Machine-Doll wa Kizutsukanai – Volume 4 – Capítulo 2 - Anime Center BR

Machine-Doll wa Kizutsukanai – Volume 4 – Capítulo 2

Capítulo 2: die Kreuzritter (Os Cruzados)

Tradução: Reiki Project

 

Era de manhã cedo. A escuridão da noite já estava começando a desaparecer e os pássaros do lado de fora cantavam ruidosamente.

O amanhecer estava próximo. Não tendo pregado os olhos na noite anterior, agora que já era essa hora do dia, Raishin decidiu agir. Deixando Frey e Loki, ele saiu da Enfermaria.

Andando rapidamente, ele chegou ao átrio deserto, tentando manter sua impaciência sob controle enquanto pegava o telefone.

— Alô… Quem poderia ser…?

Talvez ela tivesse sido acordada pela ligação, porque a resposta veio de uma Irori surpreendentemente sonolenta.

— Sinto muito por ligar tão cedo, mas passe o telefone para a Shouko!

— Eh… Raishin?

— A Yaya não voltou! Algo pode ter aconteci—

— Não voltou…? Portanto, em outras palavras…

— Eu não sei onde ela está! Agora apresse-se e coloque a Shouko na linha!

— Calma, Raishin! A-Acalme-se! Primeiro temos que telefonar para a Shouko, para contar isso a ela!

— Sim. De todo modo, você também precisa se acalmar.

Raishin ouviu o som de várias coisas quebrando do outro lado da linha, como se alguém estivesse tropeçando em tudo que via pela frente.

Depois de algum tempo, a voz da Shouko pôde ser ouvida.

— Em uma emergência novamente, garoto?

— Eu sinto muito… mas dessa vez é um pouco diferente.

— Eu escutei. A Yaya está desaparecida?

— … A culpa é minha. Ela estava agindo estranho ontem. Eu deveria ter—

— Você pode se culpar mais tarde. Nós também iremos procurar por ela aqui do nosso lado—

Naquele momento, Raishin escutou a palavra “Senhoritaaaaa!” sendo gritada de alguma distância.

Algo aconteceu. O suor na palma das mãos de Raishin aumentou, mas a voz da Shouko soou sem emoção alguma.

— Algo problemático aconteceu. Eu tenho que ir.

— Eh!? Espere!

— Não seja mimado.

Uma recusa simples. Talvez ela ainda estivesse zangada por ele ter desafiado suas ordens na última vez.

— Volte para a cama, garoto. Irei entrar em contato no fim da tarde.

A conversa totalmente unilateral terminou. Raishin estava preenchido por sensações ruins quando desligou o telefone.

Ele não podia apenas ficar parado. Lutando contra o impulso de sair correndo, ele parou para pensar.

Procurar de forma imprudente não garantiria que ele fosse encontrar a Yaya.

Em primeiro lugar, onde ela poderia ter ido? Ela estaria ferida de algum modo?

Ou alguém havia—— a sequestrado!?

Yaya era uma marionete de primeira classe, criada sob a marca Karyuusai. Seu valor e suas habilidades já eram bastante conhecidos pelas pessoas ao redor e haviam diversos alunos na Academia patrocinados por grandes potências mundiais. Poderia algum desses países ter instigado seus protegidos a roubar a força dela?

No entanto, a Academia não perdoaria algo assim. Em primeiro lugar, as habilidades da Yaya tornariam impossível ela ser sequestrada através do uso da força.

(A Academia— É verdade, eu poderia apelar para a Academia para lidar com este roubo?)

… Não. Por alguma razão, ele sentiu que discutir isso com o Diretor seria… uma péssima ideia.

(Eu preciso de alguém em quem eu possa confiar— Professora Kimberley!)

Ele tomou uma decisão precipitada.

Apressadamente indo em direção ao departamento de Física das Máquinas, ele colidiu com alguém.

Houve um grito fofo de dor. O sedoso cabelo prateado caiu sobre o peito de Raishin.

— Bom dia, Raishin.

Esfregando o nariz, uma estudante abriu um grande sorriso para ele.

Ela tinha características interessantes. Ela era bonita, tinha olhos puxados e um nariz bem torneado. Seus olhos brilhavam como esmeraldas e seu longo cabelo prateado era como um manto reluzindo ao vento.

Os instintos de Raishin gritaram para que ele ficasse em guarda.

Ela era bonita. No entanto, ele não tinha sentido sua presença. Mesmo com o nível de sensibilidade que ele possuía!

— … Quem é você?

— Que decepcionante. Você não se lembra nem um pouco de mim? Embora nós sejamos da mesma classe.

— … Desculpe. Eu não tenho o luxo de conhecer pessoas.

Por uma questão de hábito, Raishin não tinha tempo para se interessar pelos demais estudantes.

E nesse momento, ele não tinha tempo para ficar parado ali, conversando.

Raishin afastou-se sem baixar sua guarda, abrindo distância entre ele e a garota. Ela continuou, implacável.

— Eu não vejo o seu autômato por perto. Você por acaso está procurando por ela?

— O nome dela é Yaya.

— Desculpe. Então você tem alguma ideia de para onde sua mario— a Yaya foi?

— Não. Sendo assim, eu não tenho tempo para conversar com você agora.

— Mas eu tenho uma ideia.

Seus níveis de desconfiança explodiram. Ela acabou de dizer o que ele pensava que ela tinha dito?

— Onde!? Como você sabe disso!? Quem é você!?

— Por favor, acalme-se. Eu não estou absolutamente certa… mas agora há pouco eu estava passeando pelo lago e vi uma garota usando um quimono, então eu pensei que poderia ser ela.

Era uma mentira. Sua intuição estava gritando tão alto que era quase audível. Ela estava mentindo!

Quem era essa gartoa? Ela… era a pessoa que havia usado a Charl anteriormente?

