Cap. 74 – Assunto de Beco (3)

— É incrível.

Quando saímos em segurança da sala de reuniões, Hans sentiu como se estivesse sonhando.

— O que quer dizer?

— As ideias que você trouxe à tona, irmão. Mesmo eu, que tenho orgulho de dizer que vi e ouvi muito, nunca vi algo assim na minha vida.

— Bem, não foi nada.

— Não importa. Você não pensou em tudo?

“Eu também só via as coisas de outras pessoas e pensava nelas. Não posso dizer que são minhas ideias.”

Só estou sugerindo um caminho baseado na história da Terra que vi. Não era um caminho criado por mim, mas sim pelos pioneiros de uma era com sangue e suor. Não tem por que fingir serem minhas ideias.

— Ainda assim, é surpreendente que todas as organizações tenham feito uma promessa de obedecer às suas palavras.

Disseram que ficariam abaixo de mim, não que me obedeceriam a todo momento. Entendo seus sentimentos, então não me arrependo, pois ainda não mostrei muito para eles confiarem e me seguirem. Devo ter sucesso para ganhar sua lealdade sincera.

— Há muitas empresas que podem ser usadas e os fundos básicos são suficientes.

Empresas usadas pela Sociedade Vermelha ou o dinheiro que economizaram e até mesmo o fundo de emergência de Bellbot Rickson.

— Mas isso não é o importante agora.

Eu parei, me virei e olhei para a esquina do beco.

— Se você quer algo, saia.

Pouco depois de Hans perguntar o que isso significava, uma mulher escondida no escuro apareceu. Era Violetta.

— Parece que você tem outra coisa a dizer, já que nem trouxe uma escolta.

— Eu gostaria que nós dois tivéssemos uma conversa tranquila.

— Tudo bem. Hans.

— Sim, irmão?

— Vá primeiro.

— Tem certeza?

— Quê?

— Fiquei um pouco preocupado.

Hans encolheu os ombros e logo sumiu, restando a mim e ela no local.

— Gostaria de caminhar um pouco?

— Não. Podemos falar aqui.

— Okay. Você acha mesmo que acontecerá o que você espera?

— Quando se trata de negócios, é…

Sugeri um musical para Pinhão por ter uma visão que combinava, e eu pensei que poderia fazê-lo. Mas e as Rosas Negras? Não posso esperar um espetáculo esplêndido. Em caso afirmativo, como devem conduzir?

A resposta que dei foi “moda”. Vestuário e design.

— Acha que não consegue?

Neste mundo, as roupas têm uma relevância considerável no mercado. Desde tempos imemoriais, as pessoas tentaram mostrar seu estilo através da roupa sem hesitar em gastar muito dinheiro.

— O mercado da moda é dominado por nobres e comerciantes ricos.

— Acertou.

— Eles… construíram suas próprias marcas e estão solidificando sua posição todos os dias. Ninguém pode se espremer.

De fato, os líderes no mundo da moda são aqueles que vendem para os aristocratas as “altas costuras”. Material caro e bom, e design bonito e colorido.

Para a classe superior, refere-se a lojas de roupas feitas sob medida por designers individuais. Sempre que banquetes ou festas são realizados, as mulheres sempre usam as mesmas marcas. Essa cultura já se tornou arraigada e, na última década, recusou-se a mudar.

— Você acha que podemos romper isso?

— Será difícil.

Quando se trata de moda neste mundo, também não significa que as pessoas não possam se envolver somente porque não têm dinheiro suficiente. A lógica do mercado é, afinal, a do dinheiro, então o fluxo não tem escolha a não ser seguir os com condições.

— A moda sempre muda e agora as roupais atuais existem há muito tempo. É hora de transformar pouco a pouco o fluxo.

— Não é tão fácil quanto parece.

— Surpreendentemente, você sabe muito sobre, não é? Você deve ter ficado muito interessada.

— Então? — perguntou, furiosa.

Seu trabalho é ser uma prostituta desprezada pela sociedade. Por mais que seja a líder e tenha uma aparência bonita, o estigma permanece. Não importa o que faça, nunca pode escapar disso.

— Não há nada que não possa ser feito. Não, pelo contrário, se há muito interesse, vemos que é uma sorte que concordemos uns com os outros.

— Você acha mesmo que isso é possível.

— Você não viu os desenhos que lhe dei?

Entreguei a ela menos de dez designs, mas deve ter sido um choque para ela. Ao contrário das roupas chamativas, eram mais leves e confortáveis. Não são alguns poucos selecionados que podem usar, mas um público livre. Moda de massa voltada para muitos, não alta moda para poucos. Eu deveria chamar de prêt-à-porter.

As roupas que as marcas vendem agora são difíceis de usar no cotidiano. Assim, algumas eram sublimadas em designs mais práticos e diários, mas com a imagem de luxo.

De fato, mesmo na história da Terra, após a Revolução Industrial, a produção em larga escala tornou-se possível, então o estilo antigo desapareceu e a popular começou a tomar forma.

— Sim, eram surpreendentes. Eu não achava que um homem como você teria essas ideias.

— Não são meus. Também recebi de outra pessoa.

— Seja o que for, é inovador. Claro, tem muitas coisas irritantes que precisam ser consertadas.

— Fica a seu critério.

O que estou tentando fazer é trazer os que estavam nas sombras para o sol. Ao mesmo tempo, não diferencia de declarar uma guerra total contra a cultura da alta sociedade.

— Com certeza venceremos.

A história provou isso.

Embora não existisse magia no meu mundo anterior, certamente as situações seriam semelhantes. Onde quer que as pessoas vivam, os ventos da mudança sopram.

