Cap. 68 – Sinestesia Mágica (1)
— Flora Lumos, o que diabos está acontecendo aqui?
Flora hesitou em responder à pergunta. Na verdade, ela queria perguntar a ele se ele usava magia incomum sem o conhecimento de mais ninguém.
“Mas, como você diz isso?”
O cheiro era a única prova de que ele havia usado magia, e alguém com uma constituição especial, como ela, podia sentir essa fragrância única.
— Ah. Então…
Por que ele estava lá naquela noite? E o porta comprimidos que ele carregava? Ela tinha várias perguntas a fazer, porém, ao mesmo tempo, não podia.
“Hummm.”
Pensando bem, ela não era muito boa com ele. Embora ele próprio dissesse não entender nada, ela ainda não esquecera a humilhação que sofreu no primeiro dia de aula.
Todos foram derrotados por seus defeitos, e até a batalha de insultos que se seguiu não terminou bem. Para ela, Rudger não era nada mais do que um homem digno de seu desafio.
Flora estava mexendo na borda da própria saia de uniforme.
“É, verdade. Acalme-se, Flora Lumos. Até ele fica doente, e isso não é da minha conta.”
Até ela organizar seus pensamentos, ele ficou parado, a encarando.
Flora tossiu um pouco e olhou para ele. De forma involuntária, ela desviou o olhar pro lado. Ela se sentiu envergonhada quando enfim se decidiu e se concentrou no rosto dele.
“O quê? Esses olhos.”
Ele estava normal, mas não para ela. Ele era um homem que se transforma em um quadro apenas por manter a boca fechada. Sua impressão era nítida, então quem recebia tal olhar dele por, pelo menos, três segundos se sentia envergonhado na mesma hora. Era como uma existência além da alta nobreza.
— Não tem nada a dizer?
Ele não estava nem um pouco envergonhado com o fato de uma aluna estar parado em frente à sua porta de manhã, em especial uma que podia ter testemunhado seu segredo.
“Você viu? Então quer me ameaçar?”
Ela, inconsciente de seus pensamentos, entrou em pânico. No fim, não teve escolha a não ser falar.
— Ouvi dizer que você está recrutando assistentes.
Ela não queria falar disso. Mas, na verdade, quando ele fez o anúncio, ela ficou intrigada.
— É óbvio.
— Eu, eu… posso ajudá-lo com o seu trabalho? — perguntou, cerrando o punho com coragem.
— O que foi que disse…?
— Eu perguntei se poderia ajudá-lo.
— Então, você disse que quer ser minha assistente agora?
— Não, não é isso!
Ela franziu os lábios. Ainda assim, ela ajudaria com o trabalho, já que estava no segundo ano. Se fosse outro professor, a agradeceriam de imediato e segurariam sua mão, mas a reação dele foi contundente.
— Ei, apesar das aparências, sou muito talentosa em magia.
— Sei.
— Se você sabe, por que está reagindo assim?
— Não preciso mais.
— Hã?
Os olhos dela se arregalaram, como se tivesse ouvido algo errado.
— Isso, e agora…
— Já recrutei uma e não preciso de outra agora. Sobretudo, não me interesso só na magia. Expliquei isso em aula.
— Sim…
Flora ficou um pouco chocada, porque o que ela disse com tanta coragem foi rejeitado. Ela beliscou o lábio e abaixou a cabeça. Naquele momento, a voz dele soou em seu ouvido.
— Mas agradeço sua gentileza.
— Hum?
Ela negou com a cabeça.
— Bem…
— Você não estava aqui somente para ajudar?
— Oh, era?! Você não me entendeu mal?
— ………
Rudger não conseguia entendê-la e decidiu agir como um adulto.
— Então faça.
— Bem, não é bem assim.
— Se não houver mais nada para fazer, vou primeiro.
— Não! Eu tenho mais uma pergunta!
— Mais uma?
Ele esperava que a última pergunta não desperdiçaria seu tempo, ou então ele seria rígido de verdade. Quando focou nela, ela despertou seus poderes mágicos, apesar do beicinho.
— Não foi o que o senhor falou antes? Quem tiver entendido, por favor, venha e me encontre.
De fato, na última aula, ele disse isso a respeito da designação de coordenadas. Se alguém pudesse imitá-la, ele daria pontos extras de acordo.
— Veja só.
Ela então formou uma pequena gota de água no espaço vazio entre eles. Não obstante, pequenos pedaços de gelo se formaram no teto e vento soprou do outro lado do corredor.
Os olhos dele se arregalaram enquanto ele observava. Foi obviamente o mesmo método de designação de coordenadas que ele mostrou outro dia. Não foi tão sofisticado e eficiente quanto o seu exemplo e até o efeito era fraco, porém a base era idêntica à demonstração.
— Você teve sucesso.
— Porque sou um gênio.
Quando Rudger admitiu graciosamente, ela empinou o nariz.