Isso era perigoso. Raishin não tinha sua parceira no momento. Além disso, ele estava gravemente ferido.

Mas— Era uma oportunidade muito boa.

Se ela era a pessoa puxando as cordas, então ele seria capaz de chegar mais depressa até a verdade.

Raishin lutou contra os seus próprios instintos e, de forma imprudente, respondeu a garota.

— Mostre o caminho.

 

Parte 2

 

A refrescante luz do sol da manhã brilhava sobre as paredes brancas.

Era de manhã cedo no Dormitório Grifo. Quase todas as estudantes ainda estavam na cama.

— Idiota… Você realmente é um grande idiota!

Sobre uma cama de casal, Charl estava murmurando alguma coisa em seu sono.

— Idiota… Eu não vou te perdoar se você… Aaahn… Eu disse que você não podia… <3

Em contraste com suas palavras, Charl estava abraçando com firmeza o seu travesseiro, quando seus olhos subitamente se abriram.

Por um momento, ela ainda permaneceu meio adormecida. Então, de repente, ela corou furiosamente.

Encolhendo de vergonha, ela começou a bater furiosamente em seu travesseiro. Sigmund, que estava deitado sobre o travesseiro, foi acordado e bocejou.

Ao lado dela, Henri sentou-se enquanto esfregava os olhos.

— Onee…? O que há de errado?

— Na-Na-Não foi nada! Tudo está perfeitamente normal!

— Você não precisa se preocupar, Henri. A Charl apenas teve um sonho embaraçoso.

— Fi-Fi-Fique quieto, Sigmund! Eu vou mudar seu almoço para cascas de ovos!

Olhando para Henri, que estava rindo, Charl sentiu uma sensação de alegria.

O nome de Henri já havia sido excluído dos registros da Academia, mas graças à intercessão de Kimberley, ela tinha recebido permissão para continuar a viver no Dormitório Grifo.

Ela não esperava que o dia em que ambas poderiam acordar jutas chegaria tão cedo…

Naquele momento, houve o som de algo batendo em sua janela.

Ela se perguntou se alguns pássaros haviam pousado em seu peitoril, mas quando ela olhou pela janela— seu coração disparou. Abrindo a janela, Raishin enfiou a cara no interior do quarto.

Seu sonho se repetiu em sua mente e sua cabeça começou a ferver.

— Yo, Charl. Você acordou cedo.

— O-O-O que você está fazendo, sua criatura insolente!? Como se atreve a entrar no quarto de uma dama sem pedir autorização!?

A parceira dele certamente seria incapaz de se manter em silêncio diante de algo tão ousado quanto isso— ou foi assim que ela pensou.

— … O que houve com ela? É estranho vê-lo sozinho. Você quer alguma coisa?

— Ah, sim, na verdade— Eu vim para te convidar para um encontro.

— Você é um idiota!?

Ela gritou em resposta a ele. Obviamente, ela tinha ficado vermelha da ponta dos ouvidos até a base do pescoço.

— De-De-De todo modo, desça e espere por mim! Deixe de ser um canalha insolente! Pervertido!

Raishin riu e deu uma olhada para Henri e Sigmund, antes de saltar do parapeito da janela.

Ele saltou para um galho da árvore em frente à janela, escorregando para baixo. Era como se ele fosse um macaco.

Charl apressadamente tirou sua camisola, trocando-se o mais depressa possível.

— Onee? Agora mesmo o Raishin…?

— Henri. Troque-se você também. Apresse-se e vá até a Professora Kimberly agora mesmo.

— Eh…?

— Vá direto para o escritório dela. Não pegue nenhum desvio. Não interessa com quem você encontre no caminho, não o siga. Vá direto para o escritório. Está claro?

— Si-Sim…

Henri estava confusa, mas seguiu obedientemente as palavras de sua irmã. Lavando o rosto, ela vestiu seu vestido e seu avental.

Esperando que Sigmund pousasse sobre sua boina, Charl saiu do quarto junto com Henri. Elas se dirigiram para a entrada. A responsável pelo Dormitório ainda não estava lá. Passando pelo escritório da segurança, elas foram para o lado de fora. Depois de se certificar que Henri fez seu caminho até o departamento de Física das Máquinas, ela voltou a entrar no dormitório pela porta dos fundos e se dirigiu para o local logo abaixo de sua janela.

Exatamente como ela havia dito a ele, Raishin estava esperando ali.

— Então, o que você quer?

Raishin rapidamente perdeu a alegria que havia mostrado anteriormente e um olhar sério se formou em seu rosto.

— A verdade é que… a Yaya está desaparecida. Sinto muito, mas você poderia me ajudar a procurar por ela?

Charl deu uma pequena risada.

— … Charl?

— Já que você fez todo esse caminho apenas para vir até aqui—

A árvore atrás deles começou a ficar mais agitada. Os ramos se abalavam e as folhas sussurravam. O vento… Não. Era a energia mágica de Charl que estava causando a perturbação!

— Eu vou te fazer pagar por mais cedo!

Ela lançou sua energia mágica. Sigmund foi envolto por uma escuridão indeterminada, ficando cada vez maior. No entanto, quando emergiu da escuridão, ele não era um dragão gigante. Em vez disso, ele tinha aproximadamente o tamanho de um cavalo.

Seus músculos ficaram tensos e sua aparência era angular, como a de uma ave de rapina.

— Ei… Espere, Charl! O que você está—

— Sabre Lustre!

Ela não se incomodou em responder. A mandíbula de Sigmund se abriu e uma torrente de luz jorrou.

Ela cresceu como se fosse um cometa, visando Raishin.

Raishin saltou levemente para trás, com uma velocidade que não era humana. Ele deu um mortal de costas, movendo-se para fora da linha de fogo. No entanto, a luz de Sigmund o perseguiu.

