Cap. 58 – Recrutando um Assistente (3)
Dei a Sedina Rosen dois dias para se inscrever ao cargo de monitora, porém, ela preencheu o formulário em ordem e depois de uma hora veio ao meu dormitório.
Ela estava ofegante.
Eu não sabia que ela queria tanto o posto, então, meio perplexo, aceitei nomeá-la. No dia seguinte, entreguei a ela os materiais da aula e, devagar, fui até a sala, dizendo-lhe para ir primeiro e colocá-los no pódio.
“Primeiro, preciso deixar claro quem é minha assistente pros alunos.”
Mesmo que Sedina parecesse jovem, ela é bem completa e direta. Suspeito que a sua frequente cautela possa ter algo a ver com o motivo pelo qual ela se juntou ao Amanhecer Negro. Ela só age de forma estranha com quem é da Primeira Ordem.
“Agora posso ir com calma.”
Quando abri a porta da sala e entrei, Sedina, que estava de pé na plataforma, me viu.
— Bom trabalho.
Eu só disse uma palavra, todavia ela tremeu de empolgação e saiu, dando espaço para eu subir no pódio.
“O que está acontecendo com eles?”
A maioria olhou para mim com os olhos bem abertos, como se estivessem incrédulos. Não importa a perspectiva, tenho certeza que é porque escolhi Sedina como monitora.
Isso é tão surpreendente?
“Além disso, por que ela está assim de novo?”
A feição de Flora Lumos se destacou mesmo entre os alunos. Ela cerrou os dentes para não demonstrar emoções, mas olhou para mim de forma severa. Era como se eu fosse um pecador imperdoável.
Ignorei seu olhar e notei as reações dos outros alunos.
“Já faz um tempo desde o início da aula, e alguns alunos estão mudando o olhar.”
Até este ponto, alguns alunos se esconderam enquanto observavam uns aos outros como se estivessem se espionando desde o início do semestre. A guerra acabou agora?
O ímpeto deles mudou de modo considerável em comparação com o início da aula, em especial Aidan.
— Hã? O quê?
Ele se encolheu como se sentisse meu olhar.
O duelo foi suficiente para causar uma agitação na atmosfera calma de Sören. Houve o caso do lobisomem antes, mas um confronto entre plebeus e nobres deve ter sido o golpe decisivo.
Não se pode dizer que é culpa dele, já que isso iria acontecer hora ou outra. De certa forma, pode-se dizer que ele foi muito azarado. Seja qual for o caso, os alunos afetados começarão pouco a pouco a revelar sua verdadeira natureza.
“Deve ser por conta da atmosfera barulhenta.”
A julgar pelas reações variadas, ficaram surpresos com quem escolhi pra monitoria.
— Silêncio.
Os que estavam conversando ficaram quietos.
— A aula vai começar.
Os professores só precisam se sair bem em sala de aula.
* * *
— O que aprenderam hoje estará na próxima prova, então não deixem de revisar quando voltarem.
Após dar a eles uma tarefa simples, organizei meus livros didáticos e saí da sala.
— Senhor Rudger, tenho uma pergunta. — Alguém levanto a mão.
Tive o cuidado de não recusar perguntas depois da aula, mas esta foi a primeira vez que uma pergunta surgiu assim. Até este ponto, todos olhavam para mim e sequer pensavam em se aproximar.
— Acerca do quê…
Não havia nada que eu não pudesse responder por enquanto, então olhei para o aluno que levantou a mão e perguntou. No momento em que vi o cabelo branco feito neve, lembrei-me do nome da aluna.
— Julia Plumhart?
— Você se lembra do meu nome.
— Porque você escuta às minhas palestras.
Julia, de cabelo branco e pele pálida, exalava uma aura estranha que fazia você sentir que congelaria apenas por se aproximar. O seu sorriso sutil e atraente parecia ter uma motivação sombria. Apesar da aparência excelente, a razão pela qual me lembro dela é porque ela tomou o primeiro lugar nas provas de admissão e também é uma novata indiscutível da Torre.
“Até este ponto, ela estava apenas participando calada.”
— O que foi?
Fiquei parado, esperando pela pergunta.
— Como você escolheu sua assistente?
— Eu mesmo a vi e a recrutei.
— Então, existem condições? Por exemplo, se você é bom o suficiente em magia, você pode ser escolhido.
Com suas palavras, todos olharam para mim com curiosidade.
* * *
A pergunta dela aparentou ser por pura curiosidade, contudo sua intenção era apunhalar Rudger. Ele de repente contratou uma assistente e agora foi questionado se ele tem certeza de que ela tem a capacidade de se manter no cargo.
Ele poderia ter ficado ofendido, mas ele simplesmente olhou para Julia com olhos calmos. Então, quando todos prestaram atenção, sua boca se abriu.
— Eu busco apenas uma coisa nos monitores.
— O quê?
— Afinco.
Julia ficou por um momento sem palavras com a resposta muito digna.
