Capítulo 20: Abraham Van Helsing (1)
A professora Selena, com novamente um sorriso resplandecente neste dia, assentiu com a cabeça em resposta à minha pergunta.
— Sim. Os rumores já se espalharam por todos os alunos. Um lobisomem que existe apenas em histórias urbanas de fantasma. Bizarro, né?
— …
— Não importa quantos gênios estejam reunidos aqui, pelo visto, ainda são todos alunos no fim. Não acredito que estejam mesmo preocupados com esse tipo de história de fantasma.
A professora Selena riu, dizendo que a imaginação dos alunos era fofa, mas eu não conseguia rir.
Foi dito que a primeira fonte do boato veio dos estudantes que saíram para a cidade vizinha de Leathevelk no dia anterior.
Era uma noite escura em Leathevelk quando o Sol se pôs.
O primeiro avistamento de um lobisomem foi quando viram uma sombra negra vagando pelos telhados dos edifícios entre a neblina noturna que estava diminuindo suavemente.
Neguei com a cabeça.
— Ainda são crianças, não são?
— Sim. — Claro, mas é um pouco fascinante ouvir que o lobisomem que viram fora da cidade também foi visto em Sören.
— Você disse dentro de Sören também?
Os alunos na escola começaram a ver coisas por causa dos rumores daqueles que viram o lobisomem?
— Sören é grande demais e, como é um lugar onde todos os tipos de magias são predominantes, fenômenos estranhos ocorrem por causa do poder mágico. Existem sete histórias de fantasmas na vida real, certo?
— Sete histórias de fantasmas?
— Sim, não sabia?
— Pelo visto, a professora Selena sabe muito sobre histórias de fantasmas.
— O-o quê?!
Foi apenas um elogio, mas por algum motivo a professora Selena reagiu com exagero.
Ela arregalou os olhos e corou as bochechas; seus cabelos também se levantaram um pouco nas pontas.
Olhei com curiosidade para a reação dela, e ela deu uma desculpa com pressa.
— Eu… não é que saí procurando por histórias de fantasmas na Academia Sören em particular! É só que… pensei em quais tópicos abordar para os alunos, então não é esse o caso, viu?
— Entendi, então se acalma.
Parecia que seus braços perderam o sentido visto que estavam tremendo de um lado para o outro, até parecia que esbarraria nos pratos e derramaria a comida, como se fosse desleixada.
— Nãão… Não é mesmo o caso.
Mas Selena continuou dando desculpas mais desesperadas, como se tivesse ficado temperamental com a minha atitude.
Quando pensei que era improvável que a hora do almoço continuasse assim, a professora Merilda interveio.
— Ah, agora que lembrei, Professor Ludger, ouvi dizer que você arrasou na sua primeira aula. É verdade?
— Do que está falando?
— Sabe… você mostrou aquela magia inovadora que encurta o tempo gasto para conjurar feitiços. Qual é o nome mesmo?
— Código fonte!
Selena também esqueceu que estava envergonhada e gritou essas palavras com chama nos olhos.
Seu grito foi tão alto que causou um silêncio momentâneo no refeitório exclusivo para professores.
A professora Selena baixou a cabeça quando percebeu seu deslize. Seus lóbulos das orelhas, que foram expostos entre o cabelo rosa, ficou vermelho brilhante.
Suspirei e assenti: — Sim, exatamente.
Quando assenti com a cabeça e confirmei, os olhares de todas as direções do refeitório se fixaram em mim.
Eram os olhares dos professores que comiam nas outras mesas.
Enquanto me perguntava por que estavam olhando para mim assim, a professora Merilda moveu a parte superior do corpo na minha direção e explicou de uma forma que eu pudesse ouvir bem.
— É porque todos estão interessados no seu feitiço.
— No meu feitiço?
— Fala sério. Vai fingir que não sabe? Não sabia que o feitiço que você mostrou na primeira aula já se espalhou por toda Sören?
— Hum.
Coloquei um pedaço de carne na boca e descobri como estavam as coisas.
‘Estão interessados?’
Desde o primeiro dia de aula, imaginei vagamente que seria assim.
Do ponto de vista das pessoas deste mundo, o código fonte, que pegou a ideia do método de programação de computadores do século 21, era simplesmente inovador.
Já esperava que o efeito dominó chegaria nos outros professores.
— Ouvi dizer que reduziu drasticamente o tempo de conjuração da técnica de feitiço. Pode mostrar aqui?
