Cap. 72 – Assunto de Beco (1)
O bar estava desordenado pelo riso de mulheres com maquiagem e perfume pesados e homens se aproximando feito abelhas atraídas pelo pólen. Uns bebiam e gritavam, outros tocavam músicas.
— É muito barulhento.
— O bar é bem famoso, então terá muitos clientes nos primeiros andares.
Rudger e Hans entraram e olharam em volta.
— Onde é o ponto de encontro?
— No quarto andar.
— O último?
— O público pode usar até o segundo. A partir do terceiro, é acordado que apenas pessoas autorizadas podem entrar.
O segundo andar não era muito diferente do primeiro quanto à lotação e barulho. A única diferença era a presença de guardas.
Como Hans disse, as escadas que levavam ao terceiro estavam impedidas por dois fortes guardas.
— Somente com autorização.
— Aqui.
Hans estendeu o convite que havia preparado com antecedência. O guarda verificou, e sem dizer uma palavra, ele se virou para abrir o caminho.
— Vamos, irmão.
— Vamos.
Hans assumiu a liderança e Rudger seguiu. O olhar do guarda permaneceu em suas costas, mas ele ignorou.
Ao chegarem ao terceiro andar, Rudger entendeu por que era um bar de linha.
“É tão silencioso que nem se compara aos dois primeiros.”
O terceiro andar era à prova de som. O interior, mais luxuoso, continha clientes limpos e arrumados desfrutando e bebendo com delicadeza.
A luz escarlate tornou a atmosfera quase em um sonho. Todavia, o objetivo dos dois era um andar mais alto, onde apenas as pessoas mais importantes podiam se reunir.
Os dois subiram as escadas de madeira e chegaram ao quarto andar. Ao contrário do terceiro, que era como um amplo salão, o quarto tinha um longo corredor.
“É um quarto?”
Era um lugar muito adequado para uma conversa tranquila.
— Que quarto?
— Aquele no final. É o lugar mais privado.
— Não tem ninguém guardando este lugar?
— Ah. Talvez seja porque este lugar é especial demais.
— Um lugar especial?
Hans explicou as informações que havia recebido.
— Diz-se que este andar tem sido usado muito como um ponto de encontro para o submundo de Leathervelk. Como resultado, estabeleceram uma regra não escrita de nunca brigar aqui. É um lugar especial para pessoas especiais.
— Não brigar…
— Bem, mesmo os que traem uns aos outros e vivem uma vida maldita têm regras e crenças que seguem.
— É verdade.
— Como sabe, este mundo também tem suas próprias regras. E é aí que a disciplina é mais fortemente aplicada.
— Nos convidando para um lugar assim…
— É só para ter certeza de que estamos mesmo seguindo as regras.
— Divertido.
Rudger sorriu levemente.
Eles tiveram coragem de marcar quem destruiu a Sociedade Vermelha sozinho. Se ele fosse um pouco mais excêntrico ou cruel, o sangue teria voado naquele bar agora.
Ainda assim, convidá-lo significava que eles estavam confiantes.
— Entre.
— Sim.
Eventualmente, chegaram ao final do corredor, abriram a porta e entraram. Vários alimentos estavam postos em uma grande mesa redonda feita de madeira, cujos assentos mantinham uma certa distância.
“O número de personagens importantes é quatro no total.”
O olhar de Rudger primeiro se voltou à pessoa sentada à direita da mesa. Apesar da sua barba, o que mais chamou sua atenção foi sua estatura minúscula, inacreditavelmente pequena para um adulto.
“Nanismo.”
Também chamados de anões, possuem a mesma estrutura corporal que uma pessoa normal com algum tipo de distúrbio de altura.
“Essa pessoa é o líder de um grupo?”
Em um mundo onde os direitos humanos ainda não estavam muito desenvolvidos, sua deficiência devia ter dificultado a vida. Ele notou que esse anão era o líder do Circus, Pinhão.
Em seguida, ele olhou para as duas pessoas sentadas no meio, bem opostas uma à outra.
“É um homem velho e uma menina?”
Esta também era uma combinação marcante. Um velho de cabelos grisalhos e mal-humorado e uma linda garota loira como uma boneca. Por estarem reunidos aqui, eram líderes de uma organização.
Mastella e Deon, de Novos Antigos.
“A criança é surpreendentemente aquela que tem a iniciativa.”
Normalmente, Deon, o mais velho, seria visto como o líder, mas Rudger não pensava assim, pois sentia um forte olhar analítico de Mastella. Ela sabia como administrar suas expressões faciais e, por mais que fosse jovem, era inteligente.
“E por último, as Madames da Rosa Negra.”
Havia apenas uma pessoa sentada à esquerda da mesa: uma mulher de vestido preto, cabelo trançado e um véu preto cobrindo o rosto.
“É a Violetta, a rosenegra?”
Exceto pela Sociedade Vermelha, os chefes do submundo de Leathervelk se reuniram em um só lugar, escoltados até por um pequeno número de subordinados.
Rudger sentou-se no assento reservado para ele e abriu a boca.
— James Moriarty.
Seu monóculo brilhava na luz.
— Todo mundo me chama assim.
A primeira a reagir foi Violetta, se expressando por uma voz sedutora.
— Você é mesmo o homem lendário que governou Delica?
