Cap. 39 – Flora Lumos (1)
A energia mágica de Rudger envolveu suavemente a magia que estava prestes a explodir. Os elementos sobrepostos, que estavam explodindo em todas as direções, se reuniram em um círculo e começaram a se estabilizar.
Quando Flora viu, pensou que ia parar de respirar. A voz de Rudger despertou sua mente naquele momento.
— Ainda não acabou. Não perca a concentração.
Ela recuperou a consciência e se concentrou em manipular a sua magia.
— Se parar aqui, a magia desaparecerá sem conseguir nada. Pode aceitar isso?
Com essas palavras, ela cerrou os dentes.
A magia que estava prestes a se desviar gradualmente voltou à estabilidade, mas se parasse, também não funcionaria.
“É, não posso parar agora…!”
Ela não podia deixar a magia que estava tentando desencadear desaparecer assim, então respondeu espremendo todo o seu poder mágico restante. Ela tinha que aperfeiçoar esse feitiço agora e corresponder às expectativas de Rudger.
Os três elementos reunidos em um círculo gradualmente diminuíram de tamanho e, então, assumiram uma forma de algo. Os olhos de Flora se arregalaram com o cheiro doce que roçou a ponta do nariz.
“Cor.”
A cor, antes espalhada e sem controle, voltou ao estado original.
“Não.”
Além disso, começou a se harmonizar de um jeito lindo.
“Ah.”
Com lábios trêmulos, ela olhou para a magia incorporada.
A razão pela qual ela desafiou a sobreposição de três elementos foi porque ela queria ser elogiada por ele. Para ela, dotada de talento mágico, até mesmo a magia mais difícil era algo que ela poderia alcançar algum dia. Por isso a magia dela era considerada tão fácil e natural.
Ela não estava feliz com o sucesso, mas também não se debruçava sobre o fracasso, afinal, ela poderia alcançar aquilo um dia.
Ela pensou que, mesmo que conseguisse o que falhou até agora, não ficaria feliz.
— Você conseguiu.
Com as palavras dele, a sua voz não saiu.
O seu olhar ficou pregado no elemento acabado: um vento branco girando de forma feroz em torno da chama congelada.
Ela conseguiu combinar três elementos em um. Sentiu a ilusão de que sua alma foi tirada dela devido à beleza deslumbrante emitida.
— É muito bonito.
Nervosa, Sheryl, que estava ao lado, falou.
Sim, a magia que ela queria criar era tão bela quanto uma obra de arte. A reação dela foi muito mais apaixonada do que a dos outros alunos.
O que a empolgava mais do que a visão e prazer olfativo era uma sensação revigorosa do espírito que borbulhava no fundo do peito.
Ela completou uma magia que nunca fizeram antes e se sentiu realizada ao notar que superou uma barreira. Embora não tenha conseguido sozinha, não podia negar essa alegria.
A magia que havia esgotado toda a sua força acabou se transformando em um esplêndido pó de luz e desapareceu. E observando a cena com atenção, Rudger abriu a boca.
— Flora Lumos.
— Sim, senhor Rudger.
Ela aparentava estar calma, porém apenas por fora.
Se ele tivesse dito palavras de louvor aqui, talvez ela derramasse lágrimas de tanta alegria.
— Você fez algo estúpido.
— Sim… sim?
Contudo, com o frio que saiu da boca dele, ela reparou no que havia feito: quase pôs em perigo todos os alunos pela própria ganância.
Ao enfrentar a realidade que tinha esquecido, não teve escolha a não ser abaixar a cabeça em tristeza.
— Qualquer um pode tentar uma nova magia e falhar, mas você tem que arcar com o preço desse fracasso sozinho. Não os outros, mas você.
— Desculpa…
O que ele disse estava cem vezes certo. Ela quase colocou os outros colegas em risco, e sentindo a responsabilidade disso, se cercou de uma barreira mágica. Todavia, ela pararia todo o dano assim?
Se ele não tivesse aparecido, alguém poderia ter morrido.
— Mas acima de tudo, repreendo você, Flora Lumos, pela imaturidade da sua magia.
— Sim?
— Quando você sobrepôs os elementos antes, misturou gelo e fogo, não foi?
— Isso.
— Fogo e gelo são opostos um ao outro, por isso é difícil misturá-los. Além de garantir que não colidam, precisa criar um efeito mais forte, os harmonizando.
– Sim, é verdade.
E Flora Lumos fez isso.
Ao misturar poderes opostos, incorporou uma única magia.
— Como assim ela é imatura…?
Havia uma mistura de tristeza na voz. Se fosse somente repreendê-la, poderia apontar a sobreposição de três elementos, não a perfeição que fez com fogo e gelo.
Ela achou que ele estava tentando usar o erro dela como uma desculpa para desvalorizar os elementos sobrepostos antes.
“Ainda assim…”
Quando ela estava em perigo, ele a ajudou a controlar a magia, ou então ela teria morrido. Não havia nenhuma razão para simplesmente menosprezá-la depois de ajudá-la.
Ela estava prestes a ficar desapontada, até que ele usou os seus poderes e criou esferas de gelo e fogo.
— Eu vou te mostrar por que a sua magia é imatura.
Ajustando a magia para que ambos os atributos não colidissem, os fundiu em um.
