Machine-Doll wa Kizutsukanai - Volume 1 - Capítulo 7 - Anime Center BR

Machine-Doll wa Kizutsukanai – Volume 1 – Capítulo 7

Capítulo 7: A besta que tem fome de Eternity

Tradução: Reiki Project

 

Um pouco antes de Raishin aparecer diante de Charl.

Os guardas que carregavam a maca haviam sido atingidos por uma misteriosa sombra.

A sombra tinha pego a pessoa gravemente ferida da maca e desaparecido em um piscar de olhos.

E agora, a sombra exalava um cheiro de sangue enquanto corria em direção ao bosque.

Era a figura de uma garota. Seu quimono rasgado esvoaçava ao vento noturno, expondo sua pele, que era branca como a neve. Seu cabelo preto parecia maltratado, mas ela, estranhamente, não demonstrava sinais de cansaço.

Obviamente, era Yaya, e ela carregava outra sombra em suas costas.

— Você está bem, Raishin?

— Eu estou… bem.

Sua testa estava coberta de suor frio. Toda vez que Yaya pisava no chão, o corpo de Raishin ficava tenso.

Parecia que ele estava com dor. Yaya baixou a velocidade devido à preocupação, mas—

— Não se preocupe comigo. Agora, tudo o que você precisa fazer é focar na próxima luta.

Ele estava, obviamente, exagerando… Mas Yaya seguiu obedientemente suas ordens. Se seu mestre disse que estava bem, então ela, como um autômato, só o que poderia fazer era acreditar nele e apoiá-lo.

— Mais importante, vamos continuar nossa conversa anterior. Você ia me dizer alguma coisa antes de entrarmos em combate.

Yaya assentiu. Ela contou a ele o que Sigmund havia dito a ela naquela noite.

— Charlotte está à procura de sua família dispersa.

— Dispersa? Ela não é uma Dama de uma casa nobre?

— É verdade que a casa Belew é uma eminente família nobre do império Britânico.

Raishin a pressionou silenciosamente para que continuasse. Enquanto corria no interior do bosque,

— Conde Belew—o pai da Charlotte era conhecido como um ávido colecionador de autômatos. Haviam diversos autômatos em sua casa e todos se davam bem, então todos passavam seus dias como sendo uma grande família, mesmo os autômatos. Mas…

Um dia, um garoto de elevada posição social foi visitá-los.

O cachorro autômato de Charl acabou ferindo o garoto.

O Conde foi severamente repreendido pela Família Real. Seu título de Conde foi retirado e suas terras confiscadas. Um grande número de autômatos que faziam parte de sua família acabaram sendo desmontados.

— …Hmpf, que criança problemática. A que família este moleque pertencia?

— Eu não sei. Tudo o que Sigmund disse é que ele é de uma extremamente elevada posição social.

Com seus bens congelados, a família caiu na pobreza. O antigo Conde não pode encontrar nenhum trabalho no país, então ele teve que se mudar para a França, sozinho, para trabalhar como marionetista.

Entretanto, as coisas não parecem estar indo bem para ele. Em pouco tempo, o contato com o antigo Conde foi perdido.

Enquanto Charl esteve fora, em um internato, os paradeiros de sua mãe e de sua irmã também foram perdidos por ela.

Finalmente, ela ficou sem dinheiro para cobrir as despesas e acabou sendo expulsa do internato.

No entanto, ela teve sorte… Mais ou menos. O nome Belew era famoso por sua Maquinagem. A Academia Real de Maquinagem, Walpurgis é uma instituição que dá mais peso ao potencial do que ao que se escuta dizer. Mesmo a filha de um criminoso era bem vinda aqui. Com um empréstimo estudantil, ela foi capaz de se matricular na Academia.

Desde então, Charl tem trabalhado em razão de seu sonho.

— Entendo. Então a razão pela qual ela odeia o Canibal Candy é que ela não pensa nos autômatos como meros fantoches…

Além disso, o pecado do qual ela tinha falado antes—

A razão pela qual sua família havia quebrado era o seu próprio autômato.

Após ouvir a explicação de Yaya, Raishin assentiu, profundamente comovido.

— Então, o sonho de Charl é—

— Sim. Ela quer reviver a Casa Belew. Ela já conseguiu pagar seu empréstimo estudantil, então só o que falta é comprar de volta o coração da família Belew.

Tratando a questão como sendo algo de grande importância, Yaya continuou com a voz baixa.

— Então, assim ela poderia viver junto de todos outra vez.

— …Bem, isso é completamente idiota.

Raishin coçou a cabeça e estalou a língua em irritação.

— Para viver junto de sua família — é para isso que ela quer estar no topo da Festa Noturna? Ela quer pôr de lado todas os outros autômatos e pegar o trono do Wiseman por essa razão? Se ela está séria sobre isso, então ela é ainda mais idiota do que eu.

Raishin cuspiu as palavras, mas ao contrário delas, a mão que segurava o ombro de Yaya estava estranhamente quente.

Yaya entendia muito bem o porquê.

Raishin havia chegado muito perto de estragar o ardente sonho de Charl com suas próprias mãos.

Devido a isso, ele queria proteger ela e seu sonho, seja ele certo ou errado.

Por causa disso, Yaya também pediu a Raishin que a usasse como ferramenta para fazer isso.

Yaya sentiu seu sangue ferver enquanto corria com toda sua força, cortando o vento noturno.

As costas da pessoa que havia defendido Charl estavam cobertas de sangue.

Ele ainda estava no meio do tratamento. Debaixo de sua roupa rasgada, sua pele estava coberta de ataduras. Seus curativos estavam rasgados em vários lugares, tornando-os inúteis. Entretanto, mesmo em tal estado, os curativos não caiam, pois estavam presos a ele por sangue seco.

