Cap. 44 – Uma Aposta Perigosa (1)

Após todas as aulas de farmácia de Marie Ross terem acabado, Aidan mergulhou na prática, lembrando a técnica ensinada por Rudger na última aula.

Ao lado de Aidan estava Leo, agora era um amigo próximo, e Tracy, que havia se enturmado e que muitas vezes passava tempo com ele. Os três trabalharam duro para dominar os elementos, incorporando cada um no primeiro campo de treinamento.

— Uau. Quase pronto.

Aidan enxugou o suor escorrendo pela testa, olhando para o vento incorporado na palma da mão. Era como a lembrança do vento fresco e aconchegante que sentia enquanto corria pelos amplos campos.

Ele não sabia nada sobre os elementos, então não conseguia esconder a empolgação com o fato de que podia manifestá-los assim.

“É incrível.”

O conselho que Rudger deu foi prático o suficiente para ser de fácil compreensão. Não apenas isso, mas também bastou a sua atitude em relação à magia mostrada na aula para tocar o coração de Aidan.

“Eu me pergunto se me enganei ao suspeitar dele naquela hora.”

As palavras e ações do seu professor eram sempre frias, mas era evidente na voz o quanto ele gostava de magia e como ele a considerava.

Não havia nada de errado com uma pessoa que gostava de magia. Acima de tudo, se fosse uma pessoa má, não teria sido capaz de transmitir aos alunos em sala de aula um método tão precioso que os outros não ensinavam.

“Não sei ainda.”

Aidan sentiu de modo vago que eles tinham algo a ver. Contudo, isso não significava que ele não sentisse que Rudger era uma pessoa ruim. Talvez porque a sua mente embolou devido a essas emoções contraditórias, mas o vento que ele mal manifestou desapareceu sem deixar vestígios.

Ele, que havia perdido o apetite, olhou para Leo e Tracy. Ambos estavam suando e trabalhando duro na manifestação dos elementos, impressionados com a chama que Aidan conjurou na aula.

Ele não queria interferir, então estava apenas assistindo. Aí, um grupo de estudantes entrou no campo de treinamento.

“São eles…”

Entre alguns alunos, havia uma pessoa que chamou a sua atenção: tinha cabelo azul não tão escuro dividido na testa. Por outro lado, a pele branca, quase pálida, um nariz afiado e olhos estreitos se destacavam.

Ele parecia ser um estudante do segundo ano, com uma peculiaridade natural, e todos os alunos se reuniram ao seu redor.

“Quem é?”

Já que estavam assistindo a ele, ele virou a cabeça e olhou para o observador. Os olhares deles se encontraram no ar, e Aidan de repente se lembrou do que Leo havia dito: não fazer contato visual por um longo tempo e nem mesmo prestar atenção aos alunos nobres.

Ele não era estúpido o suficiente para cumprimentá-lo, então naturalmente desviou o olhar. A outra parte nem sequer apontou. Aidan também teve um descanso moderado, então decidiu se concentrar na magia de novo.

— O quê? Quem é?

Até que um dos estudantes aristocráticos na multidão se aproximou de Aidan com uma voz alta.

Leo e Tracy perderam a concentração com a voz e olharam para o oponente: um aluno com um sorriso maldoso assistindo a Aidan, levantando os cantos da boca.

— Ah, você.

Era Jevan Pellio, o filho mais velho do escritor Pellio Nam. Foi ele quem discutiu com Aidan, mas se retirou após Leo ter sido ignorante com ele.

— Por que ele está de repente fingindo te conhecer de novo?

Reconhecendo-o, a expressão de Leo se transformou em desgosto em um instante. Jevan, não ligando, se aproximou, como se fosse para se achar.

— Não é você, Aidan, que sequer manifestou direito os elementos?

Não havia como Aidan e seus amigos não conhecerem o jeito de Jevan.

— Estamos ocupados praticando magia agora, então por que você não vai para aquele canto? — respondeu Leo, com um sorriso cínico.

— Você é o plebeu atrevido da vez? Afinal, os dois se dão bem, não é?

