Machine-Doll wa Kizutsukanai – Volume 3 – Capítulo 6 - Anime Center BR

Machine-Doll wa Kizutsukanai – Volume 3 – Capítulo 6

Capítulo 6: Um Desejo Sincero

Tradução: Reiki Project

 

Frey não havia levado apenas seus autômatos Garm. O pessoal da segurança também havia chegado, colocado Raishin em uma maca e o levado para a Faculdade de Medicina. Yaya e Henri o acompanharam, deixando apenas Loki e Cherubim para trás.

Frey correu para o lado de Loki e olhou para ele.

O olhar dela o fez sentir-se desconfortável e Loki disse sem rodeios:

— O que foi? Você não deveria estar ali com aquele moribundo imbecil?

— Uu… sinto muito. Se- Se eu tivesse sido mais rápida… trazendo-os aqui…

Ela abaixou a cabeça, melancólica.

— Mesmo que eu seja a irmã mais velha do Loki… eu não posso ser de nenhuma utilidade…

— Não se intrometa em brigas. Mesmo que você estivesse aqui, seria apenas um obstáculo.

Frey ficou ainda mais melancólica.

— Bem, quero dizer… não é da minha natureza lutar ao mesmo tempo em que protejo alguém.

Frey ergueu a cabeça.

As palavras de Loki foram extremamente esquisitas. Mesmo que seu tom fosse frio, havia algo escondido atrás dessas palavras. Anteriormente, Frey não seria capaz de compreender o que Loki estava realmente pensando, mas agora ela foi capaz de ver através das palavras dele.

Loki não queria colocar Frey em qualquer tipo de perigo.

Frey lentamente se endireitou e deu um pequeno beijo na bochecha do Loki.

— O- O que você está tentando fazer!?

Loki ficou perturbado. Ao contrário de sua atuação legal de sempre, seu atual estado de consternação era evidente para que todos vissem.

Era completamente natural que irmão fizessem algo tão simples quanto um beijo no rosto, mas fazia muito tempo desde que os dois haviam feito algo parecido.

— Obrigada, Loki, por ter protegido o Raishin.

— A Kimberly me obrigou a fazer isso. Seus agradecimentos não são necessários!

Protestando violentamente, ele atirou em Frey algo que parecia ser raiva.

Cherubim zumbia e chiava, ainda atrás dele.

— …você tem algo a dizer, Cherubim?

[Não… não… estou pronto. ]

Foi uma resposta simples e monótona. No entanto, ele parecia estar rindo. Será que era sua imaginação?

Sentindo-se um pouco envergonhado, Loki balançou descontroladamente a sua muleta, chutando para longe uma pedra de pavimentação.

 

Parte 2

 

Da janela do gabinete do Presidente, um jovem olhava para a imagem da Academia à meia-noite.

— Está muito frio. Se eu continuar saltando todas as noites dessa forma, vai ser ruim para a minha pele.

Embora ele parecesse estar falando sozinho, na verdade ele estava conversando com a pessoa nas sombras atrás dele.

— Desculpe-me. Eu fui incapaz de recuperar a Henriette…

— Não podemos fazer nada quanto a isso. A Lâmina Sagrada apareceu, não foi?

— Mesmo assim, eu também fui incapaz de trazer-lhe a cabeça do Penúltimo.

O jovem soltou uma gargalhada. Surpreso, Shin observou enquanto o jovem agarrava o estômago, ainda rindo.

— Parece que você ainda não entendeu completamente. Isso foi apenas uma atuação dramática para assustar a Charlotte.

— …deixando de lado se você estava ou não brincando quando disse isso, quanto a cabeça do Akabane…

— Obviamente, teria sido ótimo se você a entregasse para mim. Teria sido um excelente material para ser usado em Artes Mágicas. No entanto, esta é apenas a minha parte gananciosa falando.

Como de costume, o jovem estava de bom humor, exibindo um sorriso largo.

— O objetivo dos Granville é dar suporte aos Kingsfort. Entretanto, nosso atual objetivo é tornar a sua existência conhecida entre os maiores na Academia. A cena está definida, tudo de acordo com o plano.

— Atrair a atenção do público, garantir uma rota de fuga e deixar que os adversários fortes se reúnam…

— Sim, exatamente. Além disso, nós tivemos sucesso em expor a Catedral dos Tolos, o que é ainda mais satisfatório.

— Falando da Catedral, como foi o Magnus?

— Se eu puder emitir um parecer sincero, se ele tiver seis daquelas coisas com ele, lidar com isso estaria além das minhas capacidades.

— Pensei que fosse o caso!

O feliz jovem bateu palmas.

— Faça um relatório. Não é todo dia que você consegue encarar uma marionete do Esquadrão em uma disputa de um contra um. Nós deveríamos informar ao papa sobre a sua experiência pessoal inestimável. Além disso, a coisa sobre a Catedral. A experiência pessoal que você teve naquele lugar será certamente inestimável.

— O que você quer dizer com isso? A equipe de investigação foi até a Catedral—

— E foram todos eliminados.

— …eliminados?

— Eles deveriam manter contato periodicamente, mas eventualmente todo o contato foi perdido. O único que conseguiu voltar vivo foi você.

Shin ficou pasmo. O jovem deu um sorriso suspeito.

— Foi um exagero, sério. Uma vez que é do Rutherford da Academia Walpurgis de quem estamos falando— também conhecido como o mago mais forte do Século XIX.

— O tempo limite está prestes a expirar. Você acha que a T-Rex vai ser capaz de assassinar o Diretor?

— Se ela o fizesse, essa seria uma interessante reviravolta nos eventos. Porém, isso é impossível.

— …perdão?

— No momento, o Magnus está acompanhando o Diretor. Não há a menor chance de que alguém consiga assassinar o Diretor do jeito que as coisas estão agora. Nem mesmo se enviássemos uma divisão completa atrás dele.

