Cap. 67 – Relíquia
Rudger viajou pelo continente em busca de relíquias, em específico os fragmentos da “escultura” que possuía. Ele enfrentou muitas cidades, países e povos. Como resultado, encontrou relíquias que não tinham nada a ver com a escultura.
Um mago normal não veria uma única na vida, diferente dele. Quando se tratava delas, ele era mais experiente do que qualquer outra pessoa.
— Não se mexa.
A Pedra Onipotente gerou magia para resistir a ele, porém não ficou surpreso. Às vezes, as incomuns continham esse tipo de “vontade”.
A pedra existia para satisfazer as necessidades alheias. Ela espalhava ondas de desejo porque o seu propósito cego sublimou-se em sua vontade e possui um efeito nos arredores. Relíquias eram objetos amaldiçoados, de certa forma.
Então ela resistiu a Rudger, que riu da vontade da relíquia.
— De qualquer forma, você não pode fazer meu desejo “real” se tornar realidade.
Mesmo antes de ver a Pedra Onipotente, ele não acreditava em seu poder. Concedia desejos, mas apenas nos seus limites. E desejos limitados, afinal, eram farsas.
— Se você é uma farsa, então aja como uma e faça o que digo.
Ela não desistiu. Em vez de espalhar ondas ao redor, concentrou-se em Rudger, o envolvendo de energia verde. Ele franziu a testa, focado.
— Luta inútil.
Todavia, ele não bloqueou a magia e fez uma coisa ousada, aumentando seu poder mágico ainda mais em sua mão segurando a pedra.
A pedra ficou perplexa. O que diabos ele estava fazendo? Ao invés de defender, preferia aceitar seu poder mágico?
Ela não parou de invadir a mente dele enquanto questionava as suas ações. A energia dela tentou possuí-lo achando que era uma coisa boa, até que foi impedida como se tivesse batido numa parede.
Não foi a magia dele que a bloqueou, mas um poder estranho e incompreensível, impossível até de se classificar.
— Melhor parar aí. Se for além disso, não será bom para você ou para mim.
As advertências dele foram sinceras, mas a vontade da relíquia precisava cumprir seu papel com o melhor de sua capacidade. Não havia nenhum elemento emocional nele, então aceitou a proposta. Se fosse além, não poderia cumprir seu papel no futuro.
— Boa. Bem, tenho esse fragmento aqui — disse, forçando a entrada de um “desejo” na pedra enquanto pegava o pedaço de um bolso interno. — Diga-me onde estão os quatro fragmentos restantes.
Naquele momento, uma luz verde deslumbrante foi emitida. Se fosse um campo aberto, seria vista longe.
Quando a luz se apagou, ele tirou a mão da pedra.
— Dois, sim.
Rudger queria todos os quatro locais, mas a pedra só podia mostrar dois, e ele sabia aproximadamente onde estava um.
“Até que não foi tão ruim.”
Apenas encontrando mais um fragmento cujo paradeiro era desconhecido, ele salvou anos que poderiam ter sido desperdiçados.
“Mesmo assim, eu não sabia que estaria tão perto.”
A localização do que ele descobriu sem querer estava em Leathervelk.
— Estou feliz por ter encontrado um.
A Pedra Onipotente vibrou, como se protestasse. Uma vez que o ajudou, queria que ele a levasse para fora, mas ele ignorou essa vontade.
— É perigosa e destrói quem toca, então continuará aqui.
Woooo!
Ele já havia desaparecido na escuridão. A pedra, deixada sozinha, piscou em luz verde, mas logo ficou quieta, já que não havia quem ouvisse.
* * *
Voltando ao meu quarto, sentei-me no sofá por um tempo para descansar. Saltar sobre o espaço não é algo que se faz várias vezes. Estou com pouco poder mágico agora.
Um barulho rastejava pelo meu cérebro, então franzi a testa e enfiei uma pílula na boca. A energia contida nela se espalhou pelo meu corpo e reabasteceu a energia consumida, mas não o suficiente. Desta vez, levou mais tempo, porque consumi muita mana.
Para não ouvir esse barulho, sempre tinha remédio. Agora, claro, me beneficiei desse barulho irritante.
A Pedra Onipotente penetrou minha mente, mas graças ao som, consegui superar sem ficar muito prejudicado. Ainda assim, não posso deixar de ficar irritado. É uma sorte que este seja o estágio um, porque se ficar pior, será difícil se recuperar.
