Prólogo
Encontro Casual
Respirações bruscas e ofegantes ressoaram.
O teto, as paredes e o chão nesta área do labirinto eram todos cobertos com cascas de árvores. O musgo cobria densamente suas superfícies, iluminando a passagem com uma luz verde azulada. Ela dava a impressão de que nenhuma alma jamais tivesse pisado nesta parte da Dungeon.
No labirinto desta árvore gigante, a qual foi completamente retirada do mundo acima, uma sombra solitária corria com toda a energia que podia reunir.
A figura tinha membros flexíveis e delicados que se assemelhavam aos de uma jovem. O cabelo azulado brilhava a luz do musgo.
Além de suas longas mechas sedosas, o ser possuía pele com um tom de azul-pálido.
Os ombros e a parte inferior das costas eram cobertos por escamas e suas orelhas eram compridas, afinando-se em pontas ainda mais sutis do que as dos elfos. Mas a característica mais notável, de longe, era o brilho da joia carmesim incrustada em sua testa.
Pele azul e uma joia carmesim era apenas as primeiras de muitas características que provavam que esta criatura era um monstro.
Ela segurou seus braços finos contra o peito enquanto corria pela Dungeon.
Por quê?
Estava sangrando.
Garras, presas e lâminas infligiram muitos ferimentos em seu corpo. Sangue vermelho escuro escorria dos ferimentos abertos a cada passo. Os ataques arrancaram escamas de seus ombros, tingindo sua pele azulada de vermelho.
Por quê?
O terror apareceu em seus olhos. Confusão. Tristeza.
Várias lagrimas percorreram o corpo da criatura, se juntando com o sangue em seu caminho para o chão. O líquido claro fluiu dos olhos âmbares do monstro enquanto sua garganta fina começava tremer.
“Por que…?”
O som que escapou de seus pequenos lábios não foi o uivo bruto de um monstro, mas uma única palavra, rouca e triste.
A voz era como a de uma criança chorando. O cabelo azulado e os ombros magros da figura solitária tremeram de medo.
Tristeza havia distorcido seu rosto, o que era raro para um monstro atraente o suficiente para deixar uma pessoa sem fôlego.
O monstro — a “garota” estava chorando.
Por que, por que todo mundo…?!
Ela estava sozinha.
Ela era apenas uma recém-nascida, que acabou de sair das paredes da Dungeon, mas tudo o que ela encontrou, a rejeitou.
Ela tinha as memórias de seu nascimento, de escapar da parede antes de cair no chão. Ainda incapaz de distinguir as coisas, ela vagou pela Dungeon, tentando dar sentido ao ambiente escuro. Enquanto ela estava ansiosa por não saber onde estava, ela sentiu um cheiro familiar — o de sua própria espécie. Seus instintos a levaram a segui-lo.
Isso a levou a um canto diferente da Dungeon, onde uma criatura muito maior do que ela estava. Ela se aproximou para perguntar:
“Onde estou?”
A resposta da criatura foi um rugido monstruoso. Após levantar a voz em raiva, o monstro a cortou com garras afiadas.
Com a pele rasgada, ela fugiu sem entender o porquê.
Enquanto o sangue vermelho escorria de suas feridas, a sensação de dor pela primeira vez inspirou terror na recém-nascida.
Desde então, ela foi atacada várias vezes. Os seres que compartilhavam seu cheiro, não importando sua forma ou tamanho, ameaçavam sua vida. Não havia exceções. Ela lutou desesperadamente para conter algo que tentava sair de seus olhos enquanto seus ferimentos continuavam a aumentar.
Correndo para fora das profundezas da Dungeon, a “garota”, exausta, encontrou criaturas de uma espécie completamente diferente.
Eles eram humanos equipados com arcos e espadas.
Acompanhando-os, estavam um macho e uma fêmea de orelhas compridas.
Ela se aproximou deles.
Não querendo assustar os recém-chegados, ela escondeu suas garras afiadas e abriu a boca para falar.
“Me ajudem.”
Em um instante, uma lâmina abriu uma nova ferida em seu corpo.
O grupo parecia mais confuso e abalado do que ela, mas o mais aparente era o terror deles quando a rejeitaram.
Diante dessa nova hostilidade, ela fugiu mais uma vez. Os homens se espalharam enquanto balançavam suas espadas. As mulheres prepararam seus arcos com gritos abafados.
Flechas caíram sobre ela quando suas lágrimas finalmente transbordaram.
Dor. Sofrimento. Tristeza.
As escamas em suas costas refletiram as flechas, mas racharam a cada impacto. Seus ombros rasgados e lacerados pareciam estar em chamas. O mundo a excluiu, afastou e a rejeitou.
Ela se questionou repetidamente. Porque, porque?
Gritos de “estou com medo, estou com muito medo” escaparam de sua boca.
Seu choro não cessava.
O que… eu sou…?!
Não importa quantas vezes ela perguntasse, a Dungeon, sua mãe, não respondeu.
Ela fugiu por algum tempo, mas no final seus perseguidores apareceram novamente. Espantados por sua beleza, eles adotaram expressões desconhecidas enquanto gritavam grosseiramente: “Pare!”
Os caçadores, molhando os lábios e olhando sadicamente para ela, não tinham razão para interromper seu avanço. A loucura em seus olhos enquanto a perseguiam era muita mais feia do que qualquer coisa que ela viu de seus companheiros monstros. Ela tentou escapar com suas duas pernas finas, já tendo aprendido a ter medo tudo.
A razão pela qual ela era considerada uma besta estava no poder latente que ela usava para se livrar de seus perseguidores, desviar de outros monstros na Dungeon que continuavam a atacá-la e a correr sozinha pelo caminho arbóreo. O eco solitário de seus pés no chão flutuava pelo ar da Dungeon aparentemente interminável.
Lágrimas translúcidas escorreram de seus olhos âmbar novamente.
“Ahh!”
Um declive para baixo.
Ela perdeu o equilíbrio como uma criança e caiu colina abaixo entre as raízes das árvores.
Após cair bem no fundo, a “garota” percebeu que havia machucado a perna. Ela não conseguia ficar de pé.
Uivos de monstro e passos de pessoas causaram um arrepio em seu corpo. Ela examinou os arredores antes de sair, arrastando a perna imóvel junto. Suas feridas já haviam coagulado o suficiente para conter o fluxo de sangue, permitindo que ela escondesse seu rastro. Em um canto da Dungeon, ela encontrou uma árvore e uma abundância de plantas. Usando as folhas como abrigo, ela se escondeu.
Com suas costas pressionadas contra a árvore, ela prendeu a respiração. Tremendo, ela apertou seu corpo gravemente ferido com os dois braços e lutou contra as ondas infinitas de terror.
Então ela percebeu que algo estava se aproximando.
Ela podia ouvir passos cada vez mais próximos a cada segundo. Esse som a fez se lembrar da dor cortante de uma espada, paralisando-a com horror.
Seu corpo tremia incontrolavelmente.
Com suas bochechas ainda molhadas, outra onda de medo cruzou seu rosto.
Olhando para a figura humana que se aproximava, a garota se abraçou com todas as suas forças.
Então.
Os olhos lacrimejados da “garota” encontraram com os do recém-chegado.
“Um monstro… uma <Vouivre>?”
Cabelo branco e olhos vermelhos.
Em um canto escuro da Dungeon, ela teve um encontro fatídico com um garoto.