Capítulo 28: Lobisomem (3)

— Oi?! E-espere! Não deveria perguntar se estamos bem em situações assim?

Elendil pensou ter ouvido errado as palavras do Ludger.

O professor que as salvou do lobisomem disse que daria pontos de penalidade assim que as viu.

Realmente quebrou o clima, mas foi muito injusto do ponto de vista da Elendil.

— Elendil. Por que você está gritando?

— Recebi permissão de outro professor…!

— Silêncio. Mesmo com permissão, só pode fazer isso se não tiver perigo. Não percebeu como as coisas estavam prestes a acabar?

— B-bem…

— Sua boca ainda se move, mesmo que não consiga mover o corpo direito.

— Urk.

Ludger era implacável mesmo contra uma princesa.

Elendil não podia refutar o que Ludger disse.

Só pôde andar no meio da noite por causa do status de princesa.

Podia deixar os alunos cabisbaixos e mandá-los de volta ao dormitório com facilidade por causa do status de princesa.

Porque a própria Elendil, como princesa, tinha um senso de responsabilidade para impedir que os alunos ficassem em perigo e estava preocupada com esse papel.

Só que a realidade era que precisou ficar em perigo primeiro para perceber que as suas prioridades estavam erradas.

Percebendo isso, Elendil mordeu os lábios e cerrou o punho.

Não tinha nada de errado com o que o Ludger disse.

— Então… pelo menos remova os pontos de penalidade dela.

— O quê?

Os olhos do Ludger se voltaram para Lynne.

Quando reconheceu a garota, cujos ombros estavam tensos, logo olhou para o livro que ela estava segurando nos braços.

— Lynne.

— Sim, sim. Professor Ludger.

— O que você estava fazendo que não voltou ao dormitório?

— Bem, é que…

— Reconheço seu entusiasmo em estudar, mas não sabe que será um incômodo para os outros em situações como essa?

— Desculpa…

Ludger negou com a cabeça.

Só ficaria esgotado emocionalmente com qualquer coisa que fosse dizer, e também não existia uma solução fundamental.

— Elendil.

— Sim.

— Você deve assumir a responsabilidade pela Lynne e levá-la de volta ao dormitório. Se fizer isso, vou retirar os pontos de penalidade que acabei de dar.

— Oi? É sério?

— Preciso repetir?

— Não… Já entendi.

Elendil respondeu que faria isso, mas não conseguiu se livrar da curiosidade repentina.

‘Espere. Por que há tanta diferença entre o jeito que ele fala comigo e com a Lynne?’

Ele criticou e a mandou tomar juízo, mas falava com a Lynne de um jeito mais preocupado.

Enquanto pensava se deveria discutir sobre isso ou não, o lobisomem, que foi queimado, pulou.

— Pr-professor! Lá!

— Eu sei.

Ludger olhou para o lobisomem enquanto estava em posição de proteger Lynne e Elendil.

A maioria das feridas que foram infligidas pela magia já se curaram, mas ainda estava atordoado por causa da dor.

O lobisomem, que estava olhando para eles com uma hostilidade ilimitada, de repente se moveu.

Não para avançar neles, mas para fugir.

— Ah! Tá fugindo!

Ao mesmo tempo em que Lynne gritava, Ludger perseguiu o lobisomem.

Ele não tinha a mínima intenção de deixar o lobisomem escapar.

Lynne e Elendil ainda não tinham notado, mas tinha uma coleira amarrada no pescoço do lobisomem.

Foi uma sorte a coleira estar tampada pelos pelos, de modo que não dava para ver direito.

Só que seria difícil destruir essa evidência, se outra pessoa descobrisse.

Ludger saiu do lugar com mana nas pernas.

Enquanto perseguia pela grama escura e atravessava o jardim, podia ver o lobisomem rastejando pelo telhado na parede externa do prédio de pesquisa.

Suas unhas afiadas facilmente cravaram nas paredes externas do edifício, e seu corpo enorme logo alcançou o telhado cheio de pináculos.