Ele estava cambaleando sobre seus pés.

Estava claro que ele não tinha sangue o suficiente em seu corpo. Ainda assim, Raishin havia protegido Charl.

Sua visão ficou embaçada e ela cobriu a boca com as mãos.

— Eu sinto muito, Raishin… Sinto tanto…

— Eu te disse para não pedir desculpas. Isso não cai bem em você, assustadora garota dragão.

— Mas…! Por minha causa… você acabou seriamente ferido…!

— Você está errada.

Com uma forte e afiada voz, como se ele definitivamente não quisesse admitir, Raishin negou categoricamente.

— Você é a única que foi seriamente ferida.

Uma raiva fria, como uma silenciosa chama ardente, emanava das costas de Raishin.

Sua raiva e sua intensidade envolviam o coração de Charl, o qual havia sido cortado e pisoteado.

Ainda que só um pouco, a dor diminuíra.

Abraçando um ferido Sigmund, ela levantou o rosto.

— …Você não entende a situação aqui?

Diante deles, Felix olhava para Raishin e Yaya com uma expressão de perplexidade no rosto.

— Ouça-me com atenção, Raishin. Charl é a verdadeira identidade do Canibal Candy. Como Presidente do Comitê Disciplinar, tenho a obrigação de capturá-la e levá-la sob custó—

— Heh. Essa foi uma atuação tão ruim. Até mesmo o cenário é de terceira categoria.

O rosto de Felix se contraiu.

Enquanto olhava para Felix, Raishin suprimia qualquer emoção em sua voz a medida em que falava.

— Não importa quantos inimigos ela tenha—digamos, por exemplo, mesmo que sejam dez de uma vez, ela não mataria nenhum deles.

Ele pensou no dia em que a conhecera.

Após a batalha, havia ficado claro que Charl não tinha matado nenhum autômato sequer.

— O Canhão Raster é um ataque de grande variedade e é muito difícil de ser controlado. O poder por trás dele também não é meia boca. Com isso em mente, foi preciso uma grande habilidade para não matar ninguém, mesmo muitos deles tenham sido pegos na explosão. O inimigo tinha acabado de executar covardemente um ataque contra ela—ninguém teria objeções ou reclamações se ela matasse alguns autômatos, a fim de virar o jogo.

Finalmente, Raishin declarou em voz alta.

— Embora ela mesma estivesse em perigo, ela ainda estava preocupada com a vida de seus inimigos—não há como alguém assim ser o Canibal Candy.

Naquele momento, o coração de Charl foi tomado por um imenso calor, como se o sol estivesse brilhando diretamente sobre ela.

Ela sempre pensara que estava completamente sozinha.

Existiam apenas inimigos ao redor dela. Coisas como amizade e confiança eram conceitos que ela estava fadada a jamais possuir.

Entretanto—

Mesmo agora, havia alguém que a compreendia e acreditava nela.

Desapontado, Felix encarou Raishin, antes de começar a rir.

Sua voz despreocupada tinha um toque de provocação quando questionou Raishin.

— Nesse caso, o que você planeja fazer?

— Obviamente, eu irei derrotá-lo e colocar um fim nessa confusão do Canibal Candy.

Ao lado de Raishin, Yaya preparou-se, baixando a postura.

Havia um brilho afiado nos olhos de Felix.

— …Você deseja ir contra mim?

— Sim. Tanto de você quanto de Lisette, que está parada ao seu lado.

Charl não conseguiu entender o que Raishin acabara de dizer.

Timidamente, ela questionou Raishin.

— Você disse Lisette…?

— É exatamente como eu disse. Aquela pessoa ali estava servindo como assistente do Presidente até agora.

— Mas ele usou uma arte mágica… então isso é um autômato, sabe?

— Sente e assista tranquilamente. Eu irei esmagar esse capacete horroroso e expor seu rosto para que você possa ver.

Felix bufou.

— Isso é um pouco arrogante, Raishin. Se você acha que realmente consegue tirá-lo, então vá em frente e tente, eu o desa—

— Suimei Shijuuhachishou.

De longe, ele escutou Yaya reconhecer o comando na frente dele.

Aos olhos de Charl, pareceu que Yaya havia se tornado invisível. Levou um tempo até que ela percebesse que tratava-se de uma visão atrasada de sua retina.

Ela era como um vento forte. Em um salto, ela se aproximou do autômato inimigo e o atacou.

No entanto, o inimigo não ficava atrás. A Valquíria balançou sua espada, interceptando Yaya.

A troca ocorreu em um instante. Yaya usou a mão nua para parar a espada, antes de empurrar a outra com força na direção do autômato.

A Valquíria moveu seu pescoço para evitar o golpe, mas as pontas dos dedos de Yaya roçaram em seu elmo. A máscara desmoronou como se tivesse sido violentamente arrancada.

Yaya deu um enorme salto para trás, dando cambalhotas enquanto aterrissava. Assim que seus pés tocaram o chão, a máscara da Valquíria caiu, revelando seu rosto para que todos pudessem ver.

Era um rosto pouco sociável e sem emoção.

Era inconfundível—aquele era o rosto de Lisette Norden.

Os olhos de Charl arregalaram-se. Ela tentou dizer alguma coisa, mas as palavras não saíram e ela ficou muda.

— Acalme-se, Charl…

Sigmund sussurrou calmamente para uma Charl em pânico.

— A face de uma marionete pode ser facilmente alterada… Lisette Norden era, indubitavelmente, um ser humano até algum ponto do tempo… O mais provável é que ela tenha sido assassinada e o autômato posto em seu lugar…

Era fácil fazer o rosto de um autômato assemelhar-se ao de um humano. A tecnologia e as técnicas atuais permitiam a criação de articulações e da sensação de pele, que muito se assemelhavam a dos humanos.

