Capítulo 10: Trabalho Falso (2)
O homem era como um lago quieto com uma névoa crescente ao amanhecer.
Ele era frio e calmo.
Assim como a superfície de um lago inabalavelmente calmo, cada ação dele era contida, calma e significativa.
Até mesmo quando fechou a porta da sala de aula…
Mesmo quando subiu no pódio com seus sapatos…
Mesmo quando colocou os papéis na mesa…
Não teve nenhum som.
A quietude envolveu toda a sala de aula como uma ondulação na superfície da água.
— Oh…
Até mesmo os estudantes aristocráticos barulhentos foram dominados pela atmosfera e fecharam a boca.
Os alunos, que estavam calmos, olharam para o personagem principal que estava de pé no pódio com os olhos brilhando de curiosidade.
O terno que era adequado para sua figura graciosamente alta não tinha nenhuma parte amassada; a sobrecasaca preta dele se encaixava ainda melhor no corpo.
Era uma vestimenta elegante, mas não parecia muito chamativa.
O homem tirou o chapéu de seda da cabeça e o jogou levemente, então voou suavemente em direção ao cabide no canto do pódio e se fixou sem problema.
Com a série de gestos que pareciam tão naturais, seu rosto, que estava escondido pelo chapéu, foi finalmente revelado.
Ele tinha uma mandíbula distinta e um nariz reto, além de olhos inabaláveis.
Seus olhos intensos, mas carismáticos, eram aguçados o suficiente para que não parecesse um novo professor.
Seu cabelo, que era considerado longo para um homem, estava bem preso para trás.
Glup.
Alguns estudantes nobres, que estavam conversando pelas costas dele, foram dominados pela energia dele e engoliram em seco sem perceber.
— É um prazer. Meu nome é Ludger Chelysie, e eu sou o novo professor na Academia Sören.
No momento em que ele abriu a boca e levantou a voz…
Era como despejar água em manchas de aquarelas.
A atmosfera da sala de aula, que caiu em silêncio, voltou à realidade.
— Não vou começar a aula imediatamente porque é o primeiro dia de aula. Mas já vou logo avisando.
Pendurei lentamente a sobrecasaca no cabide.
Não foi difícil continuar a conversa. Só tive que recitar as palavras que me vieram à mente na hora certa.
Parecia algum tipo de encenação.
‘Sou um ator no palco, e os alunos são o auditório.’
‘Tudo o que tenho que fazer é seguir o fluxo em harmonia e continuar o monólogo naturalmente.’
O roteiro estava na minha cabeça.
— Minha aula é sobre conjuração mágica, mas não vou ensinar aquela conjuração mágica que vocês já estão acostumados. Vou me concentrar em aplicar magia na vida real além dos princípios, um pouco mais perto da prática real.
Enquanto eu analisava a plateia, pude ver várias pessoas se encolhendo.
Essa foi uma boa reação.
Como houve soldados que também se tornaram professores no passado, os alunos não acharam estranho eu manter esse tipo de tom e olhos intensos.
— E não só os segundanistas, mas os primeiranistas também podem se inscrever nesta aula. Em outras palavras, é uma aula conjunta para os primeiro e segundo anos.
A turma começou a murmurar assim que falei isso.
Todos os alunos na sala eram segundanistas, então não era de se estranhar a confusão deles.
Todavia, não era impossível porque não existia uma regra escolar dizendo que as aulas deveriam ser divididas por ano.
Assim que o barulho diminuiu, abri a boca no momento mais apropriado.
— Silêncio.
O barulho dentro da sala de aula desapareceu em um instante.
Os olhos de todos estavam olhando para mim novamente.
— Como estudantes do segundo ano, é natural reclamar de ter aulas com alguém do primeiro ano. Mas não se preocupem. Não vou pegar leve só porque são primeiranistas.
As palavras foram bem recebidas com respostas aliviadas aqui e ali.
O método de ensino da Academia Sören era mais como uma universidade do que um ensino médio se comparado ao sistema da Terra.