— Quanto tempo mais teremos que viver escondidos?

— Que surpresa…

— O que quer dizer?

— No começo, pensei que você era um homem duro e frio, mas agora vejo que tem mais ambição do que qualquer outra pessoa.

— Obrigado pelo elogio — respondi, baixando suavemente o chapéu fedora na minha cabeça.

De qualquer forma, as Rosas Negras abrirão uma loja de roupas com base no que entreguei. É prematuro começar a lidar com luxo, que nem alfaiataria, desde o início. Estarão vendendo a princípio o que o povo pode usar, mas com inovações, não o que todos já usam.

— Começaremos pequenos, mas gradualmente expandiremos nosso escopo.

Em particular, a mulher na minha frente tem um olho melhor para a moda do que os outros. Um talento natural, ou ela que era especializada? Talvez os dois. Parece estar se segurando há muito tempo por causa de sua origem humilde, mas não precisa mais. Ela é livre para usar o que quiser.

— Agora não tenho que me preocupar em proteger minhas irmãs dos outros. Se você é uma pessoa assim, então vou me apresentar.

Para que possam fazer o que quiserem, precisam de apoio. Farei esse papel.

— É mesmo?

— Se quiser obter algum terreno, deve pensar em aplicar magia à moda.

Com minhas palavras, ela tremeu muito. Sua expressão era invisível por causa de seu véu, mas era fácil ver que ela estava atônita.

— Achou que eu não sabia?

— Como…?

— Um mago reconhece um mago.

Violetta, uma prostituta de alta classe, pôde fortalecer as Madames da Rosa Negra porque era uma maga.

— Sim… Mas está em um nível insignificante.

— Não importa o quão insignificante seja, se você não tem talento, você não será capaz de aprender nem mesmo esse feitiço. Com quem você aprendeu?

— Era só um desses magos ricos. Ele me deu um pouco de doce porque o servi usando uma máscara, e ele ficou tão feliz que me ensinou um pouco de magia.

— Entendo.

— Eu não poderia descartar a posição de prostituta de luxo. Você vai mesmo nos erguer assim?

Essa é a verdadeira intenção de Violetta, afinal. Ela tinha ambições, mas não tinha escolha a não ser escondê-las. É assim que os fracos se viram. Por serem desprezados por todos, só podem ficar no fundo do poço

A parede que os impediam era tão grande que não tinham escolha a não ser desistir antes mesmo de tentar qualquer coisa. Até Violetta, que está se esforçando tanto para fingir ser forte, tem ansiedades sobre esse negócio em seu coração.

— Claro.

— Sério?

— O importante não é quem faz, mas o quão bem você faz. Você não está curiosa?

— Como é?

— Com como o alto escalão que lhe desprezava reagirão?

 Hahaha! Seria muito divertido.

— Sim. Vale a pena o desafio.

— Tudo bem, eu admito. James Moriarty, você ganhou. Nós, da Rosa Negra, confiaremos em você — falou, levantando o véu que cobria seu rosto. — Já que decidimos nos juntar, não posso esconder para sempre.

Pela voz e comportamento gracioso, era uma beleza. Contudo, havia uma terrível queimadura em um lado do rosto dela, que deveria ser mais bonito do que qualquer outra pessoa.

— Foi por magia?

— Bem, o que posso fazer? Um mago louco que confundiu sua possessividade distorcida com amor fez isso porque decidi resistir a partir do momento em que aprendi magia.

Um mago não seria punido por atear fogo no rosto de uma prostituta, então ele deve estar vivendo uma boa vida em algum lugar. Entretanto, ela protegia as mulheres em uma situação semelhante à sua, até que ela foi submetida a tal coisa. Ela desistiu de seu sonho e futuro para fazer isso.

— Não é feio?

— Não. Você é uma mulher muito forte.

Então ela gostou ainda mais.

— Você diz isso da boca pra fora.

— Soou assim?

Então eu deveria dar algo a ela também.

— Como me mostrou algo, faria sentido eu mostrar uma coisa também.

— Sim?

— Não se mexa.

Quando falei isso, estendi devagar a mão ao rosto dela. Ela arregalou os olhos e ficou perplexa com a visão, mas quando encontrou meu olhar, ficou parada com um rosto determinado.

— Como sabe, sou um mago.

— Sei. Com magia, exterminou a Sociedade Vermelha. Não acho que você está tentando fazer algo tão absurdo quanto usar magia para curar, é? Já é tarde demais para consertar essa queimadura. Os sacerdotes da Igreja Lumensis também desistiram.

— Esse seria o caso com magia normal.

— Magia normal?

Ela parece não entender o que estou dizendo. Talvez eu nem saiba como explicar.

— O que você está tentando fazer?

— Apenas tenha em mente que é a “magia verdadeira”.

— Magia verdadeira.

Depois de falar, puxei uma pequena quantidade de poder mágico. Ao mesmo tempo, usei um pouco do poder que normalmente suprimia.

Em um beco escuro onde apenas o luar que desce através das rachaduras nos ilumina, uma luz branca pura que aquece o coração surgiu e sumiu.

— Pronto.

Eventualmente, soltei a mão que havia colocado na queimadura dela.

— Hum?

— Veja seu rosto.

Ela de imediato pegou um espelho de mão e olhou para o rosto. As marcas que cobriam um lado de seu rosto não deixaram rastros nenhum.

Seu olhar trêmulo focou em mim.

— Cacete… Como você… O que você fez?

— Não te disse? — Dei de ombros. — Magia verdadeira.

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