Felix havia modificado o seu autômato e o feito tomar o lugar de Lisette Norden na Academia.

Ele tinha enganado a todos. O Comitê Disciplinar, o Chefe do Dormitório, os professores. E também, ele havia enganado Charl.

Enquanto sentia que tudo no que ela acreditava estava ruindo pouco a pouco, Charl começou a tremer a medida em que seu pavor crescia.

Ela não sabia mais em quê acreditar.

Por outro lado, Raishin era a imagem da calma enquanto falava calmamente, com vontade em seu tom.

— Sua máscara era boa, mas eu acho que você fica mais bonita desse jeito. Qual é o seu verdadeiro nome?

— Não seja estúpido, Raishin. Eu não tenho razões para te dizer esse tipo de coisa.

— Não se intrometa, Felix. Eu estou falando com ela, e não com você.

Felix ficou em silêncio. Seu orgulho havia sido ferido, e seu bonito rosto distorcia-se de raiva.

Era a primeira vez que ela o via com uma expressão assim. Pela primeira vez em sua vida, Charl experimentava a dor que a desilusão trazia consigo.

Lisette pareceu estar pensando no assunto antes de dizer a ele: ‘Eliza’.

— Ok, Eliza. Deixe-me te perguntar isso. Você não vai recuar agora?

— …

— Uma ferramenta não escolhe seu mestre. Em outras palavras, você não cometeu pecado algum. Eu não irei te culpar por todas as pessoas que você matou até agora. Então, recue agora.

Lisette—Eliza—caiu ainda mais em pensamentos antes de falar.

— Por favor, fale dormindo apenas enquanto está dormindo, seu verme.

— …Essa é a sua própria vontade?

— Pare que você está entendendo algo errado.

Uma fração de segundo depois, a fachada sem emoção de Eliza desmoronou.

Um sorriso malicioso, que parecia encontrar seus ouvidos, surgiu em seu rosto.

Sua violenta risada fez com que Charl sentisse um frio na espinha, quando Eliza falou.

— Você odeia comer?

— …É um alívio ouvir você dizer isso.

A presença de Raishin mudou.

A raiva que estava queimando dentro dele—tornou-se uma gélida intenção de matar.

Ele estendeu a mão direita, apoiando-a com a esquerda. Liberando energia mágica, Raishin gritou,

— Kouen Sanjuurokushou!

— Entendido!

Yaya se movia como uma bala. A grande energia mágica que Raishin liberou entrou por suas costas, empurrando-a com uma velocidade explosiva.

Inúmeras lanças de água cumprimentaram Yaya enquanto ela corria.

As lanças eram atiradas em rápida sucessão, como em uma metralhadora, mas Yaya não parou. Despreocupada com as lanças de água que caiam sobre ela, Yaya seguia em frente como uma bola de fogo.

Da posição em que estava, Charl não conseguia ver as coisas claramente, mas parecia que as lanças não tinham efeito sobre Yaya. A torrente de água que era forte o suficiente para penetrar a armadura de Sigmund, não era capaz de furar a pele de Yaya.

Yaya aproximou-se de Eliza em um instante. Esquivando-se da espada, Yaya ajustou sua trajetória em noventa graus, pulando para cima. Desenhando suas coxas extremamente brancas para dentro, ela enroscou suas pernas.

Então, com toda a sua força, ela trouxe seus calcanhares para baixo.

Infalivelmente, o ataque de Yaya atingiu a cabeça de Eliza.

Naquele momento, o som de um respingo sem graça chegou aos ouvidos de Charl.

Os olhos dele não contradisseram o que seus ouvidos haviam escutado. Um grande volume de água espalhava-se para cima e para os lados a medida que os pés de Yaya passavam pela cabeça de Eliza.

O corpo de Eliza transformou-se em gotas d’água e espalhou-se por todos os lados. Obviamente, porém, aquele não era o fim. As gotas começaram a fundir-se, formando uma piscina. Esta levantou-se, tomando a forma de um autômato—tornando-se Eliza novamente.

(Água…?)

Eliza não era apenas capaz de controlar a água, mas seu corpo também era capaz de tomar um estado líquido.

Isso era extremamente similar com algo que Charl havia presenciado apenas alguns dias antes, dentro da Academia. Aquele que usava essa arte mágica era a marionete que havia sido devorada pelo Canibal Candy.

Seu nome era Undine. A arte máquina com a qual aquele autômato era equipado era exatamente a mesma que a de Eliza.

Poderia ser…? O Canibal Candy poderia ser capaz de usar as artes mágicas dos autômatos que ele devora?

— Eu vejo que o seu autômato confia na força bruta. Infelizmente para você, no entanto, Eliza não pode ser derrotada por socos e pontapés.

Enquanto ria, Felix insultou Raishin.

— Eu já vi você lutar, e é absurdamente simplista. Você grita o nome do ataque que vai usar para prender a atenção do inimigo. Um estilo vulgar, bárbaro e primitivo. Para compensar essa fraqueza, porém, você vem com um plano de batalha. Ao atacar, em conjunto com seu autômato, você pode surgir com alguma tática complexa… Entretanto—

Felix balançou sua mão. Em resposta, Eliza atacou.

Ela disparou quatro lanças sucessivamente. Todas visavam Raishin em vez de Yaya.

Atirando-se no chão, girando para fora do caminho e saltando para trás, Raishin desviou das três primeiras.

Ele foi incapaz de desviar da quarta lança e ela o atingiu na cintura. Raishin caiu de joelhos devido a dor, colocando as mãos sobre a ferida para impedir que o sangue fluísse.

— Olhe, seus movimentos estão muito lentos. Considerando o estado em que você se encontra, é inútil para você lutar.

— Raishin!