Era realmente como uma lâmina de luz. Não era possível evitá-la, então ele não tinha escolha além de pará-la com as mãos. Sua pele ficou queimada e ele retirou as mãos. Porém, sob a pele queimada suas mãos pareciam estar estranhamente ilesas!

Raishin caiu com um baque. Uma névoa quente brilhava ao redor de seu corpo, fazendo com que seu rosto parecesse nebuloso.

— Hmph. Já basta. Apenas mostre logo a sua verdadeira forma. Ter que olhar para essa cara é muito irritante.

Raishin deu um sorriso sinistro. No instante seguinte, faíscas voaram enquanto sua forma se desfazia completamente. Pedaços de seu cabelo, roupas e pele começaram a cair, revelando uma pessoa completamente diferente por baixo.

Ele era mais alto e mais esbelto do que o Raishin. Seu cabelo estava penteado para trás e atrás de seus óculos escuros ele tinha um olhar distinto tão afiado quando uma espada.

Era o homem que havia chamado a si mesmo de Machine-doll— Shin!

— Bem, isso é interessante. Como você soube? Embora eu não seja completamente perfeito, essa foi uma boa interpretação, se posso dizer.

— Ele pode ser maçante, insensível, incapaz de compreender o mínimo do coração de uma donzela e um grande idiota— mas ele não é o tipo de cara que iria me convidar para sair sem nem ao menos dizer oi para a Henri.

— Entendo. Como esperado do Don Juan Oriental. Ele conseguiu seduzir completamente as duas irmãs. É um sanduíche de irmãs.

— … O que é isso?

Shin alisou sua franja para trás, lançando um olhar penetrante a Sigmund.

— … Sua aparência mudou um pouco desde o nosso último encontro.

— Não foi apenas a aparência. Sabre Lustre!

Ao comando de Charl, Sigmund disparou mais uma explosão luminosa.

Era uma lâmina de luz focalizada. Shin saltou para o ar, tentando se esquivar— mas não havia como fugir!

Embora isso fosse tão forte quanto o Canhão Lustre, em troca da perda de poder bruto, ela ganhava em duração. A lâmina não desapareceu e continuou a perseguir Shin.

Shin desistiu de fugir e, assim como antes, usou as mãos nuas para afastar a luz.

Enquanto seu rosto mostrava uma expressão dolorida, ele chutou o ar.

Atingindo a velocidade máxima em apenas um instante, ele avançou sobre Sigmund, visando acertar um chute certeiro nele.

Sigmund suavemente deu um passo para o lado, desviando do chute.

Shin ficou chocado. Seu chute não havia acertado!

Exaltando-se, ele voltou a aumentar sua velocidade, mas, naquele instante, Sigmund já havia balançado sua cabeça na direção de Shin.

— Lustre Flare!

Uma chuva de luze caiu. Inúmeras agulhas de luz dispersaram-se em sua direção, caindo sobre ele.

Mesmo com sua alta velocidade, a propagação dos projéteis era tal que ele não poderia escapar. Perfurado por agulhas, buracos surgiram em suas roupas. Ele parecia ter usado alguma contramedida, pois sua energia mágica diminuiu intensamente.

— … Bem feito. É quase como se você fosse uma pessoa totalmente diferente agora.

— Hmph. Você achou que eu fosse continuar sendo derrotada?

Analisando as razões de sua derrota, ela havia refinado suas técnicas.

O resultado havia sido uma forma completamente nova de se utilizar o circuito Gram.

Mudando de resistência para agilidade, ela teve a ideia de não apenas aumentar de forma imprudente o tamanho de Sigmund.

Isso era tudo para derrotar Shin e proteger Henri.

— … Entendo. Parece que as chances mudaram. Eu posso ser hábil em ser o mordomo da Família Bernstein, mas não gosto de me esforçar. Eu não vou lutar uma batalha em que minhas chances de vitória estão apenas pela metade.

Tirando a areia de seu terno, ele escapou para o ar.

— Eu não vou deixar você fugir!

Charl subiu nas costas de Sigmund, que levantou voo.

 

Parte 3

 

— Aqui, Loki… Beba o seu leite.

— Eu posso fazer isso sozinho.

— Aqui, eu tirei a casca do ovo para você.

— Pare com isso. Pare de me tratar como uma criança!

Era de manhã na Enfermaria. Loki estava tomando o café da manhã e Frey estava cuidando dele.

Embora estivesse sendo tratada com frieza, Frey ainda estava feliz. Ela estava convencida de que estava fazendo coisas que uma irmã mais velha ideal deveria fazer. Por outro lado, Loki mordeu violentamente o seu pão, com uma expressão mal-humorada no rosto.

Ao lado deles, uma espada gigante estava encostada na parede— Cherubim estava olhando para eles com aparente interesse, ao mesmo tempo em que cinco cães sentados os observavam.

Um sorriso brilhante, uma cena calma. Tudo aquilo foi rapidamente destruído.

— Vocês!

Raishin veio explodindo pela Enfermaria.

Ele está ferido? Seu rosto estava contorcido e ele estava apertando a lateral do corpo.

Frey foi pega de surpresa e tentou se levantar, mas pisou no próprio cachecol e acabou caindo.

— Uu… Raishin, o que houve?

— Hmph… Eu estava me perguntando porque ainda não tinha visto você nesta manhã.

Raishin parecia estar encarando o juízo final e sua voz estava cheia de vigor.

— A Yaya, ela— meu autômato está desaparecido!

No mesmo instante, a tensão percorreu Loki e Frey.

— Eu não posso encontrá-la sozinho. Por favor, me ajudem!

Frey e Loki trocaram olhares, assentindo um para o outro.

Loki moveu a bandeja com seu café da manhã meio comido para o lado, colocando-se de pé.

— Entendo. Cherubim, vamos nessa.

Estou pronto.

Cherubim veio voando da parede, pairando no ar.

Girando no ar uma vez, sua lâmina ficou maior e envolta por fogo enquanto descia sobre Raishin!