O olhar de Leo estava sobre os ombros de Jevan, quando ele se virou para os nobres estudantes vendo a situação com interesse, em especial um homem no centro do grupo.

— Já que há veteranos aqui, está tentando mostrar o seu lado bom nesta ocasião?

Leo sabia muito bem quem era o veterano no centro dos estudantes aristocráticos, já que havia muito poucas celebridades como essa em Sören… Freuden Ulburg, o filho mais velho dos Ulburgs, uma das três famílias de duques do império Exilion, simbolizando o lobo.

Era compreensível que Jevan começasse a discutir do nada, pois ele queria se destacar. Afinal, Freuden, que podia ser dito ser o centro dos estudantes nobres, estava presente.

— Não temos intenção de brincar com você, então saia daqui. Este é um lugar para praticar magia.

— Um plebeu como você não deveria falar com este corpo de sangue nobre.

— É porque você ainda não entende a situação…

— E eu falei com Aidan, então por que um garotinho como você interviria à vontade?

Para Leo, que em comparação com os seus colegas era baixo, a palavra “garotinho” era como uma abominação. Algumas garotas gostavam dele, porém ele odiava ser tratado assim. A pequena altura era o tendão de Aquiles dele.

— Você…

— Leo, se acalme. Deixe comigo.

Aidan impediu Leo de ficar com raiva e deu um passo à frente. Nesse ritmo, era aparente que a situação não terminaria.

— Eu não sei por que você começou isso, mas deixe para lá. Não quero brigar com os meus amigos.

O rosto de Jevan contorceu-se terrivelmente com as palavras de Aidan.

— Amigo? Por que sou seu o amigo, lixo imundo?

— Ah, você não era?

— Ficou maluco? Se você é um plebeu, deve se ajoelhar perante os nobres…

— Não sei o que lhe ofendeu, mas peço desculpas. Desculpe. Então, você não pode simplesmente esquecer isso?

O menino nunca havia recebido qualquer provocação repentinamente de ninguém, mas não queria entrar numa briga.

Jevan respondeu com um sorriso malicioso às palavras de Aidan.

— Ótimo. Vou deixar para lá, então faça apenas uma coisa.

— Ajoelhem-se.

— Você…

Tracy deu um passo à frente.

— Faça isso com moderação. Você não tem vergonha como um nobre?

— Do quê? Por que um nobre caído intervém à vontade?

Com essas palavras, o rosto de Tracy endureceu.

— O quê?

— É embaraçoso até mesmo chamá-la de nobre, então cale a boca. Esse nojento também virá para mim.

— Você quer me ver mal…?

Para Tracy, a situação da sua família era um tabu entre tabus. Quando seus poderes mágicos transbordaram do seu corpo, todos riram dela.

— Você não tem uma educação adequada…

— Jevan Pellio.

— Sim?

Não foi outro senão Aidan quem o chamou. Todavia, a voz dele estava diferente do habitual, fazendo Jevan tremer sem perceber.

— Não posso fazer nada quanto a sua insatisfação comigo. Se me insultar, vou deixar passar. Mas… — Aidan caminhou em direção a Jevan, os olhos brilhantes de raiva. — Não vou deixar você insultar meus amigos.

— Hahaha! E se eu insultar? Ótimo, vamos duelar.

Como se estivesse esperando, Jevan tirou as luvas brancas do bolso e as jogou em Aidan.

— É um duelo mágico. Se você está com medo, fuja.

— Quer mesmo fazer isso? — Aidan balançou a cabeça observando as luvas atingirem o seu peito e cair.

— Você pode recusar se quiser.

— Ótimo, então.

Tracy e Leo queriam impedi-lo, mas a intuição dele estava dizendo para não recuar. Ele nem queria escapar.

— Aidan!

— O que diabos está fazendo?!

— Certo — continuou o nobre —, o perdedor se ajoelha e pede desculpas ao vencedor, você concorda?

— Se você prometer manter a sua palavra.

— Hahaha! Sim! Se você puder me derrotar.

