Capítulo 59
Ela existe.
Essa observação foi tão absurda que eu não sabia o que dizer por um momento.— Surpreso?
— Repentino.
Aqui, se ela risse e dissesse estar brincando, eu teria apenas descartado isso como uma piada. Olhando para ela, era real.
— Ugh. Primeiro de tudo, preciso explicá-la.
Ela balançou o indicador de leve. Foi um ato muito natural, mas o resultado não foi. Uma enorme e clara energia mágica emanou das pontas dos dedos dela e tomou a forma de uma pedra hologramática na minha frente.
Foi uma visão surpreendente, mas tomei cuidado com a minha expressão e prestei atenção. Por mais que fosse chamada de onipotente, estava mais perto de uma joia inacabada, isto é, uma pedra bruta.
— Como vê, ela é real. É um objeto com poderes desconhecidos e misteriosos que existem há muito tempo. É difícil adivinhar a sua idade.
— Relíquia.
— Você sabia.
— Ouvi falar.
Relíquias e artefatos são diferentes. Os artefatos são artificiais e criados para um único efeito, diferente das relíquias. Não se sabe quem as fez, como foram feitas ou como funcionam. Ao mesmo tempo, seus efeitos e poder são pelo menos cem vezes maiores do que os artefatos criados pelos arquimagos.
De certa forma, são comparáveis a uma arma estratégica que requer uma gestão cuidadosa. No entanto, o número de relíquias é tão pequeno que é difícil encontrá-las em todo o continente, pois elas têm grande poder.
— Existe tal relíquia em Sören?
— Você deve ter ouvido algo, então será mais fácil de explicar. Sim, há uma relíquia em Sören chamada de Pedra Onipotente. Para ser precisa, ela está armazenada aqui há muito tempo.
— Sério?
Eu balancei a cabeça. Todavia, se há um problema, por que ela me chamou? Isso é um segredo, não importa como eu olhe para ele.
— Preciso da sua ajuda, senhor Rudger.
— Com?
— Atualmente, rumores dela estão se espalhando entre os alunos. Todos na academia já sabem.
Eu assenti, porque essa foi a pergunta que Aidan me fez logo após a aula de hoje. Pensei ser apenas um boato e mandei os alunos se esforçarem para as avaliações próximas.
— O que há de errado nisso?
— Primeiramente, não era para ela vir ao conhecimento público. O fato de que esses rumores da relíquia, que deveria ter sido mantida em segredo, se espalharam, significa que informações privilegiadas vazaram.
— Alguém não manteve o sigilo?
— Sim. Ela tem tanto poder que precisa ser transferida regularmente.
Resumindo as suas palavras, a Pedra Onipotente existe e é uma relíquia poderosa mantida em um lugar secreto fora do alcance, mas devido ao poder que ela emite, não importa muito se está em uma caixa de armazenamento ou um lugar.
“É claro que trabalhos periódicos de manutenção e reparo são essenciais.”
Se assim for, na manutenção, ela deve ser transferida para outro local por um tempo e depois trazida de volta. O problema é que as informações vazaram durante o processo, e isso acabou se tornando um boato e circulou entre os alunos.
— Alguém está vazando informações de propósito.
— Certo.
— Foi por essa razão que o chamei. Preciso da sua ajuda.
Acho que entendo do que ela está falando. Ela quer que eu encontre a pessoa que vazou a informação.
— Está bem.
— Você aceitou surpreendentemente rápido.
Ela arregalou os olhos, como se não achasse que eu acataria de imediato.
“Tenho que fazer isso para que ela não duvide de mim.”
Ela acreditava em mim de verdade, então me confiou esse trabalho. Graças à minha identidade e à minha posição de ex-oficial militar, fui a melhor escolha dela. Por ainda estar desconfiada de mim, é bem provável que ela use isso como uma desculpa para descobrir os meus segredos.
“Nesse caso, é melhor aceitar sem questionar.”
A fim de receber sua confiança, primeiro precisava mostrar que estava do lado dela. Confiar um no outro não é uma via de mão única, mas de mão dupla.
“No longo prazo, é melhor manter um bom relacionamento com ela. Se eu conseguir a confiança dela, meus dias aqui serão muito mais fáceis.”
A razão pela qual respondi de imediato foi porque tal cálculo estava em vigor. É claro que enfatiza o aspecto de um soldado que executa calado as ordens de seus superiores sem mostrar incômodo.
— Preste atenção aos rumores. Se alguém fizer qualquer movimento suspeito, por favor, me avise na mesma hora. Fora isso, você precisará transportar a relíquia.
— Tudo bem. Quando começo?
— Quanto antes melhor.
— Há outros professores envolvidos além de mim?
— Há, mas vocês não terão que se encontrar, pois suas responsabilidades são diferentes.
— Certo.
Se há outros, por que está me chamando, um professor novo? Ela está em cima do muro. Fui contra a facção de Hugo por meio de uma aposta com Chris, mas isso não foi suficiente?
— Por ora, senhor Rudger, por favor, aja como de costume. Você ainda tem tempo para transportá-la.
— Muito bem.
Quando a relíquia é retirada de um lugar seguro, as forças que espalham os rumores apontarão para ela. É muito provável que seja o Amanhecer Negro.
“As coisas vão ser divertidas. Ela ordenou eu, alguém da Primeira Ordem, a caçar membros do Amanhecer Negro.”
