, não foi tão ruim assim falar disso, acho que o tempo passou mais rápido mesmo.
Minora parecia revigorada enquanto falava. Era como se ela tivesse acabado de terminar uma longa novel que esteve procrastinando.
Uma floresta acabou e outra começou. Agora havia árvores menos densas. Minora então falou como se estivesse esperando.
— Certo, agora é a sua vez.
— Minha vez?
— Não deveríamos jogar limpo? Eu falei de mim, então você deveria falar sobre você.
Ela estava prestes a dizer que consideraria isso como uma retribuição, mas mudou de ideia.
— Ainda quer saber quem sou eu?
Minora sorriu.
— Não, só quero saber sobre sua história.
Conhecer uma pessoa significava conhecer a história por trás dela. Era óbvio que quem ele era, seria mostrado por sua história. Jaehwan achou que ela combinava mais com o nome “Raposa” do que os membros da Raposa Vermelha que ele matou no dia anterior.
— Esqueceu que perdi minha memória?
— Você e sua perda de memória. Ainda está bravo com o que fiz ontem?
Jaehwan balançou a cabeça e Minora olhou para ele de maneira estranha. Jaehwan disse que não sabia nada sobre o <Caos>. Entretanto, isso era estranho. Havia uma possibilidade de alguém não saber sobre o <Caos> se estivesse fora dele, mas qualquer um dentro dele deveria saber.
Esse era o tipo de mundo que o <Caos> era.
— Então… Não tem nenhuma memória de quando entrou no <Caos>… Digo, nenhuma lembrança das <Grandes Terras>?
— Pode-se dizer que sim.
Ele nunca esteve nas <Grandes Terras>, então não estava mentindo. Minora olhou para Jaehwan com uma expressão que ele viu pela primeira vez no rosto dela. Parecia—
— Se for verdade… Eu te invejo.
Era a expressão de alguém que realmente tinha inveja.
— O quê?
— Invejo que não tenha nenhuma lembrança daquele lugar.
Jaehwan ficou curioso e perguntou:
— Qual parte da perda de memória você inveja?
— A maioria das pessoas aqui também vão te invejar.
— Por quê?
Minora não respondeu.
Então uma torre que parecia pertencer à fortaleza apareceu à distância. Eles estavam perto do destino.
— Aquele é o Castelo Gorgon. É o maior aqui por perto.
Jaehwan se sentiu estranho olhando para os muros do castelo. Então até no <Caos> havia grupos de pessoas vivendo em comunidades. Parecia que o mundo ainda tinha civilizações humanas básicas.
“A maioria das pessoas vem para o Caos por razões parecidas.”
Jaehwan ficou curioso. Sob que circunstâncias Minora veio para cá para ter dito isso? Jaehwan perguntou isso casualmente. Então, percebeu que cometeu um erro.
— Você perguntou “como” cheguei aqui?
Era uma voz fria. A expressão de Minora estava congelada.
— Vai se arrepender de ter perguntado quando descobrir a resposta para isso.
Ela então foi andando na frente.
A floresta acabou e agora havia um castelo medieval na frente deles. Ele nunca tinha visto uma fortaleza larga como essa. A Atopos que os humanos construíram para o 50º andar provavelmente era um barraco comparado a isso. Os muros apresentavam vários traços de reforços e reparos que mostravam que a fortaleza se matinha aqui há um bom tempo.
Mas, havia um lugar interessante na entrada. Tinha uma grande runa mágica.
Jaehwan sentiu algo familiar vindo dele. Ele conhecia um lugar parecido. Era parecido com a “Arena de Invocação” do primeiro andar da Torre dos Pesadelos.
— N-Não quero morrer!
— Me salve!
Na runa mágica, pessoas nuas estavam encolhidas. Algumas estavam agarrando o peito e lamentando, enquanto outras gemiam de dor. Algumas tinham rostos destruídos como se tivessem sido atacadas, enquanto outras pareciam dormir tranquilamente. Mas Jaehwan soube na hora.
Todos tinham expressões diferentes, mas, na verdade, estavam no mesmo sentimento.
Jaehwan sabia quando as pessoas sentiam algo assim.
Naquele momento, a runa brilhou e outro grupo de pessoas apareceu em cima dela. Pessoas nuas, tremendo de medo. Gritando, gemendo de desespero…
Ele sentiu um calafrio percorrer sua espinha.
— Então eles são…
— Agora entende o que me perguntou?
Minora parecia dolorida só de observar.
— Você me perguntou “como” eu cheguei no <Caos>? Jamais pergunte isso a qualquer um aqui.
Minora então tirou uma adaga de suas roupas e fez um pequeno corte no dedo mindinho. O sangue escorreu do dedo dela para o ar, então se tornou um pó branco e desapareceu.
Nesse mundo, o espírito desaparecia em partículas brancas.
Não era uma surpresa, já que ele tinha visto isso centenas de vezes e também viu quando matou os Raposas Vermelhas. Mas é por isso que ele esqueceu. Ele havia esquecido que o corpo humano não desaparecia. Eles sangravam e morriam de agonia.
Eles não viravam poeira.
Jaehwan finalmente entendeu a verdade desse mundo.
— Entendo… Então as pessoas aqui já…
Jaehwan olhou para a arena de invocação com uma expressão triste e Minora concordou.
— Bem-vindo ao mundo dos mortos, o <Caos>.