Capítulo 11
— Eu deveria fugir? O quê? — A garota que estava na cozinha fazendo o café da manhã (Vaqueira) ficou surpresa com as palavras. — Por quê?
— Eu encontrei pegadas. — Ela entendeu, mesmo que vagamente, o que isso significava. Alguém que não sabia de nada, poderia presumir que eram pegadas de crianças ou alguma brincadeira das fadas.
Elas eram pegadas pequenas, feitas por pés descalços que estavam cobertos de lama e excrementos. Os pés de alguém que não ligava em pisar na grama do pasto.
Ela sabia. Ela confiava nele para saber o que eram. Ambos sabiam que o tempo finalmente havia chegado, por mais fervorosos que desejassem que não fosse.
— Goblins. — Ele (Matador de Goblins) sempre falava de goblins. Ele estava junto à mesa do café da manhã com sua armadura e elmo. Era bizarro, sim, mas também era o que ele fazia todos os dias.
O que ele não fazia todos os dias, era abandonar a inspeção da fazenda para vir dizer que ela deveria fugir.
Ela parou de cozinhar e olhou para suas mãos. O que poderia dizer? Ela encontrou as palavras certas.
— Mas… você pode detê-los, não pode? — Ela queria que ele dissesse algo normal em resposta. “Sim” ou “Eu posso” ou “É a minha intenção”. Ela precisava ouvir esse tom calmo.
— Não — disse ele — não posso. — Sua voz parecia muito tênue. As palavras pareciam ser espremidas para fora.
O quê? Uma expressão de confusão e surpresa escaparam de seus lábios. Ela se virou de repente e viu ele se movendo ligeiramente, como se estivesse tremendo.
— Em uma caverna, eu poderia enfrentar uma centena de goblins e ganhar. De alguma forma.
Ele estava com medo?
Ele?
Os olhos de Vaqueira se arregalaram de surpresa.
Sua fazenda estava cercada por uma cerca, por um muro de pedra e barreiras que ele mesmo reforçou. Havia algumas armadilhas também, colocadas para apanhar animais intrometidos.
Estava longe de ser perfeito. Mas ela sabia que ele fizera tudo o que podia para protegê-los.
Quando ela olhou para ele, ele olhou para baixo uma vez, como se hesitando, mas fora isso, ele encontrou diretamente os olhos dela. Ou pelo menos, ele estava tentando.
— Nosso inimigo é um senhor — disse ele brevemente.
Existia dez tipos diferentes de pegadas. Uma horda que poderia decidir atacar um assentamento bem defendido — e então enviar dez goblins para explorar o lugar — deveria ter um líder. Um hob ou um xamã talvez, mas não. Nessa escala, tinha que ser…
Um senhor goblin.
Alguém que não conhecesse bem poderia zombar da ideia. Mas ele sabia bem. Ele sabia exatamente o que isso significava. Provavelmente, a horda teria mais de uma centena de goblins fortes. Se os batedores haviam passado, o ataque poderia vir hoje, amanhã no máximo. Não havia tempo para implorar por ajuda dos governantes ou do Estado. Mesmo que tivesse, os nobres nunca se incomodariam com meros goblins.
Matador de Goblins sabia de tudo isso. Vaqueira também sabia.
Porque foi o mesmo dez anos antes.
— Uma horda de goblins…? — Uma centena ou mais de criaturas viciosas e malignas, vindo diretamente a eles?
— Eu não sou um ranque platina… não sou um herói.
Eles não possuíam o número.
Eles não possuíam a força.
Isso significava…
— Eu não posso.
Era isso.
— Você deve fugir.
— Agora, enquanto ainda há tempo.
Vaqueira se moveu para ficar bem na frente dele. Ela encarou o seu capacete. Quando ela teve certeza de que ele não tinha mais nada a dizer, ela murmurou: — Tudo bem.
— Você está decidida?
— Sim. — Ela respirou fundo e soltou. Existia três coisas em seu coração, três coisas que ela precisava de coragem para dizer.
— …Me desculpe.
Agora que ela havia dito a primeira delas, o resto seria mais fácil.
— Não vou embora. — Ela forçou seu maxilar rígido formar um sorriso. Ela não o deixou perguntar por quê. Ele sabia porquê. — Porque você pretende ficar, não é?
Ele não disse nada.
