Vol. 1 Cap. 1 Noite Estrelada
Sobre a noite estrelada, o grande Castelo Bennett se erguia para proteger a planície em que foi construído.
Tudo neste território foi concedido ao Cavaleiro Bennett pelo próprio rei.
Localizava-se no extremo sul do Ducado de Camelot, exatamente na fronteira com a Cordilheira Divisória da Terra.
Era um lugar longe do conflito e serviu como um silos crucial para o Ducado.
Era verão, e as colheitas eram abundantes. Toda vez que a brisa fria da noite soprava, os campos dançavam em uníssono, mostrando as prosperidades desta terra.
Um menino que aparentava ter doze anos estava treinando com uma espada pesada-mediana.
Como se não fosse pesado o suficiente, vestia uma armadura de aço maior que ele.
Com cerca de 150 centímetros de altura, a armadura parecia mais um torso apertado.
Mesmo jovem, já levava o seu treinamento a sério. Seu olhar sugeria que seu treinamento era algo sagrado.
Toda vez que balançava sua espada, gritou com todo o vigor de seus pulmões.
Havia razões para isso. Uma, respirar o máximo de ar que pudesse. Duas, reforçar seus músculos.
Este menino estava concentrado. Seu cabelo preto estava encharcado de suor, seus olhos de cor violeta brilhavam com paixão juvenil.
Bem, estavam brilhando até ouvir um cavalo vindo em sua direção.
“Olha o que eu trouxe para você, Abel.” Um jovem de dezoito anos gritou ao descer de seu cavalo. Tinha cabelos loiros, sobrancelhas grossas, nariz alto e afiado e olhos azuis como o céu. Todo o seu corpo estava coberto por uma armadura de couro, as botas que usava eram feitas para cavalgar.
“Bem-vindo de volta, irmão mais velho.” Abel deu as boas-vindas ao seu irmão. Ao contrário da maioria das crianças, não estava curioso sobre qual era o presente. Boas maneiras vinham antes de seus próprios interesses pessoais.
Como irmão mais velho, Zach já estava acostumado com o seu comportamento.
Há um ano, Abel ficou gravemente ferido após cair do cavalo. Depois desse incidente, tornou-se muito mais maduro.
Foi difícil se acostumar no começo, mas um ano foi mais que suficiente para se ajustar a essa mudança repentina de personalidade.
Para fins de esclarecimento, esses dois jovens eram filhos do Cavaleiro Bennett. O mais velho era Zach, um cavaleiro novato de nível quatro que acabou de voltar da cidade Fort Lee. O mais novo, que estava ocupado com seu treinamento, era Abel.
Fazia apenas dois meses desde que havia começado seu treino como cavaleiro novato.
Como o herdeiro mais velho, tudo o que seu pai possuía seria passado para ele, depois que se tornasse cavaleiro.
Ele teria a posse total da propriedade que foi construído por seu pai. Abel, não foi abençoado com tais privilégios. Tinha que confiar apenas em si se quisesse ganhar a vida.
Por mais injustas que as regras possam parecer, tinha uma boa relação com Zach.
Toda vez que ia à cidade, ele gastava o pouco dinheiro que tinha para lhe presentear. É um bom irmão. Sempre fazendo o possível para deixá-lo feliz.
Abel, por outro lado, foi atencioso o suficiente para não pedir nenhum novo equipamento de treinamento ao pai.
Embora a propriedade da família tivesse cerca de 50 quilômetros de distância, não havia muita renda além da que era usada para comprar comida.
Pior ainda, apenas 500 moedas de ouro sobraram após pagarem seus impostos e despesas do dia-a-dia. Foi apenas o suficiente para pagar a manutenção do Castelo.
Se a mensalidade do treinamento de cavaleiro de Zach fosse paga, essa família não teria economia alguma.
O pacote que Zach tinha para Abel era uma caixa comprida. Para mostrar quanto amor foi colocado nesse presente, o embrulhou em um papel bem colorido.
“Que linda adaga.” Abel exclamou ao balançar seu presente ao redor. Esta adaga foi feita com aço fino, um material muito mais pesado do que se usaria para forja com aço comum. No geral, custaria muito mais do que uma normal.
“Fico feliz que tenha gostado. O vendedor não sabia quanto valia e me ofereceu um desconto de 30% em relação ao preço de uma adaga normal, então eu aceitei.”
Já faz um tempo desde a última vez que viu seu irmãozinho sorrir. Nada era mais precioso do que a expressão que seu irmãozinho estava mostrando agora.
“Você pode continuar treinando se quiser. Eu vou voltar para casa agora.” Zach disse enquanto voltava para seu cavalo.
Não queria interromper o treino de Abel, mesmo que tivesse que esperar sua vez de usar a única armadura de aço que tinham. Zach a usava durante o dia e Abel durante a noite. É algo que combinaram entre si.
O treinamento de um cavaleiro novato era focado em cima do básico.
É preciso continuar praticando suas técnicas de espada até que possa condensar toda a força e exercê-la.
Por sua vez, um poder especial, chamado de Qi, começaria a se formar dentro de seu corpo, como recompensa aos esforços que foram feitos.
O Qi então se reuniria e formaria meridianos, cujo número total representaria o nível da pessoa. (Ter um meridiano significaria que você é um novato de nível um) Depois que cinco meridianos estivessem no lugar, eles se condensariam novamente para formar um núcleo.
Um cavaleiro com um núcleo seria considerado um cavaleiro oficial. Poderiam usar seu Qi de combate em lutas, e também para realizar várias habilidades.
Em outras palavras, era um recurso eficaz para aumentar a capacidade de lutar de alguém.
Após milênios de pesquisa, descobriu-se que a maneira mais eficiente de formar o meridiano de alguém, é fazer com que usasse armaduras pesadas durante o treino.
Por esse motivo, tornou-se obrigatório que as famílias dos cavaleiros tivessem pelo menos uma armadura de aço dentro de suas casas.
Para ser chamado de cavaleiro, é preciso ter uma armadura com a qual possa treinar. Durante tempos de conflito, também precisaria fornecer proteção mínima.
Ao diminuir ou aumentar o número de placas, a mesma armadura poderia ser compartilhada mesmo que os portadores estivessem em diferentes níveis.
Dito isto, não era necessário possuir uma armadura para ser chamado de cavaleiro. Se fosse visto usando uma armadura (mesmo que não fosse dele) seria reconhecido como um, independente do seu nível.
“97… 98… 99… 100.” Abel gritou dando o seu último golpe, então desabou no gramado. Observando o céu.
“Qual dessas estrelas era minha casa original?” Perguntou-se.
Sem o conhecimento de outros, o Abel original havia caído do cavalo e morrido cerca de um ano antes.
Seu cadáver foi substituído por outra alma que veio do planeta Terra e, ao contrário do Abel original, que tinha apenas dez anos, o novo Abel tinha cerca de trinta anos.
Apesar de ter se comportado com o máximo de cuidado possível, foi difícil não fazer com que os outros suspeitassem da sua mudança de personalidade.
Felizmente, todos pensaram que a lesão o havia traumatizado.
Este Abel em particular tinha outro nome em casa. O nome que tinha no planeta Terra era Lee Ya Bo.
Um experiente treinador de fisiculturismo que estava sempre ocupado com seu trabalho.
Uma noite, por volta das dez horas, voltou para seu apartamento, não estava se sentindo tão bem consigo mesmo.
Então, decidiu abrir seu notebook e jogar Diablo II, um dos poucos jogos que ainda tinha em reserva.
Ao abrir o seu software, e jogar por um tempo, descobriu que a quantidade de Portais era 0.
Com o mau hábito de esquecer de comprar seu Pergaminho do Portal, abriu seu software de hacking e modificou seus itens um pouco.
Hackeado o jogo para que a quantidade de seu Pergaminho se regenerar uma vez a cada poucos minutos.
Lee Ya Bo estava se divertindo muito quando foi atingido por um raio dentro de sua casa. O pára-raios não funcionou e o relâmpago o atingiu em se dobrar.
Foi mais ou menos isso. Após recuperar sua consciência, Ya Bo descobriu que era o segundo filho do Cavaleiro de Bennett.
Porém, seu nome ainda era Ya Bo (Abel).
Enquanto tentava se livrar dos pensamentos em sua cabeça, se levantou e voltou para o Castelo.
Estava se sentindo muito bem agora. Se as coisas corressem bem, havia uma chance de se tornar um cavaleiro novato de nível 1 na mesma noite.
Após voltar para casa, decidiu fazer algo antes do jantar. Ainda faltava cerca de meia hora para as refeições, então, pensou em cuidar um pouco de sua armadura de aço.
Levava a limpeza muito a sério. E nunca errava um ponto. Enxugou o suor de sua armadura de aço e a lubrificou com óleo.
Era tradição os cavaleiros cuidarem de suas armaduras. Fosse Abel, Zach, ou mesmo o próprio Cavaleiro Bennett, tinham que manter suas armaduras de uma forma que pudessem passar para a próxima geração.
Depois que terminou a armadura, foi a vez da espada gigante.
Foi fácil limpá-la, devido à simplicidade de seu design.
Além da lâmina e do cabo, não havia decoração ou ornamento. Quem fez esta arma tinha apenas duas considerações em mente: simplicidade e praticidade.
Terminada a manutenção diária, tomou banho e juntou-se à família na sala de jantar.
Ao entrar, descobriu que seu pai, sua mãe e seu irmão mais velho já estavam em seus assentos.
Vol. 1 Cap. 2 Cubo
O Cavaleiro Bennett estava vestindo uma chita branca simples enquanto se sentava à mesa de jantar. Como de costume, tinha um olhar sério em seu rosto. Abel nunca o viu demonstrar muita emoção.
Na verdade, nunca foi um exagero. A última vez que o viu fazer qualquer expressão foi há cerca de um ano, quando acordou do coma. Não poderia esquecer a alegria no rosto de seu pai quando foi trazido a este mundo.
Sua mãe. Nora, era uma mulher gentil. Foi ela quem o alimentou durante a recuperação de seus ferimentos. Foi ela a razão pela qual ele reconheceu fazer parte desta família.
Não se acostumou a dar sua graça antes de uma refeição. Na sua vida anterior tinha sido ateu por todos os trinta anos de sua vida. Só agora que veio orar à Santa Luz, à qual quase todos neste mundo devotaram sua adoração.
Ninguém falava durante as refeições. Os cavaleiros eram os mais humildes entre a realeza, mas essa família ainda mantinha suas maneiras mesmo quando estavam sozinhos.
Para o jantar desta noite, foi um grande pedaço de carne dividido em quatro pedaços. O seu pai e Zach receberam uma porção maior, enquanto sua mãe e Abel deveriam receber muito menos. Como a ingestão de alimentos era necessária para aumentar o suprimento de Qi de um cavaleiro, não havia como dividir a comida entre todos igualmente.
Mas ainda assim, mesmo como treinador de fisiculturismo, Abel nunca havia comido tanta carne durante seu tempo na Terra. Havia cerca de meio quilo de carne em seu prato, e tinha apenas doze anos. Além disso, havia também um pouco de mingau. Não era como se não pudesse terminar sua comida, no entanto. Ele acabou comendo tudo em apenas alguns minutos.
“Aqui, tome um pouco mais.” Disse uma voz gentil. Era a mãe de Abel, Nora. Ela acabou lhe deu mais da metade de sua carne.
