Capítulo 21: Abraham Van Helsing (2)
— Hum, mais importante…
Ludger interrompeu Hans quando ele estava prestes a dizer seu nome verdadeiro.
— Agora meu nome é Ludger. Me chame de Ludger Chelysie.
— Ludger Chelysie? Ah. Pensando bem, você também usou esse nome quando me enviou a carta. O que diabos aconteceu? Por que não me encontrou na capital onde deveríamos nos encontrar?
— É uma história longa. Mais importante…
Ludger balançou a cabeça enquanto olhava para Hans.
— Você já causou incidentes e nem passou tanto tempo, hein. Que tipo de aparência é essa desta vez?
— Droga. Quem você acha que gostaria de ser assim?
A aparência atual do Hans parecia um lobisomem que poderia fazer qualquer um andando na rua gritar e fugir.
Claro, só porque estava escuro, porque, se vissem essa aparência na luz do dia, sentiriam uma estranheza em vez de fugir.
A aparência do Hans não tinha nenhuma ferocidade peculiar de um lobisomem.
Na verdade, até possuía uma fofura que não combinava com o seu tamanho.
— Foi mordido pelo que desta vez?
— Não faço ideia. Era algum tipo de cachorro castanho e peludo. Quem imaginaria que ele me morderia logo depois de pular dos braços de uma senhora?
— Sei aproximadamente que tipo de raça de cachorro é só por essa aparência.
Hans, que tinha a forma de um meio-humano e meio-fera, possuía pelagem castanha.
No entanto, a pelagem castanha não era de uma cor escura e opaca de um lobo selvagem, mas sim um castanho mais claro e brilhante.
Sobretudo, a forma do rosto era muito diferente da de um lobo. Ele tinha um focinho mais curto, que a cabeça longa de um lobo, e olhos maiores.
A verdade era que parecia um spitz-alemão famoso por sua fofura como animal de estimação.
O filhote peludo que Hans disse que o havia mordido era um spitz-alemão.
— Já sinto isso há um bom tempo, mas você nasceu com um tipo de corpo muito interessante.
— Droga. Não zombe das dificuldades dos outros. Eu me pergunto se fui realmente amaldiçoado.
Hans era um ser humano que nasceu com um tipo de corpo bastante incomum.
Quando um animal o mordia, os genes desse animal eram expressos no seu corpo, de modo que sofria uma mutação na sua forma.
O lobisomem lendário cuja pele humana era repentinamente rasgada e ganhava uma selvageria quando via a lua cheia…
Esse era o Hans.
‘Mas devo dizer que é uma falha ele ser diferente dos lobisomens comuns?’
“Lobisomem” significava se transformar apenas em um lobo, assim como o nome sugerido, e só ocorria mutação quando a lua cheia aparecia, mas esse não era o caso dele.
Hans ficava inalterável mesmo quando via a lua cheia, só sofria uma mutação forçada quando era mordido por um animal.
Transformando-se no animal que o mordia.
Ele seria um lobisomem se fosse mordido por um lobo.
Seria um tigresomem se fosse mordido por um tigre.
Da mesma forma, seria um ursisomem se fosse mordido por um urso.
Hans, que podia sofrer mutação desse jeito, tinha um poder enorme.
O problema era que nasceu na geração errada.
‘Onde estão os lobos, tigres e ursos nas cidades nesta era atual, onde a civilização e a ciência se desenvolveram?’
Era necessário ir a uma montanha perigosa e profunda para achar esses animais.
E era ridículo o pré-requisito que só podia se transformar quando era mordido.
Acabaria morto se fosse mordido por uma fera selvagem, muito menos se transformar, então como poderia se transformar quando era mordido?
Se não quisesse morrer, era melhor esquecer a ideia de se transformar em algo mais selvagem.
Como resultado, Hans só podia se transformar em animais na cidade que poderiam ser facilmente encontrados, sejam eles gatos de rua, cães selvagens ou animais de estimação criados por damas nobres.
Parecia que seu tipo de corpo incomum tinha algum tipo de efeito, já que os animais corriam para ele assim que o viam.
Não importava se algo como o pelo de um animal apenas tocasse sua pele.
