Capítulo 19: Lynne, a plebeia (2)
Longe do centro de treinamento, fui direto para um lugar isolado.
Não vi nenhum aluno, talvez porque já passou do horário de aula.
Depois de olhar em volta e verificar que não tinha pessoas, peguei um comprimido do bolso com as mãos trêmulas.
‘Pensei que ia morrer tentando conter.’
Coloquei o comprimido na boca e o mastiguei.
Com um gosto amargo e puro que tocou a ponta da minha língua, uma mana intensa se espalhou pela minha boca.
‘Ufa, sobrevivi.’
Conforme a energia da droga se espalhava e a mana era fornecida ao meu cérebro, minha condição corporal lentamente se deteriorando retornou ao estado original.
O zumbido dentro do meu ouvido, que eu podia ouvir fracamente, também desapareceu imediatamente como se eu estivesse desligando um rádio.
Respirei fundo enquanto estava sentado em um banco.
O primeiro sinal tinha chegado quando parei no segundo centro de treinamento.
As pontas dos meus dedos tremiam e minha cabeça estava latejando com uma dor de cabeça.
Era algum tipo de doença crônica que eu tinha depois que vim para este mundo.
‘Eu ficaria em apuros sem os comprimidos.’
Mesmo assim, pensei que era suportável, então ia tomar o remédio logo depois de verificar o primeiro centro de treinamento.
Não imaginei que uma briga entre calouros aconteceria lá.
Espera, dava para chamar aquilo de briga? A tentativa unilateral de um lado de fazer uma emboscada não podia ser contada como uma briga.
Violência escolar.
Era uma situação em que a vítima e o agressor estavam claramente divididos.
Intervim a tempo e consegui evitar o pior.
Depois, comecei a falar de ação disciplinar e tal, mas senti a onda crescente se acumulando dentro de mim.
Tentei cuidar da situação logo e sair, quando senti o sinal no meu corpo avisando que estava na hora de tomar o comprimido.
Porém, surgiu um problema…
Quem imaginaria que ela seria insolente ao ponto de me chamar de aristocrata decaído?
Na hora, nem sabia se ela estava falando comigo, de modo que levei três segundos para perceber a realidade.
Perguntei-me se ela realmente quis dizer aquilo, até pensei em um monte de ladainhas longas e complicadas, mas minha mente não estava funcionando direito.
Contudo, o problema era que eu não poderia simplesmente sair depois de ouvir aquilo tudo, porque eu era um professor.
‘Por que ela teve que falar aquilo logo naquele momento?’
Se ela tivesse falado baixo ao ponto que ninguém tivesse ouvido, eu fingiria que não tinha ouvido, mas havia muitas testemunhas ao redor.
No final, precisei falar algo para proteger minha autoridade como professor, mas não consegui falar nada plausível porque minha mente não estava bem.
“O que você acabou de falar foi um desafio descarado à autoridade do professor.”
“Você pode ser encaminhada ao comitê disciplinar de acordo com os regulamentos da escola.”
“Pode receber uma penalidade ou ser denunciada à diretora.”
Bem, eu deveria ter dito esse tipo de coisa moral, mas não vieram à mente.
‘Então só falei o que me veio à mente na hora.’
Eu estava com tanta pressa que disse o que me veio à mente da melhor maneira possível para que minha imagem não fosse arruinada.
Na hora de falar, até tive dificuldade em manter a minha expressão, que queria franzir de dor.
Talvez meu rosto estivesse um pouco distorcido e meus olhos um pouco vermelhos.
‘Não será um grande problema, né?’
De qualquer forma, como a professora Selena chegou atrasada, deixei o resto para ela e saí do local com pressa e com sucesso.
Levantei-me do banco enquanto engolia os comprimidos, que ainda permaneciam na minha boca.
Fiquei feliz por ter sido apenas um sintoma precoce.
Se piorasse lá, outras pessoas poderiam ter notado minha peculiaridade.
‘Este é o último comprimido?’
Suspirei quando descobri que o frasco de remédio estava vazio.
Coloquei o remédio extra em um saco que preparei de antemão; Eu não sabia que isso aconteceria, visto que coisas deram errado no caminho.
‘Vou me encontrar com ele no próximo fim de semana… Sendo honesto, vai ser difícil aguentar até lá, então vou ter que escrever uma carta de novo e pedir para vir mais cedo.’
Caso contrário, teria que alugar uma farmácia privada e fazer eu mesmo, mas, nesse caso, ficaria em apuros porque seria registrado.
‘Não sei se posso durar cinco dias nessa situação.’
O período de cinco dias seria reduzido se eu usasse mana.
‘Espero que tudo ocorra bem até lá.’
Voltei a patrulhar, respirando fundo, enquanto minha mente gradualmente se esclarecia.
— Está tudo bem?