O Cavaleiro Bennett lançou um rápido olhar para Abel, mas não lhe disse nada. Em vez disso, continuou comendo. Suas mãos estavam um pouco rígidas enquanto tentava cortar a carne com sua faca. Houve um leve ruído de fricção da faca com o prato, algo muito incomum.
Zach se deu conta disso, mas foi silenciado pelo olhar do Cavaleiro Bennett.
“Obrigado, mãe.” Abel agradeceu a Nora ao aceitar uma fração de sua refeição.
Como essa era a maneira de Nora demonstrar seu amor, o correto a fazer aqui é aceitar.
Como parte da rotina da família, o Cavaleiro Bennett fez com que Zach o acompanhasse para um treinamento pessoal após o jantar. Abel, por outro lado, não foi autorizado a participar até que fosse um cavaleiro de nível 1, o que poderia se tornar antes do amanhã chegar.
Sem perder mais tempo, voltou direto para seu quarto e iniciou uma sessão de respiração. Tendo uma refeição completa naquele momento, a quantidade de Qi que acumulou ao longo do dia foi suficiente para progredir.
As técnicas de respiração de um cavaleiro eram a parte mais crucial de suas habilidades.
Quer tenha sido transmitido pela família ou aprendido na Academia de Cavaleiros, cada cavaleiro tinha suas próprias técnicas especiais de respiração. Se fizesse muitas contribuições no campo de batalha, poderia transferir seus esforços de guerra em troca de melhorias em suas técnicas.
Após se sentar em um piso cimentado, acalmou sua mente para sua sessão. O ritmo em que inalava o ar passou de lento para rápido, seu estômago se encheu como um tambor. Exalou um fio de essência branca e enevoada, que desapareceu no ar como uma flecha disparada.
A comida em seu estômago estava sendo digerida, enquanto fazia isso.
Depois de respirar por cerca de vinte vezes seguidas, o Qi adquirido durante o dia começou a se formar em um único canal meridiano.
Este canal meridiano estava bastante instável no início. Ele pensou que havia falha de novo. Então, um poder emergiu de seu meridiano por todo o corpo. Não tinha certeza do que era, mas tanto seu corpo quanto sua mente lhe dava a sensação de que havia acabado de sair da cama ao amanhecer
E, finalmente, se tornou um cavaleiro novato de primeira classe. Um ano atrás, após ver seu pai corta um grande tronco de árvore, percebeu a existência de forças sobrenaturais neste novo mundo. Ao contrário de sua casa no planeta Terra, a força é crucial para a sobrevivência.
Ao pedir a seu pai que o treinasse para se tornar um cavaleiro, recebeu uma explicação detalhada das circunstâncias da família em resposta. Pelo que o Cavaleiro de Bennet lhe disse, um segundo filho só deveria treinar sozinho sem interferir no progresso do filho mais velho.
Zach é a prioridade da família, basicamente. Todos os recursos deveriam ser dados a ele primeiro, e Abel só teria o resto. Porém, ainda teria acesso a aprender as maneiras de ser um cavaleiro.
Apesar de sua circunstância infeliz, ele aprendeu muito com seu pai. Durante os vários meses que se recuperou de seus ferimentos, aprendeu a como cuidar dos cavalos, e fazer manutenção em suas armas, bem como o manuseio de arco e flecha.
Também aprendeu a etiqueta apropriada de um cavaleiro, e muitas outras coisas para as quais tinha que se preparar antes de iniciar seu treinamento oficial, o que só aconteceu há cerca de dois meses.
Ainda orgulhoso pelo progresso que fez, notou que o meridiano em seu braço direito estava perdendo sua essência. Felizmente parou depois de alguns segundos. Se continuasse, poderia perder todo o seu progresso, sem poder fazer nada a respeito.
A sessão dessa noite não resultou em fracasso completo. Mesmo perdendo um pouco de Qi no final, conseguiria recuperá-lo após um ou dois dias de treinamento. Não iria perder seu posto de cavaleiro novato.
Mas ainda assim, ter seu Qi drenado era um fenômeno um tanto bizarro. Para satisfazer sua curiosidade, puxou a manga direita e encontrou uma leve sombra em seu braço. Foi meio difícil perceber isso à primeira vista.
Não tinha certeza do porquê, mas aquilo parecia meio familiar.
“É um Cubo Horádrico.” Abel pulou do chão depois que descobriu. Não havia dúvida sobre isso. Como um ávido jogador de Diablo II por tantos anos, nunca teria confundido um item importante como este.
“Ele me seguiu até este mundo?” Abel andava empolgado pelo quarto. Foi como encontrar uma garrafa de água no meio de um deserto.
Pelo que parecia, o Cubo sempre esteve aqui. A razão de não ter aparecido antes era porque não havia energia para ativá-lo. Desde que se tornou um cavaleiro novato, esta parte do Qi que perdeu naquele momento foi para dentro do cubo.
Suspenso em seu braço direito, tocou com o dedo, de repente, diante dos seus olhos apareceu uma janela mostrando um espaço do seu inventário. Havia doze vagas no total, e duas delas estavam ocupadas por um único livro azul.
O Pergaminho do Portal da Cidade. Reconheceu na hora. A mesma cópia que modificou antes de ser atingido por um raio. Pelo que podia ver dentro de sua mente, a quantidade deste Portal se regeneraria uma vez a cada poucos minutos.
Vou tirar este Pergaminho do Cubo. Pensou Abel, o pergaminho surgiu em sua mão. Um livro bem grande, quase tão grande, quase tão grande quanto uma revista que se encontraria na Terra. Sua capa azul opaca decorada com franjas douradas escuras emitiam uma faísca ocasional para significar o quão valioso era.
Posso ir para casa se eu usar isto? Seu coração começou a bater muito rápido. Queria ver seus pais verdadeiros. Queria provar a comida de sua mãe, sentir o cheiro de sua cidade natal. Durante todo o ano em que esteve neste mundo, sentia muita falta da sua casa.
Após abri-lo, vinte pergaminhos diferentes apareceram. Foram escritos em folhas de lã branca e amarrados com fitas azuis. Precisava apenas puxar as fitas.
Tentou colocar a mão em um dos pergaminhos, mas por algum motivo, seu dedo ricocheteou enquanto tentava fazer contato. Tentou novamente com um pouco mais de força, conseguiu tirar a fita com sucesso.
Para sua consternação, nenhum portal apareceu em sua frente. Ao invés disso, surgiu uma bola de fogo. Abel atirou-a de sua mão no momento em que percebeu o que era, o que fez um buraco queimar no tapete onde estava. Foi irritante, claro, mas pelo menos não incendiou a casa inteira.
Por que não funcionou? Por que saíram bolas de fogo saíram? Abel tentou mais algumas vezes, mas os resultados eram sempre os mesmos. Toda vez que tentava abrir o Pergaminho, chamas saíam e incineravam uma parte de seu tapete em uma pilha de cinzas.
Chorou por um tempo, depois foi dormir cansado de chorar.
Enquanto dormia, um raio de luar brilhou pela janela e iluminou seu rosto. As lágrimas em seu rosto foram sopradas pela brisa da noite, que o fez sentir um pouco de frio mesmo em seus lençóis.
“Ba Ba, Ma Ma.” Uma voz jovem e vulnerável gritou na noite. O chamado desesperado de um filho para seus pais. Ninguém entenderia, pois era falado em uma língua que não pertencia a este mundo.
O idioma em Mandarim, a língua comum que ele usava em casa.
Vol. 1 Cap. 3 Pantera das Sombras
Sob a luz do amanhecer que iluminava a planície, o Castelo Bennett, mais uma vez, revelou sua grandiosidade para o mundo.
Comparado a outros castelos do mesmo nível era, na verdade uma peça de arquitetura muito mais extravagante. Foi, de certa forma, o que chamariam de obra de uma era. Demorou cerca de dez anos para o Primeiro Lorde Bennett terminar de construí-lo.
E se não fosse pela manutenção diligente daqueles que vieram depois dele, não haveria um marco tão magnífico hoje.
Devido à incompetência de seus sucessores nas últimas gerações, a família foi rebaixada de um dos Lordes mais prestigiosos do reino para apenas uma família de cavaleiros. Por isso que os Bennett ficavam tão envergonhados quando falavam sobre seu passado.
Como o atual governante da casa, lamentou muito ter realizado tão pouco durante a guerra.
Lutou contra os orcs, mas as conquistas que fez não foram suficientes para mudar o status de sua família.
Era por isso que estava tão interessado em educar seus filhos. Se pudesse se tornar um cavaleiro antes dos trinta, é garantiria a continuidade da linhagem. Poderia decidir seu futuro por si.
Abel, porém, não foi colocado com tal responsabilidade. Se não oferecesse para se tornar um cavaleiro, o Cavaleiro Bennett mandaria alguém lhe ensinar matemática.
Para que pudesse encontrar um emprego de escritório na cidade quando ficasse mais velho.
Estava muito preocupado com o futuro de seu filho mais novo. Abel não iria ter seu próprio castelo. Nem o seu próprio cavalo de guerra ou armadura. Quando ficasse mais velho, se tornaria um cavaleiro errante, e não eram reconhecidos pelos nobres deste país.
Teria que gastar grande parte de sua vida apenas para poder comprar o equipamento mais básico. Se pudesse encontrar uma vida estável antes dos quarenta anos, isso seria considerado mais do que sorte.
“Você avançou.” O Cavaleiro Bennett perguntou a Abel.
Abel levou cerca de dois meses para se tornar um cavaleiro novato de nível 1. O mesmo processo levou quatro meses para seu pai e quatro meses e meio para seu irmão. Não havia recebido a mesma quantidade de recursos.
A atenção que recebia não era nem de longe a mesma de outros homens, mas o talento bruto por si só lhe deu uma vantagem no início.
“Sim, Pai. Tornei-me um cavaleiro novato de primeira classe na noite passada.” Respondeu. Zach correu para abraçá-lo.
“Você é um gênio, irmão!” Zach girou seu irmãozinho. Queria elogiá-lo um pouco mais, mas Abel não parecia gostar de ser abraçado como se fosse um boneco de pano.
“Você é um gênio.” Zach disse mais uma vez colocando-o de volta no chão.
“Que pena.” O Cavaleiro Bennett observou com um olhar complexo em seu rosto. Estava feliz, mas meio triste ao mesmo tempo.
Se Abel fosse seu filho mais velho, ganharia mais do que Zach como cavaleiro. Dito isto, o treinamento de Zach já estava em andamento. A Família Bennett não tinha dinheiro de sobra.
Abel recebeu ontem o seu Cubo Horádrico. Não podia usar o Pergaminho, mas é sempre bom possuir um item valioso. Na verdade, depois que acordou esta manhã, pensou apenas na fórmula que usou para criar o cubo. Mesmo que não houvesse muitas fórmulas que pudesse usar agora, poderia encontrar algo útil na cidade.
“Pai, quero ir para Fort Lee hoje.” Pediu Abel. Como de costume, foi muito direto ao fazer esse pedido. Não estava acostumado a falar dessa maneira, mas os cavaleiros deveriam ser assertivos em seu discurso.
O Cavaleiro Bennett assentiu:
“Claro. Você acabou de se tornar um cavaleiro na noite passada. É melhor tirar um dia de folga do seu treino.”
