Cap. 66 – A Armadilha da Bruxa (2)
Quando saí da entrada da floresta, a maioria estava saindo, e apenas alguns encarregados do campo permaneceram. A pessoa mais notável era a diretora, cujo característico cabelo de dois tons era perceptível mesmo no meio da noite.
— Diretora.
— Senhor Rudger.
Ela o cumprimentou com um sorriso gentil, então focou nas duas alunas agitadas atrás dele.
— O que as duas estão fazendo?
— Fui tirá-las da Floresta Silenciosa.
— Floresta Silenciosa?
A diretora estreitou os olhos por um momento. A trêmula Cheryl Wagner tremeu ainda mais, e Flora Lumos mordeu o lábio.
— Humm… Ir para um lugar perigoso como a Floresta Silenciosa no meio da noite? Qual é o motivo?
— D-digo…
Cheryl se engasgou com as próprias palavras. Nesse momento, Flora interferiu.
— É tudo por minha causa.
— F-Flora…
— Fui para a Floresta Silenciosa à vontade, e Cheryl estava apenas me perseguindo.
— Estudante Flora Lumos?
Flora Lumos, segundanista, tinha o interesse da diretora. Família, aparência e até talentos mágicos; ela tinha todos eles e ainda assim entrou na floresta de bom grado?
Ela costumava causar pequenos problemas, mas nunca chegou a um lugar tão perigoso por conta própria.
— O que aconteceu?
— Aconteceu porque eu estava andando querendo melhorar o humor, então o senhor Rudger salvou a mim e a ela.
— Humm. Isso mesmo.
A diretora não fez mais perguntas a Flora, porque sabia que ela era inocente. Não era irracional dizer que ela entrou por engano. Como a Floresta do Silêncio era ampla, era quase impossível gerenciar todas as áreas, em especial em noites escuras como agora.
— Obrigada por cuidar deles, senhor Rudger.
— Por nada. É meu dever.
— Mas, sinto muito, a situação já acabou.
— A diretora terminou tudo?
— Sim. Foi urgente.
A diretora estava se desculpando e prestou atenção à reação dele, que não mudou. Ele não ficou surpreso, nem aliviado, nem irritado com o fato, apenas aceitou.
— Está bem.
— Você não está ofendido? Pedi sua ajuda e cuidei da situação por conta própria.
— Você, que é mais capaz do que eu, se apresentou, então acho que fez o correto. Foi uma maneira mais eficiente e rápida.
Com as palavras de Rudger, a diretora assentiu com um rosto perplexo.
— Isso… sim. Bem, é verdade.
— Não tenho reclamações quanto a trivialidades.
A diretora ficou sem palavras com a resposta honesta e informativa. Desde a primeira vez que ela o viu até agora, ele foi muito consistente, graças ao seu histórico militar.
— Mais do que isso, nas mãos da diretora…
Rudger abriu a boca quando viu o item embrulhado em um pano na mão da diretora.
— Ah, isso? Não importa.
— É mesmo?
Quando ela disse isso, ele decidiu desviar sua atenção, então assentiu e olhou para as duas que trouxera com ele.
— Então, o que podemos fazer?
— Como elas puderam cometer tal erro? Acho que você deveria mandá-las de volta para o dormitório.
— Não é necessário adicionar um ponto de penalidade?
— Céus. Até o senhor diz coisas que nem se importa. Vejo isso depois, vá levá-las.
— Essa é a diretora!
Cheryl olhou para a diretora com admiração, enquanto Flora apenas ficou parada, como se não tivesse interesse em tais coisas.
— Assumirei a responsabilidade e as mandarei de volta, então.
— Senhor Rudger, está tarde. Vá.
— Certo.
Rudger terminou assim sua reunião com a diretora e saiu.
* * *
— Como é que foi?
Depois que Rudger saiu com as duas alunas, Wilford, que estava observando de longe, se aproximou da diretora.
— Pode-se dizer que a suspeita foi erradicada por este incidente.
— É mesmo?
— Sim. Ele olhou para mim e não reagiu. Se houvesse alguma conexão com eles, deveria ter tropeçado.
Além do mais, ele até tirou duas alunas perdidas da floresta.
— O trabalho foi feito rapidamente, e eu gosto da atitude dele. Acima de tudo, ele ainda tem forte poder mental e não foi enfeitiçado pela Floresta Silenciosa.
— Você parece gostar dele.
— Talvez, mas acho que você também.
— Ha, ha. Bem, não vou negar.
Wilford era um ex-cavaleiro, então gostava do fato de Rudger ser contido em comparação a outros magos corruptos. Em particular, seu corpo treinado, que se destacava sob suas roupas, mostrava que ele diferenciava de um mago normal. Essa parte causou uma boa impressão.
— De qualquer forma, parece que este incidente aumentou a conscientização entre eles.
— Eu não sei, gostaria que sim.
— Você deveria tê-los capturado e interrogado.
Com isso, a diretora balançou a cabeça violentamente.
— O senhor sabe muito bem que essas táticas não funcionarão neles.
— Sei.
Não importava quantos membros da sociedade secreta fossem interrogados, nenhuma informação da organização seria vazada. Além disso, algumas medidas podem ter sido tomadas para evitar que vazassem.
Capturar e interrogar esses desgraçados consumia tempo e energia mental considerável, por isso seria melhor eliminar os descobertos.
