Capítulo 31: A pessoa que vê, a pessoa que resolve (3)
Aidan, Leo e Tessie, que estavam sentados num banco em um jardim silencioso, ainda não tinham voltado à realidade como se o que aconteceu há algum tempo fosse um sonho.
Foi Tessie quem voltou a si primeiro.
— Então não fomos realmente punidos. Ainda parece um sonho.
— Não é mesmo?
— Quem teria pensado que a diretora tomaria medidas e ficaria do nosso lado.
— Num é?
Leo, que geralmente jogava indiretas na Tessie, concordou completamente com ela nesse momento.
Os olhos dos dois então se voltaram para Aidan.
Eles o encararam como se perguntassem se ele tinha algo a dizer.
— Ei, Aidan. Aidan?
— Hã? Ah, sim.
— No que está pensando?
Ao contrário dos dois que estavam felizes em receber os pontos de crédito, Aidan mostrou um rosto sério o tempo todo.
— Aidan, está preocupado com o quê?
— Bem, Será que dá para chamar de preocupação? Bem… Eu sei que é meio estranho dizer isso agora…
— O que foi? Não hesite e fale logo para aliviar o peso no seu coração!
Quando Tessie reclamou fortemente dele, então Aidan hesitou por um momento antes de confessar suas preocupações aos dois amigos.
— É que algo é estranho.
— Estranho? O que é estranho?
— O lobisomem ontem. Vocês não devem ter visto, mas tinha algo como uma coleira estranha de prata amarrada no pescoço dele.
— O quê?!
— Shiu!
Enquanto Tessie levantava a voz, Leo imediatamente gesticulou para que ficasse em silêncio.
— Fique quieta. E se alguém te ouvir?
Os três olharam em volta e verificaram se havia outros ouvintes, depois aproximaram as cabeças e falaram em voz baixa.
— Continue falando. É verdade?
— Sim. Tenho certeza. É também por isso que tentei parar o professor Ludger.
— Uma coleira, hein. Então quer dizer que não era um lobisomem comum?
— Acho que foi um experimento intencional de alguém.
Se sua história fosse verdadeira, certamente seria um problema sério.
Leo também abriu a boca com uma expressão pesada como se estivesse pensando em algo.
— Também ouvi um boato recentemente…
— Qual?
— Que tem pessoas suspeitas infiltradas na Sören.
— Pessoas suspeitas? O quê? Está falando de uma organização secreta, né? Não é apenas um clube secreto ou um rumor falso que os alunos criaram?
Não tinha nada de incomum em ter uma reunião secreta entre os alunos em Sören.
Leo negou com a cabeça para a pergunta da Tessie.
Se fosse só isso, ele nem diria que o boato era suspeito.
— Também não tenho certeza, mas acho que está claro que uma organização secreta se infiltrou na Sören. Percebi isso, especialmente depois que vi esse caso do lobisomem.
— E-espera. Então você está dizendo que tem pessoas perigosas na Sören.
— É só uma suspeita ainda, mas acho que sim. Aidan. Você também acha o mesmo, né?
— Sim. Honestamente, não é uma coisa boa suspeitar de alguém, mas tenho certeza que algo está errado. E eu acho que, em particular…
Aidan balançou a cabeça e fechou a boca enquanto tentava dizer algo.
— Não, esquece.
— O que foi?
— É por causa do professor Ludger?
Com as palavras diretas da Tessie, Aidan não conseguiu mentir e assentiu com a cabeça.
Aidan sentiu seu coração pesado, por causa do comportamento violento que Ludger mostrou no dia anterior.
— Não quero desconfiar do professor Ludger, mas o modo como agiu ontem à noite foi um pouco estranho.
— Como assim estranho?
— Acho que não viram direito, porque o Ludger estava de costas para vocês, mas eu tava na frente dele. Ele viu alguma coisa naquela hora.
A reação que Ludger mostrou na hora era óbvia, mesmo que tenha sido só por um breve momento.
Aquilo não passou despercebido para Aidan.
Mas antes que pudesse perguntar sobre isso, Ludger o empurrou e queimou os lobisomens.
Leo segurou o queixo depois de ouvir as palavras do Aidan.
— Quer dizer que o professor Ludger tentou destruir as provas?
— O quê? O professor Ludger? Isso é possível?
Tessie perguntou de volta, como se fosse um absurdo.
Não importava o quão provável fosse, ela não podia acreditar que Ludger Chelysie, que os ajudou e lutou ferozmente com os lobisomens, estivesse escondendo algo nas suas ações.
— Não tenho certeza. Mas continuo pensando que o professor Ludger possa saber de alguma coisa. Ele parecia com pressa na hora para esconder alguma coisa.