“Eu te ajudo a conseguir um cavalo.” Zach disse, então correu para o estábulo. Conseguiu um cavalo inferior para Abel. Após ajudá-lo a subir, colocou uma moeda de ouro no bolso.
O Cavaleiro Bennett viu, é claro, mas não disse nada. No entanto, ficou muito feliz em vê-lo. Afinal, um vínculo fraternal era uma coisa rara de se encontrar entre os de origem nobre.
Todo cavalo que não fosse de guerra era considerado o que se chamava de cavalo inferior. Um cavalo de guerra seria alimentado com trigo e feijão, alimentos de qualidade que custariam pelo menos 10 moedas de ouro por mês.
Sem receber esse tipo de tratamento, perderia sua velocidade e se tornaria um cavalo inferior regular.
O cavalo que montava era um pônei de dois anos, mas nasceu de um cavalo de guerra que pertencia à família Bennett. Se a família pudesse dar-lhe a nutrição adequada, não haveria problema em criá-lo como um cavalo de guerra.
Enquanto estava montado em seu pônei, tinha seu guarda-costas, Norman, seguindo-o por trás. Estava vestindo um conjunto completo de armadura de couro, carregava uma longa espada nas costas, mas não tinha um cavalo.
Como o cavalo que seu mestre montava era um pônei, não teve problemas em segui-lo apenas com as duas pernas.
Norman era um soldado aposentado que voltou da guerra com o Cavaleiro Bennett.
Como subalterno, viveu com o resto da família no Castelo.
De certa forma, era a maneira de um servo mostrar sua gratidão e lealdade ao seu senhor.
Norman era um espadachim muito habilidoso. Se tornou um guerreiro de nível 6 após ser treinado pelo Cavaleiro Bennett.
Não possuía nenhum tipo de técnica especial, mas sua esgrima por si só era suficiente para torná-lo um guarda-costas confiável de Abel.
“Espere um segundo, Jovem Mestre.” Norman puxou uma espada das suas costas e examinou as árvores ao lado da estrada. Levaria cerca de meia hora para ir daqui até o Castelo. Também ficava a meia hora de Fort Lee. Se algo acontecesse com Abel, seria impossível pedir reforços.
“O que você encontrou?” Abel puxou as rédeas de seu pônei.
Embora fosse muito mais alto que Norman a cavalo, não conseguia ver nada que estivesse nas árvores. O que podia ouvir era um rosnado alto ao longe.
Foi quando a sombra apareceu. Abel podia ver agora. Uma pantera das sombras e estava pulando direto para o pescoço do pônei. O pônei não estava com medo, estava mais do que pronto para assumir uma postura defensiva.
Em menos de um segundo, pulou para trás e evitou a mordida mortal da pantera. A pantera errou e foi punida por Norman com sua longa espada.
Normalmente, uma pantera das sombras não aparecia durante o dia, gostava de estar no escuro e emboscar sua presa enquanto se escondia na beira da estrada.
Esta pantera deveria estar morrendo de fome para ir tão longe da floresta.
Norman já tinha sua espada pronta. A pantera, porém, não era de forma alguma um felino comum. Por mais ineficazes que suas mordidas fossem contra a lâmina de Norman, ainda conseguiu evitar cada um de seus ataques.
Abel saltou do cavalo para se juntar à luta. A pantera não lhe deu importância. A julgar pela experiência, o humano maior era a única coisa que o impedia de obter uma refeição completa.
Estava certa. Bem, em parte, pelo menos. Abel não fez uma abordagem direta. Em vez disso, apenas circulou à distância por uma oportunidade de atacar. Se recusava a ser um incômodo para Norman. Não era como se pudesse fazer muito.
Demorou um pouco para Norman fazer seu primeiro acerto. Estava mirando no pescoço da pantera, mas era rápido o suficiente para fazer a lâmina acertar suas costas. Pior ainda, a besta astuta explorou essa chance para um contra-ataque. Enquanto Norman estava desprevenido, usou sua cauda para um ataque surpresa chicoteando uma de suas pernas.
Norman ficou em desvantagem. A dor começou a aparecer em seu rosto, e seus pés estavam se movendo mais devagar enquanto tentava reajustar sua posição.
Enquanto observava de lado, Abel sabia que não podia esperar mais.
Respirou fundo. Queria concentrar todo o seu Qi em um ataque poderoso.
Se pudesse soltá-lo em direção à pantera, isso deveria acabar numa instância.
Ele tinha que ser muito cuidadoso, no entanto. A técnica que estava usando era para cavaleiros novatos treinarem até a exaustão. Se errasse e fizesse outra tentativa, acabaria destruindo seu meridiano a ponto de não se recuperar.
Em um piscar de olhos, a pantera saltou em direção a Norman para um golpe final. Como houve uma pausa momentânea no ar, Abel aproveitou a chance e apostou. Correu por trás da pantera com adaga apontada para frente em suas mãos.
A pantera soltou um rosnado doloroso. Estava ciente da presença de Abel o tempo todo, mas a lesão que Norman infligiu ainda teve um efeito em atrasar seus movimentos. Se não fosse por Abel, o resultado seria muito diferente agora.
Abel enfiou a adaga dentro dela e se afastou. A pantera, por outro lado, começou a sacudir o corpo ao cair no chão.
Não tinha energia para continuar a luta, mas a sede de sangue nunca deixava sua consciência.
Demorou um pouco para a pantera das sombras morrer. Quanto mais rosnava para Abel e Norman, mais fraca sua voz começava a ficar. Quando parou de fazer barulho, também parou de se mover.
Abel queria ter certeza de que a pantera estava morta, mas Norman o puxou para trás quando ele se aproximou.
“Tenha cuidado.” Disse, enquanto jogava a bainha de sua espada na direção da pantera.
Para surpresa de Abel, a pantera arrancou a bainha com suas garras. Mesmo à beira da morte, seus reflexos ainda eram muito mais rápidos do que a grande maioria dos humanos.
Norman não deixou Abel verificá-lá. Em vez disso, ele foi pegar a bainha que jogou.
“Jovem Mestre.” Apontou para a marca da garra em sua bainha enquanto a pegava.
“Como pode ver, a maioria das feras prefere matar suas presas instantaneamente.”
Norman pegou o cadáver da pantera no chão. Então, com um sorriso no rosto, tirou a adaga de suas costas e a devolveu a Abel.
“Como você gostaria de lidar com isso, senhor?” Norman perguntou.
“Afinal, este é o seu prêmio.”
“Vamos carregá-lo e vendê-lo na cidade.” Ordenou Abel enquanto olhava para o ferimento na perna de Norman.
“Leve o cavalo daqui em diante e a pantera com você também.”
Apesar de seu papel de servo humilde, Norman não hesitou em pegar o cavalo de seu jovem mestre. Daria sua vida se fosse pela família Bennett, mas nada disso era contraditório com o que ele estava fazendo. Agora, ele era um homem ferido.
O máximo que podia fazer por Abel era não ser um fardo. Como havia apenas um cavalo disponível, a maneira mais rápida de viajar era fazê-lo montar no cavalo.
Vol. 1 Cap. 4 Cidade Fort Lee
Forte Lee. Originalmente, era para ser apenas o nome de um antigo forte, mas as pessoas começaram a construir uma civilização ao seu redor e a transformaram em uma cidade densamente povoada. Atualmente, era usado como residência para Lord Rex, o atual prefeito.
Por volta do meio-dia quando chegaram na cidade. Após uma breve discussão, os dois decidiram ir primeiro à igreja para que o padre realizasse uma cura de ferimentos leves na perna de Norman. Gastaram um total de dez moedas de prata.
Algo chamou a atenção Abel enquanto estavam saindo do edifício do santuário. Como se viu, manter uma igreja era, na verdade um negócio muito lucrativo. Dez moedas de prata eram suficientes para alimentar uma família por um mês, mas um padre podia pedir a mesma quantia para realizar um ato divino. Na verdade, bastava olhar para o quão alto a igreja foi construída.
Sob a orientação de Norman, chegou a uma loja de couro ao lado leste. Era o lugar certo para vender a pantera das sombras que eles haviam matado.
O gerente da loja ficou chocado quando os dois trouxeram o animal. Não é fácil derrubar um predador perigoso sem causar muito dano ao seu corpo. Mas foi exatamente isso que Abel e Norman fizeram. Além da longa faixa da ferida na parte traseira, todas as outras partes da pantera foram intocadas.
Dito isto, o lojista ficou mais do que feliz em comprá-la por dez moedas de ouro. Enquanto Norman parecia bastante satisfeito com este acordo, Abel apenas acenou com a cabeça. Não sabia como funcionava o mercado de couro, mas as dez moedas de ouro pareciam uma boa quantia.
Dez moedas de ouro. Com a única moeda que recebeu de Zach e as outras cinco que tinha economizado, tinha um total de dezesseis moedas de ouro. Assim como no mundo anterior, ter ouro significava grande poder aquisitivo. Isso significava que não estava tão pobre.
Só para deixar claro, não veio para Fort Lee para passear. Veio aqui para fazer algumas compras. Alguns dos quais havia enviado Norman para comprar e alguns dos quais deveria comprar sem que outros soubessem.
Foi por isso que decidiu vir para o centro. Após mandar Norman embora, chegou ao Centro Comercial, um comércio marcado com o logotipo do antigo forte. Era quase meio-dia, então não havia muita gente.
Não tinha certeza do que poderia comprar, então foi perguntar no balcão. Pelo que podia ver, essa era uma versão mais sofisticada de um armazém comum. Havia mercadorias diárias, joias, roupas, etc. Estava incerto se poderia encontrar as coisas que procurava aqui.
“Você deve ser o senhor Abel.” Um homem gordo de meia-idade saiu do balcão. Com um grande sorriso no rosto, o cumprimentou com uma reverência. Foi uma reverência esquisita.
Apesar da exibição não convencional (e um tanto inadequada) de etiqueta mostrada a ele, retribuiu com uma saudação formal. Sabia o quão difícil era para os plebeus aprenderem a etiqueta apropriada.
“Isso mesmo. Você me conhece?”
“Perdoe-me por chamar seu nome, senhor. Meu nome é Tim. Eu sou o dono deste estabelecimento.”
Tim curvou-se novamente, mas ainda de uma maneira estranha.
“Eu notei o Escudo Espinhoso em seu traje. Seu irmão Zach tinha a mesma marca nele, e eu o conheci há algum tempo.”
O Escudo Espinhoso era o brasão que representava a família Bennett. Para ser um membro da realeza competente, era preciso aprender a memorizar o maior número possível de brasões. É uma parte obrigatória do treinamento de cavaleiro de Abel, com literatura, música e outros talentos.
“Você tem alguma pedra preciosa aqui, Sr. Tim?” Abel perguntou. Não precisava, mas se referir a Tim como senhor era uma coisa bastante respeitosa a se fazer. A julgar pela reação de Tim, deve ter ficado satisfeito com esse ato de reconhecimento.
“Você veio ao lugar certo, senhor.”
Tim respondeu com um sorriso mais largo do que quando tinham acabado de se conhecer.
“Sim, nós fornecemos uma variedade de pedras preciosas aqui. O que você estava procurando?”