— Então, por que você instigou a Charlotte a matá-lo…?

— Obviamente, essa foi uma sugestão feita pelos Kingsfort. Se tudo corresse bem, então ótimo. Mas se ela falhasse, sempre poderíamos colocar a culpa nos Granville, como o bode expiatório que são. No momento, os Kingsfort estão fazendo um acordo com a Academia nos bastidores.

— E… que acordo é este?

— Não é óbvio? Cooperação na pesquisa sobre o Simulacro de Deus.

— Entendo…! E se um mordomo Granville fosse aparecer depois…!

— Isso iria semear a dúvida, o que levaria a discórdia— e o negócio iria falhar. Isso é o que os adultos predizem que irá ocorrer. Embora o objetivo deles não seja problema meu, nossos interesses pessoais coincidem no que se refere a fazer com que este acordo falhe. Afinal, mais do que qualquer outra coisa, o que mais me traz alegria é…

Sorrindo graciosamente, um sorriso angelical se formou em seus lábios.

— Assistir outras pessoas sofrerem infortúnios.

— Você… realmente é podre até o fundo de sua alma.

— Obrigado, Shin. Antes de eu me entreter muito ao puni-lo, você não vai me servir um chá preto? Isso iria me livrar do meu sono.

— Como quiser.

Shin respeitosamente curvou-se, antes de ir até o bule de chá.

 

Parte 3

 

Pouco antes do amanhecer, um silêncio frio preencheu o consultório médico.

Tendo terminado a cirurgia, Raishin não recebeu permissão para ser transferido para a Enfermaria, sendo forçado a dormir no consultório médico.

Ele quase não respirava. Parecia mais como se ele estivesse morto ao invés de apenas dormindo.

Henri tinha expressão melancólica em seu rosto enquanto sentava-se ao lado de Raishin, sozinha.

Os ferimentos de Raishin eram graves. Sua caixa torácica tinha sido quebrada e alguns de seus órgãos haviam sido danificados.

Mesmo assim, o Doutor Cruel não havia ficado perturbado com aquela visão e fez a cirurgia com indiferença. Ele abriu o Raishin, colocou sua caixa torácica quebrada no lugar, estabilizou seus sinais vitais e, finalmente, o costurou novamente. Embora algumas pessoas o chamassem de médico charlatão, a operação mostrou que, surpreendentemente, ele poderia ter alguma habilidade. No mínimo, ele provou que tinha nervos de aço.

Os sons de cães latindo ao longe podia ser ouvido, de modo que Henri sentou-se em estado de choque.

— Você… realmente odeia cães, não é?

Surpresa, ela se virou para olhar Raishin. As pálpebras estavam pesadas quando ele as abriu, olhando para o teto.

— Raishin— Eu acordei você?

— …isso é um pouco surpreendente, considerando que a Charl gosta de cães, sabia?

— Eu… não os odeio. Eu gosto de cães.

— …nesse caso, por que você tem tanto medo deles?

Uma expressão sombria surgiu no rosto de Henri e ela murmurou fracamente,

— Alfred… ele era o favorito da minha Onee-sama. Quando ela foi para um colégio interno, eu disse a ela que iria cuidar dele e ela o deixou aos meus cuidados…

Suas mãos, que estavam descansando sobre seu colo, fecharam-se.

— É- É culpa minha. Se eu tivesse o controlado corretamente… então o Pri-Príncipe… não teria acabado daquele jeito…

Raishin deixou escapar um suspiro que ele não era mais capaz de conter.

Ele entendeu muito bem. Henri não odeia cães, mas das memórias que ver cães acionava. Elas eram desagradáveis, cheias de um senso de responsabilidade e de lamento por ter falhado.

— …eu sinto muito, Raishin.

— Por que você está se desculpando?

— É culpa minha que você sofreu essas lesões. Porque você veio para me salvar.

— Eu não fiz nada. Foi o Loki que te salvou. No entanto, isso ainda não acabou. O inimigo vai continuar vindo atrás de nós. A única maneira de fazer com que a Charl fique verdadeiramente livre é matar até o último dos inimigos. No mínimo, temos que forçá-los a uma retirada total. Apenas manter você longe daqueles que a observam não é o bastante para impedir a Charl.

Um olhar triste se formou no rosto de Henri assim que ela entendeu totalmente a realidade de sua situação.

— …está tudo bem. Vai amanhecer em breve… e então tudo estará acabado.

— O que você quer dizer com isso?

— Este é o acordo que foi feito. Se a Charl não puder completar sua tarefa até lá, eles vão… lidar conosco… então a Onee-sama dever estar se dirigindo para onde está o Diretor enquanto conversamos…

O prazo era o amanhecer.

A Charl iria continuar tentando até o fim!

— Por que você não me disse isso antes!?

Raishin forçou seu corpo a entrar em ação, saindo da cama.

Seu rosto se contorceu por causa da dor. Suas costelas haviam acabado de ser recolocadas no lugar, afinal.

— Espere… o que está fazendo!? Não se esforce demais!

— Yaya, onde está você!?

— Espere!

Desorientada, Henri agarrou o braço de Raishin.

Raishin virou as costas para ela, irritado, e Henri gritou com todas as suas forças.

— Por favor me mate!

— …o que você disse?

— A minha onee-sama é uma marionetista soberba, então ela será capaz de escapar deles. Se ao menos eu não estivesse aqui para arrastá-la para tudo isso…

— Não seja ridícula! Por que você acha que a Charl está fazendo isso em primeiro lugar!? Ela está fazendo isso porque quer que você viva. E você mesma disse antes que está com medo de morrer.

— Mas eu quero morrer agora!

Raishin ficou em silêncio. O silêncio dele deu a Henri a força para continuar.

— E- Eu… sempre… tive ciúmes.

Enquanto ainda segurava o braço de Raishin, Henri fervorosamente confessou seus verdadeiros sentimentos para ele.