— Exatamente. Você vai ganhar muita grana se patentear esse feitiço na torre mágica.
A professora Selena também respondeu.
Bem, não era uma mentira. O feitiço do código fonte era o vento da mudança na sociedade mágica estagnada.
Na verdade, se eu oferecesse essa magia à torre mágica, onde existia o sistema de patenteamento de magia, nadaria facilmente numa piscina de dinheiro.
Claro, isso é ostensivamente senso comum.
— Não ligo para essas coisas.
Fingi ser humilde, mas sabia melhor do que ninguém por que não deveria solicitar uma patente.
Para aqueles que ainda não sabiam de nada, poderiam pensar que era ótimo mostrar a magia recém-desenvolvida à torre mágica, mas a realidade era bem diferente.
Havia definitivamente um sistema de patenteamento de magia na torre mágica.
Os magos sem dinheiro queriam ganhar dinheiro por meio do sistema de patenteamento, mas essa oferta ostensiva era só superficial.
Os feitiços só poderiam ser patenteados se fossem reconhecidos pela torre mágica…
O problema era que a maior parte da magia, que era geralmente submetida ao patenteamento, era criticada, enquanto a torre mágica dava todo tipo de desculpas.
‘Tudo bem se fosse só uma desculpa, mas tem gente que também abusa disso.’
Os outros professores novos ainda podiam ter uma percepção positiva da torre mágica, mas já vi com meus próprios olhos como são sujos e avarentos, então minha perspectiva era diferente.
O problema ainda existiria, mesmo que aqueles juízes velhos da torre mágica se deparassem com uma magia nova sem nenhum espaço para crítica.
‘Se você não tem nenhum apoiador de renome ou vem de uma família nobre, sua patente de magia será literalmente roubada.’
Ou, se o desenvolvedor ficasse insatisfeito com isso e não quisesse solicitar uma patente, seria arrastado para um lugar como um beco ou algo assim e forçado a conjurar o feitiço desenvolvido.
Isso já aconteceu.
Em outras palavras, o sistema nominal de patenteamento, que era promovido pela torre mágica, não passava de uma fraude ostensiva.
Sabendo disso, não ofereci o meu feitiço à torre mágica para ganhar dinheiro.
Era uma realidade óbvia ser expulso porque não tinha apoio, muito menos dinheiro.
‘Estou melhor como Ludger agora.’
Podia ser um nobre decaído, mas estava atualmente trabalhando como um professor em Sören, o que não era ruim em termos de reconhecimento.
No entanto, mesmo com a identidade do Ludger, a torre mágica poderia me pegar de surpresa, se eu baixasse minha guarda.
Um lugar onde a ganância dos velhos podres era tão desenfreada quanto a lama pegajosa.
Até mesmo eu detestava um lugar assim.
E o código fonte, que mostrei de propósito na Sören, foi algo que calculei meticulosamente.
Em primeiro lugar, os alunos espalhariam a conversa de que o feitiço inovador do código fonte foi criado pelo Ludger Chelysie, e a história circularia.
Os rumores continuariam se espalhando entre os estudantes e chegariam aos professores, e, mesmo entre eles, os rumores continuariam se espalhando fora de Sören.
Era assim que chegaria aos ouvidos da Torre Mágica.
Se eu baixasse a cabeça primeiro e pedisse uma patente, seria como oferecer o meu pescoço para ser cortado.
Contudo, se eles se aproximassem de mim porque estavam ficando impacientes com o advento da nova magia, então as nossas posições mudariam.
E, assim, o status do Ludger seria ainda maior.
Ele seria visto como alguém com um talento considerável em vez de só como um professor novato da Sören.
As pessoas não me desprezariam facilmente quando ouvissem meu nome.
Demoraria um pouco, mas não tinha nada melhor do que solidificar a minha posição.
‘Só que o problema é que os outros professores estão atrás de mim com os olhos em chamas.’
As coisas já estavam assim neste momento.
As professoras Selena e Merilda eram amigáveis, então deixaram passar, mas os outros professores estavam explicitamente me encarando com ciúmes.
Especialmente os olhos do Chris Benimore, um dos professores que foi recentemente nomeado comigo ao mesmo tempo, pareciam magmas ativos.
Seu olhar podia me matar desse jeito.
— Mas ainda é uma pena…
— Não me arrependo de mostrar aos meus alunos primeiro.