Sob seu comando, Tim ordenou que seus homens destrancassem uma grande caixa guardada no balcão. Havia várias fileiras de pedras preciosas dentro, todas em pedaços muito pequenos. A maioria das pessoas não podia comprar joias. Além disso, as pedras maiores seriam transferidas para outro lugar. Tinham outros usos além de serem vendidos como acessórios de luxo.
“Quanto eu preciso pagar por isso. Sr. Tim.” Abel perguntou enquanto pegava seis rubis do mesmo tamanho da caixa.
“Apenas seis moedas de ouro, Sr. Abel.”
Era um preço razoável. Afinal, nenhum mercador conceituado enganaria um cliente da mesma região. Abel podia ser jovem, mas ainda era filho de um cavaleiro. Foi um acordo justo feito com seis moedas de ouro.
Tendo recebido o dinheiro, Tim foi colocar seis peças de rubi em um saco de lã. Acompanhou Abel para fora da loja depois disso. Da maneira mais respeitosa possível, é claro.
Saindo do shopping, fugiu para um beco isolado. Lá, tirou três pedaços de rubi da bolsa e os colocou em seu Cubo. Se lembrasse de suas fórmulas corretamente, três das mesmas pedras preciosas poderiam se fundir em uma pedra maior e mais fina do mesmo tipo.
Tendo resistido ao seu sentimento de excitação, bateu nas ranhuras de artesanato com o dedo. Inseriu os três rubis, que desapareceram em um flash de luz. Então viu um grande rubi na fenda superior do Cubo.
Que coisa linda. Pensou. Todos os lados desta peça estavam brilhando com um clarão vermelho. Fosse o tamanho ou a qualidade desta peça, era uma classificação mais alta do que os outros três rubis combinados. Não tinha certeza, mas sabia que isso valia mais do que três moedas de ouro.
Tendo feito sua segunda pedra, começou a pensar em um bom lugar para vendê-las. Sabia que não poderia voltar ao centro comercial para isso. Se voltasse para vendê-los no lugar de onde acabara de comprar joias, não seria preciso ser um gênio para descobrir que algo estava errado ali.
Andando um pouco mais pela cidade. Desceu a rua principal, e pôde ver que havia uma butique na frente dele. A Butique Edmundo, o maior negócio do gênero em todo o ducado. Pelo que conseguia se lembrar, todas as cidades do Ducado Camelot tinham essa butique em algum lugar. É uma marca muito conhecida, com uma história de 500 anos desde que foi fundada. Todos os anos, organizava um grande evento de leilão que atrairia aristocratas de diferentes cidades. Até mesmo os dos ducados vizinhos vinham dar lances nos itens requintados à venda.
“Bem-vindo a butique Edmund. Como posso ajudá-lo?”
Foi uma jovem que o cumprimentou quando entrou. Tinha cabelos loiros, um rosto oval padrão, olhos grandes e sua pele era clara e impecável. O vestido fino que ela usava era feito de seda oriental, um material original do Extremo Oriente. Falou com uma voz suave e gentil enquanto fazia uma reverência a Abel logo em seguida.
“Boa tarde, jovem e bela madame.” Cumprimentou Abel.
“Procuro alguém para verificar uma pedra preciosa para mim.”
Ao contrário daquele homem gordo mais cedo, esta senhora sabia a maneira certa de demonstrar sua etiqueta. Falou educadamente, mas não de um jeito prolixo. Sua reverência foi adequada e oportuna. Como mencionado anteriormente, não foi fácil para a maioria das pessoas aprender a etiqueta adequada. A butique deve ter feito um grande investimento no treinamento de seus funcionários.
“Por favor, me chame de Yvette, meu jovem e bonito senhor. Você pode falar comigo se for sobre verificar pedras preciosas. Eu sou a gerente desta loja. Por favor, venha comigo para conversarmos lá em cima.”
Apenas à primeira vista, Yvette poderia dizer que Abel era alguém de nascimento nobre. Por isso ela mesma decidiu conversar com ele.
Os dois subiram para se sentar no quarto de hóspedes. No momento em que se sentou, foi servido com uma xícara de café fresco. Abel não queria parecer mal-educado, mas andar várias horas na cidade o deixou com muita sede. Tomou um gole antes mesmo de começarem a falar.
Um bom café. Abel não era exatamente um especialista, mas sua língua também não estava dormente. De onde quer que os grãos fossem, não era algo que a família Bennett pudesse comprar facilmente.
Abel era um rapaz muito jovem, Yvette poderia se referir a ele como menino. A idade, no entanto, não representava a reputação de um nobre. Essa noção era comumente reconhecida entre os aristocratas, e também algo que seus servos seguiam.
“Quanto vale esta pedra preciosa, senhorita Yvette?” Abel tirou seu maior rubi e o passou para ela.
Tendo pegado a pedra preciosa, começou a examinar seu interior por uma pequena lâmpada. Então, depois de alguns minutos, levantou a cabeça com um olhar encantador no rosto.
“Esta é uma peça perfeita! As esculturas. A estrutura dela. Transparência. Sinceramente, não consigo encontrar nenhum defeito nela. Que tal eu comprar de você por 300 moedas de ouro?’
Vol. 1 Cap. 5 A Butique
Abel sabia como sua joia era perfeita. Seu Cubo Horádrico é incapaz de criar algo imperfeito. Não importava se antes a pedra valia apenas 3 moedas de ouro. O preço agora aumentou cem vezes mais. Se mais alguém soubesse sobre o Cubo, traria muitos problemas.
A butique Edmundo era uma marca comercial bastante confiável. Além disso, o preço que Yvette acabou de oferecer era muito agradável, então decidiu tirar a segunda pedra preciosa de sua bolsa. Abel passou o rubi enquanto dobrava a bolsa ao meio, indicando que só tinha dois no total.
“Tenho outro. Por favor, vou vendê-lo a qualquer preço que oferecer.
“Pelos céus!” Yvette exclamou alto.” Agora são dois deles, e são tão perfeitos.”
“Eu preciso de algum suplemento para o meu treinamento de cavaleiro. Há algo que você recomende?”
Zach usava suplementos para seu treinamento todos os meses. Gostava de beber uma poção especial que aumentava o fluxo de seu Qi antes do exercício. O nome da poção era chamado de Poção de condensação de Qi. Não tinha certeza sobre isso, no entanto. Ninguém se incomodou em explicar para uma criança.
“A Butique Edmundo pode fornecer a você a Poção de condensação de Qi menor. Custa 10 moedas de ouro por garrafa.” Yvette sorriu, então tomou um gole de café.
“Isso pode ser ruim para os negócios, há muitos resíduos impuros nas porções menores, e há efeitos colaterais. Normalmente, se você toma a poção por um mês, teria que passar mais um mês para recuperar seu corpo.”
“Quão eficiente é essa poção?” Perguntou Abel. De sua perspectiva, o que importava era que a poção tivesse o efeito desejado.
Enquanto Abel era um completo amador no uso de poções, Yvette conhecia todos os detalhes.
“A forma mais efetivo é ingerir cinco garrafas durante um mês. Com o treinamento, as cinco garrafas podem dobrar seus resultados de desempenho, o que significa que o treinamento de um mês será o dobro. Depois disso, você terá que tirar um mês para descansar, antes de repetir todo o processo novamente.
“Se há uma versão maior desta poção, também deve haver uma versão superior.”
“É claro. Se tomar a poção superior, só precisará descansar por duas semanas a cada cinco garrafas. Cinco garrafas da poção superior valem cerca de quatro meses de treinamento. Se quiser algo melhor, há também o que chamamos de poção extraordinária, e a dosagem mensal pode produzir os mesmos resultados de cinco meses de treinamento.
Você pode tomá-la sem pausa devido a sua pureza, mas elas só vêm em três garrafas por mês para uma pessoa.
Abel estava com os olhos bem abertos o tempo todo em que estava ouvindo a explicação.
Yvette não queria parecer rude, mas o garoto sentado à sua frente estava sendo muito fofo.
“Desculpe pela inconveniência.” Yvette riu.
“Mas se você está procurando pela pílula de condensação de Qi, o melhor que temos a oferecer nessa loja são apenas as poções superiores.
Vendemos 50 moedas de ouro por garrafa. Se você está procurando pela poção extraordinária, terá que visitar nossa sede principal.
Abel não ia pagar por uma poção que custava 50 moedas de ouro por garrafa. Nem ia perguntar quanto custavam as melhores poções. Não havia muitas pessoas ricas em Fort Lee. A maioria teria que vender suas casas para comprar uma garrafa da poção extraordinária.
Por uma misteriosa afeição pelo garoto à sua frente, Yvette se inclinou para compartilhar alguns segredos com Abel.
“Muitas pessoas não sabem sobre isso.” Yvette sussurrou suavemente perto do ouvido de Abel.
“Conforme o mestre de poções em nosso quartel-general principal, se um cavaleiro novato decidir tomar a poção de condensação de Qi, será mais difícil para ele avançar para se tornar um cavaleiro oficial.
Não importa se a poção é inferior, superior ou extraordinária. Quanto mais você toma esses suplementos, mais impurezas terá dentro de seu corpo, e isso vai neutralizar seu processo de avanço quando tentar se tornar um cavaleiro oficial.
Abel não sabia o porquê de Yvette estar sendo tão gentil, mas percebeu o quão sortudo era por ela lhe ensinar tanto sobre treinamento com poções. Todos em seu primeiro encontro também, então não apenas estava se sentindo muito grato, mas também começou a desenvolver mais respeito por essa senhorita de bom coração.
“Obrigado por seu lembrete, Srta. Yvette.” Abel falou em um tom ainda mais formal.
“O que você acabou de me dizer será muito crucial para mim. Se não se importa de responder, existe alguma poção que não cause efeito colateral?”
“Ora, há, é claro.” Yvette acenou com a cabeça.
“Às vezes, quando estão com vontade, os mestres de poções fazem algo chamado Poção de condensação de Qi do mestre. Não há garantia sobre o número de poções desses mestres, mas dizem que um mestre de poções é capaz de produzir dez garrafas por ano.
Uma vez que as poções estão prontas, elas são dadas como presentes para amigos e familiares, ou são compradas pelos ricos e poderosos.
Yvette continuou em um tom de admiração e orgulho:
“Em nosso evento anual de leilão, nosso próprio mestre de poções colocará cinco garrafas da poção de condensação de Qi do mestre para vender. Custam mais de 1.000 moedas de ouro por garrafa, e uma garrafa é suficiente para um cavaleiro novato pular um ano inteiro de treinamento.
Se não tivesse seu próprio Cubo Horádrico, Abel nunca teria considerado tomar poções para seu treinamento. Com base em seus desempenhos anteriores, seu talento parecia mais promissor do que seu pai e seu irmão. Ele era um gênio e não importava se tinha apenas doze anos. Com tempo e esforço suficientes, poderia facilmente se tornar um cavaleiro oficial.
Ainda assim, a ideia de usar a poção de condensação de Qi de um mestre parecia muito atraente para Abel. Um ano de treinamento sem efeitos colaterais e só precisava de um pouco mais de dinheiro? Foi o trabalho perfeito para o seu Cubo Horádrico!
Tendo chegado a uma decisão, Abel levantou a cabeça para fazer sua compra.
“Vou levar 54 garrafas da poção de condensação de Qi menor. Na verdade, com o dinheiro que sobrou, também posso comprar uma pequena besta? Talvez algo que eu possa segurar com apenas uma mão?”