— O que você quer? Quer obter os pontos extras, como falei?
— No começo, a intenção era essa.
Flora não achou que seria divertido e, no meio do caminho, mudou de ideia.
— Eu quero outra recompensa equivalente aos pontos.
— Outra recompensa?
— É.
O pedido dela foi ousado, mas ela merecia. Ele ponderou por um momento e depois assentiu.
— Ótimo.
— Sério?
Ela não esperava que ele concordasse com seu pedido. Claro, ela também tinha suas próprias intenções internas.
Ela não podia pedir abertamente que ele lhe mostrasse outra magia e também não podia pedir que ele lhe contasse um segredo. Mas e se ela deixasse esse julgamento para ele? Ela tinha certeza de que ele lhe daria uma recompensa adequada.
“Porque o senhor Rudger é surpreendentemente experiente.”
Rudger era contundente, cabeça dura e às vezes rude, mas ele era confiante no que dizia.
— Entre — disse ele ao abrir a porta do escritório.
— Sim?
— Eu disse para você entrar.
Ela engoliu a saliva. Ele queria que fossem sozinhos para o escritório? Ela teve um pensamento estranho sem que percebesse, mas então ela balançou a cabeça.
“Sim, ele acabou de me mandar entrar. Não pensemos em coisas estranhas!”
Ela concordou e o seguiu até o escritório.
O escritório era como ele: arrumado. Era bem organizado e havia uma estranha sensação de estabilidade, graças ao cheiro agradável de madeira, de tinta e papel e até a luz, que iluminava suavemente o espaço interior.
— Aí está.
Ele a guiou através de uma porta em uma parede do escritório. Era um laboratório privado dedicado aos professores, onde os assistentes ficavam e o próprio Rudger costumava fazer experimentos e pesquisas mágicas.
Rudger abriu a porta e entrou primeiro, e Flora o seguiu.
“Amplo.”
Flora tinha tal sentimento enquanto analisava para o laboratório. Normalmente, os professores recebiam laboratórios semelhantes, mas o dele passava a sensação de ser maior, pois quase não havia desordem que ocupasse espaço.
“Ele é mesmo do exército?”
Ele não deixou nada de lado, exceto o mínimo de livros, documentos e materiais de que precisava.
Em um longo quadro-negro em uma parede, círculos mágicos densos e teorias desenhadas com giz mágico eram visíveis.
“O que diabos você estudou?”
A maioria dos escritos eram meras passagens de outros livros que Flora também conhecia. No entanto, vendo um padrão desenhado em uma extremidade do tabuleiro mágico, ela não teve escolha a não ser parar sem querer.
“Isso é…?”
Ele pesquisou o ponto de partida para vários feitiços. Ela não sentiu muita inspiração lá, mas o padrão que via era diferente.
“Padrão? Não. Isso é álcool?”
Mas para uma bebida, a forma era um pouco estranha. A técnica mágica assumia uma forma tridimensional, como se desenhasse com linhas e planos no ar.
Sua aparência variava muito dependendo da magia, mas havia muitas coisas esplêndidas ou criam uma beleza elegante. Contudo, o pintado por Rudger era estranho; parecia um cubo comum.
Quando lhe pediam para desenhar, ela podia desenhar mesmo com os olhos fechados. No entanto, se houvesse outro pequeno cubo no cubo, e cada borda estivesse conectada por uma linha, a história era diferente.
“Ele acabou de desenhar? Não. Não é apenas um desenho.”
Quando ela se aproximou e tentou estudá-lo, Rudger abriu a boca.
— Eu estava pensando no que te dar.
Ela se virou para ele, que parecia já ter decidido.
— A fórmula de designação de coordenadas que mostrei. À medida que você sente e usa, é para definir fórmulas matemáticas e coordenadas centradas no usuário, e manifestar feitiços à distância, controlando a mana usada o máximo possível, fixando-a no ar e manifestando outra técnica nas coordenadas.
Os alunos que não entendessem, mesmo que ele dissesse, não seriam capazes de fazê-lo. Na verdade, Flora era igual. Ela só podia imitar Rudger graças ao seu talento.
— Se for você, tudo bem se eu te mostrar isso.
Rudger disse e começou a desenhar um círculo mágico na frente dele. No entanto, era muito diferente do círculo mágico usual.
“O que é isso? ”
Ela, sem saber, balançou o ombro.
A técnica básica era desenhar uma linha de magia no ar para criar uma imagem tridimensional, mas o que Rudger mostrou a ela agora era totalmente diferente. Era uma técnica e magia que mostrava a possibilidade de outra dimensão além das três dimensões.
Ao mesmo tempo, a “sinestesia” de Flora foi ativada, uma sensação transcendente de algo além dos limites dos sentidos humanos. No momento em que ela sentiu isso com seus sentidos de visão e olfato, ela não aguentou o choque e desmaiou.