Houve um ruído monótono quando algo protegeu o Raishin.

Era algo espesso— um escudo. Um grande escudo de corpo havia surgido de trás do Raishin, parando completamente o poder destrutivo do Cherubim.

Aquele portando o escudo era um autômato de pequeno porte.

Vestindo uma armadura de cavaleiro e parecendo com um Cruzado, ele tinha uma veste de pano com uma cruz gravada nela.

— … Será que fui um pouco descuidado?

Raishin murmurou sem emoção. Estava claro que aquele não era o Raishin de sempre. Raishin não era sanguinário assim. Os tipos Garm começaram a rosnar, mostrando suas presas.

— Como você descobriu isso, Imperador da Espada? Essa interpretação deveria ter sido perfeita.

— Seu idiota. Não há a menor chance de que ele fosse me pedir ajuda para qualquer coisa.

— Oh? E você?

— Uu… Raishin—

As sobrancelhas de Frey estavam erguidas e ela tinha um olhar irritado no rosto.

— — jamais iria se referir a Yaya como ‘meu autômato’.

— Entendo… Parece que vocês amam aquele Oriental mais do que pensávamos.

— Quem iria amar aquele cara!?

Com sua paciência sendo excedida em apenas um instante, Loki canalizou sua energia mágica. A grade espada reconfigurou suas partes, assumindo uma forma mais humanoide. Nessa forma, Cherubim usou as lâminas em seus dois braços para atacar o impostor.

O cavaleiro usou seu escudo de corpo para bloquear. Obviamente, esse era o plano de Loki. Ativando o Circuito Jet, ele planejava derreter o escudo.

Era uma disputa de força. A onda de ar quente queimou a porta, preenchendo toda a atmosfera ao redor deles com calor.

Entretanto, ele não conseguiu cortar através do escudo. O escudo de corpo era resistente até mesmo a esse nível de calor. A lâmina de Cherubim começou a ficar distorcida, com a ponta ficando danificada.

Finalmente, a figura de Raishin, que estava se escondendo atrás do escudo de corpo, desmoronou.

Faíscas voaram quando sua verdadeira forma emergiu. Com cabelo cor de mel e solto, era um bonito jovem de figura bem torneada.

— Você… Rosenberg!?

— Seria negligente lutarmos aqui, Imperador da Espada. Para nós dois. Portanto— venha atrás de mim, caso ouse!

Ao grito de Rosenberg, o Cavaleiro virou seu escudo de corpo para o alto.

Cherubim saltou para trás, criando um caminho para que eles batessem em retirada. Rosenberg agarrou-se ao ombro do Cavaleiro. Seu peso aparentemente era irrelevante para o Cavaleiro, que levantou voo com facilidade.

Passando bem na frente de Loki, eles fugiram pela janela aberta.

Loki saltou da cama e começou a balançar os ombros de Frey, que ainda estava vendo estrelas no chão.

— … Algo aconteceu com aquele Oriental idiota. Nós vamos atrás dele!

 

Parte 4

 

Seguindo a garota de cabelo prateado, Raishin estava andando em meio a várias árvores.

O caminho, se é que aquilo poderia ser chamado de caminho, era uma suspeita trilha de animais. Neste ponto, ele estava cercado por mata virgem. Lagartos corriam pelo chão da floresta densa e selvagem, enquanto pássaros voavam e os insetos se remexiam por todos os lados.

— Você realmente viu a Yaya por aqui?

— Sim.

A garota de cabelo prateado— Alice Bernstein sorriu levemente enquanto balançava a cabeça. Ela definitivamente era suspeita. Além disso, ela não fazia nada para tentar esconder quão suspeita era. Raishin não conseguia ler a garota.

— Eu via a Yaya pela última vez por aqui. Acho que seria mais rápido se nos separássemos para procurar por ela.

— … Você também vai me ajudar a procurar por ela?

— Acredito que sua cultura tenha um ditado que diz algo sobre alguém que embarca em alguma coisa não poder voltar atrás? Já que eu vim todo o caminho até aqui, eu também poderia ajudar a procurar.

Ele não podia sentir nenhuma malícia emanando dela— o que apenas tornava o sorriso dela ainda mais assustador.

Entretanto, mesmo que ela tivesse más intenções, Raishin já estava dentro de sua armadilha, de todo modo. Agora era tarde demais para começar a mostrar qualquer resistência. Raishin preparou-se para o pior, separando-se de Alice e indo ainda mais para dentro da floresta, através da trilha animal.

Inesperadamente, as árvores se abriram, revelando uma clareira.

Yaya estava lá.

Ela estava de costas para ele, sentada em um tronco. Seu quimono estava solto, expondo seus ombros. Seu cabelo estava pendurado para baixo, lembrando a água que escorre por uma superfície inclinada. Um pequeno pássaro estava em seu dedo e ela parecia estar tendo uma conversa com ele.

A presença de Raishin fez o pássaro fugir. Yaya virou-se, finalmente percebendo que ele estava ali.

— Raishin…!

— Eu estava procurando por você, Yaya.

— Não se aproxime!

O rosto de Yaya era sombrio. Ela estava com raiva…? Não, não era isso. Yaya parecia estar sofrendo, obrigando-se a fazer algo desagradável enquanto olhava para o rosto de Raishin.

Raishin se esforçou ao máximo para parecer tão suave quanto possível, abrindo seu melhor sorriso.

— Estou feliz por você estar ilesa. Eu estava muito preocupado, sabia?

— … O Raishin só estava preocupado com a Yaya porque a Yaya é necessária para a Festa Noturna, não é?

— Não. É porque você é minha parceira. Nenhuma razão é necessária para que eu me preocupe com a minha parceira.

Ao ouvir as palavras dele, a expressão de Yaya se desintegrou. Seus olhos negros ficaram úmidos.