Abel sabia como este mundo era perigoso. Poderia ser emboscado por uma fera faminta apenas andando em um caminho aberto. Foi esperto o suficiente para matar aquela pantera das sombras naquela época, mas não se pode confiar na sorte em cada luta. Dito isto, é sempre bom levar alguns equipamentos consigo para os lugares que fosse.
Abel queria uma espada e algumas armaduras também, mas seu orçamento era muito baixo para isso, mesmo que tivesse mais dinheiro, ainda não o usaria aqui.
Não era bom o suficiente para esconder seus próprios segredos (seu cubo) ainda. Se fosse gastar dinheiro em equipamentos, gostaria que fosse algo que as pessoas não pudessem ver.
Por essa lógica, uma pequena besta parecia uma opção decente. Assim como aquela adaga que Zach deu a ele, poderia esconder uma arma como esta em algum lugar. Pensando bem, seria bom poder realizar ataques furtivos tanto a curta distância quanto a longa distância.
“Que tal esta pequena besta? Foi feito pelos anões.” Yvette foi e colocou uma besta cinza sobre a mesa, com as poções que Abel havia pedido.
Abel tentou levantar a besta com apenas um braço Foi algo simples de se fazer, com pouco menos de um quilo. Porém, não gostou muito de sua aparência, já que todas as partes foram pintadas em cinza simples. Além disso, havia alguns buracos muito feios perfurados na alça.
“Este é um item de segunda mão.” Yvette explicou de uma maneira confusa enquanto Abel tinha um olhar muito questionável em seu rosto.
“Eu sei o que você está pensando, mas os anões fizeram um bom trabalho quando criaram isso. Normalmente, uma besta nova feita com esse tipo de material custaria mais de 500 moedas de ouro. Deveria haver algumas pedras preciosas no cabo, mas outra pessoa decidiu tirá-las para obter lucro extra. Porém, ninguém gostou dessa cor. Não é à toa que ficou na loja por tanto tempo.”
“Vou levar.” Afirmou Abel. Sabia que Yvette estava sendo muito gentil. Não tinha certeza do porquê estava disposta a ir tão longe para ajudá-lo, mas sabia que não era do tipo que mentiria.
“Tenha cuidado ao tomar essas poções menores. Você tem um longo caminho pela frente.”
Yvette disse enquanto colocava a poção de condensação de Qi em uma caixa. Também pegou munição para a besta de Abel.
“Obrigado, senhorita Yvette, vou me certificar de tomar essas poções com cautela.” Abel respondeu com sinceridade. Queria parecer confiável na frente de Yvette.
Ao sair da loja, tinha 54 frascos de poções de condensação de Qi, uma pequena besta e 5 flechas de besta. Yvette, por outro lado, estava sentada ao lado da vitrine no segundo andar do Mercado. Observando enquanto Abel ia embora, ela não pôde deixar de pensar em seu irmãozinho que havia deixado a família há dois anos. Se pudesse vê-lo agora, ele seria tão grande quanto Abel.
Vol. 1 Cap. 6 Poção do Mestre
Já era tarde quando Abel alcançou Norman. O Sol estava inclinado para o oeste quando se encontraram. Se não voltassem para o Castelo Bennett, teriam que viajar durante a noite, o que não era nada seguro.
Norman viu a caixa que Abel estava segurando, mas não disse nada. No que lhe dizia respeito, o que importava não era quanto dinheiro seu jovem mestre gastava ou o que comprava. Sendo um guarda-costas, seu dever é garantir a segurança de seu mestre.
Abel ainda não queria que alguém visse sua caixa. Então colocou em seu Cubo Horádrico antes, mas havia muito pouco espaço para ele colocar suas porções de condensação de Qi.
Cada garrafa ocupava um espaço, então o máximo que conseguia armazenar eram dez. Precisava de mais dois para seu Pergaminho do Portal da Cidade, o que significava que a única maneira de ir era carregar a maioria das coisas nas mãos.
Felizmente, os dois voltaram sem enfrentar nenhum perigo no caminho, Abel escolheu o momento certo para chegar em casa. Zach estava apenas praticando equitação com o Cavaleiro Bennett. Ninguém, nem seu pai, mãe ou irmão, iam perguntar o que havia comprado na cidade. Esta era uma família da realeza. Eles se respeitavam. Cada membro, independentemente da idade, tinha direito à sua própria privacidade.
Abel era amado por seus pais, mas o amor que sentiam era muito diferente daqueles que o amavam na Terra. Durante sua vida lá, os pais demonstravam amor interferindo em todos os aspectos da vida de seus filhos. Tinham que opinar sobre a educação da criança, vida social, vida amorosa, casamento e qualquer outra coisa.
Qualquer segredo que uma criança tivesse era considerado uma violação.
As regras eram muito diferentes aqui. Toda vez que havia uma escolha importante a fazer, os pais de Abel sempre o ouviam, por mais drásticas que fossem as consequências. Como segundo filho da família, o caminho à frente não seria nada fácil.
O seu pai sabia disso, e como sabia, mas decidiu concordar pela afeição que sentia pelo seu filho. Um tipo diferente de afeto, do tipo que experimentou com seus pais anteriores. Eram iguais em seu peso. Estava ciente disso e era grato por ser tão abençoado em suas duas vidas.
Após voltar para seu quarto, rapidamente abriu sua caixa e tirou uma garrafa da poção de condensação de Qi.
Encarando o pôr do sol, podia ver que a garrafa estava cercada por arcos de luz branca, algo inaplicável à física normal, continuavam piscando e faiscando enquanto giravam. Era apenas uma poção menor, sim, mas só pela aparência, valeria muito se fosse encontrada na Terra.
Falando na Terra, sentia falta de sua casa agora. Nunca sentiu uma nostalgia durante todo o ano que esteve aqui, mas algo aconteceu quando viu aquele Pergaminho do Portal ontem.
Pense em qualquer outra coisa, menos nisso. Se forçou.
Agora, o importante era seu experimento. Se sua hipótese fosse confirmada, a velocidade de treinamento seria muito mais rápida do que atualmente.
Inseriu três poções menores no Cubo, depois pressionou levemente o botão de transmutação. Uma luz branca apareceu, as três garrafas de poção de condensação de Qi emergiram como uma única. Não estava cercada por arcos brancos de luz, porém, por um lindo raio azul.
Funcionou. Nunca tinha visto uma poção de condensação de Qi maior antes, mas deveria ser isso. Não havia nenhuma dúvida. O Cubo nunca falhou em suas fórmulas.
Não se importava muito com isso, um sorriso de repente surgiu em seu rosto. Se três garrafas de poções menores custam 30 moedas de ouro no total, e uma garrafa da poção maior custa 50 moedas de ouro, acabou de ganhar 20 moedas de lucro. Era um pensamento estranho para se ter em um momento sério como esse, mas meio engraçado de certa forma.
Colocou mais três poções menores em seu Cubo. Por motivos que ele mesmo não tinha certeza, já estava se sentindo como um mestre de poções, ou um alquimista descobrindo as proporções certas para sua mistura.
Por mais excitado que estivesse, suas mãos não paravam. Continuou transmutando as poções menores em poções maiores, então alinhou os produtos acabados em sua mesa.
Muito em breve, 54 garrafas das poções de condensação de Qi menor foram transformadas em 18 garrafas de poções de condensação de Qi maior.
Estava prestes a gritar neste momento. Mesmo que não pudesse melhorar ainda mais as poções, estava garantido uma maneira de sustentar sua vida agora. Se quisesse, poderia entrar no negócio de fabricação de poções a qualquer hora.
Poderia se tornar um renomado mestre de poções vendendo abundantemente poção de condensação do Qi maior.
Tornar-se um cavaleiro era seu principal objetivo, é claro, mas é sempre bom ter uma renda de apoio.
Se acalmou mais uma vez. Então, inseriu três garrafas da poção maior em seu Cubo Horádrico. Sem nenhuma falha, as três porções maiores foram misturadas em uma.
Era uma garrafa cercada por arcos dourados de luz. Dentro havia uma poção que só poderia ser produzida por um especialista.
A melhor porção que, embora pudesse ser feita com a quantidade certa de experiência, não era algo que pudesse ser vendido como um item normal. A maior porção era inferior à poção de um mestre, mas a criação de ambas exigia que o alquimista estivesse na “zona” certa.
Havia algo especial nessa poção. Não sabia quanto valia exatamente, mas seu palpite era tão bom quanto o de qualquer outra pessoa. Bem, não havia muitos mestres de poções no Ducado, sabia pelo menos isso.
Logo, 18 poções maiores foram transformadas em 6 garrafas de poções superiores. Abel estava certo. Fez a melhor escolha em gastar todo o seu dinheiro em poções.
Colocando as três garrafas de poções superiores no cubo e, assim como todas as outras vezes, tudo na fenda desapareceu quando uma luz branca piscou. O que saiu foi uma garrafa de poção de condensação de Qi de um mestre. Estava cercado por arcos de luz escura e dourada, e havia uma textura espessa no líquido que estava dentro. O líquido em si era de cor âmbar.
Estranhamente, não era translúcido como todas as outras poções.
Com uma leve sacudida de seu recipiente, notou que estava um pouco pegajoso.
Mais uma vez, por fim, transmutou duas garrafas da poção de condensação de Qi do mestre. Produziu dois frascos dessa poção definitiva, que não teria quaisquer efeitos para seu usuário.
Agora, o que deveria fazer sobre essas poções? Poderia consumi-las aqui mesmo, mas isso exporia a existência do Cubo Horádrico. Não podia permitir que isso acontecesse se quisesse sobreviver neste mundo. A melhor opção era guardá-las em algum lugar seguro.
O que quer que planejasse fazer a seguir, a segurança sempre vinha em primeiro lugar.
Quanto mais sabia sobre este mundo, menos seguro se sentia. Embora tudo pudesse ser explicado pela ciência na Terra, a lógica funcionava de maneira diferente aqui. A lesão na perna de Norman deveria demorar alguns meses para se recuperar, mas um ato divino foi o suficiente para tratá-lo no local. Saber de algo assim é mais preocupante do que alívio, quanto mais pensava sobre isso.
Com isso em mente, se Fort Lee fosse apenas uma cidade pequena, que tipo de coisas inexplicáveis e impensáveis poderia ver se fosse para outra cidade? Ou então, para uma cidade grande?
Vol. 1 Cap. 7 Ensinamentos do Pai
No Castelo Bennett, os cozinheiros sempre faziam o jantar na hora. Como havia cavaleiros na casa, era marcada para às oito da noite. A refeição, como sempre, limitou-se a três coisas: bife, mingau e purê de batatas.
Devido aos problemas financeiros, a carne não foi temperada com nada. As especiarias eram restritas apenas aos nobres muito ricos. Tinham que ser colhidos da Floresta da Lua Dupla, que era um território distante governado pelos elfos. Quanto mais distante um produto estava de seu local de origem, mais caro era. Isso é um fato, já que havia muitos comerciantes envolvidos no processo de transporte.
Como sempre, foi um jantar tranquilo, mas emocionante com a família. Depois de um dia inteiro de treino, combate e aventura, Abel queria voltar para o quarto para tomar banho. Não gostava do sistema de esgoto deste lugar, então decidiu fazer um por si próprio.