Ela prestou atenção, não querendo perder nenhum detalhe. Todo o processo era, óbvio, semelhante ao que ela tentou, mas os resultados não foram os mesmos.
— Hum?
Porque os elementos sobrepostos que ele criou diferiam dos dela. Não há diferença alguma além dos resultados produzidos, que foram bem diferentes.
A energia dos elementos sobrepostos era fundamentalmente diferente. Ela, particularmente sensível à magia, podia sentir isso com mais clareza do que qualquer outro. A cor e o cheiro não eram iguais aos dela.
— Flora Lumos, você sabe o que é esse elemento sobreposto que criei?
— Sim — respondeu ela, assentindo após hesitar um pouco.
— Então, por favor, explique.
— O criado por você tem diferentes vontades. A propagação da chama e o seu poder de engolir os arredores; o resfriamento do gelo. Eles coexistem.
— E o seu, por outro lado?
— O quê?
— Eu perguntei a você a respeito do seu.
Ela somente lambeu os lábios, mas não conseguiu falar. No fim, foi ele quem continuou.
— Flora Lumos, o elemento sobreposto que criou é uma magia que de bonito só tem a forma, mas zero praticidade. A magia deve ser prática. Se não, não teria significado. Essa é a base de toda a magia.
Ela tremeu com as palavras duras dele, que se virou pros outros alunos.
— Vocês precisam usar a magia de uma maneira melhor. Ela não é sobre matar, mas sim sobre criar algo que levará o mundo na direção certa. Mas, Flora, e a sua?
— Eu…
— O fogo congelado é, sim, lindo, mas isso é tudo. Está planejando obter um emprego em um circo com ele? Ou queria ir ao Palácio de Cristal na capital e exibi-lo?
“…….”
— Não é bem assim…
— Então, qual é o significado da sua magia? É apenas uma exibição para mostrar que você pode sobrepor elementos?
O ponto dele era irrefutável. Ela não sabia onde ela poderia ser usada e só desejava se gabar de poder sobrepor elementos, nada mais, nada menos.
— Você até tentou misturar o vento com gelo e fogo, mas no final você falhou.
Ela baixou a cabeça. Cheryl olhou para ela com uma expressão preocupada, mas também não podia oferecer o consolo que gostaria nessa situação.
Rudger jogou no ar a esfera mágica que havia criado, fazendo com que ela subisse perto do alto teto da sala da aula e explodisse que nem fogos de artifício. Por um momento, todos os alunos tiveram a ilusão de que ouviram o som do gelo “queimando”.
O branco ar frio se espalhou amplamente por toda a sala sem sequer tocar o seu topo, então caiu e derreteu antes mesmo de alcançar aos estudantes.
— Flora Lumos, combinar três atributos foi bastante interessante. Eu nunca vi um mago desse nível de habilidade na sua idade.
Os olhos dela, que haviam sido levados pelo que ele fez com a esfera, voltaram para ele. Na hora em que o viu olhando para ela com olhos arrependidos, se sentiu culpada e o seu coração afundou.
— Mas a direção das suas ações está errada. Não estou discutindo as suas habilidades. Estamos falando de algo muito mais fundamental do que isso. Não use a sua magia só para se exibir; isso diminuirá seu valor, Flora.
“…….”
Ela não teve escolha a não ser concordar. Diferente do que ela fez, o que ele criou foi muito mais prático, por mais que usasse os mesmos elementos que ela.
“Eu perdi de novo.”
Ela pensou que seria reconhecida agora, mas não foi assim. Ela somente percebeu o quão impaciente e imatura era.
“Eu nunca vi nada assim antes.”
Acima de tudo, o olhar sincero dele não desapareceu da sua mente. Em vez de ridicularizar ou desprezar, era uma atitude de preocupação genuína.
“Alguém já me olhou assim?”
Ninguém. Os olhares sempre eram de inveja, sem mencionar a sua família, irmãos e irmãs que a odeiam. Até os alunos mais velhos tinham raiva dela, assim como muitos professores de Sören. Em dois anos, o talento dela os superava.
Flora sabia, mas não demonstrou, pois sabia que aquele era o seu verdadeiro talento. Não havia necessidade de recuar sabendo que as pessoa que lhe olhavam sentiam inveja.
Mas, naquele dia, ela foi surpreendida pela primeira vez por conta da atitude desconhecida de Rudger.
“Senhor Rudger.”
Ela foi salva por ele ao quase falhar e recebeu a sua ajuda para superar a barreira de três elementos sobrepostos, que não havia sido cruzada antes.
De repente ela percebeu que estava tonta e com falta de ar. A tentativa de sobreposição trielemental consumiu muita mana.
“Eu sinto que vou morrer de exaustão, mas o professor está bem?”
Rudger, que suprimiu a mana explosiva, teria consumido muito mais mana, mas ele não perdeu um único suspiro.
Pela primeira vez, ela sentiu a “parede” real. E a tal parede era tão alta e robusta que ela não tinha certeza se conseguiria superá-la. Ainda assim, não quis desistir. Ela se sentiu bem e fez uma forte promessa a si de que, da próxima vez, com certeza a superaria.
“Hum?”
Rudger tremeu sem querer enquanto mastigava a pílula mágica de recuperação que havia escondido na boca.