‘Não vou deixar escapar.’

Ludger imediatamente usou seu lançador de fios para voar verticalmente no ar e chegou no telhado.

Elendil e Lynne, que ainda estavam observando a cena de longe, ficaram surpresas e boquiabertas.

— Foi uma magia de voo?

— Tal… vez?

Magia de voo que poderia ser implementada pela liberação da conjuração de mana.

Não conseguiram acreditar na capacidade de controle de mana do Ludger, que poderia usar naturalmente enquanto corria.

As duas, que não conseguiram ver o lançador de fios porque estava escuro, viram todo o movimento do Ludger como parte da magia dele.

As duas silhuetas no telhado se encararam.

Embora não fosse claramente visível porque estava longe, não era difícil distinguir Ludger entre os dois pelo tamanho e aparência aproximada.

— Ah. A lua cheia.

O céu ficou limpo, e logo uma luz prateada e suave caiu nelas como a bainha de uma cortina.

Era uma noite de lua cheia.

Ludger se moveu primeiro enquanto se equilibrava no telhado do edifício cheio de pináculos.

O lobisomem também correu na direção dele.

Os dois colidiram e uma luta acirrada irrompeu.

— Uau.

— Meu Deus.

Lynne e Elendil assistiram à batalha do Ludger, esquecendo que precisavam sair.

Tinha algo no estilo de combate dele que tornava difícil tirar os olhos.

Sob o luar, Ludger se moveu como um dançarino e evitou os ataques do lobisomem.

Os ataques fizeram a pele delas estremecer, embora estivessem longe da batalha.

Contudo, nenhum deles tocou o corpo do Ludger.

E seus feitiços brilhantes que foram conjurados no meio da abertura dos ataques do lobisomem…

Fogo, gelo, vento. Os elementos dos feitiços estavam sendo disparados como uma flecha.

Os feitiços eram magia de segundo grau, mas atingiram exatamente as partes vitais do lobisomem.

‘Falaram que ele estava no exército antes de vir para cá.’

Elendil lembrou o que sabia sobre Ludger Chelysie.

Não estava particularmente interessada nele, mas a sua empregada trouxe os dados dele por precaução, então leu tudo para matar o tempo.

Então se lembrou de que Ludger Chelysie esteve no exército e teve uma conquista militar na caça aos Criptídeos.

As frases que foram escritas no histórico dele…

Estavam agora se desdobrando na frente dos olhos dela.

Elendil viu um mago que lutava pela primeira vez.

Espera, dava para chamar isso de luta de mago?

Era mais controlado, organizado e meticuloso.

Em vez de um mago, seu estilo de luta era mais parecido com o de um soldado, ou talvez mais parecido com um caçador que mirava seu objetivo com precisão.

Gaaah~

O lobisomem rolou no telhado com um som estridente e escorregou no declive.

Ludger não perdeu a chance.

Era um predador que nunca perderia a abertura criada pela presa ferida.

Sua aparência ao usar magia para atacar o lobisomem parecia mais semelhante ao próprio lobo.

Whoosh~

As presas de gelo, que Ludger disparou, perfuraram o peito do lobisomem.

Três lanças de gelo do tamanho de um punho penetraram o corpo do lobisomem e o empalaram no telhado.

Não importa o quão resiliente o lobisomem fosse, estava fadado a morrer imediatamente com essa ferida.

A luta tinha terminado.

‘Ufa, cansei.’

Ludger percebeu que tinha consumido uma quantidade considerável de mana para lidar com o lobisomem.

‘Mas não é bom usar muita magia.’

Ele ficou feliz por ter sido capaz de encontrar Hans e pegar seu remédio novamente. Caso contrário, estaria em apuros agora.

A princípio, não teria que usar magia para lidar com esse lobisomem.

Tinha diversos modos mais eficazes do que consumir mana inutilmente.

Sua deterioração da condição corporal também desempenhou um papel no consumo de mana.