O Castelo Bennett dependia de um córrego subterrâneo para seu abastecimento de água.
Como a maioria dos castelos construídos neste mundo, nenhum recurso poderia ser enviado ao forte se estivesse cercado por invasores, a água é crucial para a autossubsistência. Se fosse um castelo construído para um feudo maior, o sistema de esgoto provavelmente seria grande o suficiente para alguns milhares de pessoas.
O Castelo Bennett poderia fornecer água suficiente para algumas centenas de pessoas, o que já era bastante. Havia menos de uma centena de moradores vivendo nesse lugar, incluindo guardas e criados, a água não era um problema.
Para construir seu próprio sistema de irrigação, decidiu encontrar o carpinteiro do Castelo. Ordenou ao carpinteiro que construísse uma roda d’água, que deveria ser alimentada pelo córrego subterrâneo. Nele, haveria alguns canos conectados para deixar a água fluir em uma grande caixa de madeira, que seria armazenada no último andar do castelo.
Usando um bambu endurecido com fogo, foram construídos tubos para deixar a água entrar no banheiro. Abel tinha o bronze em mente no início, mas o metal era muito caro. Não havia mina dentro do castelo. Nenhum ferreiro de aluguel, também. A família Bennett nem mesmo tinha ferro para fazer os tubos.
Após pensar consigo mesmo por um longo tempo, chegou à conclusão de que o bambu é a melhor opção disponível. Uma vez aquecido com fogo, pode ser dobrado, endurecido e usado para uma variedade de trabalhos de construção. Mais importante ainda, é extremamente barato.
Quando os canos ficaram prontos, mandou o carpinteiro fazer uma banheira de madeira em tamanho real, um lavatório de madeira e até um vaso sanitário com descarga. Pela primeira vez, as coisas estavam começando a parecer um pouco modernas.
A madeira serrada não valia quase nada neste mundo. Além de algumas espécies muito raras, qualquer pessoa com um machado poderia obter um pouco de madeira da floresta. Falando nisso, a Família Bennet possuía todas as árvores em um raio de 160 quilômetros do castelo. Lenhadores e carpinteiros eram contratados, é claro, mas seu trabalho principal é plantar no campo. Não se recebia muito por derrubar árvores.
Graças às sugestões inovadoras de Abel, todos os quartos do castelo foram renovados com o mesmo plano de design. O carpinteiro, recebeu uma quantia generosa por seu trabalho, sendo obrigado a assinar um contrato com o Cavaleiro Bennett. Sem a permissão de seu mestre, foi impedido de fazer o mesmo sistema novamente para qualquer outra pessoa.
Assim, o projeto do sistema de irrigação de madeira foi trancado dentro do cofre da família Bennet. Como um nobre que cresceu sabendo um milhão de coisas, sabia como esse dispositivo poderia ser uma ameaça à vida. Se algum grande lorde soubesse, provavelmente pegaria tudo para si, e mataria qualquer um que descobrisse algo sobre isso. O Cavaleiro Bennett estava muito familiarizado com esse tipo de coisa.
Por isso Abel não inventou nada depois. Sem o status e a força, qualquer ideia criativa poderia trazer uma catástrofe para ele e sua família. Durante os milhares de anos da história deste mundo, não houve mudança na forma como a sociedade foi estruturada. Foi uma história muito diferente da Terra, que foi muito facilmente influenciada por instabilidades e interferências. As regras podem desaparecer e ressurgir dentro de alguns séculos, e nada pode ser chamado de “constante”.
“Abel, venha acompanhar Zach.” O Cavaleiro de Bennett ordenou quando Abel estava prestes a voltar para seu quarto.
“Você é um cavaleiro novato de primeira classe. Agora é digno de minha tutoria.”
Ao chegar à sala de treinamento, Abel pôde ver que os servos já haviam preparado os bonecos de madeira para ele. Havia algumas espadas de madeira penduradas na parede, e seu pai pegou uma para dar a ele.
“Eu ouvi sobre o que você fez.” O Cavaleiro Bennett olhou para Abel.
“Você matou uma pantera das sombras com a força de um cavaleiro iniciante. Isso me surpreendeu, filho. Mesmo que você tenha feito isso com a ajuda de Norman, continuo muito surpreso. Durante toda a minha vida, vi inúmeros cavaleiros com mais talento do que eu jamais poderia ter. Eram mais fortes que eu, e rápidos, mas nenhum deles viveu até a idade que tenho agora. Você sabe por quê?”
Para surpresa de Abel, seu pai estava lhe dando um sermão. Por todo o tempo que esteve neste mundo, nunca tinha ouvido tanta palavra saindo da boca de seu pai antes.
“Como eu sobrevivi para estar aqui hoje? É porque o escudo mais forte de um cavaleiro é sua espada. A espada mais rápida é também o escudo mais resistente que existe. Se o cavaleiro for rápido, pode atacar quando estiver a cavalo. Quando desce do cavalo, pode puxar um arco pesado em um piscar de olhos. Agora, existem muitos gênios neste mundo.
Alguns deles decidiram se tornar os homens mais rápidos que poderiam ser. Alguns decidiram se tornar os homens mais fortes que poderiam ser. Agora, eu não sou o homem mais forte deste mundo. Também não sou o homem mais rápido que existe. No entanto! Acontece que sou o herdeiro de nossa família, e o que nossos ancestrais nos deixaram é uma rotina de treinamento completo dedicada aos cavaleiros. Devido á minha herança, tornei-me o homem mais forte entre os homens mais rápidos e tornei-me o homem mais rápido entre os homens mais fortes.”
O Cavaleiro Bennet arregalou os olhos e gritou com vigor.
“O que nossos ancestrais nos deram foi o sistema mais completo que existe. Geração após geração, eles passaram para mim sem fazer nenhum tipo de ajuste. Em um futuro próximo, cumprirei meu papel e passarei esse tesouro para vocês dois. Lembre-se disso, nenhum ouro, nenhuma arma ou armadura de renome, nada disso será tão precioso quanto a herança! Herança, meus filhos, a herança é o tesouro mais precioso que existe!”
Continuando, disse.
“Zach, mostre ao seu irmão como fazer um ataque.” O Cavaleiro de Bennett jogou uma espada de madeira para Zach, ao qual respondeu com um olhar feroz. Apontando a espada para o manequim. Com uma inspiração profunda, mudou para uma posição de ataque.
Abel mal podia ver. O manequim foi enviado voando em um instante. E enquanto ainda estava no ar, Zach rapidamente foi esfaqueá-lo em três pontos diferentes. Na coxa, cintura e garganta, todos executados em uma sequência de movimentos, como algo saindo direto de um livro didático.
“Você é mais rápido do que isso.” Disse o Cavaleiro Bennett. O pai sempre foi rigoroso em suas exigências. Zach entendeu isso, então respondeu com um aceno.
“Você pode ver isso claramente, Abel? Este é o ataque clássico de um cavaleiro. Rompendo a defesa do seu inimigo com uma investida e termina a luta com um golpe rápido em seu ponto vital. Cada parte dessa sequência leva milhares de anos para ser refinada. Seu papel é executar esses movimentos da maneira mais perfeita possível. Não há necessidade de fazer nenhum tipo de ajuste. Foi preciso muito derramamento de sangue para chegar a este ponto que você está vendo agora.”
O Cavaleiro Bennett continuou com um tom levemente ridículo.
“Sempre existem alguns chamados ‘gênios’ que tentam ser criativos com isso. Nenhum deles está vivo agora. Ouça aqui, filho. O que você deve fazer é lembrar desses movimentos. Transforme-os em seus instintos. Use-os antes de ter dúvidas.”
Abel se sentiu tão orgulhoso por matar aquela pantera das sombras naquela época, mas olhar para Zach foi um alerta. Poderia ser inteligente o quanto quisesse com seus truques, mas eles sempre seriam inúteis contra um cavaleiro devidamente treinado. Mesmo Zach poderia matá-lo sem qualquer resistência.
Nos dias restantes, continuou com sua rotina de treinos. Praticava técnicas de combate durante o dia e melhorava sua força muscular com a armadura de metal à noite.
Antes de ir para a cama, sempre praticava suas técnicas de respiração de cavaleiro.
Havia muito mais carne na mesa de jantar naquela noite. Daquele ponto em diante, estava começando a receber o mesmo tamanho de refeição que Zach. Embora o Cavaleiro Bennett não tivesse dito nada, sentiu que seu pai tinha chegado a algum tipo de decisão.
Vol. 1 Cap. 8 A Decisão
Ser um treinador de fisioculturismo provavelmente teve algo a ver com isso. Por razões que nem ele sabia, aprendeu a lutar como cavaleiro com bastante rapidez. Tinha bons reflexos e formas. O que lhe faltava em experiência e força, certamente compensaria à medida que envelhecesse.
O sistema da Família Bennett ensinava o uso de vários tipos de armas. Havia tiro com arco, lança, técnicas de espada e escudo, escudo pesado, etc. Após cerca de meio ano de treinamento ininterrupto, aprendeu tudo o que havia para aprender. Era meio injusto para Zach, de certa forma, tanto que muitas vezes fazia reclamações aos Espíritos.
“Mas isso me levou mais de um ano!” Costumava gritar, e o Cavaleiro Bennett sempre estava com um olhar sinistro em seu rosto. Abel não tinha certeza do que seu pai estava pensando, mas sabia que algo estava prestes a acontecer.
Nesses últimos meses, não tomou sequer uma gota da poção. Após aprender sobre a importância da herança de seu pai, decidiu que era correto tomar suplementos logo depois de conhecer todas as técnicas corretas. Ainda assim, em um período muito curto de tempo, conseguiu se tornar um Cavaleiro novato de nível dois com apenas seu talento bruto.
Em uma determinada noite, sabia que algo estava errado quando se sentou para jantar. Notou como os olhos de Nora estavam vermelhos e inchados. Também viu uma expressão muito resoluta no rosto de seu pai.
“Abel, meu filho.” O Cavaleiro Bennettt se levantou quando Abel tinha acabado de pegar seu garfo.
“Você é a criança mais talentosa que eu já vi em toda a minha vida. A Luz Sagrada concedeu a você sabedoria e coragem, mas a Família Bennett não tem os recursos para levá-lo ao seu pleno potencial. Esta é uma grande perda para o nome da família e uma desgraça para quem guia a todos nós.”
O Cavaleiro Bennett lançou um olhar para sua esposa, depois de voltar para seus dois filhos. Continuou com uma voz mais áspera.
“Fiz um acordo com um companheiro. O nome dele é Marshall Harry. Nos próximos anos, Abel treinará para ser um cavaleiro sob seus ensinamentos. Se conseguir atender às suas expectativas, herdará o Símbolo do Unicórnio, sendo o brasão da família Harry.
Abel sabia quem era o Cavaleiro Marshall. Era o melhor amigo de seu pai. Eles lutaram lado a lado durante a guerra contra os orcs. Nos momentos mais desesperados, salvaram a vida um do outro e voltaram para casa juntos.
Ao contrário do Cavaleiro Bennettt, o Cavaleiro Marshall não teve filho. Sua única esposa morreu em um incidente e nunca mais se casou depois disso. Por todos os anos em que a família Harry ficou sem um herdeiro, ele continuou no castelo onde sua esposa foi enterrada.