Yaya rapidamente correu na direção de Raishin. Ele a impediu de fazê-lo,

— Não se distraia. Kouen Nijuuyonkushou!

Ele canalizou energia mágica para ela mais uma vez. Yaya tinha uma expressão de dor no rosto, mas obedientemente moveu-se para atacar.

Aproximando-se novamente de Eliza, Yaya socou, chutou e golpeou.

Foi um ataque feroz. A água foi espirrada para todos os lados, formando uma névoa. No entanto, os ataques de Yaya pareciam ser sem sentido. As gotículas de água se reuniam quase que imediatamente, retornando a forma de Eliza.

— Você parece não ter entendido.

Felix zombou, liberando uma torrente de água na direção de Raishin.

Desta vez, no entanto, o ataque foi repelido. Yaya rapidamente bloqueou a trajetória do tiro, esmagando a lança de água.

— Eu não vou deixar você tocar no Raishin.

Felix estalou a língua. Sendo tão inteligente quanto ele era, um único tiro disse-lhe tudo o que precisava saber.

Esse ataque não teria mais utilidade.

Uma lança de água tinha uma trajetória retilínea. Enquanto Yaya ficasse no caminho, seria difícil atingir Raishin. A velocidade de Yaya era muito maior que a de Eliza, e ela era resistente como aço.

Era um impasse. A ambos os lados faltava um finalizador decisivo, tornando aquela uma situação desagradável para se estar.

Surpreendentemente, porém, Felix também parecia estar odiando o fato deles estarem em um estado de espera.

— Bem, então que tal isso?

Preparando um novo ataque, Yaya preparou-se, mas foi Raishin quem, inesperadamente, mexeu os pés.

Raishin, de repente, viu-se pendurado de cabeça para baixo.

Ainda de ponta cabeça, Raishin foi puxado para o ar.

Uma luz branco azulada vinha de algum lugar—uma corrente prendia os pés dele juntos. Como um laço gigante, Raishin foi balançado no ar e arremessado em um magnífico pinheiro.

— Raishin!

Yaya e Charl gritaram ao mesmo tempo.

Colidindo as costas contra o tronco, ele cuspiu pingos de sangue.

Alguém estava de pé no telhado do auditório central.

Como se ele estivesse dominando todo o lugar, um homem com uma máscara prateada olhava para a terra abaixo dele.

Era a pessoa mais próxima do trono de Wiseman, Magnus. Ao redor dele, estavam suas damas floridas. Vagando a esmo enquanto contavam estrelas, elas estavam curtindo a noite.

Subitamente, o sorriso desapareceu do rosto de cada uma delas.

Virando o rosto na mesma direção, seus ouvidos se agitaram, fazendo-as parecer gatos que haviam acabado um sensoriamento local.

Enquanto elas concentravam seus olhares, alguém levemente pousou no telhado.

— Espectador, não é? Acho que você está em posição de fazer isso.

Era uma mulher alta vestida de jaleco branco—Kimberly.

— Bem, acho que eu também estou na posição de fazer isso.

Ela tinha um sorriso felino no rosto. Ela não estava intimidada, mesmo com os olhares abertamente hostis das garotas a sua volta.

Em primeiro lugar, de onde ela tinha visto? Estaria ela voando antes de pousar ali…?

Sem prestar atenção nas donzelas em alerta, Kimberly vagou pelo telhado, tentando encontrar um lugar adequado para que ela pudesse assistir. Tendo achado um lugar que a satisfazia, parou diante da torre de água, colocando a mão sobre os seios para recuperar seus óculos.

A batalha se desenrolava no meio do bosque. A visibilidade era ruim, já que estava escuro. Francamente, colocar um par de óculos não deveria surtir qualquer efeito, mas…

— Hm, eu conto cinco, seis… oito membros do Comitê Disciplinar. Eles parecem estar ao redor da área, mas há uma distância muito grande entre eles e a luta. Eles não seriam capazes de averiguar uma situação como essa.

Ela analisou precisamente a situação. A surpresa em sua voz era evidente para todos que a vissem.

— O Penúltimo está à beira da morte. Este confronto, sem mencionar sua forma física—Oh?

Houve um clarão de luz branco azulada no interior do bosque. Um circuito mágico havia sido ativado.

— Felix foi quem se moveu. Considerando-se que ele os cercou, não seria de seu interesse prolongar a luta?

Enquanto dizia isso, ela virou-se na direção de Magnus. O tom de Kimberly era como se ela estivesse perguntando a um aluno a sua opinião.

Entretanto, Magnus esquivou-se do olhar. Girando sobre os calcanhares, ele começou a se afastar.

— Ei, você não está fugindo agora, não é? Ao menos fique até o fim.

— Não há necessidade. Essa luta já foi resolvida.

— ——O quê?

Kimberly virou-se para olhar o bosque. Os sons da batalha ainda ecoavam lá. Ao contrário das palavras de Magnus, a luta parecia ficar cada vez mais intensa— Como aquilo poderia estar decidido?

Magnus murmurou algo como se estivesse falando sozinho.

— Uma vez que você descubra o truque, o resto é brincadeira de criança.

— …O que isso deveria significar?

— Muitas dicas já foram dadas a ele.

Os olhos de Kimberly estreitaram-se bruscamente. Ele olhava como se pudesse ver através do coração das pessoas.

Magnus se afastou, antes de parar de repente.

— Vou te dar um aviso.

Virando apenas a cabeça, havia um estranho brilho vermelho saindo de dentro de sua máscara.

— Se você der a ele uma dica mais do que óbvia, tenho certeza de que em um futuro não muito distante, outras pessoas ficarão sabendo disso. Isso certamente seria um problema em sua investigação, Professora Kimberly.

— …Eu irei manter isso em mente.