— A Charl é bonita, inteligente e todos gostam dela com facilidade… mas eu… eu sempre fiquei na sombra dela, já que eu não sou nem bonita e nem inteligente… e eu não tenho muitos amigos…

Lágrimas começaram a descer no rosto dela uma após a outra.

— Eu… a odiava. Eu disse a mim mesma que ela era a pessoa que havia causado a dissolução dos Belew por causa do Alfred… eu atirei toda a culpa sobre ela… eu sou uma garota muito vulgar… então… eu mereço morrer!

— Você está errada!

A voz de Raishin estava repleta de fúria, vinda de todo o seu corpo. Henri ficou assustada com o grito dele.

— Qualquer um ficaria com ciúmes. No entanto, essa é realmente a única emoção que define você?

—  …

— Você realmente odeia a Charl, mesmo agora?

— Mas… eu sou uma garota má…

— Não se esconda atrás dessa desculpa! Enfrente seus verdadeiros sentimentos!

Era mais fácil pensar em si mesma como um mal sem salvação ou como uma existência que faria melhor em desaparecer. No entanto, o Raishin não pensava dessa forma.

— Não fuja agora! Encare isso de frente! Descubra o que você sente de verdade!

— Eu—

— Diga! O que você quer para a Charl nesse momento!?

— Po- Por favor…

Henri tremeu. Ela estremeceu, sabendo que aquele era um pedido irresponsável e, mesmo assim, ela não pôde se impedir de dizer o que realmente queria dizer.

— Salve… a minha Onee-sama…!

Henri, com vergonha pateticamente, chorou.

Ela era tão covarde, incapaz de fazer qualquer coisa.

Sem ser capaz de oferecer qualquer recompensa, ela agora estava fazendo um pedido absurdo a alguém coberto de feridas.

No entanto, os olhos de Raishin suavizaram-se com gentileza—

Ele assentiu, como se estivesse dizendo a ela para deixar isso com ele.

Quando ele correu para fora do consultório médico, tudo que Henri pôde fazer foi vê-lo se afastar com lágrimas nos olhos.

 

Parte 4

 

No corredor do lado de fora do consultório médico, Yaya estava sentada em um banco, desanimada.

Fazendo ruídos respiratórios fofos ao lado dela, Frey estava abraçada com Rabi, dormindo. Ela ficou esperando ali até que a cirurgia acabasse, mas as consecutivas aparições na Festa Noturna devem tê-la cansado muito.

Raishin veio voando do consultório médico. Yaya tinha escutado a conversa que ele teve com a Henri. Como ela pensava, Raishin realmente tinha intenção de ir.

Ao vê-la deprimida assim, o rosto de Raishin encheu-se de preocupação ao se aproximar dela.

— Qual o problema? Você está ferida?

Era uma pergunta supérflua. Yaya ficou ainda mais deprimida quando respondeu.

— …sinto muito.

— Até você? Por que todo mundo de repente está se desculpando sem nenhuma razão? Isso é algum tipo de modismo?

— Mas tem uma boa razão! A Yaya não foi capaz de proteger o Raishin… e então você ficou com essas lesões…

Ela esteve preocupada e impaciente por todo este tempo, mas não tinha ido até ele. Talvez ela tenha pensado que perdeu este direito ou que ela não era mais qualificada para estar ao lado dele.

Raishin gentilmente colocou a mão sobre a cabeça de Yaya, que estava chorando.

— Sua idiota. Esta fala é minha. Seu belo rosto foi ferido e tudo o que eu pude fazer foi ficar olhando, impotente.

— Raishin…

— Perdoe-me, Yaya. Estou sempre fazendo-a ficar triste.

Uma sensação acalorada subiu pelo peito de Yaya.

Ela sentia como se pudesse fazer qualquer coisa por ele. Mesmo algo como tornar possível o impossível.

— No entanto, nós dois, idiotas que vivem reclamando, estamos indo recuperar aquela assustadora garota dragão.

— Mas… e quanto a Henri?

Enquanto eles estivessem fora, quem poderia dizer que o inimigo não iria aproveitar a situação para sequestrá-la?

— Uu… Deixe isso comigo.

Yaya foi surpreendida pela interrupção súbita.

Eles não tinham certeza de quando exatamente ela tinha acordado, mas agora Frey estava de pé, batendo no peito com confiança.

— Frey… você tem certeza de que vai ficar bem?

— Sim. Nós vamos ficar ao lado dela.

— …está bem. Então vou deixá-la em suas mãos.

Ela tinha enfatizado a palavra ‘nós’. Ela estava se referindo aos autômatos tipo Garm? Ou talvez…?

Raishin pensou profundamente sobre uma coisa e, em seguida, fez uma pergunta a Frey.

— Ei. Seus cães podem fazer algo assim?

Enquanto gesticulava, ele perguntou sobre as funções deles.

Ouvindo o plano de Raishin, Frey prontamente assentiu.

— Sim, eles podem.

— Será que eles vão ouvir os meus comandos?

— A Riviera deve ser capaz disso. Ela é inteligente e não tem medo de estranhos…

— Então eu posso levá-la comigo?

— Uu… você promete que não vai se envolver em nenhuma bestialidade?

— Claro que não! Que tipo de pervertido você pensa que eu sou!?

Frey chamou o nome dela e um collie correu para fora do consultório médico.

Enquanto esfregava a cabeça dela, Frey falou com o cão. Embora eles não devessem possuir inteligência, o collie parecia entender exatamente o que a Frey estava dizendo e, eventualmente, olhou para Raishin, abanando alegremente o rabo. Parecia que ela estava disposta a ajudá-los.

— Vamos nos dar bem, Riviera.

— Tudo bem, é hora de ir, Yaya!

— Certo!

Com Yaya e o collie atrás dele, Raishin correu em direção a entrada.