— Mas a Yaya é um autômato…

— Eu não me importo com o modo como você nasceu. Para mim, você é inconfundivelmente uma humana. As pessoas podem dizer todas as coisas estúpidas que quiserem, eu vou apenas ignorar todos eles.

Yaya esfregou os olhos, dando um pequeno sorriso.

— Obrigada. A Yaya está… feliz em ouvir isso.

— Eu não preciso que você me agradeça. Vamos apenas voltar.

— … Eu não posso fazer isso.

— Yaya!

— Eu não posso!

— Por que não!?

— Porque… a Yaya… a Yaya vai… deixar o Raishin ferido…!

— Me deixar ferido…?

— Yaya—!

Antes que ela pudesse continuar, surgiu o som de alguém batendo palmas.

Uma sombra apareceu do nada.

Com um sedoso cabelo prateado e um sorriso de prazer em seu rosto, era ninguém menos que Alice.

— Ora, ora. Que cena linda. Mesmo eu fiquei tocada e isso é muito incomum para mim.

Seu tom estava diferente de antes. Havia um ar diferente ao redor dela, fazendo-a parecer uma pessoa completamente diferente.

O olhar em seu rosto era o de alguém que anseia pela destruição. Raishin lembrou-se desse olhar de total aniquilamento.

— O marionetista ama a boneca como se ela fosse um ser humano, mas a boneca não acha que é boa o bastante e foge— Jamais, nem mesmo em um milhão de anos, você encontraria outra rede de emoções conflitantes como essa aqui na Academia.

— … Então, você realmente foi quem a instigou. O que você disse a ela!?

— Nada, na verdade. Eu apenas a informei sobre uma coisa.

— Você a informou…?

— Isso está totalmente correto. A agora, ela não pode mais voltar. Porque ela já não está mais qualificada para fazer isso.

Ela ergueu a mão. Como se isso fosse uma espécie de sinal, o cenário que os circundava mudou completamente. O que ele acreditava serem árvores, na verdade eram humanos disfarçados.

Aparecendo um após o outro, todos eram alunos. Além disso, haviam também Cavaleiros vestidos com armaduras.

Cada um com um Cavaleiro atrás de si, todos os estudantes que haviam aparecido estavam usando uma luva branca.

— Eh…!?

Yaya também havia sido surpreendida. Parece que ela também não sabia absolutamente nada sobre isso.

Alice sorriu para uma atordoada Yaya.

— Obrigada por ser a isca, Yaya. Graças a você, o foco do Raishin estava concentrado demais para notar qualquer outra coisa— foi brincadeira de criança cercá-lo desse jeito.

Raishin rapidamente contou o número de inimigos. Incluindo Alice, haviam oito estudantes e sete autômatos.

Ele não reconheceu o rosto de nenhum dos alunos. Todos eram, provavelmente, de anos superiores. Havia um jovem ruivo com olhar azedo no rosto. Havia um jovem de pele escura e um jovem que parecia ser um padre…

Os Cavaleiros estavam todos afastados uns dos outros em intervalos iguais, cercando-o completamente.

— Agora, então, já que não há para onde você fugir.

Os lábios de Alice torceram-se elegantemente em um belo sorriso.

— Você não consideraria se juntar a nós, Raishin?

 

Parte 5

 

Sua pele foi agredida por uma sensação de formigamento.

Isso estava sendo causado pela saturação de energia mágica no ar ao redor dele. A intenção assassina de todos ali.

O cérebro de Raishin entrou em modo de funcionamento total, pensando em modos de escapar.

Se ele exercesse um controle forçado sobre Yaya, ele iria… ele certamente iria ser capaz de fazê-la lutar.

Mas mesmo se fizesse isso, ele poderia conseguir lutar contra esse número de oponentes?

Ele não sabia qual era o objetivo de Alice, mas, no momento, tudo o que ele poderia fazer era agir de acordo com os desejos dela…

Nesse momento, surgiu uma onda de energia luminosa sobre todos eles.

— Aquele é o Canhão Lustre!?

Ele inclinou sua cabeça para trás, olhando para o céu. Esquivando-se da explosão de luz, alguém estava vindo para baixo— Era o Shin!

Perseguindo Shin, Sigmund, que estava aproximadamente do tamanho de um cavalo, veio descendo.

Era uma forma que ele nunca tinha visto antes. Sua silhueta elegante parecia extremamente ágil. Charl estava montada entre suas quatro asas.

— Você é o pior tipo de idiota que existe! Você não tem cérebro? Como você pode ter tanta falta de senso de perigo assim, seu herbívoro!?

Ela gritou com ele. Sem dar a Raishin nenhuma chance de responder, Sigmund lançou outra torrente de luz.

A corrente de luz varreu toda a área ao redor de Raishin. Todos os Cavaleiros tiveram que saltar para fora do caminho, para evitá-la.

— Minhas mais profundas desculpas, minha Senhora. Eu fui facilmente descoberto.

Shin protegeu Alice da explosão e falou reverentemente com ela.

— O Senhor Akabane é um homem reto e verdadeiro até o fundo de seu coração… Com um espírito tão retorcido quanto o de minha Senhora, seria completamente impossível reproduzir algo assim.

— Tudo bem, Shin. Mais tarde eu vou fazer algo que fará com que você torne-se incapaz de rir ou chorar novamente.

Nesse momento, um pequeno autômato veio voando com um jovem de cabelo dourado agarrado a ele.

Vendo seu rosto, Charl soltou um grito de surpresa.

— Rosa de Diamante— Rosenberg!

Sem qualquer hesitação, ele pousou ao lado de Yaya, no meio de todos os alunos. Alice falou naturalmente com esse jovem bonito e bem constituído.

— Oh, você também falhou, Rosenberg?

— Minhas desculpas. Eles viram facilmente através da minha atuação.