— Viu? Eu sabia. Você fica quieto quando é apanhado. Sempre fica.
— Eles não vão apenas te matar.
— Sim. Eu sei — disse ela, calmamente.
Sua voz soou fria. Ele estava tentando ainda mais do que ela em manter a calma. — Eu estava vendo.
— …Eu sei. — Ela sabia exatamente o que ele queria dizer. Porque ele lutou, porque ele continuava a lutar. Ela sabia de tudo isso.
— A horda pode ser expulsa um dia — disse ele, como se estivesse falando com uma criança. — Mas não pense que você será salva. Mesmo se você viver esse tempo todo, seu espírito será quebrado.
A intenção de suas palavras — sua tentativa de assustá-la com a implicação eu não vou poder te salvar — era tão flagrante que ela quase riu.
Não, é claro, que ele estivesse errado. Ele não estava errado, e mesmo assim…
— Então fuja.
— Eu disse, não. — Apesar das circunstâncias, ela achou que estava feliz em saber que ele estava preocupado com ela. E ela estava preocupada com ele. Ela tinha que fazê-lo entender isso. — Eu não quero que aconteça de novo. — As palavras saíram dela por vontade própria. — Não haverá nenhum lugar para você voltar como casa… — E em seu coração ela acrescentou: Ou eu.
Não existia outro lugar que ele pudesse chamar de casa. Passaram-se dez anos, e ela nem tinha certeza se poderia chamar esse lugar de casa.
Ele olhou distante para ela, sem dizer nada. De algum lugar nas profundezas da escuridão de seu capacete, ele a observava. Sob seu olhar, ela sentiu um embaraço súbito se intensificando. Ela desviou o olhar e ficou vermelha; ela olhou para o chão. Mesmo quando ela se repreendeu por ser tão tola, as palavras continuaram, procurando algum tipo de desculpa.
— Q-quero dizer, pense nisso. Mesmo que escapássemos, os animais… as vacas, as ovelhas. Todos desapareceriam.
Ele estava em silêncio.
— Com isso, me refiro…
Silêncio.
— Eu entendi. — Duas palavras sussurradas. — É — murmurou ela de volta.
— Eu… realmente sinto muito. Sei que estou sendo teimosa.
— …Não faça essa cara. Relaxe.
Ela sorriu. Era um sorriso fraco, lágrimas se formaram nos cantos de seus olhos. Ela deve ter se sentido mal por ele fazer algo assim.
— Farei o que puder — disse ele. E então ele (Matador de Goblins) se afastou dela.
Ele fechou a porta, caminhou pelo corredor e saiu. Ele olhou rapidamente pela fazenda, gravando o terreno em sua memória, e então pisou sob a estrada para a cidade.
Isso era tolice.
Ela poderia escapar para a cidade.
Ou ele poderia ter a deixado inconsciente, a amarrado e colocado ela em um lugar seguro.
Por que ele não fez isso? Por que ele não a fez sair?
Só havia uma razão. Ele não queria.
Ele não queria fazê-la chorar de novo.
— Eu deveria proteger as garotas…
— …Você.
Matador de Goblins falava consigo mesmo, e, no entanto, houve uma resposta. Ao lado dele, de braços cruzados, estava o dono da fazenda. Ele esteve ouvindo, ou talvez ele só tivesse ouvido.
— Você deveria ao menos se despedir quando sair — cuspiu ele, olhando para Matador de Goblins, que de fato concordou bastante com ele. Tio havia tomado tudo para si, poupando eles o máximo que podia.
— Sinto muito. Eu…
O dono da fazenda interrompeu bruscamente Matador de Goblins enquanto se desculpava. — Ela é uma boa garota. — As palavras saíram espremidas de sua boca apertada, com um rosto aflito. — Ela cresceu tão bem.
— …Sim.
— Então não faça ela chorar.
Matador de Goblins ficou em silêncio, sem saber como responder. Se fosse apenas uma questão de dizer algo, qualquer coisa, ele poderia facilmente fazer sua língua se mover e seus lábios falarem.
Mas, depois de uma longa deliberação, ele decidiu dizer apenas a verdade.
— Eu vou… tentar.
Às vezes, ele odiava o fato de que não conseguia mentir. Com aquelas palavras murmuradas pesando sobre ele, ele começou a andar.