A escuridão era fraca. Os pássaros madrugadores já haviam começado a cantar. Estava prestes a amanhecer.

Em meio a névoa da manhã, havia uma sombra de pé a frente deles.

Era uma mulher que brilhava com a luz das estrelas da noite. Sua figura vestida com um quimono era fascinante e seu tapa-olho tinha a lente, que era sua assinatura pessoal.

Se essa mulher fosse ser sua inimiga, seria um caso especial, até mesmo para a Yaya, que normalmente não temia nem mesmo Deus ou Buda.

— Shouko…

A voz de Raishin ficou tensa. Yaya parou completamente e olhou apreensivamente para baixo.

Shouko estava sozinha. Considerando o tempo e o local em que ela estava no momento, era surpreendente que ela não tivesse trazido Irori, que costumava agir como sua guarda-costas.

Shouko tomou um pouco mais de sake e, em seguida, limpou os lábios com o pulso. Era uma ação rude, condizendo com a de um rufião, então ver a Shouko fazer algo assim era uma visão perturbadora.

No entanto, ele não teve tempo para tirar o máximo daquilo que ele havia acabado de ver. Shouko quebrou a garrafa no chão, fazendo-a se partir em pedaços.

A explosão de cacos de vidro fez Yaya e Riviera involuntariamente enrijecerem.

— Eu pensei que você fosse apenas ignorante, mas eu não pensei que você fosse um idiota, garoto.

Um silêncio medonho surgiu. O ar estava tão frio a ponto de alcançar o zero absoluto. Riviera colocou a cauda entre as pernas e começou a uivar lamentavelmente.

— Você sabe como melhorar o meu humor?

— …sim.

— Eu vou dizer isso apenas uma vez. A estrada que se encontra diante de você se abre em dois caminhos, garoto. Você pode optar em voltar para a cama agora mesmo e ir dormir obedientemente ou eu mesma vou colocá-lo para dormir.

— Desculpe, mas eu vou ter que recusar ambas as opções.

— Você se atreve a me desafiar?

Havia um brilho nos olhos de Shouko. Isso por si só era o bastante para fazer com que Yaya ficasse prostrada no chão.

Raishin, no entanto, não mostrou nenhum sinal de medo quando voltou seu olhar para a Shouko.

— Não há nada pior no mundo do que vermes que mordem a mão que os alimentam.

— …sinto muito.

— Yaya!

Tendo seu nome chamado, Yaya encolheu-se de medo.

A voz da Shouko foi tranquila, mas não deixou espaço para discussão.

— Venha aqui.

— Ma- Mas…

— Agora!

O coração de Yaya bateu mais rápido. Ela ficou pálida e suas pernas pareceram perder a força.

Ela parecia estar prestes a entrar em colapso a qualquer momento, mas então…

— Eu… si-sinto muito… Shouko…

Colocando seu coração e sua alma nisso, Yaya reuniu toda a sua força de vontade e conseguiu dizer essas palavras enquanto estava tremendo.

— Mas… a Yaya… quer ser… a força do Raishin…

A raiva começou a surgir no olho de Shouko, acompanhada pelo som de suas geta batendo no chão.

Clack. Clack. Shouko estava aproximando-se dos dois e…

Um momento depois, a bochecha de Raishin inchou-se.

— …nunca mais volte a mostrar o seu rosto para mim, garoto.

Yaya não conseguiu ver o rosto da Shouko quando ela disse isso.

Com seu cabelo tremeluzindo ao vento, Shouko deu as costas a eles e foi embora. Raishin ficou absolutamente imóvel, como se fosse um espantalho, enquanto a figura de Shouko lentamente se fundia a névoa até desaparecer.

— Raishin… a Shouko… pode ser um pouco fria às vezes…

Yaya cautelosamente tentou consolar a pessoa que ela amava.

— Se isso fosse algo de que ela realmente tivesse desistido, ela não iria tão longe a ponto de fazer algo assim…

— …sim, eu sei.

Raishin esfregou a parte de sua bochecha que havia sido golpeada, olhando para a névoa enquanto falava.

— Apesar de tudo, eu gostaria de evitar deixar a Shouko preocupada se eu pudesse. Entretanto, depois de ver o sofrimento dessas duas irmãs sem esperanças, eu não posso simplesmente abandoná-las agora.

— Raishin…

— Agora então, suponho que possamos fazer as coisas com mais facilidade.

Com seus dentes brancos a mostra, Raishin sorriu.

Seu sorriso pareceu aliviar a tensão que Yaya estava carregando e, por isso, ela foi capaz de responder em sua forma habitual.

— Como é que você pode estar tão despreocupado, mesmo tendo acabado de ser repreendido?

— Comparado a como eu vou ser repreendido mais tarde, isso não foi nada. Agora vamos lá, o pior que pode acontecer agora é uma bronca da Shouko com o humor um pouco melhor, então nós não precisamos mais nos segurar!

— …certo!

Yaya fez um desejo sincero do fundo da sua existência.

Eu quero ser a força dele.

Eu quero ser a espada e o escudo dele.

Com sua resolução encaixando-se com firmeza em seu coração, Yaya seguiu logo atrás de Raishin.

 

Parte 5

 

Misturada com a noite, uma garota estava controlando sua respiração.

Esticando as orelhas, ela estava tentando sentir qualquer presença nas proximidades. Haviam vários homens se contorcendo na escuridão circundante.

A segurança era grande. Eram todos especialistas em detecção e parecia que eles já haviam começado a procurar naquela área.

Inesperadamente, porém, ela estava bem embaixo de um poste, ao lado de uma estrada pavimentada.

Escondendo-se à sombra de uma grande rocha, a luz não era capaz de chegar até onde ela estava. Mas, ao mesmo tempo, uma vez que ela estava tão perto da luz, os olhos do pessoal da segurança não poderiam dizer onde era o ponto cego. Aquele era surpreendentemente um ótimo esconderijo.