Com um ‘Com licença, então’, Magnus partiu. Todas as donzelas se levantaram e o seguiram. Uma delas mostrou a língua para Kimberly, fazendo-a sorrir ironicamente.

— O mesmo vale para você, Magnus.

Ela voltou os olhos para a batalha, a qual estava prestes a atingir o seu clímax.

Vendo Raishin vomitar sangue, Charl saltou sob seus pés como uma bala.

Aquele não era o momento dela ficar no chão. Abraçada com Sigmund, ela correu na direção do pé da árvore.

Raishin caiu da altura de dois andares. Virando-se no meio do ar, ele caiu de pé.

— …Sua idiota. Não fique tão perto de mim.

Charl estava surpresa. Quando Raishin disse que sabia artes marciais, ele não estava brincando. Um ataque como aquele teria matado uma pessoa normal, mas ele estava bem—pelo menos superficialmente. Mesmo com o corpo todo machucado, ele foi capaz de recuperar o equilíbrio e reduzir o impacto do ataque.

Enquanto uma sensação de alívio tomava conta de Charl, um outro grito veio de trás.

Virando-se, ela viu que agora era Yaya quem estava suspensa no ar.

Mais uma vez, havia uma espécie de corrente presa a suas pernas. O mais provável é que fosse algum tipo de energia mágica. Algum tipo de arte mágica que produzia uma corrente. Charl também já havia visto isso antes, ela era usada pelo portador da Estrela da Manhã.

Era inacreditável. O Canibal Candy podia usar uma grande quantidade de artes mágicas!

Eliza balançou a espada, fazendo uma impotente Yaya chocar-se com o chão.

Foi um duro golpe. O corpo de Yaya ricocheteou no chão como se ela fosse feita de borracha.

As costas de Yaya estavam cortadas em vários lugares e o sangue fresco fluía dos cortes. As feridas não eram novas, o golpe havia reaberto as feridas anteriores. Até o momento, ela não havia sofrido sequer um arranhão, mas dessa vez sua defesa de aço não ativou a tempo.

Charl compreendeu duas coisas, então. A primeira era que a resistência de Yaya não era devido a sua resistência física, e sim alimentada por uma arte mágica. A segunda coisa era que Yaya não era capaz de ativar a arte mágica caso Raishin estivesse em condições ruins.

Felix também parecia ter entendido isso. Com um sorriso sádico no rosto, ele comandou Eliza mais uma vez. Yaya foi novamente alçada ao ar.

Os membros de Yaya debatiam-se violentamente enquanto ela tentava livrar-se das correntes—mas era inútil.

Porque como ela estava içada, ela não tinha uma base firme.

Medo frio tomou conta de Charl.

Era como se ela estivesse congelando. Abraçando-se fortemente a Sigmund, ela tremia violentamente.

Mesmo que ela quisesse ajudar Yaya, Sigmund estava gravemente ferido… Além disso, no seu estado atual, ajudar seria fatal. Por ela estar fora de si, ela não seria capaz de concentrar completamente a energia mágica.

Mais importante, porém, era o fato da força do inimigo ser extremamente alta.

Usar várias artes mágicas era contra as leis normais de Maquinagem. Após cem anos ou mais, o segredo por trás dessa marionete antiga, criada no período da Renascença, fora, enfim, revelado.

Seu estado líquido ajudava a anular a força bruta de Yaya e sua corrente estava anulando a sua velocidade.

Não apenas possuía essas duas artes mágicas, mas o Canibal Candy já havia comido diversos outros autômatos.

O número de vítimas conhecidas era de, pelo menos, vinte. Se todas as suas artes mágicas fossem agora parte de Eliza, ela era mais do que o suficiente para um exército.

Desse jeito, eles seriam torturados até a morte!

— Não se preocupe. Eu vou encerrar essa luta logo.

Virando a cabeça em surpresa, ela viu Raishin se pôr de pé. O sangue escorria e seu corpo estava coberto de ferimentos, mas havia um brilho afiado em seu olhar. Ele ainda não tinha perdido a vontade de lutar.

— Já basta! Você não tem mais que se preocupar comigo!

Antes que percebesse, Charl já estava gritando com ele.

Raishin virou-se para ela com um olhar de ‘O que é que você está dizendo?’ no rosto. Charl soluçava enquanto dizia,

— Desse jeito, você vai acabar morrendo…!

Entretanto, sua súplica desesperada não alcançou Raishin.

Raishin apenas bufou e começou a caminhar na direção de Felix.

— Pare! Você quer participar da Festa Noturna, não é!? Se você ficar marcado como meu cúmplice, o Comitê Executivo—

— Você não é o Canibal Candy. Não há nada de errado em ajudar você.

— Mas você não pode provar isso! Eles certamente irão marcá-lo como cúmplice! E não apenas na Academia, neste país, na Associação Mágica, no mundo… O mundo se tornará seu inimigo.

— Pare de fazer tanta confusão. Se essa hora chegar,

Raishin parou.

— Eu vou lutar contra o mundo se for preciso.

Raishin não estava tenso. Sua postura era aberta e descontraída.

No entanto, ela podia ver que havia uma inabalável determinação dentro dele.

Como ele podia ter aquela atitude—Ele estava realmente rindo?

— Por que…? Por que você está indo tão longe pelo meu bem…?

Raishin não respondeu. Ele apenas caminhou na direção de Felix.

Ainda que Yaya permanecesse amarrada, Raishin caminhava em direção a ele sem qualquer hesitação.

Felix assentiu para si mesmo, impressionado.

— Você ainda está tentando? Entendo, você realmente é a pessoa que eu esperava que fosse.

Com os dois braços estendidos, Felix falou calorosamente com uma expressão séria no rosto.