Só que também não era completamente igual ao de uma universidade, então dava para dizer que possuía uma vaga mesclagem. O sistema de pontos de prêmio e penalidade são exemplos típicos.
Os alunos de Sören escolhem as matérias que desejam fazer de acordo com suas especialidades e recebem créditos completando a disciplina.
Estudantes lá são chamados de prodígios onde quer que vão.
Mesmo que estejam no primeiro ano, não havia diferença significativa em relação ao segundo ano. Decidi focar nisso e conduzir aulas conjuntas para o primeiro e segundo anos.
Por quê?
Porque os segundanistas falariam inevitavelmente do novo professor quando se reunissem.
Por ser o professor recém-nomeado, eu que seria a curiosidade e o tema principal dos segundanistas, que já se conheciam há um ano, em vez dos colegas de classe, que estavam no mesmo ano que eles.
Mas e se os calouros, que acabaram de ser admitidos, frequentassem a mesma aula?
As preocupações dos segundanistas se voltariam para os calouros do primeiro ano.
Assim, o número de pessoas falando de mim certamente diminuiria.
Algumas reclamações surgiriam, mas os alunos não iriam tão longe.
A existência dos primeiranistas era uma espécie de cortina de fumaça e muro que os fariam não duvidarem das minhas qualificações como professor.
— Por que o senhor deixará os calouros frequentarem esta aula também?
Alguém levantou a mão e falou.
Olhei para a pessoa e vi que era uma garota com cabelos longos, loiros e ondulados até a cintura.
Seus olhos inabaláveis, que me encaravam, mostravam um forte senso de justiça.
As pessoas ao seu redor a reconheceram e conversaram depois. ‘O quê? Ela é uma criança popular?’
Ela parecia familiar quando a olhei melhor.
‘Esse rosto… Já vi em algum lugar.’
‘Alguém que me deixa desconfortável quando penso nela…’
Decidi responder já que a pergunta foi feita.
— Porque acredito que eles também mereçam uma oportunidade.
— O que o senhor quer dizer com “oportunidade”?
— Acho muito retrógrado apenas um ano selecionado poder assistir às minhas aulas. Essa nunca deve ser a atitude de um professor. Guiar a todos, independentemente do ano… É nisso que acredito.
Bem, ela me perguntaria por que não mencionei os outros anos mais avançados.
Claro que poderiam frequentar a minha aula se quisessem, mas duvidava que os terceiranistas iriam querer pegar uma matéria que já fizeram.
Na verdade, eu só podia proporcionar até o segundo ano.
— Claro, isso significa que minhas aulas não são restritas ao ano. Estou confiante de que é, sem dúvidas, diferente do sistema existente.
Bem, não é como se eu estivesse apenas dizendo isso sem pensar.
Preparei-me com antecedência para a aula.
Para um futuro pacífico, usei alguns conhecimentos que já sabia, então não tinha nada que eu não pudesse fazer.
— É difícil entender se o senhor não explicar melhor.
— Venha para a próxima aula se estiver curiosa. Não tem graça se eu contar.
Falei enquanto despertava intencionalmente a curiosidade dela, de modo que ela franziu a testa.
‘Foi mal, mas não pretendo contar agora o que estou prestes a ensinar.’
‘Pelo contrário, vou fazer cada um ficar impaciente e mais curioso.’
Com aulas que nenhum aluno sabe o que será ensinado, eles não poderão se sentir achando que já sabe de tudo.
— Mas já vou deixando algo bem claro: se tiver alguém que queira fazer minha aula com uma ideia tão absurda que sou um novo professor e que vou dar crédito facilmente…
Fiz uma pausa de propósito para recuperar o fôlego…
Então falei as últimas palavras com um tom forte.
— Então vou fazer com que se arrependam desse pensamento, esse é o meu dever como professor.
Resumindo minhas palavras…
‘Por favor, não venham à minha aula.’
Ter aulas com calouros feriria bastante o orgulho deles como segundanistas.
Até avisei que a aula não seria fácil, então aqueles com alta autoestima provavelmente passariam pela turma dizendo: — Não vou pegar essa aula!
