Cap. 79 – Os Noturnos Rastreando (1)
Terina Lionhowl, que estava liderando o caminho, parou e olhou para trás.
— Líder? Qual é o problema?
— Não. Nada. Eu só senti como se alguém estivesse olhando para cá.
— Sem chance.
Lloyd disse isso consertando os óculos sob o capô, mas Enya era diferente.
— O líder tem um senso melhor do que nós, então, por precaução. É por isso que estamos aqui.
— Humm.
Foi por conta de Terina que os três, enviados para investigar o mistério da morte de Rickson, estavam vagando pelos becos no meio da noite. Pelo seu bom senso, levou seus dois oficiais adjuntos.
Lloyd estava insatisfeito e reclamou. Para ele, que valorizava a razão e o pensamento científico, o sexto sentido parecia um conto de fadas infantil.
— No submundo, é tudo sobre criminosos lutando e se matando, de qualquer forma.
— É um pouco diferente desta vez.
“Qual é a diferença?”
“Isso é o que meu palpite está dizendo.”
Outro palpite.
Lloyd não podia dizer nada a Terina, porque Trina era sua superior e, acima de tudo, seus sentidos eram bons de maneira surpreendente. Ela fez muitas conquistas que não faziam sentido graças aos seus bons sentidos e foi bem-sucedida em missões que outros achavam impossíveis. Portanto, ele não demonstrou isso na superfície, por mais que estivesse infeliz.
— Aqui.
Havia vários corpos espalhados no local.
— É… um monte de corpos.
“Há algum tipo de guerra acontecendo aqui?”
— Deve ter havido uma briga entre as organizações — contou, e agachando em frente a um dos cadáveres. — Um assassino.
O quê? O quê?
— Este corpo não é de um assassino comum.
Terina franziu a testa com o cheiro azedo da garrafa pendurada na cintura do corpo.
— É um veneno. Um veneno especial usado pelos calsapas.
O corpo em si não parecia diferente dos outros, porém não era nada mais do que um disfarce para evitar ser notado pela outra parte.
Às palavras dela, Lloyd e Enya também se aproximaram e verificaram.
— De fato, há sinais de treinamento: mãos ásperas cheias de calos e até as pequenas cicatrizes no corpo. Isso não é coisa dos vagabundos daqui.
— Uau. Não são o famoso grupo de assassinato da dinastia Fátima?
— São desgraçados aterrorizantes que nem as próprias vidas poupam em prol da morte dos alvos. Mas por que estão aqui…?
Terina se levantou.
— Líder!
— Ele é um assassino, mas talvez tenha vindo até aqui porque estava vagando para ganhar experiência após o treinamento, ou foi expulso por falta de habilidade.
— Mas não é um assassino altamente treinado?
— Sim, é verdade que não são o tipo de pessoas que ficariam presas neste lugar.
Mas tal assassino morreu no beco, foi um resultado inacreditável.
— A causa da morte deve ser o ferimento na testa. Uma lâmina fina perfurou sua testa de uma vez e caiu de cima para baixo.
Ela olhou para o céu noturno cheio de nuvens que estava bloqueado pelas paredes do beco, fazendo com que parecesse apertado.
— Não sei quem era seu oponente, mas é bem poderoso, visto que ele terminou com um único golpe.
Terina parou a autópsia e foi para o lado mais escuro do beco enquanto Lloyd e Enya a seguiam em silêncio. Quando chegaram a outro local, viram outro grupo de cadáveres.
— Isso é por magia? — perguntou Enya, atenta.
Era impossível sem magia que quase dez pessoas fossem cortadas e mortas por algo de uma só vez nesses becos.
— Acho que sim.
— É incrível que um mago possa participar de uma luta em um lugar assim. Então talvez aquele assassino também?
— Não sei.
Então Lloyd, que encontrou algo, abriu a boca.
— Líder, tem mais corpos lá.
Na escuridão além dos corpos lotados, havia mais dois outros. Terina percebeu que os dois também eram assassinos calsapas.
— É como o primeiro. Um morreu por ter seu coração atravessado, e o tamanho do corte é o mesmo do outro. Ele foi morto pela mesma pessoa. Foi um ataque surpresa por trás?
— Os dois primeiros foram mortos com a mesma arma, mas o último é diferente. Lloyd, verifique seus pés.
— Sim?
— Há marcas deixadas perto deles.
— O que você quer dizer com marcas?
Lloyd olhou com cuidado para o chão perto de seus pés, meio em dúvida. Como ela falou, havia pequenos vestígios de metal arranhando o chão.
— Isso é…
— A arma que matou os dois primeiros deve ter caído no chão. Devem ter tentado matar alguém.
Entretanto, o oponente não era uma pessoa comum. O último assassino restante conseguiu pegar a arma inimiga, mas acabou perdendo.
— O corte do pescoço foi causado por uma arma afiada. É especializada em cortar em vez de apunhalar. Deve ter sido uma adaga, já que a ferida não é muito grande. Se assim for, é provável que seja uma lâmina daquelas no interior de bastões.
— Por que você tem tanta certeza?
— Até parece um espadim, mas veja de perto. Quem matou é um humano especializado em encontrar as brechas dos outros. Se tal humano usasse uma de apunhalar, teria uma espada escondida no bastão.
— Entendo.
— E esse traço. O assassino estava tentando se envolver em uma batalha de perto. Se fosse um espadachim usando um espadim, não teria tentado fazer isso.
— Você tem grandes habilidades de raciocínio.
Lloyd não teve escolha a não ser admirar a capacidade de raciocínio de Terina para entender o curso da situação em um instante. Enya nem precisava dizer nada, porque já estava olhando para ela com os olhos imersos.