— Querido, querido… O Penúltimo é ainda mais popular do que eu pensava. Entretanto, ao menos o plano para atraí-lo até aqui foi um sucesso.

Os olhos dela subitamente estreitaram-se. Alguns momentos depois, Raishin sentiu a energia mágica de outra pessoa. Parecia familiar e estava vindo de trás dele. Alguém havia seguido o Rosenberg.

Em pouco tempo, os dois chegaram.

Frey estava montada em Rabi, com os demais tipos Garm a seguindo, enquanto Loki estava de pé sobre sua grande espada.

Frey ficou surpresa ao ver Raishin e Charlotte.

— Uu… Raishin… e Charl…

— Guarde a conversa para mais tarde. Concentre-se no inimigo.

Loki falou secamente. Ele estava certo, eles não poderiam se dar ao luxo de conversar diante do cenário em que se encontravam.

Alice sorriu, balançando a cabeça, aparentemente satisfeita.

— Essencialmente, isso é um quatro contra nove. Nós certamente seremos capazes de sair vitoriosos, não é mesmo, Rosenberg?

— Não fique confiante demais. Mesmo que fatorássemos tu nesta equação, as chances de vitória não passam de 85%.

Raishin voltou seu olhar para ele.

Seu tom de voz não sugeria nem blefe e nem exagero, também não mostrava uma posição corajosa.

Com a chegada de Loki e das demais, o cerco tinha sido quebrado. A fuga era impossível. Em termos de combate, tinham Sigmund, Cherubim e cinco tipos Garm.

Francamente falando, essa era uma formação muito poderosa. Marionetistas comuns não teriam a menor chance. Considerando-se a batalha de ontem à noite, na qual Loki suprimiu sozinho todos os Cavaleiros—

O pior cenário correu pela mente dele quando Raishin preparou-se para lutar.

Se esses Cavaleiros fossem do mesmo nível daqueles da noite passada, eles venceriam.

Entretanto, e se— esses Cavaleiros estivessem no mesmo nível do Shin?

— … Quem são vocês?

Ele não esperava por uma resposta, mas Rosenberg respondeu com franqueza.

— Nós somos os Kreuzritter. Nós seremos aqueles que irão controlar esta Festa Noturna.

— Heh… Essa que você está fazendo é uma declaração e tanto.

Como ele pensava, esse cara estava cheio de autoconfiança.

Atrás dele, os demais estudantes sentiam o mesmo. Mesmo que eles estivessem encarando o Imperador da Espada e a T-Rex, nenhum deles tinha qualquer dúvida de que estivessem em vantagem!

— … Seja como for, eu não ligo para o que são vocês. Controlem a Festa Noturna como quiserem. Entretanto, é melhor vocês devolverem a Yaya agora mesmo.

— Ela não mais pertence a tu.

— Não foda comigo! Você acha que eu vou simplesmente deixar isso de lado!? Yaya, venha já para cá!

Entretanto, Yaya virou o rosto e a coisa mais estranha aconteceu. Ela se escondeu atrás das costas de Alice.

Raishin ficou chocado. Rosenberg falou com um tom autoconfiante digno que qualquer realeza.

— Eu assisti a sua batalha na noite anterior. Foi descuidado da sua parte entrar no campo de batalha com todas aquelas feridas— mas o seu desempenho foi excelente. Eles podiam ser apenas peões para sacrifício, mas mesmo assim você destruiu cinco deles.

— Peões de sacrifício, você disse?

Loki reagiu a essa última afirmação.

— É verdade, o lixo de ontem à noite possuía menos da metade do poder em potencial deste lote.

Raishin não podia acreditar em seus próprios ouvidos. Metade…?

———Metade!?

— Cara uma das marionetes aqui é um exemplar do artigo finalizado. Ontem à noite, eles sacrificaram as unidades defeituosas para medirem nossas forças.

Artigo finalizado. Essa expressão ecoou dentro de sua cabeça, fazendo Raishin falar sem pensar,

— Nesse caso, todos são exatamente iguais ao Shin…

Deus Machina— Machine-doll.

— Em nosso país, nós os chamamos de Maschinensoldat.

Alice acrescentou. Charl e Frey engasgaram. Eles eram Alemães!

Contando o Shin, haviam nove deles. E todos tinham seus marionetistas por perto.

Sozinho, o Shin já havia proporcionado uma luta muito dura a eles…!

— O tempo de conversar acabou. Vamos pegá-los, Herr.

O jovem de cabelo vermelho flamejante falou com um tom sombrio.

— Esse é… Fliegende Pein, Schneider.

Charl suavemente os advertiu. Loki não se importou com o que ela disse.

— Schneider. Se você quer tanto assim um banho de sangue—

Ele não chegou a terminar. Com seu cabelo vermelho ficando arrepiado, Schneider liberou sua energia mágica e seu Cavaleiro brandiu sua Claymore em direção a Cherubim.

Loki reagiu instantaneamente. Mudando Cherubim para sua forma humanoide, ele cruzou as espadas de ambos os braços, bloqueando o pesado ataque da Claymore.

Ou melhor, ele falhou em fazer isso. A Claymore cortou as lâminas de Cherubim, mandando as partes quebradas para longe. O Cavaleiro empurrou Cherubim para o chão, pisando nele.

A ponta da Claymore estava indo em direção a garganta de Cherubim. A lâmina cortou a armadura de Cherubim, abrindo seu pescoço. Um líquido preto como óleo começou a jorrar.

A essa hora, o jovem de cabelo vermelho já estava diante do nariz de Loki.

Ele tinha reduzido a distância entre eles! Charl, Frey e Raishin foram todos incapazes de reagir.

Schneider mandou Loki voando e, então, montando nele, ele levou as mãos ao redor do pescoço de Loki.

Havia um brilho violento em seus olhos. A este ritmo, ele iria esmagar a espinha de Loki!

— Levante-se, Fünf.