A Guilda dos Aventureiros estava agitada mais uma vez. Cheio de barulho da multidão, dos equipamentos sendo preparados, dos risos.
Aqueles que estiveram longe, lutando contra as forças do caos, haviam voltado. Nem todos, claro, poderiam voltar. Mas ninguém falava nisso.
Alguns que não foram vistos de novo caíram para monstros nas cavernas, nas ruínas, nas planícies ou nas montanhas. Outros se mudaram para terras novas, ou ficaram ricos e deixaram de se aventurar, ou, de outra forma, se aposentaram. Ninguém procuraria averiguar seus destinos. Aqueles que não voltaram, desapareceriam lentamente da memória coletiva até serem verdadeiramente esquecidos. Esse era o fim de um aventureiro.
Assim, quase ninguém olhou para cima quando o sino balançou e ele entrou, com sua armadura de couro ordinária e seu capacete, com seu escudo pequeno atado em seu braço e sua espada ridícula no quadril.
— Oh, Matador de Goblins — disse acidamente Lanceiro. — Imaginei que estivesse vivo.
Mais alguns reagiram da mesma maneira. Eles pensavam que ele estivera fora em uma missão longa ou talvez estivesse tendo uma pausa prolongada. O homem que aparecia todos os dias perguntando por goblins, havia se tornado parte do ambiente da guilda.
Matador de Goblins entrou com seu passo ousado habitual, mas ele não se dirigiu ao seu assento perto da parede. Ele nem sequer foi a recepção, só caminhou diretamente para o centro do saguão. Os aventureiros sentados nas proximidades lhe deram olhares estranhos. Eles não conseguiam ver sua expressão atrás do capacete.
— Com licença. Por favor, me escutem. — Sua voz era baixa e suave, mas atravessou extremamente bem o tumulto na guilda. Pela primeira vez, a maioria das pessoas no salão estavam olhando para ele.
— Eu tenho um pedido.
Uma comoção eclodiu.
— Matador de Goblins tem um pedido?
— Nunca o ouvi falar antes.
— Não é ele quem está sempre sozinho?
— Nem, ele tem uma garota com ele ultimamente.
— Ah é, aquela coisinha esbelta… Na verdade, ele não tem um monte de membros de grupo atualmente?
— Um homem-lagarto e um anão, ou algo assim. E eu achava que ele só se importasse com goblins.
— Essa amiga elfa dele é quase tão fofa quanto aquela sacerdotisa!
— Nossa, talvez eu devesse começar a caçar goblins!
Matador de Goblins olhou para os aventureiros tagarelando um após o outro. Alguns ele conhecia pelo nome. Outros, não. Mas ele reconhecia todos e qualquer rosto.
— Uma horda de goblins está vindo. Eles estão visando uma fazenda fora da cidade. Provavelmente essa noite. Eu não sei quantos são. — Ele falou calmamente para eles, essas pessoas que ele conhecia. O furor entre os aventureiros ficou mais alto. — Mas pelo número de batedores, eu acredito que há um senhor entre eles. Em outras palavras, pelo menos uma centena de goblins.
Uma centena de goblins? Sendo liderados por um senhor?
Isso não era uma piada. A maioria dos aventureiros pegavam extermínio de goblins como sua primeira missão. Alguns falharam e pagaram seu fracasso com a vida. Outros, porém — seja através da sorte, força ou quem sabe o que — sobreviveram. Muitos deles estavam parados lá naquele momento. Eles sabiam em seus ossos o terror — ou melhor, francamente, a dificuldade — dos goblins. Quem lutaria voluntariamente contra uma série dessas criaturas? E com um senhor como brinde; um goblin que se destacava não em força ou magia, mas em liderança.
Essa não era uma horda comum. Era um exército.
Mesmo um principiante ignorante se recusaria a ajudar. Só Matador de Goblins poderia confrontar alegremente algo assim. E mesmo Matador de Goblins, claramente, não estava disposto a ir sozinho agora…
— Não há tempo. Cavernas são uma coisa, mas em uma batalha campal, não posso fazer isso sozinho. — Matador de Goblins se virou, tendo a vista de todos na sala. — Preciso da ajuda de vocês. Por favor. — Então ele abaixou a cabeça.
Em um instante, vozes sussurrantes preencheram o salão.
— O que vai fazer?
— O que você acha?
— Goblins, hein…?