Mas o problema era que estava em Sören.

Havia alguns olhos o observando de vez em quando.

‘Um professor de magia é obrigado a usar magia na frente dos alunos.’

Primeiro de tudo, era um professor da famosa Sören, então se usasse as ferramentas ou métodos que costumava usar nos dias em que era um caçador e não magia, então desconfiariam dele.

‘Vou ter que finalizar isso logo antes que fique mais problemático.’

Ainda tinha outro lobisomem escondido em Sören.

Precisava terminar seu dever de se livrar dos lobisomens nesta noite.

Gaaah~

Quando Ludger se aproximou lentamente da fera, o lobisomem cambaleante ergueu subitamente o braço.

Ainda estava um pouco longe da criatura, então mesmo que o lobisomem balançasse os braços, não seria capaz de alcançá-lo. O que ele ia fazer?

A pergunta do Ludger foi respondida assim que viu o lobisomem jogando os detritos do prédio.

‘O quê?’

Foi uma sorte ter ficado de guarda, só por precaução.

Ludger construiu barricadas ao redor do corpo liberando sua mana imediatamente.

Os detritos que voaram como uma flecha foram ricocheteados, mas o problema era que o lobisomem ganhou tempo para o próximo movimento.

Ele imediatamente levantou as mãos e bateu no chão do telhado com força.

Crack~

Devido à força muscular poderosa, uma parte do telhado desabou e seu corpo caiu de lá.

Os detritos se espalharam e uma nuvem de poeira subiu ao redor.

Ludger semicerrou os olhos com essa cena.

‘O lobisomem está usando os arredores como ferramenta?’

Não importa o quão artificial essa criatura não-criptídea fosse, ainda foi baseada em um lobo, então seu instinto de animal naturalmente precedia suas ações.

Mesmo que fosse capaz de usar o cérebro, devia ser só para saber se conseguia ou não bater no oponente.

Mas do lobisomem anterior para esse diante dele…

É um pouco duvidoso chamar eles de lobisomens.

Ludger também não esperava que o lobisomem fugisse assim que sentisse uma emergência, mas jamais esperou que jogaria os destroços do prédio destruído em particular.

‘Eu o perdi?’

Ludger, que entrou no prédio pelo buraco, estalou a língua quando percebeu que o lobisomem tinha desaparecido.

No entanto, não o perdeu totalmente.

Ainda tinha o cheiro sutil no ar que estimulava seu nariz.

‘Ainda bem que espalhei minha fragrância no meio da luta, só por precaução.’

Ludger seguiu o cheiro deixado pelo lobisomem.

Sua intenção de terminar tudo até o final do dia permaneceu inalterada.

Porque queria viver.

— Tessie! Tessie! Cadê você?

— Aidan. Já procuramos muito por ela, mas ainda não conseguimos achar. Não é melhor desistir?

Aidan e Leo estavam procurando pela Tessie em lugares onde as pessoas não visitavam.

Da última vez, ouviram que Tessie tinha ido para a floresta no leste, então os dois continuaram procurando por ela mesmo depois do pôr do sol.

Mas não viram nenhum sinal de presença dela.

Leo falou primeiro, já que estava ficando irritado.

— Tenho certeza que a Tessie deve ter recuado, quando percebeu que não conseguia sozinha. Não acha que é esse o caso, já que não conseguimos encontrar ela, nem mesmo neste lugar?

— Mas não tem como saber. Foi a Tessie quem sugeriu a aposta, mas a culpa é nossa por não rejeitar.

Leo parecia mal-humorado enquanto ouvia o argumento do Aidan.

Ele achava Tessie irritante, visto que continuava pegando no pé deles, de modo que mentiu para ela sair logo.

Então se sentiu um pouco culpado.

Era também por isso que estavam andando por aí procurando pela Tessie.

— Mas também estamos em perigo se formos pegos pelos professores. Pode ser só um ponto de penalidade para os outros, mas é uma penalidade enorme para a gente, já que precisamos ter cuidado com as nossas classificações.