— Sim, estou bem. Obrigada pela preocupação.
— Não precisa disso; é o meu trabalho.
Lynne se curvou para Selena, que a levou para a enfermaria, mesmo que tenha recusado a oferta e dito que estava bem.
Selena sorriu com afeto e acenou com a mão, mas Lynne quis mostrar sua gratidão.
— Bem… Professora Selena.
— Oi?
— O que vai acontecer com ela?
— Com a Dynema, né? Hum. Também não sei o que vai acontecer com ela. Sou uma novata aqui também.
— Ah, é verdade…
— Mas de acordo com as regras preanunciadas da escola, não foi uma briga qualquer, mas sim algo unilateral, então acho que ela receberá uma ação disciplinar, mesmo que não seja expulsa da escola.
Seria bom se a Academia tomasse medidas disciplinares fortes contra alguém que fosse muito orgulhosa ou tivesse uma autoestima alta como Dynema.
Mesmo assim, ambas estavam vagamente cientes de que isso não aconteceria.
Tomaria uma punição branda porque ainda era uma caloura que não sabia de nada, mas, acima de tudo, deixariam isso passar, porque vinha de uma família condal.
— Por quê? Está aflita?
— Não, é só que… estou curiosa.
Sendo honesta, ela não sentiu pena da Dynema, depois de ter sido alvejada explicitadamente e ser alvo do ataque.
Devia ter o que merecia. Era bem surpreendente não ser expulsa da escola, mesmo com tudo o que fez.
Só perguntou porque ficou chateada.
— Você está preocupada?
— Oi?
— Sua expressão mostra tudo.
— Ah…
Lynne assentiu calmamente. Seus cabelos grisalhos balançaram em sintonia com seu movimento.
— É só que… quando eu vim para cá, foi mais intenso do que pensei. Pensei que Sören era um lugar cheio de sonhos e idealismo.
— …
— Mas percebi que não tinha nada disso depois que falei com os alunos nobres. Pode até ser punida, mas não há garantia de que algo similar não vá acontecer de novo.
— É… o que penso.
Selena concordou com a opinião da Lynne.
Embora Sören tenha dito que tanto a nobreza quanto os plebeus eram iguais, tal promessa raramente era devidamente protegida.
Mesmo que os professores também se tornassem mediadores entre os alunos da maneira mais neutra possível, não podiam falar nada sobre os problemas que surgiam quando os alunos se interagiam.
Alguns professores da nobreza até mostravam discriminação contra plebeus e favoreciam secretamente os alunos nobres.
Como resultado, algumas pessoas, que tinham um orgulho forte como nobres, desprezavam os professores apenas porque eram plebeus ou de uma família nobre decaída.
O abuso verbal da Dynema contra Ludger foi o resultado disso.
— Sim, honestamente, acho que ela passou do limite contra o Professor Ludger.
Selena estufou as bochechas com as mãos na cintura, como se para provar que estava com raiva.
Depois sorriu sutilmente ao olhar para Lynne, que arregalou os olhos como se não soubesse o que a professora falaria.
— Mas o Professor Ludger deixou passar como um mero aviso. Não podemos dizer mais nada.
— Não está com raiva?
— Claro que também estou com raiva, só estou tentando me conter. Mas tenho certeza de que foi o professor Ludger, que ficou mais sem jeito do que qualquer outro.
— Ah.
Lynne se lembrou da expressão do Ludger naquele momento.
Ela não conseguiu ver direito porque tinha uma sombra projetada no rosto dele, mas parecia bem assustadora.
Até o rosto da Dynema ficou pálido e fantasmagórico depois de olhar para aqueles olhos.
A princípio, já era um professor assustador na sala de aula, então não conseguia imaginar como ele ficaria quando estivesse com raiva de verdade.
No entanto, o professor Ludger disse que perdoaria o erro da Dynema apenas desta vez.
Devia estar mais furioso do que qualquer um…
Só que aguentou e deixou passar.
Não deixou passar só porque ficou com medo da família da aluna.
Pelo contrário, era mais como uma forma de misericórdia para guiar uma aluna que realmente faltava em muitos aspectos.
E acreditaram nisso porque Ludger a encarou com frieza o tempo todo em vez de ser intimidado pela Dynema.
Alguém com aquela expressão não recuaria só por causa da influência da família do outro lado.
Francamente, quando falou com Dynema enquanto dizia que era realmente um nobre decaído…
Lynne achou o comportamento dele inesperado na hora.
E também que ele parecia muito legal.
— Então vou acreditar nisso só uma vez. Tenho certeza que o que eles fizeram é errado, mas ainda não jovens, não são? Só pense que ainda tem uma chance de mudarem.
— Ah.
Selena coçou a cabeça.
— Hehehe. Desculpa. Falei que nem uma velha, né?