— Junte-se a mim, Raishin. Torne-se meu aliado e lute ao meu lado na Festa Noturna que eu irei esquecer este incidente. Eu mesmo irei garantir a segurança de Charl. E claro, como eu prometi a você desde o começo, eu irei fazer com que você receba uma Qualificação de Entrada—

— Eu recuso.

— …Você realmente gosta de tomar decisões rápidas, não é? Desta vez, porém, sugiro que você, calmamente, pense mais uma vez sobre o assunto. O que me diz?

— Eu não viraria seu subordinado mesmo que minha mãe me mandasse fazer isso.

— … Você deveria honrar seus parentes, sabe.

— Infelizmente, eles já estão seis palmos abaixo da terra.

— Minhas condolências. Embora ainda não seja tarde para você honrá-los.

Com um sorriso extremamente largo no rosto, Felix falou.

— ——No inferno. Adeus, Raishin.—Mande lembranças minhas para sua mãe.

Eliza levantou a espada. A corrente seguiu seu movimento, elevando Yaya bem alto no ar. O sangue de Yaya espalhava-se pelos arredores, uma parte caindo sobre o rosto de Eliza. Ignorando isso, Eliza balançou sua espada para baixo.

Seu alvo era Raishin. Ela planejava usar Yaya como arma para esmagar Raishin.

— …!?

Nesse momento, a figura de Yaya subitamente desapareceu.

Não havia qualquer imagem residual que Charl pudesse ver. Uma fração de segundo depois, Yaya reapareceu bem diante de Eliza, fazendo com que Charl pensasse que Raishin tivesse apenas puxado alguma coisa.

Exibindo uma agilidade surpreendente, Raishin esquivou-se enquanto controlava Yaya ao mesmo tempo. Quando Yaya foi jogada de volta ao chão, no momento em que seus pés tocaram o solo ela usou sua força para cortar a corrente.

— Tenken Shijuuhachishou.

Uma colossal energia mágica fluiu da mão direita de Raishin. Enquanto o corpo de Yaya recebia energia mágica, ela lançou um violento chute em Eliza. Uma grande quantidade de massa pode ser sentida por sua perna esbelta, criando uma pressão tremendamente opressiva.

Eliza puxou de volta a corrente de energia mágica, envolvendo-se com elas, criando um escudo para proteger-se do chute.

Era uma barreira de correntes. No entanto, o chute de Yaya tinha um poder arrasador nele. Cortando facilmente as correntes como se fossem teias de aranha, ela atravessou todas as camadas de correntes, atingindo o corpo de Eliza.

Eliza esquivou-se antes que o poder total do chute a atingisse. No entanto, ela o fez no último segundo. Havia uma rachadura em sua armadura, e uma parte da mesma caiu.

Charl ficou chocada com que acabara de acontecer.

Por que Felix não havia feito uso do estado líquido de Eliza?

— Bem, se você pensar nisso, é bastante óbvio.

Raishin calmamente respondeu as dúvidas de Charl.

— A Teoria da Dissonância da Atividade Mágica nunca foi refutada.

Muitos praticantes vinham tentando resolver o enigma do uso simultâneo de diferentes tipos de artes mágicas, mas uma vez que isso nunca foi possível, a Teoria Dissonante foi facilmente aceita como um dos pilares centrais da Maquinagem.

— Tomar o circuito de magia do inimigo e usá-lo como se fosse seu—Se um circuito tão conveniente existisse naquela época, então hoje ele seria usado na produção em massa de armas anormalmente fortes. Entretanto, isso não é verdade. Em outras palavras, ele não é tão conveniente quanto aparenta ser a primeira vista.

Obviamente, deveria haver algum defeito em seu uso.

Talvez as condições para utilizá-lo fossem extremamente duras? Ou tivesse um custo extremamente alto para a produção? Ou talvez você tivesse que desistir de algo em troca de utilizá-lo…?

— Eu tenho que soletrar para você? Não é rentável.

Raishin disse a ela, e Charl, enfim, percebeu a falha de Eliza.

— Colocando em termos simples, os circuitos mágicos são descartáveis. Uma vez que eles forem descartados, não poderão mais ser recarregados. Há também um limite do quanto você pode usar um circuito. É por isso que um grande número de circuitos tem que ser acumulado.

…Fazia sentido. Se os circuitos pudessem ser recarregados a vontade, sem qualquer limite de vezes que pudessem ser usados, então não iria haver necessidade de se acumular um grande número de circuitos. Também hão iria haver necessidade de se arriscar a ser pego ao se esgueirar diariamente para cometer os assassinatos.

Raishin tinha desprezo na voz enquanto continuava.

— Em preparação para a Festa Noturna, você comeu tanto quanto pode. Então estava indo transferir a culpa para Charl e apagá-la como sendo o Canibal Candy—Isso é desprezível, Felix.

Felix ficou sem fala por um momento.

Depois disso, ele riu levemente enquanto balançava a cabeça.

— …Muito bem, Raishin. Sua visão é notável, para ser capaz de discernir as características únicas de seus adversários em um período tão curto de tempo. E seus poderes de percepção são interessantes também. Mas agora temo ser obrigado a retirar minha oferta anterior. — Você é demasiado perigoso para ser mantido vivo.

Um brilho cruel surgiu em seus olhos.

Sua testa começou a emitir faíscas de energia mágica. Não havia mais tanto orgulho em sua expressão como anteriormente. Seus instintos lhe diziam que este era um adversário que ele precisava esmagar com toda a sua força.

A batalha recomeçou.

Eliza e Yaya saíram do chão ao mesmo tempo.

Colidindo em alta velocidade, a luta mudou para um combate corpo a corpo.

Eliza usou sua espada para bloquear o chute feroz de Yaya. Naquele instante, uma parede surgiu diante de Eliza. Emitia um brilho metálico e parecia ser uma arte mágica especializada em defesa. A visão de Yaya foi bloqueada, seu ataque defendido e, por um breve momento, seus movimentos também foram parados.