— Você me conhece bem.
— James Moriarty, o governante de facto do reino de Delica, famoso por sua indústria siderúrgica e que até trabalhou com os militares para iniciar uma guerra com outros países.
Quando essas palavras saíram de sua boca, a atmosfera na sala ficou ainda mais pesada. Em particular, Hans, que estava quase atrás dele, não escondeu seu desconforto.
Rudger assentiu alegremente.
— Um detetive problemático viu tudo, no entanto.
— Pensei que você tivesse morrido ou sido preso, não esperava que aparecesse assim em Leathervelk. Então, com que propósito veio? Está planejando começar uma guerra no império?
— Isso é uma coisa sem sentido de se dizer.
As palavras dela foram ridículas. Como poderiam falar de guerra sem saber a realidade do que aconteceu em Delica?
— Não pense assim.
— Você destruiu a Sociedade Vermelha assim que chegou.
— Eu apenas vi uma sujeira e decidi limpar — respondeu, aparentando indiferença quanto ao extermínio.
— E o que você quer, então?
Foi Pinhão, o líder do Circus, que falou desta vez, um cigarro na boca. Ele tinha uma voz rouca que não combinava com seu pequeno corpo.
— Vir aqui e aceitar nosso convite significa que você tem um propósito.
— Sim.
Ele não possuía nada a esconder, então assentiu.
— Quero sustentar meu poder aqui.
Pinhão bateu no apoio de braço da cadeira com o dedo.
— Essa resposta não é suficiente.
— Você precisa de mais explicações?
— Se você se livrou da Sociedade Vermelha simplesmente para se estabelecer aqui, tudo bem. Ela era podre e nossa inimiga.
— O ponto importante é este. Existe alguma garantia de que a nova organização criada pelo famoso James Moriarty não se tornará uma segunda Sociedade Vermelha?
Era com isso que eles estavam preocupados. A Sociedade Vermelha fazia qualquer coisa que gerasse dinheiro, e eles cruzavam a linha mesmo no submundo.
Até agora, as três organizações só conseguiram manter um equilíbrio trabalhando juntas, mas esse equilíbrio foi quebrado por um indivíduo que apareceu do nada.
— Você estava preocupado com isso?
A expressão deles endureceu com o tom taciturno de Rudger. Era um assunto sério para eles, mas ele falou como se não fosse nada. Claro que ele tinha as qualificações para fazer isso, já que era de certa forma mais perigoso do que eles.
— Então seria melhor esclarecer o mal-entendido.
— Mal-entendido? De que mal-entendido você está falando? — Deon levantou uma sobrancelha e perguntou.
Rudger balançou a cabeça uma vez e depois apontou para Mastella com o queixo.
— Diga você.
— O quê?
— Vovô Deon, está tudo bem.
Mastella olhou para Rudger com seus olhos curiosos.
— Você notou que eu fiz isso.
Uma criança com talentos e circunstâncias inatas era muito mais assustadora do que um velho que não fazia nada no mundo.
— Então, o que é que nós entendemos errado?
— Se eu fosse me livrar de vocês porque os achava irritantes, teria feito isso há muito tempo.
Foi uma observação flagrante, mas ninguém ficou zangado ou chateado.
— Mas a razão pela qual não fiz isso é porque também tenho uma linha que devo manter.
— E o que está tentando dizer?
— Pelo menos vocês são muito melhores do que a Sociedade Vermelha. Não tenho que fingir com vocês, foi por isso que entrei aqui.
Pelo menos, quando ele insinuou que não tinha hostilidade, seus olhares vigilantes desapareceram um pouco. No entanto, não confiavam nele.
— Então, o que vai fazer agora? Toda a infraestrutura e negócios da Sociedade Vermelha são nominalmente de sua propriedade.
Pinhão balançou o bigode e comeu a perna de peru que estava na frente dele.
— Pinhão, você não consegue ficar parado nem aqui?
— Sinto muito, tia. Não sou tão nobre quanto você.
— Tia? É por isso que vocês são pessoas incultas.
— Vocês dois, moderem.
Mastella veio para a frente e mediou.
Rudger teve uma ideia aproximada de como essas três organizações funcionavam. Seu relacionamento era ruim, mas havia pessoas que podiam controlar a situação com moderação.
— Você vai manter a estrutura da Sociedade Vermelha intacta?
Com a pergunta ousada de Mastella, Rudger balançou a cabeça.
— Eu não manteria tanta bagunça.
— Então deve estar pensando em algo grande, não está?
— Estou.
Quando ele decidiu criar uma organização, já tinha feito um plano, e Leathervelk seria o pilar para isso.
— Vou começar um novo negócio diferente que pode ser realizado com mais orgulho.
— Negócios… parece bem interessante — respondeu Violetta em um tom sarcástico.
Quão orgulhosos ficariam se o negócio que estavam administrando fosse honesto? Mesmo que não usassem drogas e tráfico humano como a Sociedade Vermelha, não podiam se gabar.
Lendo seus pensamentos, Rudger sorriu.
— Se você pensar assim, esse será o seu limite.
— Perdão?
— Já que todos estão reunidos, deixe-me fazer uma sugestão.
Era o momento de revelar o seu propósito.
— Todos ficarão sob mim. Isso lhes trará sucesso.