O autômato de Rosenberg agarrou com força o braço de Schneider, impedindo-o.

Os músculos de seu braço estavam sendo esmagados pelo aperto, fazendo-o gritar de dor. Schneider relutantemente se afastou, esfregando o braço enquanto o fazia. O Cavaleiro dele também largou Cherubim, voltando a embainhar sua Claymore.

Depois de ver tudo aquilo se desenrolar do início ao fim, Raishin estava abalado.

Ele havia sido derrotado! Embora fosse um Round— Loki havia perdido!

Com seu cabelo prateado balançando, Alice inclinou sua cabeça.

— Por que você parou? Você fez tudo isso para atraí-lo até aqui, afinal.

— Nós fomos muito chamativos. Em pouco tempo os guardas da segurança e o Comitê Executivo vão voltar sua atenção para cá. Se permitirmos que observadores nos descubram, isso não será mais um simples rancor pessoal. Eles vão descobrir sobre a nossa organização. Portanto, devemos nos retirar agora. Além disso, matar outros estudantes iria resultar em desqualificação.

— Está realmente tudo bem assim, Rosenberg?

— Isso mesmo? Realmente?

As estudantes que pareciam ser gêmeas voaram até Rosenberg, ficando uma de cada lado.

— Ja, Zwei und Drei. Garanto-lhes que se eu desejasse cuidar deles, fazer isso não seria problema algum.

— Você sempre foi muito cauteloso. Que tedioso, Rosenberg.

Alice deu de ombros e se virou para seu próprio seguidor, Shin—

— Nesse caso, vamos deixar as coisas assim, Shin. Temos que resolver a questão da sua punição.

— Como desejar.

Eles se retiraram. Atrás deles, um perturbado Raishin gritou “Espere!”.

Porém, obviamente, ninguém prestou atenção ao que ele dizia.

Desaparecendo exatamente como apareceram, as figuras se misturaram à floresta, tornando-se invisíveis.

Os Cavaleiros, os estudantes e a Yaya.

— Yaya! Não vá, Yaya!

Yaya tinha uma expressão de dor em seu rosto quando deu as costas para ele.

Raishin desesperadamente esticou a mão para ela, mas tudo que seus dedos tocaram foi o ar vazio.

 

Parte 6

 

Com os Kreuzritter indo embora, o silêncio mais uma vez caiu sobre a floresta.

— Loki… Você está bem…?

— Não me toque!

Loki empurrou Frey para longe e, em seguida, falou bruscamente.

— … Eu estou bem…

— Mas… tem sangue.

Só de olhar para ele, Raishin podia dizer que a base do pescoço de Loki e suas costas haviam sido abertas.

Mas ele não havia sido cortado ali. Enquanto Raishin estava confuso, Loki olhou para Frey.

— Eu disse que estou bem. Pare de criar confusão!

Ele claramente estava irritado. Sua embaraçosa derrota havia o irritado.

Raishin também estava irritado. Sua irritação e seu desconforto eram tamanhos que quase o faziam ter vontade de gritar bem alto.

Ele estava uma bagunça. Muita coisa aconteceu de repente, algumas pessoas estranhas tinham aparecido do nada e agora o arrependimento e o choque estavam se misturando, fazendo a cabeça dele começar a latejar.

Ele tinha falhado em trazer a Yaya de volta. Mesmo que ela estivesse bem diante dele.

— Loki. Raishin. Em primeiro lugar, acalmem-se.

A voz fria que falou pertencia a ninguém menos que Sigmund.

— Isso é o que eu acho— Aquele estranho grupo está tentando manter o controle sobre todos vocês. Sim, todos. Eu sei que vocês estão destinados a se enfrentar na Festa Noturna, mas por hora vocês possuem um interesse em comum. Vocês não deveriam cooperar agora, a fim de resolver a problema que tem em mãos?

A lógica dele era óbvia. Ninguém levantou qualquer objeção.

— Nesse caso, Raishin. Vamos ouvir sua história primeiro. O que aconteceu? Por que a Yaya está com eles?

— Eu… também não faço ideia.

Balançando a cabeça em confusão, Raishin de algum modo conseguiu proferir suas palavras.

Ontem, o comportamento da Yaya estava estranho.

Após a Festa Noturna, quando ele recobrou a consciência, ela estava chorando.

Era hora das aulas da tarde, mas ninguém saiu dali. Frey escovava o pelo de seus cães e Loki realizava reparos de emergência na cabeça de Cherubim enquanto escutavam a história de Raishin.

Depois de ouvir toda a história, Charl foi a primeira a levantar um questionamento.

— Então você está dizendo que aquela garota foi embora por conta própria?

— Sim.

— Aquela pobrezinha… Deve ter sido porque seu descontentamento chegou ao limite.

Charl olhou para o céu com pena em sua voz.

— Ela provavelmente ficou cheia de ter um parceiro tão terrível.

— O que você disse!?

— Ou talvez ela tenha se cansado de todos os seus pedidos pervertidos…

— Não olhe para mim desse jeito! Você sabe muito bem que a Yaya e eu nunca fizemos nada, não é!?

— Raishin… que lascivo… pervertido.

— Você também!? Não me rotule com esses nomes estranhos!

Depois que Frey entrou na conversa, passaram-se alguns momentos de silêncio, antes que Raishin suspirasse.

— Eu posso ter concordado rápido demais antes. Eu sei que disse que ela saiu por vontade própria, mas na verdade foi um pouco diferente disso.

Sigmund inclinou a cabeça, como se fosse um pequeno pássaro.

— Então eles a forçaram?

— Eu não sei. Eu não sei… mas isso é impensável. Eu me recuso a acreditar que a Yaya sairia do meu lado por vontade própria.

— Você ouviu isso, Frey? De onde você acha que vem toda essa confiança?

— Uu… Raishin… você é confiante demais!