Felix não hesitou. Ele descartou a arte mágica, a qual havia sido usada apenas uma vez, para usar uma nova.

Bloqueada pela parede, Yaya pousou, apenas para descobrir que o chão sob seus pés havia se tornado tão macio quanto algodão.

Suas botas afundaram nele. Parecia que ele tinha usado uma arte mágica como armadilha. Com o pé preso, Yaya perdeu o equilíbrio.

Despedaçando a parede construída, um poderoso flash de luz foi disparado pela boca de Eliza.

Era bastante brilhante. Raishin e Charl ficaram cegos por um instante.

Após sua visão retornar—

O corpo de Yaya estava içado ao ar, assim como havia acontecido anteriormente.

Mas dessa vez, o que estava segurando Yaya era uma névoa branca.

Um vapor, que parecia ser branco sólido, estava enrolado em torno de Yaya, suspendendo-a em pleno ar.

Eliza não podia ser encontrada. Se ele tivesse que adivinhar, diria que o vapor branco– provavelmente era a própria Eliza!

Yaya lutou e destruiu o vapor, mas o controle sobre ela não afrouxou completamente.

Seu quimono começou a derreter e sua bonita pele estava começando a ficar vermelha devido a inflamação.

Ela estava sendo corroída. Não era um vapor comum. Parecia uma espécie de elixir vaporizado que agia como solvente universal.

Era uma forma fluida que possuía poder de ataque. Golpeando diretamente com o ponto fraco de Yaya, essa arte mágica era tanto de defesa quanto de ataque.

Como uma espécie de programa de xadrez automatizado, Yaya estava sendo lentamente encurralada.

O ataque em si parecia ser muito doloroso. Yaya tinha um olhar de angústia em seu rosto, enquanto ela revirava o corpo.

— As razões pela minha vitória são incontáveis. No momento em que iniciamos esta batalha, Liz tinha quarenta e sete artes mágicas sob o seu controle. E você? Apenas uma. E não só isso, sua arte mágica é extremamente primitiva.

Felix parecia seguro de que a vitória era sua, e deleitava-se extasiado com isso.

— Sua arte mágica, no entanto, é magnífica. Você endurece o corpo do seu autômato a um nível extremo, de modo que nem fogo e nem lâminas podem feri-la. Entretanto, no fim das contas é apenas outro material a ser dissolvido.

Este era um ataque que destruía as coisas em níveis moleculares.

A prova disso era que a pele de Yaya estava sendo lentamente devorada.

— Esta é a Névoa Branca. Originalmente, obtive está para que pudesse ir contra Magnus, mas—

Com um tom venenoso e uma risada carregada de más intenções,

— ——Em troca dela, eu irei levar a sua arte mágica, Raishin. Devorando o seu autômato.

Yaya continuava a se contorcer em agonia. Os cabelos no pescoço de Charl se eriçaram.

Não havia nada que ela pudesse fazer além de continuar a tremer…

— Yaya.

Com uma voz cruelmente calma, Raishin chamou não muito alto por Yaya.

— Chute a bunda dela.

‘O que você está dizendo?’, pensou uma surpresa Charl, enquanto Yaya movia seus braços para trás.

E deu um soco na névoa branca com toda a sua força.

Feliz riu friamente. Um segundo depois, a expressão em seu rosto mudou completamente.

Com um baque surdo, Eliza foi arremessada.

Batendo com força no chão, ela ricocheteou. O arco que ela descreveu foi bem grande também. Claramente, ela não estava em um estado gasoso ou líquido. Ela era mais densa, com uma viscosidade coloidal naquela forma. Devido a isso, seu aspecto era como o de uma membrana que havia sido finamente esticada, então não havia dispersão de gotículas líquidas de seu corpo.

Charl, Felix e Eliza, que havia sido atingida, não podiam acreditar em seus olhos.

— Ei, Eliza, onde foi parar sua armadura?

Com as palavras de Raishin, Felix olhou em choque para Eliza.

Seu capacete e espada haviam desaparecido. Muito provavelmente, porque eles também haviam sido transformados em névoa quando ela se transformou.

Em outras palavras, a armadura que recobria seu corpo havia sido reabsorvida por seu corpo.

Sendo tão brilhante como era, Felix entendeu imediatamente o que havia acontecido.

— Os… fluidos… do seu autômato…!?

— Correto. O truque para isso é o sangue de Yaya.

A resistência de Yaya era absurdamente forte. Essa característica estendia-se também para o seu sangue.

E Eliza havia absorvido aquele sangue. A névoa era, basicamente, o seu circuito interno.

— Dois tipos diferentes de artes mágicas não podem residir em um mesmo corpo—esse é o princípio fundamental da Física das Máquinas.

As artes mágicas não poderiam funcionar em harmonia—uma arte mágica iria interferir com a outra, fazendo com que nenhuma delas pudesse ser usada de modo completo. Portanto, agora Eliza foi incapaz de manter completamente sua forma fluida.

Charl olhou para as costas de Raishin sem acreditar.

O estado atual das coisas definitivamente não era uma coincidência. Isso era o que Raishin estava planejando o tempo todo. Isso explicaria o porquê dele ter se mantido tão calmo do começo ao fim.

Nesse caso, pensando desde o momento em que as feridas de Yaya reabriram.

O momento em que ela havia sido arremessada contra o chão e sofrera danos.

Tudo isso fazia parte dos planos também?

Charl sentiu um arrepio em suas costas.

— O circuito mágico de Yaya é simples. Posso não ter tanto talento ou ser tão inteligente quanto você… Mas,

Raishin moveu sua mão para frente.

— Minha parceira é o melhor autômato do mundo!

