Cap. 83 – A Primeira Prova (2)
Apenas o som de canetas mágicas no papel era perceptível na sala de aula silenciosa. Parecia o som de insetos comendo, o que, de certa forma, não era a expressão errada. A força mental dos alunos estava sendo corroída pela pressão da prova.
— Ugh, é difícil. O que é isso?
— Está no livro, mas por que não posso resolver? É um problema de verdade?
— Como pude ser tão estúpida!
Eles não falaram isso em voz alta, mas dava para adivinhar os pensamentos deles.
“Vai ser muito doloroso.”
Rudger ficou de pé na plataforma e olhou para os alunos. Como advertido antes, a prova permitia consulta aos livros. Todavia, se você lesse e soubesse a resposta na hora, continuaria sendo uma prova?
“Não se trata apenas de conhecimento unidimensional. Reformulei as questões várias e várias vezes, então não poderão enxergar as pegadinhas escondidas.”
Ele acrescentou pegadinhas em todos os problemas, incomodando os alunos. Eram apenas trinta perguntas, mas esse era o porquê de ser três horas de prova.
“Meu Deus. Mesmo que eu tenha estudado muito, é difícil!”
Rene temia que fumaça estivesse saindo pelos seus ouvidos. Sua mente girava conforme a dança esquisita que as letras no papel aparentavam executar. Apesar de nunca ter perdido uma revisão, sentia muita dificuldade. Ela estava tão confiante de que seria abordado somente o básico que, ao ver a primeira questão, ficou branca.
“Questão 1: O líquido mágico serve para armazenar mana no processo de absorção de mana atmosférica. Após dez anos de exposição à natureza, o líquido pode ser convertido em uma pedra que fornece mana utilizável aos magos. A fim de induzir a cristalização com pedras mágicas, refinando este líquido em sua forma pura…”
A relação entre o líquido e as pedras era conhecimento básico da matéria de liberação mágica.
O líquido que amadurecia por mais de dez anos cristalizava e se transformava pedras de mana, sendo processadas depois para a criação de artefatos ou ferramentas mágicas. Cajados eram feitos de uma madeira especial combinada com pedras de mana.
“Eu esperava que isso caísse na prova. Ele disse repetidas vezes que estaria.”
Então ela estudou com cuidado para não esquecer nada.
“Mas continua sendo muito difícil!”
Ela continuou lendo a pergunta, quase zonza.
“[…] Então, a solução mágica foi adicionada a uma solução aquosa fundida para formar A e B, que foram agregados pela adição de metal de calídio. Descreva a fórmula que determina qual das duas substâncias A e B pode ser moída primeiro no mesmo laboratório sob as mesmas condições, sabendo que a temperatura do laboratório permanece constante a 30 °C e a pressão atmosférica é de 0,982. A reação de cristalização de B aplica a taxa de variação padrão.”
“Esta é a primeira questão?”
O que mais surpreendia era o fato de ela ter a menor pontuação!
Rene se perguntou se era a única pensando assim, mas os outros também estavam grunhindo. Se prepararam, porém as questões eram mais difíceis do que esperavam.
— Controle-se.
Era difícil, mas se ela lesse com cuidado, veria que as questões eram baseadas apenas no que aprendeu, provando as falas de Rudger de que os assuntos seriam apenas o que ele ensinava em sala de aula. Ela podia ter certeza disso, como ouvia sua aula com mais entusiasmo do que qualquer outra pessoa.
“Talvez seja porque você está no segundo ano, mas está resolvendo elas quando bate o olho.”
A princesa Erendir, que se sentava ao seu lado, estava escrevendo a resolução. O seu modelo estudantil perfeito motivou Rene a continuar.
“Eu consigo!” Os olhos dela brilharam.
* * *
Flora Lumos resolvia as questões com um rosto neutro. Com a caneta em mãos, não descansou por um tempo, copiando quase duas vezes mais rápido que os alunos esforçados.
“É uma fórmula complicada. Hummm… Se eu escrever sem parar para descansar o máximo possível, levarei apenas cerca de duas horas e quarenta e cinco minutos.”
As perguntas estavam adaptadas aos níveis dos calouros. Além disso, não eram questões difíceis.
“Este assunto segue os padrões básicos do império, mas é uma armadilha. A fórmula experimental de Ruplamosk veio do Reino de Durman, não do Império Exilion, então é claro que preciso seguir esse modelo. O padrão em si é uma espécie de engano. Ele ensinava muito pouco em sala de aula, e se os alunos tiverem negligenciado as anotações, estão fadados ao erro.”
Flora entendeu a intenção do examinador em um instante e escreveu as respostas corretas. Parecendo calma, continuou a explorar o problema por dentro, admirando a construção da questão.
“Vai mudar a fórmula mágica assim? O exemplo um e o dois são semelhantes, mas as direções que tomam diferenciam nos fundamentos. Os alunos que não sabem vão pensar que são iguais.”
Era uma boa pergunta.
Flora pensou que poderia resolver tudo em uma hora nesse ritmo. Percebendo algo, ela de repente parou a caneta.
“Estou mesmo gostando desta prova agora?”
Era inacreditável. Para ela, provas não eram nada mais do que um evento chato. Escrever e explicar todos os fatos que já conhecia de uma forma simplificada? O que poderia ser menos interessante do que isso?
Era possível tolerar aulas de professores com habilidades insuficientes, mas em uma prova, chegava a ser irritante mexer as mãos. No entanto, ela não perdia o primeiro lugar. Além de ser dotada com a capacidade de sentir magia, também continha uma excelente mente.
Era verdade que sua vida em Sören não tinha nenhum estímulo particular. Terminava a maioria das provas em menos de trinta minutos, contudo, pela primeira vez se interessou nas questões.