— Espero que isso os acalme por um tempo.
* * *
— Apenas volte.
Rudger, que havia escoltado Flora até o dormitório, virou as costas para ela sem hesitar.
— Eu…
— O quê?
Flora chamou Rudger e tentou dizer-lhe algo. No entanto, não importava quantas vezes mordesse os lábios, sua voz não saía.
— É tarde da noite. Se não tem mais nada a dizer, estou indo embora.
Desapareceu como o vento. Ele era tão rápido que até Cheryl, que estava ao lado de Flora, se surpreendeu.
— Poxa vida. Flora, você está bem?
— Sim. Não me importo.
— Eu estava preocupada. Por que diabos você de repente entrou naquela floresta?
— Só…
— Só?
— Tem vezes que eu só quero andar por aí. Depois disso, de alguma forma, acabei lá.
— Hã, tá bom. Mas devo ter cuidado da próxima vez, também estava com muito medo!
— Sim. Obrigada pela preocupação, Cheryl.
Flora sorriu fracamente e voltou para o dormitório.
Depois de se lavar e vestir seu pijama, ela caiu na cama. Ela se lembrou da figura de Rudger na Floresta Silenciosa.
O que o professor estava segurando em sua mão era, obviamente, algum tipo de recipiente para remédio.
Ela ficou um pouco assustada quando perguntou. Mesmo que só pudesse ver as costas dele, ele estava tremendo. O que ele fazia em um lugar onde não havia pessoas?
“Está doente?”
Uma hipótese de repente foi à mente dela, e ela involuntariamente levantou a parte superior do corpo.
“É verdade?”
Certamente se parecia com isso. Seu corpo tremendo de dor e o ato de tomar remédio em segredo escondendo-se em um lugar remoto a convenceram ainda mais.
“Não tem como o senhor Rudger usar drogas. Talvez ele estivesse se esforçando para fingir ser forte, mas não estava se sentindo bem, não é?”
Ela negou com a cabeça.
“Não, nada é certo ainda. Então, não vou pensar muito sobre.”
Todavia, não importa o quanto negasse, não podia deixar de ter pensamentos semelhantes.
“Se tiver uma chance, posso conferir da próxima vez.”
Flora pensou assim e fechou os olhos. Parecia que hoje, ao contrário do habitual, ela não teria pesadelos.
* * *
Quando todos caíram em sono profundo depois da meia-noite, a diretora confirmou com seus próprios olhos o lugar onde a verdadeira “Pedra Onipotente” estava.
— Está tudo bem.
Graças à isca, ela acabou com alguns dos inimigos e a verdadeira foi mantida segura. Vendo ela no centro do altar, suspirou de alívio.
Parecia idêntica à réplica, mas a relíquia era tão perigosa que não podia abordá-la com descuido. A Pedra Onipotente respondia ao desejo do proprietário e o concedia.
“O problema é que não há limite.”
Essa pedra responde aos desejos mais sombrios e poderosos escondidos na sua mente. Mesmo que alguém pedisse para ganhar muito dinheiro, isso não seria realizado, a menos que fosse um desejo real. Em vez disso, muitas vezes eles se forçam a fazer o que não querem.
A maioria dos desejos intensos dos seres humanos são baseados em malícia. Ao invés de ganhar dinheiro, implicitamente querem que a pessoa que odeiam sofra; a pedra, por sua vez, concede o desejo.
“Se não tiver quem a use, espalha ondas de magia por conta própria e manipula quem for sensível a elas.”
Portanto, ela precisava ser armazenada em um espaço fechado coberto com inúmeras anteparas para que seu poder não fluísse para fora e os guardas não fossem controlados por eles.
“É algo para ser observado.”
Nos poucos documentos restantes, havia um registro de que um reino desaparecera por conta da pedra.
Algo tão perigoso assim era armazenado em Sören, o lugar menos esperado possível, porque, se caísse nas mãos da Torre ou de outros reinos, a guerra já teria começado.
“Estou tão feliz por ter conseguido sem problemas.”
Após verificar uma última vez a Pedra Onipotente, a diretora fechou a antepara, uma parede externa de metal de três metros de espessura. A escuridão consumiu o interior, restando apenas a fraca luz verde da relíquia para iluminar.
Era para a pedra ficar ali sem ser tocada por um longo tempo de novo, se as sombras não tivessem se contorcido no escuro.
Uma pessoa se levantou das sombras.
— Uau.
Tonto, o homem balançou a cabeça e deu um profundo suspiro.
“É real.”
Era semelhante à falsa, porém o ar exalado era qualitativamente diferente. O olho estelar de Rudger pôde discernir a versão original e legítima de imediato.
Ela, percebendo que um humano estava por perto, espalhou ondas mais intensas de poder mágico. Ele sentiu isso na pele e franziu a testa.
— Está me seduzindo?
Se um ser respondesse mentalmente em uma certa distância, ela emitia uma onda mágica a fim de realizar um desejo. Não afetava só o corpo, mas também a parte mais profunda da mente.
— Que coisa mais engraçada.
Mas isso só funcionava com pessoas medíocres.
Rudger se aproximou, estendeu a mão e a pegou.
— Sinto muito, mas não tenho intenção de deixar você realizar meus desejos à vontade.
A pedra vibrou, como se estivesse se rebelando contra ele.
— Você não é nem a primeira, nem a última relíquia com que tive contato.
Ele era um especialista na área.