— Ele devia lidar com isso sozinho.
— Não conte comigo!
— Nem comigo. Essas coisas são imundas.
Ninguém disse nada diretamente a Matador de Goblins. Ele ficou com a cabeça baixa, imóvel.
— …Ei. — Quando outra voz baixa cortou a multidão, os aventureiros pararam o tumulto de novo. — Como sabemos que você está certo? — Era o aventureiro da lança. Ele fixou Matador de Goblins com um olhar intenso.
Matador de Goblins ergueu a cabeça silenciosamente.
— Essa é a Guilda dos Aventureiros — disse Lanceiro — e nós somos aventureiros.
Matador de Goblins não disse nada.
— Não precisamos ouvir você. Quer ajuda, registre uma missão. Ofereça uma recompensa, entende o que estou dizendo? — Lanceiro olhou para seus colegas aventureiros por apoio.
— Ele está certo! — falou alguém.
— É, somos aventureiros!
— Você quer que arrisquemos a vida de graça? — continuaram as zombarias.
Matador de Goblins ficou onde estava e olhou em volta. Não procurando apoio, exatamente.
Em uma mesa no fundo da sala, Alta-Elfa Arqueira ficou de pé, com seu rosto furiosamente vermelho, mas Anão Xamã e Lagarto Sacerdote a pararam. Para Bruxa sentada em um banco, com um sorriso inconsistente pairando em seu rosto. Ele olhou para a recepção para ver Garota da Guilda desaparecendo em pânico em uma sala dos fundos. Ocorreu-lhe que estava procurando por Sacerdotisa. Dentro do capacete, ele fechou os olhos.
— É, esse cara está certo!
— Que tal você nos dizer o que vai nos pagar por lutar com uma centena de goblins?
Não existia hesitação agora. Ele havia renunciado isso há dez anos. Matador de Goblins respondeu, calmamente e claramente:
— Tudo.
A guilda ficou silenciosa.
Todos sabiam o que ele queria dizer com essa palavra.
— Tudo o que tenho — disse ele calmamente.
Se qualquer aventureiro lutar comigo contra uma centena de goblins, ele ou ela pode pedir qualquer coisa ou tudo.
Lanceiro nivelou os ombros e acertou as costas. — Então, e se eu lhe dissesse para se afastar de Garota da Guilda e me deixar ficar com ela? — perguntou ele bufando.
— Ela não é minha — respondeu Matador de Goblins, com seriedade absoluta. Ele ignorou o sussurro que corria no meio da multidão, falando dele ser incapaz de ter senso de humor. — Tudo o que tenho — disse ele — que lhe posso dar. Meu equipamento, meus bens, meu conhecimento, meu tempo. E…
— Sua vida?
Matador de Goblins assentiu afirmativamente. — Até minha vida.
— Então se eu disser morra, o que vai fazer? — perguntou Lanceiro. Ele parecia exasperado, como se não pudesse acreditar no que estava acontecendo.
Eles achavam que sabiam como ele responderia. Mas, depois de uma pausa longa, ele disse: — Não. Eu não posso fazer isso.
Não, claro que não. A tensão no ar diminuiu bem ligeiramente. Esse cara talvez não estivesse bem da cabeça, mas mesmo ele tinha medo de morrer.
— Se eu morresse, há alguém que lamentaria minha morte. E eu prometi não fazer essa pessoa chorar.
Os aventureiros que ouviram contendo a respiração se entreolharam.
— Então, a minha vida também não é minha para dar.
Lanceiro engoliu em seco. Ele olhou para Matador de Goblins. Para o capacete de metal que estava entre ele e a expressão por trás dele. Ele encontrou os olhos de Matador de Goblins apesar da máscara.
— Não sei o que diabos está pensando.
Matador de Goblins não disse nada.
— Percebo que está falando sério.
— Sim. — Ele assentiu calmamente. — Estou.
— Mas que diabos! — disse Lanceiro, puxando os cabelos. Ele começou a andar para a frente e para trás na frente de Matador de Goblins, batendo no chão com a traseira de sua lança. O momento agonizante se estendeu mais e mais. Por fim, Lanceiro deu um grande suspiro e disse com uma voz cheia de resignação: — O que eu faria com sua vida mesmo assim? …Mas você me deve uma boa bebida.