Não foi uma escolha fácil para o Cavaleiro Bennett mandar Abel embora. Ia apenas mudar o sobrenome. Na verdade, iria cortar seus laços com sua verdadeira família. Estaria usando um brasão diferente em suas roupas, sua armadura e sua bandeira. Provavelmente seria assim pelo resto de sua vida.
Ter um filho talentoso era uma coisa muito preocupante para o Cavaleiro Bennett. Tinha pensado em todos os tipos de opções diferentes antes, incluindo mandá-lo para o pai de sua esposa, Keith. Ainda assim, fazia muito tempo desde que contatou pela última vez.
Além disso, Keith era um comerciante. Tinha dinheiro, sim, mas ter dinheiro não era suficiente para criar alguém para ser um cavaleiro. Keith morava no Ducado Koror, manter contato com Abel seria muito difícil se fosse enviado para lá.
Seth Bennet. Esse era o verdadeiro nome do Cavaleiro Bennett. Era comumente referido com o título Bennet porque, bem, era o único de sua linhagem vivendo nesta planície.
Dois séculos atrás, seus ancestrais se tornaram membros da realeza pelas suas contribuições para a guerra. Também foram recompensados com um pedaço de terra, seu nome era originalmente o Domínio do Lorde Honorário Bennett, mas agora era apenas o Domínio do Cavaleiro Bennett.
Os descendentes diretos da família viviam na cidade de Bakong, uma grande cidade localizada dentro do Ducado Carmo. Se Abel fosse enviado para lá, era muito provável que se tornasse um cavaleiro regular.
No entanto, houve uma troca. Isso significaria que se tornaria um guarda-costas de um descendente direto da Família Bennett. Teria que sacrificar sua própria liberdade pessoal e, se as circunstâncias o exigissem, sua própria vida. Não havia como o Cavaleiro Bennett deixar isso acontecer com seu segundo filho.
Havia outra razão, não gostaria que Abel perdesse o status de realeza. Era algo que já havia decidido, muito antes de Abel nascer. Como o orgulhoso Cavaleiro Bennett, só faria um pedido aos seus parentes se seu Território recuperasse seu antigo título de território de um Lorde Honorário. Era uma maneira crucial de manter seu orgulho, por assim dizer.
Marshall Harry era um homem diferente dele. Em primeiro lugar, sua família tinha um nome de muito prestígio na Cidade de Bakong. Com a ajuda de sua família, também foi recompensado com um feudo após uma guerra, uma terra de apenas 300 milhas (483 km) de distância das terras do Cavaleiro Bennett, principalmente pelo seus laços um com o outro. Tudo ali era recém-construído. Até o castelo foi feito de novos tijolos e pedras.
A família Harry tinha uma longa e bela história. Alguns Cavaleiros de Elite surgiram por causa deles. E embora sua filosofia fosse diferente da presente na família Bennett, os dois tinham grande respeito pelas conquistas um do outro no passado.
Harry sempre quis adotar um filho, havia dito isso em muitas ocasiões, mas era difícil encontrar alguém com as condições certas. Não estava apenas procurando por uma criança que pudesse cuidar, estava procurando por um herdeiro para quem pudesse passar o nome de sua família.
Dito isto, a criança que adotaria deveria ter sangue real dentro dele. Ironicamente, porém, a maioria das crianças reais já tinha seus futuros planejados. Supondo que um homem tivesse três filhos. Mesmo que o mais velho se tornasse o herdeiro, era muito fácil ser desqualificado após, digamos, um duelo perdido ou uma doença comum, o que quer que pudesse tirar sua vida, o próximo filho sempre seria uma solução alternativa, e realmente não havia uma família real com apenas um filho. Todos queriam mais filhos, o único problema, na verdade, era com quanta riqueza foi distribuída para educá-los.
Abel era um gênio. O Cavaleiro Bennett estava muito certo disso, sabia o quão talentoso seu filho era, e não havia como desperdiçar este talento. Sim, mesmo que tal decisão tenha um custo, manda-lo embora foi uma grande perda para a Família Bennett.
Tudo porque não havia dinheiro suficiente na família, não era de admirar que todos estivessem tão sombrios durante o jantar. Zach continuou tendo sua carne escorregando do garfo, que era um ato que receberia um sermão imediato do Cavaleiro Bennett.
Estranhamente, continuou comendo sua comida em silêncio.
Nora foi a única que não escondeu suas emoções, ela mal comeu alguma coisa durante o jantar e, em vez disso, passou o tempo soluçando e enxugando as lágrimas.
Terminado o jantar, o Cavaleiro Bennett fez com que Abel fosse ao seu escritório para uma conversa.
Como local de armazenamento de alguns dos documentos mais importantes da família, o escritório era geralmente trancado para qualquer pessoa, exceto para o próprio Cavaleiro Bennett. Dito isto, foi a primeira vez que Abel colocava os olhos nele.
À primeira vista, poderia dizer que era uma sala muito grande. De um lado da parede branca, havia retratos de proprietários anteriores do Castelo, o outro lado estava cheio de estantes altas que continham vários tamanhos de livros vermelhos ou pretos.
No meio do escritório havia uma grande escrivaninha de madeira, onde podia ver que possuía uma superfície muito lisa, provavelmente devido aos anos de papelada assinadas em cima. Este era, em outras palavras, o núcleo do feudo do Cavaleiro Bennett.
Todos os comandos, grandes ou pequenos, foram oficializados neste mesmo local.
O Cavaleiro Bennett caminhou em direção à mesa, arrastou uma grande caixa feita de madeira de carvalho, era uma caixa elegante, enfeitada com couro de veado e com uma alça de bronze vermelha em cima. Quando a abriu, Abel pôde ver um conjunto de armaduras dentro.
Tanto a frente quanto as costas estavam decoradas com pequenos e brilhantes pedaços quadrados de metal. Do ombro ao pulso havia várias camadas de ferro galvanizado.
Este era um conjunto bastante incomum de armadura, que era uma mistura entre um conjunto de couro e um conjunto de metal. Não só era mais barato do que um equipamento de aço completo ou cota de malha, mas também era mais resistente do que algo feito puramente de peles de animais.
“Ganhei esta armadura durante minha batalha contra os orcs. Depois que matei um Orc Infernal, levei seu cadáver para um armeiro e fiz com que criasse uma armadura com ele.” Disse o Cavaleiro Bennett enquanto tirava a metade inferior da armadura da caixa. Era um par de jeans de couro com ferro galvanizado como protetor de joelho.
“Aqui está uma espada longa leve, um par de botas de couro e um par de luvas. Não tenho muitas outras coisas para lhe dar, meu filho.”
Os olhos de Abel estavam começando a se encher de lágrimas. Notou que essa armadura definida agora era um apoio de seu pai. Como era impossível para um cavaleiro possuir apenas um conjunto de armadura, tinha que ter um conjunto extra para usar quando o original fosse enviado para manutenção. Se o conjunto original estivesse em outro lugar, o Cavaleiro Bennett teria que lutar sem proteção.
Mas não houve hesitação. Nenhuma recusa, também, ao assumir a caixa. Começou a sentir o peso do amor de um pai, não havia outro presente que pudesse ser tão precioso quanto este.
Depois que voltou ao seu quarto, viu que sua mãe já o esperava. Ao contrário do Cavaleiro Bennett, seus presentes de despedida eram muito mais simples. Havia casacos, camisas, um traje de treino, trajes formais e vários lenços, roupas, e mais roupas, nada mais.
Nora não chorou desta vez. Apenas segurou a mão de Abel falando devagar e pacientemente. Era principalmente sobre como Abel deveria se dar bem com os outros uma vez que estivesse no mundo exterior.
A noite estava quieta, mas o Castelo Bennett permaneceu aceso. Ninguém tinha ido dormido naquela noite.
Vol. 1 Cap. 9 Classificações
Nora ficou no quarto de Abel até o amanhecer. Depois que sua mãe se foi, sentou-se em uma cadeira e contemplou sua vida nos últimos dois anos.
Apesar de sua aparência, era um homem de quarenta anos por dentro, não é como se não soubesse o que o Cavaleiro Bennett estava pensando, concordou muito com a decisão tomada por ele. Se não fosse tão talentoso em tão tenra idade, tudo poderia ter sido normal. Em vez de partir para um lugar desconhecido aos doze anos, poderia ter deixado a família quando atingisse a maioridade.
Abel viu o que estava por vir, e estava disposto a aceitar. Pegando seu Cubo Horádrico, revelou um frasco de pílula de condensação de Qi dourado e abriu a tampa. Queria guardá-la para mais tarde, mas o desafio à frente o aguardava. Não muito tempo atrás, o Castelo Bennett era uma salvaguarda que protegia sua segurança. Sem isso, aprendeu a se proteger com qualquer coisa em que pudesse colocar as mãos.
À medida que o líquido de cor de âmbar deslizava para dentro de sua garganta, pôde sentir seu interior preenchido com uma essência energética, o Qi continuou canalizando através de seus músculos, mas ao contrário da maioria das poções regulares, não tirou nutrientes de nenhum alimento que havia comido antes, rapidamente se materializou e se transformou em seu terceiro meridiano.
Fazendo isso em um ritmo constante. Ao contrário da maioria das vezes, quando tentava sozinho, não precisava se preocupar se o processo iria falhar. Ele praticava suas técnicas de respiração todas as noites, porém nunca teve tanto sucesso como agora.
Em uma noite normal, conseguia fazer vinte sete no máximo, tinha que fazer pausas entre cada uma delas. As coisas estavam muito diferentes esta noite. Sua respiração ficava cada vez mais forte. Até as cortinas se moviam no ritmo de sua respiração.
Demorou cerca de meia hora para o efeito da poção passar. A essa altura, havia três meridianos estabilizados dentro de seu corpo, com um excesso de Qi que poderia ter preenchido mais da metade de seus meridianos. Ficou surpreso com isso, é claro. No final das contas, a poção do mestre era muito mais poderosa do que Yvette havia dito.
Então, os rumores estavam errados? Bem, não exatamente. Tecnicamente falando, uma poção do mestre ainda estava longe de ser uma poção “perfeita”. Por mais habilidoso que um mestre de poções pudesse ser, a habilidade humana ainda tinha suas limitações. No entanto, o Cubo estava livre de tal falha. Como estava preparando sua poção de condensação de Qi mecanicamente, todos os detalhes de proporções etc.. Foram levados em consideração e estavam em relação ao “Poder da Lei”.
Isso era, para simplificar, uma força que pertencia aos deuses. Como um item divino, o Cubo poderia utilizar uma fração desse poder para transformar qualquer item que contivesse. Esta foi a razão pela qual a poção do mestre que criou era muito mais potente do que uma normal. Foi como pedir a um deus para ajudar no treinamento de um cavaleiro novato, e que tipo de deus ficaria tão entediado para fazer isso?
Foi difícil resistir à tentação quando ela começou a fazer efeito. Após subir de nível em apenas meia hora, decidiu tomar mais uma garrafa da poção. E lá estava ele novamente, em um instante, o Qi emergiu rapidamente e se tornou o quarto meridiano de Abel. O efeito da poção desapareceu depois de exercer seu trabalho.
Levantou-se rapidamente do chão. Notou que todo o seu corpo estava coberto de manchas escuras e fedorentas. Depois de melhorar sua função corporal em um período tão curto de tempo, todas as substâncias impuras dentro dele foram excretadas.