— Mas não podemos abandonar ela.

— Acha mesmo que a Tessie ainda está procurando pelo lobisomem?

— Não costumo acreditar nisso, mas é da Tessie que estamos falando.

Na verdade, Aidan não sabia por que ele tinha tanta certeza depois de dizer isso.

Mas o olhar nos olhos da Tessie, quando o chamou para um duelo e quando estava conversando casualmente…

O olhar dela sempre parecia extremamente desesperado e obsessivo, assim como uma pessoa que queria alcançar algo.

O pensamento de que poderia estar realmente vagando com o corpo cansado para pegar um lobisomem veio à mente dele.

— Tá bom. Vamos procurar por mais 30 minutos, só que vamos voltar ao dormitório se não a encontrarmos.

Leo suspirou enquanto olhava para o menino ao lado dele, que tinha um senso forte de justiça.

Mesmo assim, Leo não conseguiu detê-lo.

Ele sabia que seu companheiro bem-humorado, que se aproximou dele para ser seu amigo no início, era alguém que era muito teimoso em momentos cruciais e que não estava disposto a fazer nenhum compromisso.

Assim que os dois tinham descansado um pouco e estavam prestes a procurar novamente…

Kyaaaa~

Ouviram um grito distante que pertencia a uma garota.

A voz estranhamente familiar pertencia, sem dúvida, à Tessie Friad, que os dois estavam procurando desesperadamente.

— Leo!

— Sim. Eu ouvi. Por aqui!

Os dois correram pela grama e galhos até o lugar de onde o grito veio.

Naquele momento, a grama do lado oposto tremeu e alguém saiu.

E Aidan, que estava na liderança, colidiu com esse alguém.

Aidan caiu de bunda logo em seguida.

— Fala sério. O que foi isso do nada?

— Argh.

Aidan ergueu a cabeça, quando sentiu algo em cima do seu corpo que caiu de bunda.

A primeira coisa que viu foi uma mulher de cabelos ruivos com uma presença forte, mesmo com o luar sutil a iluminando.

— Tessie…?

— Aidan…?

Tessie levantou o corpo imediatamente quando percebeu quem era a pessoa embaixo dela em uma posição embaraçosa.

— Por…! Por que você está aqui?!

— Porque ouvi o seu grito…

— O quê?! O-o que quer dizer com grito?! Eu nunca gritei.

Olhando para Tessie, que corou e gritou com Aidan, Leo suspirou e disse: — Fiquei preocupado sem motivo.

Foi então que ouviram o grito de uma fera.

Grrrrr~

— Oh! Aidan. Ouviu isso?

— Sim. É mesmo o lobisomem do rumor?

Os olhares cautelosos dos dois homens se voltaram para os arbustos. Aidan e Leo pegaram as varinhas.

Então Tessie ficou na frente dos dois.

— Vocês dois. Esperem um pouco.

— Tessie! O que está fazendo?

Tessie hesitou com a pergunta do Aidan, ao contrário do seu eu habitual. Ela colocou o dedo nos lábios e fez um sinal para os dois seguirem.

Aidan e Leo se entreolharam porque se perguntaram o que estava acontecendo e, então, decidiram seguir os passos da Tessie.

Os três, que se moviam silenciosamente, logo chegaram à frente da bacia, onde o chão foi explodido.

— Vejam aquilo.

Enquanto olhavam na direção que Tessie apontava em voz baixa, viram algo se contorcendo no centro da bacia cheia de folhas caídas.

— Isso…

Aidan, um garoto do campo com uma visão noturna boa, descobriu imediatamente o que era.

— Lobisomem?

Era obviamente um lobisomem. Estava cheio de feridas em todos os lugares e ofegava o tempo todo, mas certamente era um lobisomem.

E…

— Mas é um filhote?

O lobisomenzinho era um filhote que ainda não tinha amadurecido.