Ele bateu seu punho contra o peitoral de placas de couro de Matador de Goblins.
Matador de Goblins cambaleou. O capacete de aço olhou vagamente para Lanceiro.
Lanceiro olhou de volta para ele. Tem algum problema? — Um aventureiro ranque prata acabou de pegar sua missão de goblincídio. À taxa de mercado, nada menos. Deveria estar grato.
— …Estou. — Matador de Goblins assentiu firmemente. — Me perdoe. Obrigado.
— Guarde para depois de termos matado alguns goblins. — Os olhos de Lanceiro se ampliaram um pouco, e ele coçou a bochecha desconfortavelmente. Ele nunca pensou que chegaria o dia em que ele ouviria “obrigado” desse homem.
— E-eu também estou com você! — Uma voz clara soou pela guilda. Todos se viraram para olhar para uma elfa arqueira que derrubara sua cadeira e se levantou. Ela se encolheu sob os olhares, com suas orelhas compridas tremendo. — Eu… eu matarei esses goblins com você. — Sua coragem pareceu ter aumentado depois, e ela caminhou em linha reta através do salão até Matador de Goblins e pôs o dedo em seu peito. — Então… então, da próxima vez, você tem de vir comigo em uma aventura! Eu encontrei algumas… algumas ruínas.
— Está bem. — Matador de Goblins assentiu imediatamente. As orelhas da elfa ficaram em pé. — Se eu sobreviver, eu me junto a você.
— Caramba, não precisava dizer isso — bufou a elfa, encarando o capacete. Ela se virou. — Vocês vêm também, certo?
O anão respondeu primeiro, suspirando enquanto acariciava a barba com um pouco de aborrecimento. — Acho que não tenho escolha. Mas, não vou ser subornado com uma bebida, Corta-barba. É melhor me trazer um barril inteiro!
— Você terá — disse Matador de Goblins.
— Certo, então! — exclamou felizmente o anão. — E… suponho que eu me juntaria a você em sua aventura, Orelhuda?
— É claro! Somos membros de um grupo, não somos? — riu a elfa, e depois de um segundo, o anão se juntou.
— Que nunca se diga que eu abandonaria meus companheiros. — O homem-lagarto se levantou lentamente. Ele tocou a ponta de seu nariz com a língua. — Nem que eu recusaria um amigo necessitado. Mas falando em recompensas…
— Queijo?
— Exatamente. Ah, até sinto o sabor!
— Não é meu. Mas ele é feito na fazenda que está sendo visada.
— Mesmo? Mais um motivo para destruirmos aquelas bestas comedoras de estrume! — Os olhos do homem-lagarto se reviraram, e ele juntou suas palmas para Matador de Goblins. O último entendeu que essa era uma forma de humor do homem-lagarto.
Então, quatro aventureiros se reuniram em torno de Matador de Goblins.
Ele não via Sacerdotisa em lugar algum.
— Então, nós temos cinco…
— Não. Seis. — Bruxa se levantou com um ruído farfalhante. Ela caminhou e ficou ao lado de Lanceiro, com seus quadris balançando o caminho todo. — Poderia ser muito bem sete… embora, não posso, ter certeza — disse ela significativamente; depois ela tirou um cachimbo longo de seu peito. — Inflammarae. — Ela girou o cachimbo, encheu ele com um pouco de tabaco, depois o acendeu com um toque de seu dedo e respirou fundo. A fumaça perfumada flutuou pela guilda.
Os aventureiros restantes tagarelaram animadamente. Não era que eles queriam abandonar a fazenda para a destruição. Muitos deles só não estavam prontos para arriscarem suas vidas por uma ninharia. E quem os pode culpar? Todos valorizavam suas próprias vidas.
Eles só precisavam de mais um empurrão…
— A guilda está… A guilda está oferecendo uma missão também!
Esse empurrão veio de uma voz enérgica. Garota da Guilda veio saltitante da sala dos fundos, agarrando um maço de papéis. Ela estava ofegante, com o rosto vermelho, e suas tranças balançavam loucamente para cima e para baixo.
Ela começou a empilhar os papéis na recepção. — Há uma recompensa de uma peça de ouro para cada goblin que matar. Agora é sua chance, aventureiros!
Toda a multidão se agitou. Era claro que a guilda quem proporcionaria o dinheiro para a recompensa. A capacidade de trabalho em grande escala era uma das vantagens de tal organização.