— O que há com vocês duas!? Espere, quando foi que vocês passaram a se dar tão bem assim!?

Obviamente, as duas garotas se darem bem era uma coisa boa, então ele não comentou mais nada além disso.

— Droga. Se eu apenas tivesse notado isso antes…!

Raishin envolveu sua cabeça com os braços, apertando suas têmporas.

— De qualquer modo, temos que nos apressar. Se a Yaya estiver ausente, você não poderá voltar para a Festa Noturna.

— Esse não é o problema aqui!

Sem pensar, ele ergueu a voz. Preparando-se para começar,

— Não, desculpe. É claro que a Festa Noturna é importante. Ela é a razão pela qual eu percorri todo o caminho até a Inglaterra. Mas a Yaya… Eu só estava pensando no que poderia ter acontecido a ela…

Charl e Frey baixaram os olhos, ficando em silêncio.

Yaya era um autômato de primeira classe. Se ela caísse nas mãos de uma potência mundial, é seguro dizer que ela seria dissecada e desmontada.

Com um suspiro, Loki se levantou.

— Se for esse o caso, então é problema seu. Estou indo embora. Se posso dizer por mim mesmo, eu sou uma pessoa tolerante, mas não planejo ficar familiarizado com os problemas dos outros.

Pegando a lâmina quebrada, ele saiu com passos leves. Ele voltou pela trilha de animal. Cherubim seguiu atrás dele, com a cabeça balançando de um lado para o outro.

Suas palavras foram frias, mas Loki saiu com pressa— sem sequer parar para pegar suas muletas— o que deixou Raishin grato. Ele não poderia dizer isso em voz alta, mas murmurou seus agradecimentos por dentro.

— Charl, Frey. Vocês duas deveriam voltar para a aula. Desculpem fazê-las me acompanharem por todo esse tempo.

— Hmph. Pare de tentar agir como se fosse legal, seu irritante canalha insolente. Você nem sequer consegue andar na condição em que está, consegue? Não posso fazer nada, eu no mínimo vou levar você até a Enfermaria. Nós podemos voar no Sigmund.

— Não, não há necessidade de fazer isso.

Charl ficou espantada e, em seguida, assustada.

— Você… não está pensando em procurar por ela, está!?

— Eu sei que eles são estudantes. O que significa que eles devem ter escondido a Yaya em algum lugar no Campus.

— Espere um pouco! Você realmente entende em que condições está—

Sigmund puxou o cabelo de Charl, sussurrando algo em seu ouvido. Raishin não sabia o que ele disse, mas a boca de Charl se fechou e ela iradamente virou as costas para ele.

— Hmph! Ótimo! Faça o que quiser! Eu espero que você caia e morra e que então as aves se alimentem do seu corpo! Espero que os vermes comam você enquanto seu corpo se decompõe e volta a fazer parte da terra!

Com seus ombros tremendo de raiva, ela foi embora.

Frey parecia querer dizer alguma coisa, mas depois de olhar para Raishin, ela silenciosamente montou em Rabi e também saiu.

Finalmente, Raishin era o único restando na floresta.

Metade de um dia se passou.

Raishin não participou de nenhuma de suas aulas e, em vez disso, ficou vagando sem rumo dentro da floresta virgem.

Mais uma vez, ele percebeu o quão grande eram os terrenos da Academia. Com suor caindo de seu rosto como o orvalho pingava das folhas na terra, ele ficou assim até o anoitecer. No fim, ele não havia conseguido nada frutífero.

As solas de seus pés estavam quentes. A dor finalmente tinha o forçado a parar e suas costelas e clavícula doíam tanto que pareciam prestes a se quebrar novamente. Encontrando dificuldades até mesmo para algo tão simples quanto andar, ele não teve escolha a não ser voltar para a Rua Principal.

Parecendo um animal selvagem que havia saído da floresta, os demais estudantes foram surpreendidos pela aparência dele.

Ele estava acostumado com os olhares. Raishin desmoronou em um banco, regulando sua respiração.

Ele tinha desperdiçado todo esse tempo. Isso foi uma coisa estúpida de se fazer, até mesmo para ele.

O que ele deveria ter feito era reunir informações.

Se ele tivesse pedido para a Frey, será que ela teria emprestado seus tipos Garm para ajudá-lo?

No entanto, depender o tempo todo dela era algo ruim. A Frey estava ocupada com a Festa Noturna, seus estudos e com suas atividades de Clube— tudo isso significava que ela provavelmente estava bastante atarefada.

(Yaya… Onde diabos está você…!?)

Subitamente, o cheiro doce de incenso preencheu suas narinas.

— Estou surpresa por encontrá-lo em um estado tão deplorável, garoto.

Distraidamente erguendo a cabeça, ele viu uma fascinante beldade diante dele.

Com uma beleza que não perderia em nada para a de qualquer boneca e uma lente inserida no tapa-olho que ela usava. Atrás dela, uma donzela de cabelos prateados a seguia.

— Shouko… Irori…

Ele finalmente se lembrou da conversa que havia tido mais cedo, na manhã daquele dia.

— Eu não pude acreditar em meus ouvidos quando me disseram que o cão do exército não podia entrar em contato.

— Peço desculpas por isso. Mas é bom que você esteja aqui. Ajude-me. A Yaya foi—

No meio de sua sentença, ele percebeu que o comportamento de Irori estava estranho.

Seus longos cílios estavam derrubados e ela olhava para seus pés como se estivesse tentando suportar alguma coisa.

— … Irori. O que houve?

Não houve resposta. Os ombros de Irori tremiam sem que ela dissesse uma palavra sequer.

No lugar de Irori, Shouko falou com um tom grave.

— Ouça com atenção, garoto.

— Ah, sim?

— Desista da Yaya. De agora em diante, você irá usar a Irori.

Incapaz de compreender o que acabara de ouvir, Raishin encarou Shouko com uma expressão estupefata no rosto.

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