“Não pode ser. Eu estou me divertindo? Que desgraça! Eu não posso deixar de resolver o problema para construir a minha autoestima.”
Flora imaginou a reação de Rudger ao entregar a prova em branco.
“’Isso é um papel branco? Vejo que, afinal, esse era o seu limite.’“
Ela tinha certeza de que ele diria isso. Ele não se irritaria, só apontaria sem rodeios suas falhas. Nem perguntaria por quê. Outros professores fariam barulho!
“’Eu nunca vi nada assim!”
Então, o que ela deveria fazer? Só havia uma maneira de surpreendê-lo: dar o seu melhor na prova. O importante era ter uma pontuação perfeita.
Era uma luta pelo orgulho entre alunos e professores, o que vinha acontecendo com ela. Seu recorde contra Rudger era de duas vitórias e duas derrotas. Como poderia esquecer daquelas dolorosas derrotas?
“Não desta vez! Vou mostrar que ganhei obtendo uma pontuação perfeita!”
O próprio Rudger não pensava muito nisso, mas Flora já havia decidido por conta própria, tomando como forte motivação para se concentrar. Tentava acreditar que estava se esforçando apenas para vencê-lo, sem estar ciente de que quanto mais questões resolvia, mais imersa nelas ficava.
* * *
“Está quieto”
O sofrimento audível aqui e ali desapareceu após trinta minutos. Rudger, de pé na plataforma atrás de possíveis colas, deu a Sedina um sinal.
— Sim! — respondeu ela com uma voz baixíssima, mas forte.
Sem dizer uma palavra, ele apontou o dedo para duas cadeiras no canto. Ela assentiu e trouxe as duas cadeiras para a plataforma.
— O que vai fazer?
— Calma.
— Sim! E?
— Se sente.
— Sim? Sim.
Sedina pôs uma cadeira de lado e sentou-se com Rudger próximo também sentado.
— Descanse.
— Quê?
— Ainda faltam duas horas e meia para a prova acabar. Como é a primeira prova, eu, um professor, e você, um assistente, não podemos ser desconsiderados. Suas pernas doerão se continuar em pé pelo resto do tempo. Então sente-se e relaxe.
“Senhor…!”
Ela olhou para ele com seu olhar impressionado. Ele, agora familiarizado com o olhar, de repente percebeu que outra pessoa estava o observando e virou a cabeça, avistando uma garota de cabelos brancos puros o encarando com um olhar forte.
“Julia Plumhart.”
Assim que ela viu que ele percebeu, baixou a cabeça na hora. Rudger só ficou incomodado por um momento com o olhar desrespeitoso dela; não era para ele, mas para Sedina.
“Bem, é isso. Não há necessidade de apontar isso.”
Rudger sentou-se em uma cadeira com os braços cruzados e as pernas cruzadas.
O tempo restante era de duas horas e meia. Era muito tempo para esperar, mas pouco tempo para responder.
“Mesmo que seja só o básico, distorci as questões, então vai demorar um pouco.”
Se não pudessem resolver todos os problemas, precisavam se concentrar no que eram bons. Não eram tolos, então se concentravam em questões mais fáceis para eles.
Mesmo os alunos menos talentosos podiam se especializar em alguns aspectos, desde que continuassem em Sören. Como resultado, agora estavam em transe e resolvendo problemas. Para um professor, era algo bem desejável.
“Há muitos bons alunos.”
Rene e a princesa estavam trabalhando duro. Aidan e seus amigos, sentados atrás delas, também aparentavam uma imersão profunda.
“A garota-fera ali também é boa. Iona Obeli, não?”
Trabalhando duro nas resoluções, possuía pele morena e cabelos pretos muito mais escuros. Ele pensou que seria difícil para ela, considerando sua raça, mas ela foi surpreendentemente rápida em se adaptar.
“É a magia dos homens-feras?”
Eles tinham sua própria cultura, história e tradições. Em vez de magia, usavam o poder da Mãe Natureza chamado de “Espírito”.
Espíritos eram semelhantes aos espíritos naturais, mas eram diferentes de modo distinto. Se o espírito natural era moldado pela rica vitalidade da natureza, o espírito era um grande conceito que englobava não somente a natureza, mas também ancestrais e animais.
<Negative>“Na matéria de invocação mágica, a especialização Negação faz isso.”
<Negative>Originalmente, não existia a especialização Negação, mas foi adicionada quando os humanos no passado suprimiram os homens-feras e absorveram sua cultura. Claro, esse povo tinha raiva dos seres humanos por atrelarem suas longas tradições a uma categoria de magia.
“Por causa da repulsa naquele tempo, rejeitam a magia, então deve ser o mesmo agora.”
Mas uma garota-fera foi aprender magia em Sören, uma instituição de magia.
“Obeli… Eu sei que o sobrenome deles é influenciado por sua linhagem.”
O seu sobrenome não era Obeli de verdade, mas sim O-Belly, que foi alterado para a sociedade humana pronunciar melhor. Significava sangue Belly, e para os humanos, era como uma família nobre.
“Belly… acho que já ouvi falar.”
Não sabia muito sobre eles, então ficou um pouco vago. Não tinha escolha a não ser procurar mais tarde.
Pensando assim, duas horas se passaram antes que percebesse.
— Vocês têm trinta minutos para acabarem. Não aceitarei que me entreguem as provas nem por um atraso de um minuto. Mantenham isso em mente.
A velocidade das canetas aumentou com suas palavras.
“A próxima prova será divertida, já que é um pouco diferente.”
Ele sentia um estranho prazer em ver o sofrimento dos alunos.