— Não é grande coisa. Aprendi um pouco com alguém que conheço.
— Com quem?
— É só uma maneira rápida de encontrar pistas ao seu redor, em vez de raciocinar. Me foi dito que tenho um bom senso e que poderia aprender sem dificuldades.
— Quem diabos é? E quando você aprendeu…
— Alguns anos atrás, eu o conheci quando estava visitando outro condado.
— O que ele faz?
— É um detetive particular.
— O quê? Apenas um detetive?
Obviamente, um detetive é uma ótima pessoa porque ele é especializado em encontrar pistas. Mesmo assim, pôde ajudar Terina, cujos sentidos estavam muito além da população em geral?
— Ele é uma aberração de tão bom. Às vezes, eu ficava surpresa com sua lógica anormal.
— Não posso acreditar que a capitã disse isso…
— Seja o que for, esta não foi uma luta comum, dados os corpos espalhados aqui. Já que contrataram os calsapas, os atacantes arriscaram suas vidas.
— Isso está relacionado à morte de Rickson que estamos investigando?
— Ainda não sabemos. No entanto, é certo que haverá uma grande agitação no submundo de Leathervelk.
Terina olhou com cuidado em volta para ver se havia outras pistas.
“Bem, a descoberta é que apenas duas pessoas fizeram tudo isso acontecer.”
Um homem e uma mulher.
As marcas e vestígios de sapatos esculpidos em alguns corpos são claramente visíveis.
“Um lado usa uma faca e o outro é um mago.”
Terina se aproximou da parede, passou a ponta dos dedos e cheirou. Um cheiro sutil estava escondido misturado com o fedor típico do local.
“Isso cheira a difusão.”
O incenso de difusão era famoso por aumentar a condutividade da mana e como ele lida com magos.
“Os assassinos sabiam que o alvo era um mago, mas falharam. Não sabiam da espada?”
Isso significa que tanto o homem quanto a mulher eram magos. Todavia, um dos dois possuía uma boa esgrima. Os assassinos não sabiam disso, então morreram.
“Um mago espadachim…”
Os olhos dela brilharam nitidamente. Havia um cara semelhante em sua memória que usava as sombras e roubava todos os tipos de raridades. O ladrão mais famoso que ela tentou pegar de novo e de novo quando ela ainda não era a comandante, Arsene Lupin.
— O cofre na mansão do Rickson desapareceu. Foi ele?
Em um ponto, ela pensou que ele tinha desaparecido, deixou este trabalho e se escondeu. O misterioso ladrão que de repente reapareceu, um criptídeo lobisomem e a fábrica abandonada queimada. Ela tinha certeza de que todas essas pistas estavam conectadas.
— A confirmação está completa.
— Já?
— Sim, tenho tudo o que posso conseguir aqui.
— Então, o que fazemos com os corpos?
— Deixa pra lá. Tenho certeza de que os faxineiros daqui cuidarão dos corpos.
Ela conhecia as regras. Ninguém se surpreendia ou perguntava sobre os cadáveres. Mesmo que dezenas de pessoas morressem, não era listado no jornal no dia seguinte.
— Então, o que fará agora? A investigação termina aqui?
Terina balançou a cabeça com a pergunta de Lloyd.
— A investigação continua.
— Mas ainda não tivemos nenhum resultado. Se continuarmos assim…
— Sim, então esta é mesmo a última vez.
— Sim?
— Então, vamos para o lugar onde a última pista pode estar.
— Eu vou para a Academia Sören.
* * *
De manhã cedo, os pássaros estavam cantando.
Rudger trabalhava com constância no escritório do professor, mesmo nos dias em que não havia aula, mas decidiu descansar em sua acomodação privada hoje. Foi devido ao cansaço acumulado de ter estado muito ocupado.
Ele precisou lidar com o incidente da Pedra Onipotente e com Leathervelk logo em seguida. Era natural a fadiga.
“Mas isso não é uma coisa boa?”, pensou, deitado num sofá fofo.
Ele conseguiu usar a desculpa de que estava vendo os testes. Graças a isso, não teve que ir ao escritório.
Toc, toc.
Uma batida na porta o acordou. Ele tentou fingir que não estava lá, mas se ousou chegar, a pessoa devia saber que ele não estava no escritório. Então se levantou e foi em direção à porta.
— Ah. Senhor Rudger.
— Senhorita Selina.
Então foi Selina quem veio visitá-lo.
— O que você está fazendo aqui?
— Porque o você não foi hoje.
— Sim, não tenho aulas hoje. Tenho sido incomodado com as questões da prova.
— Entendi.
Selina olhou para a figura de Rudger, desfocando o final de suas palavras. Isso porque ela viu Rudger vestido confortavelmente em casa pela primeira vez após todas as vezes. Claro, ele estava de calças e uma camisa social, mas isso por si só era novo para ela.
“Você também soltou o cabelo.”
O cabelo geralmente amarrado dele parecia diferente solto. Talvez não tivesse dormido bem, porque tinha olheiras sob os olhos. E, mesmo assim, possuía uma beleza decadente.
Selina suspirou de admiração e se lembrou por que tinha ido atrás dele.
— Senhor Rudger, vim porque tenho um convidado procurando por você.
— Um convidado?
— Sim.
— Por que você não enviou um funcionário ou a própria Selina…
— Hehehe. Eu podia desviar do meu caminho, então decidi vir. Isso é bom para mim e para você, não é?
— Compreendo. Então, quem é?
— Cavaleiros do departamento de segurança — respondeu ela, um sorriso brilhante e inocente no rosto.
Ele franziu a testa, mas ela não percebeu.