Pressionei de leve o dedo na minha testa, como se fosse acupressão. Talvez, por ter ficado parado por cerca de meia hora, o barulho desapareceu em algum momento.
Suspirei de alívio e me levantei. Agora que sei o paradeiro dos fragmentos, segurei a bola de cristal de contato e enviei energia mágica. Uma resposta veio na mesma hora.
— “Ligou, irmão?”
— Sim.
Hans respondeu de imediato, por mais que já passasse da meia-noite. Ele devia estar esperando que eu o contatasse.
— “Você ter me ligado agora quer dizer que terminou o que tinha que terminar?”
— Mais cedo do que eu esperava.
— “Espero que isso seja bom.”
— Pode adiantar o compromisso. No fim de semana seria melhor.
— “Acredito que sim. Mas não acho que você me contatou para dizer isso. Do que mais precisa?”
— Encontrei o paradeiro de outro fragmento.
— “Onde…?”
— Em Leathervelk. Procure na casa de leilões.
— “Só existe uma lá.”
— “Sim. Creio que esteja lá.”
A casa de leilões <Kunst>, exclusiva de Leathervelk, é uma das casas operadas pela Luke, a maior empresa de leilões do Império Exilion. A filial de lá é uma das maiores do continente.
A influência da casa Kunst não se limitava apenas a Leathervelk ou ao império. Ela continha uma altíssima taxa de participação porque ricos de todo o continente se reuniam lá atrás de mercadorias.
Antiguidades de alta qualidade, itens históricos e até artefatos excepcionais são coisas boas que atraem pessoas endinheiradas, que investem enormes quantias para ostentar.
“O momento é bom, porque um grande evento será realizado lá em breve.”
Se fosse Hans, poderia verificar com facilidade a lista de itens que apareceria em Kunst.
— Descubra quando ele será leiloado.
— “Não precisa me dizer isso. De qualquer forma, ela não é um pouco grande?”
— É, sim.
— “Então, acho que o método “usual” seria um pouco difícil.”
— Eu sei. Por ora, pretendo agir como um convidado adequado.
Kunst mantinha uma segurança aterrorizante, pois é onde ricos de todos os cantos se reúnem, fora os magos. Nos leilões, contratam cavaleiros para garantir a segurança deles. Isso significa que a escala é enorme, assim como a reputação da Luke.
— Não se preocupe muito. Ainda há muito tempo, de qualquer forma.
— “Entendo. Verificaremos a lista primeiro. Hã?!”
— O quê?
De repente, Hans gritou. Eu me perguntei se algo tinha acontecido.
— “Não é um problema grande. É que um carnívoro irritante está fumando.”
— Um carnívoro irritante?
— “Você os chamou. Um já está aqui, irmão.”
— Entendo.
Eles chegaram mais cedo do que o esperado.
Naquele momento, uma voz gritou além da bola de cristal.
— “Senhora, espere! Estou indo!”
Vendo Hans gritando assim, ela deve ter chegado primeiro.
— “Enfim, irmão, te vejo depois.”
— Sim. Sofra.
Terminei a ligação com Hans.
Obtive algo com a Pedra Onipotente, e todos os que tentaram roubá-la morreram. Com isso, o caso relacionado a ela chegou ao fim.
“Com este incidente, quase todas as dúvidas que a diretora tinha foram saciadas, então basta.”
Chegou a hora de voltar ao cotidiano do professor Rudger Chelici. A única coisa que me incomodava era Flora Lumos.
“Não acho que nos encontramos por acaso na floresta.”
Ela foi exatamente onde eu estava. Entretanto, se for apenas uma coincidência e ela foi atrás de mim de propósito, é ainda mais absurdo. O Ater Nocturnus apagou minha existência, por isso não é algo que os alunos pudessem perceber.
“A boa notícia é que, com base em sua reação, ela não me viu usando magia.”
Talvez tenha sido porque o feitiço destrutivo usado pela diretora chamou sua atenção, mas isso não muda o fato de que ela ir para lá foi esquisito.
“Tenho que ter cuidado.” Tinha que prestar atenção no comportamento dela. Contudo, já que marquei um grande ponto, ficarei quieto por um tempo. Com isso em mente, adormeci. Precisava acordar cedo no dia seguinte.
* * *
De manhã, em frente ao meu escritório, encontrei uma garota vagando.
— Flora Lumos.
— Hum? Ah, ah! Senhor Rudger?
Ela devia estar preocupada comigo por causa do que aconteceu e estava me esperando na frente do meu escritório.