Ela escovou o cabelo, molhado com o orvalho da noite, irritada. Um pássaro— não, um dragão voou até onde ela estava, suas asas não faziam um som sequer.

Era Sigmund. Ele havia saído em uma missão de reconhecimento na sua forma imperceptível forma de dragão em miniatura.

Charl sussurrou para ele,

— Qual é a situação?

— Hum. Tem muitos guardas de segurança daqui até a residência do Diretor.

— …então nós não podemos nos aproximar mais do que isso?

— Não. Além disso, não há nenhuma luz à frente.

— Se formos pegos de propósito, há uma pequena chance de que eles usem seus archotes portáteis… mas essa é uma chance muito arriscada, de todo modo. Tudo bem, transforme-se agora e vamos atacar daqui mesmo.

Ela se levantou, pronta para a ação. Charl estendeu a mão direita em direção a Sigmund.

No entanto, Sigmund não se moveu, permanecendo sentado no chão.

— Não fique vadiando agora. Qual é o problema?

— Não é tarde demais, mesmo agora. Você deveria reconsiderar o que está prestes a fazer, Charl.

Charl ficou boquiaberta, antes de levantar as sobrancelhas em surpresa.

— Nós já viemos tão longe, o que você está tentando dizer agora?

— Mesmo que você consiga matar o Diretor, não há nenhuma garantia de que eles irão manter a palavra.

— Mas se eu os desafiar, eles certamente irão matar a Henri!

— Você pode confiar a Henri ao Raishin— ou até mesmo a Academia. Essa seria uma coisa fora da sua mente.

— Que bem teria um alívio momentâneo!? Nosso inimigo tem o apoio do MI5… não há nada que possamos fazer quanto a isso!

Eles olharam um para o outro.

Vendo que seu argumento não iria a levar a lugar algum, Sigmund mudou o tom de sua voz.

— Você ainda se lembra do que me disse? Se você realmente gosta do Raishin—

— Eu não gosto.

— Sim, sim, isso é apenas uma hipótese. Ficção. Estou apenas usando as palavras que você disse naquela vez.

Com a ponta de suas asas, ele voou até a cabeça dela e continuou a falar em seu ouvido.

— Você temia ser rotulada como uma mulher fácil.

— …o que tem isso?

— É verdade que não se passou muito tempo desde que você e o Raishin se encontraram pela primeira vez. Até aquele momento, você estava apaixonada pelo Felix. No entanto, seus sentimentos eram apenas uma ilusão parecida com um tipo de adoração. Você não conhecia o verdadeiro Felix que existia sob aquela máscara. Na verdade, você nem mesmo sabia tanto assim sobre o Felix.

Charl mordeu o lábio, virando o rosto por causa da vergonha.

— Por outro lado, você entrou em contato com a alma do Raishin e isso foi relaxante. Quando seu coração estava quebrado e cheio de espinhos e o medo da solidão tornou-se maior do que você, aquele que a resgatou foi o Raishin. Dito isso, não seria apenas natural que você se apaixonasse por ele?

— …tudo isso é substancial. São apenas desculpas convenientes que eu poderia usar caso quisesse me sentir assim.

— Mas o fato de que você quer se sentir dessa forma significa que, no mínimo, você reconheceu seus sentimentos até um certo nível!

— Eu me expressei mal! Foi um deslize! Não tente voltar minhas palavras contra mim!

Charl involuntariamente ergueu a voz. Apressadamente batendo sua mão na boca, seu rosto ficou vermelho quando ela ficou brava.

— Sério, por que você está falando disso agora!? O que isso tem a ver com tudo isso!?

— Se você continuar com isso, nunca mais será capaz de voltar para ele.

— …!

As palavras de Sigmund foram como uma estaca de ferro atravessando seu coração.

— Sua vida diária não era alegre. Você era vista como um incômodo por todos na Academia e não havia ninguém que pudesse ao menos entendê-la. E agora, você finalmente encontrou um amigo com que pode ter alguma empatia. Você finalmente tornou-se um ser humano normal. Se você descartá-lo, estará descartando sua própria humanidade— jogando fora a felicidade que você encontrou com suas próprias mãos.

Era um aviso. Sigmund continuou a falar de uma maneira muito gentil e detalhada.

— Você está prestes a matar alguém mesmo sem ter nada contra essa pessoa. Isso faria de você o mesmo que um assassino qualquer. O que o Raishin iria pensar de você nesse caso?

Raishin tinha acreditado na Charl. Ele acreditava firmemente que a Charl não era o tipo de pessoa que cometeria um assassinato.

Mas o que Charl estava prestes a fazer agora…

— Mesmo… que você me diga isso agora… já é tarde demais…!

Inesperadamente, Charl ergueu a voz. Lágrimas escorriam pelo seu rosto.

— Eu destruí a Torre do Relógio! No momento, estou a caminho para assassinar o Diretor… agora eu sou uma inimiga da Academia. Não resta lugar algum para onde eu possa voltar!

Agachando-se, ela continuou a chorar silenciosamente. Incapaz de conter os soluços, as lágrimas começaram a cair na grama aos seus pés.

— …eu sinto muito. Perdoe-me, Charl.

Sigmund baixou a cabeça, desanimado.

— Minha inadequação é a razão para você ter que trilhar este caminho e, mesmo assim, eu estou criticando você por isso. Se eu fosse mais forte— o bastante para derrotar o exército de uma nação, então eu seria capaz de salvar vocês duas.

— …não é isso. Você sempre foi minha força quando eu precisei que fosse.

Charl enxugou as lágrimas que estavam escapando de seus olhos, conseguindo pronuncias algumas palavras.

— Mesmo agora. Mesmo quando eu estou ferida, deprimida e perdi a chance de ter alguma família para quem voltar, você ainda está aqui ao meu lado… me protegendo.

Ela estendeu os braços para Sigmund e gentilmente o abraçou.

