Cap. 95 – A Torre

Quando Rudger lhes disse diretamente que nunca se juntaria à Torre, Altego apenas abriu a boca e não disse nada. Foi o mesmo com os cinco magos que o seguiram.

Por mais que fossem chamados de velha guarda e tenham enfraquecido em comparação com a Torre no auge, que exerceu poder absoluto, ainda havia inúmeros magos que sonhavam em se juntar a eles.

Altego era um dos doze membros selecionados pro Conselho da Torre, e ele não conseguia nem pressionar o mago à sua frente.

“Mas o quê?”

O que Rudger falou? Que mesmo que lhe dessem um assento no Conselho, ele não se juntaria à Torre?

— Seu marginal! Como ousa dizer isso na minha frente?

O primeiro a entender a situação foi um dos cinco discípulos de Altego presentes.

— O presidente é gentil com os professores de Sören, então não seja arrogante! Mestre, você deveria ignorar um cara assim.

Ele não pôde mais controlar sua raiva, como se já não quisesse estar ali. Todavia, assim que estava prestes a sair, ouviu a risada de Elisa, não a resposta de Rudger. Em vez de seu riso falso habitual, o de agora foi autêntico, chegando a lacrimejar no processo, o que envergonhou Altego e seus cinco discípulos.

— Minha nossa. Eu não sei quanto tempo faz desde que ri assim — disse, retornando à postura normal. — Ele não quer ir, então o que posso fazer? Você veio até aqui para nada.

Era uma boa oportunidade para Elisa provocar Altego, já que ele foi rejeitado por alguém muito mais jovem do que ele e teve seu orgulho ferido.

— Eu lhe avisei, então por que se preocupar em visitar a academia? Você acha que a Torre atual ainda é a antiga?

— Tome cuidado com a sua boca!

Um dos cinco discípulos de Altego intensificou um ataque de raiva, e a expressão de Elisa mudou em um instante.

— E se você não gostar?

— O quê?

— O que você vai fazer se não gostar?

No momento em que o discípulo de Altego entrou em pânico, um feitiço arrepiante irrompeu de Elisa e começou a apertar o corpo dele. Ele não conseguia respirar direito e olhou para ela com olhos incrédulos, tossindo.

Ele sabia que Elisa Willow era uma maga genial que alcançou o sexto grau jovem. Apesar de ter sido da Torre, de repente saiu e se tornou a gestora de Sören. Mas ele não aguentava quando via as pessoas a chamando de gênio, pois, se fosse mesmo o que pintavam, ela deveria ter ficado na Torre e feito um nome para si mesma.

Ele pensou que ela havia fugido e ido para uma academia onde brincava de casinha com as crianças por ter medo de não conseguir lidar com a situação na Torre. Então, pôs na cabeça que poderia provar ser superior a ela caso a encontrasse de novo.

“Dimensões diferentes.”

Ele não podia mexer nem um único dedo. Era difícil respirar, quanto mais usar magia. Entretanto, o que o deixava ainda mais angustiado era que ela era pelo menos atenciosa com ele para que ele pudesse respirar, nem que o mínimo.

“Eu não sou oponente dela.”

Este era o poder da mais jovem maga Lexorer, o sexto grau, o terceiro mais alto entre os oito existentes.

— Pare.

Foi Altego quem quebrou a tensão transbordante com uma única palavra. Ela suspirou interiormente e retirou seu poder mágico. Apesar da personalidade dela, sabia que ele não estava para brincadeira. Ambos eram Lexorers, então se eles ficassem intrigados, seria péssimo.

— Vocês deveriam parar, também.

— Ah, mas, senhor…

Altego olhou para seus discípulos em silêncio, fazendo com que eles fechassem a boca ao verem o rosto inexpressivo dele.

— Vamos.

Antes de sair, ele olhou para Elisa e Rudger pela última vez com um rosto vazio.

— Vocês com certeza pagarão por isso.

Mesmo que fosse uma pessoa sem sentido, estava apenas recuando por não ser tão ruim ao ponto de fazer barulho em um lugar daqueles. Ele prometeu repetidas vezes para si que nunca esqueceria essa desgraça.

Normalmente, nessa situação, a outra pessoa também ficaria nervosa ou envergonhada, diferente de Rudger, que somente assentiu ligeiramente, como se dissesse “experimente se puder”.

Altego deixou o salão, rangendo os dentes, e os outros cinco correram para segui-lo. Então, Elisa relaxou os ombros e sorriu para Rudger com um olhar um pouco cansado.

— Sinto muito, senhor Rudger. Eu deveria ter sido mais minuciosa.

— Não, a senhora ajudou muito.

— Você não precisa dizer isso. De qualquer forma, interferi porque tenho um mau relacionamento com eles. Mas você odeia a Torre?

Se ele tivesse que responder, diria sim, e era o mesmo com ela.

— Na verdade, eu era de lá.

— Eu sei.

— Na verdade, é difícil encontrar um mago no continente que não seja da Torre. Enfim, chamavam-me de gênio lá….. Deixa, isso é se gabar muito de mim mesma.

— Está tudo bem.’

— Eu trabalhei duro lá, mas ela é um pouco antiquada, não é? Hoje em dia, a ciência e a magia estão avançando, por isso era difícil para os velhos da Torre aceitá-las. Brigamos muito.