Não tinha como saber o quanto Garota da Guilda se esforçara para convencer seus superiores de que isso era uma boa ideia.
— Tsc. Acho que estou dentro então. — Um aventureiro (o guerreiro fortemente armadurado) deu a sua cadeira um empurrãozinho enquanto se levantava e pegava uma das folhas de papel. Cavaleira, sentada ao lado dele, olhou para ele surpreendida.
— Você vai?
— Não sou fã de Matador de Goblins, mas ei… dinheiro é dinheiro.
Cavaleira deu um sorriso diabólico com seu rosto delicado. — Não posso tolerar mentirosos. Você deveria apenas admitir que é por causa de ele ser o único que expulsou os goblins de sua cidade natal.
— Ei, guarde isso para si, mulher! De qualquer forma, ainda vou conseguir uma peça de ouro por goblin.
Eu também. É, conte comigo. Eu devo a esse cara. Um a um, os murmúrios começaram; as pessoas se levantavam.
— E quanto a você? Pensei que você odiava sua coragem.
— Eu aspiro me tornar uma paladina. Quando alguém pede ajuda, sou obrigada a oferecê-la — disse Cavaleira com um sorriso malicioso, ao qual Guerreiro de Armadura Pesada respondeu dando de ombros e um riso.
— Aw, bem. Se vocês dois irão, acho que estamos indo junto.
— Estamos?
— Ora, ora, é claro que temos de ajudar!
Apesar de uma pequena discussão, o resto do grupo do guerreiro armadurado se levantou.
— Ei…
— O quê?
Observando-os, o guerreiro novato com quem treinaram há vários dias, chamou a jovem clériga.
— Eu ainda nunca fui em um extermínio de goblins.
— …Acho que não. Dizem que é perigoso.
— Mas… tenho que tentar um dia desses, certo?
— …Você não tem jeito — disse ela. Mas… se você insiste. E o garoto estendeu a mão para ela.
Alguém os observando deu um pequeno suspiro. — Eu me tornei um aventureiro no mesmo dia que ele. Acho que isso é o que se pode chamar de destino.
— Se eu não ouvisse essa voz perguntando por goblins todos os dias, não me sentiria bem.
— Concordo. Ele é tipo uma… parte daqui… uma fundação, entende?
— Eu odeio o ter por perto. Mas… eu detestaria não o ter mais por perto.
— Eu só estava procurando uma forma de arranjar algum dinheiro. Um goblin, um ouro, hein? Nada mal.
— Em toda a minha vida, nunca vi um recrutador de missão tão estranho — murmurou alguém. Outra pessoa concordou. Um após o outro, aventureiros se levantaram.
Sim, eles eram aventureiros.
Eles tinham sonhos em seus corações. Eles tinham princípios. Eles possuíam ambições. Eles queriam lutar pelas pessoas.
Talvez eles não tenham tido a coragem de dar um passo à frente. Mas eles receberam esse pequeno empurrão. Não existia mais motivos para hesitarem.
Extermínio de goblins? Certo. Esse era o trabalho deles. Se houvesse uma missão, eles a tomariam.
Alguém levantou sua espada no ar e gritou: — Não somos membros de um grupo, e não somos amigos… mas somos aventureiros! — Outros aderiram ao grito. Aqueles que não carregavam espadas levantaram seus báculos, lanças, machados, arcos, punhos.
Havia principiantes. Veteranos. Guerreiros, magos, clérigos e ladinos. Havia humanos, elfos, anões, homens-lagarto e rheas. Os aventureiros reunidos na guilda preenchiam o ar com suas vozes, batendo no chão com os pés.
Matador de Goblins, envolto por seus gritos, examinou a sala. Seus olhos se encontraram com os de Garota da Guilda. Ela estava suando um pouco, mas ela lhe deu uma piscadela travessa. Matador de Goblins curvou a cabeça para ela. Ele achava que era o mínimo que poderia fazer.
— Isso funcionou bem. — Houve uma pequena risada.
Ele se virou e viu, parada próxima como uma sombra, Sacerdotisa.
Claro que ela estava lá. Como ela não estaria?
— …Sim. Deu. — Matador de Goblins assentiu.
Nesse dia, talvez pela primeira vez, não faltaram aventureiros prontos para pegar uma missão de goblins.