— Não. Professora Selena, você ainda é muito jovem. Sendo honesta, até parece que tem idade para ser a minha irmã mais velha.
— Nossa! Obrigada pelo elogio. Você é uma boa garota, Lynne.
‘Mas não é a verdade?’
Selena podia ter pensado que era velha, mas, de acordo com Lynne, ela era tão jovem que se pareceria com uma veterana se usasse um uniforme escolar.
Selena, que era linda e sempre sorria, já virou a paixonite de muitos alunos. Mas a verdade era que não estava ciente disso.
Ela se perguntou se as pessoas na casa dos 20 anos pensavam que eram tão velhas assim.
— Hum. Irmã mais velha, hein! Parece legal. Eu queria ter uma irmãzinha como você, Lynne.
— Eu também queria ter uma irmã como você, Professor Selena.
— Sério? Nossa, você é uma garota tão legal!
— Heheh. Então pode me dar nota extra na matéria de Estudos Espirituais?
— Vai depender dos seus trabalhos!
Selena riu ao responder a brincadeira da Lynne.
— Nossa, como o tempo voa. Vou dar uma olhada no resto da minha área de patrulha. Se tiver machucada, é para me contar, viu?
— Sim, pode deixar.
Selena saiu da enfermaria enquanto acenava com a mão.
Lynne, que ficou sozinha, olhou para sua condição física e saiu da cama, pensando que estava bem.
‘Pensando bem, o professor Ludger realmente me chamou pelo nome.’
Quando estava no centro de treinamento, usava roupas confortáveis em vez do uniforme que ficou sujo.
Obviamente, não tinha uma etiqueta, então ninguém sabia o nome da Lynne.
Mas Ludger Chelysie naturalmente chamou seu nome.
Ele disse “Lynne”.
‘Ele se lembrou do meu nome quando eu fui para aula dele?’
Para Ludger Chelysie, ela era apenas uma dos 80 alunos, uma plebeia que nem precisava ser notada.
Ainda assim, lembrou do nome dela.
De repente, ela se lembrou do que ele tinha dito para Dynema.
‘Todos os alunos são iguais em Sören.’
Assim como uma pedra que foi jogada na água calma, as palavras causaram uma ondulação na mente da Lynne.
Se ele tivesse dito apenas palavras vazias, ela não teria acreditado e ficaria bastante desapontada.
Mas Ludger não era assim.
Suas ações, seu princípio inabalável, sua voz…
Ele fez a Lynne sentiu esperança em Sören.
‘A primeira impressão que tive dele foi de um professor assustador.’
Mesmo que fosse um novo professor, ela não esperava muito quando fez a primeira aula.
Contudo, ficou surpresa com a inovação do código fonte mostrada pelo Ludger e percebeu que ele não foi nomeado professor em Sören apenas pelas palavras.
Mesmo assim, lembrando a atitude imprudente e audaciosa em relação à Flora…
Ela achava que ele era um professor tedioso em muitos aspectos.
‘Mas ele não é assim.’
Quando estava mediando a situação, acabou apenas avisando a aluna, mesmo tendo sido insultado.
Até perguntou a Lynne se machucou em algum lugar depois de salvá-la.
Apareceu do nada no momento de crise e a salvou. Foi apenas um momento passageiro, mas parecia que viu um príncipe montado em um cavalo branco nos contos de fadas.
Isso fez seu coração palpitar.
‘Não, o professor Ludger não pensa em mim desse jeito.’
Sim, não tinha nada mais vergonhoso do que ficar aflita sozinha sem motivo.
Ela estava lá para aprender magia, não para procurar esse tipo de encontro dramático.
Consegui voltar para minha acomodação sem problema, porque não me deparei com mais nada incomum na patrulha depois do incidente do primeiro centro de treinamento.
Quando voltei para a acomodação, enviei imediatamente uma carta para ele.
O conteúdo dizia para vir mais cedo, porque seria difícil aguentar até o próximo fim de semana.
Então, no dia seguinte…
A resposta veio no início da manhã.
O que estava escrito dentro da carta era simples:
Partiria imediatamente, porque terminou o trabalho mais cedo do que o esperado.
Vamos nos encontrar no dia seguinte.
O local do encontro era a zona industrial além da zona leste de negócios de Leathevelk.
Queimei a carta, achando que era um lugar adequado que ficava longe da vista das pessoas.
‘Hoje é sexta-feira. Amanhã é sábado, então devo aguentar um dia.’
Os alunos deviam estar no auge da empolgação porque era o primeiro fim de semana desde o início do semestre, mas será que aconteceria o mesmo tipo de incidente de ontem?
Enquanto pensava nisso, ouvi uma história estranha da professora Selena, que estava almoçando comigo.
— Você acabou de falar lobisomem?
— Sim, lobisomem.
Rumores sobre lobisomens começaram a circular em Sören.