De fato, magos conservadores se reuniam na antiga Torre. Sua mentalidade era de que a magia era a maior e apenas os escolhidos deviam praticá-la, ao contrário da Torre de Deus, uma facção tentando se livrar da máscara autoritária da magia e combiná-la com a ciência moderna.

Podia ter sido centenas de anos atrás, porém a história humana fez um progresso rápido nos últimos duzentos anos. Carros ao invés de carruagens, e armas de fogo ao invés de espadas simples.

A existência de magos e cavaleiros ainda era um eixo do mundo, mas eles também não podiam rejeitar a mudança toda, ainda mais os magos. Magia e ciência eram diferentes entre si, embora se parecessem.

Os magos da antiga Torre argumentavam que a ciência deveria ser rejeitada, diferente dos da nova Torre. Então, os da nova Torre criaram a engenharia mágica, combinando magia e ciência.

O nascimento da engenharia mágica fez o mundo se desenvolver mais rápido. Barcos a vapor, golens de vapor, dirigíveis e todos os tipos de coisas nasceram, e até agora coisas novas continuavam a aparecer.

Em um mundo tão turbulento, a Torre foi dilacerada pelas duas forças. O confronto entre Altego e Elisa mostrava a relação entre o velho e o novo, e Rudger era um mago da nova era.

Mais precisamente, sua mente era a de um mago da nova era, mas sua magia, não. A “magia verdadeira”, que ele não mostrava aos outros, estava muito mais próxima da magia ancestral do que a nova. Todavia, não era algo para se gabar, então ele só assentiu.

— Eu falei demais? É uma celebração há muito esperada, e você deve estar cansado.

— Não.

— Deixarei você em paz agora, tenho muitas pessoas com quem lidar. Divirta-se hoje, mas sem beber tanto! Entendeu?

— É claro.

Elisa desapareceu de sua vista, esvoaçando a bainha de seu vestido preto como fez quando apareceu.

“Acabou?”

Após a discussão com Ivan Luke, os magos da Torre o incomodaram. Foi uma exaustão mental, mas ele logo voltou aos trilhos, já que tinha um propósito.

— Ah! Senhor Rudger!

Quando ele se aproximou, Selina, que estava com os outros, o recebeu.

— Está bem, professora?

— Sim. O presidente da Companhia Luke veio pessoalmente e pediu desculpas.

— Que alívio.

Não importava o quão incompetente seu filho fosse, o presidente se desculpou. Pode ter tido um motivo oculto, mas certamente não era um tolo como seu filho.

Rudger olhou para os rostos das pessoas atrás com Selina.

— Você estava conversando com os outros.

Selina tinha muito poucos amigos presentes no salão, mas além dela estava Merylda, que muitas vezes cuidava dela.

— Ah, prazer em te conhecer.

— Você é o dos rumores…

Três mulheres e um homem abriram os olhos em surpresa para Rudger. Eram pessoas que ele nunca vira, mas rostos que ele viu pelo menos uma vez. Eram os professores encarregados da espiritologia em Sören, cada um ocupando uma cadeira do segundo ao quinto ano.

— Eu sou Rudger Chelici, o professor encarregado da matéria de manifestação do segundo ano.

— Sim, eu ouvi falar. Sou Sethruna, professora de espiritologia do segundo ano.

Sethruna era uma mulher com cabelo vermelho curto. Por um momento, Rudger suspeitou que ela poderia ser Esmeralda, a Primeira Ordem.

“Não. Ainda não posso tomar uma decisão.”

Os outros também se apresentaram.

— Meu nome é Partonya; estou no comando do terceiro ano.

Era uma senhora impressionante de grande presença.

— Eu sou Vierano Dentis e sou responsável pelo quarto ano.

De pequena estatura, era o único professor homem de espiritologia, aparentemente bastante tímido. Era um elfo com orelhas pontudas.

Não havia nada particularmente estranho em ter várias raças em Sören, então um elfo encarregado da matéria não era nada especial.

— Eu sou Angela Anderson.

Enfim, a professora do quinto ano encarregada da turma de formandos era uma mulher de aparência afiada de óculos. Aparentava firmeza, mas era bem bonita e difícil de abordar.

“Se eu restringir a lista, uma dessas três deve ser Esmeralda.”

O problema era quem era a verdadeira entre os três. Esmeralda mostraria algum tipo de reação quando apertassem as mãos, por conhecê-lo, mas nenhum deles mostrou qualquer reação particular em relação a ele.

“Será que não é nenhuma delas?”

A personalidade de Esmeralda era ardente e complicada, e ela ficava irritada rápido quando as coisas não saiam do seu jeito.

“A professora do segundo ano, Sethruna, é a mais suspeita.”

Apenas professores com experiência eram nomeados para o terceiro ano e superior. Os novos professores eram os principais responsáveis pelas duas primeiras séries, então se a organização quisesse plantar pessoas na academia, seriam professores do segundo e primeiro ano.

“Peço para Hans investigá-la?”

À medida que suas preocupações se aprofundavam, ele ficou com um pouco de sede. E prestes a chamar um garçom, não teve escolha a não ser fazer uma pausa por um tempo.

— Rene…?

Vestindo um terno de garçonete preto e branco e segurando uma bandeja de prata em uma mão, Rene também congelou ao ver Rudger.

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