Cap. 89 – Esmeralda, Primeira Ordem (1)
Rudger ficou ansioso para se encontrar com o Primeira ordem, confirmando seu disfarce de chama. Ele não teve escolha a não ser morder a língua.
“E não se revelou. Que assim seja.”
Na verdade, era esperado. Um Primeira Ordem precisava tomar cuidado com sua identidade a fim de não ser exposto, ainda mais considerando a maneira como ele foi chamado.
— Está atrasado.
Independentemente do que fosse, era um Primeira Ordem na sua frente. Mesmo que não conhecesse sua identidade real, não devia mostrar sua decepção, pois a outra parte podia suspeitar dele caso baixasse um pouco a guarda.
“Não existe tal coisa como arrependimento.”
Era possível conhecer alguém e entender a sua forma de pensar sem vê-la. Uma palavra que dissessem sem qualquer intenção se tornaria uma grande pista.
— Eu não sabia que estaria aqui tão cedo.
A resposta voltou por uma voz meio rouca. Por mais que as chamas estivessem tremulando, reverberando o som, era nítido que a pessoa era uma mulher. Não achava que aquela voz era usada para enganá-lo, afinal, era outro Primeira Ordem.
— Me chamou por quê? — perguntou, tentando descobrir a intenção dela.
John Doe, sua identidade na organização, era muito implacável e impiedoso, mesmo quando se tratava de membros do Amanhecer Negro. Vivia emburrado, e até os matava se ficasse irritado demais. Só manteve seu cargo porque era capaz e a Ordem Zero pensava muito nele, mas não havia garantia do mesmo para os outros Primeiras Ordens.
O personagem de John Doe se comportava como de costume com outros Primeiras Ordens? Falar o desnecessário poderia revelá-lo, então precisava ter cuidado com o que quer que falasse agora.
— Hummm? — soou a voz surpresa. A pergunta dele foi inesperada?
— Qual o problema?
— Você está mais calmo do que eu pensava. Você costumava tentar me rebaixar.
— É uma questão de tempo e lugar. O que aconteceria comigo além de ser pego se me estressasse aqui?
— Ah, verdade. Você é um professor de Sören agora.
— Estou muito ocupado. Não sei por que me chamou, mas voltarei se não tiver mais nada a dizer.
Com isso dito, ele virou as costas. Não era certo sair, já que ainda não havia descoberto quem era a mulher, porém uma revisão detalhada da situação mudava a história.
Em primeiro lugar, foi a chama na frente dele, a outra Primeira Ordem, que pediu esta reunião. Como queria algo dele e o impediria de ir embora, ele podia sair sem preocupações.
— Espere.
De fato, como ele esperava, a chama o deteve. Rudger parou de andar, mas não olhou para trás.
— Tudo bem. Desculpe, estou atrasada. Apontei algo, mas te ofendi por estar apenas brincando.
— Vá direto ao ponto.
— Eita. Você ainda é frio. Enfim, te chamei assim porque preciso de ajuda.
Só então ele olhou para trás.
— Ajuda? Você?
— Eu… normalmente não faria isso, mas esta é Sören e eu não posso fazer as coisas do meu jeito.
— Parece bastante impaciente.
— Meu segunda ordem sumiu recentemente.
— Por causa da Pedra Onipotente.
— Sim, isso. Eles tentaram resolver o assunto com suas próprias mãos, mas estragaram tudo!
Só de pensar no que aconteceu, as chamas ficaram mais fortes. O calor chegou a Rudger, mas ele manteve um olhar casual em seu rosto e a chama voltou ao seu tamanho original.
— Estão todos mortos.
— Quem diria que a diretora mataria todos? É até…
— Era uma armadilha.
— O quê? Você sabe de tudo?
Como ele podia não saber? Caso não tivesse saído, teria sido varrido pela magia da diretora. Não podia revelar isso, então optou por uma resposta mais desleixada.
— Não tem como eu não saber.
— Como esperado de John Doe. Pensando bem, esse era o seu papel. Disfarçar-se e esconder-se no território inimigo para ganhar a admiração dos outros e roubar informações. Suas habilidades não morreram.
— Chega de brincadeiras.
Com a reação dele, a chama, que estava se expandindo com alegria, ficou um pouco murcha. Surpreendentemente, continuava falando.
— De qualquer forma, perdi um subordinado útil, então meu esquema foi interrompido. É um plano que deve ser cumprido pra ontem.
— Por ter tratado essa pessoa como um subordinado, acabou assim.
— Bem… estamos em condições diferentes. Você faz as coisas por conta própria, mas eu não posso fazer isso… Ei, que silêncio é esse? É por isso que você não é popular nem entre a Primeira Ordem. Você não se dá bem com ninguém.
— Eu simplesmente não senti a necessidade de falar.
— Que engraçado. Você é tão bonito e sempre foi leal à Ordem Zero. Você é o único bom, não é? Pra receber tanto amor de Zero?
— Você fala demais. Quer ajuda com o quê?
— Você vai me ajudar?