Essa habilidade amaldiçoada despertava, assim que era mordido por algum animal atraído.
Não existia algo como sofrer mutação por vontade própria.
Também não existia um jeito de controlar essa habilidade.
Se Hans baixasse a guarda mesmo por um pouco, seria mordido por um animalzinho e forçado a sofrer uma mutação na forma de um meio-humano e meio-fera.
Assim como sua aparência na frente do Ludger neste momento.
Um poder estranho que é diferente da magia.
O que Hans tinha parecia mais um superpoder.
— Pega.
Ludger pegou uma injeção contendo um produto químico verde do bolso e jogou para Hans.
Hans agarrou apressadamente a ampola com as duas mãos e a injetou diretamente no antebraço com um rosto feliz.
E então uma mudança ocorreu imediatamente.
Seus pelos grossos e crescidos encolheram, e seu tamanho grande diminuiu gradualmente.
O rosto brilhante e fofo do spitz-alemão também mudou para um homem de aparência um pouco maligna.
De volta ao estado original, Hans tocou seu corpo aqui e ali e suspirou de alívio.
— Ufa. Se não fosse por você, eu teria passado por muitos problemas por mais alguns dias.
— Parando para pensar, é verdade.
Ludger conheceu Hans há muito tempo.
Naquela época, estava sendo perseguido por todos os cantos, sendo chamado de monstro porque não conseguia controlar seu próprio corpo.
Mesmo assim, se tivesse o poder de se transformar numa fera, poderia fingir ser o rei do beco, mas era um homem que não podia lutar, só vagava de um lugar para outro para evitar perseguições.
Hans teve uma sorte única naquela vez por conhecer Ludger.
— Quase morri quando te conheci.
— Realmente. Eu pensei que você era um Criptídeo que estava vagando pela cidade.
Um Criptídeo era uma criatura misteriosa que aparecia implicitamente em todas as cidades agora que os monstros tinham desaparecido.
Eram algum tipo de resquícios de monstros.
Em comparação com os monstros na realidade, pareciam mais um fenômeno sobrenatural.
Feras mágicas, espirituais e outras estranhas… Ou também seres que regiam a emoções negativas e poder mágico, encorporando-os.
Isso era um criptídeo.
Ludger também conheceu Hans porque ele foi convidado a erradicar os criptídeos.
Mas quando o conheceu pela primeira vez, Ludger ficou bastante surpreso quando percebeu que não era o lobisomem que imaginava.
Isso porque Hans naquela época era um meio-humano e meio-fera que tinha uma forma semelhante a um Chihuahua.
Era um homem-chihuahua.
— Fiquei muito surpreso quando descobri depois que você era um humano com uma capacidade decente de fala.
— Ficou surpreso com isso? Eu que fiquei surpreso pra caralho com a sua habilidade de desenvolver a cura em pouco tempo.
— Não é uma cura. É mais como um neutralizador.
— Bem, que seja.
Hans bufou.
— Se não fosse por esse medicamento que você criou para mim, é bem capaz que teria sido caçado em algum beco.
Ludger assentiu, porque não tinha como negar essa afirmação.
— Desta vez, você disse que seu pseudônimo é Ludger Chelysie. E um professor na Academia Sören? Quando criou essa identidade do Ludger Chelysie? Parece um pouco caótica. Não imagina como fiquei surpreso ao ler que você se tornou subitamente um professor de Sören.
— É uma história um pouco longa.
Ludger explicou como se tornou um professor de Sören, começando com o ataque terrorista ao trem de engenharia mágica.
Hans acabou caindo na gargalhada depois de ouvir tudo.
— Kekek. Hahahaha! Você é mesmo incrível. Como conseguiu falar que Ludger naquela situação?
— Precisei falar para sobreviver.
— Se fosse eu, teria gaguejado e agido com muita suspeita. Pior ainda, Ludger era originalmente um membro de uma sociedade secreta não identificada?
— Ele também é um executivo chamado de Primeira Ordem.
— Hum, Primeira Ordem… Primeira Ordem, hein.
— Você sabe alguma coisa sobre isso?
Hans ficou imerso em reflexão, enquanto acariciava o queixo.