Correndo para o banheiro para se limpar, usou três baldes de água, tentou ao máximo tirar o fedor. Depois que terminou, abriu a janela de seu quarto para extraviar o cheiro.
Estava seminu enquanto fazia isso. Cresceu 10 centímetros nos últimos seis meses, chegando a 160 cm de altura, era apenas uma criança, mas os músculos dele já eram pronunciados.
Por mais musculoso que fosse, ainda era muito humilde. Tinha grande respeito pelos lutadores deste mundo. Seja um mercenário ou um cavaleiro, qualquer um com uma arma poderia lutar. Dito isto, a maioria deles não saberia lutar adequadamente com seus próprios corpos. Se dois homens lutarem um contra o outro com nada além de seus punhos nus, dariam socos diretos um no outro e observariam quem caía primeiro.
Como ex-treinador de academia, estava familiarizado com o uso de vários tipos de artes marciais. Sabia boxe, MMA, Muay Thai e Tai Chi. Não era um especialista, por assim dizer, mas o conhecimento que possuía o tornou um oponente formidável em qualquer tipo de combate corpo a corpo.
Se fosse um combate corpo a corpo, poderia facilmente derrotar Zach, que era muito mais alto e mais forte que ele. Força não é tudo, assim diziam. Com o poder da ciência esportiva ao seu lado, todos neste mundo pareciam desajeitados para Abel quando lutavam com nada além de seus punhos.
E com muita razão. Neste mundo, quase não havia necessidade de desenvolver qualquer sistema de combate corpo a corpo. Os maiores inimigos dos humanos eram os orcs. Brigar com aqueles monstros de frente era apenas suicídio.
E contra outros humanos, então? Bem, a realeza resolveu seus desentendimentos com duelos de espadas. Lutar sem armas era considerado inapropriado de certa forma, também muito desrespeitoso com o oponente.
Ao praticar algumas repetições de seus golpes padrão, pôde sentir um aumento significativo em sua força e velocidade. Foi bom e tudo, mas foi meio difícil se acostumar com essa melhora. Justo quando estava pegando seu copo de madeira para um gole de água, seus dedos o quebraram em pedaços.
Muito progresso poderia ter seus declínios, assim parecia. Mas tudo bem. Tinha doze anos agora, faltando apenas um mês para seu décimo terceiro aniversário. A essa altura, já teria feito a mesma conquista que Zach fez quando tinha dezoito anos.
Se preparando para sua prática de Tai Chi. Repetiu os movimentos que lhe foram ensinados, tentava se lembrar do que seus instrutores costumavam dizer. Pelo que conseguia se lembrar, o instrutor dizia que o Tai Chi é a melhor arte marcial para conter a força bruta. O Tai Chi significava reservar o próprio poder, mover-se em uma sequência ininterrupta de movimentos, ser capaz de escalar e descer ao mesmo tempo, e ter um ritmo natural enquanto cumpria todas essas condições.
Tratava-se de harmonizar todo o ser em um todo, o que era muito mais fácil falar do que fazer.
Abel teve que se acalmar após tomar aquela segunda poção. Em seguida, começou a reproduzir todas as 74 posturas de sua sequência de Tai Chi. A postura inicial, a postura tocar harpia, discernir entre o cheio e o vazio, até a 74ª postura. O Sol estava alto depois que terminou.
Como se viu, o Tai Chi não fez alguém ter um soco mais fraco. Só fez se parecer mais fraco do que realmente era. Com suas técnicas ativas, percebeu que estava muito mais fraco do que aparentava ao se olhar no espelho, se diminuísse, seria um Cavaleiro Iniciante de nível quatro. Mas se fosse ativá-lo, poderia aparentar estar em qualquer posição que desejasse.
Não podia fingir estar em um nível mais alto do que estava, isso era muito conveniente, é difícil dar uma explicação plausível de como se classificou duas vezes em apenas uma noite, mas ter uma camuflagem significava que não havia necessidade de fazê-lo. Poderia continuar se colocando no segundo estágio enquanto arrumava sua bagagem.
Vol. 1 Cap. 10 Partida
Era uma manhã fria no início de dezembro. Como as coisas estavam começando a ficar agitadas no Castelo Bennett, os servos tiveram que começar a limpar os estábulos logo após acordarem. Os cavalariços deram feijão aos dois cavalos da carruagem. Os faxineiros escovaram todas as espadas, armaduras e botas dentro da casa. Havia até uma nova rédea para o cavalo do Cavaleiro Bennett.
Enquanto Abel e seus servos saíam com a bagagem, seis lanceiros o esperavam em frente ao portão do castelo. Embora não grandiosos, estavam muito bem posicionados ao redor de uma fila de carruagens. Foi um pequeno desfile de despedida designado para a partida do jovem mestre.
Esses homens estavam todos vestindo armaduras de couro azul. Tinham botas altas até os joelhos e usavam chapéus de lã azul em cima de suas cabeças. Além de suas lanças de três metros de comprimento, tudo o que carregavam foi semeado dentro do Castelo. Embora a lã pudesse não ser protetora contra flechas, elas facilitavam prevenir feridas em um soldado.
Não havia muitas decorações no desfile. Além dos dois soldados pendurando a bandeira do Escudo Espinhoso na ponta de suas lanças, não havia nada que se destacasse em particular. Como o azul era a cor base do brasão da Família Bennett, todos os tecidos desse desfile, fantasias, cortinas e assim por diante, tinham que ter o mesmo tom uniforme.
Abel estava carregando a caixa em suas carruagens, o Cavaleiro Bennett montou em seu cavalo-de-batalha para fora do portão do castelo. Atrás dele estava a mãe de Abel, Nora, que tinha os olhos cheios de lágrimas enquanto Zach a segurava.
O Cavaleiro Bennett parecia solene. Sob o forte brilho do Sol, cada placa de sua armadura prateada estava brilhando em uma luz trêmula. Não estava usando o capacete, por algum motivo. Seu capacete e armas estavam pendurados em um lado de sua cela. Seu cabelo comprido estava preso em um rabo simples, que continuava se movendo enquanto o vento frio soprava.
Nora não disse nada a Abel. Continuou o observando, quase como se já tivesse lhe contado tudo na noite anterior, como se estivesse olhando para o tesouro mais precioso do mundo.
Garantidamente, Zach sempre soube que Abel iria deixar o castelo. Uma tradição que ninguém podia ir contra, e era por isso que sempre foi tão amoroso com seu único irmão. No entanto, não esperava que fosse embora tão cedo.
“Esta é a sua casa, Abel. Volte quando tiver tempo.”
Zach veio abraçar seu irmãozinho. Tecnicamente falando, Abel era tão forte quanto ele, mas o aperto era tão forte que parecia mais esmagador do que afetuoso. Abel esteve bastante calmo, mas sentiu que ia perder o controle neste momento.
O sol da manhã não parecia muito quente durante o inverno. Pelo quão alto o vento estava uivando, todas as bandeiras estavam balançando como se estivessem fora de controle. Não se sentou dentro da cabine da carruagem, ao invés disso, estava montado em uma égua de três anos bem no meio do desfile.
Devido ao tamanho da camisa de couro de seu pai, ele agora estava vestindo uma armadura de couro coberta de lã, carregando uma espada leve nas costas. Era tão leve que parecia quase inútil para um cavaleiro novato de nível quatro.
Abel virou-se para dar uma última olhada na sua mãe e irmão. Contudo, não conseguiu ficar olhando por muito tempo. No momento em que virou a cabeça, sentiu como se as lágrimas estivessem imediatamente brotando de seus olhos.
Como a sede não podia ficar desprotegida, poucas pessoas se juntaram ao desfile de despedida. Além de Abel e o Cavaleiro Bennett, havia cerca de 9 pessoas no total que deixaram o Castelo. Como o segundo melhor lutador no domínio, Norman ficou com a tarefa de gerenciar o Castelo temporariamente.
Os cavaleiros eram os mais baixos entre a realeza. Dito isso, não era qualquer um que se qualificaria para servi-los. Lealdade, confiabilidade, competência em combate e ser de origem nobre eram características cruciais para ser qualificado como subalterno de um cavaleiro.
Veja Norman, por exemplo, era irmão do Cavaleiro Bennett desde a guerra. Só recebeu o status de cavaleiro após ter sua lealdade confirmada, e aprendeu as técnicas secretas da Família muito mais tarde. Foi uma jornada gratificante para ele, para dizer o mínimo. Durante os anos de sua devoção, foi promovido de guarda regular a subordinado honrado de um nobre cavaleiro.
Muitos cavaleiros errantes estavam desesperados por um mestre com seu próprio território. Uma vez aceito, o cavaleiro chefe seria responsável por todas as despesas do dia-a-dia.
Isso incluía armas, armaduras e até mesmo a habitação dos subalternos. Com tanto em jogo, era preciso ser cuidadoso ao escolher seus subordinados mais confiáveis.
O desfile durou um total de seis horas. Além do intervalo de meia hora no horário do almoço, os homens não pararam de andar uma única vez. Felizmente, ninguém foi ousado o suficiente para ser um distúrbio. Até as feras podiam dizer o quão perigoso era o Cavaleiro Bennett.
Este foi o mais longe que Abel esteve de casa. Conseguia se lembrar vagamente dos onze anos da vida do verdadeiro Abel, e era a primeira vez que estava tão longe de casa. Infelizmente, não havia muito cenário para colocar os olhos. Além de algumas plantas perenes na beira da estrada, tudo parecia meio sombrio e sem graça por aqui.
Graças ao Espírito que não estava nevando. Por mais empoeirada que a estrada de terra pudesse ser, era uma escolha preferível do que caminhar em terreno molhado e lamacento. Pelo que tinha ouvido de outros, as estradas nas grandes cidades eram todas pavimentadas com pedras grandes e lisas. Por alguma razão, continuava a lembrá-lo das estradas de concreto do planeta Terra.
Quão bom seria se houvesse estradas de concreto neste mundo? Abel estava prestes a estender sua imaginação, mas também se lembrou de seu juramento de não fazer invenções. Como o sistema de irrigação que construiu para o Castelo Bennett, a criatividade sem proteção só traria desastre para ele e para os que o cercavam.
Como um homem adulto que recebeu educação moderna pelas costas de todos, Abel podia pensar mais rápido. E também era mais inteligente do que a versão de si na Terra. Seja luta, etiqueta ou qualquer coisa relacionada à cultura, poderia entender em um estalar de dedos. Foi quase como se tivesse recebido um “buff” quando chegou a este mundo.
Depois de um tempo, as estradas foram passando do solo para as calçadas portuguesas. O Cavaleiro Bennett não ficou surpreso com isso.
“Isso é o que torna o Cavaleiro Marshall Harry especial.” Disse o Cavaleiro Bennett a Abel enquanto apontava para o chão abaixo.
“Se houvesse uma montanha para minerar por aqui, ele teria usado pedregulhos gigantes para pavimentar as estradas.”
Enquanto olhava para a armadura brilhante de seu pai, as decorações recém-plantadas em seus cavalos e os novos equipamentos dos seis lanceiros que o acompanhavam, teve vontade de dizer.
Pai, se você fosse um pouco mais rico, tenho certeza que esse Cavaleiro Marshall não seria superior a você.