Eu me levantei do assento após falar isso.
Porque pensei que passaria mal se continuasse no local sob os olhares dos outros professores.
— Estou indo agora. Tenho que dar outra aula.
— Ah, sim! Boa sorte na aula!
— Até mais~
Assenti com a cabeça para as duas professoras, que se despediram de mim, e saí do refeitório exclusivo para professores.
Merilda semicerrou os olhos, enquanto observava o Ludger sair.
Ela pensou que ele era um cara legal desde a primeira vez que o viu, mas percebeu que era ainda mais incrível depois dessa conversa.
Ludger Chelysie… Esse homem tinha mesmo exibido o feitiço do código fonte, que até mesmo os outros professores estavam de olho, aos alunos primeiro.
‘Caso contrário, ele não teria mantido em segredo até mostrar aos alunos na primeira aula, muito menos revelar para a torre mágica.’
Do ponto de vista da Merilda, o comportamento do Ludger não era algo visto nos magos contemporâneos.
‘É um pouco estranho usar o termo “magos contemporâneos”, visto que sempre foram assim desde os tempos antigos.’
Porque eles eram muito cabeça fria, sem muita empatia, e por isso eram egoístas e desprovidos de consideração pelos outros.
Só que essas tendências pioravam muito com o tempo.
No mundo de magia desta época, até mesmo um professor não ensinava as coisas diretamente, porque não confiava nos alunos.
Ela sentiu isso, porque também teve uma experiência similar.
Mas e o Ludger?
Mesmo com um feitiço grandioso, não saía exibindo suas habilidades.
E o mais surpreendente foi que usou o feitiço na frente dos alunos.
‘Os alunos podem até ser jovens, mas se ficar mostrando o feitiço por aí, alguns alunos mais espertos podem pegar o básico da técnica.’
‘Ele não se preocupa com o feitiço sendo roubado?’
Existem dois motivos para fazer isso:
Primeiro, o feitiço era difícil de entender só vendo.
‘Ou…’
Não ligava se era roubado por alguém.
‘Naah, sem chance.’
Mas, se não fosse isso, como explicar a atitude dele de agora há pouco…
Não dava para explicar.
‘Não acredito que ele é um novo professor como eu.’
Quanto mais pensava nisso, mais mal se sentia sobre si mesma.
Merilda suspirou e virou a cabeça para o lado.
Selena, sua colega e amiga próxima, encarava inexpressivamente o assento do Ludger.
Ela estava curiosa também.
Merilda balançou a cabeça, pensando que não tinha o que fazer, então sorriu maliciosamente ao tocar o pescoço da Selena com as pontas dos dedos.
— Ei!
— Selena, no que está pensando? O que foi? Ficou chateada porque o professor Ludger saiu primeiro?
— P-professora Merilda? Do que raios está falando!
Era mesmo engraçado provocar a Selena.
Merilda pensou assim e a provocou mais um pouco.
Claro, precisou apaziguar a Selena depois, que ficou mal-humorada ao longo do caminho.
Sábado depois da aula de teoria.
Desde o meio-dia, quando o sol estava brilhando mais, eu já estava em Leathevelk, uma cidade próxima de Sören.
No início, parecia que estava numa caminhada simples para dar uma olhada nas cidades vizinhas, mas, na realidade, fiz isso porque eu tinha um compromisso.
O compromisso era à noite, então ainda faltava muito tempo.
Cheguei cedo para olhar ao redor e ver que tipo de lugar era Leathevelk.
‘A cidade em si parece muito esplêndida.’
Leathevelk, com engenharia mágica avançada, era uma cidade enorme onde o rio Ramsey, que se estendia por mais de 500 km, fluía pelo centro da cidade.
Os rios que fluíam e as inúmeras ferrovias no solo eram os vasos sanguíneos que instilava a vitalidade da cidade, e os moradores estavam cheios de vigor.
Leathevelk, que era o centro de todos os tipos de negócios, magia e engenharia, ganhou a reputação de ser a cidade mais desenvolvida, visto que ficava ao lado da Academia Sören.
Passei por “Vau Central”, a rua principal de Leathevelk.
Ao contrário dos outros distritos, havia homens e mulheres bem-vestidos aproveitando a vida.
Vau Central, um lugar que simbolizava o renascimento de Leathevelk…
Um complexo residencial habitado por pessoas ricas, as árvores à beira da estrada estavam lindamente cortadas, e carros a vapor e carroças de golem vagavam por todas as estradas.