Ele colocou toda a energia mágica que lhe restava. O corpo de Yaya começou a brilhar, brilhar como algum tipo de aurora.

Em seguida, ela dirigiu-se para frente.

Foi como um relâmpago. Yaya soltou ondas de choque quando ela disparou em linha reta em direção ao seio do inimigo.

Os movimentos de Eliza estavam lentos. Incapaz de controlar seu corpo, ela descobriu que a manutenção de um estado gasoso ou líquido estava além do seu controle. Felix foi pego em uma bifurcação, ficando paralisado diante de sua indecisão entre continuar controlando-a em seu estado inútil ou mudar de circuito mágico.

— Tenken Zeshou—

Ao comando de Raishin, Yaya aproximou-se suavemente de Eliza, com seu punho fazendo contato com o corpo dela.

— Hakyaku Suigetsu!

O som de uma explosão ressoou, enviando ondas sobre o corpo de Eliza.

Os músculos de Yaya, ou seus equivalentes de músculos, endureceram de forma explosiva e, com a força de um morteiro, parafusou seu punho no corpo do inimigo. Com um impacto tão assustador, o corpo do inimigo explodiu.

A energia explosiva reverberou por todo o corpo de Eliza, levando a membrana a romper-se.

A névoa branca transformou-se em gotículas e espalhou-se por todas as direções. Mas agora, eram gotículas de água, então Eliza não foi capaz de reuni-los ou de retomar seu corpo. Caindo no chão, ela encharcou a terra.

Raishin pensou estar tendo alucinações, mas em seus últimos momentos, ele poderia jurar que viu um leve sorriso no rosto de Eliza.

Deixando escapar um profundo suspiro, ele virou-se lentamente para encarar Feix.

— …Então, agora.

Com um falcão que avistava sua presa, Raishin centrou seu olhar em Felix, que estava claramente nervoso. O olhar de pânico em seu rosto era bem diferente de seu habitual.

— O-o que você está planejando fazer?

Sua voz se elevou e suas bochechas se contraíram. Era inegável—era um rosto cheio de medo.

— Eu sou o herdeiro da família Kingsfort. Qualquer violência contra mim não será perdoada pela Família Real, sabia?

Raishin não reagiu a isso, sem falar nada, aproximou-se de Felix.

— ——Espere. Parece que você ainda não entendeu a situação em que está. Se você fizer algo contra mim, as dúvidas sobre Charl nunca serão apagadas. Você deveria reconsiderar sua posição. Apenas eu posso provar sua inocência agora. Como você tem a minha palavra—

Raishin não havia se abalado. Ele foi, descaradamente, ignorando Felix a medida em que continuava a se aproximar.

— Espere. Acalme-se… Eu disse para esperar, eu não!

Perdendo o controle sobre si mesmo, um enlouquecido Felix sacou uma arma.

Entretanto, mais rápido do que ele poderia retirar a arma, Raishin reduziu a distância entre eles. Chutando a arma, Raishin o agarrou pela nuca, erguendo-o no ar.

Em seguida, ele enterrou seu punho no rosto de Felix com toda sua força.

Foi um soco forte o bastante para quebrar seu nariz. Felix foi atirada para trás, batendo em uma grande árvore antes de cair no chão. Parecia que ele havia desmaiado.

Olhando para sua figura caída sob a árvore, Raishin virou-se para Yaya com uma careta no rosto.

— …Me desculpe, Yaya.

— Por que você está se desculpando?

— Deve ter doído. Você está sangrando… e essas suas feridas, eu deveria ter…

— Yaya vai se recuperar rapidamente de tudo isso! A verdade é que Yaya não está totalmente ferida. Raishin é sempre o único que sempre se machuca… Mesmo naquela vez—

Raishin a interrompeu com um abraço, puxando-a para perto de seu peito.

— …Obrigado.

Deixando de lado uma Yaya temporariamente em êxtase, Raishin virou-se para Charl.

Ela estava assustada. Sem pensar, ela colocou mais força na mão que segurava Sigmund.

Se Raishin percebesse que Sigmund estava gravemente ferido, então ele iria perceber que poderia derrotá-la facilmente da maneira como ela estava agora.

Entretanto, a primeira coisa que Raishin disse foi—

— Me desculpe, Charl.

— Eh…?

Havia um misterioso brilho nos olhos de Raishin quando ele riu.

— É porque eu deixei a grande T-Rex sozinha que você acabou se machucando desse jeito.

Charl podia sentir sua expressão desmoronando.

Sua tensão desapareceu quase em um instante, e um calor agradável inundou seu corpo.

Agora, ela sabia. Ele era alguém em quem ela podia acreditar.

Alguém que iria lutar e sangrar pelo seu bem.

Alguém que acreditava nela.

Seus pensamentos e emoções se apressavam um após o outro, deixando-a muito sobrecarregada para falar.

Tudo o que ela queria fazer no momento era abraçá-lo e chorar. Se ele sabia disso ou não, no entanto, Raishin falou em tom provocativo.

— Vamos, levante-se, assustadora garota dragão. Será que suas pernas aguentam?

— O qu… Eu posso muito bem me levantar, sua pessoa insolente! Eu posso me levantar, mas…

Ela não podia olhar diretamente para Raishin. Com os olhos voltados para cima,

— Você não pode… ao menos me dar uma mão?

Com um sorriso suave, Raishin estendeu sua mão.

Olhando fixamente para a mão dele, Charl hesitou por cerca de dez segundos.

Ela estava encharcada de sangue, coberta de feridas grosseiras e bárbaras, mas, no entanto, era uma mão quente com a palma estendida para ela.

Finalmente, ela aproximou a sua mão da dela.

Firmemente agarrando-lhe a mão, Raishin puxou Charl para cima.

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