Todos estavam confiantes. Por mais que estudasse em Sören, Aidan era um iniciante sem o conhecimento básico da magia. Jevan estava confiante em derrotá-lo, até porque teve aulas com um professor particular desde a infância. Foi quando uma briga estava prestes a acontecer entre eles…

— O que é isso?

Uma voz fria pressionou com força os ombros de todos presentes na cena.

* * *

Eu estava patrulhando. Embora o incidente com os lobisomens tivesse acabado, a patrulha continuaria por um tempo, já que a diretora não tinha certeza se algo aconteceria.

Era irritante, mas de uma forma ou de outra precisava colaborar, então estava apenas vagando por aí pensando em dar um passeio para esfriar a cabeça.

“E levei menos de cinco minutos para perceber como acidentes acontecem tão rápido.”

— O que fizeram agora? — perguntei, vendo os dois alunos quase à beira de uma briga.

Fiquei um pouco irritado, mas ainda tinha que ouvi-los antes de atuar. Talvez não soubessem que eu apareceria, e alguns empalideceram. Qualquer um que os visse apostaria na aparição de um fantasma.

— Vocês dois aí. O que vocês vão fazer agora?

Eu apontei para os dois no meio do caso. Um era particularmente familiar, e quando olhei de perto, notei que era Aidan, um garoto do interior de cabelos castanhos.

“É você de novo.”

O oponente dele era um estudante nobre? Acho que o nome era Jevan Pellio. Eu soltei um suspiro um pouco cansado.

— O campo de treinamento é para aprimorar a sua magia, mas vocês estão tentando lutar um contra o outro.

Quando me aproximei devagar, os alunos que estavam por perto abriram o caminho. Estranhamente, fiquei surpreso com a maneira como fui tratado, mas decidi não me importar.

Ignorando tudo o que disse ao Aidan.

— Conte-me o que aconteceu.

— Esse… esse…

— É um jogo justo! — Jevan gritou atrás de mim.

Olhei para ele sem dizer uma palavra. Era porque ele pensava que eu estava o ignorando? Ele estava me encarando com coragem, não escondendo sua raiva.

— É uma luta justa?

— Sim. Vou ter um duelo mágico com Aidan, não uma luta.

— É engraçado que os alunos do primeiro ano estejam tendo um duelo mágico.

— Não é bom para eles?

Por que esse garoto estava fazendo aquilo? O que deu de errado nele? Fiquei um pouco envergonhado quando um aluno que normalmente não se destacava falou com ousadia. Depois entendi o porquê.

Foi por causa dos outros alunos que estavam atrás dele, como se o apoiassem. Uma pessoa em particular se destacou.

“Aquele ali…”

Olhando para os subordinados que ele possuía ao redor, deveria ser considerado um capitão. Ele também olhou para mim um pouco confuso.

“Um confronto entre plebeus e aristocratas no primeiro campo de treinamento… situação familiar.”

Por alguma razão pensei nisso, mas foi o mesmo com a última luta entre a briga de Rene e Dunema. Entretanto, no caso dela, foi um ataque surpresa.

“Estou dor de cabeça.”

Bem, garotos brigavam entre si. Mesmo em um mundo como este, não era estranho. O problema era que aconteceu durante a patrulha. Um deles era até Aidan, a quem eu estava de olho havia muito tempo.

— Jevan Pellio e Aidan, não tenho intenção de responsabilizá-los por algo que ainda não aconteceu. Então, todos vocês voltem para o dormitório.

— Senhor Rudger?

— Eu mandei irem.

Enquanto olhavam para ele fortemente, me perguntei se ele desafiaria a autoridade do professor, já que ele tinha a facção nobre nas costas.

— Deixem isso para lá.

Uma nova voz foi ouvida. Os olhos dos estudantes se voltaram para a entrada oposta àquela em que entrei. Lá, vi um homem se aproximando e olhando para mim.

— Senhor Chris.

Era Chris Benimore, um novo professor que se juntou à Sören comigo e pertencia à facção.

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