Espalhei minas de tal forma que se pisassem em uma e explodissem, seria honestamente culpa da pessoa que pisou nela.
Claro, eu seria desclassificado como professor se falasse isso.
Assim, criei um buraco fundo no processo, tampando com uma causa razoável.
‘Tem um motivo para tudo. Vão saber quando estiverem na aula.’
Era diferente de fazer promessas irresponsáveis e vazias, mas o que eu poderia fazer?
Claro, essa era a única maneira que eu podia fazer isso, já que nunca tinha vivido de acordo com os padrões.
— Isso é tudo. Alguma dúvida? — Dirigi às perguntas aos alunos que podiam ter se preparado para levantar a mão a fim de argumentar comigo.
A sala de aula ficou quieta.
Quando Ludger perguntou se alguém tinha alguma dúvida, nenhum dos alunos levantou as mãos.
Todos estavam apenas revirando os olhos e olhando em volta.
Não é que não houvesse perguntas, mas as menores sobre como fazer as tarefas, qual é o currículo exato da aula ou o que seria ensinado; essas que todos já fizeram antes também eram muito boas.
Mas ninguém ousou fazer essas perguntas.
Todos ficaram impressionados com o espírito do Ludger Chelysie.
‘Esse é o novo professor?
‘Eles falaram que ele foi um soldado, essa atmosfera não é brincadeira.’
‘Dizem que ele chegou ao Rank 4. Isso é verdade?’
A pressão incrível de um jovem… Não era mera imaginação que se sentissem sufocados apenas por fazer contato visual com ele.
Até mesmo os estudantes aristocráticos, que o desprezavam por ser um aristocrata decaído, evitaram os olhos do Ludger e engoliram em seco.
Se as aulas avançadas fossem assim, como os outros alunos poderiam se atrever a se apresentar?
Isso era o que todos sentiam inconscientemente enquanto ouviam o discurso do Ludger.
Esse homem não mostrou nenhum descuido…
Seus olhos, sua maneira de falar e até mesmo seu tom de voz confiante…
Ele nunca poderia mostrar esse tipo de gesto a menos que estivesse realmente orgulhoso da sua aula.
O que raios ele ensinaria? Seria prática, já que não era teoria? Como ensinaria as práticas?
Tais pensamentos complexos se formaram e desapareceram como bolhas na cabeça de todos.
Mas uma coisa era certa:
Uma aula ministrada pelo professor Ludger Chelysie nunca seria fácil.
— Sem dúvidas?
Repetiu a pergunta.
Ele parecia alguém que queria uma pergunta, mas os alunos não foram enganados.
No momento em que levantassem as mãos e abrissem a boca, seriam esmagados pelo Ludger.
Seu olhar os encarava como se eles fossem uma presa… Sua vontade de não permitir nenhuma pergunta foi bem transmitida.
A garota loira, que levantou a mão antes, também ficou quieta.
— Sem perguntas… então o primeiro dia de aula acabou.
Primeiro dia de aula.
Foi assim que a apresentação de tirar o fôlego terminou.
Quando a apresentação terminou, os alunos se levantaram um por um e saíram da sala de aula.
Observei a cena cuidadosamente do pódio.
Falei tudo o que queria, então todos entenderam bem, certo?
Mas foi honestamente chocante que ninguém levantou as mãos quando perguntei se tinham alguma dúvida.
Até a noite anterior, eu tinha me preparado para responder todos os tipos de perguntas e até mesmo preparei as respostas, mas foi tudo em vão.
‘Bem, acho que só tem crianças com ego forte nesta academia, quem sabe?’
Imaginei que me achariam ridículo e que me inundariam de perguntas, mas será que pensei demais?
‘Não. Espera aí.’
Poderia ser o contrário.
‘E se eles me ignoraram de propósito?’
Acho que ocorreu alguns casos desses. Foi o que aconteceu com frequência na Coreia no século 21.
Quando um novo professor chegava, os alunos não davam nenhuma atenção e os desprezavam de propósito.
Isso foi mais frequente com as professoras em particular.