— …
— …
‘Talvez seja um mal-entendido.’
‘Não tem como um professor da Sören fazer uma coisa tão perigosa.’
‘Mas e se for real? E se Ludger Chelysie fizer parte de uma organização secreta que é muito perigosa para falar?’
‘E se matou os lobisomens para destruir as evidências?’
— São idiotas? Não importa o quão provável seja, vocês ainda foram longe demais.
Tessie colocou a mão na cintura e negou com a cabeça enquanto repreendia os dois.
— O professor Ludger deve ter pensado em algo. E não perceberam nada estranho, quando estávamos conversando cara a cara com a diretora mais cedo?
— Oh? O quê? —
— Acho que não.
— Ufa. Idiotas. Não se lembra do que a diretora disse quando nos elogiou? Ela mencionou o que cada um de nós fez.
— Ah, é mesmo. Ela falou mesmo. Não pensei nisso na hora, porque estava muito focado com outra coisa.
— Pense nisso. Como a diretora, que nem estava lá, poderia saber de tudo?
— Ah, é…
— Claro, alguém contou tudo à diretora. E quem poderia contar tudo que fizemos para ela?
Ludger Chelysie.
Só tinha ele.
— O professor Ludger estava fingindo que não, mas ele realmente testemunhou tudo o que fizemos. Se quisesse nos repreender, não teria contado à diretora sobre nossas boas ações.
— Ah.
O argumento da Tessie claramente fazia sentido.
Apenas a diretora e o Ludger entraram na sala de orientação, e quando ela disse que daria pontos de crédito, Ludger recuou e cedeu.
— Foi tudo um plano do professor Ludger? Mas por qual motivo?
— Também não sei exatamente. Ainda assim, o professor Ludger se importou conosco e só contou à diretora as coisas boas sobre nós. Não acham que é demais suspeitar dele?
Aidan e Leo não tinham nada para justificar o comentário anterior deles.
Sendo honesto, era realmente verdade.
Se Ludger fosse uma pessoa suspeita, ele teria ensinado o feitiço inovador do código fonte na primeira aula?
Não fazia sentido revelar aquilo se fosse uma pessoa tentando esconder a identidade.
— Tem certeza?
Aidan coçou a cabeça, mas não conseguiu se livrar das suspeitas sutis.
Ele tinha certeza de que Ludger era um professor respeitável, mas também não podia negar que havia realmente algo estranho nele.
— Sim. Tessie, acho que você tem razão. É inútil pensar nisso agora de qualquer jeito.
— Sim. Contanto que você saiba disso.
— Mas mais importante, to com fome. Já comeram?
— Não. Ainda não.
— Bora, Tessie?
— Por que eu?
— Se você ainda não comeu, por que não vamos comer juntos?
— O… o quê?
Tessie perguntou se ouviu errado as palavras do Aidan.
‘O quê? Comer?’
‘Comigo?’
— Estão falando sério?
— Por quê?
— Bem, é que… comer é… uh…
Enquanto ficava envergonhada, Tessie torceu o cabelo com as pontas dos dedos e murmurou suavemente com um rosto corado.
— Coisa de… amigos…
— Nós já somos amigos, certo?
— …!
Olhando para Aidan, que a encarava enquanto sorria intensamente, as orelhas da Tessie ficaram vermelhas.
Leo, que estava observando a cena de lado, suspirou e balançou a cabeça.
Ao ver essa menina infantil que não podia ser honesta e seu amigo que não tinha nenhuma sensibilidade…
Achou que sua vida diária em Sören seria agitada.
— Oh! Professor Ludger!
Foi depois que voltei do trabalho.
No caminho de volta para a acomodação, encontrei a professora Selena.
Ela, que me encontrou primeiro e correu na minha direção como um cachorro enquanto fazia barulho, parecia mais uma aluna do que uma professora.
‘Será que ela mentiu sobre a idade?’
— Está de folga?
— Sim.
— Fiquei sabendo das notícias. Ouvi dizer que você pegou os lobisomens ontem.
— Sim, eu me livrei deles.
— Uaaaau. Sério?
A professora Selena estava olhando para mim com um olhar incomodado.
Mesmo assim, éramos novos professores, mas achei exagerado o jeito dela de me olhar.
— Ultimamente, só falam do professor Ludger. Mais do que isso, como diabos você pegou o lobisomem? Usou algum método para fazer isso?
— Espere.
— Oi?
— Estou um pouco ocupado hoje, então falo com você na próxima vez.
Ouvindo minhas palavras firmes, a professora Selena assentiu com um olhar um pouco mal-humorado como uma criança repreendida por um adulto.
— Bem… Desculpa. Eu não deveria ter te chamado quando você estava ocupado.