Foi uma coincidência ou intencional? Se for a segunda opção, talvez ela pense que eu não poderia fazer isso se fosse um traidor. Foi um erro por parte dela.
“Ninguém quer expulsar o Amanhecer Negro de Sören tanto quanto eu.”
Eles são como algemas para mim, porque não sei quando ou onde vão de repente fazer algo louco. Se descobrirem que sou um impostor, farão qualquer coisa para me matar.
“Vamos aproveitar esta oportunidade para verificar o quão grande é a organização.”
Fiz um ótimo trabalho contratando uma assistente com antecedência, já que ela é uma serva deles.
— Entrarei em contato com você mais tarde.
— Sim.
Levantei-me do meu assento e deixei o escritório dela.
* * *
Depois que Rudger deixou o escritório, a diretora Elisa Willow parou de arquivar seus documentos ao som de uma batida na porta e levantou a cabeça.
— Pode entrar.
Com sua permissão, a porta se abriu, revelando Wilford, entrando com uma bandeja de prata em uma mão. Na bandeja estava chá quente fresco e biscoitos.
— Coma.
— Obrigado.
— É o meu trabalho.
Elisa se espichou, então pegou um biscoito e pôs na boca.
— Uau. É sempre bom provar as habilidades culinárias do vovô.
— Você parece bem cansada.
— Uhum.
Ela era a diretora que geralmente não mostrava seus sentimentos, porém, Wilford era uma exceção. Ele fora seu fiel defensor por um longo tempo.
— Então, o senhor Rudger Chelici aceitou a oferta?
— Sim, com bastante facilidade.
Elisa pensou que ele faria algumas perguntas, mas aceitou sem dizer nada.
— Um soldado que obedece absolutamente às ordens de seus superiores…Você poderia dizer isso.
No início, ela estava cética em relação a ele, pois sabia que pessoas suspeitas se infiltraram na academia. Sua existência era tão sutil que era difícil dizer se eram funcionários, alunos ou professores, e por essa razão, ela arriscou Rudger, cuja história é relativamente ambígua. Depois de ver o duelo, ela não teve escolha a não ser mudar de ideia.
— Foi surpreendente os meus olhos não funcionarem. Se você olhar para o comportamento dele, deve ser porque a força mental dele é forte demais.
Sua avaliação entre os alunos foi esmagadoramente boa. Em particular, o “código-fonte” mágico que ele fez foi suficiente para estimular a curiosidade de Elisa, por mais que ela só tivesse ouvido falar dele. Ela teria ido falar com ele antes de qualquer outro se não fosse a diretora.
— Haha. Eu não te disse? Ele é confiável.
— Você estava desconfiado no início também.
— Até que fui encontrá-lo na estação.
Ela estava cética, mas ainda achava que estava tudo bem agora, já que ele deixou a facção de Hugo com uma pedra no sapato, constrangida o bastante para se acalmar. Com isso, ela conseguiu aliviar o estresse de um ano trabalhando como diretora. Ainda não podia confiar cem por cento nele, e por isso lhe deu essa tarefa.
“Senhor Rudger, esta é a última. Por favor, mostre-me mais do que eu espero.”
* * *
Enquanto lia uma tese no escritório, levantei a cabeça ao som de uma batida na porta.
— Quem é?
— É Sedina, senhor. Vim aqui depois de terminar as tarefas.
— Entre.
Havia uma sensação de cansaço no seu rosto depois que completou a tarefa de designação de oitenta pessoas, mas também um sentimento de orgulho.
— Aqui está um resumo.
— Muito bem. Deve ter sido bastante trabalhoso.
— Foi, sim.
Tirei os óculos sem aro do rosto e olhei com cuidado para o material montado por ela.
— Humm. Sem problemas. Você se saiu bem.
— Ah, não. Foi conveniente porque eu só tinha que organizar.
— Bom trabalho. Agora vá descansar.
— Ah, obrigada!
O rosto dela se iluminou com meus elogios e ela deixou o escritório com passos emocionantes. Sozinho de novo, limpei a pilha de lições que ela estava organizando e virei a cabeça para olhar pela janela.
O sol estava se pondo; o céu, escurecendo. A luz das estrelas era tão deslumbrante que era difícil vê-la nesse nível na minha vida passada.
Já é noite?
“A diretora me chamará de novo nos próximos dias.”
Uma relíquia está sendo mantida em Sören sob a atenção do Amanhecer Negro. A diretora estava ciente da existência da organização. Talvez esta seja a primeira luta adequada entre a academia e ela.
“Não posso tomar uma decisão rápida, pois ainda não decidi o que fazer. Entretanto, tenho certeza de que este é um grande ponto de virada.”
Mesmo que fosse a maior academia de magia do continente, não poderia imaginar que haveria uma relíquia em tal lugar. As relíquias não são objetos simples, elas contêm enormes mistérios que até os magos não conseguem descobrir.
Tirei o remédio da farmácia e o ingeri. Senti minha energia mágica se encher com uma sensação refrescante. Um coisa veio à mente, então peguei algo do meu bolso.
Ela pensou que, por eu ser um ex-militar, tinha ouvido muito a respeito de relíquias. Na realidade, esse não é o caso. Há apenas uma razão pela qual não fiquei muito surpreso quando ouvi falar dela.
“É uma Relíquia?”
Peguei um pedaço metálico de um material desconhecido redondo do meu bolso.
“Eu não sabia que iria achar isso em um lugar desses.”
Eu também tinha uma relíquia. Para ser preciso, o “fragmento” de uma.