— Obrigada por estar sempre aqui para mim.

Abraçando Sigmund, Charl recomeçou a chorar.

Depois que ela se acalmou, limpou a última das lágrimas e se levantou.

— Nós não podemos vadiar por mais tempo. Vai amanhecer em breve.

— Sim. Eu não tenho nenhum rancor pessoal contra o Diretor… mas eu não tenho escolha.

— Se você não tem nada contra ele, então não o mate.

Sigmund voou até o braço de Charl, preparando-se para a batalha.

De algum modo, alguém tinha conseguido se aproximar muito deles.

A voz deles estava alta demais? Alguém tinha conseguido descobrir onde eles estavam?

Não poderia ser. Ele não era alguém com um cérebro. Deveria ter sido apenas um palpite.

Sabendo que o objetivo dela era a residência do Diretor, era fácil restringir a busca a rota mais fácil. Além disso, se ele estivesse se esgueirando, assim como ela fez, era apenas lógico que ele acabasse no mesmo lugar em que ela estava agora.

Charl e Sigmund se viraram para olharem para a grande pedra ao mesmo tempo.

Como se aquele momento tivesse sido calculado, duas sombras pousaram sobre a pedra nesse exato momento.

Uma menina vestida com um quimono e um paciente todo enfaixado.

— Yo, garota dragão assustadora. Eu estou aqui para convidar você para um encontro.

É claro que não era outra pessoa senão o Raishin.

 

Parte 6

 

A dor lancinante que ele estava experimentando era torturante, mas a fachada de Raishin não evidenciava nada disso. Mascarando a dor, ele forçou um sorriso.

Suor frio estava sendo derramado de todos os seus poros, encharcando todo o seu corpo.

Na verdade, ele estava se sentindo terrível. O vento noturno estava tendo um grande efeito sobre seu corpo e havia pouca sensibilidade em suas mãos e pés. A dor em suas costelas disparava todo o caminho até sua cabeça, mantendo sua conexão com a consciência de forma tênue.

A intenção assassina de Charl e Sigmund estava misturada com a energia mágica deles, atingindo-o com força total.

De algum modo conseguindo minimizá-la, Raishin falou com Charl.

— Pare de agir como uma idiota e volte para o dormitório. Descanse bem, você pode até mesmo dormir um pouco, e então peça desculpas sinceras ao Conselho Administrativo e explique a situação em detalhes. Assim que isso estiver acabado, podemos ir até a cidade e comemorar em grande estilo.

— Não. Vocês vão ficar dentro dos terrenos da Academia.

Yaya interrompeu. Raishin então percebeu. Com Sigmund e ela ao redor, as coisas iam ficar muito barulhentas.

Ouvindo o cenário ideal se desdobrar, Charl pareceu vacilar um pouco.

Por um breve momento, a máscara que ela estava usando rachou um pouco e ela pareceu estar prestes a chorar.

Quase imediatamente, porém, a máscara fria, desprovida de qualquer emoção, voltou a se agarrar em seu rosto.

— Eu recuso. E saia da frente. Eu vou matar o Diretor.

Raishin soltou um enorme suspiro e, então, gritou com raiva.

— Você realmente é uma grande idiota! Você planeja se tornar uma criminosa procurada!?

— O- O que!? Você acabou de me chamar de idiota? Uma idiota!? Você não consegue nem mesmo entender os sentimentos das pessoas! A pessoa que chama os outros de idiota é um idiota ainda maior, seu pervertido!

— Cala a boca! Você não tem um sonho importante que precisa realizar!?

Charl franziu a testa e seus lábios formaram um V invertido. Os dois se encararam, com faíscas voando entre eles.

— Este é o maior instituto de artes mágicas que existe— se você matar o seu Diretor, você irá se tornar inimiga de todo o mundo mágico. E então, reviver a Família Belew irá se tornar eternamente impossível!

— Eu sei disso! Mas eu não tenho outra escolha!

Lágrimas começaram a se formar no canto de seus olhos. No entanto, antes que suas emoções pudessem se libertar de forma furiosa e descontrolada, Sigmund abriu as asas, voando até o nível dos olhos de Raishin.

Suas escamas cor de aço brilhavam sob a luz da lua.

Quando ele fixou seus olhos vermelhos nele, Raishin sentiu um arrepio na espinha. Naquele momento, ele sentiu que aquele pequeno dragão era mais perigoso do que qualquer animal selvagem.

— Afaste-se, Raishin. Eu não quero ter o seu sangue em minhas mãos.

— Eu vou dizer isso a você também. Vocês não vão se livrar de nós assim tão facilmente…

Uma densa escuridão começou a transbordar de Sigmund. Isso rapidamente envolveu toda a área ao redor dele. Uma perna corpulenta se estendeu para fora da escuridão, agarrando-se firmemente ao chão.

O que finalmente emergiu da escuridão foi um dragão de oito metros de comprimento.

Olhando ele de perto, Sigmund era realmente um monstro. Mesmo elefantes ou girafas seriam apenas fofos se comparados a ele.

— Eu sei que você tem escondido seu talento. No entanto, é pura arrogância pensar que você pode se equiparar a um dos Rounds apenas porque derrotou o Felix.

Seus dentes mais pareciam punhais organizados lado a lado dentro de seu grande e resistente queixo. Sua voz profunda reverberava de uma boca que parecia capaz de engolir Raishin em uma única mordida.

— Você derrotou o Canibal Candy quando ele não estava em plena forma. Você o pegou desprevenido por causa do excesso de confiança. Ou você já se esqueceu do quão mal você se saiu contra Loki, o Imperador da Espada?

Seu grande rosto se aproximou. Se ele mordesse agora, Raishin seria cortado em pedaços de forma quase fácil demais.