Era seu hábito quando tentava pensar em algo.
— Bem, acho que já ouvi falar. Na verdade, tenho certeza que já. Você já ouviu falar da turbulência recente no submundo do Império?
— Não. Ainda não.
— Bem, é bem recente, então é normal não saber. Dizem que tem um monte de caras novos lá, mas eles são todos muito fortes e loucos. Ah, bem, esses caras se chamam de membros ou o que seja e classificam cada um deles com alguma coisa Ordem.
— Só pode ser eles. Qual é o nome da sociedade?
— Eles são chamados de Grupo do Amanhecer Negro. Algumas pessoas os chamam de Sociedade do Amanhecer Negro.
O Grupo do Amanhecer Negro ou a Sociedade do Amanhecer Negro
Ludger refletiu sobre o nome.
Os caras envolvidos com ele definitivamente não eram normais, nem amadores.
Eles plantaram muitos dos membros na Sören, assassinaram os funcionários, esconderam a identidade e até fizeram uma infiltração.
Deviam ser pessoas extremamente vigilantes.
— Tem mais alguma informação sobre eles? —
— É muito recente, então não sei os detalhes. Só sei o nome da organização e a classificação deles, mas você acabou de se tornar o Primeira Ordem deles?
— Não é que eu tenha me tornado o Primeira Ordem. É uma situação em que tenho que usar a máscara do Primeira Ordem original.
— Você teve sorte que não estranharam o seu rosto, mas não vai ser pego se cometer um erro?
— Vou.
E, se ele fosse pego, seria torturado de uma forma que ia além da imaginação.
Ludger estalou a língua e vasculhou os bolsos.
— Então eu tenho que me preparar.
Ludger pegou o frasco de pílulas e tentou pegar uma, mas percebeu que tinha tomado todas no outro dia, então estendeu a mão para o Hans.
— Minha maleta.
— Ah, eu trouxe.
Hans trouxe uma maleta preta escondida no escuro do beco e entregou na mão do Ludger.
Confirmou que sua maleta estava intacta.
— Então você não abriu.
— Acha que pirei de vez para abrir a sua bolsa? Eu não poderia abrir mesmo se quisesse.
Hans ficou irritado e negou a frase meio brincalhona do Ludger.
— Eu sei. Mais importante, você viu Sheridan?
— O garotinho? Bem, é claro que fui ver de antemão. Afinal, ele já estava esperando por você no Império antes.
— Foi mal.
— Não precisa se desculpar. Quem adivinharia que as coisas chegariam a esse ponto?
Ludger abriu a maleta e examinou todos os itens pessoais dentro.
Ainda estava igual a quando organizou e colocou a bagagem na maleta antes de enviá-la.
Ludger pegou duas pílulas do frasco e tomou.
Hans olhou para Ludger com um olhar um pouco lamentável.
— Você também está sofrendo muito.
— Bem, você não é o único.
— Bem, eu também sofro, de fato, mas, pensando bem, nós dois já viramos dependentes de drogas.
— Mas, ao contrário dos narcóticos, temos sorte que nossas drogas não causam efeitos colaterais.
— Então, quais são seus planos futuros? Tem algum método? Ludger é uma identidade involuntária, então deve ter muitas restrições.
— Vou pensar nisso depois.
A princípio, tinha a intenção de usar o poder de Sören para controlar ou perturbar os planos dele, mas isso por si só não parecia ser suficiente.
Era muito otimista esperar que Sören sozinho cuidaria da Sociedade do Amanhecer Negro.
Ele também precisava se mover mais ativamente e erradicá-los.
— Hum.
Ludger, que estava tentando trancar a maleta de novo, perguntou do nada para Hans porque se lembrou de uma coisa.
— Hans. Se você chegou aqui há dois dias, por que não avisou para eu ir te encontrar antes? Por que me pediu para esperar por mais dois dias?
— Como assim?
— Por que ainda pergunta? Rumores se espalharam por todo Leathevelk que um lobisomem apareceu à noite há dois dias. Teve até alguém que te viu em Sören.
— Hã? Do que está falando? Acabei de chegar em Leathevelk.
— O quê?
Ludger perguntou de volta sem perceber.
