Cap. 56 – Recrutando um Assistente (1)
No dia seguinte ao duelo.
— Cansei.
Aidan cambaleou pelo corredor com passos lentos como um zumbi. Mesmo agora, assim que a aula acabou, alguns alunos se aproximaram dele e conversaram com ele ou fingiram ser amigáveis.
A atenção excessiva de outros alunos era muito pesada para Aidan, e era bastante irritante.
— Por que isso aconteceu?
— É porque você fez um ótimo trabalho na frente de todos. Você é estúpido?
Leo, que ouviu Aidan falando sozinho, interveio.
— É?
— Você está completamente inconsciente disso.
Leo percebeu a sinceridade do outro e soltou um suspiro, enquanto Aidan coçava a cabeça de modo tímido. Ele não gostava de se exibir, porque ele gostava de magia de verdade e não buscava a fama.
Quantas dessas pessoas estavam lá, incluindo Aidan, em Sören?
— Como se não bastasse você ter ganhado o duelo, você usou uma magia estranha para se livrar da magia do oponente.
— Hã?
— Aidan, que tipo de magia você usou?
Tracy, um passo mais perto do que o habitual de Aidan, não conseguiu conter sua curiosidade e perguntou. Em seus olhos, havia uma forte vontade de descobrir a magia de Aidan, que hesitou em responder.
— Hã, hum… Eu aprendi quando era menor. Não é nada.
— Se isso não é nada, o que somos?
— Isso mesmo. É magia que apaga a magia. Nunca ouvi falar de nada assim. Não se vire e me responda agora.
— Hummm…
Aidan hesitou em responder, pois a sua mestra o havia avisado estritamente para não divulgar. Essa foi a razão pela qual, desesperado, ele se recusou a responder às persistentes questões. Por mais que ele não se importasse em dizer a quem confiasse.
“Está tudo bem mesmo?”
Ele pensou por um momento. Tracy e Leo eram amigos preciosos que ele fez em Sören antes que ele usasse antimagia, então ele não achava que eles tinham alguma motivação oculta.
De repente, ele se lembrou do que sua instrutora disse.
“Sempre haverá momentos na vida em que você tem que escolher alguma coisa. Nesse caso, siga seu coração.”
Ela falou levianamente, porém ele nunca esqueceu esses ensinamentos e tomou uma decisão.
— Eu conto.
Quando ele respondeu seriamente, Tracy ficou surpresa. Ela não esperava muito quando questionou, já que o viu manter a boca fechada, apesar da enxurrada de perguntas de outros alunos depois da aula havia algum tempo.
— Vamos para um lugar tranquilo por enquanto.
Os três foram para o parque de rosas.
* * *
O parque de rosas estava cheio de uma fragrância suave sob o sol deslumbrante. Aidan sentou-se em um banco silencioso no parque, onde belas rosas coloridas estavam em plena floração, e pensou no que dizer.
— E o que eu deveria dizer?
Então ele enfim abriu a boca, pensando que deveria falar desde o início.
— O que usei é chamado de antimagia. É magia que remove magia.
— Nós vimos.
— Então é chamada de antimagia…
Leo e Tracy tiveram reações contrastantes.
Aidan sorriu brilhantemente e continuou.
— Foi minha mestra, uma maga errante, que me ensinou. Mas, na realidade, sou o único que sabe usar.
— O quê? Por quê?
— Ela disse que só era possível com um corpo especial. Eu também não sabia, mas a mestra disse isso.
— Uma constituição especial…
— Quem é ela?
A coisa que deixava Tracy e Leo mais curiosos era quem ensinou a Aidan. Uma maga errante que conhecia antimagia? Se era tão talentosa, deveriam conhecê-la.
Para isso, Aidan coçou a bochecha e respondeu.
— Eu também não sei.
— O quê?!
— Como é…?
Com os olhares afiados dos dois, ele estendeu as mãos e deu uma desculpa com pressa.
— Quando a conheci, eu tinha apenas oito anos. Isso foi há mais de dez.
— Dez anos…
— Além disso, ela era livre e difícil de acompanhar. Mesmo agora, não sei onde ela está ou o que está fazendo. Quando ela me deixou, sumiu, então não teve tempo para perguntar seu nome.
— O quê? Então você não sabe se ela está viva ou morta?