— Você jamais poderá esperar entender a razão pela qual a Charl tem que fazer o que eles estão dizendo. Não importa o quão habilidoso seja um marionetista, há muito pouco que ele ou ela possa esperar fazer sozinho…

— É você que não está entendendo, Sigmund.

Com seu corpo exposto a essa enorme mandíbula, Raishin respondeu com uma voz elevada.

— Eu não me importo com o quão você e a Charl são fortes ou com o quão eu sou fraco. Não interessa se o meu inimigo é extremamente poderoso, eu jamais usaria isso como desculpa para recuar.

Estendendo a mão esquerda em direção a Yaya, ele começou a concentrar energia mágica dentro de seu núcleo.

— Além disso, tem outra razão… minha parceira é o autômato mais forte do mundo.

A energia mágica foi transmitida. Todo o corpo de Yaya transbordou de energia quando o circuito Kongouriki foi ativado.

Sigmund abriu suas grandes mandíbulas, tentando atacar Raishin.

Yaya prontamente voou até eles, usando suas mãos para pressionar os dentes dele. No momento, Yaya estava muito mais resistente do que o aço. Não importa os quão afiados fossem aqueles dentes, eles não seriam capazes sequer de arranhá-la.

Raishin saltou da rocha, gritando enquanto fazia isso.

— Yaya, abaixe!

— Canhão Lustre!

Luz foi atirada da garganta de Sigmund sob o comando de Charl.

A torrente de luz perfurou a atmosfera. Ela roçou o corpo de Yaya e aniquilou a copa das árvores atrás dela. Se ela tivesse ficado parada onde estava, também teria sido instantaneamente vaporizada.

— Kouen Sanjuurokushou!

— Tudo bem!

No momento em que aterrissou, Yaya voltou a decolar. A intenção de Raishin era transmitida pelo fio de energia mágica que os conectava, orientando os membros de Yaya a moverem-se de acordo com o padrão de batalha que eles estavam usando. Não era um comando absoluto, mas se estivessem em sintonia, Yaya poderia compreender mais facilmente as intenções de Raishin, tornando os ataques mais precisos.

Esquivando-se das presas de Sigmund, ela moveu-se lateralmente e disparou um chute em seu abdômen.

Deslizando para se esquivar das garras, ela saltou e chutou as costas de Sigmund.

No entanto, ela não conseguiu se esquivar do ataque seguinte. A grande cauda de Sigmund pegou Yaya no meio do ar e a jogou para longe.

— Labareda Lustre!

Incontáveis feixes de luz foram atirados da boca de Sigmund, cada um deles se assemelhando a agulhas mortais. Yaya tentou se esquivar no ar, mas isso era como tentar não se molhar na chuva e ela não foi capaz de escapar completamente do ataque.

Yaya gritou de dor. Com cada uma das agulhas a perfurando, parte de sua proteção corporal acabou se quebrando.

Este era o poder do maior dos circuitos de magia. Seu poder destrutivo era capaz de causar danos ao corpo da Yaya.

O circuito Gram e, por extensão, o Sigmund, era um adversário temível.

O combate a longa distância não era vantajoso. Ele tinha que fazer alguma coisa para chegar mais perto.

— Suimei Sanjuuroku… não, Shijuuhachisou!

Tendo recebido as instruções, Yaya correu para frente. Enquanto ela estava no meio de sua corrida, ela acelerou novamente, aproximando-se de Sigmund.

Um flash de luz estava indo em sua direção. Yaya esquivou-se rapidamente, mas as patas dianteiras de Sigmund estavam esperando por ela.

Ele ia esmagá-la entre suas garras!

— Tenken!

Ele mudou a natureza da magia que estava usando. Yaya plantou firmemente os pés no chão, preparando-se para o impacto com as garras de Sigmund, que estavam indo em sua direção.

— Empurre-o, Yaya!

— Resista a ela, Sigmund!

Tingido de energia mágica, Sigmund ficou ainda maior.

Enquanto ele crescia em massa bem diante de seus olhos, os pés de Yaya começaram a se afundar no chão.

No entanto, Yaya ainda estava o segurando. Se ele optasse por uma disputa de força, ela não iria perder.

A batalha estava em um impasse. Em termos de posicionamento, Sigmund tinha a vantagem, mas suas próprias patas dianteiras estavam no caminho, impedindo-o de usar o Canhão Lustre. Se ele se descuidasse e erguesse as patas dianteiras, ele seria empurrado por Yaya e o próximo ataque dela seria fatal. Nem mesmo Sigmund seria capaz de sair ileso de um ataque que destruiu o Canibal Candy.

Naquele momento, a vegetação circundante sussurrou com o movimento e algo veio voando de lá.

Eram figuras de macacos vestidos com capacetes móveis. Eram os Heimguarders do pessoal da segurança!

Ele contou três deles. Considerando que a luta deles estava sendo dura e chamativa, era óbvio que eles acabariam sendo descobertos.

— Ajudem-no!

— Deixe isso conosco!

— Renda-se, seu demônio!

— Vocês estão no caminho!

Charl gritou, disparando o Canhão Lustre.

Grandes árvores, faixas de grama, assim como os Heimguarders, foram pegos na explosão.

O pessoal da segurança, em pânico, começou a disparar contra a Charl. O intestino de Raishin se revirou, mas Sigmund usou suas asas para bloquear as balas, fazendo faíscas voarem quando os tiros ricochetearam para longe.

Sigmund virou a cabeça em direção a eles com luz brilhando no fundo de sua garganta.

— Charl, pare!

Raishin apressadamente atirou-se no caminho, protegendo os guardas.

— Vocês também, afastem-se! Eu vou fazer algo quanto a isso!

Suas marionetes já estavam quebradas, então os guardas da segurança prontamente seguiram as ordens dele e se afastaram.

Sentindo-se um pouco aliviado, Raishin virou-se para Charl, que ainda estava nas costas de Sigmund.