Bebi café enquanto sentava no terraço de uma lanchonete calma.
A fragrância sutil dos grãos e o aroma do meu café se misturaram ao clima quieto da lanchonete, causando uma atmosfera estranha mesmo no fim de semana.
‘Tá tudo bem.’
Era um lugar lindo, e eu queria viver em um lugar como este, pelo menos, uma vez.
Seria natural começar a pensar na morte da bezerra aqui.
‘O preço para morar aqui deve ser caro.’
Depois que me levantei e paguei a conta, fui para a próxima área.
Era a “Grande Capela”, uma rua comercial com a maioria da população de Leathevelk.
Onde tinha uma catedral branca e enorme no estilo neogótico.
Era uma rua movimentada por um motivo, vi várias coisas que nunca vi antes reunidas nesta rua.
As máquinas emitiam vapor branco de um motor de combustão feito de latão, e os técnicos que trabalhavam com essas máquinas.
Crianças brincando com brinquedos mecânicos.
Pessoas que estavam ocupadas nas ruas enquanto tocavam acordeões, violoncelos e violinos, e os cidadãos que dançavam ao ritmo da música.
— …
Enquanto eu vagava pela cidade e dava uma olhada em vários lugares, o Sol estava se pondo e colorindo o céu com a sua cor quente.
Ding. Dong. Ding~
O sino de uma torre enorme de relógio soou pela cidade, sinalizando que já eram seis horas.
Desde o início da primavera, onde ainda havia vestígios de inverno, o Sol se pôs cedo, e o ar picando minha pele ficou rapidamente frio.
Fui para o compromisso, enquanto fechava o zíper do meu casaco preto.
Até agora, só tinha visto o lado bonito de Leathevelk, mas o lugar para onde eu estava indo era o oposto.
Sombras passavam pela luz intensa.
Era conhecido como o lugar sem escrúpulos da cidade.
Atravessei o vapor d’água que estava subindo da superfície do rio Ramsey, enquanto endireitava o chapéu de aba grande na minha cabeça.
Quando as nuvens, que eram da cor de chamas escarlates ardentes, flutuaram para o oeste e o céu azul-escuro cobriu toda a cidade de Leathevelk…
Fiquei em frente a um beco em uma área industrial nebulosa.
Onde não havia pessoas.
Os mendigos da rua desistiram de mendigar e voltaram para o lado profundo do beco, e foram para casa as crianças que trabalhavam duro para ganhar um salário diário, mesmo com a crise grave de tosse.
Eu era o único ali.
A luz escarlate das luzes da rua tocou a névoa e vagamente se espalhou.
No silêncio do vazio, esperei pelo meu conhecido, enquanto se encostava em um muro de tijolos todo sujo.
‘Ele falou que viria mais cedo, mas tá atrasado.’
Assim que pensei nisso, ouvi um som do fundo do beco, enquanto apoiava minhas costas.
Grrrrrrr~
Era um som que jamais poderia ser feito por um ser humano.
Tirei minhas costas do muro e encarei o fundo do beco.
Um par de olhos vermelhos surgiu dentro de um espaço estranho que estava meio misturado com uma neblina cinza e escuridão intensa.
‘Isso é…’
Lembrei-me do que Selena tinha dito no refeitório no dia anterior.
O rumor de que os alunos viram um lobisomem.
Ela continuou dizendo que era apenas uma história de fantasmas, mas eu não tinha certeza.
Quando vi isso, fiquei curioso com o que ela pensaria.
Nesse momento…
Ele se moveu na escuridão.
Estava vindo na minha direção num instante.
Percebi na hora e encarei intensamente o lobisomem.
Ergui o punho imediatamente e bati na cabeça dele.
Baam~
— Aaai!
Um grito ressoou brevemente no meio da neblina.
Olhei para o cara que se sentou na minha frente sem esconder seu rosto patético.
— E eu aqui me perguntando por que se atrasou, mas quem diria que foi para fazer essa palhaçada.
— Droga. Que seja, já faz um bom tempo. Não podia pelo menos se fingir de surpreso?
A pessoa que falou isso ao tocar a cabeça era o conhecido que vim encontrar, que também poderia ser chamado de meu subordinado.
— Há quanto tempo, Hans.
— Quanto tempo.
Ele era a causa do boato de lobisomem entre os alunos.