— Ainda assim, considerando suas habilidades, deveria estar vivo. Acho que sim.
Que reação despreocupada a quem lhe ensinou uma magia extraordinária. Tracy mordeu os lábios, tentando dizer algo para ele.
Tracy ficou triste.
— Eu queria saber mais sobre Aidan.
De repente, ela percebeu que estava muito interessada nele.
— Ahhh! Não! Só é importante para mim trazer minha família de volta à vida!
Tracy de imediato limpou seus pensamentos e balançou a cabeça de um lado para o outro de modo violento. Seu cabelo ruivo, amarrado em dois rabos de cavalo, balançou para combinar.
“É apenas curiosidade, é apenas curiosidade. Sim, isso é tudo.”
Leo, que estava ouvindo calado, levantou sua pergunta enquanto Tracy estava angustiada.
— O buraco é mais em baixo. Mesmo dez anos atrás, a sua antimagia não era tão conhecida.
— Talvez seja porque é bem raro?
— Quanto mais rara a magia, mais famosa ela tem que ser. Ainda mais se essa magia apagar outra.
Antimagia não tinha poder letal. Em comparação a outras magias, havia poucas coisas que poderiam ser feitas com ela. Mas, por um lado, ao lidar com magos, a antimagia mostrou um desempenho incrível.
— Aidan, essa antimagia funciona independentemente da hierarquia mágica?
— Bem, também não sei disso. Para ser honesto, esta é a primeira vez que uso do jeito certo. Até agora, não tive nenhum uso para isso.
— Seu professor não lhe disse isso?
— Nunca me deram uma explicação detalhada. Além disso, eu também gostava de aprender magia naquela época, então apenas caí de cabeça sem pensar.
— Ugh.
Leo suspirou em resposta. Era uma colaboração entre uma instrutora irresponsável e misteriosa e um caipira imaturo que simplesmente gostava de magia.
— Por que quer saber?
— Acho que ouvi algo há algum tempo.
— O quê?
— Sua instrutora. Você sabe o nome dela?
— Hã? Eu não perguntei o nome dela. Talvez ela tenha me dito, mas eu não me lembro.
— Provavelmente ele não disse o nome dela. Não houve nenhuma notícia dela nos últimos dez anos e isso é estranho. Se ela é tão talentosa, não seria surpreendente ter o nome dela adornado em uma página de qualquer jornal.
— Sério?
Aidan era analfabeto neste campo, então não podia responder tudo certo.
— Acho que é porque você ainda não está ciente disso, mas antimagia é uma magia independente, em especial no mundo mágico.
— Mas após passar por isso, notei que os outros caras não sabiam disso.
— Isso deve significar que era esse segredo. É difícil para os alunos que estão estudando agora entender algo assim.
Então Tracy, que estava ouvindo, interveio.
— Os professores não sabiam? Se não soubessem, não teriam deixado Aidan sozinho.
— Alguns abriram bem os olhos, como se estivessem surpresos. Sabiam da antimagia, mas ficaram surpresos ao vê-lo a utilizando de verdade.
— Checou isso?
Leo assentiu.
Quando todos entraram em êxtase, Leo se concentrou na reação deles. Entre eles, havia algumas pessoas que mostraram uma reação natural, como se soubessem disso desde o início. As pessoas que conheciam a antimagia sabiam como ele usava e não ficaram surpresas.
— Em primeiro lugar, o presidente.
— Bem, o presidente é uma ótima pessoa, então ela devia sabia. Mais alguém?
— Tinha o senhor Hugo e a senhora Marie Ross, que pareciam estar na profissão há muito tempo. Fora isso, os novos professores não sabiam. Mas…
— Mas?
— O senhor Rudger foi diferente.
— Senhor Rudger…?
— Sim, ele teve uma reação natural, como se soubesse da antimagia desde o começo.
Aidan de repente se lembrou da figura de Rudger naquele dia. Ele sempre foi uma pessoa consistente, então ele pensou na estranheza disso. Contudo, a sua atitude continuou mesmo quando Aidan usou antimagia.
— Talvez ele soubesse um pouco sobre a antimagia que Aidan usou?
— Ele sabia? Se sim, até que ponto?
— Eu não sei sobre isso, mas acho que pode ter algo a ver com a instrutora de Aidan.
— Isso é um palpite demais — respondeu Tracy —, não importa como você pense a respeito. Você nunca pensou que o senhor Rudger poderia não ter notado?