Era principalmente o jeito dos valentões da escola assumirem a liderança na aula em vez do professor.
Eles silenciosamente lançavam um murmúrio como “Ah, ele é muito barulhento”, e se o professor ficasse bravo, responderiam com “Mas eu tava falando de você?”; usavam essa técnica de negar o bullying.
‘Acho que deve ter acontecido o mesmo comigo, já que ninguém me respondeu.’
‘Hum.’
Tentei ser o mais sério possível para parecer assustador, mas será que causei o efeito oposto?
Talvez meus comentários e ações opressivos tivessem perturbado o orgulho dos estudantes que pensavam que eram gênios.
‘Então é um problema dos grandes.’
A maneira como os novatos desprezavam os superiores nas Forças Armadas, os subordinados desprezavam seus superiores no local de trabalho e os alunos desprezavam os professores na escola.
Era frequentemente descrito como ser devorado.
Era óbvio que, se alguém perdesse sua liderança no início, teria contratempos nas aulas futuras.
‘Será que devo ser mais amigável?’
‘Não, se eu for mais amigável do nada depois do que aconteceu, eles vão pensar que sou um maluco. Já que chegou a este ponto, acho que vou forçar até o fim.’
Não era minha praia sorrir e ser amigável.
Essa era a minha natureza, e as identidades que eu representava tinham esse tipo de personalidade.
E já fazia três semanas desde que cheguei…
Todos já sabiam que tipo de pessoa Ludger era. Seria ridículo mudar minha personalidade neste momento, quando eu era obviamente um soldado com registro militar.
Vesti meu chapéu e fui embora com a sobrecasaca que deixei no cabide.
Enquanto isso, os alunos restantes na sala de aula não se aproximaram de mim.
Não é que não sentiam nenhuma curiosidade sobre mim, porque percebi o jeito que me analisavam.
Pensei que eles me fariam perguntas comuns como quantos anos eu tinha ou se namorava, mas jamais imaginei que não falariam nada.
‘Essas crianças de hoje em dia são assustadoras.’
Sons de passos~
Caminhei lentamente pelo corredor, deixando a sala de aula a um ritmo tranquilo.
Foi o primeiro dia de aula de qualquer maneira, então meu trabalho chegou ao fim hoje.
O período de ajuste acadêmico ainda não tinha terminado, então qualquer um podia mudar as matérias se quisesse.
A primeira aula começaria em três dias.
‘Até lá, tenho que ver como vou dominar o rumo da aula.’
‘Devo pelo menos impedir que digam que não sou qualificado como professor.’
Pensando assim, olhei para a frente e vi todos os alunos que estavam andando no corredor olhando para mim e evitando meu caminho.
Quando os discentes me viram andando, ficaram surpresos e se afastaram para as paredes ou janelas.
‘O quê? Por que estão agindo assim?’
O rumor de um novo professor, que parecia uma presa fácil, já se espalhou por toda a academia?
Ouvi falar que existia uma comunidade nesta academia conhecida como “Toda Vez”, onde dava para trocar opiniões uns com os outros dentro da Academia, foi por causa disso?
Enquanto sentia que minhas aulas futuras seriam difíceis, alguém falou comigo.
— Oi.
Parei e olhei para a mulher que estava sorrindo ao falar comigo.
— Você é o novo professor, Ludger Chelysie, né?
— Sim, sou eu.
Ela era uma mulher bonita que se vestia toda de rosa e tinha um cabelo rosa com cachos leves nas pontas, além de um sorriso afetuoso que lembrava o sol.
‘Não acho que ela seja uma estudante, já que não está de uniforme.’
‘Será quê?’
Ela falou primeiro antes que eu pudesse descobrir qualquer coisa.
— Ah, como esperado! É um prazer. Meu nome é Selena. Você é um novo professor na academia Sören, né? Sou sua colega, Sr. Ludger.
— Ah. O prazer é todo meu.
Quando olhei para ela como se perguntasse que negócios tinha comigo, Selena olhou em volta um pouco envergonhada e falou baixinho:
— Bem… Já comeu?