— Quero ouvir antes.
Pela chama inquieta, ele se convenceu de que estava no controle. O Segunda Ordem morto era seu imediato, causando um grande revés em seus planos futuros.
“No entanto, seria impossível usar outro Segunda Ordem, e um terceira Não é bom o suficiente.”
Uma coisa que ele tinha certeza era que, segundo o que Sedina revelou, o Amanhecer Negro consistia em sete Primeiras Ordens, juntamente com a Segunda e Terceira Ordens sob eles, o que naturalmente formava “facções” dentro.
“Deve ter sido aquele que tentou roubar a Pedra Onipotente falsa na floresta.”
Demires? Mesmo que fosse um mestre de sua própria vontade, devia ser competente. Com tal homem morto, o tal plano dela foi destruído. No entanto, chamar outro Segunda Ordem levaria à hesitação, porque sua “facção” era diferente e revelaria suas fraquezas ao outro Primeira Ordem.
“Entendo. É por isso que você me pediu ajuda.”
Ao contrário de outros Primeiras Ordens, Rudger Chelici agia sozinho e não fazia parte de nenhuma facção. Aqueles sem facções eram neutros.
— Você sabe, minha especialidade é atear fogo. Mas não importa o quanto eu ateie fogo em Sören, os magos logo extinguem. É um ambiente onde eu não posso usar bem meus talentos.
— Sim.
Em Sören, tanto os professores quanto os alunos podem usar magia. Como o lugar estava cheio de elites, qualquer incêndio era extinto. Acima de tudo, a academia já era preparada com rigor para esse tipo de situação.
Ela não poderia ter se tornado uma executiva do Amanhecer Negro sem motivo.
— Meu papel é a destruição, mas a defesa daqui é sólida. Isso não significa que eu não possa fazer nada. Se você fizer os preparativos, eu posso queimar mais do que qualquer outra pessoa.
— Você está me pedindo para me preparar para isso?
— Eu agradeceria se você fizesse isso. Se me ajudar, também lhe darei a ajuda correspondente. É uma espécie de acordo e uma promessa.
— E o acordo é entre quem?
— Óbvio que é John Doe e Esmeralda.
Rudger descobriu o nome da pessoa controlando a chama na frente dele, mas não sabia se era o real ou um codinome.
“No caso de John Doe, ele escondeu completamente sua identidade e passou a usar um codinome. Ela pode ter feito como Victor Dreadful.”
— Ei, você tem que ver até isso pra se sentir melhor?
— É melhor fazer um acordo claro.
— Bem, eu fui honesta e agora é sua vez. Você aceita minha oferta?
— Eu recuso.
— O quê?
— Não há nada que eu possa fazer por você na minha situação.
— Espere. Você vai mesmo fazer isso depois de ouvir tudo?
As chamas queimaram mais fortemente, como se expressassem raiva, mas Rudger olhou com o rosto vazio e sem sinal de medo.
— Você está perguntando porque não conhece minha posição? Sou um professor daqui. Mesmo que seja nominal, não é um lugar fácil de se mover.
— Se você é bom o suficiente, pode fazê-lo. Você sempre se esforça o máximo que pode para se esconder. É irritante, então pode fazer mais do que dar uma desculpa?
— Eu normalmente poderia, mas não agora.
— Por quê?
— A diretora ainda suspeita de mim.
Esmeralda não podia argumentar mais e calou a boca à menção de Elisa.
— Você não pode mesmo? Mesmo que seja um trabalho que me colocaria em dívida?
— Sim.
— Não há nada que possamos fazer. Então temos que escolher a pessoa certa.
Quando ela traçou sua linha, deu um passo para trás, temendo que se agarrar a mim machucaria sua autoestima.
— Mas tenha em mente que, se isso for bem-sucedido, ajudará muito a nossa sociedade. Você chutou a chance.
— Todo mundo tem suas próprias coisas para fazer. Só porque eu não te ajudo não significa que eu não seja leal à organização.
— Você fala irritantemente também. De qualquer forma, eu mesma cuidarei disso.
Ele ficou grato por ela ter desistido por conta própria. Contudo, ela continuou reclamando por ter sido rejeitada.
— Eu estava louca para pedir ajuda.
— O que você vai fazer agora?
— Ficou curioso?
Mesmo que as palavras fossem tão contundentes, não escondeu nada.
— O que farei? Como sempre, o que sou boa.
— Entendo. Dê o seu melhor.
Não havia mais nada a ganhar fazendo mais perguntas. Acima de tudo, ele já descobriu o que podia, então essa reunião não foi sem benefícios para ele.
Quando Rudger estava prestes a dizer adeus e ir embora…
— Pensando bem, ouvi coisas interessantes recentemente.
— O que quer dizer?
Rudger ficou ansioso com a observação repentina. Por que de repente ela estava falando disso?
— Você disse ter uma subordinada. Assim, é estranho. John Doe, que afirmava estar confortável sozinho, tem uma subordinada? E ainda é uma Terceira Ordem?