— Volte a si, sua garota dragão louca! Você está mirando nas pessoas erradas! Se você é tão poderosa assim, por que você não está lutando contra os seus verdadeiros inimigos!?

— Você é um idiota!? Obviamente é porque o inimigo é muito mais forte!

— Se for esse o caso, consiga ajuda! Peça a alguém! Peça a mim! Confie em mim! Confie na Academia! Na Associação! Dependa dos outros!

— O que— Não vá dizendo todos esses absurdos tão casualmente!

O inimigo certamente era formidável. Como um dos aliados dos Kingsfort, sua força poderia até mesmo rivalizar com a de uma nação. Além disso, suas raízes eram absurdamente profundas no funcionamento interno da Academia.

Mesmo com a ajuda de Raishin, não seria o bastante. Não havia nenhum modo da Academia ajudá-los. Também não haviam razões para a Associação de Magos acreditar na história da Charl.

Não havia maneiras de que eles pudessem esperar serem capazes de enfrentarem todo mundo.

Entretanto… o corpo de Sigmund balançou violentamente quando ele foi lançado no ar.

Em resposta a determinação de Raishin, a força foi se acumulando dentro de Yaya!

— Apenas pare de me preocupar agora mesmo!

Charl ficou visivelmente abalada e sua voz estava embargada de tristeza.

— Eu quero isso! Eu não posso mais voltar atrás! Eu destruí a Torre do Relógio e ataquei o Diretor! Agora eu sou inimiga da Academia! Não há ninguém que possa me proteger agora…

— Vamos voltar, Charl!

Charl foi paralisada pelo olhar de Raishin.

A força desse olhar fez com que Charl tremesse de medo.

— Mas…! Eu vou… ser apenas… um obstáculo para você…!

— Você pode me atrapalhar…

De dentro do corpo de Raishin, a partir da existência primordial de sua alma, uma extraordinária quantidade de energia mágica começou a jorrar.

— …o quanto você quiser!

Com um rugido, a força de Yaya começou a aumentar.

O corpo de Sigmund era tão grande e pesado quanto um navio de guerra, mas agora Yaya estava erguendo-o no ar e, em seguida, o atirou para longe.

Sigmund voou pelo ar, pousando a vários metros de distância.

O chão tremeu de forma terrível quando Sigmund, de algum modo, conseguiu pousar de pé.

Felizmente, parece que Charl não havia sido ferida. Ela estava se agarrando com força a uma das asas de Sigmund.

Sigmund ergueu a cabeça, mas Raishin já havia começado a se mover.

— Suimei Shijuuhachisou!

Com Raishin segurando-se nas costas de Yaya, ambos se aproximaram de Sigmund.

Charl estava gritando em meio as lágrimas enquanto disparava descontroladamente.

Cada um dos tiros não havia sido completamente carregado, pois estavam sendo disparados em uma rápida sucessão. Fazer isso parecia estar causando uma pesada carga em Sigmund, o poder de cada tiro estava visivelmente enfraquecendo e a luz foi ficando cada vez mais fina.

Aproveitando-se desta chance, Yaya seguiu em frente. Apenas cinquenta metros os separavam. Sigmund estava bem diante dela.

As garras de Sigmund vieram cortando lateralmente. Yaya bloqueou o ataque e o afastou. No breve momento em que ambos estavam imobilizados, Raishin saltou por sobre o ombro de Yaya, na direção de Charl.

Neste momento, ele ficou completamente exposto diante da grande mandíbula de Sigmund.

Charl começou a concentrar sua energia mágica, mas vacilou no meio do caminho.

Aproveitando-se de sua hesitação, a mão de Raishin conseguiu alcançá-la.

Agarrando-a, os dois caíram das costas de Sigmund, caindo em uma moita abaixo deles.

— Guah!

Raishin gemeu. Imprensado entre Charl e o chão, ele podia sentir suas costelas gritando de dor.

— Eh… espere aí, você está bem?

Charl saiu apressadamente de cima de Raishin, gentilmente pressionando o abdômen dele.

— O que é isso… é quente… e pegajoso…!

Seu estômago parecia macio e esponjoso e algo parecido com água estava vazando por sua pele.

Raishin estava com uma hemorragia interna. Ou talvez fosse uma inflamação. De qualquer forma, aquilo não era normal.

A raiva que ela estava sentindo anteriormente havia desaparecido completamente, uma vez que agora ela estava completamente confusa.

— Nó- Nó- Nós temos que procurar assistência médica rapidamente. Se não fizermos isso, você vai…!

— Não haverá nenhuma necessidade para isso.

Uma sombra apareceu inesperadamente, dirigindo a ambos uma intenção hostil.

Sigmund e Yaya vieram voando, parando na frente de seus respectivos mestres para protegê-los.

Havia alguém de pé sobre o galho de uma árvore próxima.

De repente, eles tomaram conhecimento do estranho ambiente em que estavam. Em algum momento desconhecido do tempo, a presença de todo o pessoal da segurança nas proximidades havia desaparecido.

Alguém teria os silenciados?

Quem havia feito isso era a pessoa diante deles?

A pessoa sobre o galho da árvore não era outro senão a pessoa que se apresentara como o mordomo da Família Granville, Shin.

— Acho estranho que você esteja falando sobre intervenção médica. Você não deveria deixá-lo aqui e ir atacar a residência do Diretor?

— …eu não quero mais fazer isso.

— Isso é um pouco triste. Você ainda está consciente, Senhor Akabane?

Em vez de responder, Raishin ficou de pé.

— Como um mordomo da Família Granville, eu não gosto de conflitos. Resolver disputas com uma batalha é uma noção antiquada e primitiva. Em vez disso, eu preferiria que nós discutíssemos as coisas como bons cavalheiros.

Shin adotou um tom de voz extremamente formal, como se estivesse negociando ao fazer sua proposta.

— Você poderia não apresentar nenhuma resistência enquanto eu mato você?

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