— Você é quem não sabe, Tracy.
— O quê?
— Vamos pensar. Por que o senhor Rudger era tão bom para Aidan?
Com as palavras de Leo, Tracy franziu a testa.
— Esqueceu? Ao dar a palestra sobre atributos elementares, o senhor Rudger elogiou Aidan.
— Não, isso foi porque Aidan fez um bom trabalho…
— Aquele sangue-frio? Você não viu Flora Lumos? Foi ele que não poupou nenhuma amargura contra ela. E, mais importante: se lembra da aposta que ele fez com o senhor Chris?
— É claro.
— Naquela hora, ele estava apostando que Aidan ganharia. Ele disse isso sem uma única hesitação. Não é estranho? Até agora, Aidan tem sido um estudante comum com pouca informação conhecida.
— Sobre isso…
— O que havia em Aidan que deixou o senhor Rudger tão convencido de que ele venceria um aluno nobre? E por que ele gastou seu tempo pessoal ensinando-lhe o movens-magus também? Verifiquei o movens-magus, e ele é uma prática usada apenas por pessoas especiais nas forças armadas.
— Ele serviu como oficial militar.
— Esse é o ponto. Lições aprendidas nas Forças Armadas. Uma sensação de saber um pouco sobre antimagia. Encontrei uma conexão aqui.
— O quê?
Tracy perguntou, e Aidan também estava interessado no palpite de Leo, esperando por suas próximas palavras.
— Talvez o senhor Rudger saiba algo sobre sua instrutora.
— Senhor Rudger? Mas como?
— Não sei detalhes, mas meu palpite é que, sim, ele deve ter conhecido sua instrutora quando era oficial. Ela não deve ser conhecida por essas habilidades porque pode ter vindo de uma unidade secreta nas forças armadas que não deveria ser conhecida.
Leo estava convencido em seu coração de que seu raciocínio estava quase correto.
Ouvindo essas palavras, Aidan inclinou um pouco a cabeça. Se ele fosse um soldado, disciplinado e sempre econômico, por assim dizer, teria sido como Rudger. Todavia, em sua memória, sua instrutora era mais como um espírito livre do que soldada.
“Não. Se ele fosse de uma unidade secreta, poderia ser diferente de um soldado normal.”
De certa forma, ele pensou que o palpite de Leo poderia estar certo.
— Ele sabe da minha instrutora?
— Considerando o comportamento mostrado por ele, acho que é possível. Se não for isso, não tem como ele ser legal com você. Talvez os dois estivessem próximos um do outro.
As palavras de Leo com certeza faziam sentido.
— Então, se eu perguntar ao senhor Rudger, ele não vai me contar a respeito dela?
— Não, porque ainda não tenho certeza. Além disso, não quero incomodar o professor de novo por nada. Ele já ajudou o suficiente.
— Se você acha…
À medida que a conversa amadurecia lentamente, Tracy abriu a boca como se tivesse se lembrado de algo.
— Ah, vocês já ouviram aquele boato?
— Boato?
— Que boato?
* * *
Eu estava compartilhando uma refeição com os novos professores.
Em primeiro lugar, eles tinham os mesmos motivos para se juntar a Sören, e é essencial manter um número mínimo de conexões pessoais, não importa em que país você esteja.
Não era tão incômodo. Se você ficasse quieto e comesse, os outros professores cuidariam de si mesmos e pediriam novidades; então compartilhariam entre si. Em particular, Selina gosta tanto de conversar que balbuciava sem parar enquanto comia.
Claro, ela não estava chateada nem nada. Em vez disso, o comportamento dela foi o criador de humor dessa reunião. Ainda assim, não prestei muita atenção às informações solicitadas, pois eram quase ineficazes.
— Ah, o senhor Rudger não faz isso?
No entanto, acho que essas notícias são diferentes das habituais.
Eu me virei para Selina e fiz uma pergunta.
— Como assim?
— O senhor tem trabalhado sozinho todo esse tempo. Da coleta de dados, organização de livros didáticos e verificação de tarefas. Certo?
— Você tem razão.
“Não é esse o trabalho do professor?”
Assim que eu estava pensando nisso, ela fez outra pergunta inocentemente.
— Por que não tem um assistente?
É que…
Havia algo assim…?