— Quando seleciono alguém, não vejo a classe, condições ou honra, apenas a personalidade. A razão pela qual a escolhi é por causa do seu caráter.
— Então você quer dizer que não considera mais nada ao escolher um assistente?
— Sim. Qualquer um é bem-vindo, mas haverá uma entrevista antes — disse, antes de apontar para Julia. — Mas, pelo visto, você não merece o cargo.
“…….”
O rosto sorridente dela mudou, como se tivesse sido atingida por um golpe poderoso. Ele olhou para os outros alunos.
— Alguém mais?
— Sim!
Ele se voltou para a fonte do som. Aidan, Leo e Tracy estavam lá. Parecia que Leo estava falando, mas era Aidan que estava perplexo.
— Qual a dúvida, Aidan?
— Hum? Sim?
— Você não queria fazer uma pergunta?
Aidan hesitou em responder à pergunta. Obviamente, foi Leo quem levantou a mão, entretanto, a atmosfera de repente mudou para ele. Leo deu um tapinha no seu ombro, dizendo-lhe para fazer o seu melhor. A pergunta que saiu de sua boca foi algo bastante diferente do esperado.
— Você já ouviu falar da pedra que realiza desejos?
Ele estava tão perturbado que seu cérebro endureceu e falou sem pensar. Ele ia perguntar a sua instrutora, mas desperdiçou sua chance. Tracy e Leo olharam para ele expressões de questionamento.
— Ouvi. É um boato.
“……!”
Ninguém poderia responder, pois todos sabiam que ele não estava perguntando por curiosidade genuína.
— É melhor se aprimorarem vocês mesmos no tempo livre do que prestar atenção a esse absurdo. Sabiam que o primeiro dia de avaliação está chegando em breve?
A voz de Rudger, que se tornara ainda mais pesada, varreu toda a sala de aula. Todos de Sören seriam testados em breve.
— Aqueles que não obtiveram os resultados adequados serão considerados infiéis aos seus estudos por distração advinda de rumores inúteis.
Pelas últimas palavras dele, alguns engoliram em seco a saliva.
— Alguém tem mais perguntas? Se não, estou indo.
“…….”
Após isso, ele saiu. Sedina, que estava esperando por ele com as costas contra a parede perto da porta, o cumprimentou apressadamente.
— Obrigado pela aula, senhor.
— Ainda está esperando?
— Sim. Como foi?
— De agora em diante, por favor, espere confortavelmente no escritório. Não perca seu tempo aqui.
— Sim!
Mesmo depois que ela respondeu, ela franziu a mão como se tivesse algo a dizer a ele.
— Algo mais?
— Hum. Aquela, aquela…
— Julia Plumhart?
— Ah, não. É que…
— Não se preocupe. Ela não tem intenção de se intrometer em assuntos pessoais.
— Sim… — assentiu, aliviada.
— Pegue.
— Sim!
Quando ele entregou a pilha de tarefas que estava segurando, ela logo estendeu a mão e aceitou. Foi tão repentino que ela cambaleou, mas conseguiu se equilibrar.
— Vamos ver isso hoje.
— Sim, sim.
— Responda apenas uma vez.
— Sim.
Naquela hora, a porta dos fundos da sala se abriu, e Flora Lumos foi até Rudger. Vendo a aparência dela, Sedina ficou atrás dele, segurando a pilha de tarefas.
— Qual é o problema, Flora Lumos?
— O professor escolheu uma assistente…
— Como vê, selecionei uma. Mas por que está perguntando?
— Isso…
Vendo Flora cerrando e abrindo os punhos, ele fez uma pergunta sarcástica.
— Está planejando se candidatar?
— Ah, não! Por que eu?!
Sem saber, ela levantou a voz e gritou. Consciente de seu erro, cobriu a boca com a mão.
— As oportunidades estão sempre abertas. Se você mudar de ideia, você pode aplicar.
Rudger deu meia volta. Flora, que ficou sozinha, olhou fixamente para as costas dele enquanto ele se afastava pelo corredor.
“Irritante…”
* * *
Voltando ao seu escritório, ele não conseguiu descansar e teve que se levantar outra vez.
“’Senhor Rudger, pode vir ao meu escritório por um momento?’“
Foi porque a diretora o chamou.
Rudger não teve escolha a não ser ir ao gabinete da diretora presidente. Ele pegou o elevador no prédio principal e subiu até o topo, onde ficava o escritório dela. Ele atravessou o corredor e bateu na porta.
— É Rudger Chelici.
— Pode entrar.
A porta se abriu sozinha. Ele entrou e sentou-se em um assento vazio em frente a ela.
— Por que me chamou?
— Já ouviu os rumores da pedra que concede desejos?
— Está falando da Pedra Onipotente? Um pouco. Se popularizou entre os estudantes.
— É, sim.
— No entanto, não me importei. Acreditei ser só um boato.
— Acreditou?
A diretora balançou a cabeça com um sorriso inexplicável, então ela revelou uma bomba.
— Na verdade, existe, sim, uma pedra que realiza desejos.