Foi o mesmo com Hans.
— Espera, tinha rumores de lobisomens em Leathevelk? Antes mesmo de eu chegar?
— Sim. Pensei que era você.
— Não, só cheguei aqui hoje. E você conhece minha personalidade. Se eu tivesse vindo anteontem, teria pedido para me encontrar imediatamente. Por qual motivo eu ficaria aqui por dois dias?
Os dois homens ficaram sem palavras por um momento.
Então quem foi a causa do boato de lobisomem?
Auuuuuu~
Naquele momento, um uivo foi ouvido além da escuridão nebulosa.
Em uma sociedade civilizada, não deviam mais enfrentar os perigos de animais selvagens.
Não tinha como os dois homens presentes não identificarem o uivo de uma fera tão icônica.
— Ei.
— Sim.
Ludger encostou as costas na parede e ficou de guarda, observando os arredores.
O som de algo se movendo rapidamente com respirações ásperas no vento ecoou nos seus ouvidos.
— É mesmo um lobisomem.
— Então não era um boato. Era verdade?
— Talvez.
Naquele momento, Ludger e Hans olharam para cima ao mesmo tempo.
Entre as fábricas que foram construídas com tijolos…
Conseguiram ver uma sombra escura atravessando rapidamente os telhados.
Dava para ver traços de uma fera com pelagem negra e com um brilho vermelho-sangue nos olhos.
O cheiro distinto e nojento de uma besta que picava a ponta do nariz.
Seus instintos sentiram que não era falso.
— Caralho, é real… Vamos vazar daqui agora? Acho que não nos notou ainda — Hans perguntou enquanto afastava com as mãos os arrepios na sua pele.
— É só uma questão de tempo.
O lobisomem estava se movendo rápido.
Mas não estava muito longe. Atualmente, estava vagando pelas fábricas da área industrial.
Procurando por presas.
‘Parece que tem algo preso no pescoço do lobisomem.’
Quando viu a aparência do lobisomem naquele breve lampejo…
Os olhos do Ludger tinham penetrado a névoa espessa e examinado claramente o lobisomem.
O que chamou sua atenção foi algo semelhante a uma etiqueta de identificação que estava pendurada no pescoço.
‘Pertencia a alguém que ele comeu? Não. Parecia mais uma coleira.’
Talvez tivesse se enganado.
Podia estar enganado porque só teve um instante para ver.
Mas ficou perturbado com o fato de que o lobisomem apareceu em Leathevelk e que os rumores se espalharam em Sören.
— Hans, acho que vou ter que verificar.
— Verificar? Não me diga que você vai pegar esse lobisomem?
— Tem algo suspeito nele. Parece que alguém o criou artificialmente e o soltou nas ruas.
— O quê? Que inferno…
— Vou ter que dar uma olhada agora.
Ludger falou isso e pegou os itens um por um na maleta.
Colocou um cinto de couro ao redor da cintura. O cinto multifuncional estava cheio de coldres vazios.
Ludger colocou todos os tipos de coisas nos espaços vazios do cinto, um por um.
Armas de arremesso, armas de combate corpo a corpo, garrafas com produtos químicos.
Por último, dois revólveres pretos.
Clack~
Ludger verificou as armas de fogo rapidamente e as colocou nas costas.
Click~
Até equipou manoplas com dispositivos mecânicos em ambos os braços.
Olhando para Ludger colocando os equipamentos um por um, Hans se lembrou da vez que o conheceu.
— Já faz um tempo desde a última vez que te vi usando os equipamentos.
Apesar da adição de todos os tipos de equipamentos, a aparência do Ludger não tinha mudado.
Como tal, as ferramentas que usava eram objetos muito secretos e aparentemente discretos.
— Foi quando ainda era um caçador de criptídeos? Não usava também um pseudônimo na época?
— Tem razão.
— Qual era o seu nome naquela época? Você usou tantos pseudônimos. Não lembro direito. Va… Van o quê?
— Van Helsing.
Com todo o equipamento equipado, Ludger se levantou, enquanto fechava a maleta.
Seu rosto foi sombreado pelo chapéu.
— Abraham Van Helsing.
Era o nome que Ludger usava quando era caçador.