— Não é isso. Não precisa exagerar. Tenha um bom descanso, professora Selena.
— Sim. Tome cuidado, professor Ludger.
Cumprimentei Selena e me separei dela.
Ao contrário dos outros professores, ela era uma boa pessoa que estava interessada puramente na minha conquista.
No entanto, eu não conseguia me aproximar de ninguém porque estava em uma posição complicada.
Ainda era possível comer juntos como um grupo, mas isso era tudo.
E eu precisava fazer uma coisa imediatamente antes de tudo.
Quando voltei para minha acomodação particular, havia um pacote na porta.
Pegando o pacote, entrei na acomodação e verifiquei o conteúdo.
Foram os dados que Hans me enviou.
Áreas onde desaparecidos e algumas pessoas em particular se reuniram recentemente em Leathevelk.
Whirrr~
Depois de verificar o conteúdo brevemente, fui para a minha sala privada.
De um lado da parede do escritório, fotos estavam presas em todos os lugares, junto com um mapa da cidade de Leathevelk.
Cortei parte do conteúdo do documento e prendi em um canto do mapa.
Uma área cheia de fábricas abandonadas em Leathevelk.
Uma favela abandonada.
Havia um laboratório por lá.
Depois que terminei de fixar os locais, peguei imediatamente uma bola de cristal portátil.
Enquanto a mana fluía, uma voz veio da bola de cristal.
[Verificou todos os dados que enviei?]
— Sim.
[Como me disse ontem, verifiquei a área ao redor. Em uma fábrica abandonada, cerca de dez homens fortes entravam e saíam com pressa. Acho que tenho certeza disso.]
— Entendi.
[E eu pessoalmente verifiquei o que você me disse para fazer. Alguns trabalhadores desapareceram recentemente fora da cidade.]
— Tinha uma família de três entre eles?
[Tinha. É o único caso em que uma família inteira desapareceu. A polícia não fez muita investigação e arquivou, mas os vizinhos devem ter ficado muito nervosos. Eles abriram a boca facilmente depois de investigar um pouco.]
— Entendi… Vou para lá em breve.
Deixei essa mensagem e cortei a comunicação.
Depois de olhar intensamente para o mapa fixado na parede por um tempo, saí da acomodação enquanto usava um casaco marrom opaco que era diferente do meu habitual.
Uma noite escura…
Na área da fábrica de Leathevelk, onde a luz das estrelas e do luar desapareceram devido às nuvens espessas no céu…
A chaminé da fábrica, que não emitia fumaça, tornou-se uma lápide em homenagem àqueles que morreram na sombra da cidade.
Considerando que tinha pessoas reais que morreram devido a um ambiente difícil, a palavra “lápide” não estava particularmente errada.
A área da favela, geralmente chamada de área abandonada, dava uma sensação forte de desolação, por causa da falta de postes de luz, que só eram vistos de vez em quando.
Tudo o que vi foi um rato-de-esgoto passando rapidamente.
Ludger chegou àquele lugar, onde até os vagabundos desistiam de mendigar e fugiam.
— Chegou?
Hans, que tinha chegado primeiro e estava esperando, recebeu Ludger.
Hans olhou para o rosto dele, depois balançou a cabeça e estalou a língua.
Na superfície, não parecia nada perigoso, mas Ludger já estava fortemente armado.
Hans podia sentir que Ludger estava completamente preparado para uma luta frontal, a julgar pela energia amarga que emanava dele.
— Vai sozinho?
— Vai me ajudar se eu pedir?
— Bem, acho que posso lidar com um ou dois deles.
— Deixa pra lá. Eu sou o suficiente. Que tipo de caras estão lá dentro?
— Tem quase quarenta pessoas, mas estão com pressa; estão preparando tudo para abandonar o local. Seria em vão se você só viesse daqui três dias.
— Qual é o poder deles?
— É melhor assumir que cada um deles e até mesmo alguns dos ninguém têm armas. Bem, as armas não funcionarão contra você, que é um mago, mas tem uns três que estão usando uma armadura reforçada.
— E o poder das elites deles?
— Tem dois magos negros.
— Entendi.
A entrada era um grande tubo que foi perfurado para o tratamento de esgoto.
Ludger, que estava prestes a ir para o laboratório, parou e perguntou algo para o Hans.
— Hans. A família que perguntei de antemão…
— Sim.
— Quantos anos tinha o garoto?
— O filho deles?
Com as costas na parede, Hans olhou para cima como se estivesse pensando em algo.
O céu estava cheio de nuvens sombrias.
— Ele tinha sete anos. Ainda era um garotinho.
— Sete anos… hein?
Ludger moveu as pernas novamente.
— Entendi.